1. QUEM DISSE QUE COLUNISMO SOCIAL NÃO SE DISCUTE?
por Antonio Nahud Júnior
www.cinzasdiamantes.blogspot.com
Que ninguém se iluda: o colunismo social não é uma falácia, merece ser valorizado e
faz parte de nossas virtudes jornalísticas. Claro que alguns colunistas incultos,
deslumbrados com o luxo, têm sua parcela de culpa na crescente estupidez social, na
caretice e nas frustrações das províncias, afinal eles maltratam o vernáculo e a gramática
e glorificam o besteirol, mas existem outros comprovadamente bem informados e
necessários baluartes da resistência cultural. Pensando nessa profissão glamorosa após
reler Marcel Proust e assistir “A Embriaguês do Sucesso”, onde Burt Lancaster
interpreta um colunista infame e oportunista, terminei por concluir que os visigodos são
muitos, multiplicam-se como ratos, mas também há gente da maior nobreza labutando
nessa profissão. Desejando escrever algo sobre as classes média e alta cada vez mais
sem classe, já que o asneirol me enche de vergonha (não me canso de alertar que
vivemos num monopólio do mau gosto, da baixaria, da ignorância e da cafonice),
escolhi o colunista social como protagonista desse embrião literário (pensei inicialmente
no abominável mundo fashion e suas lambisgóias, mas não tenho conhecimento
profundo desse circo para tanto). Pretendo me inspirar em treze colunistas sociais
grapiúnas (ADILSON CEZIMBRA, BETANIA MACEDO, CHARLES HENRI,
DIOGO CALDAS, HELENA MENDES, JOSEVANDRO NASCIMENTO, LUIS
WILDE, MANUELA BERBERT, MARIA ANTONIETA, NENÉU MENDONÇA,
PEDRO IVO BACELAR, SERAFIM REIS e ZÉ CARLINHOS) para a criação do livro
de contos “Quem Disse Que Colunismo Social Não se Discute?”. Cada uma das
narrativas curtas será postada mensalmente neste blog (numa troca de impressões com o
leitor antes da publicação definitiva em livro). Claro que os personagens se apresentarão
com nomes fictícios, evitando eventuais processos, e ao leitor caberá associá-los as
figuras reais. Serão narrativas entre a chanchada e a dramaturgia intimista, buscando um
equilíbrio entre as forças da sensibilidade e o puramente folclórico. Prepare-se, pois,
para uma torrente de informações e reflexões atrevidas e relevantes, sérias e engraçadas,
algumas surpreendentes e até chocantes sobre o elitismo, a vigarice, as gafes e a
pasmaceira social. Quero registrar alguns hits da vida alheia, em especial os que já
caíram no esquecimento e aqueles que, porventura, tenham deixado saudade em
bisbilhoteiros de plantão. Claro que serei benevolente com os amigos, mas nem todos os
meus alvos são queridos. Isso não é justo, concordo, mas quem disse que a vida é justa?
Sempre tive amigos colunistas sociais. O primeiro deles, LUIS WILDE, culto e
sensível, foi o primeiro a divulgar o meu trabalho nos jornais do sul da Bahia. Ainda
adolescente, deslumbrava-me com a cortesia do jornalista. Na mesma época, outro
estimado, PEDRO IVO BACELAR, escrevia notas entusiasmadas a respeito de minha
mobilização cultural. Eu passava horas conversando com Pedro, aprendendo com sua
argúcia mascarada em ironia perversa. Cheguei a visitá-lo em seu leito de morte, em
Salvador. Foi melancólico ver um homem de tão vasto saber completamente fragilizado
pela enfermidade. Era também um prazer encontrar casualmente DIKAS (Adilson
Cezimbra), morrendo de rir com suas histórias inusitadas. No entanto, tive um terrível
inimigo colunista social: SERAFIM REIS. Esnobe e afetado, de presunçosa ignorância
(chegou a escrever um livro, nunca publicado, intitulado – se não me engano - como
2. “Esplendor e Decadência das Famílias do Cacau”) e com a profundidade de um pires,
cúmplice do meu arqui-inimigo Osmundinho Teixeira (a criatura mais má que conheci
até hoje, tanto que ao ouvir qualquer referência ao nazismo lembro imediatamente dele),
ele virava a cara quando me encontrava e dizia para todos que eu era de uma família
falida (para ele, um mal contagioso). Só não cheguei a odiá-lo porque nunca tive talento
para odiar quem quer que seja, mas ele me fez muito mal durante um bom tempo.
CHARLES HENRI e MANUELA BERBERT, embora me tratem com gentilezas
publicamente, sempre se comportaram ambiguamente em relação a minha pessoa,
fechando as portas de suas colunas para as manifestações artísticas que produzi. Certa
vez, ainda nos anos 90, Charles escreveu uma página inteira a meu respeito, elogiando a
minha habilidade literária. Como eu nunca aceitei trabalhar de graça para as suas
publicações, colocou-me em sua lista negra. Já Manu, no início de sua carreira
jornalística, desprezada pelos colegas, costumava divulgar o meu trabalho. Depois que
não deu certo nosso projeto de parceria em um programa de tevê, ela aproveitou a
brecha e conseguiu espaço nesse mesmo local, seguindo com sua ambição sem limites,
sempre com um sorriso inocente nos lábios, e me deu as costas. Quando numa atitude
solidária critiquei alguns aspectos vulgares de sua coluna (por exemplo, publicar
imagens de jovens sem camisa) e a utilização da mesma como veículo de propaganda da
Santa Casa de Misericórdia, ela se revoltou de vez. É que as pessoas gostam de elogios,
mesmos falsos e interesseiros, jamais compreendo que uma crítica honesta é por demais
positiva. Sou amigo de TONET (Maria Antonieta) – uma das mulheres mais inteligentes
de Itabuna - e VALÉRIO DE MAGALHÃES. Fizemos muitas farras juntos. Aprecio o
charme e a boa educação de DIOGO CALDAS. BETÂNIA MACEDO sempre me
pareceu uma pessoa do bem. Defendia-a sem limites contra os petistas itabunenses que
diziam as piores coisas a seu respeito, incluindo familiares no pacote. Hoje Betania
bajula em sua coluna esses mesmos petistas e me ignora (mas não tenho mágoas,
compreendo que facilmente se deixa influenciar por baboseiras de gente malvada).
Ao longo do tempo, fui destaque em colunas sociais de diversos estados brasileiros, da
famosa JOYCE PASCOVITCH (ainda na Folha de S. Paulo) a REGINA COELI no
jornal A Tarde, em Salvador. Hoje estou em todas as colunas sociais de Natal. Não por
vaidade, mas como resultado de minha atuação cultural. O artista precisa de divulgação
para continuar seu ofício. Quando um colunista boicota um escritor ou um pintor, está
sacrificando a arte de sua própria cidade. Como conheço de perto a vivência de muitos
colunistas sociais, creio que tenho fôlego para retratá-los em livro. Sei de seus êxitos e
boas ações, e também de suas inimizades, tramas, golpes, dívidas, traições, escândalos e
vícios. Material atraente e explosivo para leitores que se interessam pelos bastidores da
notícia. E não há como negar que os colunistas sociais fazem parte de nosso imaginário
social. Conheço gente capaz de vender a mãe para sair numa página de jornal e outros
que se roem de inveja quando me enxergam na mídia (por pura pirraça costumo enviar
tais publicações para os invejosos sem cura). Apoiada nesta vasta experiência, iniciei o
primeiro conto. Estará neste blog dentro de alguns dias. Lembro que certa vez, num dos
nossos encontros para ouvir jazz e discutir literatura, Luis Wilde disse-me: “Um dia
você escreverá sobre a farsa da nossa sociedade. Como um novo Jorge Amado. Será
uma lição permanente para todos nós”. Era uma premonição.
--
Abraços,