O documento discute a importância de se investir na formação de leitores críticos, não apenas de livros mas de diversas formas de mídia. Também destaca a necessidade de se levar em conta os gostos musicais e hábitos de leitura dos estudantes em vez de se ignorá-los, e de se usar recursos tecnológicos para motivar o desenvolvimento desses hábitos de forma prazerosa.
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
#4 paulo ulrich junho 2014
1. Por uma leitura e apreciação musical mais crítica
Paulo Ricardo Ulrich (UERGS;PIBID/CAPES)
O brasileiro lê em média quatro livros por ano isto que aponta o livro Retratos
da Leitura no Brasil 3 (2012) do Instituto Pró-Livro (IPL). O estudo realizado entre
junho e julho de 2011 entrevistou mais de 5 mil pessoas em 315 municípios. A
pesquisa também mostra que metade dos brasileiros são leitores, sendo que as
mulheres lêem mais que os homens e que a bíblia é a obra preferida.
Diante destes dados podemos ver que é preciso cada vez mais investir na
formação de leitores. Mas de que tipo de leitores?
Em entrevista a jornalista Amanda repórter da Agência Brasil um dos maiores
especialistas em leitura do mundo, o francês Roger Chartier destaca que o hábito de
ler está muito além dos livros impressos. Essas pesquisas que perguntam às
pessoas se elas lêem livros estão sempre ignorando que a leitura é muito mais do
que ler livros. Basta ver em todos os comportamentos da sociedade que a leitura é
uma prática fundamental e disseminada. Isso inclui a leitura dos livros, mas muita
gente diz que não lê livros e de fato está lendo objetos impressos que poderiam ser
considerados jornais, revistas, revistas em quadrinhos, entre outras publicações.
Não devemos ser pessimistas, o que se deve pensar é que a prática da leitura é
mais freqüente, importante e necessária do que poderia indicar uma pesquisa sobre
o número de livros lidos. (CHARTIER, 2012 apud CIEGLINSKIM, 2012)
Como vimos a ação de ler permeia além dos livros e nos espaços escolares
não podemos ignorar sua importância. Antes da era tecnológica o poder era de
quem tinha a informação, e agora com a internet é de quem usa estas informações
para agregar algum valor positivo ao seu cotidiano. Conforme Freire:
O que é que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler
o mundo? Minha impressão é que a escola está aumentando a
distância entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos.
Nessa dicotomia, o mundo da leitura é só o mundo do processo de
escolarização, um mundo fechado, isolado do mundo onde vivemos
experiências sobre as quais não lemos. Ao ler palavras, a escola se
torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as "palavras da
escola", e não as "palavras da realidade". O outro mundo, o mundo
dos fatos, o mundo da vida, o mundo no qual os eventos estão muito
vivos, o mundo das lutas, o mundo da discriminação e da crise
econômica (todas essas coisas estão aí), não tem contato algum
2. com os alunos na escola através das palavras que a escola exige
que eles leiam. (FREIRE, 1986, p. 164)
Já no ponto de vista de Foucambert (1994) aprender é que dá poder, muito
mais do que aquilo que se aprende, direcionamos esse projeto para que ele ajude o
aluno a ver o ato de ler e escrever com outro olhos, que ele tenha estimulado o
gosto pela leitura para que ele entenda que ler e escrever pode ser uma atividade de
lazer, mas que, conseqüentemente, nos traz conhecimentos e poder.
Fazendo um paralelo deste panorama com o meu processo de gosto pela
leitura, lembro-me que no ensino fundamental e médio foi sempre exercitada de uma
forma mecânica, desinteressante e pedagogizada. Para Kleiman (2002), na escola,
o aluno lê sem objetivos, lê apenas porque o professor mandou e será cobrado,
desvirtuando efetivamente o caráter da leitura. Hoje sei que ela deve ser encarada
como um prazer, busca e entrerimento.
Um retrato deste contexto é que agora vivemos um novo momento, e com a
evolução da mídia a linguagem digital torna-se cada vez mais atraente. Na internet
podemos encontrar diversos projetos que trabalham o interesse pela leitura na era
digital como o Instituto Canal do Livro e o Projeto Mil Casmurros.
Notamos que na linha do tempo do gostar de ler e ouvir música, o evento da
tecnologia e a mídia agregam outro sentido de valor a estas ações. No caso dá
música não tem como fugirmos dela, em todos os lugares estamos expostos a
estímulos sonoros. Philip Tagg explica que:
Nossos cérebros registram uma média de 3 horas e meia de música
por dia – quase 25% do tempo de vida que passamos acordados. E
90% do tempo das rádios consistem de música, ao passo que
metade da programação de TV apresenta música na tela ou
como música de fundo. Na verdade, muito pouca gente gasta mais
tempo lendo, escrevendo e escutando do que falando, dançando ou
olhando para pinturas e esculturas etc. (TAGG, 2011 p.7)
Atualmente diversos escritores e pesquisadores defendem que é na escola
que o gosto pela escuta musical crítica deve ser exercitado, é isto que Jusamara
Souza (2009) sai em defesa do uso da música do cotidiano do aluno na aula de
música, a música difundida por meios midiáticos. Além disso, o professor deve
trabalhar com os recursos tecnológicos disponíveis como o celular e o computador
como ferramentas para produzir, apreciar e compartilhar música. Dessa forma, a
música do cotidiano dos alunos deve ser acolhida, respeitada e utilizada na sala de
aula.
3. Tanto a música como a leitura no cotidiano das crianças não deve ser
ignorada pelos professores. Mesmo sabendo o gosto pessoal, pode ter sido
resultado ou mesmo influenciado por questões de consumo. A questão que fica é:
Como o educador pode motivar e exercitar criticamente a escuta musical e a leitura?
É esta pergunta que pode fazer pensar em caminhos possíveis.
4. BIBLIOGRAFIA
CIEGLINSKIM, Amanda. Agência Brasil. Hábito de ler está além dos livros.
Disponível em:< http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-06-24/habito-de-ler-esta-
alem-dos-livros-diz-um-dos-maiores-especialistas-em-leitura-do-mundo>.
Acesso em: 30 jul. 2014.
FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto alegre: Artes Médicas, 1994.
FREIRE, Paulo (1986). Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 3ª ed. Rio de
Janeiro, Paz e Terra.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: Teoria e Prática. 9 ed. Campinas, SP:
Retratos da leitura no Brasil / Organizadora Zoara Failla. – São Paulo : Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo : Instituto Pró-Livro, 2012. 344p. : graf., tab.
SOUZA, Jusamara et. al. Aprender e ensinar música no cotidiano. 2ª ed. Porto
Alegre: Sulina,
2009.
TAGG, Philip. Análise musical para “não-musos”: a percepção popular... Per
Musi, Belo Horizonte, n.23, 2011, p.7-18.