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CÂMARA DOS DEPUTADOS




           DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

                   NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

                              TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

          COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIAS
EVENTO: Audiência Pública              N°: 0584/02       DATA: 11/06/02
INÍCIO: 14h26min                       TÉRMINO: 17h45min DURAÇÃO: 3h19min
TEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h24min             PÁGINAS: 82       QUARTOS: 21
REVISÃO: Anna Augusta, Silvia, Tatiana
SUPERVISÃO: Ana Maria, Cláudia Luiza, J. Carlos, Joel
CONCATENAÇÃO: Gilza


                         DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
JOSÉ CARDOSO TETI – Diretor de Instalações e Operações da Shell Brasil S.A.
JOÃO ANTÔNIO ROMANO – Engenheiro da Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental — CETESB.
CÉSAR AUGUSTO GUIMARÃES PEREIRA – Diretor de Base do Sindicato dos Trabalhadores
no Comércio e Derivados de Petróleo no Estado de São Paulo — SINPETROL.
RUI ANDRADE DAMMENHAIN – Diretor Técnico da Vigilância Sanitária da Direção Regional de
Saúde da cidade de São Paulo.
ARISTIDES ACOSTA FERNANDES – Representante dos moradores do Bairro Vila Carioca,
Município de São Paulo.
MARIA ISABEL VENDRAME – Representante dos moradores do Bairro Vila Carioca, Município
de São Paulo.
RICARDO JORE SHAMA DOS SANTOS – Gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da
Shell Brasil S.A.
ALFREDO RODRIGUES DOS SANTOS – Gerente de Meio Ambiente da Divisão Química da
Shell Brasil S.A.
LUIZ RICARDO POELL – Consultor de Saúde do Departamento de Saúde, Segurança e Meio
Ambiente da Shell Brasil S.A.



SUMÁRIO: Debate sobre a contaminação do solo e do lençol freático por produtos químicos na
Vila Carioca, bairro do Município de São Paulo.



                                     OBSERVAÇÕES
Há exibição de imagens.
Há orador não identificado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ                 COM REDAÇÃO FINAL
          Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias
          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Declaro aberta a presente

reunião de audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio

Ambiente e Minorias, requerida pelos Deputados Arlindo Chinaglia, Luciano Zica e

Celso Russomanno com o objetivo de discutir a contaminação do solo e do lençol

freático por produtos químicos na Vila Carioca, bairro do Município de São Paulo.

      Convido a tomar assento à mesa dos trabalhos o Sr. José Cardoso Teti,

Diretor de Instalações e Operações da Shell Brasil S.A., nesta audiência

representando o Sr. Aldo Castelli, Presidente da empresa; o Sr. João Antônio

Romano, engenheiro da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental —

CETESB; o Sr. Aristides Acosta Fernandez e a Sra. Maria Isabel Vendrame,

representantes dos moradores do bairro Vila Carioca; o Sr. César Augusto

Guimarães Pereira, Diretor de Base do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio e

Derivados de Petróleo no Estado de São Paulo — SINPETROL, nesta audiência

representando o Sr. Valdenir da Cruz Santos, Diretor do SINPETROL; e o Sr. Rui

Andrade Dammenhain, Diretor Técnico da Vigilância Sanitária da Direção Regional

de Saúde da cidade de São Paulo.

      Também foi convidado a participar desta reunião o Dr. Anthony Wong,

responsável pelo Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas do

Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde, que comunicou a

impossibilidade de seu comparecimento, em razão de compromissos assumidos

anteriormente.

      Concederei inicialmente a palavra, por dez minutos, aos expositores, a quem

agradeço se puderem usar um tempo menor; em seguida farão uso da palavra os

Deputados Arlindo Chinaglia, Luciano Zica e Celso Russomanno, que requereram


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esta audiência; por fim, por três minutos, serão ouvidos os Parlamentares

previamente inscritos.

      Para facilitar a transcrição desta reunião, solicito aos que fizerem

intervenções que, por favor, se identifiquem.

      Feitas as considerações iniciais, passo a palavra ao Sr. José Cardoso Teti,

Diretor de Instalações e Operações da Shell Brasil S.A.

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI - Em primeiro lugar, muito obrigado pela

oportunidade oferecida por esta Comissão. Recebam nossos agradecimentos o

Presidente da Mesa, Deputado Luciano Pizzatto, e todos os demais presentes,

Deputados e convidados.

      Este tipo de evento vem ao encontro dos interesses da empresa, da

sociedade — representada pela comunidade que está no entorno da base — e das

autoridades que têm trabalhado conosco.

      Vou inicialmente dar algumas informações, que imagino sejam do interesse

de todos, depois fico à disposição para responder as perguntas que eventualmente

surjam.

      A apresentação está dividida em alguns blocos e visa dar conhecimento aos

presentes do contexto da nossa presença na Vila Carioca e de como os trabalhos

vêm sendo conduzidos naquela localidade.

      (Segue-se exibição de imagens.)

      Esta foto acabou não ficando cem por cento adequada aos nossos objetivos.

Com ela queríamos demonstrar que estamos numa área tipicamente industrial, onde

a empresa Shell é apenas mais uma no ambiente. Ao lado vemos algumas

empresas que ainda atuam na região. Outras já saíram, como a refinaria da


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Matarazzo, vizinha nossa. A foto pretende mostrar que no local existem algumas

indústrias de porte e outras menores, que não identificamos nominalmente.

      Esta segunda imagem mostra quantas dessas empresas estão no nosso

entorno, identifica a comunidade do condomínio Colorado, mais próxima de nós, e,

principalmente, a divisão das áreas em que estamos trabalhando.

      Nossa apresentação enfocará cada uma das áreas independentemente. O

que estamos tratando como área de tanques é a área da Base do Ipiranga, onde

concentramos inicialmente os nossos trabalhos. Depois, por orientação técnica do

órgão do meio ambiente que nos apóia e faz o trabalho de fiscalização conosco,

ocupamos essas duas outras áreas, uma de perfil administrativo e outra chamada de

BIP 2, ambas no entorno da unidade principal.

      Um breve histórico.

      Na Base do Ipiranga, aquela parte principal indicada como área de tanques,

os trabalhos foram iniciados no ano de 1994, em razão de uma denúncia de

contaminação do solo dessa dependência com chumbo orgânico. A denúncia

levou-nos a uma aproximação com o Ministério Público, que nomeou um órgão do

meio ambiente para nos acompanhar nesse trabalho.

      Começamos fazendo o processo de avaliação, mapeamento e identificação.

Em 1996 foi implementado um plano de trabalho, aprovado pelo órgão de meio

ambiente e pelo Ministério Público. Em 1998 foi entregue o primeiro relatório de

investigação — nesse ano fomos solicitados a fazer a avaliação do entorno. Por isso

dividimos esta apresentação em três partes. Em 1999 foi iniciado o trabalho efetivo

de retirada das borras enterradas.




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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ                 COM REDAÇÃO FINAL
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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


      As borras que estão sendo retiradas têm origem num processo adotado

internacionalmente pela indústria. Todos os resíduos da limpeza de tanques, por

orientação da indústria — isso aconteceu até meados da década de 80 —, pelos

conhecimentos que tínhamos na época e por recomendação de um dos maiores

fornecedores da área, a Octel, eram enterrados ao lado dos tanques de

armazenagem. Assim marcávamos os pontos de tratamento e remediação. Essa

prática foi descontinuada no momento em que surgiu outro tipo de recurso técnico

para dar destino aos resíduos.

      O trabalho aprovado no final de 1999 tem início e maior concentração nos

anos de 2000 e 2001. Já em 2000 é fornecido o segundo relatório de investigação,

contendo a análise do entorno. Em 2001 concluímos a primeira investigação dos

resultados de amostragem de águas subterrâneas. Recentemente, já em 2002,

concluímos o processo de remediação daquela primeira área, que envolve os

tanques de armazenagem e chamamos de Base do Ipiranga.

      Esse histórico tem o objetivo de trazer duas mensagens: em primeiro lugar,

estamos trabalhando nessa área já há algum tempo; em segundo, o trabalho tem

sido feito com base em especificação técnica e análises discutidas com especialistas

e com as autoridades que orientam e determinam os procedimentos que a Shell

deve adotar na região.

      É importante não perder de vista que todo esse trabalho tem sido feito com a

responsabilidade devida. Desde o início tivemos o cuidado de estabelecer processos

e metodologias que assegurassem que o plano de remediação traria os benefícios

esperados.




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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ                 COM REDAÇÃO FINAL
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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


      Eu trouxe alguns números da Base do Ipiranga que podem dar idéia da

dimensão do que está sendo feito. Estamos tratando de algo em torno de 820

sondagens, 73 amostras de solo, 8.760 análises clínicas de solo, compostos

organovoláteis, organoclorados e chumbo total, instalação de 33 postos de

monitoramento — a Base do Ipiranga concentrou inicialmente a maior parte do

trabalho, é a área mais representativa em termos de borra —, 14 mil análises

clínicas de água e um grande esforço para a retirada de 1.300 toneladas de solo

mais borra contaminada, além de nove tanques subterrâneos, que já estavam

desativados, mas, por recomendação técnica do órgão do meio ambiente, decidimos

retirá-los também.

      Como conclusões macro do trabalho realizado na primeira área da Base do

Ipiranga, é preciso citar que estamos tratando de uma zona industrial com empresas

que manuseiam hidrocarbonetos, organoclorados e organofosforados. Esse detalhe

é importante para que entendamos que a presença da Shell na região significa

também a presença de outras empresas.

      Em segundo lugar, vamos reafirmar que temos seguido os padrões e

procedimentos ambientais locais e internacionais de cada época. É importante

destacar que a indústria, na sua finalidade principal, que é produzir bem, acabou

dando origem a algumas contribuições para o meio ambiente, mas isso sempre foi

feito com apoio nas tecnologias mais adequadas para a época. Naturalmente, a

evolução tecnológica, o conhecimento e o aprendizado que tivemos ao longo dos

anos nos levaram a adotar procedimentos diferentes dos seguidos trinta, quarenta

anos atrás.




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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ                 COM REDAÇÃO FINAL
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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


      Na Base do Ipiranga temos o solo praticamente todo limpo, com as borras

retiradas. Estamos terminando agora um novo rastreamento, para ter certeza de que

nessa área principal não existe mais nenhuma fonte de contribuição. O trabalho

deve terminar no mês de junho de 2002 e será entregue ao órgão ambiental, a

CETESB, para dar sustentação ao plano de ações estabelecido.

      Ainda em termos de resultados, as concentrações encontradas no solo e nas

águas subterrâneas rasas — chamamos de água subterrânea rasa o que é

conhecido por lençol freático — estão abaixo dos níveis de risco para a população.

Isto é, as taxas encontradas nos documentos que temos até o momento não

expõem a comunidade a risco, porque o solo contaminado está contido no ambiente

da base, e essas águas rasas, ou lençol freático, não são utilizadas para fins

domésticos. Quando se faz uma análise de risco, considera-se a exposição das

pessoas ao risco de contaminação.

      Outra relevante conclusão é que não foi detectada a presença de chumbo

orgânico nem no solo nem na água subterrânea. Essa é uma resposta importante.

Esse componente agressivo à saúde não está presente em nossas análises.

      As análises que fizemos dos poços profundos, ou seja, do lençol subterrâneo

profundo, também indicam que as águas estão limpas. Embora não seja prática na

região — os habitantes daquela área usam água fornecida pela SABESP —,

eventualmente são utilizadas águas de poços profundos.

      Adicionalmente ao trabalho que está sendo feito nessa área, até o final do

ano e depois da aprovação dos trabalhos já realizados essas bacias serão

impermeabilizadas, ou seja, nenhuma outra fonte de contribuição, nenhum outro tipo




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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ                 COM REDAÇÃO FINAL
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de risco haverá nessa unidade. Tão logo as análises sejam concluídas,

apresentadas e aprovadas, faremos a impermeabilização das bacias.

      Para analisar a área do entorno, vamos fazer uma pequena separação, em

Área Administrativa e BIP 2.

      Em 1998 aconteceu o final das atividades nessa área que chamamos de

Colorado. Em 1999, em atendimento à recomendação do órgão de meio ambiente,

avaliamos o solo, como parte complementar do cronograma de trabalhos da Base do

Ipiranga. Em 2000 foi feita uma avaliação das águas subterrâneas e entregue o

relatório complementar ao segundo que havia sido feito na Base do Ipiranga.

Também foi elaborado um plano de remoção de borras, complementar ao que havia

sido feito na Área I, já citada — a remoção das borras enterradas deve ser concluída

neste ano.

      No decorrer de 2002, identificamos, na continuação das análises procedidas

na região, manuseio de organoclorados numa área que antes havia sido

considerada administrativa. Isso deu origem a uma revisão do plano de trabalho e a

uma mudança do escopo que estava sendo seguido, mais uma vez em atendimento

às recomendações técnicas do órgão de meio ambiente.

      Nessa área foram feitas 101 sondagens para mapeamento de borras, em 11

postos de monitoramento analítico trimestral. O trabalho continuará sendo feito

mesmo depois de terminada a retirada das borras, para nos dar a segurança de que

o trabalho de remediação está propiciando o resultado que esperamos.

      Quase 4 mil análises químicas de águas subterrâneas foram feitas nessa área

da Colorado, com início do processo de revisão e remoção das borras: 111

toneladas já retiradas entre solos e 500 toneladas armazenadas para análise, em


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função daquele dado referido antes. Na medida em que percebemos a presença de

organoclorado, o destino do resíduo é outro.

      Algumas conclusões importantes.

      Também nesta área, as águas subterrâneas rasas não expõem a população a

risco. A confirmação da presença de organoclorado, que não havia sido detectada

no primeiro relatório, de março, ensejou uma revisão no plano de remoção das

borras. A remoção total da borra contida nessa área está prevista para setembro. O

trabalho segue de acordo com o plano revisado, que obteve aprovação.

      Exatamente como na área da Base do Ipiranga, faremos uma investigação

complementar após a retirada desse solo, para nos certificarmos de que o trabalho

realizado atende a todas as necessidades estabelecidas no plano.

      Com relação à BIP 2, como aconteceu com a área do entorno da Colorado,

fizemos em 1999 uma avaliação de solo e água subterrânea. Essa investigação foi

entregue à CETESB como parte da avaliação do entorno da Base do Ipiranga. No

local foi identificada a presença de organoclorado na fase livre, ou seja, na fase de

produto superficial à água, e ficou estabelecido um projeto para remoção dessa fase

livre. O projeto já foi aprovado e está em fase de implementação e execução, para

que possamos retirar a fase livre do produto e dar à área tratamento igual ao da

Base do Ipiranga e da Colorado.

      Nesta área foram feitas 160 sondagens de reconhecimento, coletadas 19

amostras de solo para análise química, realizadas 3.800 análises químicas de solo e

recolhidas 73 amostras de água subterrânea, para análise. Também foi feita a

delimitação da pluma de fase livre e construídos mais de 40 postos de

monitoramento dos índices de explosividade — no momento em que se percebe a


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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ                 COM REDAÇÃO FINAL
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presença de fase livre, é preciso fazer uma análise complementar. Além disso, foi

feito um ensaio piloto para retirada da fase livre e iniciada a implementação do

projeto de remoção, em abril.

      Esses números confirmam o grande esforço que está sendo feito pela

empresa para ter aquela área devidamente tratada. O registro dessa quantidade de

ensaios, postos de monitoramento e trabalhos executado demonstra a disposição da

empresa para resolver o problema da área que, infelizmente, foi contaminada.

      Algumas conclusões.

      Não detectamos a presença de gases inflamáveis. As concentrações de

hidrocarbonetos e organoclorados no solo estão sendo determinadas para remoção

da fase livre. Estamos falando de uma área com baixa densidade residencial, como

os senhores puderam ver na fotografia, diferentemente da Base do Ipiranga.

      Identificamos duas plumas de hidrocarboneto. A investigação complementar

externa foi iniciada no mês de maio. A remoção da fase livre dentro da planta tem

prazo estabelecido para junho, e a remoção de tubulações desativadas será

executada paralelamente.

      Estamos falando de uma zona nitidamente industrial, que abriga outras

atividades da distribuição de combustíveis desde a década de 40. A Shell tem usado

metodologias e tecnologias as mais avançadas para cada época. Hoje estamos

utilizando todo o recurso técnico de que dispomos.

      As análises técnicas atuais, aceitas e monitoradas pela CETESB, são feitas

segundo os padrões internacionais atuais. Reitero que temos recebido apoio técnico

adequado, austero e rigoroso do órgão de meio ambiente.




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      O processo de recuperação ambiental já está concluído em grande parte.

Como dito antes, já foram retirados todos os resíduos daquela área maior, a Base do

Ipiranga. Estamos caminhando para o final do trabalho.

      Os procedimentos que temos adotado estão alinhados com o órgão ambiental

competente desde o início. A Shell foi absolutamente transparente e jamais

executou alguma coisa que contrariasse a orientação do Ministério Público ou do

órgão do meio ambiente.

      Os trabalhos de remediação são feitos de forma compatível com as atividades

desse tipo de unidade. O trabalho pode ser conduzido sem nenhuma perda para a

atividade principal da empresa. Hoje conduzimos nossa atividade de forma mais

eficiente e competente porque aprendemos com a evolução tecnológica. As duas

atividades são absolutamente compatíveis.

      A Shell tem adotado uma atitude responsável e transparente durante todo o

processo. Não queremos ser considerados arrogantes ou prepotentes. A situação foi

criada pela indústria, no Brasil e no mundo, mas não por má-fé. O mundo demandou

bens, e esses bens tinham de ser produzidos por uma indústria que não detinha cem

por cento da informação que se tem hoje, o que acabou provocando essas

conseqüências.

      É importante que os senhores saibam que a Shell assume sua parte nessa

conta e está disposta a tratar de tudo aquilo a que deu origem — isso pode ser

confirmado no trabalho que executamos desde o princípio. Mas gostaríamos que a

mesma atitude responsável fosse seguida por outros parceiros dessa indústria, que,

insisto, acabaram contribuindo para o problema.




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      Temos responsabilidade com o Estado de São Paulo, com o Brasil e com o

mundo. Vamos encontrar soluções para essa situação. A Shell fará sua parte no

trabalho. Vamos continuar fazendo tudo o que for demandado pelas autoridades,

tudo o que for necessário para recuperar aquela região. Mas gostaríamos de ser

seguidos por outros parceiros.

      Por último, algumas mensagens que reputamos importantes reforçar, porque

mostram o nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável.

      Independentemente das remediações que estamos fazendo, só este ano

disponibilizamos 20 milhões de reais do nosso orçamento para atitudes pró-ativas na

área ambiental. Estamos falando de nova tecnologia, de novos processos, de

treinamentos e melhorias.

      É nosso objetivo integrar aspectos econômicos, sociais e ambientais nas

decisões de negócios. Isso está nos princípios da empresa. É importante buscar

equilíbrio entre as decisões de negócios e seus impactos ambientais, sociais e

ambientais, no curto, no médio e no longo prazo. Somos uma empresa que se

instalou no Brasil há noventa anos e pretende ficar aqui muitos outros.

      É nosso papel e nossa responsabilidade promover o diálogo com os grupos

representativos da sociedade, e este é um deles.

      Senhores, desculpem-me se me estendi um pouco, mas era importante trazer

essa mensagem. Infelizmente, o que foi divulgado nem sempre continha todas essas

informações. A Shell estará à disposição desta Comissão, da sociedade e das

autoridades, para atender no que for necessário e cumprir suas responsabilidades.

      Muito obrigado a todos.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Obrigado.


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      Com a palavra o Sr. João Antônio Romano, engenheiro da Companhia de

Tecnologia de Saneamento Ambiental — CETESB.

      O SR. JOÃO ANTÔNIO ROMANO - Boa tarde a todos. Em nome da Diretoria

da CETESB e da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, agradeço à

Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos

Deputados o convite para participar desta audiência pública.

      Farei uma pequena explanação das ações tomadas pela CETESB — órgão

ambiental do Estado de São Paulo — neste caso da Shell.

      A CETESB iniciou sua ação corretiva para este caso a partir da denúncia feita

em 1993 pelo Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Derivados de Petróleo. A

partir daí, exigimos que a Shell fizesse um estudo detalhado de eventual

contaminação no site da Vila Carioca.

      A princípio, o estudo abrangeu a área da chamada BIP 1, onde estão

instalados 36 tanques de vários tipos de combustíveis. O trabalho de ação corretiva

da CETESB começou em 1993, motivado pela denúncia de que havia borras de

fundo de tanque enterradas no site interno da Shell.

      Esse empreendimento é anterior à Lei Ambiental do Estado de São Paulo, por

isso não ficou sujeito a licenciamento ambiental. A Lei Ambiental do Estado de São

Paulo é de 1976, e a Shell está implantada nesse local desde 1949 ou 1950. Não

houve, então, um licenciamento ambiental dessa atividade. A renovação de licença

mostrada vale para algumas construções feitas nas áreas administrativa e de

refeitórios da Shell. Foi dada uma licença para ampliação, apenas isso.

      Nos casos em que a atividade é anterior à Lei Ambiental, o órgão ambiental

só atua corretivamente, como foi feito na ocasião. Foi exigido da Shell um estudo, e


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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ                 COM REDAÇÃO FINAL
            Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias
            Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


esse estudo apontou a existência de lodos no fundo de tanques de combustível

enterrados em várias áreas internas da empresa. Esses lodos são constituídos de

metais pesados, como benzeno, tolueno e xileno (BTX), geralmente os componentes

dos combustíveis. Foram também detectados vários focos de contaminação primária

com alta concentração desses contaminantes.

         Exigiu-se então da Shell a retirada de todos os focos primários durante o

período. O trabalho durou de 1993 até final de 1999, com os últimos focos retirados

agora. Ocorre que, durante a investigação, detectamos que, além da área ao redor

dos tanques, uma outra área, chamada de área da Rua Colorado, continha vários

outros tipos de resíduo enterrados. Além das borras, havia resíduos de

organoclorados e dos conhecidos “drins”, porque, no passado, a área era usada

para envasamento desses produtos.

         No momento em que foram detectados os outros resíduos enterrados, final de

1999 e início de 2000, a Shell foi autuada, por não ter informado o fato ao órgão

ambiental. A investigação continuou nessa área chamada de área da Rua Colorado.

         Posteriormente detectamos outro foco de contaminação, com base nos

estudos exigidos da Shell e no acompanhamento corretivo da CETESB. O foco

estava na área da BIP 2, separada da BIP 1 pela Av. Presidente Wilson.

         Esses dois novos focos só foram detectados nos anos de 2000 e 2001. Até

então, os dados de que a CETESB dispunha mostravam uma contaminação restrita

à área interna. Nos dois novos focos, identificados no estudo apresentado pela Shell

em março e por dados coletados em campo pela CETESB, verifica-se que a

contaminação do solo e da água subterrânea já está ultrapassando os limites da

Shell.


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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


      Os dados iniciais de que dispomos dão conta de que a água subterrânea está

contaminada por metais, mas em concentrações ainda baixas. Isso, aliado ao fato de

que a água não é utilizada para ingestão, reduz bastante o risco da população.

      A partir dessa constatação, a CETESB fez um levantamento comunitário ao

redor da área da Shell em cerca de 300 residências que estavam situadas num raio

de 100 metros da base da empresa, para saber se as residências tinham poços

rasos ou profundos e se faziam a coleta da água. Descobrimos com a pesquisa três

pontos de utilização de poços: dois poços profundos, um no condomínio da Rua

Auriverde e outro na própria Rua Auriverde, este último utilizado por uma indústria, e

um poço raso na Rua Colorado, nº 66, usado por uma família para irrigação do seu

jardim.

      Coletamos água nos três poços, e os resultados devem sair hoje ou amanhã.

A Vigilância Sanitária foi informada do fato, lacrou os poços e também fez uma

análise. Estão aguardando os laudos do Instituto Adolfo Lutz.

      Eu gostaria de frisar que, desde a detecção desse fato, todas as exigências

técnicas foram feitas à empresa. A Shell foi autuada e multada e nós empreendemos

uma ação corretiva. Todos os números apresentados há pouco pela Shell são

resultado de exigências feitas pela CETESB, para verificar a extensão da

contaminação na área interna e na área externa, o grau de contaminação e os

eventuais riscos à população.

      Quero mostrar-lhes duas transparências, para ilustrar o que estou dizendo.

Como eu disse, até o final de 1999 a contaminação estava restrita à área interna da

empresa, mas agora já detectamos alguma contaminação fora da área da Shell.

      (Segue-se exibição de imagens.)


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       Coletamos água desses poços e estamos aguardando os resultados. Vou

tentar passar para os senhores, sem pressa.

       Esta aqui é a chamada área de BIP 1, da Shell, onde estão os 36 tanques.

Toda a nossa ação corretiva começou ao redor desses tanques, que tinham aquelas

borras no fundo. De tempos em tempos, os tanques eram limpos, e as borras

enterradas ao redor deles. A ação da CETESB foi no sentido de retirar do terreno

essas borras. Cada vez que detectávamos um ponto, exigíamos a retirada do

material.

       Com o passar do tempo, descobriu-se esta área, chamada de Colorado,

onde, além das borras, havia outros resíduos enterrados. A Shell foi autuada, na

época, por não ter dado essa informação ao órgão ambiental de São Paulo.

       Aqui em cima está a Rua Colorado, separada da Shell somente por um muro.

       Esta é a PETROBRAS, e estes são os seus tanques.

       Esta outra área abriga um pátio do DETRAN, mas já foi área da empresa

Matarazzo, que está falida. Aqui também é terreno da Matarazzo.

       Esta é a BIP 2, outra área da Shell Química onde foram formulados produtos

químicos no passado. Também aqui se detectou a presença de resíduos enterrados.

       Os dados de que dispomos hoje sobre a variação hidrogeológica do local

indicam que o fluxo da água subterrânea segue nessa direção. Aqui está o Córrego

dos Meninos, e este é o Rio Tamanduateí. A tendência do fluxo da área subterrânea

é no sentido do Córrego dos Meninos e do Rio Tamanduateí. Porém, segundo

afirmam os geólogos, os dois poços que nós citamos, ambos situados no

Condomínio Auriverde, que fica na Rua Auriverde, próxima à Vila Carioca, e o poço

utilizado por outra indústria metalúrgica podem ter alterado o fluxo das águas


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subterrâneas, dependendo da vazão e da freqüência com que foram usadas. Por

isso, a CETESB exigiu da Shell o monitoramento da Rua Colorado e, agora, a

instalação de mais 17 poços de monitoramento além da citada rua. Se de fato houve

alteração no fluxo da água subterrânea — precisamos verificar se isso aconteceu —,

parte destas residências pode ter sido atingida. Sabemos que a contaminação da

água subterrânea tem diminuído, porque todos os focos da BIP 1 já foram retirados e

agora estão fazendo o mesmo na Área Colorado. Porém, no passado, a direção das

águas subterrâneas pode ter mudado, daí a exigência de instalação de novos poços.

         Era essa a pequena explicação que eu gostaria de dar sobre as nossas ações

corretivas junto à Shell. Caso se constate um novo foco de contaminação, a

empresa será devidamente autuada, conforme determina a legislação ambiental em

vigor.

         Estamos aguardando o resultado das coletas feitas pela CETESB e pelo

Centro de Vigilância Sanitária nestes três poços: um na Rua Colorado e dois

próximos à Rua Auriverde. As ações remediáveis estão concentradas na Área

Colorado, para retirada dos focos de contaminação por borra ou outros produtos

químicos enterrados.

         Praticamente todas as borras enterradas na área de BIP 1 já foram retiradas.

Os trabalhos devem terminar em agosto ou setembro próximos. A retirada dos focos

de contaminação da BIP 2 também já foi exigida, tanto da parte sólida quanto da

parte líquida. Já está sendo iniciado o processo de remediação e de retirada de todo

esse contaminante da BIP 2.




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      Como eu disse, também exigimos novos poços de monitoramento, para

verificar se houve alteração no curso das águas subterrâneas e se foi atingido o

núcleo residencial próximo à Shell, quatro ruas nesta direção e várias transversais.

      Esta outra transparência mostra uma área interna da Shell, todas as

sondagens, perfurações e poços de monitoramento exigidos pela CETESB. São

mais de 40 poços instalados e mais de 300 sondagens feitas. Em cada poço são

realizados, trimestralmente, por exigência nossa, cerca de 106 parâmetros em cada

análise. Já temos mapeada toda a situação anterior à exigência de retirada das

borras e posterior à remediação.

      Por fim, é preciso dizer que este assunto é relativamente novo não só no

Brasil. A CETESB tem-se preparado para enfrentar esse tipo de problema graças a

convênios internacionais firmados, principalmente, com o Governo alemão. Nosso

pessoal técnico está sendo treinado para atuar em áreas contaminadas, mas esse

treinamento é recente. Juntamente com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente

de São Paulo, divulgamos no mês passado a relação das 255 áreas já conhecidas e

cadastradas. O processo é longo, demorado e contínuo, porque cada vez que se

descobre um foco é feita nova exigência de remediação.

      A bibliografia internacional sobre esse tipo de trabalho é muito recente, data

da década de 70 nos países do Primeiro Mundo. Só para se ter uma idéia, por

ocasião da queda do Muro de Berlim, descobriu-se que a Alemanha Oriental tinha 8

mil áreas contaminadas. O Governo da Alemanha Ocidental priorizou o atendimento

a essas áreas, verificando a extensão da contaminação, a vizinhança das áreas

atingidas, os tipos de contaminantes, os produtos manuseados e os bens a proteger.




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      O trabalho que estamos fazendo é demorado, mas está sendo enfrentado.

Das 255 áreas cadastradas pela CETESB, 145 estão em fase de remediação; as

outras ainda não.

      Foi assinado há duas semanas um convênio entre a Secretaria de Estado do

Meio Ambiente e a Secretaria de Estado da Saúde do Governo de São Paulo, para

atuarem conjuntamente em casos de área contaminada, porque, a partir do

momento em que se detecta um problema dessa natureza, é preciso verificar se

existe risco para a saúde da população e fazer análises para detectar possíveis

danos ao meio ambiente.

      Estou pronto para responder a qualquer pergunta. Obrigado.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Obrigado.

      Passo a palavra ao Sr. Aristides Acosta Fernandez, representante dos

moradores do Bairro Vila Carioca.

      O SR. ARISTIDES ACOSTA FERNANDEZ – Boa tarde a todos.

      Minha primeira pergunta é dirigida ao Sr. José Cardoso Teti, que disse não

ser mais usada água de poço. Acontece que, há alguns anos, todas as residências

usavam água de poços rasos.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Dr. Aristides, depois da

sua exposição o senhor pode fazer perguntas, mas elas só serão respondidas numa

segunda etapa. O senhor pode expor todas as suas preocupações e depois passar

às perguntas.

      O SR. ARISTIDES ACOSTA FERNANDEZ – Os moradores da Vila Carioca

estão preocupados. Nós queremos saber o que pode ser feito para tranqüilizar a




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população. Estamos muito assustados com o que vem sendo noticiado pela

imprensa, e a Shell até agora não se manifestou.

      A Shell contratou uma empresa, a Agência 21, para atuar junto à comunidade,

mas não consigo ver o benefício para os moradores.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, eu quero fazer

uma sugestão. Nós estamos percebendo a intenção do Sr. Aristides de esclarecer

alguns pontos e também de fazer alguns questionamentos. Se ele e a Sra. Isabel

não quiserem falar agora, nós poderíamos, depois de ouvir os demais expositores,

endereçar algumas perguntas aos dois, para que eles manifestem suas opiniões e

preocupações. Depois eles fariam as perguntas.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Dr. Aristides, o senhor

tem alguma coisa a dizer antes de passar às perguntas? Porque, se for apenas

perguntar, nós inverteremos a ordem dos oradores e concederemos, imediatamente,

a palavra ao Sr. César Augusto e depois ao Sr. Rui Andrade Dammenhain. O senhor

e a Sra. Isabel fariam as perguntas junto com os autores do requerimento.

      O SR. ARISTIDES ACOSTA FERNANDEZ – Quero fazer perguntas.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – A Sra. Maria Isabel

Vendrame gostaria de se manifestar antes de fazer as perguntas?

      A SRA. MARIA ISABEL VENDRAME – Eu também quero fazer perguntas,

para esclarecer as dúvidas dos moradores.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Se os autores do

requerimento concordarem, vamos deixar para o final a manifestação do Sr.

Aristides e da Sra. Maria Isabel, membros da comunidade que não têm informação

técnica a dar.


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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Isso, Sr. Presidente. Eles

podem até fazer as perguntas antes de nós.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Não há dúvida,

Excelência, de que são a parte interessada.

      Com a palavra o Sr. César Augusto Guimarães Pereira, Diretor de Base do

Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minerais e Derivados de Petróleo do

Estado de São Paulo — SINPETROL.

      O SR. CÉSAR AUGUSTO GUIMARÃES PEREIRA – Boa tarde a todos os

presentes a esta audiência pública. Primeiramente eu gostaria de agradecer à

Câmara dos Deputados, particularmente a esta Comissão, o posicionamento

democrático e a sensibilidade de entender a gravidade do problema. Esta iniciativa

terá desdobramentos, sim, e nós esperamos que eles favoreçam a população e os

trabalhadores da região afetada.

      A Shell é uma empresa de grande porte, com capital acumulado de relevância

internacional. Não seriam 20 ou 30 milhões de dólares suficientes para abalar essa

empresa, senão a Exxon Mobil teria falido com o acidente causado pelo petroleiro

Exxon Valdes. Até agora a Exxon Mobil pagou 15 bilhões de dólares porque

morreram foquinhas no Alasca e porque os peixes foram contaminados. Imaginem o

que significa para a PETROBRAS pagar 50 milhões de dólares por ter jogado 1

milhão de litros de petróleo cru na Baía da Guanabara. Isso é dinheiro de cafezinho

para empresas desse porte.

      Ficamos assustados com o posicionamento do Ministério do Meio Ambiente,

que até agora não autorizou o IBAMA a aplicar à Shell e à Exxon Mobil multas

ambientais. E elas são reincidentes. Todos acompanharam o caso de Paulínia e


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sabem como está a situação da população do Recanto dos Pássaros, que virou

Recanto do Inferno.

      Os representantes da Vila Carioca conhecem o tamanho do desespero de

conviver com pesticida, com BTX. Sabem o que é isso? Benzeno, tolueno, xileno,

corrente C9, pirólise. Vão ter de chamar de BIP 3 a área do Bairro Vila Carioca, onde

estava localizada a Shell Lubrificante. Ninguém falou nisso até agora. Hoje está

instalada naquele lugar uma transportadora da própria Shell, ao lado de onde era a

Shell Química.

      Sr. Presidente, quero agradecer ao Dr. José Carlos Turela Borges e ao Dr.

Fernando Luís Turela Borges a consultoria ambiental que permitiu ao sindicato

descobrir a mazela da suplantação da Constituição brasileira, jogando-se na lata do

lixo, principalmente depois do regime militar, tudo aquilo que foi construído com suor

e lágrimas do povo brasileiro. Só em 1988 conseguimos aprovar na Carta Magna

avanços para as áreas ambiental, social e da saúde.

      Acabamos de protocolar nesta Comissão um documento que lerei

rapidamente. É o posicionamento do nosso sindicato. Por incrível que pareça,

apesar de os jornais terem publicado o caso e de a Justiça já ter sido acionada,

ainda assim somos obrigados a chamar a atenção do Poder Central.

      O texto que passo a ler já foi distribuído a todos e diz o seguinte:

                                 “Câmara dos Deputados.

                                 Comissão      de   Defesa    do   Consumidor,   Meio

                          Ambiente e Minorias.

                                 Em atenção ao Deputado Federal Dr. Pinheiro

                          Landim (PMDB-CE), Presidente.


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Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


                    Referência: Audiência Pública ‘Contaminação do

              Solo e do Lençol Freático por Produtos Químicos na Vila

              Carioca, Bairro do Município de São Paulo.

                    Estou     enviando       em    anexo    os       seguintes

              documentos, para o devido protocolo na Câmara dos

              Deputados, Comissão de Defesa do Consumidor, Meio

              Ambiente e Minorias. Nós já protocolamos no Ministério

              Público   Federal,     Seção    de    Protocolo    e    Arquivo,

              Procuradoria-Geral da República, no dia 13 de maio de

              2002; no Ministério do Meio Ambiente, Gabinete do

              Ministro; no Ministério de Minas e Energia, Protocolo-

              Geral; no Ministério da Justiça, Gabinete do Ministro; no

              Ministério da Saúde.

                    Tais protocolos avocam as responsabilidades do

              Poder Central brasileiro para assumir os respectivos

              papéis atuantes como fiscalizador, autuador e legítimo

              defensor dos direitos difusos, coletivos e individuais dos

              trabalhadores    e   moradores       circunvizinhos     de   tais

              terminais de derivados de petróleo e de químicos da

              Royal Dutch/Shell Group, Shell Brasil S.A., Shell Química

              S.A., Exxon Mobil Corporation, Esso Brasileira de

              Petróleo Ltda., Exxon Química Ltda. e SOLUTEC”.




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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


       Uma explicação: a SOLUTEC é a fábrica de lubrificantes da Exxon Mobil na

Ilha do Governador. Nunca foi multada. A PETROBRAS é multada, a SOLUTEC,

não.

                               “Para    solucionar   tais   passivos   ambientais,

                         sanitários, ocupacionais e de saúde pública, o Estado

                         brasileiro precisa, urgentemente, coibir as práticas

                         insanas de tais empresas transnacionais, obrigando-as a

                         respeitar a Carta Magna brasileira e a Lei de Crimes

                         Ambientais.

                               A Agência Nacional do Petróleo (ANP) possui

                         também uma responsabilidade direta no atual estado de

                         coisas, pois ignorou e ignora que tais empresas

                         consorciadas da Royal Dutch/Shell Group e Exxon Mobil

                         Corporation não podem contratar junto ao Governo leilões

                         de concessões de reservas petrolíferas, como também

                         não podem receber qualquer incentivo fiscal por parte do

                         mesmo Governo, como também anular os contratos de

                         concessão já assinados, e inabilitá-las de participar de

                         quaisquer outros leilões.

                               Passamos neste instante tais protocolos para

                         análise e posterior atuação política de legisladores da

                         Câmara dos Deputados, e assim fazemos valer a nossa

                         Carta Magna, que está sendo tripudiada pelo capital

                         anglo-holandês Royal Dutch/Shell Group e pelo capital


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              norte-americano Exxon Mobil Corporation, fazendo com

              que se instaure uma CPI ambiental da Royal Dutch/Shell

              Group e Exxon Mobil Corporation a nível do Congresso

              Nacional, para neste momento, sim, investigarmos a

              prática nociva de predadoras de mercado e da população

              brasileira, tendo em vista que as duas empresas

              possuem, além dos seus terminais, mais ou menos 4 mil

              postos de gasolina de suas bandeiras e conveniências

              que, impreterivelmente, estão contaminando o ar, o solo e

              as águas no local onde estão instaladas, haja vista que,

              na cidade de São Paulo, já foi divulgado que 40% de

              todos aqueles 255 pontos são postos de gasolina de que

              essas empresas são donas.

                    Em consonância com nossa estrutura federativa,

              temos legislações ambientais tanto no âmbito federal,

              estadual e municipal, como também a ratificação de

              convenções    e    protocolos   internacionais   perante   a

              Organização das Nações Unidas que autorizam requerer

              a esta autarquia ações imediatas nas questões que

              envolvem as empresas acima referenciadas, a saber Shell

              e Exxon Mobil.

                    Em se obedecer à Constituição Federal do Brasil,

              temos o art. 225, que traz o seguinte princípio: ‘Todos têm

              direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem


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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ                 COM REDAÇÃO FINAL
          Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias
          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


                        de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

                        vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o

                        dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

                        futuras gerações’.”

      No final do documento, nós fazemos pedidos a cada um dos Ministérios e

autarquias citados.

                                  “Do pedido nosso.

                                  Diante do exposto e das leis avocadas acima,

                        requeremos imediatamente que a Agência Nacional do

                        Petróleo (ANP) cumpra seu papel determinado por lei,

                        fiscalize, autue e, finalmente, penalize as empresas Royal

                        Dutch/Shell Group, Shell Brasil S.A., Shell Química S.A.,

                        Exxon Mobil Corporation, Esso Brasileira de Petróleo

                        Ltda., Exxon Química Ltda. e SOLUTEC, nos termos

                        legais,     devendo,    em    obediência     aos    preceitos

                        constitucionais e legais, dar o direito ao contraditório, para

                        que, inaudita altera parte, suspenda os contratos de

                        licitação e prospecção de petróleo, contratos de parceria

                        junto à PETROBRAS e mesmo entre empresas privadas,

                        com base na Lei de Crimes Ambientais, que proíbe as

                        empresas poluidoras de contratar com o Governo. As

                        duas corporações transnacionais se autodenunciaram às

                        autoridades públicas.




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Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


                    Que seja extraída a cópia integral de todos os

              processos e CPs, por solicitação da ANP, e sejam os

              mesmos entregues à Polícia Federal e à Receita Federal,

              para que se apure e determine o cancelamento dos

              benefícios fiscais que as mesmas empresas tenham

              recebido do Governo brasileiro.

                    Que o Ministério da Justiça, através do seu Ministro

              de Estado, com base na Constituição Federal, defenda os

              lídimos direitos, consagrados pela Carta Magna, dos

              trabalhadores e da população vitimada pela covarde

              omissão e silêncio das empresas Shell e Exxon Mobil.

                    Que o Ministério do Meio Ambiente autue e

              penalize as empresas Shell e Exxon Mobil pelos danos

              ambientais causados.

                    Que o Ministério da Saúde autue e penalize as

              empresas Shell e Exxon Mobil pela dolosa omissão em

              não    realizar        os   exames   médicos   específicos,

              especializados e científicos de seus trabalhadores, como

              de toda a cadeia produtiva do petróleo, a saber frentistas,

              petroleiros, tanqueiros, terceirizados nos terminais e, por

              último, os exames médicos especializados e científicos da

              população do entorno dos seus terminais, fábricas e

              armazéns.




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                              Que o Ministério de Minas e Energia, diante da Lei

                        de Crimes Ambientais e do Código Penal, proceda à

                        imediata abertura de inquérito administrativo, com a

                        finalidade da apurar a eventual negligência por parte de

                        funcionários públicos lotados na Agência Nacional de

                        Petróleo (ANP), órgão fiscalizador e regulamentador do

                        setor de petróleo desde 1997, que a Procuradoria-Geral

                        da República instrua e proceda à investigação de todos os

                        delitos civis e criminais das partes envolvidas neste crime

                        hediondo praticado contra o povo brasileiro.

                              Pedimos deferimento.

                              São Paulo, 11 de maio de 2002

                              Fernando     Luís      Turela   Borges,   advogado

                        ambientalista, OAB-88.627; José Carlos Turela Borges,

                        advogado ambientalista, OAB-91.508; César Augusto

                        Guimarães Pereira, Diretor de Base efetivo do Sindicato

                        dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados

                        de Petróleo no Estado de São Paulo, Inclusive Pesquisa

                        e Beneficiamento Mineral.”

     Para terminar a minha explanação, que não será técnica, gostaria de dizer

que tivemos uma reunião com a CUT nacional e com a representação da CUT no

Estado de São Paulo. Conseguimos, junto com a Confederação Nacional dos

Químicos, que também é filiada à CUT, uma intermediação real. Traremos

representantes das centrais sindicais da Holanda, da Inglaterra e dos Estados


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Unidos. Os trabalhadores desses países estão assustados com o que está

ocorrendo no Brasil. Estão assustados porque sabem que a empresa não está

cumprindo as normas internacionais firmadas com a Organização das Nações

Unidas, com a OCDE e com a Comunidade Econômica Européia. Estão assustados

porque o operário brasileiro e a população do entorno das empresas Shell e Exxon

estão expostos a tudo aquilo que desde a década de 60 eles já eliminaram. Estão

assustados porque conhecem a tecnologia e sabem que ela não é aplicada aqui, um

país de Terceiro Mundo, de onde saem lucros que, remetidos ao exterior,

engordaram o capital acumulado europeu e norte-americano, deixando no Brasil

uma situação lastimável.

      O próprio representante da CETESB disse que descobriram 8 mil pontos de

contaminação na Alemanha Oriental quando foi feita a reunificação das Alemanhas.

Se a lei brasileira dos crimes ambientais for aplicada na íntegra, quantos milhões de

pontos de contaminação não encontraremos aqui? Como ficará a situação

ocupacional   dos   trabalhadores   que   estão   lotados   nesses   terminais,   dos

trabalhadores que já se aposentaram, dos trabalhadores terceirizados? Como ficará

a situação da população que habita o entorno dessas áreas?

      Para finalizar, deixo nossos agradecimentos aos membros da Comissão de

Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, ao

engenheiro sanitarista e Deputado Estadual Rodolfo Costa e Silva, ao advogado e

Deputado Estadual Wagner Lino e aos membros da CPI dos Postos de Gasolina do

Município de São Paulo. Foram esses Parlamentares que conseguiram abrir a caixa

preta da Shell e da Exxon Mobil.

      Muito obrigado aos presentes.


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       O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Zica) – Obrigado, Sr. César.

      Passo a palavra ao Sr. Rui Andrade Dammenhain, Diretor Técnico da

Vigilância Sanitária da Direção Regional de Saúde da cidade de São Paulo.

      O SR. RUI ANDRADE DAMMENHAIN – Boa tarde a todos. Em nome da

Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e do Centro de Vigilância Sanitária,

agradeço o convite para participar desta audiência pública.

      De forma sucinta, vamos explicar como se deu a entrada da Vigilância

Sanitária nesse caso da Shell, um fato até então novo para nós que trabalhamos

com prevenção de riscos à saúde das pessoas.

      Logo que entramos no caso, soubemos de alguns questionamentos sobre o

que a Vigilância Sanitária estaria fazendo numa área que não é objeto de ação dela

enquanto órgão que promove a fiscalização e o licenciamento de vários

estabelecimentos.

      Apresentamos aqui a Constituição Federal e a nossa Constituição Estadual,

juntamente com a nossa Lei Orgânica da Saúde, que estabelece que a vigilância

sanitária é um conjunto de ações capaz de prevenir ou diminuir riscos à saúde da

população. Nós tomamos uma série de medidas toda vez que surge uma situação

de risco ou de agravo para a saúde da população.

      Temos a articulação como princípio. A Vigilância Sanitária trabalha com a

articulação intra-institucional ou interinstitucional, tornando públicas as suas ações

para garantir o direito de informação da população, mas mantendo a privacidade

para preservar o cidadão. Esse fator foi muito importante desde o início desta ação.

      O caso da Shell foi muito divulgado e até explorado pela imprensa. Fomos

muito questionados e sempre insistimos em dizer que não estávamos lidando com


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cadeira, mas, sim, com gente. O respeito à população envolvida no caso tem de ser

preservado, para garantir a dignidade das pessoas enquanto cidadãs brasileiras.

      Nesta outra imagem estão listadas as autoridades sanitárias, com respaldo

científico e técnico, que podem determinar intervenções em saneamento ambiental,

visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida e saúde da população.

      Com relação ao meio ambiente, nossa função é promover a melhoria da

qualidade do meio ambiente, nele incluído o trabalho, garantir condições de saúde,

segurança e bem-estar público, promover ações visando a controle das doenças,

agravos ou fatores de risco e interesse à saúde, assegurar e promover a

participação da comunidade nas ações de saúde.

      Só para que tenhamos uma noção de como se posicionam as ações de

vigilância sanitária na Capital de São Paulo, apesar do processo de municipalização

em curso que lá existe, o Estado continua assumindo o papel de gestor — é seu

papel natural — e de operador dessas ações.

      A Diretoria que eu coordeno é a instância operacional, e o Centro de

Vigilância Sanitária é nossa instância técnica de referência.

      Aqui está mais ou menos representado o meio ambiente, com uma alusão

especial ao problema das substâncias perigosas e tóxicas. O que nos surpreendeu

muito neste caso foi a metodologia usada. Até então, segundo informações que

obtivemos, era prática comum lavar aqueles tanques enormes de 5 milhões de litros

e colocar os resíduo num tambor, que depois era enterrado. Com o passar do

tempo, é claro, o tambor vai sendo corroído, e os resíduos acabam escoando para o

meio ambiente. Debaixo dessa terra existe um lençol freático, que não deixa de ser

um rio subterrâneo, e a água acaba sendo contaminada. Em princípio, não haveria


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problema se as pessoas não utilizassem água de poço, mas, para nossa surpresa,

mesmo sendo São Paulo a maior cidade deste País, foram localizados cerca de

cinqüenta poços na região. Como já disse o Seu Aristides, hoje as pessoas usam

água encanada, mas há vinte anos quase todos usavam água de poço. Isso é muito

preocupante.

      Não temos dados que nos indiquem se a contaminação está menor ou maior

do que há vinte anos, só podemos analisar o resultado das águas — estamos

recebendo os laudos entre hoje e amanhã — para poder estabelecer ações

complementares.

      Em 23 de abril, dia em que fomos surpreendidos pela divulgação de que o

Ministério Público estava movendo a ação, formamos uma equipe e fomos à

distribuidora da Shell na Rua Auriverde. Constatamos ali uma prática consagrada até

a década de 80, mas, por se estar lidando com substâncias perigosas e tóxicas —

como mostramos em dois slides anteriores —, lavramos um auto de infração, que

não significa aplicação de penalidade, e sim constatação de irregularidade. Foi então

feita uma investigação sanitária com o objetivo de identificar o que levou a essa

infração.

      Precisamos urgentemente fazer uma análise dos tipos existentes de

contaminante. Uma pessoa contamina-se por contato direto, ou seja, ingestão de

água ou alimento contaminado e pelo ar, ou por via placentária — a gestante

transmite a contaminação ao feto. Na verdade, não existem outras formas de

contaminação no que se refere à questão química.

      Nós articulamos as ações da Secretaria de Saúde com a Vigilância

Epidemiológica, a Secretaria Municipal de Saúde e a SABESP. Toda a nossa ação


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se restringiu à área de fora do site, assim chamada a área onde se encontra a

distribuidora. No site já havia o monitoramento da CETESB. Então nos

preocupamos com a população do entorno, não necessariamente com a própria

área, uma vez que outro órgão já estava cuidando desse assunto.

      Foi feita uma pesquisa de percepção sobre a ocorrência de doenças nas

unidades de saúde da região, e não foi constatado nenhum aumento nos casos. Isso

não quer dizer que possamos ficar sossegados. Apenas não ficamos atemorizados.

Mas, como o processo vem transcorrendo nos últimos quarenta anos, é óbvio que

qualquer comparação fica um tanto prejudicada.

      Estamos em fase de conclusão dos estudos de morbidade na região, nos

últimos dez anos. Estamos fazendo um corte sobre todas as doenças e causa

mortis, a fim de identificar se eventualmente existe algum fator epidemiológico que

nos indique alguma conduta especial a seguir.

      Fizemos também o mapeamento dos pontos de coleta de água. Todos os

lugares em que houver poços serão analisados, para que essa fonte de

contaminação não seja utilizada, conforme estabelece o Comunicado nº 187 do

Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, que determina a interdição

dos poços de abastecimento. Não existe o recurso do uso da fonte alternativa, que

se dá muito mais por uma questão econômica do que por não haver água encanada.

A região é servida por água encanada e tratada da SABESP. A não ser pela questão

econômica, não haveria outra justificativa para o uso de água de poço. Bem, a água

foi coletada e está sendo analisada.

      As etapas seguintes vão depender do resultado da análise da água. Volto a

dizer que não podemos decidir por um tipo de ação técnica movidos pela imprensa


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ou por clamor. Temos de ser técnicos. Não podemos ficar fazendo exames a torto e

a direito, como fizeram com o chumbo. Qualquer pessoa que tenha o cabelo pintado,

se fizer esse exame, constatará presença de chumbo no resultado, pois a tinta

contém essa substância. Um resultado isolado de exame não significa nada; é

preciso também analisar o contexto.

      A Vigilância Sanitária tem sido cobrada, como se não tivesse feito nada até

agora. Isso não é verdade. Nós estamos fazendo algo, mas com embasamento

técnico, porque não queremos criar tumulto, muito menos dizer que não existe

problema, enquanto ele pode mesmo existir. Estamos tentando adotar um parâmetro

absolutamente técnico para esse caso.

      Existem alguns questionários preconizados pela Organização Mundial de

Saúde para identificar a presença do contaminante e fazer a correlação com a forma

de exposição da população. A partir daí são eventualmente realizados exames.

      É importante ressaltar que os contaminantes químicos só são identificados no

exame de sangue quando a exposição é aguda e recente, ou seja, quando a pessoa

acabou de se contaminar. No caso de uma contaminação crônica e de baixa

intensidade, o exame não acusa a presença da substância. O contaminante não fica

circulando no sangue, do contrário a pessoa morreria.

      Os contaminantes se localizam principalmente em dois lugares: tecido

nervoso e tecido gorduroso. Não adianta fazer o exame antes que se tenha um outro

respaldo.    Eventualmente,   estaremos    fazendo      exames   não   propriamente

laboratoriais, mas exames de avaliação neurológica e outros, a fim de identificar a

contaminação. Tomaremos todas as medidas necessárias.




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      A área Saúde está dependendo do resultado dessas análises. Fizemos todas

as análises preconizadas pela legislação no que diz respeito a potabilidade da água

e todas as séries físico-químicas e bacteriológicas. Queremos eliminar todas as

possibilidades de eventuais contaminações da população. Com isso pretendemos

diagnosticar a situação de saúde da população e propor medidas preventivas.

Apesar de a situação ser bastante preocupante e de já existir há quarenta anos, as

ações adotadas foram importantes para que as instituições envolvidas encontrassem

uma forma mais ágil de transmitir as informações. Com a resolução conjunta da

Secretaria de Meio Ambiente e da Secretaria de Saúde, ao menor sinal da existência

de contaminante químico que traga malefícios à saúde, a Vigilância Sanitária deve

ser avisada. Nós trabalhamos com a suspeita e não necessariamente com a

confirmação. À menor suspeita de problemas, temos de propor alguma ação. Os

resultados talvez fossem maiores se essa decisão tivesse sido tomada há vinte

anos, mas naquela época talvez não houvesse conhecimento suficiente para

empreender essas ações.

      Vamos estabelecer protocolos para outras áreas de passivo ambiental. Foi

divulgado pela Secretaria de Meio Ambiente que existem na cidade de São Paulo

cerca de oitenta áreas contaminadas. Em grande parte delas, a contaminação

provém de postos de gasolina, que tiveram seus tanques furados, provocando

vazamento de combustível. É óbvio que não vamos permitir que nessas áreas haja

consumo de água de poço, senão haverá contaminação novamente. Assim também

evitamos a ocorrência do que podemos chamar de passivo sanitário, ou seja, de ter

de tratar de uma situação que poderia ter sido prevenida caso tivéssemos

conhecimento técnico do que estava acontecendo. Isso é importante.


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      A articulação que está sendo feita entre Meio Ambiente e Saúde é muito

importante. A Vigilância Sanitária tem um grupo que cuida da saúde do trabalhador.

Estaremos trabalhando juntos no monitoramento dessas pessoas, observando a

qualidade dos exames feitos, tanto do admissional quanto do periódico e do

demissional, para que consigamos estabelecer alguma forma de controle.

      Esse foi o papel da Vigilância. Encerro aqui a minha apresentação inicial.

Muito obrigado.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Obrigado ao

representante da Vigilância Sanitária.

      O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem V.Exa. a

palavra.

      O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, um esclarecimento. Foi

feito no início dos trabalhos um acordo para que os dois representantes dos

moradores pudessem dirigir perguntas aos expositores. Posteriormente, nós, autores

do requerimento, faríamos os questionamentos ao conjunto de expositores.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Pois não,

Deputado. Tem a palavra o Sr. Aristides Acosta Fernandez, para fazer seu

pronunciamento ou, se assim desejar, suas perguntas. Fique à vontade.

      O SR. ARISTIDES ACOSTA FERNANDEZ – Tenho perguntas a fazer ao Sr.

José Cardoso Teti, representante da Shell, que alegou que a população não utiliza

mais água de poços. Acontece que há alguns anos todas as residências usavam

água de poços.


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       As borras enterradas estão sendo retiradas a que hora? Eu moro ali perto e

não vejo caminhão sair de lá com terra. Seria possível que uma comissão de

moradores, junto com algum órgão público, acompanhasse a retirada dessas

borras?

       O senhor confirma a contaminação do solo? Qual é a área atingida?

       Por que a Shell contratou a empresa Agência 21 para fazer um trabalho junto

aos moradores? Segundo a Agência 21, a Shell está preocupada com lazer e com

escola profissionalizante. Mas a própria Shell tirou das crianças o lazer aos sábados

e domingos, colocando obstáculos no meio da rua em frente ao portão de entrada

dos caminhões. Essa pergunta eu já a fiz ao Sr. José, mas a resposta não foi

satisfatória.

       Eu solicitei a uma comissão de Vereadores que fosse transferida a entrada

dos caminhões da Rua Auriverde para a Av. Presidente Wilson, porque os

caminhões estão trabalhando 24 horas, desobedecendo à Lei do Silêncio. Estão

atrapalhando o sono dos residentes próximos, como eu. Fiz esse pedido por volta do

mês de março, e até agora não tivemos uma resposta. Eu queria essa resposta o

mais breve possível.

       Também foi solicitada a colocação de filtros nas válvulas sobre os tanques,

porque à noite — os dias mais afetados são terça-feira, quarta-feira e quinta-feira —

o cheiro de combustível é muito forte. Já chamamos a CETESB, mas ela chegou

meio fora de hora e o odor já tinha passado.

       Para finalizar, uma curiosidade minha, e solicito ao Sr. José Cardoso Teti e ao

representante da Esso que a esclareçam. A Shell diz que nos seus postos de

combustíveis os produtos têm o DNA. Correto? Já nos postos da Esso a propaganda


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é de gasolina garantida. Mas o combustível de ambas as distribuidoras sai da

mesma base da Shell, na Vila Carioca.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem a palavra o Dr.

José Cardoso Teti, da Shell Brasil S/A, para responder às perguntas do Sr. Aristides.

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Eu espero ter anotado todas as perguntas.

Se eu me esqueci de alguma coisa, Sr. Aristides, por favor, me ajude.

      Vou começar por algumas que já têm ação direta. O projeto de mudança da

entrada dos veículos da Rua Auriverde para a Av. Presidente Wilson deve estar nas

nossas mãos até o final desta semana. Eu já tive a oportunidade de informar ao

senhor que não se trata de uma simples mudança de entrada da base. Temos de

fazer algumas mudanças no projeto interno. A solução passa por um trabalho mais

especializado, mas que já está na nossa lista de ações. O senhor será a primeira

pessoa notificada sobre o projeto alternativo. Lamentavelmente, como eu disse, não

se trata de uma solução técnica fácil. Tivemos de contratar empresas de arquitetura

e de projetos para nos ajudar nesse trabalho.

      A outra questão também diz respeito ao acesso. Infelizmente, tivemos de

tomar uma medida não muito bem vista pela população, mas nossa intenção é

justamente proteger a comunidade. Nossa unidade trabalha num regime de

segunda-feira à sábado, com trânsito de caminhões na Rua Auriverde. Algumas

crianças, nos momentos de menor tráfego, costumavam jogar bola na entrada da

Base. Nós não entendemos isso como recomendável, e, então, pedimos às crianças

que não ficassem brincando ali. Esse pleito já foi identificado por aquelas pessoas

que nós enviamos para, junto com a comunidade, descobrir que atividade de

interesse comum entre a comunidade e a Shell poderia ser desenvolvida. O pedido


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de uma área é demanda do passado e, com certeza, estará sendo revisto por nós.

Vamos tentar encontrar uma solução para atender às crianças. Mas, justamente

para protegê-las, pedimos a elas que brinquem em outro lugar. Estamos falando de

uma rua de tráfego normal de veículos, e, se observarmos a legislação, veremos que

essa situação não pode continuar. Nossa atitude foi uma medida preventiva. Fica o

nosso compromisso de tentar encontrar uma alternativa que atenda aos interesses

das crianças.

      Quanto à contaminação do solo, ela se deu apenas na área da Base. Como

foi dito na minha primeira explanação e depois reforçado na apresentação da

CETESB, nós fizemos um mapeamento completo dessas contaminações de solo

com borra e concluímos que elas estão restritas ao solo da Base. A retirada do

material obedece a uma freqüência e a uma especificação técnica. Eu imagino que,

como o afluxo maior de caminhões naquela localidade é por produto, pouco se

percebe a entrada ou saída de caminhões que fazem a retirada do material. Ela

ocorre normalmente, como eu disse. Na Rua Colorado nós chegamos a tirar 110

toneladas e, na Base do Ipiranga, até o momento, cerca de 1.300 toneladas. A

retirada é feita de forma paulatina e equilibrada, com todo o cuidado recomendado.

Como o afluxo maior de caminhões é de produtos e de combustíveis, talvez não se

perceba pela comunidade a retirada de solo, mas o processo é regular e

estruturado.

      A contratação de uma empresa para fazer o que vamos chamar de mediação,

ou interlocução, não significa que nós, funcionários da Shell, não estejamos juntos

da população. Eu já tive, pelo menos em duas ou três oportunidades, o prazer de

conversar diretamente com o senhor, ou, em outras ocasiões, com outros membros


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da comunidade. Tantas vezes quanto for possível nós estaremos dialogando,

porque, como já foi enfatizado, nosso compromisso passa pelo bem-estar da

comunidade e pela transparência nas ações.

      A Agência 21 foi contratada para tentarmos suprir uma necessidade imediata

que, infelizmente, a nossa estrutura local, que é técnica e operacional, não podia

resolver adequadamente. As pessoas que trabalham naquela unidade têm formação

específica, destinada a manuseio de produtos, armazenagem, carregamento de

veículos. Talvez não fossem os melhores interlocutores com a comunidade. A

Agência 21 tem toda uma expertise na relação com as pessoas, e, na nossa forma

de ver, ela poderia melhorar nossas relações com a comunidade. A Agência 21 está

fazendo um trabalho de interlocução, facilitando nossa comunicação, mas não está

substituindo a Shell. Eu e outros colegas que fazem a empresa e são responsáveis

pela condução daqueles trabalhos vamos estar à disposição da comunidade. Eu

mesmo já disse ao senhor pessoalmente — e agora reitero de público — que

estamos à disposição para falar com vocês diretamente.

      O odor que eventualmente é mais acentuado decorre do fato de aquela ser

uma região de alta densidade de indústrias. Os odores são os mais comuns

naquelas atividades de indústria, tanto nas de petróleo como nas outras que

desenvolvem suas atividades naquela área. Mas posso lhe adiantar que faz parte do

nosso plano de introdução de metodologias e processos para melhoria do meio

ambiente uma série de medidas que visam reduzir eventuais contribuições para o ar.

Essas medidas serão implantadas em curto e em médio prazo. Nós fazemos

relatórios e medições de contribuições para o ar e todos esses documentos estão




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100% adequados. De qualquer maneira, insisto: faz parte do compromisso da

empresa melhorar toda sua performance, e contribuição para o ar é uma delas.

      Acho que a última questão foi a do DNA. Bem, nós hoje formamos uma

unidade chamada de pool, uma unidade industrial utilizada pela Shell e pela Esso.

Mas a composição dos produtos finais passa por um processo de aditivação e

adição de produtos que caracterizam cada marca. Nós recebemos da PETROBRAS,

nosso principal fornecedor, um produto típico, e esse produto recebe o incremento

de alguns componentes, que são próprios da Esso ou da Shell, entre eles o nosso

DNA. Ou seja, quando os caminhões saem para os postos de serviço das duas

empresas, levam consigo uma marca diferente. Isso é feito no processo de

carregamento. Embora nós recebamos um produto único, de origem da

PETROBRAS, ao carregar os caminhões nós adicionamos os componentes que

fazem a identificação de cada marca.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem a palavra a

Sra. Maria Isabel Vendrame.

      A SRA. MARIA ISABEL VENDRAME – Boa tarde a todos. Não tenho

conhecimento técnico, mas será que vai adiantar tirar essas borras? E o resto da

contaminação, o resto do solo, como fica?

      A CETESB já sabia da contaminação desde 1993. Por que não informou à

população? Só viemos a saber do problema agora, pela imprensa. Se tivéssemos

sabido antes, jamais teríamos reaberto nosso poço, que agora está colocando em

risco até a saúde das crianças, que também tomaram da água. Nossa dúvida é

essa; o resto o senhor já explicou. Se soubéssemos da contaminação, jamais

teríamos dado veneno aos nossos filhos!


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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


      O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem a palavra o Sr.

José Cardoso Teti, depois o representante da CETESB, Sr. João Antônio Romano.

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Em primeiro lugar, é preciso que fique claro

não houve nenhuma intenção, má-fé ou omissão da parte da empresa. No momento

em que nós recebemos a denúncia, tomamos todas as providências que a situação

merecia. Nas análises de risco feitas à época, o trabalho de remediação proposto e

a não-exposição da comunidade aos contaminantes de solo ou de água foram

entendidos como adequados. Depois que as notícias foram veiculadas em jornal e

tomaram essa outra conotação, a mesma reflexão é feita, porque não nos conforta

ter essa comunidade na situação em que hoje está.

      Em reforço ao que estou dizendo, posso dizer que, para tratar as áreas

contaminadas, inúmeras decisões técnicas podem ser tomadas. Entre elas temos a

opção de retirar as borras. Em algumas situações, dependendo do resultado da

análise técnica, é até preferível deixar as borras no local. Nós sempre optamos pelo

trabalho que causa menor impacto ao meio ambiente. No caso da Base do Ipiranga,

a recomendação técnica foi a retirada das borras. Como nós dissemos na

apresentação inicial, depois de retiradas as borras continuaremos monitorando as

águas superficiais rasas, exatamente para ter certeza de que a solução técnica

escolhida foi adequada. Nossa expectativa é que, depois de retirada a fonte principal

de contribuição, que é a borra, com o monitoramento do lençol freático consigamos

fazer um acompanhamento técnico seguro do resultado da opção recomendada. Eu

diria que a solução encontrada para a população que está no entorno, dadas as

características daquela unidade, foi a melhor possível. A retirada das borras vai

propiciar a regeneração do solo.


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            Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


      A SRA. MARIA ISABEL VENDRAME – Vocês sempre farão análises da terra

que vai restar?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Essa exigência faz parte do plano de ações.

A CETESB pediu que fosse feita uma análise trimestral da água, que já foi

apresentada tanto por mim quanto pelo ilustre representante da outra empresa. A

continuidade desses exames é uma das medidas a serem executadas. Ou seja,

independentemente do trabalho de remediação, concluído na Base do Ipiranga e em

curso nas outras áreas, a análise da água permanece. É com esse

acompanhamento que poderemos ter certeza de que as medidas adotadas estão

corretas.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem a palavra o Dr.

João Antônio Romano.

      O SR. JOÃO ANTÔNIO ROMANO – Isabel, quando tomamos conhecimento

da denúncia, em 1993, e nos foi exigido um levantamento técnico da área para

avaliação de eventual contaminação, os dados mostravam que a contaminação

estava restrita aos tanques e ao entorno dos tanques. Somente com o

aprofundamento das investigações é que detectamos uma outra fonte. Isso

aconteceu no início do ano 2000, com a verificação da Rua Colorado. Os dados de

monitoramento, tanto os que nós tínhamos quanto os que foram exigidos da Shell,

mostravam, naquele momento, um confinamento da contaminação no site interno da

Shell. Por isso a informação não foi divulgada para a população. Quando há risco

iminente para a população — e já houve alguns casos no Estado de São Paulo —,

imediatamente é comunicada a Vigilância Sanitária, que faz todo esse trabalho na

região, lacrando os poços para que a água não seja utilizada. Como disse, o


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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


trabalho é contínuo e o problema não foi detectado naquele momento, mas ao longo

das investigações e das exigências técnicas feitas.

      Essa é a resposta.

      O   SR.    PRESIDENTE       (Deputado    Ronaldo   Vasconcellos)   –   Dando

prosseguimento aos trabalhos, concederei a palavra aos autores do requerimento.

      Em primeiro lugar, concedo a palavra ao Deputado Arlindo Chinaglia.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Parlamentares, senhores convidados, nosso objetivo nesta audiência pública

evidentemente é procurar fazer um diagnóstico correto da real dimensão do

problema para que tanto os trabalhadores do setor quanto a população da região

tenham a devida proteção. Nosso objetivo também é evitar que fatos como esses

continuem ocorrendo na cidade de São Paulo ou em qualquer parte do País.

      Se pudesse sintetizar a exposição do Sr. José Cardoso Teti, representante da

Shell, diria que sua intervenção foi a seguinte: uma vez havida a denúncia, a Shell

começou imediatamente a tomar medidas, fez um plano de trabalho e, depois de

algum tempo, começou a fazer a remoção de borras. Nesse contexto, informou-nos

que a Shell situa-se em região industrializada e que, portanto, pode e deveria

repartir responsabilidades eventualmente com outras empresas. Ao mesmo tempo,

ela aplicou a metodologia de cada época. Portanto, a conclusão é de que Shell, no

Brasil, sempre agiu em consonância com a legislação ambiental, tanto local quanto

internacional, e ao mesmo tempo usando a tecnologia.

      Vou fazer observações e perguntas, porque me parece que há contradições.

Pergunto ao Sr. José Cardoso Teti qual a composição do DNA, o marcador da Shell.




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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Em primeiro lugar, não tenho a resposta

direta para a pergunta.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Se não tem a resposta, o

senhor se comprometeria a mandá-la por escrito?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – A companhia vai apresentar aos senhores a

filosofia da marcação.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – A pergunta que fiz é outra.

Quero ser o mais rápido possível, porque temos pouco tempo. O senhor é uma

pessoa muito simpática, porém temos um trabalho a realizar. O senhor se

compromete a nos informar qual a composição do DNA?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Vamos mandar-lhe a resposta. Com certeza,

a Câmara dos Deputados vai receber o produto, que inclusive faz parte do registro

da ANP.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Obrigado.

      Qual a tecnologia usada hoje pela Shell para evitar a contaminação do solo?

O senhor disse que acompanhava aquilo que era feito em outros países, atendendo

às exigências e possibilidades de cada época. O senhor me diria hoje que o

tratamento dado aos tanques e reservatórios é moderno? Qual é o tratamento para

que não haja borras e tambores enterrados no solo? Qual é a tecnologia?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Agradeço a V.Exa. a oportunidade de

responder a essa pergunta que reforça o que entendemos ser o mais importante.

Tomo a liberdade de dizer que a Shell tem uma posição de vanguarda, com

procedimentos, metodologias e medições que nos permitem assegurar que

nenhuma das nossas unidades está recebendo contribuição. Qualquer tipo de


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          Número: 0584/02                                      Data: 11/06/02


contribuição para o solo hoje constatada é imediatamente tratada. Se V.Exa. quer ter

idéia de como isso funciona na Shell, veja que qualquer vazamento ou derrame a

partir de um litro é relatado e entregue ao Comitê Central de Segurança. Hoje temos

processos, tecnologias e informações que nos permitem assegurar que esse tipo de

ocorrência do passado já não mais nos aflija.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Muito bem. Há quanto tempo

todo esse arsenal tecnológico de trabalho é executado pela Shell no Brasil?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Na realidade, cada medida de evolução vem

do aprendizado, da tecnologia disponível, do conhecimento que adquirimos na

atividade. Posso dizer que instrumentos utilizados há mais de dez anos nos

asseguram total controle das contribuições. As nossas unidades por instrumentos de

medição, por processos, por procedimentos conseguem fazer o rastreamento e

mapeamento nas plantas, nas atividades de armazenagem e carregamento,

assegurando que não existem novos casos. Quando, eventualmente...

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Dr. José Carlos Teti, o senhor

está repetindo a resposta anterior, está relatando procedimentos já esclarecidos. A

pergunta é outra. Há quanto tempo é feito no Brasil esse procedimento?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Minha dificuldade em lhe responder

diretamente é que não se trata de um procedimento. Por exemplo: o procedimento

de enterrar borras ao lado do tanque foi descontinuado em meados da década de

1980. A partir do momento em que tivemos como destinar esses resíduos a outro

local, com processamento, no caso de borras de hidrocarboneto, isso foi feito.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Se me permitem, o Dr.

José Cardoso Teti afirmou que a Shell do Brasil S/A aplica metodologia considerada


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no momento a melhor em todo o mundo. O Deputado Arlindo Chinaglia pergunta

desde quando está sendo aplicado no Brasil esse conjunto atual de metodologias.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sim, Sr. Presidente. A

resultante é essa.

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – A resposta é que existe algo que chamamos

de sistema de gerenciamento de segurança, saúde e proteção do meio ambiente,

que foi estabelecido no começo dos anos 1990. A resposta adequada a essa

questão é no sentido de que sempre tivemos preocupação com isso.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Por favor, até para podermos

andar mais rápido, o senhor não precisa reiterar a preocupação da Shell; o senhor já

deu a sua posição, já mostrou toda a boa intenção da Shell, e não precisa repetir.

Estamos querendo obter informações. Não estamos acusando nem defendendo.

      Em outros países como Estados Unidos, Inglaterra e França é adotado o

mesmo conjunto de medidas que no Brasil? Na sua opinião, qual o mais eficaz? Se

o conjunto não é o mesmo, por que a diferença? Se é o mesmo, desde quando é

aplicado nos outros países?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Falei do sistema de gerenciamento de

saúde, segurança e conservação do meio ambiente. O programa é exatamente o

mesmo em todos os países. Quando a Shell decidiu tratar a questão de forma

estruturada, o fez em todos os locais em que operava. Anteriormente, as

companhias tinham tratamentos específicos na área de saúde, segurança e

conservação do meio ambiente, por princípio de negócio da empresa, mas agia de

forma independente. Cada companhia no local tinha um programa próprio.




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      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Em que momento passou a ser

o mesmo conjunto de medidas?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – No início dos anos 1990, quando instituímos

o sistema de gerenciamento de saúde, segurança e conservação do meio ambiente.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Esse programa é mundial?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – É mundial.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – E quando havia diferenças, o

mecanismo adotado nos Estados Unidos, na Alemanha ou na França era melhor ou

pior do que o adotado no Brasil? Lá também eram enterrados tanques no solo, como

fizeram aqui?

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – A prática de enterrar borras foi adotada no

mundo inteiro e não somente no Brasil.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – No Brasil, e particularmente no

Estado de São Paulo, a Lei nº 997/76 proíbe o lançamento ou liberação, nas águas,

no ar ou no solo, de qualquer produto, matéria ou energia que cause poluição,

ofensa à saúde pública, ao bem-estar público e prejudique a segurança, o uso e

gozo da propriedade comum. A lei é de um país de Terceiro Mundo, que só

recentemente tem preocupações mais sólidas com o meio ambiente, porém, é antiga

— 26 anos...

      Pela informação que o senhor acabou de prestar, o atual sistema data do

início da década de 1990 — pode ser 1993, pode ser 1994, mas o início é anterior a

1995. Portanto, a Shell estava na ilegalidade; estava fora-da-lei na sua intervenção.




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      Estou dizendo isso baseado em documento que o sindicato distribuiu. O

senhor fez o discurso de que a Shell está na vanguarda, mas verificamos que há

poucos anos ela agia fora da lei.

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Sem querer contestá-lo ou questioná-lo,

gostaria de informar o seguinte: as nossas práticas sempre estiveram alinhadas com

a legislação vigente, adotando metodologias e processos de reconhecer o padrão

nacional ou internacional. Essas contribuições feitas no passado, práticas na década

de 1970, já não existem mais.

      O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sabemos disso. O senhor

escolheu o caminho de fazer a defesa da Shell e não poderia ser diferente, porque o

senhor representa a companhia. Estou procurando mostrar que há uma separação

entre o que o senhor disse e os fatos. Queremos estabelecer o diagnóstico e o

eventual tratamento, mas precisamos confiar nas informações prestadas. Estou lhe

mostrando que sua informação não é verdadeira. Pode não ser de sua

responsabilidade, mas, se a lei de 1976, em São Paulo, já estabelecia a proibição de

se enterrar borra e lavar tanques... Se isso não bastasse, desde 1994 a empresa

não tinha alvará de funcionamento. E não é crível que a empresa não soubesse que

deveria ter alvará de funcionamento.

      O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Prefiro falar sobre o alvará de funcionamento

em outra questão. Vou contar com o apoio do nosso gerente da área de meio

ambiente.

      O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Peço ao senhor que se

identifique e dê a resposta específica ao Deputado Arlindo Chinaglia.




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Russomano ouve  shell
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  • 1. CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIAS EVENTO: Audiência Pública N°: 0584/02 DATA: 11/06/02 INÍCIO: 14h26min TÉRMINO: 17h45min DURAÇÃO: 3h19min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h24min PÁGINAS: 82 QUARTOS: 21 REVISÃO: Anna Augusta, Silvia, Tatiana SUPERVISÃO: Ana Maria, Cláudia Luiza, J. Carlos, Joel CONCATENAÇÃO: Gilza DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO JOSÉ CARDOSO TETI – Diretor de Instalações e Operações da Shell Brasil S.A. JOÃO ANTÔNIO ROMANO – Engenheiro da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental — CETESB. CÉSAR AUGUSTO GUIMARÃES PEREIRA – Diretor de Base do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio e Derivados de Petróleo no Estado de São Paulo — SINPETROL. RUI ANDRADE DAMMENHAIN – Diretor Técnico da Vigilância Sanitária da Direção Regional de Saúde da cidade de São Paulo. ARISTIDES ACOSTA FERNANDES – Representante dos moradores do Bairro Vila Carioca, Município de São Paulo. MARIA ISABEL VENDRAME – Representante dos moradores do Bairro Vila Carioca, Município de São Paulo. RICARDO JORE SHAMA DOS SANTOS – Gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Shell Brasil S.A. ALFREDO RODRIGUES DOS SANTOS – Gerente de Meio Ambiente da Divisão Química da Shell Brasil S.A. LUIZ RICARDO POELL – Consultor de Saúde do Departamento de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Shell Brasil S.A. SUMÁRIO: Debate sobre a contaminação do solo e do lençol freático por produtos químicos na Vila Carioca, bairro do Município de São Paulo. OBSERVAÇÕES Há exibição de imagens. Há orador não identificado.
  • 2. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Declaro aberta a presente reunião de audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, requerida pelos Deputados Arlindo Chinaglia, Luciano Zica e Celso Russomanno com o objetivo de discutir a contaminação do solo e do lençol freático por produtos químicos na Vila Carioca, bairro do Município de São Paulo. Convido a tomar assento à mesa dos trabalhos o Sr. José Cardoso Teti, Diretor de Instalações e Operações da Shell Brasil S.A., nesta audiência representando o Sr. Aldo Castelli, Presidente da empresa; o Sr. João Antônio Romano, engenheiro da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental — CETESB; o Sr. Aristides Acosta Fernandez e a Sra. Maria Isabel Vendrame, representantes dos moradores do bairro Vila Carioca; o Sr. César Augusto Guimarães Pereira, Diretor de Base do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio e Derivados de Petróleo no Estado de São Paulo — SINPETROL, nesta audiência representando o Sr. Valdenir da Cruz Santos, Diretor do SINPETROL; e o Sr. Rui Andrade Dammenhain, Diretor Técnico da Vigilância Sanitária da Direção Regional de Saúde da cidade de São Paulo. Também foi convidado a participar desta reunião o Dr. Anthony Wong, responsável pelo Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde, que comunicou a impossibilidade de seu comparecimento, em razão de compromissos assumidos anteriormente. Concederei inicialmente a palavra, por dez minutos, aos expositores, a quem agradeço se puderem usar um tempo menor; em seguida farão uso da palavra os Deputados Arlindo Chinaglia, Luciano Zica e Celso Russomanno, que requereram 1
  • 3. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 esta audiência; por fim, por três minutos, serão ouvidos os Parlamentares previamente inscritos. Para facilitar a transcrição desta reunião, solicito aos que fizerem intervenções que, por favor, se identifiquem. Feitas as considerações iniciais, passo a palavra ao Sr. José Cardoso Teti, Diretor de Instalações e Operações da Shell Brasil S.A. O SR. JOSÉ CARDOSO TETI - Em primeiro lugar, muito obrigado pela oportunidade oferecida por esta Comissão. Recebam nossos agradecimentos o Presidente da Mesa, Deputado Luciano Pizzatto, e todos os demais presentes, Deputados e convidados. Este tipo de evento vem ao encontro dos interesses da empresa, da sociedade — representada pela comunidade que está no entorno da base — e das autoridades que têm trabalhado conosco. Vou inicialmente dar algumas informações, que imagino sejam do interesse de todos, depois fico à disposição para responder as perguntas que eventualmente surjam. A apresentação está dividida em alguns blocos e visa dar conhecimento aos presentes do contexto da nossa presença na Vila Carioca e de como os trabalhos vêm sendo conduzidos naquela localidade. (Segue-se exibição de imagens.) Esta foto acabou não ficando cem por cento adequada aos nossos objetivos. Com ela queríamos demonstrar que estamos numa área tipicamente industrial, onde a empresa Shell é apenas mais uma no ambiente. Ao lado vemos algumas empresas que ainda atuam na região. Outras já saíram, como a refinaria da 2
  • 4. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Matarazzo, vizinha nossa. A foto pretende mostrar que no local existem algumas indústrias de porte e outras menores, que não identificamos nominalmente. Esta segunda imagem mostra quantas dessas empresas estão no nosso entorno, identifica a comunidade do condomínio Colorado, mais próxima de nós, e, principalmente, a divisão das áreas em que estamos trabalhando. Nossa apresentação enfocará cada uma das áreas independentemente. O que estamos tratando como área de tanques é a área da Base do Ipiranga, onde concentramos inicialmente os nossos trabalhos. Depois, por orientação técnica do órgão do meio ambiente que nos apóia e faz o trabalho de fiscalização conosco, ocupamos essas duas outras áreas, uma de perfil administrativo e outra chamada de BIP 2, ambas no entorno da unidade principal. Um breve histórico. Na Base do Ipiranga, aquela parte principal indicada como área de tanques, os trabalhos foram iniciados no ano de 1994, em razão de uma denúncia de contaminação do solo dessa dependência com chumbo orgânico. A denúncia levou-nos a uma aproximação com o Ministério Público, que nomeou um órgão do meio ambiente para nos acompanhar nesse trabalho. Começamos fazendo o processo de avaliação, mapeamento e identificação. Em 1996 foi implementado um plano de trabalho, aprovado pelo órgão de meio ambiente e pelo Ministério Público. Em 1998 foi entregue o primeiro relatório de investigação — nesse ano fomos solicitados a fazer a avaliação do entorno. Por isso dividimos esta apresentação em três partes. Em 1999 foi iniciado o trabalho efetivo de retirada das borras enterradas. 3
  • 5. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 As borras que estão sendo retiradas têm origem num processo adotado internacionalmente pela indústria. Todos os resíduos da limpeza de tanques, por orientação da indústria — isso aconteceu até meados da década de 80 —, pelos conhecimentos que tínhamos na época e por recomendação de um dos maiores fornecedores da área, a Octel, eram enterrados ao lado dos tanques de armazenagem. Assim marcávamos os pontos de tratamento e remediação. Essa prática foi descontinuada no momento em que surgiu outro tipo de recurso técnico para dar destino aos resíduos. O trabalho aprovado no final de 1999 tem início e maior concentração nos anos de 2000 e 2001. Já em 2000 é fornecido o segundo relatório de investigação, contendo a análise do entorno. Em 2001 concluímos a primeira investigação dos resultados de amostragem de águas subterrâneas. Recentemente, já em 2002, concluímos o processo de remediação daquela primeira área, que envolve os tanques de armazenagem e chamamos de Base do Ipiranga. Esse histórico tem o objetivo de trazer duas mensagens: em primeiro lugar, estamos trabalhando nessa área já há algum tempo; em segundo, o trabalho tem sido feito com base em especificação técnica e análises discutidas com especialistas e com as autoridades que orientam e determinam os procedimentos que a Shell deve adotar na região. É importante não perder de vista que todo esse trabalho tem sido feito com a responsabilidade devida. Desde o início tivemos o cuidado de estabelecer processos e metodologias que assegurassem que o plano de remediação traria os benefícios esperados. 4
  • 6. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Eu trouxe alguns números da Base do Ipiranga que podem dar idéia da dimensão do que está sendo feito. Estamos tratando de algo em torno de 820 sondagens, 73 amostras de solo, 8.760 análises clínicas de solo, compostos organovoláteis, organoclorados e chumbo total, instalação de 33 postos de monitoramento — a Base do Ipiranga concentrou inicialmente a maior parte do trabalho, é a área mais representativa em termos de borra —, 14 mil análises clínicas de água e um grande esforço para a retirada de 1.300 toneladas de solo mais borra contaminada, além de nove tanques subterrâneos, que já estavam desativados, mas, por recomendação técnica do órgão do meio ambiente, decidimos retirá-los também. Como conclusões macro do trabalho realizado na primeira área da Base do Ipiranga, é preciso citar que estamos tratando de uma zona industrial com empresas que manuseiam hidrocarbonetos, organoclorados e organofosforados. Esse detalhe é importante para que entendamos que a presença da Shell na região significa também a presença de outras empresas. Em segundo lugar, vamos reafirmar que temos seguido os padrões e procedimentos ambientais locais e internacionais de cada época. É importante destacar que a indústria, na sua finalidade principal, que é produzir bem, acabou dando origem a algumas contribuições para o meio ambiente, mas isso sempre foi feito com apoio nas tecnologias mais adequadas para a época. Naturalmente, a evolução tecnológica, o conhecimento e o aprendizado que tivemos ao longo dos anos nos levaram a adotar procedimentos diferentes dos seguidos trinta, quarenta anos atrás. 5
  • 7. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Na Base do Ipiranga temos o solo praticamente todo limpo, com as borras retiradas. Estamos terminando agora um novo rastreamento, para ter certeza de que nessa área principal não existe mais nenhuma fonte de contribuição. O trabalho deve terminar no mês de junho de 2002 e será entregue ao órgão ambiental, a CETESB, para dar sustentação ao plano de ações estabelecido. Ainda em termos de resultados, as concentrações encontradas no solo e nas águas subterrâneas rasas — chamamos de água subterrânea rasa o que é conhecido por lençol freático — estão abaixo dos níveis de risco para a população. Isto é, as taxas encontradas nos documentos que temos até o momento não expõem a comunidade a risco, porque o solo contaminado está contido no ambiente da base, e essas águas rasas, ou lençol freático, não são utilizadas para fins domésticos. Quando se faz uma análise de risco, considera-se a exposição das pessoas ao risco de contaminação. Outra relevante conclusão é que não foi detectada a presença de chumbo orgânico nem no solo nem na água subterrânea. Essa é uma resposta importante. Esse componente agressivo à saúde não está presente em nossas análises. As análises que fizemos dos poços profundos, ou seja, do lençol subterrâneo profundo, também indicam que as águas estão limpas. Embora não seja prática na região — os habitantes daquela área usam água fornecida pela SABESP —, eventualmente são utilizadas águas de poços profundos. Adicionalmente ao trabalho que está sendo feito nessa área, até o final do ano e depois da aprovação dos trabalhos já realizados essas bacias serão impermeabilizadas, ou seja, nenhuma outra fonte de contribuição, nenhum outro tipo 6
  • 8. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 de risco haverá nessa unidade. Tão logo as análises sejam concluídas, apresentadas e aprovadas, faremos a impermeabilização das bacias. Para analisar a área do entorno, vamos fazer uma pequena separação, em Área Administrativa e BIP 2. Em 1998 aconteceu o final das atividades nessa área que chamamos de Colorado. Em 1999, em atendimento à recomendação do órgão de meio ambiente, avaliamos o solo, como parte complementar do cronograma de trabalhos da Base do Ipiranga. Em 2000 foi feita uma avaliação das águas subterrâneas e entregue o relatório complementar ao segundo que havia sido feito na Base do Ipiranga. Também foi elaborado um plano de remoção de borras, complementar ao que havia sido feito na Área I, já citada — a remoção das borras enterradas deve ser concluída neste ano. No decorrer de 2002, identificamos, na continuação das análises procedidas na região, manuseio de organoclorados numa área que antes havia sido considerada administrativa. Isso deu origem a uma revisão do plano de trabalho e a uma mudança do escopo que estava sendo seguido, mais uma vez em atendimento às recomendações técnicas do órgão de meio ambiente. Nessa área foram feitas 101 sondagens para mapeamento de borras, em 11 postos de monitoramento analítico trimestral. O trabalho continuará sendo feito mesmo depois de terminada a retirada das borras, para nos dar a segurança de que o trabalho de remediação está propiciando o resultado que esperamos. Quase 4 mil análises químicas de águas subterrâneas foram feitas nessa área da Colorado, com início do processo de revisão e remoção das borras: 111 toneladas já retiradas entre solos e 500 toneladas armazenadas para análise, em 7
  • 9. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 função daquele dado referido antes. Na medida em que percebemos a presença de organoclorado, o destino do resíduo é outro. Algumas conclusões importantes. Também nesta área, as águas subterrâneas rasas não expõem a população a risco. A confirmação da presença de organoclorado, que não havia sido detectada no primeiro relatório, de março, ensejou uma revisão no plano de remoção das borras. A remoção total da borra contida nessa área está prevista para setembro. O trabalho segue de acordo com o plano revisado, que obteve aprovação. Exatamente como na área da Base do Ipiranga, faremos uma investigação complementar após a retirada desse solo, para nos certificarmos de que o trabalho realizado atende a todas as necessidades estabelecidas no plano. Com relação à BIP 2, como aconteceu com a área do entorno da Colorado, fizemos em 1999 uma avaliação de solo e água subterrânea. Essa investigação foi entregue à CETESB como parte da avaliação do entorno da Base do Ipiranga. No local foi identificada a presença de organoclorado na fase livre, ou seja, na fase de produto superficial à água, e ficou estabelecido um projeto para remoção dessa fase livre. O projeto já foi aprovado e está em fase de implementação e execução, para que possamos retirar a fase livre do produto e dar à área tratamento igual ao da Base do Ipiranga e da Colorado. Nesta área foram feitas 160 sondagens de reconhecimento, coletadas 19 amostras de solo para análise química, realizadas 3.800 análises químicas de solo e recolhidas 73 amostras de água subterrânea, para análise. Também foi feita a delimitação da pluma de fase livre e construídos mais de 40 postos de monitoramento dos índices de explosividade — no momento em que se percebe a 8
  • 10. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 presença de fase livre, é preciso fazer uma análise complementar. Além disso, foi feito um ensaio piloto para retirada da fase livre e iniciada a implementação do projeto de remoção, em abril. Esses números confirmam o grande esforço que está sendo feito pela empresa para ter aquela área devidamente tratada. O registro dessa quantidade de ensaios, postos de monitoramento e trabalhos executado demonstra a disposição da empresa para resolver o problema da área que, infelizmente, foi contaminada. Algumas conclusões. Não detectamos a presença de gases inflamáveis. As concentrações de hidrocarbonetos e organoclorados no solo estão sendo determinadas para remoção da fase livre. Estamos falando de uma área com baixa densidade residencial, como os senhores puderam ver na fotografia, diferentemente da Base do Ipiranga. Identificamos duas plumas de hidrocarboneto. A investigação complementar externa foi iniciada no mês de maio. A remoção da fase livre dentro da planta tem prazo estabelecido para junho, e a remoção de tubulações desativadas será executada paralelamente. Estamos falando de uma zona nitidamente industrial, que abriga outras atividades da distribuição de combustíveis desde a década de 40. A Shell tem usado metodologias e tecnologias as mais avançadas para cada época. Hoje estamos utilizando todo o recurso técnico de que dispomos. As análises técnicas atuais, aceitas e monitoradas pela CETESB, são feitas segundo os padrões internacionais atuais. Reitero que temos recebido apoio técnico adequado, austero e rigoroso do órgão de meio ambiente. 9
  • 11. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 O processo de recuperação ambiental já está concluído em grande parte. Como dito antes, já foram retirados todos os resíduos daquela área maior, a Base do Ipiranga. Estamos caminhando para o final do trabalho. Os procedimentos que temos adotado estão alinhados com o órgão ambiental competente desde o início. A Shell foi absolutamente transparente e jamais executou alguma coisa que contrariasse a orientação do Ministério Público ou do órgão do meio ambiente. Os trabalhos de remediação são feitos de forma compatível com as atividades desse tipo de unidade. O trabalho pode ser conduzido sem nenhuma perda para a atividade principal da empresa. Hoje conduzimos nossa atividade de forma mais eficiente e competente porque aprendemos com a evolução tecnológica. As duas atividades são absolutamente compatíveis. A Shell tem adotado uma atitude responsável e transparente durante todo o processo. Não queremos ser considerados arrogantes ou prepotentes. A situação foi criada pela indústria, no Brasil e no mundo, mas não por má-fé. O mundo demandou bens, e esses bens tinham de ser produzidos por uma indústria que não detinha cem por cento da informação que se tem hoje, o que acabou provocando essas conseqüências. É importante que os senhores saibam que a Shell assume sua parte nessa conta e está disposta a tratar de tudo aquilo a que deu origem — isso pode ser confirmado no trabalho que executamos desde o princípio. Mas gostaríamos que a mesma atitude responsável fosse seguida por outros parceiros dessa indústria, que, insisto, acabaram contribuindo para o problema. 10
  • 12. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Temos responsabilidade com o Estado de São Paulo, com o Brasil e com o mundo. Vamos encontrar soluções para essa situação. A Shell fará sua parte no trabalho. Vamos continuar fazendo tudo o que for demandado pelas autoridades, tudo o que for necessário para recuperar aquela região. Mas gostaríamos de ser seguidos por outros parceiros. Por último, algumas mensagens que reputamos importantes reforçar, porque mostram o nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável. Independentemente das remediações que estamos fazendo, só este ano disponibilizamos 20 milhões de reais do nosso orçamento para atitudes pró-ativas na área ambiental. Estamos falando de nova tecnologia, de novos processos, de treinamentos e melhorias. É nosso objetivo integrar aspectos econômicos, sociais e ambientais nas decisões de negócios. Isso está nos princípios da empresa. É importante buscar equilíbrio entre as decisões de negócios e seus impactos ambientais, sociais e ambientais, no curto, no médio e no longo prazo. Somos uma empresa que se instalou no Brasil há noventa anos e pretende ficar aqui muitos outros. É nosso papel e nossa responsabilidade promover o diálogo com os grupos representativos da sociedade, e este é um deles. Senhores, desculpem-me se me estendi um pouco, mas era importante trazer essa mensagem. Infelizmente, o que foi divulgado nem sempre continha todas essas informações. A Shell estará à disposição desta Comissão, da sociedade e das autoridades, para atender no que for necessário e cumprir suas responsabilidades. Muito obrigado a todos. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Obrigado. 11
  • 13. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Com a palavra o Sr. João Antônio Romano, engenheiro da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental — CETESB. O SR. JOÃO ANTÔNIO ROMANO - Boa tarde a todos. Em nome da Diretoria da CETESB e da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, agradeço à Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos Deputados o convite para participar desta audiência pública. Farei uma pequena explanação das ações tomadas pela CETESB — órgão ambiental do Estado de São Paulo — neste caso da Shell. A CETESB iniciou sua ação corretiva para este caso a partir da denúncia feita em 1993 pelo Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Derivados de Petróleo. A partir daí, exigimos que a Shell fizesse um estudo detalhado de eventual contaminação no site da Vila Carioca. A princípio, o estudo abrangeu a área da chamada BIP 1, onde estão instalados 36 tanques de vários tipos de combustíveis. O trabalho de ação corretiva da CETESB começou em 1993, motivado pela denúncia de que havia borras de fundo de tanque enterradas no site interno da Shell. Esse empreendimento é anterior à Lei Ambiental do Estado de São Paulo, por isso não ficou sujeito a licenciamento ambiental. A Lei Ambiental do Estado de São Paulo é de 1976, e a Shell está implantada nesse local desde 1949 ou 1950. Não houve, então, um licenciamento ambiental dessa atividade. A renovação de licença mostrada vale para algumas construções feitas nas áreas administrativa e de refeitórios da Shell. Foi dada uma licença para ampliação, apenas isso. Nos casos em que a atividade é anterior à Lei Ambiental, o órgão ambiental só atua corretivamente, como foi feito na ocasião. Foi exigido da Shell um estudo, e 12
  • 14. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 esse estudo apontou a existência de lodos no fundo de tanques de combustível enterrados em várias áreas internas da empresa. Esses lodos são constituídos de metais pesados, como benzeno, tolueno e xileno (BTX), geralmente os componentes dos combustíveis. Foram também detectados vários focos de contaminação primária com alta concentração desses contaminantes. Exigiu-se então da Shell a retirada de todos os focos primários durante o período. O trabalho durou de 1993 até final de 1999, com os últimos focos retirados agora. Ocorre que, durante a investigação, detectamos que, além da área ao redor dos tanques, uma outra área, chamada de área da Rua Colorado, continha vários outros tipos de resíduo enterrados. Além das borras, havia resíduos de organoclorados e dos conhecidos “drins”, porque, no passado, a área era usada para envasamento desses produtos. No momento em que foram detectados os outros resíduos enterrados, final de 1999 e início de 2000, a Shell foi autuada, por não ter informado o fato ao órgão ambiental. A investigação continuou nessa área chamada de área da Rua Colorado. Posteriormente detectamos outro foco de contaminação, com base nos estudos exigidos da Shell e no acompanhamento corretivo da CETESB. O foco estava na área da BIP 2, separada da BIP 1 pela Av. Presidente Wilson. Esses dois novos focos só foram detectados nos anos de 2000 e 2001. Até então, os dados de que a CETESB dispunha mostravam uma contaminação restrita à área interna. Nos dois novos focos, identificados no estudo apresentado pela Shell em março e por dados coletados em campo pela CETESB, verifica-se que a contaminação do solo e da água subterrânea já está ultrapassando os limites da Shell. 13
  • 15. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Os dados iniciais de que dispomos dão conta de que a água subterrânea está contaminada por metais, mas em concentrações ainda baixas. Isso, aliado ao fato de que a água não é utilizada para ingestão, reduz bastante o risco da população. A partir dessa constatação, a CETESB fez um levantamento comunitário ao redor da área da Shell em cerca de 300 residências que estavam situadas num raio de 100 metros da base da empresa, para saber se as residências tinham poços rasos ou profundos e se faziam a coleta da água. Descobrimos com a pesquisa três pontos de utilização de poços: dois poços profundos, um no condomínio da Rua Auriverde e outro na própria Rua Auriverde, este último utilizado por uma indústria, e um poço raso na Rua Colorado, nº 66, usado por uma família para irrigação do seu jardim. Coletamos água nos três poços, e os resultados devem sair hoje ou amanhã. A Vigilância Sanitária foi informada do fato, lacrou os poços e também fez uma análise. Estão aguardando os laudos do Instituto Adolfo Lutz. Eu gostaria de frisar que, desde a detecção desse fato, todas as exigências técnicas foram feitas à empresa. A Shell foi autuada e multada e nós empreendemos uma ação corretiva. Todos os números apresentados há pouco pela Shell são resultado de exigências feitas pela CETESB, para verificar a extensão da contaminação na área interna e na área externa, o grau de contaminação e os eventuais riscos à população. Quero mostrar-lhes duas transparências, para ilustrar o que estou dizendo. Como eu disse, até o final de 1999 a contaminação estava restrita à área interna da empresa, mas agora já detectamos alguma contaminação fora da área da Shell. (Segue-se exibição de imagens.) 14
  • 16. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Coletamos água desses poços e estamos aguardando os resultados. Vou tentar passar para os senhores, sem pressa. Esta aqui é a chamada área de BIP 1, da Shell, onde estão os 36 tanques. Toda a nossa ação corretiva começou ao redor desses tanques, que tinham aquelas borras no fundo. De tempos em tempos, os tanques eram limpos, e as borras enterradas ao redor deles. A ação da CETESB foi no sentido de retirar do terreno essas borras. Cada vez que detectávamos um ponto, exigíamos a retirada do material. Com o passar do tempo, descobriu-se esta área, chamada de Colorado, onde, além das borras, havia outros resíduos enterrados. A Shell foi autuada, na época, por não ter dado essa informação ao órgão ambiental de São Paulo. Aqui em cima está a Rua Colorado, separada da Shell somente por um muro. Esta é a PETROBRAS, e estes são os seus tanques. Esta outra área abriga um pátio do DETRAN, mas já foi área da empresa Matarazzo, que está falida. Aqui também é terreno da Matarazzo. Esta é a BIP 2, outra área da Shell Química onde foram formulados produtos químicos no passado. Também aqui se detectou a presença de resíduos enterrados. Os dados de que dispomos hoje sobre a variação hidrogeológica do local indicam que o fluxo da água subterrânea segue nessa direção. Aqui está o Córrego dos Meninos, e este é o Rio Tamanduateí. A tendência do fluxo da área subterrânea é no sentido do Córrego dos Meninos e do Rio Tamanduateí. Porém, segundo afirmam os geólogos, os dois poços que nós citamos, ambos situados no Condomínio Auriverde, que fica na Rua Auriverde, próxima à Vila Carioca, e o poço utilizado por outra indústria metalúrgica podem ter alterado o fluxo das águas 15
  • 17. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 subterrâneas, dependendo da vazão e da freqüência com que foram usadas. Por isso, a CETESB exigiu da Shell o monitoramento da Rua Colorado e, agora, a instalação de mais 17 poços de monitoramento além da citada rua. Se de fato houve alteração no fluxo da água subterrânea — precisamos verificar se isso aconteceu —, parte destas residências pode ter sido atingida. Sabemos que a contaminação da água subterrânea tem diminuído, porque todos os focos da BIP 1 já foram retirados e agora estão fazendo o mesmo na Área Colorado. Porém, no passado, a direção das águas subterrâneas pode ter mudado, daí a exigência de instalação de novos poços. Era essa a pequena explicação que eu gostaria de dar sobre as nossas ações corretivas junto à Shell. Caso se constate um novo foco de contaminação, a empresa será devidamente autuada, conforme determina a legislação ambiental em vigor. Estamos aguardando o resultado das coletas feitas pela CETESB e pelo Centro de Vigilância Sanitária nestes três poços: um na Rua Colorado e dois próximos à Rua Auriverde. As ações remediáveis estão concentradas na Área Colorado, para retirada dos focos de contaminação por borra ou outros produtos químicos enterrados. Praticamente todas as borras enterradas na área de BIP 1 já foram retiradas. Os trabalhos devem terminar em agosto ou setembro próximos. A retirada dos focos de contaminação da BIP 2 também já foi exigida, tanto da parte sólida quanto da parte líquida. Já está sendo iniciado o processo de remediação e de retirada de todo esse contaminante da BIP 2. 16
  • 18. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Como eu disse, também exigimos novos poços de monitoramento, para verificar se houve alteração no curso das águas subterrâneas e se foi atingido o núcleo residencial próximo à Shell, quatro ruas nesta direção e várias transversais. Esta outra transparência mostra uma área interna da Shell, todas as sondagens, perfurações e poços de monitoramento exigidos pela CETESB. São mais de 40 poços instalados e mais de 300 sondagens feitas. Em cada poço são realizados, trimestralmente, por exigência nossa, cerca de 106 parâmetros em cada análise. Já temos mapeada toda a situação anterior à exigência de retirada das borras e posterior à remediação. Por fim, é preciso dizer que este assunto é relativamente novo não só no Brasil. A CETESB tem-se preparado para enfrentar esse tipo de problema graças a convênios internacionais firmados, principalmente, com o Governo alemão. Nosso pessoal técnico está sendo treinado para atuar em áreas contaminadas, mas esse treinamento é recente. Juntamente com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, divulgamos no mês passado a relação das 255 áreas já conhecidas e cadastradas. O processo é longo, demorado e contínuo, porque cada vez que se descobre um foco é feita nova exigência de remediação. A bibliografia internacional sobre esse tipo de trabalho é muito recente, data da década de 70 nos países do Primeiro Mundo. Só para se ter uma idéia, por ocasião da queda do Muro de Berlim, descobriu-se que a Alemanha Oriental tinha 8 mil áreas contaminadas. O Governo da Alemanha Ocidental priorizou o atendimento a essas áreas, verificando a extensão da contaminação, a vizinhança das áreas atingidas, os tipos de contaminantes, os produtos manuseados e os bens a proteger. 17
  • 19. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 O trabalho que estamos fazendo é demorado, mas está sendo enfrentado. Das 255 áreas cadastradas pela CETESB, 145 estão em fase de remediação; as outras ainda não. Foi assinado há duas semanas um convênio entre a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e a Secretaria de Estado da Saúde do Governo de São Paulo, para atuarem conjuntamente em casos de área contaminada, porque, a partir do momento em que se detecta um problema dessa natureza, é preciso verificar se existe risco para a saúde da população e fazer análises para detectar possíveis danos ao meio ambiente. Estou pronto para responder a qualquer pergunta. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Obrigado. Passo a palavra ao Sr. Aristides Acosta Fernandez, representante dos moradores do Bairro Vila Carioca. O SR. ARISTIDES ACOSTA FERNANDEZ – Boa tarde a todos. Minha primeira pergunta é dirigida ao Sr. José Cardoso Teti, que disse não ser mais usada água de poço. Acontece que, há alguns anos, todas as residências usavam água de poços rasos. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Dr. Aristides, depois da sua exposição o senhor pode fazer perguntas, mas elas só serão respondidas numa segunda etapa. O senhor pode expor todas as suas preocupações e depois passar às perguntas. O SR. ARISTIDES ACOSTA FERNANDEZ – Os moradores da Vila Carioca estão preocupados. Nós queremos saber o que pode ser feito para tranqüilizar a 18
  • 20. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 população. Estamos muito assustados com o que vem sendo noticiado pela imprensa, e a Shell até agora não se manifestou. A Shell contratou uma empresa, a Agência 21, para atuar junto à comunidade, mas não consigo ver o benefício para os moradores. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, eu quero fazer uma sugestão. Nós estamos percebendo a intenção do Sr. Aristides de esclarecer alguns pontos e também de fazer alguns questionamentos. Se ele e a Sra. Isabel não quiserem falar agora, nós poderíamos, depois de ouvir os demais expositores, endereçar algumas perguntas aos dois, para que eles manifestem suas opiniões e preocupações. Depois eles fariam as perguntas. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Dr. Aristides, o senhor tem alguma coisa a dizer antes de passar às perguntas? Porque, se for apenas perguntar, nós inverteremos a ordem dos oradores e concederemos, imediatamente, a palavra ao Sr. César Augusto e depois ao Sr. Rui Andrade Dammenhain. O senhor e a Sra. Isabel fariam as perguntas junto com os autores do requerimento. O SR. ARISTIDES ACOSTA FERNANDEZ – Quero fazer perguntas. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – A Sra. Maria Isabel Vendrame gostaria de se manifestar antes de fazer as perguntas? A SRA. MARIA ISABEL VENDRAME – Eu também quero fazer perguntas, para esclarecer as dúvidas dos moradores. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Se os autores do requerimento concordarem, vamos deixar para o final a manifestação do Sr. Aristides e da Sra. Maria Isabel, membros da comunidade que não têm informação técnica a dar. 19
  • 21. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Isso, Sr. Presidente. Eles podem até fazer as perguntas antes de nós. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Não há dúvida, Excelência, de que são a parte interessada. Com a palavra o Sr. César Augusto Guimarães Pereira, Diretor de Base do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minerais e Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo — SINPETROL. O SR. CÉSAR AUGUSTO GUIMARÃES PEREIRA – Boa tarde a todos os presentes a esta audiência pública. Primeiramente eu gostaria de agradecer à Câmara dos Deputados, particularmente a esta Comissão, o posicionamento democrático e a sensibilidade de entender a gravidade do problema. Esta iniciativa terá desdobramentos, sim, e nós esperamos que eles favoreçam a população e os trabalhadores da região afetada. A Shell é uma empresa de grande porte, com capital acumulado de relevância internacional. Não seriam 20 ou 30 milhões de dólares suficientes para abalar essa empresa, senão a Exxon Mobil teria falido com o acidente causado pelo petroleiro Exxon Valdes. Até agora a Exxon Mobil pagou 15 bilhões de dólares porque morreram foquinhas no Alasca e porque os peixes foram contaminados. Imaginem o que significa para a PETROBRAS pagar 50 milhões de dólares por ter jogado 1 milhão de litros de petróleo cru na Baía da Guanabara. Isso é dinheiro de cafezinho para empresas desse porte. Ficamos assustados com o posicionamento do Ministério do Meio Ambiente, que até agora não autorizou o IBAMA a aplicar à Shell e à Exxon Mobil multas ambientais. E elas são reincidentes. Todos acompanharam o caso de Paulínia e 20
  • 22. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 sabem como está a situação da população do Recanto dos Pássaros, que virou Recanto do Inferno. Os representantes da Vila Carioca conhecem o tamanho do desespero de conviver com pesticida, com BTX. Sabem o que é isso? Benzeno, tolueno, xileno, corrente C9, pirólise. Vão ter de chamar de BIP 3 a área do Bairro Vila Carioca, onde estava localizada a Shell Lubrificante. Ninguém falou nisso até agora. Hoje está instalada naquele lugar uma transportadora da própria Shell, ao lado de onde era a Shell Química. Sr. Presidente, quero agradecer ao Dr. José Carlos Turela Borges e ao Dr. Fernando Luís Turela Borges a consultoria ambiental que permitiu ao sindicato descobrir a mazela da suplantação da Constituição brasileira, jogando-se na lata do lixo, principalmente depois do regime militar, tudo aquilo que foi construído com suor e lágrimas do povo brasileiro. Só em 1988 conseguimos aprovar na Carta Magna avanços para as áreas ambiental, social e da saúde. Acabamos de protocolar nesta Comissão um documento que lerei rapidamente. É o posicionamento do nosso sindicato. Por incrível que pareça, apesar de os jornais terem publicado o caso e de a Justiça já ter sido acionada, ainda assim somos obrigados a chamar a atenção do Poder Central. O texto que passo a ler já foi distribuído a todos e diz o seguinte: “Câmara dos Deputados. Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. Em atenção ao Deputado Federal Dr. Pinheiro Landim (PMDB-CE), Presidente. 21
  • 23. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Referência: Audiência Pública ‘Contaminação do Solo e do Lençol Freático por Produtos Químicos na Vila Carioca, Bairro do Município de São Paulo. Estou enviando em anexo os seguintes documentos, para o devido protocolo na Câmara dos Deputados, Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. Nós já protocolamos no Ministério Público Federal, Seção de Protocolo e Arquivo, Procuradoria-Geral da República, no dia 13 de maio de 2002; no Ministério do Meio Ambiente, Gabinete do Ministro; no Ministério de Minas e Energia, Protocolo- Geral; no Ministério da Justiça, Gabinete do Ministro; no Ministério da Saúde. Tais protocolos avocam as responsabilidades do Poder Central brasileiro para assumir os respectivos papéis atuantes como fiscalizador, autuador e legítimo defensor dos direitos difusos, coletivos e individuais dos trabalhadores e moradores circunvizinhos de tais terminais de derivados de petróleo e de químicos da Royal Dutch/Shell Group, Shell Brasil S.A., Shell Química S.A., Exxon Mobil Corporation, Esso Brasileira de Petróleo Ltda., Exxon Química Ltda. e SOLUTEC”. 22
  • 24. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Uma explicação: a SOLUTEC é a fábrica de lubrificantes da Exxon Mobil na Ilha do Governador. Nunca foi multada. A PETROBRAS é multada, a SOLUTEC, não. “Para solucionar tais passivos ambientais, sanitários, ocupacionais e de saúde pública, o Estado brasileiro precisa, urgentemente, coibir as práticas insanas de tais empresas transnacionais, obrigando-as a respeitar a Carta Magna brasileira e a Lei de Crimes Ambientais. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) possui também uma responsabilidade direta no atual estado de coisas, pois ignorou e ignora que tais empresas consorciadas da Royal Dutch/Shell Group e Exxon Mobil Corporation não podem contratar junto ao Governo leilões de concessões de reservas petrolíferas, como também não podem receber qualquer incentivo fiscal por parte do mesmo Governo, como também anular os contratos de concessão já assinados, e inabilitá-las de participar de quaisquer outros leilões. Passamos neste instante tais protocolos para análise e posterior atuação política de legisladores da Câmara dos Deputados, e assim fazemos valer a nossa Carta Magna, que está sendo tripudiada pelo capital anglo-holandês Royal Dutch/Shell Group e pelo capital 23
  • 25. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 norte-americano Exxon Mobil Corporation, fazendo com que se instaure uma CPI ambiental da Royal Dutch/Shell Group e Exxon Mobil Corporation a nível do Congresso Nacional, para neste momento, sim, investigarmos a prática nociva de predadoras de mercado e da população brasileira, tendo em vista que as duas empresas possuem, além dos seus terminais, mais ou menos 4 mil postos de gasolina de suas bandeiras e conveniências que, impreterivelmente, estão contaminando o ar, o solo e as águas no local onde estão instaladas, haja vista que, na cidade de São Paulo, já foi divulgado que 40% de todos aqueles 255 pontos são postos de gasolina de que essas empresas são donas. Em consonância com nossa estrutura federativa, temos legislações ambientais tanto no âmbito federal, estadual e municipal, como também a ratificação de convenções e protocolos internacionais perante a Organização das Nações Unidas que autorizam requerer a esta autarquia ações imediatas nas questões que envolvem as empresas acima referenciadas, a saber Shell e Exxon Mobil. Em se obedecer à Constituição Federal do Brasil, temos o art. 225, que traz o seguinte princípio: ‘Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem 24
  • 26. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações’.” No final do documento, nós fazemos pedidos a cada um dos Ministérios e autarquias citados. “Do pedido nosso. Diante do exposto e das leis avocadas acima, requeremos imediatamente que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) cumpra seu papel determinado por lei, fiscalize, autue e, finalmente, penalize as empresas Royal Dutch/Shell Group, Shell Brasil S.A., Shell Química S.A., Exxon Mobil Corporation, Esso Brasileira de Petróleo Ltda., Exxon Química Ltda. e SOLUTEC, nos termos legais, devendo, em obediência aos preceitos constitucionais e legais, dar o direito ao contraditório, para que, inaudita altera parte, suspenda os contratos de licitação e prospecção de petróleo, contratos de parceria junto à PETROBRAS e mesmo entre empresas privadas, com base na Lei de Crimes Ambientais, que proíbe as empresas poluidoras de contratar com o Governo. As duas corporações transnacionais se autodenunciaram às autoridades públicas. 25
  • 27. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Que seja extraída a cópia integral de todos os processos e CPs, por solicitação da ANP, e sejam os mesmos entregues à Polícia Federal e à Receita Federal, para que se apure e determine o cancelamento dos benefícios fiscais que as mesmas empresas tenham recebido do Governo brasileiro. Que o Ministério da Justiça, através do seu Ministro de Estado, com base na Constituição Federal, defenda os lídimos direitos, consagrados pela Carta Magna, dos trabalhadores e da população vitimada pela covarde omissão e silêncio das empresas Shell e Exxon Mobil. Que o Ministério do Meio Ambiente autue e penalize as empresas Shell e Exxon Mobil pelos danos ambientais causados. Que o Ministério da Saúde autue e penalize as empresas Shell e Exxon Mobil pela dolosa omissão em não realizar os exames médicos específicos, especializados e científicos de seus trabalhadores, como de toda a cadeia produtiva do petróleo, a saber frentistas, petroleiros, tanqueiros, terceirizados nos terminais e, por último, os exames médicos especializados e científicos da população do entorno dos seus terminais, fábricas e armazéns. 26
  • 28. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Que o Ministério de Minas e Energia, diante da Lei de Crimes Ambientais e do Código Penal, proceda à imediata abertura de inquérito administrativo, com a finalidade da apurar a eventual negligência por parte de funcionários públicos lotados na Agência Nacional de Petróleo (ANP), órgão fiscalizador e regulamentador do setor de petróleo desde 1997, que a Procuradoria-Geral da República instrua e proceda à investigação de todos os delitos civis e criminais das partes envolvidas neste crime hediondo praticado contra o povo brasileiro. Pedimos deferimento. São Paulo, 11 de maio de 2002 Fernando Luís Turela Borges, advogado ambientalista, OAB-88.627; José Carlos Turela Borges, advogado ambientalista, OAB-91.508; César Augusto Guimarães Pereira, Diretor de Base efetivo do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo no Estado de São Paulo, Inclusive Pesquisa e Beneficiamento Mineral.” Para terminar a minha explanação, que não será técnica, gostaria de dizer que tivemos uma reunião com a CUT nacional e com a representação da CUT no Estado de São Paulo. Conseguimos, junto com a Confederação Nacional dos Químicos, que também é filiada à CUT, uma intermediação real. Traremos representantes das centrais sindicais da Holanda, da Inglaterra e dos Estados 27
  • 29. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Unidos. Os trabalhadores desses países estão assustados com o que está ocorrendo no Brasil. Estão assustados porque sabem que a empresa não está cumprindo as normas internacionais firmadas com a Organização das Nações Unidas, com a OCDE e com a Comunidade Econômica Européia. Estão assustados porque o operário brasileiro e a população do entorno das empresas Shell e Exxon estão expostos a tudo aquilo que desde a década de 60 eles já eliminaram. Estão assustados porque conhecem a tecnologia e sabem que ela não é aplicada aqui, um país de Terceiro Mundo, de onde saem lucros que, remetidos ao exterior, engordaram o capital acumulado europeu e norte-americano, deixando no Brasil uma situação lastimável. O próprio representante da CETESB disse que descobriram 8 mil pontos de contaminação na Alemanha Oriental quando foi feita a reunificação das Alemanhas. Se a lei brasileira dos crimes ambientais for aplicada na íntegra, quantos milhões de pontos de contaminação não encontraremos aqui? Como ficará a situação ocupacional dos trabalhadores que estão lotados nesses terminais, dos trabalhadores que já se aposentaram, dos trabalhadores terceirizados? Como ficará a situação da população que habita o entorno dessas áreas? Para finalizar, deixo nossos agradecimentos aos membros da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, ao engenheiro sanitarista e Deputado Estadual Rodolfo Costa e Silva, ao advogado e Deputado Estadual Wagner Lino e aos membros da CPI dos Postos de Gasolina do Município de São Paulo. Foram esses Parlamentares que conseguiram abrir a caixa preta da Shell e da Exxon Mobil. Muito obrigado aos presentes. 28
  • 30. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Zica) – Obrigado, Sr. César. Passo a palavra ao Sr. Rui Andrade Dammenhain, Diretor Técnico da Vigilância Sanitária da Direção Regional de Saúde da cidade de São Paulo. O SR. RUI ANDRADE DAMMENHAIN – Boa tarde a todos. Em nome da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e do Centro de Vigilância Sanitária, agradeço o convite para participar desta audiência pública. De forma sucinta, vamos explicar como se deu a entrada da Vigilância Sanitária nesse caso da Shell, um fato até então novo para nós que trabalhamos com prevenção de riscos à saúde das pessoas. Logo que entramos no caso, soubemos de alguns questionamentos sobre o que a Vigilância Sanitária estaria fazendo numa área que não é objeto de ação dela enquanto órgão que promove a fiscalização e o licenciamento de vários estabelecimentos. Apresentamos aqui a Constituição Federal e a nossa Constituição Estadual, juntamente com a nossa Lei Orgânica da Saúde, que estabelece que a vigilância sanitária é um conjunto de ações capaz de prevenir ou diminuir riscos à saúde da população. Nós tomamos uma série de medidas toda vez que surge uma situação de risco ou de agravo para a saúde da população. Temos a articulação como princípio. A Vigilância Sanitária trabalha com a articulação intra-institucional ou interinstitucional, tornando públicas as suas ações para garantir o direito de informação da população, mas mantendo a privacidade para preservar o cidadão. Esse fator foi muito importante desde o início desta ação. O caso da Shell foi muito divulgado e até explorado pela imprensa. Fomos muito questionados e sempre insistimos em dizer que não estávamos lidando com 29
  • 31. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 cadeira, mas, sim, com gente. O respeito à população envolvida no caso tem de ser preservado, para garantir a dignidade das pessoas enquanto cidadãs brasileiras. Nesta outra imagem estão listadas as autoridades sanitárias, com respaldo científico e técnico, que podem determinar intervenções em saneamento ambiental, visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida e saúde da população. Com relação ao meio ambiente, nossa função é promover a melhoria da qualidade do meio ambiente, nele incluído o trabalho, garantir condições de saúde, segurança e bem-estar público, promover ações visando a controle das doenças, agravos ou fatores de risco e interesse à saúde, assegurar e promover a participação da comunidade nas ações de saúde. Só para que tenhamos uma noção de como se posicionam as ações de vigilância sanitária na Capital de São Paulo, apesar do processo de municipalização em curso que lá existe, o Estado continua assumindo o papel de gestor — é seu papel natural — e de operador dessas ações. A Diretoria que eu coordeno é a instância operacional, e o Centro de Vigilância Sanitária é nossa instância técnica de referência. Aqui está mais ou menos representado o meio ambiente, com uma alusão especial ao problema das substâncias perigosas e tóxicas. O que nos surpreendeu muito neste caso foi a metodologia usada. Até então, segundo informações que obtivemos, era prática comum lavar aqueles tanques enormes de 5 milhões de litros e colocar os resíduo num tambor, que depois era enterrado. Com o passar do tempo, é claro, o tambor vai sendo corroído, e os resíduos acabam escoando para o meio ambiente. Debaixo dessa terra existe um lençol freático, que não deixa de ser um rio subterrâneo, e a água acaba sendo contaminada. Em princípio, não haveria 30
  • 32. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 problema se as pessoas não utilizassem água de poço, mas, para nossa surpresa, mesmo sendo São Paulo a maior cidade deste País, foram localizados cerca de cinqüenta poços na região. Como já disse o Seu Aristides, hoje as pessoas usam água encanada, mas há vinte anos quase todos usavam água de poço. Isso é muito preocupante. Não temos dados que nos indiquem se a contaminação está menor ou maior do que há vinte anos, só podemos analisar o resultado das águas — estamos recebendo os laudos entre hoje e amanhã — para poder estabelecer ações complementares. Em 23 de abril, dia em que fomos surpreendidos pela divulgação de que o Ministério Público estava movendo a ação, formamos uma equipe e fomos à distribuidora da Shell na Rua Auriverde. Constatamos ali uma prática consagrada até a década de 80, mas, por se estar lidando com substâncias perigosas e tóxicas — como mostramos em dois slides anteriores —, lavramos um auto de infração, que não significa aplicação de penalidade, e sim constatação de irregularidade. Foi então feita uma investigação sanitária com o objetivo de identificar o que levou a essa infração. Precisamos urgentemente fazer uma análise dos tipos existentes de contaminante. Uma pessoa contamina-se por contato direto, ou seja, ingestão de água ou alimento contaminado e pelo ar, ou por via placentária — a gestante transmite a contaminação ao feto. Na verdade, não existem outras formas de contaminação no que se refere à questão química. Nós articulamos as ações da Secretaria de Saúde com a Vigilância Epidemiológica, a Secretaria Municipal de Saúde e a SABESP. Toda a nossa ação 31
  • 33. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 se restringiu à área de fora do site, assim chamada a área onde se encontra a distribuidora. No site já havia o monitoramento da CETESB. Então nos preocupamos com a população do entorno, não necessariamente com a própria área, uma vez que outro órgão já estava cuidando desse assunto. Foi feita uma pesquisa de percepção sobre a ocorrência de doenças nas unidades de saúde da região, e não foi constatado nenhum aumento nos casos. Isso não quer dizer que possamos ficar sossegados. Apenas não ficamos atemorizados. Mas, como o processo vem transcorrendo nos últimos quarenta anos, é óbvio que qualquer comparação fica um tanto prejudicada. Estamos em fase de conclusão dos estudos de morbidade na região, nos últimos dez anos. Estamos fazendo um corte sobre todas as doenças e causa mortis, a fim de identificar se eventualmente existe algum fator epidemiológico que nos indique alguma conduta especial a seguir. Fizemos também o mapeamento dos pontos de coleta de água. Todos os lugares em que houver poços serão analisados, para que essa fonte de contaminação não seja utilizada, conforme estabelece o Comunicado nº 187 do Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, que determina a interdição dos poços de abastecimento. Não existe o recurso do uso da fonte alternativa, que se dá muito mais por uma questão econômica do que por não haver água encanada. A região é servida por água encanada e tratada da SABESP. A não ser pela questão econômica, não haveria outra justificativa para o uso de água de poço. Bem, a água foi coletada e está sendo analisada. As etapas seguintes vão depender do resultado da análise da água. Volto a dizer que não podemos decidir por um tipo de ação técnica movidos pela imprensa 32
  • 34. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 ou por clamor. Temos de ser técnicos. Não podemos ficar fazendo exames a torto e a direito, como fizeram com o chumbo. Qualquer pessoa que tenha o cabelo pintado, se fizer esse exame, constatará presença de chumbo no resultado, pois a tinta contém essa substância. Um resultado isolado de exame não significa nada; é preciso também analisar o contexto. A Vigilância Sanitária tem sido cobrada, como se não tivesse feito nada até agora. Isso não é verdade. Nós estamos fazendo algo, mas com embasamento técnico, porque não queremos criar tumulto, muito menos dizer que não existe problema, enquanto ele pode mesmo existir. Estamos tentando adotar um parâmetro absolutamente técnico para esse caso. Existem alguns questionários preconizados pela Organização Mundial de Saúde para identificar a presença do contaminante e fazer a correlação com a forma de exposição da população. A partir daí são eventualmente realizados exames. É importante ressaltar que os contaminantes químicos só são identificados no exame de sangue quando a exposição é aguda e recente, ou seja, quando a pessoa acabou de se contaminar. No caso de uma contaminação crônica e de baixa intensidade, o exame não acusa a presença da substância. O contaminante não fica circulando no sangue, do contrário a pessoa morreria. Os contaminantes se localizam principalmente em dois lugares: tecido nervoso e tecido gorduroso. Não adianta fazer o exame antes que se tenha um outro respaldo. Eventualmente, estaremos fazendo exames não propriamente laboratoriais, mas exames de avaliação neurológica e outros, a fim de identificar a contaminação. Tomaremos todas as medidas necessárias. 33
  • 35. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 A área Saúde está dependendo do resultado dessas análises. Fizemos todas as análises preconizadas pela legislação no que diz respeito a potabilidade da água e todas as séries físico-químicas e bacteriológicas. Queremos eliminar todas as possibilidades de eventuais contaminações da população. Com isso pretendemos diagnosticar a situação de saúde da população e propor medidas preventivas. Apesar de a situação ser bastante preocupante e de já existir há quarenta anos, as ações adotadas foram importantes para que as instituições envolvidas encontrassem uma forma mais ágil de transmitir as informações. Com a resolução conjunta da Secretaria de Meio Ambiente e da Secretaria de Saúde, ao menor sinal da existência de contaminante químico que traga malefícios à saúde, a Vigilância Sanitária deve ser avisada. Nós trabalhamos com a suspeita e não necessariamente com a confirmação. À menor suspeita de problemas, temos de propor alguma ação. Os resultados talvez fossem maiores se essa decisão tivesse sido tomada há vinte anos, mas naquela época talvez não houvesse conhecimento suficiente para empreender essas ações. Vamos estabelecer protocolos para outras áreas de passivo ambiental. Foi divulgado pela Secretaria de Meio Ambiente que existem na cidade de São Paulo cerca de oitenta áreas contaminadas. Em grande parte delas, a contaminação provém de postos de gasolina, que tiveram seus tanques furados, provocando vazamento de combustível. É óbvio que não vamos permitir que nessas áreas haja consumo de água de poço, senão haverá contaminação novamente. Assim também evitamos a ocorrência do que podemos chamar de passivo sanitário, ou seja, de ter de tratar de uma situação que poderia ter sido prevenida caso tivéssemos conhecimento técnico do que estava acontecendo. Isso é importante. 34
  • 36. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 A articulação que está sendo feita entre Meio Ambiente e Saúde é muito importante. A Vigilância Sanitária tem um grupo que cuida da saúde do trabalhador. Estaremos trabalhando juntos no monitoramento dessas pessoas, observando a qualidade dos exames feitos, tanto do admissional quanto do periódico e do demissional, para que consigamos estabelecer alguma forma de controle. Esse foi o papel da Vigilância. Encerro aqui a minha apresentação inicial. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Obrigado ao representante da Vigilância Sanitária. O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem. O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem V.Exa. a palavra. O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, um esclarecimento. Foi feito no início dos trabalhos um acordo para que os dois representantes dos moradores pudessem dirigir perguntas aos expositores. Posteriormente, nós, autores do requerimento, faríamos os questionamentos ao conjunto de expositores. O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Pois não, Deputado. Tem a palavra o Sr. Aristides Acosta Fernandez, para fazer seu pronunciamento ou, se assim desejar, suas perguntas. Fique à vontade. O SR. ARISTIDES ACOSTA FERNANDEZ – Tenho perguntas a fazer ao Sr. José Cardoso Teti, representante da Shell, que alegou que a população não utiliza mais água de poços. Acontece que há alguns anos todas as residências usavam água de poços. 35
  • 37. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 As borras enterradas estão sendo retiradas a que hora? Eu moro ali perto e não vejo caminhão sair de lá com terra. Seria possível que uma comissão de moradores, junto com algum órgão público, acompanhasse a retirada dessas borras? O senhor confirma a contaminação do solo? Qual é a área atingida? Por que a Shell contratou a empresa Agência 21 para fazer um trabalho junto aos moradores? Segundo a Agência 21, a Shell está preocupada com lazer e com escola profissionalizante. Mas a própria Shell tirou das crianças o lazer aos sábados e domingos, colocando obstáculos no meio da rua em frente ao portão de entrada dos caminhões. Essa pergunta eu já a fiz ao Sr. José, mas a resposta não foi satisfatória. Eu solicitei a uma comissão de Vereadores que fosse transferida a entrada dos caminhões da Rua Auriverde para a Av. Presidente Wilson, porque os caminhões estão trabalhando 24 horas, desobedecendo à Lei do Silêncio. Estão atrapalhando o sono dos residentes próximos, como eu. Fiz esse pedido por volta do mês de março, e até agora não tivemos uma resposta. Eu queria essa resposta o mais breve possível. Também foi solicitada a colocação de filtros nas válvulas sobre os tanques, porque à noite — os dias mais afetados são terça-feira, quarta-feira e quinta-feira — o cheiro de combustível é muito forte. Já chamamos a CETESB, mas ela chegou meio fora de hora e o odor já tinha passado. Para finalizar, uma curiosidade minha, e solicito ao Sr. José Cardoso Teti e ao representante da Esso que a esclareçam. A Shell diz que nos seus postos de combustíveis os produtos têm o DNA. Correto? Já nos postos da Esso a propaganda 36
  • 38. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 é de gasolina garantida. Mas o combustível de ambas as distribuidoras sai da mesma base da Shell, na Vila Carioca. O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem a palavra o Dr. José Cardoso Teti, da Shell Brasil S/A, para responder às perguntas do Sr. Aristides. O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Eu espero ter anotado todas as perguntas. Se eu me esqueci de alguma coisa, Sr. Aristides, por favor, me ajude. Vou começar por algumas que já têm ação direta. O projeto de mudança da entrada dos veículos da Rua Auriverde para a Av. Presidente Wilson deve estar nas nossas mãos até o final desta semana. Eu já tive a oportunidade de informar ao senhor que não se trata de uma simples mudança de entrada da base. Temos de fazer algumas mudanças no projeto interno. A solução passa por um trabalho mais especializado, mas que já está na nossa lista de ações. O senhor será a primeira pessoa notificada sobre o projeto alternativo. Lamentavelmente, como eu disse, não se trata de uma solução técnica fácil. Tivemos de contratar empresas de arquitetura e de projetos para nos ajudar nesse trabalho. A outra questão também diz respeito ao acesso. Infelizmente, tivemos de tomar uma medida não muito bem vista pela população, mas nossa intenção é justamente proteger a comunidade. Nossa unidade trabalha num regime de segunda-feira à sábado, com trânsito de caminhões na Rua Auriverde. Algumas crianças, nos momentos de menor tráfego, costumavam jogar bola na entrada da Base. Nós não entendemos isso como recomendável, e, então, pedimos às crianças que não ficassem brincando ali. Esse pleito já foi identificado por aquelas pessoas que nós enviamos para, junto com a comunidade, descobrir que atividade de interesse comum entre a comunidade e a Shell poderia ser desenvolvida. O pedido 37
  • 39. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 de uma área é demanda do passado e, com certeza, estará sendo revisto por nós. Vamos tentar encontrar uma solução para atender às crianças. Mas, justamente para protegê-las, pedimos a elas que brinquem em outro lugar. Estamos falando de uma rua de tráfego normal de veículos, e, se observarmos a legislação, veremos que essa situação não pode continuar. Nossa atitude foi uma medida preventiva. Fica o nosso compromisso de tentar encontrar uma alternativa que atenda aos interesses das crianças. Quanto à contaminação do solo, ela se deu apenas na área da Base. Como foi dito na minha primeira explanação e depois reforçado na apresentação da CETESB, nós fizemos um mapeamento completo dessas contaminações de solo com borra e concluímos que elas estão restritas ao solo da Base. A retirada do material obedece a uma freqüência e a uma especificação técnica. Eu imagino que, como o afluxo maior de caminhões naquela localidade é por produto, pouco se percebe a entrada ou saída de caminhões que fazem a retirada do material. Ela ocorre normalmente, como eu disse. Na Rua Colorado nós chegamos a tirar 110 toneladas e, na Base do Ipiranga, até o momento, cerca de 1.300 toneladas. A retirada é feita de forma paulatina e equilibrada, com todo o cuidado recomendado. Como o afluxo maior de caminhões é de produtos e de combustíveis, talvez não se perceba pela comunidade a retirada de solo, mas o processo é regular e estruturado. A contratação de uma empresa para fazer o que vamos chamar de mediação, ou interlocução, não significa que nós, funcionários da Shell, não estejamos juntos da população. Eu já tive, pelo menos em duas ou três oportunidades, o prazer de conversar diretamente com o senhor, ou, em outras ocasiões, com outros membros 38
  • 40. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 da comunidade. Tantas vezes quanto for possível nós estaremos dialogando, porque, como já foi enfatizado, nosso compromisso passa pelo bem-estar da comunidade e pela transparência nas ações. A Agência 21 foi contratada para tentarmos suprir uma necessidade imediata que, infelizmente, a nossa estrutura local, que é técnica e operacional, não podia resolver adequadamente. As pessoas que trabalham naquela unidade têm formação específica, destinada a manuseio de produtos, armazenagem, carregamento de veículos. Talvez não fossem os melhores interlocutores com a comunidade. A Agência 21 tem toda uma expertise na relação com as pessoas, e, na nossa forma de ver, ela poderia melhorar nossas relações com a comunidade. A Agência 21 está fazendo um trabalho de interlocução, facilitando nossa comunicação, mas não está substituindo a Shell. Eu e outros colegas que fazem a empresa e são responsáveis pela condução daqueles trabalhos vamos estar à disposição da comunidade. Eu mesmo já disse ao senhor pessoalmente — e agora reitero de público — que estamos à disposição para falar com vocês diretamente. O odor que eventualmente é mais acentuado decorre do fato de aquela ser uma região de alta densidade de indústrias. Os odores são os mais comuns naquelas atividades de indústria, tanto nas de petróleo como nas outras que desenvolvem suas atividades naquela área. Mas posso lhe adiantar que faz parte do nosso plano de introdução de metodologias e processos para melhoria do meio ambiente uma série de medidas que visam reduzir eventuais contribuições para o ar. Essas medidas serão implantadas em curto e em médio prazo. Nós fazemos relatórios e medições de contribuições para o ar e todos esses documentos estão 39
  • 41. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 100% adequados. De qualquer maneira, insisto: faz parte do compromisso da empresa melhorar toda sua performance, e contribuição para o ar é uma delas. Acho que a última questão foi a do DNA. Bem, nós hoje formamos uma unidade chamada de pool, uma unidade industrial utilizada pela Shell e pela Esso. Mas a composição dos produtos finais passa por um processo de aditivação e adição de produtos que caracterizam cada marca. Nós recebemos da PETROBRAS, nosso principal fornecedor, um produto típico, e esse produto recebe o incremento de alguns componentes, que são próprios da Esso ou da Shell, entre eles o nosso DNA. Ou seja, quando os caminhões saem para os postos de serviço das duas empresas, levam consigo uma marca diferente. Isso é feito no processo de carregamento. Embora nós recebamos um produto único, de origem da PETROBRAS, ao carregar os caminhões nós adicionamos os componentes que fazem a identificação de cada marca. O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem a palavra a Sra. Maria Isabel Vendrame. A SRA. MARIA ISABEL VENDRAME – Boa tarde a todos. Não tenho conhecimento técnico, mas será que vai adiantar tirar essas borras? E o resto da contaminação, o resto do solo, como fica? A CETESB já sabia da contaminação desde 1993. Por que não informou à população? Só viemos a saber do problema agora, pela imprensa. Se tivéssemos sabido antes, jamais teríamos reaberto nosso poço, que agora está colocando em risco até a saúde das crianças, que também tomaram da água. Nossa dúvida é essa; o resto o senhor já explicou. Se soubéssemos da contaminação, jamais teríamos dado veneno aos nossos filhos! 40
  • 42. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem a palavra o Sr. José Cardoso Teti, depois o representante da CETESB, Sr. João Antônio Romano. O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Em primeiro lugar, é preciso que fique claro não houve nenhuma intenção, má-fé ou omissão da parte da empresa. No momento em que nós recebemos a denúncia, tomamos todas as providências que a situação merecia. Nas análises de risco feitas à época, o trabalho de remediação proposto e a não-exposição da comunidade aos contaminantes de solo ou de água foram entendidos como adequados. Depois que as notícias foram veiculadas em jornal e tomaram essa outra conotação, a mesma reflexão é feita, porque não nos conforta ter essa comunidade na situação em que hoje está. Em reforço ao que estou dizendo, posso dizer que, para tratar as áreas contaminadas, inúmeras decisões técnicas podem ser tomadas. Entre elas temos a opção de retirar as borras. Em algumas situações, dependendo do resultado da análise técnica, é até preferível deixar as borras no local. Nós sempre optamos pelo trabalho que causa menor impacto ao meio ambiente. No caso da Base do Ipiranga, a recomendação técnica foi a retirada das borras. Como nós dissemos na apresentação inicial, depois de retiradas as borras continuaremos monitorando as águas superficiais rasas, exatamente para ter certeza de que a solução técnica escolhida foi adequada. Nossa expectativa é que, depois de retirada a fonte principal de contribuição, que é a borra, com o monitoramento do lençol freático consigamos fazer um acompanhamento técnico seguro do resultado da opção recomendada. Eu diria que a solução encontrada para a população que está no entorno, dadas as características daquela unidade, foi a melhor possível. A retirada das borras vai propiciar a regeneração do solo. 41
  • 43. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 A SRA. MARIA ISABEL VENDRAME – Vocês sempre farão análises da terra que vai restar? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Essa exigência faz parte do plano de ações. A CETESB pediu que fosse feita uma análise trimestral da água, que já foi apresentada tanto por mim quanto pelo ilustre representante da outra empresa. A continuidade desses exames é uma das medidas a serem executadas. Ou seja, independentemente do trabalho de remediação, concluído na Base do Ipiranga e em curso nas outras áreas, a análise da água permanece. É com esse acompanhamento que poderemos ter certeza de que as medidas adotadas estão corretas. O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem a palavra o Dr. João Antônio Romano. O SR. JOÃO ANTÔNIO ROMANO – Isabel, quando tomamos conhecimento da denúncia, em 1993, e nos foi exigido um levantamento técnico da área para avaliação de eventual contaminação, os dados mostravam que a contaminação estava restrita aos tanques e ao entorno dos tanques. Somente com o aprofundamento das investigações é que detectamos uma outra fonte. Isso aconteceu no início do ano 2000, com a verificação da Rua Colorado. Os dados de monitoramento, tanto os que nós tínhamos quanto os que foram exigidos da Shell, mostravam, naquele momento, um confinamento da contaminação no site interno da Shell. Por isso a informação não foi divulgada para a população. Quando há risco iminente para a população — e já houve alguns casos no Estado de São Paulo —, imediatamente é comunicada a Vigilância Sanitária, que faz todo esse trabalho na região, lacrando os poços para que a água não seja utilizada. Como disse, o 42
  • 44. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 trabalho é contínuo e o problema não foi detectado naquele momento, mas ao longo das investigações e das exigências técnicas feitas. Essa é a resposta. O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Dando prosseguimento aos trabalhos, concederei a palavra aos autores do requerimento. Em primeiro lugar, concedo a palavra ao Deputado Arlindo Chinaglia. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, senhores convidados, nosso objetivo nesta audiência pública evidentemente é procurar fazer um diagnóstico correto da real dimensão do problema para que tanto os trabalhadores do setor quanto a população da região tenham a devida proteção. Nosso objetivo também é evitar que fatos como esses continuem ocorrendo na cidade de São Paulo ou em qualquer parte do País. Se pudesse sintetizar a exposição do Sr. José Cardoso Teti, representante da Shell, diria que sua intervenção foi a seguinte: uma vez havida a denúncia, a Shell começou imediatamente a tomar medidas, fez um plano de trabalho e, depois de algum tempo, começou a fazer a remoção de borras. Nesse contexto, informou-nos que a Shell situa-se em região industrializada e que, portanto, pode e deveria repartir responsabilidades eventualmente com outras empresas. Ao mesmo tempo, ela aplicou a metodologia de cada época. Portanto, a conclusão é de que Shell, no Brasil, sempre agiu em consonância com a legislação ambiental, tanto local quanto internacional, e ao mesmo tempo usando a tecnologia. Vou fazer observações e perguntas, porque me parece que há contradições. Pergunto ao Sr. José Cardoso Teti qual a composição do DNA, o marcador da Shell. 43
  • 45. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Em primeiro lugar, não tenho a resposta direta para a pergunta. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Se não tem a resposta, o senhor se comprometeria a mandá-la por escrito? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – A companhia vai apresentar aos senhores a filosofia da marcação. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – A pergunta que fiz é outra. Quero ser o mais rápido possível, porque temos pouco tempo. O senhor é uma pessoa muito simpática, porém temos um trabalho a realizar. O senhor se compromete a nos informar qual a composição do DNA? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Vamos mandar-lhe a resposta. Com certeza, a Câmara dos Deputados vai receber o produto, que inclusive faz parte do registro da ANP. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Obrigado. Qual a tecnologia usada hoje pela Shell para evitar a contaminação do solo? O senhor disse que acompanhava aquilo que era feito em outros países, atendendo às exigências e possibilidades de cada época. O senhor me diria hoje que o tratamento dado aos tanques e reservatórios é moderno? Qual é o tratamento para que não haja borras e tambores enterrados no solo? Qual é a tecnologia? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Agradeço a V.Exa. a oportunidade de responder a essa pergunta que reforça o que entendemos ser o mais importante. Tomo a liberdade de dizer que a Shell tem uma posição de vanguarda, com procedimentos, metodologias e medições que nos permitem assegurar que nenhuma das nossas unidades está recebendo contribuição. Qualquer tipo de 44
  • 46. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 contribuição para o solo hoje constatada é imediatamente tratada. Se V.Exa. quer ter idéia de como isso funciona na Shell, veja que qualquer vazamento ou derrame a partir de um litro é relatado e entregue ao Comitê Central de Segurança. Hoje temos processos, tecnologias e informações que nos permitem assegurar que esse tipo de ocorrência do passado já não mais nos aflija. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Muito bem. Há quanto tempo todo esse arsenal tecnológico de trabalho é executado pela Shell no Brasil? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Na realidade, cada medida de evolução vem do aprendizado, da tecnologia disponível, do conhecimento que adquirimos na atividade. Posso dizer que instrumentos utilizados há mais de dez anos nos asseguram total controle das contribuições. As nossas unidades por instrumentos de medição, por processos, por procedimentos conseguem fazer o rastreamento e mapeamento nas plantas, nas atividades de armazenagem e carregamento, assegurando que não existem novos casos. Quando, eventualmente... O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Dr. José Carlos Teti, o senhor está repetindo a resposta anterior, está relatando procedimentos já esclarecidos. A pergunta é outra. Há quanto tempo é feito no Brasil esse procedimento? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Minha dificuldade em lhe responder diretamente é que não se trata de um procedimento. Por exemplo: o procedimento de enterrar borras ao lado do tanque foi descontinuado em meados da década de 1980. A partir do momento em que tivemos como destinar esses resíduos a outro local, com processamento, no caso de borras de hidrocarboneto, isso foi feito. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Se me permitem, o Dr. José Cardoso Teti afirmou que a Shell do Brasil S/A aplica metodologia considerada 45
  • 47. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 no momento a melhor em todo o mundo. O Deputado Arlindo Chinaglia pergunta desde quando está sendo aplicado no Brasil esse conjunto atual de metodologias. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sim, Sr. Presidente. A resultante é essa. O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – A resposta é que existe algo que chamamos de sistema de gerenciamento de segurança, saúde e proteção do meio ambiente, que foi estabelecido no começo dos anos 1990. A resposta adequada a essa questão é no sentido de que sempre tivemos preocupação com isso. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Por favor, até para podermos andar mais rápido, o senhor não precisa reiterar a preocupação da Shell; o senhor já deu a sua posição, já mostrou toda a boa intenção da Shell, e não precisa repetir. Estamos querendo obter informações. Não estamos acusando nem defendendo. Em outros países como Estados Unidos, Inglaterra e França é adotado o mesmo conjunto de medidas que no Brasil? Na sua opinião, qual o mais eficaz? Se o conjunto não é o mesmo, por que a diferença? Se é o mesmo, desde quando é aplicado nos outros países? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Falei do sistema de gerenciamento de saúde, segurança e conservação do meio ambiente. O programa é exatamente o mesmo em todos os países. Quando a Shell decidiu tratar a questão de forma estruturada, o fez em todos os locais em que operava. Anteriormente, as companhias tinham tratamentos específicos na área de saúde, segurança e conservação do meio ambiente, por princípio de negócio da empresa, mas agia de forma independente. Cada companhia no local tinha um programa próprio. 46
  • 48. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Em que momento passou a ser o mesmo conjunto de medidas? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – No início dos anos 1990, quando instituímos o sistema de gerenciamento de saúde, segurança e conservação do meio ambiente. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Esse programa é mundial? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – É mundial. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – E quando havia diferenças, o mecanismo adotado nos Estados Unidos, na Alemanha ou na França era melhor ou pior do que o adotado no Brasil? Lá também eram enterrados tanques no solo, como fizeram aqui? O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – A prática de enterrar borras foi adotada no mundo inteiro e não somente no Brasil. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – No Brasil, e particularmente no Estado de São Paulo, a Lei nº 997/76 proíbe o lançamento ou liberação, nas águas, no ar ou no solo, de qualquer produto, matéria ou energia que cause poluição, ofensa à saúde pública, ao bem-estar público e prejudique a segurança, o uso e gozo da propriedade comum. A lei é de um país de Terceiro Mundo, que só recentemente tem preocupações mais sólidas com o meio ambiente, porém, é antiga — 26 anos... Pela informação que o senhor acabou de prestar, o atual sistema data do início da década de 1990 — pode ser 1993, pode ser 1994, mas o início é anterior a 1995. Portanto, a Shell estava na ilegalidade; estava fora-da-lei na sua intervenção. 47
  • 49. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Nome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias Número: 0584/02 Data: 11/06/02 Estou dizendo isso baseado em documento que o sindicato distribuiu. O senhor fez o discurso de que a Shell está na vanguarda, mas verificamos que há poucos anos ela agia fora da lei. O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Sem querer contestá-lo ou questioná-lo, gostaria de informar o seguinte: as nossas práticas sempre estiveram alinhadas com a legislação vigente, adotando metodologias e processos de reconhecer o padrão nacional ou internacional. Essas contribuições feitas no passado, práticas na década de 1970, já não existem mais. O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sabemos disso. O senhor escolheu o caminho de fazer a defesa da Shell e não poderia ser diferente, porque o senhor representa a companhia. Estou procurando mostrar que há uma separação entre o que o senhor disse e os fatos. Queremos estabelecer o diagnóstico e o eventual tratamento, mas precisamos confiar nas informações prestadas. Estou lhe mostrando que sua informação não é verdadeira. Pode não ser de sua responsabilidade, mas, se a lei de 1976, em São Paulo, já estabelecia a proibição de se enterrar borra e lavar tanques... Se isso não bastasse, desde 1994 a empresa não tinha alvará de funcionamento. E não é crível que a empresa não soubesse que deveria ter alvará de funcionamento. O SR. JOSÉ CARDOSO TETI – Prefiro falar sobre o alvará de funcionamento em outra questão. Vou contar com o apoio do nosso gerente da área de meio ambiente. O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) – Peço ao senhor que se identifique e dê a resposta específica ao Deputado Arlindo Chinaglia. 48