Epistolas gerais aluno

Pastora Gyselle Mattos
Pastora Gyselle MattosTerapeuta Ocupacional à Clínica de Reabilitação Integrada Drª Eizabeth

EPISTOLAS

Caríssimo (a) irmão (a)
Este material foi preparado para você.
Os servos de Deus que nele trabalharam escrevendo, compilando, digitando, revisando,
enfim, sentir-se-ão recompensados se você tirar o máximo proveito dele.
Por esta razão sugerimos que:
1– Em Sala de Aula
Tenha sempre em mãos a sua apostila e a sua Bíblia, e um caderno para fazer anotações das
explicações do professor. Grife na apostila ou na Bíblia aquilo que considerar importante, utilize
lápis de cor para identificar assuntos, ou referências bíblicas.
Não vá com dúvidas para casa, faça perguntas, caso não queira interromper o professor anote
a sua dúvida para perguntar no momento oportuno.
Ao final de algumas unidades você encontrará Perguntas para Refletir, estas perguntas têm
por objetivo levá-lo a tirar as suas próprias conclusões.
Troque idéias com seus colegas sobre as respostas das perguntas para reflexão, assim você
poderá aprofundar seus conhecimentos.
2– Em Casa
Revise toda a matéria explicada pelo professor em sala. Releia o texto se possível em
diferentes versões bíblicas.
Releia as anotações que você fez na apostila, codifique as cores das suas anotações
correlacionando com os assuntos. Faça um resumo de cada aula.
Leia, leia muito, releia várias vezes; sem uma boa e constante leitura o processo de
assimilação fica muito pobre. “Aluno que não lê, mal sabe, mal fala e mal vê”.
Procure relacionar o conteúdo bíblico estudado com a sua vivência cristã; pergunte-se após o
estudo do texto bíblico:
O que Deus está querendo me falar através deste texto?
*Há alguma lição a aprender?
*Existe alguma promessa que Deus quer que eu tome posse?
*Existe algum hábito que eu preciso mudar, ou adquirir?
*Deus está me mostrando na sua Palavra algum pecado que devo confessar e
abandonar?
3– Local de Estudo
O lugar que você estuda deve ser sempre o mesmo e de preferência o horário também, pois
assim estará criando um hábito, e se tornando disciplinado nos estudos.
O local habitual de estudo deve ser tranqüilo, e bem iluminado, evite estudar onde há trânsito
de pessoas, televisão ligada, ou conversas paralelas.
O material deve estar bem à mão, para que não precise se levantar toda hora para procurar
algo, além de perder tempo e energia, você ficará disperso e desatento.
Tenha em mãos:
*Lápis, canetas, lápis de cor, régua, borracha, apontador.
*Bíblias em diferentes versões para que você possa consultá-las ao estudar.
*Chave ou Concordância Bíblica
*Dicionário da língua portuguesa, dicionário bíblico e enciclopédia ou manual bíblico.
Se você domina outro idioma, ou está aprendendo, procure ler a Bíblia neste idioma.
Todo seu empenho vai ser recompensado; você terá êxito dedicando tempo para os estudos. O
Espírito Santo é seu mestre por excelência, e também poderá contar com a ajuda amiga de seus
professores. Persevere, seja disciplinado e logo você colherá os frutos.
Bom estudo, sucesso e êxito é o que lhe desejamos!
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I Unidade - Epístola de Tiago
SEJA VENCEDOR, NÃO VÍTIMA
INTRODUÇÃO
A Epístola de Tiago é a menos doutrinária e a mais prática de todos os livros do Novo
Testamento. É considerada o “guia prático para a vida e conduta cristãs”. Ela é primeiramente prática
e ética, enfatizando mais o dever do que a doutrina. O autor visava repreender a forma negligente e
vergonhosa com que se realizavam determinados deveres cristãos.
A Epístola de Tiago pode ser vista entre os escritos mais emocionantes do Novo Testamento.
Ela nos causa forte impacto e mostra uma atitude voltada à realidade. Seus ensinos em relação à
prática da vida cristã são tão atuais que facilmente aceitaríamos que foram escritos por um autor
contemporâneo nosso, e não que foi escrita há aproximadamente 2000 anos.
No estilo e conteúdo, a Epístola de Tiago assemelha-se muito aos ensinos de Jesus,
notoriamente com o sermão da montanha. Abaixo demonstramos um paralelo entre a Epístola e o
sermão da montanha.
Assunto Tiago Sermão da Montanha
Juramento 5.12 Mt.5.34-37
Resposta à oração 1.5; 5.16-18 Mt.7.7
Prática da palavra 1.22 Mt.7.24-27
Julgamento 4.11 Mt.7.1
Se a Epístola fosse entendida da forma correta, poderia servir de base para harmonizar o
Cristianismo e o Judaísmo. Ela ensina que a salvação deve ser frutífera produzindo piedade e
conduzindo a uma vida de santidade.
Os ensinos da Epístola combatem a “crença e o viver cristãos fáceis”, que muitos queriam
introduzir no seio da igreja. Chama seus leitores à realidade, fazendo-os retornar ao ponto de partida
do Evangelho puro e verdadeiro. Tiago usa seu zelo, aprendido no Judaísmo para trazê-los de volta
aos ensinos originais do Evangelho de Jesus Cristo.
AUTORIA
Esta Epístola traz o nome de seu autor: “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. O
nome Tiago é a forma grega do Hebraico “Jacó”.
As escrituras referem-se a vários Tiagos, mas a maioria deles pode ser descartada
imediatamente. Citamos alguns deles:
1) Tiago (o maior), filho de Zebedeu e irmão de João: Este fazia parte do círculo íntimo
dos apóstolos que estavam sempre ao lado de Jesus, de quem tinha conhecimento suficiente para
mencionar seus ensinos. No entanto entre os anos 41 e 44 A.D., antes que os escritos
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neotestamentários fossem produzidos, Herodes Agripa I, “mandou matar a espada Tiago, irmão de
João” (At. 12:1;2). Assim, devido à sua carreira cristã curta e a sua morte repentina, fica descartada a
autoria da Epístola a este Tiago.
2) Tiago (o menor), filho de Alfeu (Mt. 10:3): Deste Tiago, sabe-se muito pouco, e sendo
um tanto quanto “desconhecido”, pois a forma com que o autor se apresenta no versículo 1,
demonstra que era uma pessoa conhecida e respeitada.
3) Tiago (O justo), irmão de Jesus: Tiago, a exemplo de seus irmãos, não se converteu
aos ensinos de Jesus enquanto Ele vivia, mas assim como Paulo, converteu-se ao ter um encontro
pessoal com o Cristo ressurreto (1 Co. 15:7). A este Tiago, é atribuída a autoria desta Epístola.
4) Tiago, o pai de Judas (Lc. 6:16): Este Judas, não é o Iscariotes (Jo. 14:22), mas é
identificado como um dos doze e a quem se relaciona o nome de Tadeu (Mt. 10:3; Mc. 3:18).
O que pode-se compreender na leitura da Epístola é que:
1) O autor é um judeu profundamente impregnado dos ensinos do Antigo Testamento.
Existem pensamentos similares aos do livro de Provérbios (Tg. 3:12; 13– 18; 4:13, 17; 5:1–6).
Existem fortes referências da Teologia judaica:
a) Deus é Nosso Pai (Tg. 1:27; 3:9);
b) O autor mostra-se conhecedor da vegetação da Palestina e do regime de chuvas da
região (Tg. 3:12; 5:7);
c) O autor cita o Monoteísmo (Tg. 2:19).
2) É também um cristão (Tg. 1:1; 2:1), declarando Cristo como Senhor. Não desenvolve
muito as verdades cristãs. Dirige-se aos judeus-cristãos e trata mais de moral que de fé (Tg. 3:7–9).
Tiago juntou-se então aos discípulos (At. 1:14), tornando-se apóstolo (Gl. 1:19) e uma das
"colunas" da igreja em Jerusalém (Gl. 2:9). Sua liderança obteve grande destaque, conforme se
observa em At. 12:17; 15:13-29; 21:18 e Gl. 2:12. Tornou-se o líder da igreja de Jerusalém, fato este
notório quando do concílio de Jerusalém (At. 15), que tratava a respeito da necessidade, ou não, da
circuncisão dos gentios convertidos através do ministério de Paulo. Tiago deu a palavra final a
respeito da questão, o que indicaria que era hierarquicamente superior a Pedro.
O tom autorizado da Epístola está de acordo com a posição do autor na igreja. Pela tradição,
sabemos de alguns fatos concernentes a ele:
0 1) Por causa da santidade de sua vida e aderência rígida à moralidade prática da lei, era
estimado pelos judeus de sua comunidade, pelos quais, foi chamado “o justo”, ganhando muitos deles
para Cristo.
1 2) Diz-se que seus joelhos eram calejados como os de um camelo, em conseqüência de sua
intercessão em favor do povo.
DESTINATÁRIOS
Tiago é classificada como “Epístola católica (universal)”, por ter sido originalmente escrita
para uma comunidade maior que uma igreja local. A saudação “às doze tribos que estão na
dispersão” (diáspora) (Tg. 1:1), juntamente com outras referência (Tg. 2:19, 21), indicam que foi
escrita a cristãos judeus que viviam fora da Palestina.
0 No Antigo Testamento, “judeus da dispersão”, referia-se a grupos que se dispersaram após o
exílio, com muitos deles não retornando a Jerusalém. Os “judeus-cristãos da dispersão” eram, mui
provavelmente, aqueles que se espalharam, a partir de Jerusalém devido à perseguição empreendida
contra os cristãos após a morte de Estevão, e de Tiago, filho de Zebedeu. É possível que sejam os
primeiros convertidos em Jerusalém, que foram dispersos pela perseguição (At. 8:1), até a Fenícia,
Chipre, Antioquia da Síria (At. 11:19).
DATA DA EPÍSTOLA
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A escassez de discussão Cristo
lógica na Epístola, a forte ênfase dada à ética e aos aspectos morais e os paralelos aos ensinos de
Jesus, são fortes indícios de que foi escrita numa época onde, a igreja em formação, estava ainda
dentro da esfera geral do judaísmo, antes ainda de ser transformado num movimento religioso
independente.
Aliado ainda ao fato da Epístola ser dirigida aos “judeus da dispersão”, que não haviam se
convertido numa data tão remota, e pelo fato de que a palavra sinagoga é usada para designar o local
de reunião dos cristãos, chegamos à conclusão que o período entre 45 – 48 A.D., é bem razoável,
pois o conteúdo da Epístola enquadra-se bastante bem nele. Assim, esta Epístola está entre os
primeiros escritos do Novo Testamento.
O historiador judeu Flávio Josefo indica que Tiago foi apedrejado até a morte, por volta de 62
A.D. Outra versão da morte de Tiago é que segundo uma tradição, o sumo sacerdote e os guias
religiosos, fizeram-no subir no telhado do templo e lhe ordenaram que negasse e blasfemasse o nome
de Cristo. No entanto, ele ousadamente proclamou que Jesus era o Filho de Deus, sendo assim
lançado abaixo. Como não morreu na queda, foi então apedrejado até a morte.
Independentemente da forma de sua morte, é notório que Tiago foi morto por volta de 62
A.D. Logo a data da escrita da Epístola é anterior a este ano.
ONDE FOI ESCRITA
As conclusões tiradas acerca da autoria e data da Epístola determinam o local de sua escrita.
Tiago viveu em Jerusalém durante todo este período, e seus leitores encontravam-se em regiões
imediatamente fora da Palestina, junto à linha costeira para o norte, na Síria, e provavelmente, no sul
da Ásia Menor. A referência em Tg. 5:7, das “primeiras e últimas chuvas”, parecem confirmar esta
localização, uma vez que apenas ao longo da costa oriental do Mar Mediterrâneo é que as chuvas
ocorrem nesta seqüência.
ESTILO LITERÁRIO
Em sua forma, Tiago é uma carta “literária”. Começa com a típica saudação Epistolar:
identificação do autor, destino e saudações. No entanto falta-lhe reminiscências pessoais, referências
a situações e problemas específicos e sinais de encerramento que caracterizam uma “verdadeira”
carta.
Tiago usou a forma de Epístola para fazer exortações espirituais e conforto para os cristãos
que habitavam em uma grande área, em suas tribulações e perseguições. Em sua forma difere das
Epístolas de Paulo tanto a indivíduos (Filemon, Timóteo e Tito) e a igrejas específicas (Roma,
Corinto, Galácia, etc). Assemelha-se mais a 1 Pedro e 1 João, que também são destinadas a grandes
públicos.
Fazendo uma análise mais próxima da natureza específica da Epístola, notamos quatro
aspectos mais dominantes:
1) Apresenta um forte tom de exortação pastoral. Busca dar ordens, exortar e encorajar.
Existe sempre uma terna preocupação pastoral. Dirige-se a seus leitores por quinze vezes como
“meus irmãos” ou “meus amados irmãos”;
2) Outro aspecto é o desprendimento de sua estrutura. Alguns trechos tratam de assuntos
únicos e relativamente extensos (Tg. 2:1–13; 2:14–16; 3:1-12), mas a maior parte do livro trata de
dizeres ou assuntos curtos aparentemente independentes e breves. Fica muitas vezes difícil
estabelecer qualquer relação lógica entre uma parte e outra.
3) Outro aspecto que prende a atenção do leitor é o uso que Tiago faz de metáforas,
ilustrações e figuras de linguagem. A epístola utiliza fatos reais, eventos hipotéticos, elementos da
natureza e até obras das mãos humanas para expressar suas idéias.
Fatos reais: Abraão - Tg. 2.21-23.
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Eventos hipotéticos: O pobre e o rico na sinagoga – Tg. 2.2-4.
EPlementos da natureza: O mar e as ondas – Tg.1.6.
Obras das mãos humanas: O enxerto – Tg.1.21.
Figuras de linguagem: A língua é um fogo – Tg.3.6.
4) O último aspecto não é tão evidente em nossos dias, mas era comum entre os primeiros
destinatários da Epístola e estes sentiram seu impacto. Era a propensão de Tiago em usar outras
fontes, tais como os ensinos de Jesus, o Antigo Testamento em alguns de seus aspectos legais. Além
destas fontes existem vários paralelos entre Tiago e vários livros cristãos e judaicos de data remota.
Podemos mencionar 1 Pedro, Eclesiástico (Siraque), Os Testemunhos dos Doze Patriarcas, O Pastor
de Hermas e 1 Clemente, Sabedoria de Salomão, Filo, no ensino Didaquê dos doze e nas cartas de
Inácio. Parece que estes livros utilizam uma tradição de ensino ético largamente difundida,
provavelmente de origem greco-judaica. Tiago mostra familiaridade com esta tradição e se apropria
de alguns elementos dela a fim de exortar seus leitores.
ELEMENTOS HISTÓRICOS
Devido à discussão relativa à data da escrita da Epístola surgiram precedentes históricos que
precisam ser tratados mais minuciosamente.
A igreja de Tiago existiu em Jerusalém durante cerca de 15 anos após a ressurreição de
Cristo.
Cada igreja no lar era dirigida por um ou mais presbíteros. Estes formavam um grupo dirigido
por Tiago e tinham a responsabilidade de governar a igreja. Também havia os diáconos (At 6), cuja
função era coletar contribuições para caridade e distribuí-las entre os membros mais pobres da igreja.
Nesta época ocorreu grande escassez econômica em Jerusalém o que afetou também os
cristãos. Logo havia muitos membros pobres, visto que a igreja, como um todo, era pobre. Havia
razões para isso:
1) Muitos membros da igreja eram de fora de Jerusalém, e não podiam exercer seu ofício na
cidade, como por exemplo Pedro e André, que eram pescadores. Alguns dentre eles eram peregrinos
que se converteram em épocas de festas dos judeus e decidiram não voltar para casa, pois em suas
cidades de origem, não haviam igrejas que pudessem nutrí-los espiritualmente.
2) Havia inúmeros turistas, por assim dizer, que desejavam conhecer a respeito do
Cristianismo, na sua cidade de origem.
3) O Cristianismo sempre teve a tendência de ter forte apelo junto aos pobres e oprimidos:
prostitutas, ladrões, coletores de impostos e pessoas semelhantes. Todos estes eram atraídos pela
promessa de perdão. Os ricos e os poderosos, no entanto, viam nos cristãos, um grupo de pessoas a
quem preferiam não se associar. Os pobres ouviam com grande alegria uma mensagem de fé, de
esperança e de justiça. São estes os chamados por Tiago de “ricos na fé” (Tg. 2:5).
4) Muitos anciãos iam a Jerusalém só para morrer. Ao ouvirem falar da ressurreição de Jesus
e se converterem, ficavam sob os cuidados da igreja. Não seria de surpreender, que muitos filhos
judeus, que sustentavam seus pais, usassem a desculpa da conversão para cortarem-lhes tal sustento.
5) Jerusalém passou por grandes dificuldades econômicas. A cidade estava situada numa
área economicamente marginal, vítima de manobras políticas, defendida mais por razões bélicas do
que econômicas.
6) Finalmente aconteceu a perseguição, que em Jerusalém, raramente eram violentas, mas os
cristãos constituíam para muitos, uma “seita” desprezada. Isto tornou-se realidade mais tarde, quando
os cristãos se recusaram a participar de movimentos patrióticos que visavam a libertação da
Palestina. A perseguição poderia vir disfarçada de formas sutis:
a) O trabalhador conhecido por ser cristão, poderia ser o último a ser contratado para
trabalhar e o primeiro a ser despedido numa crise econômica.
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b) Se um cristão fosse roubado, ou enganado em seu salário, ou em outros direitos, por um
patrão judeu, se transformaria em vítima de preconceito e seria prejudicado numa decisão no
tribunal.
Nada disso ajudava a igreja a crescer.
Enquanto a situação da igreja serve de pano de fundo para a escrita da Epístola, a
preocupação de Tiago é com o mundo que está entrando na igreja. Ele adverte em Tg. 4:4 que “a
amizade do mundo é inimizade contra Deus”, e dá o antídoto contra ela a “religião pura e imaculada”
e o guardar-se da contaminação do mundo” (Tg. 1:27). O mundanismo manifestava-se na igreja de
várias formas:
1) A deferência bajuladora ao rico e a indiferença ao pobre (Tg. 2: 1–4);
2) Palavras críticas e descontroladas (Tg. 3:1–12; 4: 11-12; 5:9);
3) A sabedoria humana que é “terrena, animal e diabólica”, que produz divisões e violentas
discussões (Tg. 3:13–4:3); arrogância (Tg. 4:13, 17); uma quebra da comunhão com Deus que
interrompe a eficácia da oração (Tg. 1:5–8); e um fracasso em colocar a fé em prática (Tg. 1:22–
27; 2:14–26).
Tiago chama seus leitores a se arrependerem do mundanismo e a trabalharem com afinco a
fim de recuperarem, de seus caminhos errados, a outros pecadores (Tg. 5:19, 20).
ESBOÇO DOS CAPÍTULOS
Tiago trata da maturidade Espiritual, e, apresenta cinco sinais de maturidade:
1) Paciência na provação – Capítulo 1
2) Relacionamentos – Capítulo 2
3) Autodomínio – Capítulo 3
4) Pacificadores – Capítulo 4
5) Oração nas dificuldades – Capítulo 5
CRESCENDO EM CRISTO (CAPÍTULOS DE 1 A 4)
CAPÍTULO 1
Apresentação e saudação inicial (1:1)
O autor da Epístola apresenta-se como Tiago. A simplicidade da identificação aponta para o
bem conhecido “Tiago, o justo”, meio-irmão do Senhor (Gl. 1:19) e líder da primeira igreja de
Jerusalém (At. 12:17; 15: 13–21; 21:18–25). Tiago não reivindica para si autoridade apostólica,
embora Paulo o chame de “apóstolo”, em Gl. 1:19. Tiago prefere identificar-se apenas como “servo
de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. Dessa forma Tiago considera sua posição como a de quem presta
um humilde serviço a seu mestre, o Senhor Jesus.
Tiago endereça a carta às doze tribos que se encontram na dispersão. Talvez possamos
associar os destinatários com a referência, em At. 1:19, àqueles que haviam sido dispersos por causa
da perseguição e estavam pregando o Evangelho aos judeus até a “Fenícia, Chipre e Antioquia”.
Provavelmente estas pessoas foram convertidas em Jerusalém e “seu antigo pastor” escrevia-lhes
buscando fortalecê-los.
O cumprimento de Tiago como tal é bastante breve: “Saudações”. Esta é uma saudação
epistolar tipicamente grega, o que demonstra a familiaridade de Tiago com esta língua. No Novo
Testamento este cumprimento só aparece aqui e em At. 23:26.
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A alegria nas provações (1:2–4)
Tiago abre sua carta com dois aspectos bastante característicos. Ele chama seus leitores de
“meus irmãos”, uma forma de tratamento que ele usa catorze vezes (três delas acompanhadas da
qualificação “amados”), principalmente para introduzir uma mudança de tema na epístola. Esta
forma de tratamento afetuoso confere à epístola um forte tom pastoral a muitas exortações da carta.
Em seguida expressa a ordem “tende por motivo de grande alegria” que é categórica e sugere
a necessidade de uma decisão definitiva. O que chama a atenção é que se chama a alegrar-se por algo
que costumeiramente não traz alegria: “o passardes por várias provações”. Assim as doenças (Tg.
5:14), dificuldades financeiras (Tg. 1:9) e perseguições econômicas e sociais (Tg. 2:6) estão incluídas
neste grupo. Quaisquer que sejam as provações, elas devem ser consideradas pelos cristãos como
ocasião para regozijo e oportunidades para a manifestação da glória de Deus em suas vidas.
Através das experiências com Cristo no dia a dia e conhecendo mais e mais a Sua Palavra ( a
fé vem pela Palavra de Deus, veja Rm 10:17) é que Deus opera para aperfeiçoar e fortalecer nossa
fé. Por conseguinte Deus visa, através de nossas experiências, que alcancemos a “perseverança”.
Assim, Tiago pede aos cristãos que reajam com alegria o passar por “provações”, porque ele sabe
que elas operam para produzir uma vida com Cristo mais firme e mais segura.
A sabedoria, a oração e a fé (1:5–8)
Uma das maiores virtudes que o cristão deve buscar é a sabedoria (sophia). Ela ocupa um
papel central num livro do Antigo Testamento, Provérbios. A percepção da vontade de Deus e do
modo pelo qual ela deve ser aplicada na vida é conferida pela sabedoria. A importância da sabedoria
descrita em Tg. 1:5 é a maneira pela qual se diz que ela produz um caráter piedoso e maduro naquele
que a possui.
Quando Tiago promete a seus leitores que Deus irá conceder sabedoria àqueles que lhe
pedirem, está refletido o ensino veterotestamentário (Pv. 2:6 a, ...o Senhor dá a sabedoria”). É
provável que ele também tenha em mente a promessa de Jesus: “Pedi, e dar-se-vos-á (Mt. 7:7 a).
Tiago nos lembra ainda que Deus a “dá liberalmente, e nada lhes impropera”. Impropera
(oneidizontes) significa que Deus não nos repreende por falhas passadas, nem nos traz recordações
intermináveis sobre o valor de suas dádivas.
O termo “ânimo dobre” significa literalmente “alma dividida”, e é uma sugestiva descrição
das divisões que existem no interior da pessoa. Com certeza, Deus não responde a orações baseadas
em tanta descrença. Devemos observar que a inconstância é a antítese da “integridade” ou
“perfeição”, que deve ser o alvo do viver cristão, e do caráter “único” e “sincero” de Deus.
A pobreza e a riqueza (1:9–11)
Quando Tiago refere-se ao “irmão de condição humilde” aponta para um cristão de baixa
condição sócio-econômica – relativamente pobre e sem poder. Tiago faz uso do termo “tapeinos” que
é comum no Antigo Testamento com este significado (Sl. 10:18; 34:18; 102:17; Is. 11:4; Am. 2: 7). E
esta era uma condição comum entre os cristãos da Palestina e da Síria, que estão entre os
destinatários desta Epístola.
Em meio a tais aflições o cristão, cuja posição, em termos do mundo, é realmente baixa, deve
gloriar-se na sua dignidade. “Gloriar-se”, neste contexto, não significa a vanglória arrogante de
alguém importante, mas o alegre orgulho possuído pela pessoa que valoriza aquilo que Deus
valoriza. A palavra dignidade é usada em outros lugares do Novo Testamento, como descrição do
reino celestial ao qual Cristo foi elevado (Ef. 4:8) e de onde desce o Espírito Santo (Lc. 24:49).
A pessoa rica, assim como a pobre, deve olhar além das circunstância externas, em direção
aos valores espirituais interiores e circunstâncias do “reino celestial” que não se vêem. O Salmo
49:16-17 contém uma advertência acerca das riquezas: “Não temas, quando alguém se enriquecer,
quando avultar a glória de sua casa: pois, em morrendo, nada levará consigo, a sua glória não o
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acompanhará”. Tiago baseia-se nesta tradição bíblica, para alertar o rico a não se preocupar em obter
aquilo que não pode “carregar” consigo para o outro mundo.
Tiago faz uma comparação da situação do cristão rico com o sol que se levanta em seu
resplendor, mas que no mesmo dia vê-se sua luz e seu calor desvanecerem. Compara ainda a erva
seca que um dia foi uma flor viçosa, mas que no momento seguinte perdeu seu parecer e formosura.
Tudo isso tem um momento de glória que se desvanece, mas a glória do Senhor brilhará para sempre.
As provações e as tentações (1:12–18)
Neste trecho Tiago apresenta a “perseverança” como uma bênção sobre os que suportam a
provação. Ele afirma que o cristão precisa praticar a perseverança a fim de alcançar um caráter firme,
perseverante. Assim como o atleta suporta a pressão do esforço físico, a fim de obter um nível mais
alto de resistência física, também o cristão deve suportar as provações da vida, para que obtenha uma
resistência espiritual que leve à perfeição.
Existe uma recompensa prometida a quem alcançar este nível de perfeição: “a coroa da vida”.
A palavra coroa refere-se, algumas vezes, a uma coroa real, mas o uso mais comum naqueles dias
referia-se a uma coroa de louros conferida ao atleta vitorioso (1 Co. 9:25) e, que de modo figurado,
significa glória e honra. No caso dos cristãos, a coroa é um emblema do sucesso espiritual, dada pelo
Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, àqueles que “guardam a fé” em meio aos sofrimentos e
tentações. Mesmo quando suportar a provação significa morte, a vida é a recompensa para aqueles
que amam a Deus.
Quando a pessoa enfrenta adversidades não deve tentar se desculpar pelo fracasso em resistir
à tentação, atribuindo-o a Deus. Se deseja culpar alguém, tem só a si mesmo para considerar, pois a
tentação vem da própria cobiça. Tiago parece pensar na tendência inata do homem em direção ao
pecado. A tentação brota deste “impulso maligno” quando este atrai e seduz o homem. A omissão
que Tiago faz de satanás como uma fonte de tentações não significa que o ignore como o principal
“tentador”. O seu propósito aqui é acentuar a responsabilidade individual pelo pecado.
Em si mesma a concupiscência não é pecado. Apenas quando uma pessoa, por sua vontade,
cede à atração é que o pecado surge. Tiago descreve este ato de modo vivo: A concupiscência é
retratada como a mãe, que dá a luz ao pecado, seu filho. E este filho, atingindo a maturidade, gera a
morte.
Tiago afirma que atribuir a Deus o intento maligno de tentar as pessoas é um assunto muito
sério. Ele quer ter a certeza de que seus leitores não se “enganarão” nesta questão. Longe de atrair
para o pecado, Deus é a fonte de todas as boas dádivas (Tg. 1:17), dentre as quais a maior é o novo
nascimento (Tg. 1:18).
Tiago menciona tanto a boa dádiva como o dom perfeito, para demonstrar o caráter de Deus
que é benevolente e imutável, sendo a fonte de tudo quanto é bom. A descrição de Deus como o “Pai
das luzes” é a única nas Escrituras. Sabemos que Deus é nosso Pai e que nós somos a luz do mundo
(Mt. 5:14). Muitos entendem que estas luzes são provavelmente como os corpos celestes incluindo o
sol, a lua e as estrelas (Sl. 136:7–9; Jr. 31:35). A Bíblia sempre faz menção do firmamento dos céus
como evidência da obra criadora de Deus e de seu contínuo exercício de poder. “Todas as coisas
criadas precisam necessariamente sofrer mudanças, pois isto faz parte de suas características, assim
como a imutabilidade é característica de Deus”.
Como um proeminente exemplo das boas dádivas de Deus, Tiago menciona o fato de que
Deus “nos gerou pela palavra da verdade” e que isto Ele fez por sua “determinação espontânea e
gratuita”.
Desta forma, assumimos a posição de que Tiago apela ao “novo nascimento” espiritual dos
cristãos como uma demonstração das boas dádivas que Deus concede. Este “novo nascimento” é
motivado pela soberana determinação de Deus, cujo querer, ao contrário de sua criação, é invariável.
O instrumento usado por Deus para realizar este “novo nascimento” é a palavra da verdade, e o
propósito dEle é que os cristãos permaneçam como o “sinal (primícias) do universal plano redentor
de Deus, “boas dádivas” que Ele ainda tem a conceder.
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Uma exortação quanto ao falar e à ira (1: 19, 20)
Tiago inicia esta pequena exortação com a já conhecida interjeição: “meus amados irmãos”.
Orienta-os a evitarem as palavras precipitadas e a ira descontrolada. Tiago estimula seus leitores a
estarem prontos para ouvir a Palavra de Deus, sendo tardios em se tornarem mestres dela.
É significativo o fato de que o descontrole no falar está muitas vezes ligado com a ira sem
limites. Segundo Pv. 17:27, “quem retém as palavras possui o conhecimento, e o sereno de espírito é
homem de inteligência”. Com muita freqüência, é a ira descontrolada diante de uma pessoa, que nos
leva a falar rápido demais e a dizer mais do que devemos. Apesar de Tiago não proibir toda e
qualquer ira (há lugar para a “justa indignação”), ele proíbe o temperamento irrefletido e
descontrolado que muitas vezes produz palavras ásperas, nocivas e irrecuperáveis (Ec. 7:9)
A proibição de uma ira sem limites baseia-se no fato de que a “ira não produz a justiça de
Deus”. A ira precipitada, descontrolada, é um pecado porque transgride o padrão de conduta que
Deus exige de seu povo.
Tornado-se praticantes da Palavra (1: 21, 27)
Tiago faz um lembrete de que o nascimento espiritual concedido graciosamente pelo Senhor a
seu povo, através da Palavra de Deus, era seguido de exortações para que eles evitassem o tipo de
comportamento associado com a vida antiga e começassem a viver pelo padrão da Palavra de Deus
que os havia salvado. O “despojar-se” da impureza deve ser acompanhado pelo “recebimento” de
alguma outra coisa: “a palavra em vós implantada”. Tiago estava com esta afirmação, referindo-se à
capacidade natural “inata”, que o homem tem de receber a revelação de Deus – “é a capacidade
original envolvida na criação à imagem de Deus, que torna possível aprender a revelação”.
Os cristãos que verdadeiramente foram “gerados” (Tg. 1:18), demonstram que a Palavra os
transformou, quando eles humildemente a aceitaram como autoridade e diretriz para a sua vida.
Tiago usa também a figura da preparação da “boa terra” em seu coração a fim de que “a semente” da
Palavra ali plantada possa produzir muito fruto (Mc. 4:3–20). Fala também do ato de “salvar as
vossas almas” como sendo este fruto.
Tiago declara que por mais importante que seja a aceitação mental da Palavra, ela não será
verdadeiramente recebida, enquanto não for colocada em prática. Ele não está se opondo ao ato de
ouvir a Palavra, mas sim ao fato de que o ouvir não conduz à prática. Aqueles que não praticam a
Palavra e se tornam somente ouvintes, praticam uma auto-ilusão perigosa e potencialmente fatal.
Aquele que apenas ouve a Palavra é como quem contempla “num espelho o seu rosto natural”, mas
que esquece rapidamente daquilo que viu. O praticante da Palavra, por sua vez, contempla a “lei
perfeita, lei da liberdade e persevera”; ele é um trabalhador praticante. Tiago estabelece um contraste
na maneira de olhar:
O que é “somente ouvinte” da Palavra, olha para a lei da liberdade, rapidamente e sem atenção.
O que é praticante da Palavra a considera com cuidado.
A influência penetrante dos ensinos de Jesus sobre a ética de Tiago sugere que esta “lei” refere-se
principalmente às exigências éticas de Jesus. Tiago quer enfatizar a seus ouvintes que as “boas
novas” de salvação trazem uma inevitável exigência de obediência completa. Mas com a penetrante e
radical exigência do Evangelho vem a graça capacitadora de Deus.
Tiago passa a destacar algumas formas específicas pelas quais se manifesta a obediência à
Palavra. Uma destas formas, com a qual demonstra não pequena preocupação, é com o controle da
“língua”. Ele ensinou que todo homem deve ser “pronto no ouvir e tardio no falar” (Tg. 1: 9). A
pessoa que deixa de controlar sua língua acaba enganando o próprio coração em relação à veracidade
de sua religião. Ele é um mero ouvinte da Palavra, e quando falha em colocar em prática aquilo que
ouve, mostra que “sua religião é vã”. A verdadeira prova de uma religião é a obediência – sem ela, a
religião é vã: vazia, inútil e infrutífera.
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A pureza moral é outra marca da religião pura. O “guardar-se incontaminado do mundo”, significa
evitar que pensemos e ajamos de acordo com o sistema de valores da sociedade que nos cerca. A
“religião pura”, do cristão perfeito (Tg. 1:4) associa a pureza de coração à pureza de ação.
CAPÍTULO 2
A imparcialidade e a lei do amor (2:1–13)
Iniciando com a expressão “meus irmãos”, Tiago define o reconhecimento de seus leitores
como membros da igreja e então exorta: “não façais acepção de pessoas”. Ainda que o Senhor Deus
não apresenta parcialidade (Dt. 10:17; Gl. 2:6), os seres humanos que a Ele servem, sob sua
autoridade, e que se supõem terem copiado seu caráter, precisam ser continuamente advertidos contra
a parcialidade (Lv. 19:25; Dt. 1: 17; Sl. 82:2; Pv. 6:35; 18:5). A igreja não deveria mostrar
parcialidade, nenhum interesse com respeito à beleza externa, à riqueza material e ao poder ou à
influência da pessoa.
A única base da igreja é a fé num único Senhor. A fé e a fidelidade no compromisso ao
Senhor é o que salva tanto ricos como pobres, igualmente, e todos são leais a um Senhor cuja vida e
ensino desprezaram quaisquer posições mundanas. E, acima de tudo, este é um Senhor que vive, que
foi exaltado em glória e, que vai voltar a fim de manifestar seu poder e glória e ainda julgar o mundo.
Demonstrar parcialidade é violar o caráter do Senhor, é insultá-lo, e certamente é grave pecado.
Tiago continua com este tema: “Se na vossa reunião entrar algum homem com anel de ouro
no dedo, e com trajes de luxo”. O anel de ouro no dedo indica sua riqueza, e “a seguir entra também
um pobre andrajoso”, que só possui as roupas do corpo, que estão sujas e esfarrapadas. Acostumado
à rejeição, o coitado espreita à porta, sentindo que as pessoas reunidas o evitam, o que ele já
esperava; o péssimo estado de seu vestuário declara-o lixo humano, sem valor algum sob o prisma
mundano.
A igreja reage à situação econômica do rico: “Assenta-te aqui no lugar de honra”. O rico
acomoda-se na cadeira mais confortável sob os sorrisos complacentes de todos os presentes. O pobre,
por sua vez, é recebido com frieza: “Fica aí em pé”, ou ainda “assenta-te abaixo do estrado dos meus
pés”, e independente do lugar onde se assente, a maioria dos presentes, finge que não notou a sua
presença.
Tiago chama à consciência de seus leitores através dos exemplos do Antigo Testamento, de
forma a evitarem esta situação na igreja cristã, o que causava grandes constrangimentos e era
totalmente avesso aos ensinos de Jesus. Inicia seu ataque lógico contra essa prática, com um apelo:
“Ouví, meus amados irmãos”, chamando-os a algo que já é de seu conhecimento: “Não escolheu
Deus aos que são pobres?” Emprega uma terminologia familiar da eleição, com que Israel estava
acostumado (Dt 4:37; 7:7), como também a igreja (Ef. 1:4; 1 Pe. 2:9), mas aplica-a de modo
específico aos pobres.
Mas Tiago está dizendo mais do que isso. Deus elegeu de modo especial “aos que são
pobres aos olhos do mundo, para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o
amam”. Está usando os ensinos de Jesus, que foi o Senhor que disse que veio de modo particular
“para evangelizar os pobres” (Lc. 4:18); e ainda “Bem-aventurados vós, os pobres, pois vosso é o
reino de Deus” (Lc. 6:20). O mundo os considera como pobretões desprezíveis, sem importância,
mas para Deus eles são “ricos na fé” e herdeiros do reino – o contrário da perspectiva mundana.
A igreja que envergonha o pobre, de certo modo, abandonou a vontade de Deus e deixou de
agir em prol dEle (1 Co. 11:22). Entretanto, certas igrejas decidiram mostrar preferência pelos ricos,
que as oprimem. Acerca disso Tiago levanta alguns fatores:
“São os ricos que vos oprimem”. A opressão dos ricos sobre os pobres tem raízes profundas no
Antigo Testamento (Jr. 7: 6; 22:3; Ez. 18:7; Am. 4:1; 8:4; Ml. 3:5). Quando o pobre precisava de um
empréstimo, o rico lhe concedia com juros elevados, sendo que obter lucros mediante a desgraça do
necessitado, era prática condenada (Ex. 22:25-26). Em surgindo uma disputa, o rico contratava o
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melhor advogado; ambos se associavam, de modo que o pobre se tornava mais pobre, e o rico mais
rico.
“Os ricos vos arrastam aos tribunais”. Quando o pobre não podia restituir o empréstimo ao rico, ele o
arrastava ao tribunal e fazia com que fosse decretada a falência do pobre; sendo que na maioria das
vezes as acusações apresentadas contra os pobres eram caluniosas.
“Os ricos, são os que blasfemam o bom nome daquele a quem pertenceis”. Agora, Tiago
acrescenta uma acusação de natureza religiosa. O nome de Jesus havia sido outorgado aos cristãos.
Todavia, os ricos falam mal desse nome, quando escarnecem de Jesus ou quando insultam seus
seguidores.
Entretanto, apesar de todos esses fatores, certas igrejas também decidiram insultar os pobres, a quem
Deus honra, decidindo favorecer os ricos, identificando-se com a classe opressora.
Tiago prossegue em sua argumentação bíblica: “se cumprirdes a lei real ... fazei bem”. Real
vem de reino e o Reino em questão aqui é o de Deus (Tg. 2:5). Embora a glória total desse reino
ainda pertença ao futuro, o cristão já entrou nele e permanece sob sua autoridade. A lei é “encontrada
na Escritura”, porque Jesus interpretava o Antigo Testamento, trazendo nova revelação,
em vez de ensinar referirindo-se à revelação anterior. O mandamento específico é citado por Tiago:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” é um dos prediletos de Jesus (que menciona Lv. 19: 18
seis vezes nos evangelhos sinóticos) e da igreja (Rm. 13:19; Gl. 5:14). Era um mandamento
geralmente visto como resumo da lei.
De acordo com as Escrituras, o próximo é a pessoa a quem devemos amar. Muitas vezes
esses cristãos demonstram parcialidade, ao fazer “acepção de pessoas”; discriminando o pobre e
assim quebram a lei. Aqueles cristãos estão sendo “argüidos pela lei como transgressores”: nesta
frase temos um retrato do julgamento final de Deus.
A razão que sustenta esta conclusão é a seguinte: “qualquer que guardar toda a lei, mas
tropeçar em um só ponto, torna-se culpado de todos”. A transgressão pode ser mais ou menos grave,
mas o transgressor permanece sob uma maldição, não importando que mandamento tenha quebrado.
O argumento de Tiago é importante, pois demonstra que a rebelião contra Deus é questão muito mais
séria do que o ato pecaminoso específico, e que nenhuma transgressão deliberada do ensino divino
deixa de ter importância.
A conclusão de Tiago resume sua argumentação. Em todas nossas ações devemos manter
diante dos olhos o julgamento final de Deus. O par de palavras “falai e procedei’ cobre todo o
comportamento humano (At. 1:1; 7:22; 1 Jo. 3:18). O padrão de julgamento de que seremos julgados
pela “lei da liberdade”. Esta idéia foi mencionada em Tg. 1:25. A obediência a esta lei perfeita traz
bênçãos. Tiago não considera este conceito ameaçador, visto tratar-se de princípio, além de nos
mostrar como fugir da escravidão do pecado, apontando para o Caminho da Vida.
Buscando fundamentar sua argumentação nas Escrituras. Tiago acrescenta um ditado
proverbial: “o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia”. Deus é
misericordioso, e os judeus sabiam muito bem disso. Em Ex. 34:5-6, Deus se apresenta a Moisés
como “Deus misericordioso”, compassivo e misericordioso... lento para a ira, abundante em amor”
(Dt. 4:31; Sl. 103:8-14). Se este é o padrão pessoal da justiça de Deus, segue-se que seus verdadeiros
filhos devem imitá-lo. Se não demonstrarmos misericórdia, sairemos da aliança de Deus, e ao mesmo
tempo pediremos a Deus que nos julgue segundo nosso padrão de severidade.
Jesus ensinou: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia (Mt. 5:7).
Esse conceito é enfatizado em seu ensino sobre o perdão (Mt. 6:14-15), sua resposta aos fariseus (Mt.
12:7, citando Os. 6: 6), sua parábola sobre o perdão (Mt. 18:21–35) e sua parábola sobre as ovelhas e
os bodes (Mt. 25:31–46). Portanto, o testemunho sólido dos evangelhos é que Jesus seguiu o
ensinamento judaico padrão e ensinou que Deus haveria de demonstrar misericórdia apenas a quem
obedecesse a ele e o imitasse.
A fé que salva (2:14–26)
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Tiago faz outra mudança temática dizendo: “Meus irmãos, que proveito há se alguém disser
que tem fé, e não tiver obras?” A forma com que Tiago elabora esta pergunta demonstra sua
esperança em ter uma resposta negativa: absolutamente nenhum proveito!
Continua perguntando: “Pode essa fé salvá-lo?” Não há salvação para a pessoa cujo
discipulado é deficiente na fé. Se esta for apenas intelectual, expressa tão somente práticas religiosas
e não vai salvar a pessoa. No Antigo Testamento também se condena a piedade que não é associada à
ação, com a qual condenaram João Batista (Lc. 3: 7 – 14), Jesus (Mt 7: 15 – 27) e Paulo (Rm. 1:5;
2:6–8; 6:17-18; Gl. 6:4–6). Tiago segue esta mesma linha: a fé sem obras não salva.
Tiago exemplifica sua posição dizendo: “Se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de
mantimento cotidiano”. Esta é a situação de alguém que faz parte da comunidade local dos cristãos,
“o irmão ou a irmã”, cuja necessidade é patente, precisam de roupas e de alimentos. “E algum de vós
lhe disser: “Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos”. Fica indicada aqui a reação de um membro rico da
igreja despedindo seus irmãos sem fazer nada por eles. Suas palavras são piedosas, indicam que
reconhecem as necessidades dos irmãos, mas “se não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo,
que proveito há nisso?” Tiago presume que o cristão deveria fazer algo mais do que orar por seu
irmãos. Se tem duas túnicas, uma despensa, geladeira e freezer cheios e não compartilha e ainda
utiliza a oração intercessória para aliviar-lhe a consciência, sua oração é inútil.
Tiago continua dizendo: “Assim também a fé, em si mesma, se não tiver obras, é morta”. Se o
cristão demonstrar uma fé que não passa de uma crença intelectual, sem a obediência ao evangelho,
como no parágrafo anterior, vemos que o que professa acreditar, é vão. Paulo declara que a única fé
que interessa, a “que importa é a fé que opera pelo amor (Gl. 5: 6), em vez dos rituais e hábitos
religiosos. Para Tiago, a fé que conduz à ação é que salva.
Tiago continua sua argumentação, utilizando o estilo vivo de diálogo imaginativo, tão popular
naqueles dias como hoje. “Mas dirá alguém, Tu tens fé, eu tenho obras”. Veja que a fé sem obras é
morta; portanto é necessário que a fé seja mostrada através das obras. Contudo quem tem obras, tem
fé: “e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”.
Tiago continua argumentando: “Mostra-me a tua fé, sem as tuas obras”. Em outras palavras
está dizendo: mostre-me a tua fé sem ação. A fé de uma pessoa no seu modo de viver, só pode ser
vista em suas atitudes ou ações. Logo uma fé sem ação é impossível de ser demonstrada. Tiago
contra argumenta “e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Cada ação cristã exige que se
verifique qual é a motivação que a inspira. Se fazemos algo, é porque cremos, ou seja, temos fé que é
correto. Logo as ações, ou obras, mostram facilmente onde está nossa fé.
Tiago continua a criticar a fé sem obras. “Crês tu que Deus é um só? Fazes bem! Este é um
ensino básico do Judaísmo e do Cristianismo, constituindo parte da Shema. Esta confissão de fé era
recitada duas vezes por dia por todos os judeus farisaicos: “Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o
único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua
força” (Dt. 6: 4,5). Os cristãos também consideram esta confissão de fé, pois foi declarada por Jesus
(Mc. 12:28-34) como o maior dos mandamentos; e por Paulo (Rm. 3:30): “Há um só Deus”.
Porém, o elogio de Tiago é em parte irônico: “Os demônios também o crêem, e estremecem.
Não somente o Judaísmo, mas também o Cristianismo conhecia a dinâmica da crença dos demônios
que freqüentemente faziam confissões de Cristo mais sólidas que os próprios apóstolos. A reação dos
demônios perante o nome de Deus era “estremecer”, pelo fato de estarem em rebelião contra Deus, e
porque a “fé” deles não os induzia à ação obediente. De igual forma os que apenas crêem
intelectualmente, não estão em situação diferente, pois não votaram fidelidade a Deus numa vida de
obediência.
Tiago clama: “Ó homem insensato!”. Este é um termo que pode parecer forte demais,
indicando não um erro intelectual, mas moral. Este tipo de linguagem era comum na época. Podemos
ver outros exemplos em Jesus (Mt. 23:17; Lc. 24: 45) e em Paulo (1 Co. 15:36; Gl. 3:1). Continua
fazendo um apelo igualmente forte: “Mas queres saber... que a fé sem as obras é inútil?”. Isto sugere
que é a ignorância voluntária da própria pessoa que exige provas adicionais que impossibilita a
aceitação dessas provas.
Cita Abraão, que foi considerado justo (justificado), ou seja foi “declarado justo por Deus” ou
ainda “considerado reto por Deus”. O sentido aqui assumido por Tiago é baseado naquilo que Deus
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disse a Abraão: “Agora sei que temes a Deus”. A declaração baseou-se na ação: “Abraão foi
justificado quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque”. A fé que Abraão demonstrou era real,
genuína, porque governava a vida do patriarca.
Prossegue Tiago: “Vês”. O ponto central da passagem é claro; “a fé cooperou com as suas
obras”. Mas de onde veio a sua fé? Abraão vivia numa cultura idólatra, mas rejeitou a idolatria.
Queimou a casa que abrigava os ídolos e comprometeu-se em fidelidade a obedecer o único Deus.
Continua dizendo: “pelas obras a fé foi aperfeiçoada”. Está afirmando que Abraão possuía fé, mas
que ela amadureceu ao manifestar-se em ação (Tg. 2:14,15). Existe mutualidade entre fé e obras: A
fé informa e motiva a ação; a ação amadurece a fé. Tiago não aprova uma, em detrimento da outra,
mas, insiste em que são inseparáveis.
Tiago resume: “vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente por fé”.
Parece que Tiago está indo contra a doutrina paulina da justificação pela fé. O ponto crítico de Tiago
é que Deus não vai aprovar alguém por ser ortodoxo, ou porque consegue passar numa prova de
Teologia Sistemática. Deus pode declarar alguém justo se tiver uma fé dinâmica, que se traduz em
ação, produzindo resultados de fidelidade e obediência. E isto não é contra a doutrina paulina.
Tiago apresenta a ilustração da “meretriz Raabe” cujas palavras e ações em Js. 2:1–21
fascinaram os judeus bem como os cristãos primitivos (Hb. 11: 31). Ela tinha fé e a professou em Js.
2:9-10. Todavia só a fé não poderia salvá-la; ela precisou agir concedendo alojamento aos espias
(“acolheu os espias”), e ao encaminhá-los (“os fez partir por outro caminho”) para a liberdade, o que
representou arriscar sua própria vida. A fé sozinha não a teria poupado, mas, quando a fé a levou à
ação, os espias a declararam justa.
“Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem as obras é morta”. Um
corpo destituído do espírito é um cadáver. Os judeus sabiam que quando uma pessoa “exalava o
último suspiro” ou “entregava o espírito” tal pessoa estava morta. Todo cadáver precisa ser
sepultado. De modo semelhante, a fé que não passa de crença intelectual está morta. Não pode salvar;
torna-se um perigo, porque ilude a pessoa quanto ao seu verdadeiro estado espiritual. A fé só tem
valor quando se torna num compromisso integral de fidelidade ao Senhor, ao ligar-se à ação.
CAPÍTULO 3
Os efeitos nocivos da língua sem controle (3:1–12)
Tiago começa o assunto da língua com uma advertência sobre o ofício de ensinar.
Os mestres (didaskaloi) desempenhavam um papel importante na vida da igreja primitiva. O papel do
mestre na igreja era comparável ao do rabino judeu, ou seja, transmitia a doutrina cristã (2 Tm. 2:2).
Naturalmente, o ministério de ensino conferia certa autoridade e prestígio. A preocupação de Tiago
com os que afluíam para este ministério com motivações erradas, justifica a sua advertência: “não
vos torneis muitos de vós mestres”. Aponta, para isso, outro aspecto menos atraente do ensino:
“sabendo que havemos de receber maior juízo”, sendo que a palavra “juízo”, sugere a idéia de
punição ou condenação.
A intenção de Tiago não é dissuadir do ensino estas pessoas que, como ele próprio, tem o
chamado e o dom de ensinar. O que deseja fazer é imprimir sobre seus leitores a natureza séria do
ministério, advertindo-os que não se deve ingressar nele por motivos frívolos ou egoístas.
O mestre coloca a si próprio diante do maior perigo de julgamento, uma vez que a principal
ferramenta de seu ministério, a língua, é a parte de controle mais difícil do corpo.
Tiago usa algumas ilustrações para representar o poder e o perigo que a língua representa (Tg.
3:3–6): Usa a figura do cavalo, que um pequeno freio em sua boca, pode refrear toda sua força. O
pequeno freio na boca nos dá controle sobre o corpo inteiro do cavalo.
Usa também a figura do leme que sendo tão pequeno determina o rumo de grandes
embarcações, conforme o impulso do timoneiro.
Estas duas ilustrações focalizam o controle que um pequeno objeto, exerce sobre uma coisa
grande. Quando o homem consegue controlar a sua língua, pode dirigir toda a sua vida segundo a
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vontade de Deus. Mas quando a língua não é refreada, mesmo sendo tão pequena, também o resto do
corpo provavelmente não terá controle nem disciplina. A língua pode gloriar-se e com razão
do poder que possui para determinar o destino de uma pessoa. “Vede como uma fagulha põe em
brasas tão grande selva”. Isto demonstra o poder de fogo destruidor que a língua pode exercer.
Tiago continua enfatizando o grande mal inerente na língua, uma grande “quantidade” ou
“volume” de iniqüidade. Está afirmando que a língua contém em si os pecados do mundo decaído.
Jesus afirmou que “o que sai da boca” contamina o homem e também que a boca é a expressão do
coração, onde se encontram “maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos
testemunhos, blasfêmias” (Mt. 15:11; 18; 19).
Quando a língua contamina o corpo inteiro realiza exatamente o que é oposto da “religião
pura”: “guardar-se sem contaminação, do mundo”. Os pecados cometidos com a língua espalham
poluição espiritual na pessoa inteira. A questão, assim, é que o poder de fogo e destruição da língua
afeta tudo na existência humana, do começo ao fim, e em todas as circunstâncias. De onde vem
tamanho potencial de destruição? “Do inferno”, diz Tiago.
Faz uma alusão à história da criação, no Gênesis, acerca do domínio do homem sobre o
mundo animal. O homem pode dominar animais, mas a língua ninguém pode domar. A língua é “mal
incontido”, ou seja , que não se pode refrear, irriquieto. É também “carregada de veneno mortífero”,
que reflete o ensino do Antigo Testamento: os homens maus “aguçam a língua como a serpente; sob
os lábios têm veneno de áspide” (Sl. 140: 3). O veneno produzido pela língua “destrói o próximo”
(Pv. 11:9) e também leva à ruína aquele que peca (Pv. 10: 8).
A língua, além de tudo o que já foi descrito, recebe ainda a atribuição de ambigüidade: “com
ela bendizemos ao Senhor e Pai; também com ela amaldiçoamos os homens feitos à semelhança de
Deus”. A bênção de Deus era uma parte importante da devoção judaica. A ação da bênção, na qual
louvamos e honramos a Deus, é citada por Tiago como a mais elevada, pura e nobre forma de
discurso. Por outro lado a mais baixa, impura e ignóbil forma de discurso é a maldição.
No mundo antigo, a palavra de maldição, que é o oposto da bênção (Dt. 30:19), era vista como
detentora de grande poder. Amaldiçoar alguém não é apenas proferir uma praga contra a pessoa; é o
desejo de que aquela pessoa seja cortada da presença de Deus e experimente castigo eterno. Jesus
proibiu seus discípulos de amaldiçoarem outras pessoas; na verdade, eles deveriam bendizer aqueles
que os maldiziam (Lc. 6:28; Rm. 12:14).
Tiago declara a incompatibilidade entre um coração puro e palavras impuras, comparando-a
primeiro com uma fonte de água, que numa terra seca como a Palestina, era algo muito importante.
Mas da mesma fonte não pode fluir água doce e salgada (ou amarga). Compara também com as
plantas: “pode a figueira produzir azeitonas, ou a videira produzir figos?”. Da mesma forma não pode
o coração puro produzir palavras falsas, amargas e nocivas.
A verdadeira e a falsa sabedoria (3:13–18)
Tiago inicia esta seção com uma pergunta que é um desafio: “Quem entre vós é sábio e entendido?”.
Se você é sábio demonstre sua sabedoria pelas obras que a verdadeira sabedoria produz. Ele
considera a “sabedoria” uma virtude à disposição de todos (Tg. 1:5), e mesmo em Tg. 3:1 realmente
não se dirige a mestres, mas àqueles que queriam se tornar mestres. Sua exortação é melhor
entendida como se fosse dirigida a todos os cristãos, em geral, mas especificamente àqueles que se
orgulhavam de seu conhecimento superior.
Tiago adverte que devem estar “em mansidão de sabedoria”, o que deve ser entendido como
um qualitativo de obras, sendo estas aplicadas em mansidão. Para os gregos, mansidão sugeria um
rebaixamento servil e ignóbil. Mas Jesus, que pessoalmente foi manso (Mt. 11:29), pronunciou a
bênção sobre aqueles que fossem mansos (Mt. 5:5). Tal mansidão cristã envolve uma compreensão
sadia acerca de nossa falta de méritos diante de Deus e uma respectiva humildade e falta de orgulho
no trato com nossos semelhantes.
O oposto de mansidão é “inveja amargurada e sentimento faccioso”. Inveja, é sempre uma
coisa má. O sentimento faccioso é praticado por aqueles que se orgulham em sabedoria e
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conhecimento pessoais e que demonstram um partidarismo invejoso e amargo. De modo um tanto
quanto irônico, Tiago compara este tipo de sabedoria com a que “desce lá do alto”.
As Escrituras deixam bem claro que a verdadeira sabedoria, procede somente de Deus. “... O
Senhor dá sabedoria” (Pv. 2: 6). É por isso que só a obtemos se a pedirmos a Deus (Tg. 1:5). A
“sabedoria” que se expressa em egoísmo e inveja tem natureza e origem bem diferentes. Tiago a
descreve com três adjetivos:
É terrena – Não é celestial. Pode ter também significados negativos, descrevendo aquilo que é
transitório, fraco e imperfeito.
É animal – É apontado várias vezes nas Escrituras como aquilo que não é espiritual.
É demoníaca – Literalmente, “pertinente a demônios”.
Tiago define a sabedoria “lá do alto” com sete adjetivos:
É primeiramente “pura” - A palavra “pura”, tem a conotação de irrepreensibilidade moral,
talcomo a castidade imaculada de uma noiva virgem (2 Co. 11:2).
É pacífica – O Antigo Testamento nos ensina que a sabedoria produz paz (Pv. 3:17) e Paulo
alista “paz” como fruto do espírito.
É indulgente – Ser indulgente é ser bondoso, pronto a se submeter, indisposto a “fazer
exigências rigorosas”.
É tratável – A pessoa tratável é alguém que, literalmente, é “facilmente convencido”, não no
sentido de uma ingenuidade fraca e crédula, mas de uma deferência espontânea a outros, quando não
se envolve princípios morais ou teológicos inalteráveis.
É plena de misericórdia e de bons frutos – Misericórdia é o amor ao próximo evidenciado em
ações (Tg. 2:8–13). Atos de misericórdia são aqueles “frutos” que a genuína sabedoria, assim como a
fé legítima, deve produzir.
É imparcial – É aquele que não demonstra preconceitos, nem faz acepção de pessoas.
É sem fingimento – Ela é genuína, “sem exibições ou pretensões”.
Para dar um bom desfecho na questão da sabedoria, Tiago ressalta sua natureza pacífica. Isto
dá ênfase ao desejo de Tiago de erradicar as amargas e contenciosas discussões e disputas que
estavam despedaçando a igreja (Tg. 3:16; 4:1; 2). A paz produzida pela sabedoria genuína estava
claramente ausente. Os pacificadores produzem, na atmosfera de paz que eles criam, “o fruto da
justiça”. Aqueles que criam tal atmosfera recebem do Senhor a certeza da recompensa: “Bem-
aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus (Mt. 5:9).
CAPÍTULO 4
Os prazeres malignos são fontes de dissensões (4:1–3)
Tiago inicia esta seção exortando e questionando seus leitores: “De onde vem as guerras e
contendas entre vós?”. Se a sabedoria de Deus se encontra entre os pacificadores, as “guerrilhas
comunitárias” não procedem dos amantes da paz. Mas as questões dentro da igreja – “entre vós” –
são guerra civil e não defesa nacional.
Descrevem-se também vividamente os resultados do fracasso desses cristãos. Tiago discute
com maiores minúcias este problema. Ele afirma: “seja qual for o objetivo, o desejo é a origem do
pecado e do conflito”. Salienta ainda as conseqüências do desejo frustrado: “Não podeis obter o que
desejais”. Em vez de reexaminar seus desejos, a pessoa por eles aprisionada, lança mão da calúnia e
do abuso verbal contra os que foram atendidos em seus pedidos.
Estes cristãos poderiam responder que na verdade oram, mas parece que a oração não produz
efeitos. A resposta de Tiago a eles é: “Pedis e não recebeis porque pedis mal”; há um motivo
ponderável para a oração não funcionar: pedis mal, isto é, a motivação é errada. A oração no Novo
Testamento cresce do relacionamento com um Pai cuja bondade é suprema. O que Tiago nos aponta
é que tais cristãos não estão sintonizados com Deus. Eis a razão: “pedis... para o gastardes em vossos
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prazeres”. A implicação não é que Deus nunca nos concede coisas que nos dão prazer. Nosso Deus é
o Deus misericordioso que nos dá não apenas pão e água, mas também abundância “segundo as suas
riquezas” (Fp. 4:19). Sendo motivados por desejos egoístas, estes cristãos pediam somente para
satisfazer seu ego.
Depois de analisar-lhes, Tiago acrescenta uma acusação: “adúlteros e adúlteras”. Essas
pessoas foram comparadas ao povo de Israel. A igreja é a noiva de Cristo, assim como Israel a noiva
de Deus (2 Co. 11: 2; Ef. 5: 22–24; Ap. 19:21). Quando se voltava à idolatria, Israel não se
afastava de Deus, mas queria praticar um “sincretismo”. E por isso Israel era sempre comparado a
uma esposa infiel, adúltera, que desejava manter a segurança e a respeitabilidade de seu lar e do
marido, mas também desejava usufruir do amante (Is. 1: 21; Jr. 3; Os. 1:3). Tiago aplica essa imagem
à igreja, acusando-a de servir a certo tipo de “ídolo” e simultaneamente a Deus. É fácil identificar o
“ídolo”: “ é o mundo”. “Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade com Deus?” Portanto
qualquer que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus.
Um chamado ao arrependimento (4: 4 – 10)
“Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (v.4), aqui
Tiago apresenta que o envolvimento com o sistema do mundo é infidelidade. Tiago diagnostica sem
pestanejar que essa forma de infidelidade como “apostasia”, é a mesma doença do Antigo
Testamento. “Querem ser amigos do mundo”, tornam-se inimigos de Deus e Ele não aceitará menos
do que total fidelidade.
Além de condená-los por seu comportamento, Tiago acrescenta uma advertência: “ou
pensais que em vão diz a Escritura que...” Quando o povo corrompe seu espírito para servir ao
mundo, o ciúme de Deus se inflama. Ai da pessoa que ignora a advertência divina, como se as
Escrituras fossem apenas papel e tinta. Tiago infunde no povo, esperança em vez de terror: “antes,
ele nos dá graça maior”. Está consciente do juízo de Deus sobre os que se recusam a arrepender-se
(Tg. 5:1–6), mas também está consciente de como Deus está disposto a perdoar.
A prova desta verdade também se encontra nas Escrituras: “portanto, diz a Escritura:
Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Pv. 3:34). Este é um dos textos prediletos da
tradição cristã ética, e proporciona ao povo a possibilidade de uma escolha: pode humilhar-se e
receber graça de Deus, ou pode prosseguir em sua auto-suficiência humana e sofrer a ira de Deus. A
atitude de Deus não é baseada em pecados do passado, mas pelo atual estado de coração de seu povo.
O Deus de Tiago é o Deus benevolente das Escrituras.
Visto que Deus é misericordioso, Tiago chama ao passo seguinte: “arrepender-se”.
“Sujeitai-vos pois a Deus”, é o ponto principal. Não há graça barata, nenhum perdão de pecados se o
pecador pretende continuar pecando. Contudo, em havendo sujeição a Deus, a graça está disponível.
O próximo passo é deixar de agradar ao diabo: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Tiago
demonstra que, embora o impulso para pecar seja interno, ceder a ele é entregar-se ao diabo. Os
evangelhos são claros neste ponto (Mt. 4:1–11; Mc. 8:28-34; Lc. 22:31; Jo. 13:2; 27). Todavia, o
diabo não exerce poder sobre o cristão, exceto o poder da sedução. Quando resistimos ao diabo, ele
se comporta como o fez diante de Jesus, no deserto – foge.
Arrependimento total significa purificação. Há promessa e ao mesmo tempo,
exigência na convocação “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós”. No Antigo Testamento temos
esta chamada em Ml. 3:7 e em Zc. 1:3. Tiago continua: “lavai as mãos pecadores”. O culto no Antigo
Testamento exigia mãos cerimonialmente puras (Ex. 30:19–21). Esses cristãos não estão preparados
no momento para o culto, porque estão em pecado. O termo “pecadores” é forte, pois Tiago não
aceita desculpas.
Tiago deixa agora o comportamento de lado e trata do problema interior, ao exigir: “Vós de
ânimo duplo, purificai os corações”. Tiago já declarou que Deus não quer repartir tais crentes com o
mundo; Ele os deseja para si, com exclusividade total (Tg. 4:4). Pelo que é preciso que os cristãos se
purifiquem por dentro, eliminem os motivos mundanos e busquem somente a Cristo e seu reino.
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O arrependimento adequado mostra sinais característicos. No íntimo, esses cristãos,
vão perceber seu estado: “senti as vossas misérias”; haverá no coração deles um sentimento de dor
que se exprimirá nestas palavras: “ai! Que é que eu fiz?” Esta tristeza se expressa externamente:
“lamentai e chorai”. A lamentação é tão natural que qualquer outra reação seria inadequada:
“converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza”. Esta ordem pode ter sido
originada nas palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt.
5:4). Ou, “ai de vós, os que agora rides! Pois vos lamentareis e chorareis” (Lc. 6:25). Sem verdadeiro
arrependimento agora, o futuro é sombrio, mas com arrependimento, não haverá choro mais tarde.
Finalmente, surge a esperança; quando os pecadores se humilham diante de Deus,
“humilhai-vos perante o Senhor”, entristecidos na verdade por causa do pecado, a aceitação da parte
de Deus é garantida: “ele vos exaltará” (Tg. 4:6). Esta metáfora ocorre no Antigo Testamento para
ilustrar a ação divina na restauração do destino dos pobres: “Ele põem os humildes num lugar alto, e
os que choram são levados para a segurança” (Jó 5:11). Tampouco rejeitará Deus a esses cristãos,
que se arrependerem de seus pecados e os abandonarem.
A maledicência é proibida (4:11, 12)
Tiago emite um novo mandamento de imediato: “não faleis mal, uns dos outros”,
ficando definido que “falar mal” é “julgar a seu irmão”. Ele percebeu que havia cristãos falando mal
uns dos outros. Não importa se as acusações são verdadeiras ou falsas, divulgá-las a pessoas que não
estão envolvidas na situação vai destruir a harmonia da comunidade. Criticar outra pessoa não é amá-
la, tampouco é o modo pelo qual queremos ser tratados. Portanto criticar alguém implicitamente é
criticar a própria lei.
Para combater este tipo de prática, Tiago declara: “há um só legislador e juiz”.
Ensinou-nos Jesus, que só Deus tem autoridade para julgar (Jo 5:22; 23; 30), e todo judeu sabia que
foi Deus quem outorgou a lei. “Tu , porém, quem és, que julgas ao próximo?” Se foi Deus quem
outorgou a lei, e se só Deus é juiz, como ousa alguém estabelecer-se como juiz?
A arrogância é condenada (4:13, 17)
Tiago imprime nova direção a seu pensamento: “Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá
passaremos um ano, negociaremos e ganharemos”. Ele fala da classe social das pessoas que planejam
viajar para realizar sua atividade profissional: o comércio. Continua dizendo que qualquer homem
de negócios honesto planejaria suas atividades mercantis exatamente da mesma maneira; quer pagão,
quer cristão, quer judeu. Nada se declara, a respeito de seus desejos quanto ao futuro, ao uso que
farão do dinheiro, ou quanto à sua maneira de negociar, que se pudesse afirmar ser diferente do resto
do mundo. Ainda que sua forma de prestar culto ao Senhor seja exemplar, mas no que concerne a
negócios, pensam exclusivamente de acordo com os padrões do mundo.
Tiago prossegue: “Ora não sabeis o que acontecerá amanhã”. De fato, a vida é eminentemente
efêmera: “o que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece”. Os
planos estão traçados; as projeções lançadas. Todavia, tudo gira em torno não da vontade deles, mas
sim da vontade de Deus, que não foi nem consultado no planejamento. Ao pensarem unicamente
numa esfera mundana, os negociantes cristãos da carta de Tiago tinham uma falsa sensação de
segurança. Era preciso que encarassem a morte, e percebessem que não tinham nenhum controle
desta vida.
Aqueles que não descansam em falsa segurança mas que elevam o pensamento ao nível mais
alto, dizem: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. O que Tiago quer ensinar é
que não se deve simplesmente esperar que o Senhor faça, mas deve-se fazer juntamente com Ele.
Desta forma cada plano é avaliado segundo os padrões de Deus e levado a Ele em oração para que se
ouça as idéias Dele à respeito. Mas aqueles cristãos estavam longe de planejar em espírito de
oração, a eles Tiago disse: “Vós vos jactais das vossas presunções”. Ora toda jactância, tal como esta
é maligna, porque rouba de Deus o direito honroso que lhe cabe como Senhor soberano, e exalta o
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mero homem como se este fora Deus. Todo e qualquer plano concebido fora da vontade de Deus,
sem o discernimento da oração, não é tolice apenas, é grave pecado.
Para resumir este pensamento, Tiago acrescenta um provérbio: “Aquele, pois, que sabe o bem
que deve fazer e não o faz, comete pecado”. Tendo falado a cristãos cujos corações estavam
seduzidos pelo mundo, Tiago dirige a atenção, a seguir, aos incrédulos ricos. Ele os critica de forma
direta, com linguagem parecida com a do Senhor Jesus (Lc. 6:20–26), buscando desviar os cristãos
da sedução da riqueza.
CAPÍTULO 5
Os que fazem mal uso das riquezas serão condenados (5:1–6)
Tiago inicia este capítulo falando no tom dos profetas do Antigo Testamento: “chorai”e
“uivai”. Normalmente estas palavras eram usadas para descrever a reação dos perversos quando
chegar o dia do Senhor, o que denota julgamento. É certo que a enumeração que Tiago faz dos
pecados dos ricos, que ele condena, mostra que, aqui este também é o caso. É obvio que Tiago não
pretende lançar julgamento sobre todos os ricos, mas sobre aqueles que fazem mau uso da riqueza.
Tiago lança advertências contra os ricos:
A primeira advertência contra os ricos tem a ver com suas riquezas corruptas.
A segunda advertência contra os ricos é mais específica: eles defraudaram o pagamento dos
trabalhadores. A última advertência contra os ricos é que eles têm “condenado e matado o justo”.
Estimulando a paciência e a perseverança (5:7–11).
Tiago faz referência ao Sl 37 que é um maravilhoso cântico de ânimo dirigido ao justo.
Escreve aos justos, principalmente aos pobres, que estavam sofrendo em circunstâncias semelhantes.
O conselho é o mesmo do salmista: “sede pacientes, pois a ”vinda do Senhor”, quando os ímpios
serão julgados (5:1–6) e os justos libertados, está próxima”.
Tiago incentiva a paciência até a vinda do Senhor. Como exemplo de paciência, Tiago
menciona o “lavrador” que aguarda com paciência que a terra produza o precioso fruto do qual
depende sua subsistência. Como o agricultor que espera pacientemente a semente germinar e a safra
amadurecer, os cristãos devem esperar com paciência a volta do Senhor que os libertará e julgará
seus opressores. Enquanto esperam eles precisam fortalecer seus corações.
Tiago não quer dizer que a paciência no sofrimento sempre será recompensada com
prosperidade material. Ele procura incentivar nossa firmeza fiel e paciente na aflição lembrando-nos
das bem-aventuranças que recebemos de nosso Deus compassivo e misericordioso, em troca de tal
fidelidade.
Os juramentos (5:12)
O juramento que Tiago proíbe aqui é o ato de invocarmos o nome de Deus, ou um substituto
dele, para garantirmos a veracidade daquilo que dizemos. No Antigo Testamento, Deus é apresentado
muitas vezes garantindo com um juramento o cumprimento de suas promessas. A lei não proíbe os
juramentos, mas exige que a pessoa seja fiel a qualquer juramento que fizer. (Lv. 9:12). Jesus exigiu
de seus discípulos que de “modo algum” jurassem (Mt. 5:34). Quando comparamos Mt. 5:34–37 com
Tg. 5:12 vemos que o autor está conscientemente reproduzindo aquela tradição.
A oração e a cura (5:13–18)
Tiago exorta os cristãos a orarem em casos de sofrimentos e a cantarem quando estiverem
contentes.
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Outra situação onde a oração deve ser proeminente é na doença. Tiago orienta que os
enfermos devem chamar os presbíteros da igreja, para que façam oração sobre eles, ungindo-os com
óleo. A partir das informações sobre os presbíteros em Atos e da descrição do ofício nas Epístolas
pastorais, chega-se à conclusão que os presbíteros eram homens espiritualmente maduros,
responsáveis pela supervisão espiritual de cada congregação local. Esta oração deve ser
acompanhada de “unção com óleo”, e esta deve ser realizada “em nome do Senhor”, representando a
autoridade divina com a qual se pratica a unção.
Apesar da “unção com óleo”, a principal preocupação de Tiago é a oração. Isto é refletido
pelo fato de Tiago atribuir a cura prevista à oração dos presbíteros, não à unção. “A oração da fé
salvará o enfermo, e seus pecados ser-lhe-ão perdoados”. Esta fé, mesmo incluindo a idéia de
confiança na capacidade que Deus tem de responder, também envolve uma confiança absoluta na
perfeição da vontade de Deus.
Como conseqüência da promessa de que Deus responde à oração (Tg. 5:14, 15a) e perdoa
pecados (Tg. 5:15b), os cristãos devem se comprometer a confessar seus pecados uns aos outros e
orar uns pelos outros. A mútua confissão de pecados, que Tiago incentiva como uma prática habitual,
é altamente benéfica para a vitalidade espiritual da igreja. Uma vez que o propósito da confissão e
oração é a cura física, é melhor entender que se a confissão não é sincera pode colocar obstáculos à
cura, e as orações. E, embora seja apropriado que aquelas pessoas encarregadas da supervisão
espiritual da comunidade sejam chamadas para interceder pelos seriamente enfermos. Tiago deixa
claro que “todos” os cristãos tem o privilégio e a responsabilidade de orar pela cura.
O poder da oração não está limitado aos “super-santos”; o justo designa apenas uma pessoa
sinceramente comprometida com Deus e que, de coração, busca fazer a sua vontade. Como exemplo
de um homem justo de quem Deus ouviu as orações, Tiago cita Elias. O profeta cujos feitos foram
tão espetaculares e foi transladado ao céu, era uma das figuras mais populares entre os judeus. Ele era
exaltado por seus milagres poderosos e denúncias proféticas do pecado.
Contudo o que Tiago quer ressaltar em ralação a Elias não são os dotes proféticos especiais,
nem seu lugar único na história, mas sim o fato de que mesmo sendo “homem semelhante a nós”, sua
oração teve grande eficácia.
Uma chamada final à ação (5:19–20)
Tiago conclui sua carta não com as saudações e bênçãos típicas dos encerramentos
epistolares, mas com uma chamada à ação. Ele lhes falou em sua carta acerca de muitos problemas:
falar pecaminoso, desobediência, despreocupação com os outros, mundanismo, brigas, arrogância.
Agora, ele incentiva cada cristão a tomar a iniciativa de trazer de volta à comunhão com Deus e com
a comunidade qualquer pessoa que tenha se “desviado da verdade” de alguma daquelas formas.
Os leitores de Tiago não devem estar profundamente preocupados com que outras pessoas
também as “pratiquem”. Participando da convicção de Tiago de que, de fato, existe uma morte
eterna, à qual o caminho do pecado conduz, devemos estar motivados a lidar com o pecado em nossa
vida e na vida de outras pessoas.
Exercício de Fixação - Unidade I
1) Responder:
Por ser mais prática que doutrinária, como é considerada esta Epístola?
a) Lâmpada para os meus pés, e luz para os meus caminhos.
b) É o guia prático para a vida e conduta cristãs.
c) A solução para as dificuldades da igreja.
d) Solução para os problemas pessoais dos membros.
2) Se esta Epístola fosse entendida de forma correta, o que ela poderia harmonizar?
a) O Judaísmo e o gnosticismo b) O paganismo e o cristianismo
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c) O cristianismo e o judaísmo d) O gnosticismo e o paganismo.
3) Quem era o líder da igreja de Jerusalém?
a) Pedro b) Paulo c) João d) Tiago
4) Qual das características a seguir não corresponde a Tiago, o justo?
a) Foi de Jope a Cesaréia b) Era estimado pelos judeus de sua comunidade
c) Era um homem de oração d) Era respeitado por sua santidade de vida.
5) Segundo o historiador Flávio Josefo, como foi a morte de Tiago?
a) Foi decapitado b) Foi apedrejado c) Foi jogado aos leões d) Foi crucificado
II Unidade - I Epístola de Pedro
O APÓSTOLO DA ESPERANÇA
AUTORIA
Tendo presentes os dados da epístola, o autor é Pedro , “apóstolo de Jesus Cristo” (1:1),
“ancião”, “testemunha dos sofrimentos de Cristo” (5:1), que escreveu sua carta “por meio de
Silvano” (5:12), tendo junto a si Marcos , seu “filho” (5:13). A atribuição da epístola ao apóstolo
Pedro é confirmada pela tradição: a segunda epístola de Pedro, um dos escritos mais tardios do Novo
Testamento , já dá testemunho disso (2. Pe 3:1); mais tarde, Irineu, Tertuliano e Clemente de
Alexandria apontam o apóstolo Pedro como autor desta epístola. A isto tudo acresce o fato que,
segundo o historiador Eusébio, Papias atesta, nos inícios do século II, uma relação estreita entre o
apóstolo Pedro e Marcos , autor do segundo evangelho (cf. também At. 12:12).
Embora, de vez em quando seja colocada em dúvida quem foi o autor desta Epístola, a
opinião mais aceita sempre foi que este é um escrito original do apóstolo Pedro, aquele mesmo que
conhecemos através dos Evangelhos e de Atos dos Apóstolos. Não temos dúvidas ao
concluir que esta Epístola é obra de Pedro, portadora de sua autoridade e testemunhos apostólicos, ao
passo que a forma literária da mesma leva a contribuição de Silvano.
ONDE FOI ESCRITA
À vista da declaração em 1 Pe. 5:13, a Epístola foi escrita em “Babilônia”. Nos tempos
apostólicos conheciam-se duas cidades com este nome:
Uma ficava no Egito, sendo provavelmente um posto militar do Império Romano, no local onde é
hoje a cidade do Cairo.
A outra é a Babilônia do Eufrates, onde judeus em número considerável, ainda moravam.
Muito se tem escrito a favor e contra este parecer. Forte objeção a este ponto de vista diz que não
havia nem notícia e nem tradição de que qualquer dos apóstolos, salvo Tomé, ter estado na
Mesopotâmia.
Uma terceira opinião é que o termo “Babilônia” é empregado como símbolo de Roma. Roma
é chamada Babilônia em Ap 17 e 18, assim como, em Ap. 11:8. Na mente de Pedro, a Roma dos seus
dias lembrava a antiga Babilônia em riqueza, luxúria e licenciosidade. Este termo também pode ser
usado como motivo de prudência, pois em caindo em mãos de funcionário romano, este lendo o
escrito se ofenderia e aconteceriam, com certeza, sanções contra os cristãos. Esta explicação era
aceita universalmente na era cristã primitiva e ainda hoje se tem como a mais plausível.
DESTINATÁRIOS
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A epístola contém poucas indicações que permitam a identificação precisa dos seus
destinatários. No primeiro versículo da carta, Pedro a destina “aos forasteiros da Dispersão, no Ponto,
Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. “Os eleitos que vivem como estrangeiros na dispersão" (1 Pe.
1:1). Originalmente, este termo "dispersão" ou "diáspora" se aplicava aos judeus que residiam fora da
Palestina , o que permitiria supor, à primeira vista, que aqui se trate de judeus-cristãos. Na realidade,
esse termo é muito provavelmente empregado simbolicamente para indicar os cristãos dispersos no
mundo (1 Pe. 2:11), de origem majoritariamente pagã. Com efeito, a alusão ao seu antigo modo de
vida corresponde melhor a ex-gentios do que a judeus (1 Pe. 1:14; 18; 4:3). Todavia, eles já estavam
familiarizados com a Sagrada Escritura, como prova o uso freqüente de citações do Antigo
Testamento na epístola.
As comunidades a que se destinava a epístola tinham, na sua maior parte sido fundadas
durante a missão paulina, ou seja, se não diretamente pelo próprio Paulo, ao menos por seus
colaboradores que se espalharam pelas diversas províncias da Ásia Menor, a partir dos principais
centros (conforme o exemplo de Epafras, que levou o Evangelho para Colossos, Cl. 1:7). Porque
Pedro escreveria para eles? Isso faz com que alguns entendam que, quando essa Epístola foi
produzida, Paulo já teria morrido. O fato de Silvano e Marcos, antigos companheiros de Paulo,
estarem com Pedro também reforça essa hipótese.
Na epístola, a organização dos ministérios é menos elaborada do que nas epístolas pastorais
e se amolda melhor a uma época relativamente antiga da vida da Igreja primitiva; mencionam-se
apenas os anciãos (1 Pe. 5:1-4) e, indiretamente, os diáconos (1 Pe. 4:11). Com relação à condição
social, os membros dessas comunidades, de modo geral, deviam ser humildes, como atesta a
passagem especialmente desenvolvida sobre o modo de se comportarem os servos ou escravos (1 Pe.
2:18-25). Os destinatários estavam distribuídos em comunidades cristãs, gente que passou
pela experiência de um “novo nascimento” pela fé em Jesus Cristo (1 Pe. 1:3, 23), e que está ligada á
sua aceitação ao evangelho que lhes fora pregado (1 Pe. 1:12, 22, 25). Tal evento marcou,
decididamente, uma ruptura nas suas vidas, de sorte que agora se pode falar de um “outrora sem
Cristo” e de um “mas agora ... com Cristo”.
DATA DA EPÍSTOLA
As perseguições aos cristãos, na segunda metade do primeiro século se tornaram tão comuns
que as palavras de Pedro poderiam aplicar-se a qualquer década deste período. Pouco aproveita,
portanto, procurar deduzir de seus termos, e de sua mensagem, com alguma exatidão, a data da
Epístola.
Porém, em I Pe. 1:1, Pedro dirige-se aos seus leitores chamando-os “eleitos, forasteiros da
dispersão”, nas regiões que menciona. O uso do termo “dispersão” indica que os cristãos a quem
Pedro escrevia, davam valor à sua nacionalidade judaica e gozavam dos muitos privilégios que os
romanos tornaram extensivos aos judeus.
Ora, Pedro ensina claramente que aos cristãos cumpre estar sujeitos a toda ordenação
humana por amor ao Senhor e considerar as autoridades civis como divinamente designadas para
governá-los (I Pe. 2:13–17). Tal exortação não seria feita depois, senão antes que a perseguição de
Nero os alcançasse. Sendo assim a carta deve ter sido escrita antes do verão de 64 A. D.
CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA
O livro é exortativo, consolador, cristológico, "cristocêntrico". Observamos que Tiago quase
não cita Jesus em sua carta. Pedro, porém, cita-o a todo momento. Aquele que o havia negado, agora
tem no seu nome a base de sua doutrina. Pedro apresenta Jesus como:
Fonte de esperança – I Pe. 1:3 / Cordeiro do sacrifício – I Pe. 1:19.
Pedra angular – I Pe; 2:6 / Exemplo perfeito – I Pe. 2:21-23.
Aquele que levou nossos pecados – I Pe. 2:24. / Sumo Pastor – I Pe. 2:25.
Bispo das nossas almas – I Pe. 2:25. / Aquele que está assentado à destra de Deus – I Pe. 3:22.
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ESTILO LITERÁRIO
A atenção de numerosos críticos tem sido despertada pelas alusões ao batismo que aparecem,
em particular, nos três primeiros capítulos da epístola. Além disso, alguns julgaram poder distinguir
uma mudança de atmosfera a partir de I Pe. 4:12, os sofrimentos já não são considerados como mera
possibilidade, mas, como realidade atual (I Pe. 4:12; 5:9; 2:20; 3:14, 17). Com fundamento em tais
constatações, têm sido emitidas várias hipóteses a respeito do gênero literário e da unidade da
epístola, encarecendo principalmente sua origem litúrgica. Uns pensam que ela reproduz uma liturgia
batismal (I Pe. 1:3; 4:11), à qual se teria ajuntado um escrito mais tardio, destinado a confirmar os
batizados na fé (I Pe. 4:12; 5:14). Outros não dão maior importância às diferenças notadas entre I Pe.
1:3; 4:11; 4:12; 5:11, e consideram I Pe. 1:3–5, 11 como uma homilia batismal, à qual se teria
conferido o caráter de uma epístola pelo acréscimo de I Pe. 1:1-2; 5:12-14. Por fim, pretendeu-se ver
em I Pedro uma liturgia da semana pascal.
Portanto, não há como pôr em dúvida a natureza epistolar e a unidade de 1 Pedro . A
epístola está solidamente enraizada em toda uma tradição catequética comum à Igreja primitiva. O
final (I Pe. 5:12) lhe define exatamente o escopo: exortar e fortalecer na fé cristãos cujo zelo corria o
risco de esmorecer, e cuja coragem estava sendo posta à prova por diversas tribulações. Neste intuito,
o autor se refere a ensinamentos que esses cristãos já tinham ouvido por ocasião da sua conversão e
do seu batismo. Esta Epístola não se mostra tão hábil na retórica como a de Tiago, mas evidencia
conhecimento sobre os artifícios retóricos do grego. A Epístola contém menor número de hebraísmos
do que os escritos de Paulo, e os supostamente identificados aparecem em I Pe. 1:13; 14; 17; 25; 3:7.
De forma geral o autor sagrado usa de graça, liberdade e dignidade em sua linguagem, e
freqüentemente com precisão refinada. É obvio, portanto que Pedro, o apóstolo não poderia ter
escrito esta Epístola pessoalmente, mas os escritos tem o toque de Silvano que era escriba e foi o
amanuense dela. Silvano era um judeu, um cidadão romano, escolhido para a delicada tarefa de
explicar as resoluções tomadas pelo concílio de Jerusalém (At. 15:22) para igrejas gentílicas de áreas
remotas, portanto era um homem de considerável habilidade. Era um obreiro devotado, que
trabalhava em áreas gentílicas. Portanto, deveria ser um homem que dominava o idioma grego.
MOTIVO E PROPÓSITOS
Há muitas alusões a perseguições nesta Epístola, considerando-se sua brevidade. Torna-se
óbvio que tais perseguições foram o motivo da escrita desta Epístola. O escritor sagrado queria
fortalecer os cristãos da Ásia Menor, para poderem enfrentar as tribulações que já sofriam e
preparando-os para os testes ainda mais severos no futuro (1 Pe. 4:12), e para todo tipo de oposição
que enfrentariam. Também queria que se mostrassem firmes em sua lealdade cristã mostrando-lhes
que o próprio Cristo foi perseguido.
O alvo do autor desta breve Epístola, é exclusivamente prático. Seus leitores não deveriam
perder de vista o grande prêmio; através de seu amor e pureza deveriam avançar e propagar o poder
do Evangelho, provocando a admiração de seus adversários. O verdadeiro cristão é distinguido
melhor em período de grande sofrimento.
PROPÓSITO DA CARTA - FIRMAR, ORIENTAR, CONFORTAR.
Para os irmãos atribulados, Pedro oferece uma palavra de esperança, menciona os
fundamentos da fé cristã e o que Deus tem para nós no futuro. Quando as tribulações se multiplicam,
é bastante oportuno que essas verdades sejam mencionadas para renovação da fé e do ânimo. A obra
de Cristo no passado (I Pe. 1:3) e a herança cristã no futuro (I Pe. 1:4-5) são mencionadas como
estímulo para se enfrentar as dificuldades presentes (1 Pe. 1:6).
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Em tais circunstâncias, é necessário que nos lembremos de quem somos. Nossa identidade
pode estar sendo questionada pelos homens, pelo diabo (Mt. 4.2) ou até mesmo por nós mesmos.
Pedro então enfatiza essa realidade espiritual que, muitas vezes, é desafiada por uma realidade
aparente adversa. Ele utiliza enfaticamente o verbo ser: "Não éreis povo..."; "Agora sois... povo de
Deus, geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido..." (I Pe. 2:9-10). "Sois guardados,
mediante a fé, para a salvação." (I Pe. 1:5). "Sois edificados como casa espiritual." (I Pe. 2:5). O
autor lembra aos seus leitores o que Cristo fez por eles (I Pe. 1:2; 3:19; 2:5-21; 3:18). Nos momentos
difíceis é bom lembrarmos o que Jesus fez por nós e qual é o nosso vínculo com ele. O inimigo
procura colocar tudo isso em dúvida na hora da tentação.
TEMAS PRINCIPAIS
O tema predominante, que também sugere quase todos os demais, é o do sofrimento do
cristão (I Pe. 1:6; 2:12-15; 4:12; 5:9). Vamos considerar os seguintes pontos em relação aos temas:
1) Podemo-nos regozijar nos sofrimentos (1Pe. 1:6);
2) Isso traz honra e glória a Cristo, através da prova da purificação da fé (I Pe. 1:7);
Isso resulta em alegria inexprimível e cheia de glória (I Pe. 1:8);
Isso resulta em vida eterna, a salvação da alma (I Pe. 1:9);
A própria morte, mediante a perseguição, não é fatal: Deus ressuscitou a Cristo, e Ele
também nos ressuscitará após a purificação de nossas almas (I Pe. 1:21-22);
Seja como for, toda carne é apenas “erva” e através da perseguição, ou de outro modo, logo haverá
de perecer (I Pe. 1: 24-25);
Mas a Palavra de Deus, o Evangelho, não pode perecer, como também não podem perecer
aqueles que confiam nessa Palavra (I Pe. 1:25);
O próprio Jesus, a despeito de toda a sua grandeza e valor, não pode evitar o sofrimento (I
Pe. 2:6), antes, seus sofrimentos foram vicários e expiatórios, o que lhes dá imenso valor, assim
também os sofrimentos do cristão podem revestir-se de valor (I Pe. 2:21);
O sofrimento nos mostra que precisamos ser estrangeiros e peregrinos neste mundo, pois a
terra não oferece habitação segura (I Pe. 2:12);
Os sofrimentos de Cristo levaram o Evangelho até as almas perdidas no hades (I Pe. 3:18;
4:6).
O sofrimento serve-nos de lição moral que nos ensina a rejeitar os pecados da carne, pois é o
princípio do pecado que produz desastres, bem como os atos desumanos dos homens (I Pe. 4:1);
Os sofrimentos humanos podem ser uma participação nos sofrimentos de Cristo, mas devem
ser sofridos apenas porque o cristão participa de sua santidade e não porque merece os maus-tratos
devido a uma vida depravada (I Pe. 4:12);
Os anciãos da igreja local, particularmente, deveriam estar prontos a sofrer pelo rebanho, tal
como fez o Grande Pastor (I Pe. 5:1);
Satanás está por detrás de homens ímpios desvairados, ele é o inspirador das desumanidades
deles. Resistamos ao diabo, (I Pe. 5:8);
Haverá um fim de todos os sofrimentos do cristão, porquanto Deus nos chamará para a vida
eterna (I Pe. 5:10), e haveremos de finalmente triunfar, contra todos os obstáculos (I Pe. 5:11).
A vida cristã conforme a primeira Epístola de Pedro. Muitas vezes ignorou-se o valor todo
especial da mensagem de I Pedro . Ora, este valor aparece com toda a clareza desde que se leve em
conta a situação visada pela epístola. Para o autor não se tratava mais de lançar os fundamentos da fé,
que já tinham sido ensinados aos leitores destinatários do escrito (1:12). Tratava-se bem pelo
contrário, diante das crescentes dificuldades experimentadas pelas comunidades cristãs, de exortá-las
à perseverança, em razão mesmo da esperança que lhes fora pregada. Para tal fim, o apóstolo orienta
as atenções de seus leitores em direção a Cristo , a fim de que eles tomem (ou retomem) consciência
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do poder da vida nova que nele está (1:3; 2:2); ademais, insiste sobre a natureza vitoriosa da
esperança recebida, fonte de uma atividade perseverante e radiosa na vida de cada dia.
A este propósito, é preciso ressaltar que a cristologia da epístola se assemelha mais à
apresentada no início dos Atos, especialmente nos discursos de Pedro, que à de Paulo (p. ex., o tema
do servo sofredor, conforme as citações acima; a função do batismo , At 2:38-40 e I Pe. 3:21; cf.
igualmente At. 2:31 e I Pe. 3:18). Note-se ainda que se encontram ecos de várias confissões de fé ou
hinos da comunidade cristã (p. ex. 2:22-24; 3:22; 4:5).
Aos cristãos de todos os tempos, a epístola recorda o que implica “a esperança viva”, que é a
deles em Jesus Cristo, a adesão confiante ao Senhor vitorioso, junto com uma atividade construtiva a
seu serviço.
CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA
Esta é essencialmente a Epístola da esperança, esperança viva, fundada e firmada na
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. É portadora da certeza de uma herança gloriosa,
descrita como sendo incorruptível, incontaminada e imarcescível. Pedro coloca estes pensamentos,
acerca da viva esperança e da herança gloriosa, no princípio de sua carta, para encorajar seus
companheiros de fé com as consolações do Evangelho, a fim de que permaneçam firmes no dia da
prova de fogo, suportando pacientemente seus sofrimentos e triunfando sobre as perseguições,
aflições e tentações.
ESBOÇO DOS CAPÍTULOS
I Pedro trata de aspectos relativos à graça de Deus:
A graça de Deus e o caráter de Deus – Esperança, santidade e amor fraternal – Capítulo 1
A graça de Deus e as relações – Autoridades civis, empregados e igreja – Capítulo 2
A graça de Deus e o sofrimento justificado – O exemplo de Cristo – Capítulo 4
CAPÍTULO 1
1. Saudação (1:1–2)
É evidente que se tratava de alguém bastante conhecido, pois não é necessária mais
nenhuma explicação sobre a sua pessoa. O autor se apresenta como “apóstolo”. O termo é usado num
tom mais ou menos solene, designando a função de autoridade, de que está revestido alguém, que
assim se põem a escrever para comunidades cristãs distantes. “De Jesus Cristo”, indica que a
autoridade do autor não é sua, mas é delegada.
Pedro fala sobre os destinatários da carta designando-os como os “eleitos que são forasteiros
da dispersão”. Dois termos então, identificam este grupo:
O primeiro é “eleitos”, que significa basicamente “escolhido dentro de um grupo”. O termo
é muito comum na Bíblia grega, designando “aqueles que Deus separou de dentro da grande massa
humana, trazendo-os para junto de si”.
O segundo termo usado é “forasteiros”, que se traduz por “estrangeiros”. Refere-se a uma
pessoa que está a pouco tempo num certo lugar com intenção de lá residir permanentemente. De uma
forma geral, parece que os escritos do Novo Testamento, confirmam uma impressão de certos
grupos com grande dinâmica e rotatividade domiciliar dentro da condição social da época, o que se
tornou numa grande mola propulsora da rápida expansão do Evangelho pelo mundo romano.
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A terceira declaração sobre os destinatários de I Pedro é que se encontram na “dispersão”.
Usualmente, este termo tem sido compreendido de duas maneiras:
Em termos geográficos, sendo um termo técnico do vocabulário judaico, designando os judeus
residentes fora da Palestina. Parece que os cristãos logo adotaram para si a idéia, representando os
grupos cristãos espalhados pelo mundo gentio.
Em sentido figurado, descrevendo a situação dos cristãos em qualquer lugar como pessoas
que estão longe da pátria, espalhadas por este mundo. Esse é o sentido de diáspora.
Uma vez que a grande maioria dos cristãos na época provinha de classes inferiores da
sociedade, marginalizadas e privadas de toda sorte de direitos, a idéia aqui seria então de grupos
vivendo à margem da sociedade, numa verdadeira diáspora dentro da própria localidade em que
moram.
A eleição e o conseqüente estilo de vida dos cristãos em meio à sociedade, é assim
apresentada, como: fundamentada no propósito eterno de Deus Pai, concretizada por mediação do
Espírito Santo e realizada como obediência a Cristo, junto com o reconhecimento do fato de ser Sua
propriedade. O caráter trinitário dessa formulação geralmente é reconhecido por todos. Em cada uma
das três frases coordenadas, a ênfase recai respectivamente sobre Pai, Espírito Santo e Jesus Cristo:
Em primeiro lugar, a experiência dos cristãos como forasteiros eleitos está fundamentada na
presciência de Deus. Uma maneira possível de se compreender o termo, é considerá-lo como tão
somente a capacidade que Deus tem de ver e saber todas as coisas antes mesmo que aconteçam
(Onisciência).
Em segundo lugar, essa salvação que já estava na mente de Deus é realizada concretamente,
então, em “santificação do Espírito”. Santificação indica um processo de natureza moral, ou pelo
menos com implicações morais claras.
Em terceiro lugar, é indicado o objetivo da escolha do Pai concretizada pelo Espírito: a
“obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”. A ênfase aqui parece estar na obediência como
decisão, como aceitação da mensagem do Evangelho, embora não se possa excluir a conseqüência
lógica: uma vida de obediência.
2. Louvor a Deus pela Salvação (1:3–12)
Depois da saudação que era comum nas cartas da época, o autor entra agora no conteúdo
específico da sua carta. Como em outras cartas do Novo Testamento, olha-se primeiro para o alto,
numa expressão de louvor e agradecimento a Deus por bênçãos recebidas, ou em pura contemplação
de Sua grandeza e bondade.
2.1. Conseqüências da ressurreição de Jesus Cristo para os cristãos (1:3–5)
“Bendito o Deus e Pai...” O agradecimento e a intercessão é formulado aqui no estilo das
bendições judaicas. Mas a situação é bem diferente. Alguma coisa mudou. Aparentemente, aqui Deus
está mais próximo, parece ser conhecido de forma mais íntima pela pessoa que louva e bendiz. O
Deus que opera prodígios (Sl. 72:18), é reconhecido agora pelo maior prodígio já efetuado na história
humana: a ressurreição de Jesus Cristo, revelando através dela, e pelas implicações que dela advém, a
Sua grande misericórdia para com o homem. Logo, o novo nascimento é decorrência da ressurreição
de Jesus Cristo. Ele é possível porque esta foi possível; é o mesmo poder que opera em ambos.
Deus, então, é louvado pela regeneração que operou tanto no autor como nos leitores. O novo
nascimento, assim, tem a virtude de criar naqueles que o experimentam uma “viva esperança”. No
sentido bíblico, viva esperança é uma esperança sempre renovada, pela confiança no poder e na
confiabilidade daquele que a motivou.
O propósito ou alvo do novo nascimento é outra vez definido, desta vez em termos de uma
“herança”. Esta herança não é definida como uma espécie de utopia futura, mas como tendo já sua
existência. Existe uma relação entre o conceito de “herança” (v. 4) e do novo nascimento (v. 3). O
cristão renasce dentro de uma nova “família” (Ef. 2:19), passando a estar para com Deus numa
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  • 1. Caríssimo (a) irmão (a) Este material foi preparado para você. Os servos de Deus que nele trabalharam escrevendo, compilando, digitando, revisando, enfim, sentir-se-ão recompensados se você tirar o máximo proveito dele. Por esta razão sugerimos que: 1– Em Sala de Aula Tenha sempre em mãos a sua apostila e a sua Bíblia, e um caderno para fazer anotações das explicações do professor. Grife na apostila ou na Bíblia aquilo que considerar importante, utilize lápis de cor para identificar assuntos, ou referências bíblicas. Não vá com dúvidas para casa, faça perguntas, caso não queira interromper o professor anote a sua dúvida para perguntar no momento oportuno. Ao final de algumas unidades você encontrará Perguntas para Refletir, estas perguntas têm por objetivo levá-lo a tirar as suas próprias conclusões. Troque idéias com seus colegas sobre as respostas das perguntas para reflexão, assim você poderá aprofundar seus conhecimentos. 2– Em Casa Revise toda a matéria explicada pelo professor em sala. Releia o texto se possível em diferentes versões bíblicas. Releia as anotações que você fez na apostila, codifique as cores das suas anotações correlacionando com os assuntos. Faça um resumo de cada aula. Leia, leia muito, releia várias vezes; sem uma boa e constante leitura o processo de assimilação fica muito pobre. “Aluno que não lê, mal sabe, mal fala e mal vê”. Procure relacionar o conteúdo bíblico estudado com a sua vivência cristã; pergunte-se após o estudo do texto bíblico: O que Deus está querendo me falar através deste texto? *Há alguma lição a aprender? *Existe alguma promessa que Deus quer que eu tome posse? *Existe algum hábito que eu preciso mudar, ou adquirir? *Deus está me mostrando na sua Palavra algum pecado que devo confessar e abandonar? 3– Local de Estudo O lugar que você estuda deve ser sempre o mesmo e de preferência o horário também, pois assim estará criando um hábito, e se tornando disciplinado nos estudos. O local habitual de estudo deve ser tranqüilo, e bem iluminado, evite estudar onde há trânsito de pessoas, televisão ligada, ou conversas paralelas. O material deve estar bem à mão, para que não precise se levantar toda hora para procurar algo, além de perder tempo e energia, você ficará disperso e desatento. Tenha em mãos: *Lápis, canetas, lápis de cor, régua, borracha, apontador. *Bíblias em diferentes versões para que você possa consultá-las ao estudar. *Chave ou Concordância Bíblica *Dicionário da língua portuguesa, dicionário bíblico e enciclopédia ou manual bíblico. Se você domina outro idioma, ou está aprendendo, procure ler a Bíblia neste idioma. Todo seu empenho vai ser recompensado; você terá êxito dedicando tempo para os estudos. O Espírito Santo é seu mestre por excelência, e também poderá contar com a ajuda amiga de seus professores. Persevere, seja disciplinado e logo você colherá os frutos. Bom estudo, sucesso e êxito é o que lhe desejamos! I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 1
  • 2. I Unidade - Epístola de Tiago SEJA VENCEDOR, NÃO VÍTIMA INTRODUÇÃO A Epístola de Tiago é a menos doutrinária e a mais prática de todos os livros do Novo Testamento. É considerada o “guia prático para a vida e conduta cristãs”. Ela é primeiramente prática e ética, enfatizando mais o dever do que a doutrina. O autor visava repreender a forma negligente e vergonhosa com que se realizavam determinados deveres cristãos. A Epístola de Tiago pode ser vista entre os escritos mais emocionantes do Novo Testamento. Ela nos causa forte impacto e mostra uma atitude voltada à realidade. Seus ensinos em relação à prática da vida cristã são tão atuais que facilmente aceitaríamos que foram escritos por um autor contemporâneo nosso, e não que foi escrita há aproximadamente 2000 anos. No estilo e conteúdo, a Epístola de Tiago assemelha-se muito aos ensinos de Jesus, notoriamente com o sermão da montanha. Abaixo demonstramos um paralelo entre a Epístola e o sermão da montanha. Assunto Tiago Sermão da Montanha Juramento 5.12 Mt.5.34-37 Resposta à oração 1.5; 5.16-18 Mt.7.7 Prática da palavra 1.22 Mt.7.24-27 Julgamento 4.11 Mt.7.1 Se a Epístola fosse entendida da forma correta, poderia servir de base para harmonizar o Cristianismo e o Judaísmo. Ela ensina que a salvação deve ser frutífera produzindo piedade e conduzindo a uma vida de santidade. Os ensinos da Epístola combatem a “crença e o viver cristãos fáceis”, que muitos queriam introduzir no seio da igreja. Chama seus leitores à realidade, fazendo-os retornar ao ponto de partida do Evangelho puro e verdadeiro. Tiago usa seu zelo, aprendido no Judaísmo para trazê-los de volta aos ensinos originais do Evangelho de Jesus Cristo. AUTORIA Esta Epístola traz o nome de seu autor: “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. O nome Tiago é a forma grega do Hebraico “Jacó”. As escrituras referem-se a vários Tiagos, mas a maioria deles pode ser descartada imediatamente. Citamos alguns deles: 1) Tiago (o maior), filho de Zebedeu e irmão de João: Este fazia parte do círculo íntimo dos apóstolos que estavam sempre ao lado de Jesus, de quem tinha conhecimento suficiente para mencionar seus ensinos. No entanto entre os anos 41 e 44 A.D., antes que os escritos I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 2
  • 3. neotestamentários fossem produzidos, Herodes Agripa I, “mandou matar a espada Tiago, irmão de João” (At. 12:1;2). Assim, devido à sua carreira cristã curta e a sua morte repentina, fica descartada a autoria da Epístola a este Tiago. 2) Tiago (o menor), filho de Alfeu (Mt. 10:3): Deste Tiago, sabe-se muito pouco, e sendo um tanto quanto “desconhecido”, pois a forma com que o autor se apresenta no versículo 1, demonstra que era uma pessoa conhecida e respeitada. 3) Tiago (O justo), irmão de Jesus: Tiago, a exemplo de seus irmãos, não se converteu aos ensinos de Jesus enquanto Ele vivia, mas assim como Paulo, converteu-se ao ter um encontro pessoal com o Cristo ressurreto (1 Co. 15:7). A este Tiago, é atribuída a autoria desta Epístola. 4) Tiago, o pai de Judas (Lc. 6:16): Este Judas, não é o Iscariotes (Jo. 14:22), mas é identificado como um dos doze e a quem se relaciona o nome de Tadeu (Mt. 10:3; Mc. 3:18). O que pode-se compreender na leitura da Epístola é que: 1) O autor é um judeu profundamente impregnado dos ensinos do Antigo Testamento. Existem pensamentos similares aos do livro de Provérbios (Tg. 3:12; 13– 18; 4:13, 17; 5:1–6). Existem fortes referências da Teologia judaica: a) Deus é Nosso Pai (Tg. 1:27; 3:9); b) O autor mostra-se conhecedor da vegetação da Palestina e do regime de chuvas da região (Tg. 3:12; 5:7); c) O autor cita o Monoteísmo (Tg. 2:19). 2) É também um cristão (Tg. 1:1; 2:1), declarando Cristo como Senhor. Não desenvolve muito as verdades cristãs. Dirige-se aos judeus-cristãos e trata mais de moral que de fé (Tg. 3:7–9). Tiago juntou-se então aos discípulos (At. 1:14), tornando-se apóstolo (Gl. 1:19) e uma das "colunas" da igreja em Jerusalém (Gl. 2:9). Sua liderança obteve grande destaque, conforme se observa em At. 12:17; 15:13-29; 21:18 e Gl. 2:12. Tornou-se o líder da igreja de Jerusalém, fato este notório quando do concílio de Jerusalém (At. 15), que tratava a respeito da necessidade, ou não, da circuncisão dos gentios convertidos através do ministério de Paulo. Tiago deu a palavra final a respeito da questão, o que indicaria que era hierarquicamente superior a Pedro. O tom autorizado da Epístola está de acordo com a posição do autor na igreja. Pela tradição, sabemos de alguns fatos concernentes a ele: 0 1) Por causa da santidade de sua vida e aderência rígida à moralidade prática da lei, era estimado pelos judeus de sua comunidade, pelos quais, foi chamado “o justo”, ganhando muitos deles para Cristo. 1 2) Diz-se que seus joelhos eram calejados como os de um camelo, em conseqüência de sua intercessão em favor do povo. DESTINATÁRIOS Tiago é classificada como “Epístola católica (universal)”, por ter sido originalmente escrita para uma comunidade maior que uma igreja local. A saudação “às doze tribos que estão na dispersão” (diáspora) (Tg. 1:1), juntamente com outras referência (Tg. 2:19, 21), indicam que foi escrita a cristãos judeus que viviam fora da Palestina. 0 No Antigo Testamento, “judeus da dispersão”, referia-se a grupos que se dispersaram após o exílio, com muitos deles não retornando a Jerusalém. Os “judeus-cristãos da dispersão” eram, mui provavelmente, aqueles que se espalharam, a partir de Jerusalém devido à perseguição empreendida contra os cristãos após a morte de Estevão, e de Tiago, filho de Zebedeu. É possível que sejam os primeiros convertidos em Jerusalém, que foram dispersos pela perseguição (At. 8:1), até a Fenícia, Chipre, Antioquia da Síria (At. 11:19). DATA DA EPÍSTOLA I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 3
  • 4. A escassez de discussão Cristo lógica na Epístola, a forte ênfase dada à ética e aos aspectos morais e os paralelos aos ensinos de Jesus, são fortes indícios de que foi escrita numa época onde, a igreja em formação, estava ainda dentro da esfera geral do judaísmo, antes ainda de ser transformado num movimento religioso independente. Aliado ainda ao fato da Epístola ser dirigida aos “judeus da dispersão”, que não haviam se convertido numa data tão remota, e pelo fato de que a palavra sinagoga é usada para designar o local de reunião dos cristãos, chegamos à conclusão que o período entre 45 – 48 A.D., é bem razoável, pois o conteúdo da Epístola enquadra-se bastante bem nele. Assim, esta Epístola está entre os primeiros escritos do Novo Testamento. O historiador judeu Flávio Josefo indica que Tiago foi apedrejado até a morte, por volta de 62 A.D. Outra versão da morte de Tiago é que segundo uma tradição, o sumo sacerdote e os guias religiosos, fizeram-no subir no telhado do templo e lhe ordenaram que negasse e blasfemasse o nome de Cristo. No entanto, ele ousadamente proclamou que Jesus era o Filho de Deus, sendo assim lançado abaixo. Como não morreu na queda, foi então apedrejado até a morte. Independentemente da forma de sua morte, é notório que Tiago foi morto por volta de 62 A.D. Logo a data da escrita da Epístola é anterior a este ano. ONDE FOI ESCRITA As conclusões tiradas acerca da autoria e data da Epístola determinam o local de sua escrita. Tiago viveu em Jerusalém durante todo este período, e seus leitores encontravam-se em regiões imediatamente fora da Palestina, junto à linha costeira para o norte, na Síria, e provavelmente, no sul da Ásia Menor. A referência em Tg. 5:7, das “primeiras e últimas chuvas”, parecem confirmar esta localização, uma vez que apenas ao longo da costa oriental do Mar Mediterrâneo é que as chuvas ocorrem nesta seqüência. ESTILO LITERÁRIO Em sua forma, Tiago é uma carta “literária”. Começa com a típica saudação Epistolar: identificação do autor, destino e saudações. No entanto falta-lhe reminiscências pessoais, referências a situações e problemas específicos e sinais de encerramento que caracterizam uma “verdadeira” carta. Tiago usou a forma de Epístola para fazer exortações espirituais e conforto para os cristãos que habitavam em uma grande área, em suas tribulações e perseguições. Em sua forma difere das Epístolas de Paulo tanto a indivíduos (Filemon, Timóteo e Tito) e a igrejas específicas (Roma, Corinto, Galácia, etc). Assemelha-se mais a 1 Pedro e 1 João, que também são destinadas a grandes públicos. Fazendo uma análise mais próxima da natureza específica da Epístola, notamos quatro aspectos mais dominantes: 1) Apresenta um forte tom de exortação pastoral. Busca dar ordens, exortar e encorajar. Existe sempre uma terna preocupação pastoral. Dirige-se a seus leitores por quinze vezes como “meus irmãos” ou “meus amados irmãos”; 2) Outro aspecto é o desprendimento de sua estrutura. Alguns trechos tratam de assuntos únicos e relativamente extensos (Tg. 2:1–13; 2:14–16; 3:1-12), mas a maior parte do livro trata de dizeres ou assuntos curtos aparentemente independentes e breves. Fica muitas vezes difícil estabelecer qualquer relação lógica entre uma parte e outra. 3) Outro aspecto que prende a atenção do leitor é o uso que Tiago faz de metáforas, ilustrações e figuras de linguagem. A epístola utiliza fatos reais, eventos hipotéticos, elementos da natureza e até obras das mãos humanas para expressar suas idéias. Fatos reais: Abraão - Tg. 2.21-23. I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 4
  • 5. Eventos hipotéticos: O pobre e o rico na sinagoga – Tg. 2.2-4. EPlementos da natureza: O mar e as ondas – Tg.1.6. Obras das mãos humanas: O enxerto – Tg.1.21. Figuras de linguagem: A língua é um fogo – Tg.3.6. 4) O último aspecto não é tão evidente em nossos dias, mas era comum entre os primeiros destinatários da Epístola e estes sentiram seu impacto. Era a propensão de Tiago em usar outras fontes, tais como os ensinos de Jesus, o Antigo Testamento em alguns de seus aspectos legais. Além destas fontes existem vários paralelos entre Tiago e vários livros cristãos e judaicos de data remota. Podemos mencionar 1 Pedro, Eclesiástico (Siraque), Os Testemunhos dos Doze Patriarcas, O Pastor de Hermas e 1 Clemente, Sabedoria de Salomão, Filo, no ensino Didaquê dos doze e nas cartas de Inácio. Parece que estes livros utilizam uma tradição de ensino ético largamente difundida, provavelmente de origem greco-judaica. Tiago mostra familiaridade com esta tradição e se apropria de alguns elementos dela a fim de exortar seus leitores. ELEMENTOS HISTÓRICOS Devido à discussão relativa à data da escrita da Epístola surgiram precedentes históricos que precisam ser tratados mais minuciosamente. A igreja de Tiago existiu em Jerusalém durante cerca de 15 anos após a ressurreição de Cristo. Cada igreja no lar era dirigida por um ou mais presbíteros. Estes formavam um grupo dirigido por Tiago e tinham a responsabilidade de governar a igreja. Também havia os diáconos (At 6), cuja função era coletar contribuições para caridade e distribuí-las entre os membros mais pobres da igreja. Nesta época ocorreu grande escassez econômica em Jerusalém o que afetou também os cristãos. Logo havia muitos membros pobres, visto que a igreja, como um todo, era pobre. Havia razões para isso: 1) Muitos membros da igreja eram de fora de Jerusalém, e não podiam exercer seu ofício na cidade, como por exemplo Pedro e André, que eram pescadores. Alguns dentre eles eram peregrinos que se converteram em épocas de festas dos judeus e decidiram não voltar para casa, pois em suas cidades de origem, não haviam igrejas que pudessem nutrí-los espiritualmente. 2) Havia inúmeros turistas, por assim dizer, que desejavam conhecer a respeito do Cristianismo, na sua cidade de origem. 3) O Cristianismo sempre teve a tendência de ter forte apelo junto aos pobres e oprimidos: prostitutas, ladrões, coletores de impostos e pessoas semelhantes. Todos estes eram atraídos pela promessa de perdão. Os ricos e os poderosos, no entanto, viam nos cristãos, um grupo de pessoas a quem preferiam não se associar. Os pobres ouviam com grande alegria uma mensagem de fé, de esperança e de justiça. São estes os chamados por Tiago de “ricos na fé” (Tg. 2:5). 4) Muitos anciãos iam a Jerusalém só para morrer. Ao ouvirem falar da ressurreição de Jesus e se converterem, ficavam sob os cuidados da igreja. Não seria de surpreender, que muitos filhos judeus, que sustentavam seus pais, usassem a desculpa da conversão para cortarem-lhes tal sustento. 5) Jerusalém passou por grandes dificuldades econômicas. A cidade estava situada numa área economicamente marginal, vítima de manobras políticas, defendida mais por razões bélicas do que econômicas. 6) Finalmente aconteceu a perseguição, que em Jerusalém, raramente eram violentas, mas os cristãos constituíam para muitos, uma “seita” desprezada. Isto tornou-se realidade mais tarde, quando os cristãos se recusaram a participar de movimentos patrióticos que visavam a libertação da Palestina. A perseguição poderia vir disfarçada de formas sutis: a) O trabalhador conhecido por ser cristão, poderia ser o último a ser contratado para trabalhar e o primeiro a ser despedido numa crise econômica. I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 5
  • 6. b) Se um cristão fosse roubado, ou enganado em seu salário, ou em outros direitos, por um patrão judeu, se transformaria em vítima de preconceito e seria prejudicado numa decisão no tribunal. Nada disso ajudava a igreja a crescer. Enquanto a situação da igreja serve de pano de fundo para a escrita da Epístola, a preocupação de Tiago é com o mundo que está entrando na igreja. Ele adverte em Tg. 4:4 que “a amizade do mundo é inimizade contra Deus”, e dá o antídoto contra ela a “religião pura e imaculada” e o guardar-se da contaminação do mundo” (Tg. 1:27). O mundanismo manifestava-se na igreja de várias formas: 1) A deferência bajuladora ao rico e a indiferença ao pobre (Tg. 2: 1–4); 2) Palavras críticas e descontroladas (Tg. 3:1–12; 4: 11-12; 5:9); 3) A sabedoria humana que é “terrena, animal e diabólica”, que produz divisões e violentas discussões (Tg. 3:13–4:3); arrogância (Tg. 4:13, 17); uma quebra da comunhão com Deus que interrompe a eficácia da oração (Tg. 1:5–8); e um fracasso em colocar a fé em prática (Tg. 1:22– 27; 2:14–26). Tiago chama seus leitores a se arrependerem do mundanismo e a trabalharem com afinco a fim de recuperarem, de seus caminhos errados, a outros pecadores (Tg. 5:19, 20). ESBOÇO DOS CAPÍTULOS Tiago trata da maturidade Espiritual, e, apresenta cinco sinais de maturidade: 1) Paciência na provação – Capítulo 1 2) Relacionamentos – Capítulo 2 3) Autodomínio – Capítulo 3 4) Pacificadores – Capítulo 4 5) Oração nas dificuldades – Capítulo 5 CRESCENDO EM CRISTO (CAPÍTULOS DE 1 A 4) CAPÍTULO 1 Apresentação e saudação inicial (1:1) O autor da Epístola apresenta-se como Tiago. A simplicidade da identificação aponta para o bem conhecido “Tiago, o justo”, meio-irmão do Senhor (Gl. 1:19) e líder da primeira igreja de Jerusalém (At. 12:17; 15: 13–21; 21:18–25). Tiago não reivindica para si autoridade apostólica, embora Paulo o chame de “apóstolo”, em Gl. 1:19. Tiago prefere identificar-se apenas como “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. Dessa forma Tiago considera sua posição como a de quem presta um humilde serviço a seu mestre, o Senhor Jesus. Tiago endereça a carta às doze tribos que se encontram na dispersão. Talvez possamos associar os destinatários com a referência, em At. 1:19, àqueles que haviam sido dispersos por causa da perseguição e estavam pregando o Evangelho aos judeus até a “Fenícia, Chipre e Antioquia”. Provavelmente estas pessoas foram convertidas em Jerusalém e “seu antigo pastor” escrevia-lhes buscando fortalecê-los. O cumprimento de Tiago como tal é bastante breve: “Saudações”. Esta é uma saudação epistolar tipicamente grega, o que demonstra a familiaridade de Tiago com esta língua. No Novo Testamento este cumprimento só aparece aqui e em At. 23:26. I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 6
  • 7. A alegria nas provações (1:2–4) Tiago abre sua carta com dois aspectos bastante característicos. Ele chama seus leitores de “meus irmãos”, uma forma de tratamento que ele usa catorze vezes (três delas acompanhadas da qualificação “amados”), principalmente para introduzir uma mudança de tema na epístola. Esta forma de tratamento afetuoso confere à epístola um forte tom pastoral a muitas exortações da carta. Em seguida expressa a ordem “tende por motivo de grande alegria” que é categórica e sugere a necessidade de uma decisão definitiva. O que chama a atenção é que se chama a alegrar-se por algo que costumeiramente não traz alegria: “o passardes por várias provações”. Assim as doenças (Tg. 5:14), dificuldades financeiras (Tg. 1:9) e perseguições econômicas e sociais (Tg. 2:6) estão incluídas neste grupo. Quaisquer que sejam as provações, elas devem ser consideradas pelos cristãos como ocasião para regozijo e oportunidades para a manifestação da glória de Deus em suas vidas. Através das experiências com Cristo no dia a dia e conhecendo mais e mais a Sua Palavra ( a fé vem pela Palavra de Deus, veja Rm 10:17) é que Deus opera para aperfeiçoar e fortalecer nossa fé. Por conseguinte Deus visa, através de nossas experiências, que alcancemos a “perseverança”. Assim, Tiago pede aos cristãos que reajam com alegria o passar por “provações”, porque ele sabe que elas operam para produzir uma vida com Cristo mais firme e mais segura. A sabedoria, a oração e a fé (1:5–8) Uma das maiores virtudes que o cristão deve buscar é a sabedoria (sophia). Ela ocupa um papel central num livro do Antigo Testamento, Provérbios. A percepção da vontade de Deus e do modo pelo qual ela deve ser aplicada na vida é conferida pela sabedoria. A importância da sabedoria descrita em Tg. 1:5 é a maneira pela qual se diz que ela produz um caráter piedoso e maduro naquele que a possui. Quando Tiago promete a seus leitores que Deus irá conceder sabedoria àqueles que lhe pedirem, está refletido o ensino veterotestamentário (Pv. 2:6 a, ...o Senhor dá a sabedoria”). É provável que ele também tenha em mente a promessa de Jesus: “Pedi, e dar-se-vos-á (Mt. 7:7 a). Tiago nos lembra ainda que Deus a “dá liberalmente, e nada lhes impropera”. Impropera (oneidizontes) significa que Deus não nos repreende por falhas passadas, nem nos traz recordações intermináveis sobre o valor de suas dádivas. O termo “ânimo dobre” significa literalmente “alma dividida”, e é uma sugestiva descrição das divisões que existem no interior da pessoa. Com certeza, Deus não responde a orações baseadas em tanta descrença. Devemos observar que a inconstância é a antítese da “integridade” ou “perfeição”, que deve ser o alvo do viver cristão, e do caráter “único” e “sincero” de Deus. A pobreza e a riqueza (1:9–11) Quando Tiago refere-se ao “irmão de condição humilde” aponta para um cristão de baixa condição sócio-econômica – relativamente pobre e sem poder. Tiago faz uso do termo “tapeinos” que é comum no Antigo Testamento com este significado (Sl. 10:18; 34:18; 102:17; Is. 11:4; Am. 2: 7). E esta era uma condição comum entre os cristãos da Palestina e da Síria, que estão entre os destinatários desta Epístola. Em meio a tais aflições o cristão, cuja posição, em termos do mundo, é realmente baixa, deve gloriar-se na sua dignidade. “Gloriar-se”, neste contexto, não significa a vanglória arrogante de alguém importante, mas o alegre orgulho possuído pela pessoa que valoriza aquilo que Deus valoriza. A palavra dignidade é usada em outros lugares do Novo Testamento, como descrição do reino celestial ao qual Cristo foi elevado (Ef. 4:8) e de onde desce o Espírito Santo (Lc. 24:49). A pessoa rica, assim como a pobre, deve olhar além das circunstância externas, em direção aos valores espirituais interiores e circunstâncias do “reino celestial” que não se vêem. O Salmo 49:16-17 contém uma advertência acerca das riquezas: “Não temas, quando alguém se enriquecer, quando avultar a glória de sua casa: pois, em morrendo, nada levará consigo, a sua glória não o I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 7
  • 8. acompanhará”. Tiago baseia-se nesta tradição bíblica, para alertar o rico a não se preocupar em obter aquilo que não pode “carregar” consigo para o outro mundo. Tiago faz uma comparação da situação do cristão rico com o sol que se levanta em seu resplendor, mas que no mesmo dia vê-se sua luz e seu calor desvanecerem. Compara ainda a erva seca que um dia foi uma flor viçosa, mas que no momento seguinte perdeu seu parecer e formosura. Tudo isso tem um momento de glória que se desvanece, mas a glória do Senhor brilhará para sempre. As provações e as tentações (1:12–18) Neste trecho Tiago apresenta a “perseverança” como uma bênção sobre os que suportam a provação. Ele afirma que o cristão precisa praticar a perseverança a fim de alcançar um caráter firme, perseverante. Assim como o atleta suporta a pressão do esforço físico, a fim de obter um nível mais alto de resistência física, também o cristão deve suportar as provações da vida, para que obtenha uma resistência espiritual que leve à perfeição. Existe uma recompensa prometida a quem alcançar este nível de perfeição: “a coroa da vida”. A palavra coroa refere-se, algumas vezes, a uma coroa real, mas o uso mais comum naqueles dias referia-se a uma coroa de louros conferida ao atleta vitorioso (1 Co. 9:25) e, que de modo figurado, significa glória e honra. No caso dos cristãos, a coroa é um emblema do sucesso espiritual, dada pelo Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, àqueles que “guardam a fé” em meio aos sofrimentos e tentações. Mesmo quando suportar a provação significa morte, a vida é a recompensa para aqueles que amam a Deus. Quando a pessoa enfrenta adversidades não deve tentar se desculpar pelo fracasso em resistir à tentação, atribuindo-o a Deus. Se deseja culpar alguém, tem só a si mesmo para considerar, pois a tentação vem da própria cobiça. Tiago parece pensar na tendência inata do homem em direção ao pecado. A tentação brota deste “impulso maligno” quando este atrai e seduz o homem. A omissão que Tiago faz de satanás como uma fonte de tentações não significa que o ignore como o principal “tentador”. O seu propósito aqui é acentuar a responsabilidade individual pelo pecado. Em si mesma a concupiscência não é pecado. Apenas quando uma pessoa, por sua vontade, cede à atração é que o pecado surge. Tiago descreve este ato de modo vivo: A concupiscência é retratada como a mãe, que dá a luz ao pecado, seu filho. E este filho, atingindo a maturidade, gera a morte. Tiago afirma que atribuir a Deus o intento maligno de tentar as pessoas é um assunto muito sério. Ele quer ter a certeza de que seus leitores não se “enganarão” nesta questão. Longe de atrair para o pecado, Deus é a fonte de todas as boas dádivas (Tg. 1:17), dentre as quais a maior é o novo nascimento (Tg. 1:18). Tiago menciona tanto a boa dádiva como o dom perfeito, para demonstrar o caráter de Deus que é benevolente e imutável, sendo a fonte de tudo quanto é bom. A descrição de Deus como o “Pai das luzes” é a única nas Escrituras. Sabemos que Deus é nosso Pai e que nós somos a luz do mundo (Mt. 5:14). Muitos entendem que estas luzes são provavelmente como os corpos celestes incluindo o sol, a lua e as estrelas (Sl. 136:7–9; Jr. 31:35). A Bíblia sempre faz menção do firmamento dos céus como evidência da obra criadora de Deus e de seu contínuo exercício de poder. “Todas as coisas criadas precisam necessariamente sofrer mudanças, pois isto faz parte de suas características, assim como a imutabilidade é característica de Deus”. Como um proeminente exemplo das boas dádivas de Deus, Tiago menciona o fato de que Deus “nos gerou pela palavra da verdade” e que isto Ele fez por sua “determinação espontânea e gratuita”. Desta forma, assumimos a posição de que Tiago apela ao “novo nascimento” espiritual dos cristãos como uma demonstração das boas dádivas que Deus concede. Este “novo nascimento” é motivado pela soberana determinação de Deus, cujo querer, ao contrário de sua criação, é invariável. O instrumento usado por Deus para realizar este “novo nascimento” é a palavra da verdade, e o propósito dEle é que os cristãos permaneçam como o “sinal (primícias) do universal plano redentor de Deus, “boas dádivas” que Ele ainda tem a conceder. I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 8
  • 9. Uma exortação quanto ao falar e à ira (1: 19, 20) Tiago inicia esta pequena exortação com a já conhecida interjeição: “meus amados irmãos”. Orienta-os a evitarem as palavras precipitadas e a ira descontrolada. Tiago estimula seus leitores a estarem prontos para ouvir a Palavra de Deus, sendo tardios em se tornarem mestres dela. É significativo o fato de que o descontrole no falar está muitas vezes ligado com a ira sem limites. Segundo Pv. 17:27, “quem retém as palavras possui o conhecimento, e o sereno de espírito é homem de inteligência”. Com muita freqüência, é a ira descontrolada diante de uma pessoa, que nos leva a falar rápido demais e a dizer mais do que devemos. Apesar de Tiago não proibir toda e qualquer ira (há lugar para a “justa indignação”), ele proíbe o temperamento irrefletido e descontrolado que muitas vezes produz palavras ásperas, nocivas e irrecuperáveis (Ec. 7:9) A proibição de uma ira sem limites baseia-se no fato de que a “ira não produz a justiça de Deus”. A ira precipitada, descontrolada, é um pecado porque transgride o padrão de conduta que Deus exige de seu povo. Tornado-se praticantes da Palavra (1: 21, 27) Tiago faz um lembrete de que o nascimento espiritual concedido graciosamente pelo Senhor a seu povo, através da Palavra de Deus, era seguido de exortações para que eles evitassem o tipo de comportamento associado com a vida antiga e começassem a viver pelo padrão da Palavra de Deus que os havia salvado. O “despojar-se” da impureza deve ser acompanhado pelo “recebimento” de alguma outra coisa: “a palavra em vós implantada”. Tiago estava com esta afirmação, referindo-se à capacidade natural “inata”, que o homem tem de receber a revelação de Deus – “é a capacidade original envolvida na criação à imagem de Deus, que torna possível aprender a revelação”. Os cristãos que verdadeiramente foram “gerados” (Tg. 1:18), demonstram que a Palavra os transformou, quando eles humildemente a aceitaram como autoridade e diretriz para a sua vida. Tiago usa também a figura da preparação da “boa terra” em seu coração a fim de que “a semente” da Palavra ali plantada possa produzir muito fruto (Mc. 4:3–20). Fala também do ato de “salvar as vossas almas” como sendo este fruto. Tiago declara que por mais importante que seja a aceitação mental da Palavra, ela não será verdadeiramente recebida, enquanto não for colocada em prática. Ele não está se opondo ao ato de ouvir a Palavra, mas sim ao fato de que o ouvir não conduz à prática. Aqueles que não praticam a Palavra e se tornam somente ouvintes, praticam uma auto-ilusão perigosa e potencialmente fatal. Aquele que apenas ouve a Palavra é como quem contempla “num espelho o seu rosto natural”, mas que esquece rapidamente daquilo que viu. O praticante da Palavra, por sua vez, contempla a “lei perfeita, lei da liberdade e persevera”; ele é um trabalhador praticante. Tiago estabelece um contraste na maneira de olhar: O que é “somente ouvinte” da Palavra, olha para a lei da liberdade, rapidamente e sem atenção. O que é praticante da Palavra a considera com cuidado. A influência penetrante dos ensinos de Jesus sobre a ética de Tiago sugere que esta “lei” refere-se principalmente às exigências éticas de Jesus. Tiago quer enfatizar a seus ouvintes que as “boas novas” de salvação trazem uma inevitável exigência de obediência completa. Mas com a penetrante e radical exigência do Evangelho vem a graça capacitadora de Deus. Tiago passa a destacar algumas formas específicas pelas quais se manifesta a obediência à Palavra. Uma destas formas, com a qual demonstra não pequena preocupação, é com o controle da “língua”. Ele ensinou que todo homem deve ser “pronto no ouvir e tardio no falar” (Tg. 1: 9). A pessoa que deixa de controlar sua língua acaba enganando o próprio coração em relação à veracidade de sua religião. Ele é um mero ouvinte da Palavra, e quando falha em colocar em prática aquilo que ouve, mostra que “sua religião é vã”. A verdadeira prova de uma religião é a obediência – sem ela, a religião é vã: vazia, inútil e infrutífera. I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 9
  • 10. A pureza moral é outra marca da religião pura. O “guardar-se incontaminado do mundo”, significa evitar que pensemos e ajamos de acordo com o sistema de valores da sociedade que nos cerca. A “religião pura”, do cristão perfeito (Tg. 1:4) associa a pureza de coração à pureza de ação. CAPÍTULO 2 A imparcialidade e a lei do amor (2:1–13) Iniciando com a expressão “meus irmãos”, Tiago define o reconhecimento de seus leitores como membros da igreja e então exorta: “não façais acepção de pessoas”. Ainda que o Senhor Deus não apresenta parcialidade (Dt. 10:17; Gl. 2:6), os seres humanos que a Ele servem, sob sua autoridade, e que se supõem terem copiado seu caráter, precisam ser continuamente advertidos contra a parcialidade (Lv. 19:25; Dt. 1: 17; Sl. 82:2; Pv. 6:35; 18:5). A igreja não deveria mostrar parcialidade, nenhum interesse com respeito à beleza externa, à riqueza material e ao poder ou à influência da pessoa. A única base da igreja é a fé num único Senhor. A fé e a fidelidade no compromisso ao Senhor é o que salva tanto ricos como pobres, igualmente, e todos são leais a um Senhor cuja vida e ensino desprezaram quaisquer posições mundanas. E, acima de tudo, este é um Senhor que vive, que foi exaltado em glória e, que vai voltar a fim de manifestar seu poder e glória e ainda julgar o mundo. Demonstrar parcialidade é violar o caráter do Senhor, é insultá-lo, e certamente é grave pecado. Tiago continua com este tema: “Se na vossa reunião entrar algum homem com anel de ouro no dedo, e com trajes de luxo”. O anel de ouro no dedo indica sua riqueza, e “a seguir entra também um pobre andrajoso”, que só possui as roupas do corpo, que estão sujas e esfarrapadas. Acostumado à rejeição, o coitado espreita à porta, sentindo que as pessoas reunidas o evitam, o que ele já esperava; o péssimo estado de seu vestuário declara-o lixo humano, sem valor algum sob o prisma mundano. A igreja reage à situação econômica do rico: “Assenta-te aqui no lugar de honra”. O rico acomoda-se na cadeira mais confortável sob os sorrisos complacentes de todos os presentes. O pobre, por sua vez, é recebido com frieza: “Fica aí em pé”, ou ainda “assenta-te abaixo do estrado dos meus pés”, e independente do lugar onde se assente, a maioria dos presentes, finge que não notou a sua presença. Tiago chama à consciência de seus leitores através dos exemplos do Antigo Testamento, de forma a evitarem esta situação na igreja cristã, o que causava grandes constrangimentos e era totalmente avesso aos ensinos de Jesus. Inicia seu ataque lógico contra essa prática, com um apelo: “Ouví, meus amados irmãos”, chamando-os a algo que já é de seu conhecimento: “Não escolheu Deus aos que são pobres?” Emprega uma terminologia familiar da eleição, com que Israel estava acostumado (Dt 4:37; 7:7), como também a igreja (Ef. 1:4; 1 Pe. 2:9), mas aplica-a de modo específico aos pobres. Mas Tiago está dizendo mais do que isso. Deus elegeu de modo especial “aos que são pobres aos olhos do mundo, para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam”. Está usando os ensinos de Jesus, que foi o Senhor que disse que veio de modo particular “para evangelizar os pobres” (Lc. 4:18); e ainda “Bem-aventurados vós, os pobres, pois vosso é o reino de Deus” (Lc. 6:20). O mundo os considera como pobretões desprezíveis, sem importância, mas para Deus eles são “ricos na fé” e herdeiros do reino – o contrário da perspectiva mundana. A igreja que envergonha o pobre, de certo modo, abandonou a vontade de Deus e deixou de agir em prol dEle (1 Co. 11:22). Entretanto, certas igrejas decidiram mostrar preferência pelos ricos, que as oprimem. Acerca disso Tiago levanta alguns fatores: “São os ricos que vos oprimem”. A opressão dos ricos sobre os pobres tem raízes profundas no Antigo Testamento (Jr. 7: 6; 22:3; Ez. 18:7; Am. 4:1; 8:4; Ml. 3:5). Quando o pobre precisava de um empréstimo, o rico lhe concedia com juros elevados, sendo que obter lucros mediante a desgraça do necessitado, era prática condenada (Ex. 22:25-26). Em surgindo uma disputa, o rico contratava o I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 10
  • 11. melhor advogado; ambos se associavam, de modo que o pobre se tornava mais pobre, e o rico mais rico. “Os ricos vos arrastam aos tribunais”. Quando o pobre não podia restituir o empréstimo ao rico, ele o arrastava ao tribunal e fazia com que fosse decretada a falência do pobre; sendo que na maioria das vezes as acusações apresentadas contra os pobres eram caluniosas. “Os ricos, são os que blasfemam o bom nome daquele a quem pertenceis”. Agora, Tiago acrescenta uma acusação de natureza religiosa. O nome de Jesus havia sido outorgado aos cristãos. Todavia, os ricos falam mal desse nome, quando escarnecem de Jesus ou quando insultam seus seguidores. Entretanto, apesar de todos esses fatores, certas igrejas também decidiram insultar os pobres, a quem Deus honra, decidindo favorecer os ricos, identificando-se com a classe opressora. Tiago prossegue em sua argumentação bíblica: “se cumprirdes a lei real ... fazei bem”. Real vem de reino e o Reino em questão aqui é o de Deus (Tg. 2:5). Embora a glória total desse reino ainda pertença ao futuro, o cristão já entrou nele e permanece sob sua autoridade. A lei é “encontrada na Escritura”, porque Jesus interpretava o Antigo Testamento, trazendo nova revelação, em vez de ensinar referirindo-se à revelação anterior. O mandamento específico é citado por Tiago: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” é um dos prediletos de Jesus (que menciona Lv. 19: 18 seis vezes nos evangelhos sinóticos) e da igreja (Rm. 13:19; Gl. 5:14). Era um mandamento geralmente visto como resumo da lei. De acordo com as Escrituras, o próximo é a pessoa a quem devemos amar. Muitas vezes esses cristãos demonstram parcialidade, ao fazer “acepção de pessoas”; discriminando o pobre e assim quebram a lei. Aqueles cristãos estão sendo “argüidos pela lei como transgressores”: nesta frase temos um retrato do julgamento final de Deus. A razão que sustenta esta conclusão é a seguinte: “qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, torna-se culpado de todos”. A transgressão pode ser mais ou menos grave, mas o transgressor permanece sob uma maldição, não importando que mandamento tenha quebrado. O argumento de Tiago é importante, pois demonstra que a rebelião contra Deus é questão muito mais séria do que o ato pecaminoso específico, e que nenhuma transgressão deliberada do ensino divino deixa de ter importância. A conclusão de Tiago resume sua argumentação. Em todas nossas ações devemos manter diante dos olhos o julgamento final de Deus. O par de palavras “falai e procedei’ cobre todo o comportamento humano (At. 1:1; 7:22; 1 Jo. 3:18). O padrão de julgamento de que seremos julgados pela “lei da liberdade”. Esta idéia foi mencionada em Tg. 1:25. A obediência a esta lei perfeita traz bênçãos. Tiago não considera este conceito ameaçador, visto tratar-se de princípio, além de nos mostrar como fugir da escravidão do pecado, apontando para o Caminho da Vida. Buscando fundamentar sua argumentação nas Escrituras. Tiago acrescenta um ditado proverbial: “o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia”. Deus é misericordioso, e os judeus sabiam muito bem disso. Em Ex. 34:5-6, Deus se apresenta a Moisés como “Deus misericordioso”, compassivo e misericordioso... lento para a ira, abundante em amor” (Dt. 4:31; Sl. 103:8-14). Se este é o padrão pessoal da justiça de Deus, segue-se que seus verdadeiros filhos devem imitá-lo. Se não demonstrarmos misericórdia, sairemos da aliança de Deus, e ao mesmo tempo pediremos a Deus que nos julgue segundo nosso padrão de severidade. Jesus ensinou: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia (Mt. 5:7). Esse conceito é enfatizado em seu ensino sobre o perdão (Mt. 6:14-15), sua resposta aos fariseus (Mt. 12:7, citando Os. 6: 6), sua parábola sobre o perdão (Mt. 18:21–35) e sua parábola sobre as ovelhas e os bodes (Mt. 25:31–46). Portanto, o testemunho sólido dos evangelhos é que Jesus seguiu o ensinamento judaico padrão e ensinou que Deus haveria de demonstrar misericórdia apenas a quem obedecesse a ele e o imitasse. A fé que salva (2:14–26) I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 11
  • 12. Tiago faz outra mudança temática dizendo: “Meus irmãos, que proveito há se alguém disser que tem fé, e não tiver obras?” A forma com que Tiago elabora esta pergunta demonstra sua esperança em ter uma resposta negativa: absolutamente nenhum proveito! Continua perguntando: “Pode essa fé salvá-lo?” Não há salvação para a pessoa cujo discipulado é deficiente na fé. Se esta for apenas intelectual, expressa tão somente práticas religiosas e não vai salvar a pessoa. No Antigo Testamento também se condena a piedade que não é associada à ação, com a qual condenaram João Batista (Lc. 3: 7 – 14), Jesus (Mt 7: 15 – 27) e Paulo (Rm. 1:5; 2:6–8; 6:17-18; Gl. 6:4–6). Tiago segue esta mesma linha: a fé sem obras não salva. Tiago exemplifica sua posição dizendo: “Se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento cotidiano”. Esta é a situação de alguém que faz parte da comunidade local dos cristãos, “o irmão ou a irmã”, cuja necessidade é patente, precisam de roupas e de alimentos. “E algum de vós lhe disser: “Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos”. Fica indicada aqui a reação de um membro rico da igreja despedindo seus irmãos sem fazer nada por eles. Suas palavras são piedosas, indicam que reconhecem as necessidades dos irmãos, mas “se não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?” Tiago presume que o cristão deveria fazer algo mais do que orar por seu irmãos. Se tem duas túnicas, uma despensa, geladeira e freezer cheios e não compartilha e ainda utiliza a oração intercessória para aliviar-lhe a consciência, sua oração é inútil. Tiago continua dizendo: “Assim também a fé, em si mesma, se não tiver obras, é morta”. Se o cristão demonstrar uma fé que não passa de uma crença intelectual, sem a obediência ao evangelho, como no parágrafo anterior, vemos que o que professa acreditar, é vão. Paulo declara que a única fé que interessa, a “que importa é a fé que opera pelo amor (Gl. 5: 6), em vez dos rituais e hábitos religiosos. Para Tiago, a fé que conduz à ação é que salva. Tiago continua sua argumentação, utilizando o estilo vivo de diálogo imaginativo, tão popular naqueles dias como hoje. “Mas dirá alguém, Tu tens fé, eu tenho obras”. Veja que a fé sem obras é morta; portanto é necessário que a fé seja mostrada através das obras. Contudo quem tem obras, tem fé: “e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Tiago continua argumentando: “Mostra-me a tua fé, sem as tuas obras”. Em outras palavras está dizendo: mostre-me a tua fé sem ação. A fé de uma pessoa no seu modo de viver, só pode ser vista em suas atitudes ou ações. Logo uma fé sem ação é impossível de ser demonstrada. Tiago contra argumenta “e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Cada ação cristã exige que se verifique qual é a motivação que a inspira. Se fazemos algo, é porque cremos, ou seja, temos fé que é correto. Logo as ações, ou obras, mostram facilmente onde está nossa fé. Tiago continua a criticar a fé sem obras. “Crês tu que Deus é um só? Fazes bem! Este é um ensino básico do Judaísmo e do Cristianismo, constituindo parte da Shema. Esta confissão de fé era recitada duas vezes por dia por todos os judeus farisaicos: “Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força” (Dt. 6: 4,5). Os cristãos também consideram esta confissão de fé, pois foi declarada por Jesus (Mc. 12:28-34) como o maior dos mandamentos; e por Paulo (Rm. 3:30): “Há um só Deus”. Porém, o elogio de Tiago é em parte irônico: “Os demônios também o crêem, e estremecem. Não somente o Judaísmo, mas também o Cristianismo conhecia a dinâmica da crença dos demônios que freqüentemente faziam confissões de Cristo mais sólidas que os próprios apóstolos. A reação dos demônios perante o nome de Deus era “estremecer”, pelo fato de estarem em rebelião contra Deus, e porque a “fé” deles não os induzia à ação obediente. De igual forma os que apenas crêem intelectualmente, não estão em situação diferente, pois não votaram fidelidade a Deus numa vida de obediência. Tiago clama: “Ó homem insensato!”. Este é um termo que pode parecer forte demais, indicando não um erro intelectual, mas moral. Este tipo de linguagem era comum na época. Podemos ver outros exemplos em Jesus (Mt. 23:17; Lc. 24: 45) e em Paulo (1 Co. 15:36; Gl. 3:1). Continua fazendo um apelo igualmente forte: “Mas queres saber... que a fé sem as obras é inútil?”. Isto sugere que é a ignorância voluntária da própria pessoa que exige provas adicionais que impossibilita a aceitação dessas provas. Cita Abraão, que foi considerado justo (justificado), ou seja foi “declarado justo por Deus” ou ainda “considerado reto por Deus”. O sentido aqui assumido por Tiago é baseado naquilo que Deus I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 12
  • 13. disse a Abraão: “Agora sei que temes a Deus”. A declaração baseou-se na ação: “Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque”. A fé que Abraão demonstrou era real, genuína, porque governava a vida do patriarca. Prossegue Tiago: “Vês”. O ponto central da passagem é claro; “a fé cooperou com as suas obras”. Mas de onde veio a sua fé? Abraão vivia numa cultura idólatra, mas rejeitou a idolatria. Queimou a casa que abrigava os ídolos e comprometeu-se em fidelidade a obedecer o único Deus. Continua dizendo: “pelas obras a fé foi aperfeiçoada”. Está afirmando que Abraão possuía fé, mas que ela amadureceu ao manifestar-se em ação (Tg. 2:14,15). Existe mutualidade entre fé e obras: A fé informa e motiva a ação; a ação amadurece a fé. Tiago não aprova uma, em detrimento da outra, mas, insiste em que são inseparáveis. Tiago resume: “vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente por fé”. Parece que Tiago está indo contra a doutrina paulina da justificação pela fé. O ponto crítico de Tiago é que Deus não vai aprovar alguém por ser ortodoxo, ou porque consegue passar numa prova de Teologia Sistemática. Deus pode declarar alguém justo se tiver uma fé dinâmica, que se traduz em ação, produzindo resultados de fidelidade e obediência. E isto não é contra a doutrina paulina. Tiago apresenta a ilustração da “meretriz Raabe” cujas palavras e ações em Js. 2:1–21 fascinaram os judeus bem como os cristãos primitivos (Hb. 11: 31). Ela tinha fé e a professou em Js. 2:9-10. Todavia só a fé não poderia salvá-la; ela precisou agir concedendo alojamento aos espias (“acolheu os espias”), e ao encaminhá-los (“os fez partir por outro caminho”) para a liberdade, o que representou arriscar sua própria vida. A fé sozinha não a teria poupado, mas, quando a fé a levou à ação, os espias a declararam justa. “Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem as obras é morta”. Um corpo destituído do espírito é um cadáver. Os judeus sabiam que quando uma pessoa “exalava o último suspiro” ou “entregava o espírito” tal pessoa estava morta. Todo cadáver precisa ser sepultado. De modo semelhante, a fé que não passa de crença intelectual está morta. Não pode salvar; torna-se um perigo, porque ilude a pessoa quanto ao seu verdadeiro estado espiritual. A fé só tem valor quando se torna num compromisso integral de fidelidade ao Senhor, ao ligar-se à ação. CAPÍTULO 3 Os efeitos nocivos da língua sem controle (3:1–12) Tiago começa o assunto da língua com uma advertência sobre o ofício de ensinar. Os mestres (didaskaloi) desempenhavam um papel importante na vida da igreja primitiva. O papel do mestre na igreja era comparável ao do rabino judeu, ou seja, transmitia a doutrina cristã (2 Tm. 2:2). Naturalmente, o ministério de ensino conferia certa autoridade e prestígio. A preocupação de Tiago com os que afluíam para este ministério com motivações erradas, justifica a sua advertência: “não vos torneis muitos de vós mestres”. Aponta, para isso, outro aspecto menos atraente do ensino: “sabendo que havemos de receber maior juízo”, sendo que a palavra “juízo”, sugere a idéia de punição ou condenação. A intenção de Tiago não é dissuadir do ensino estas pessoas que, como ele próprio, tem o chamado e o dom de ensinar. O que deseja fazer é imprimir sobre seus leitores a natureza séria do ministério, advertindo-os que não se deve ingressar nele por motivos frívolos ou egoístas. O mestre coloca a si próprio diante do maior perigo de julgamento, uma vez que a principal ferramenta de seu ministério, a língua, é a parte de controle mais difícil do corpo. Tiago usa algumas ilustrações para representar o poder e o perigo que a língua representa (Tg. 3:3–6): Usa a figura do cavalo, que um pequeno freio em sua boca, pode refrear toda sua força. O pequeno freio na boca nos dá controle sobre o corpo inteiro do cavalo. Usa também a figura do leme que sendo tão pequeno determina o rumo de grandes embarcações, conforme o impulso do timoneiro. Estas duas ilustrações focalizam o controle que um pequeno objeto, exerce sobre uma coisa grande. Quando o homem consegue controlar a sua língua, pode dirigir toda a sua vida segundo a I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 13
  • 14. vontade de Deus. Mas quando a língua não é refreada, mesmo sendo tão pequena, também o resto do corpo provavelmente não terá controle nem disciplina. A língua pode gloriar-se e com razão do poder que possui para determinar o destino de uma pessoa. “Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva”. Isto demonstra o poder de fogo destruidor que a língua pode exercer. Tiago continua enfatizando o grande mal inerente na língua, uma grande “quantidade” ou “volume” de iniqüidade. Está afirmando que a língua contém em si os pecados do mundo decaído. Jesus afirmou que “o que sai da boca” contamina o homem e também que a boca é a expressão do coração, onde se encontram “maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt. 15:11; 18; 19). Quando a língua contamina o corpo inteiro realiza exatamente o que é oposto da “religião pura”: “guardar-se sem contaminação, do mundo”. Os pecados cometidos com a língua espalham poluição espiritual na pessoa inteira. A questão, assim, é que o poder de fogo e destruição da língua afeta tudo na existência humana, do começo ao fim, e em todas as circunstâncias. De onde vem tamanho potencial de destruição? “Do inferno”, diz Tiago. Faz uma alusão à história da criação, no Gênesis, acerca do domínio do homem sobre o mundo animal. O homem pode dominar animais, mas a língua ninguém pode domar. A língua é “mal incontido”, ou seja , que não se pode refrear, irriquieto. É também “carregada de veneno mortífero”, que reflete o ensino do Antigo Testamento: os homens maus “aguçam a língua como a serpente; sob os lábios têm veneno de áspide” (Sl. 140: 3). O veneno produzido pela língua “destrói o próximo” (Pv. 11:9) e também leva à ruína aquele que peca (Pv. 10: 8). A língua, além de tudo o que já foi descrito, recebe ainda a atribuição de ambigüidade: “com ela bendizemos ao Senhor e Pai; também com ela amaldiçoamos os homens feitos à semelhança de Deus”. A bênção de Deus era uma parte importante da devoção judaica. A ação da bênção, na qual louvamos e honramos a Deus, é citada por Tiago como a mais elevada, pura e nobre forma de discurso. Por outro lado a mais baixa, impura e ignóbil forma de discurso é a maldição. No mundo antigo, a palavra de maldição, que é o oposto da bênção (Dt. 30:19), era vista como detentora de grande poder. Amaldiçoar alguém não é apenas proferir uma praga contra a pessoa; é o desejo de que aquela pessoa seja cortada da presença de Deus e experimente castigo eterno. Jesus proibiu seus discípulos de amaldiçoarem outras pessoas; na verdade, eles deveriam bendizer aqueles que os maldiziam (Lc. 6:28; Rm. 12:14). Tiago declara a incompatibilidade entre um coração puro e palavras impuras, comparando-a primeiro com uma fonte de água, que numa terra seca como a Palestina, era algo muito importante. Mas da mesma fonte não pode fluir água doce e salgada (ou amarga). Compara também com as plantas: “pode a figueira produzir azeitonas, ou a videira produzir figos?”. Da mesma forma não pode o coração puro produzir palavras falsas, amargas e nocivas. A verdadeira e a falsa sabedoria (3:13–18) Tiago inicia esta seção com uma pergunta que é um desafio: “Quem entre vós é sábio e entendido?”. Se você é sábio demonstre sua sabedoria pelas obras que a verdadeira sabedoria produz. Ele considera a “sabedoria” uma virtude à disposição de todos (Tg. 1:5), e mesmo em Tg. 3:1 realmente não se dirige a mestres, mas àqueles que queriam se tornar mestres. Sua exortação é melhor entendida como se fosse dirigida a todos os cristãos, em geral, mas especificamente àqueles que se orgulhavam de seu conhecimento superior. Tiago adverte que devem estar “em mansidão de sabedoria”, o que deve ser entendido como um qualitativo de obras, sendo estas aplicadas em mansidão. Para os gregos, mansidão sugeria um rebaixamento servil e ignóbil. Mas Jesus, que pessoalmente foi manso (Mt. 11:29), pronunciou a bênção sobre aqueles que fossem mansos (Mt. 5:5). Tal mansidão cristã envolve uma compreensão sadia acerca de nossa falta de méritos diante de Deus e uma respectiva humildade e falta de orgulho no trato com nossos semelhantes. O oposto de mansidão é “inveja amargurada e sentimento faccioso”. Inveja, é sempre uma coisa má. O sentimento faccioso é praticado por aqueles que se orgulham em sabedoria e I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 14
  • 15. conhecimento pessoais e que demonstram um partidarismo invejoso e amargo. De modo um tanto quanto irônico, Tiago compara este tipo de sabedoria com a que “desce lá do alto”. As Escrituras deixam bem claro que a verdadeira sabedoria, procede somente de Deus. “... O Senhor dá sabedoria” (Pv. 2: 6). É por isso que só a obtemos se a pedirmos a Deus (Tg. 1:5). A “sabedoria” que se expressa em egoísmo e inveja tem natureza e origem bem diferentes. Tiago a descreve com três adjetivos: É terrena – Não é celestial. Pode ter também significados negativos, descrevendo aquilo que é transitório, fraco e imperfeito. É animal – É apontado várias vezes nas Escrituras como aquilo que não é espiritual. É demoníaca – Literalmente, “pertinente a demônios”. Tiago define a sabedoria “lá do alto” com sete adjetivos: É primeiramente “pura” - A palavra “pura”, tem a conotação de irrepreensibilidade moral, talcomo a castidade imaculada de uma noiva virgem (2 Co. 11:2). É pacífica – O Antigo Testamento nos ensina que a sabedoria produz paz (Pv. 3:17) e Paulo alista “paz” como fruto do espírito. É indulgente – Ser indulgente é ser bondoso, pronto a se submeter, indisposto a “fazer exigências rigorosas”. É tratável – A pessoa tratável é alguém que, literalmente, é “facilmente convencido”, não no sentido de uma ingenuidade fraca e crédula, mas de uma deferência espontânea a outros, quando não se envolve princípios morais ou teológicos inalteráveis. É plena de misericórdia e de bons frutos – Misericórdia é o amor ao próximo evidenciado em ações (Tg. 2:8–13). Atos de misericórdia são aqueles “frutos” que a genuína sabedoria, assim como a fé legítima, deve produzir. É imparcial – É aquele que não demonstra preconceitos, nem faz acepção de pessoas. É sem fingimento – Ela é genuína, “sem exibições ou pretensões”. Para dar um bom desfecho na questão da sabedoria, Tiago ressalta sua natureza pacífica. Isto dá ênfase ao desejo de Tiago de erradicar as amargas e contenciosas discussões e disputas que estavam despedaçando a igreja (Tg. 3:16; 4:1; 2). A paz produzida pela sabedoria genuína estava claramente ausente. Os pacificadores produzem, na atmosfera de paz que eles criam, “o fruto da justiça”. Aqueles que criam tal atmosfera recebem do Senhor a certeza da recompensa: “Bem- aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus (Mt. 5:9). CAPÍTULO 4 Os prazeres malignos são fontes de dissensões (4:1–3) Tiago inicia esta seção exortando e questionando seus leitores: “De onde vem as guerras e contendas entre vós?”. Se a sabedoria de Deus se encontra entre os pacificadores, as “guerrilhas comunitárias” não procedem dos amantes da paz. Mas as questões dentro da igreja – “entre vós” – são guerra civil e não defesa nacional. Descrevem-se também vividamente os resultados do fracasso desses cristãos. Tiago discute com maiores minúcias este problema. Ele afirma: “seja qual for o objetivo, o desejo é a origem do pecado e do conflito”. Salienta ainda as conseqüências do desejo frustrado: “Não podeis obter o que desejais”. Em vez de reexaminar seus desejos, a pessoa por eles aprisionada, lança mão da calúnia e do abuso verbal contra os que foram atendidos em seus pedidos. Estes cristãos poderiam responder que na verdade oram, mas parece que a oração não produz efeitos. A resposta de Tiago a eles é: “Pedis e não recebeis porque pedis mal”; há um motivo ponderável para a oração não funcionar: pedis mal, isto é, a motivação é errada. A oração no Novo Testamento cresce do relacionamento com um Pai cuja bondade é suprema. O que Tiago nos aponta é que tais cristãos não estão sintonizados com Deus. Eis a razão: “pedis... para o gastardes em vossos I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 15
  • 16. prazeres”. A implicação não é que Deus nunca nos concede coisas que nos dão prazer. Nosso Deus é o Deus misericordioso que nos dá não apenas pão e água, mas também abundância “segundo as suas riquezas” (Fp. 4:19). Sendo motivados por desejos egoístas, estes cristãos pediam somente para satisfazer seu ego. Depois de analisar-lhes, Tiago acrescenta uma acusação: “adúlteros e adúlteras”. Essas pessoas foram comparadas ao povo de Israel. A igreja é a noiva de Cristo, assim como Israel a noiva de Deus (2 Co. 11: 2; Ef. 5: 22–24; Ap. 19:21). Quando se voltava à idolatria, Israel não se afastava de Deus, mas queria praticar um “sincretismo”. E por isso Israel era sempre comparado a uma esposa infiel, adúltera, que desejava manter a segurança e a respeitabilidade de seu lar e do marido, mas também desejava usufruir do amante (Is. 1: 21; Jr. 3; Os. 1:3). Tiago aplica essa imagem à igreja, acusando-a de servir a certo tipo de “ídolo” e simultaneamente a Deus. É fácil identificar o “ídolo”: “ é o mundo”. “Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade com Deus?” Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus. Um chamado ao arrependimento (4: 4 – 10) “Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (v.4), aqui Tiago apresenta que o envolvimento com o sistema do mundo é infidelidade. Tiago diagnostica sem pestanejar que essa forma de infidelidade como “apostasia”, é a mesma doença do Antigo Testamento. “Querem ser amigos do mundo”, tornam-se inimigos de Deus e Ele não aceitará menos do que total fidelidade. Além de condená-los por seu comportamento, Tiago acrescenta uma advertência: “ou pensais que em vão diz a Escritura que...” Quando o povo corrompe seu espírito para servir ao mundo, o ciúme de Deus se inflama. Ai da pessoa que ignora a advertência divina, como se as Escrituras fossem apenas papel e tinta. Tiago infunde no povo, esperança em vez de terror: “antes, ele nos dá graça maior”. Está consciente do juízo de Deus sobre os que se recusam a arrepender-se (Tg. 5:1–6), mas também está consciente de como Deus está disposto a perdoar. A prova desta verdade também se encontra nas Escrituras: “portanto, diz a Escritura: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Pv. 3:34). Este é um dos textos prediletos da tradição cristã ética, e proporciona ao povo a possibilidade de uma escolha: pode humilhar-se e receber graça de Deus, ou pode prosseguir em sua auto-suficiência humana e sofrer a ira de Deus. A atitude de Deus não é baseada em pecados do passado, mas pelo atual estado de coração de seu povo. O Deus de Tiago é o Deus benevolente das Escrituras. Visto que Deus é misericordioso, Tiago chama ao passo seguinte: “arrepender-se”. “Sujeitai-vos pois a Deus”, é o ponto principal. Não há graça barata, nenhum perdão de pecados se o pecador pretende continuar pecando. Contudo, em havendo sujeição a Deus, a graça está disponível. O próximo passo é deixar de agradar ao diabo: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Tiago demonstra que, embora o impulso para pecar seja interno, ceder a ele é entregar-se ao diabo. Os evangelhos são claros neste ponto (Mt. 4:1–11; Mc. 8:28-34; Lc. 22:31; Jo. 13:2; 27). Todavia, o diabo não exerce poder sobre o cristão, exceto o poder da sedução. Quando resistimos ao diabo, ele se comporta como o fez diante de Jesus, no deserto – foge. Arrependimento total significa purificação. Há promessa e ao mesmo tempo, exigência na convocação “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós”. No Antigo Testamento temos esta chamada em Ml. 3:7 e em Zc. 1:3. Tiago continua: “lavai as mãos pecadores”. O culto no Antigo Testamento exigia mãos cerimonialmente puras (Ex. 30:19–21). Esses cristãos não estão preparados no momento para o culto, porque estão em pecado. O termo “pecadores” é forte, pois Tiago não aceita desculpas. Tiago deixa agora o comportamento de lado e trata do problema interior, ao exigir: “Vós de ânimo duplo, purificai os corações”. Tiago já declarou que Deus não quer repartir tais crentes com o mundo; Ele os deseja para si, com exclusividade total (Tg. 4:4). Pelo que é preciso que os cristãos se purifiquem por dentro, eliminem os motivos mundanos e busquem somente a Cristo e seu reino. I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 16
  • 17. O arrependimento adequado mostra sinais característicos. No íntimo, esses cristãos, vão perceber seu estado: “senti as vossas misérias”; haverá no coração deles um sentimento de dor que se exprimirá nestas palavras: “ai! Que é que eu fiz?” Esta tristeza se expressa externamente: “lamentai e chorai”. A lamentação é tão natural que qualquer outra reação seria inadequada: “converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza”. Esta ordem pode ter sido originada nas palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt. 5:4). Ou, “ai de vós, os que agora rides! Pois vos lamentareis e chorareis” (Lc. 6:25). Sem verdadeiro arrependimento agora, o futuro é sombrio, mas com arrependimento, não haverá choro mais tarde. Finalmente, surge a esperança; quando os pecadores se humilham diante de Deus, “humilhai-vos perante o Senhor”, entristecidos na verdade por causa do pecado, a aceitação da parte de Deus é garantida: “ele vos exaltará” (Tg. 4:6). Esta metáfora ocorre no Antigo Testamento para ilustrar a ação divina na restauração do destino dos pobres: “Ele põem os humildes num lugar alto, e os que choram são levados para a segurança” (Jó 5:11). Tampouco rejeitará Deus a esses cristãos, que se arrependerem de seus pecados e os abandonarem. A maledicência é proibida (4:11, 12) Tiago emite um novo mandamento de imediato: “não faleis mal, uns dos outros”, ficando definido que “falar mal” é “julgar a seu irmão”. Ele percebeu que havia cristãos falando mal uns dos outros. Não importa se as acusações são verdadeiras ou falsas, divulgá-las a pessoas que não estão envolvidas na situação vai destruir a harmonia da comunidade. Criticar outra pessoa não é amá- la, tampouco é o modo pelo qual queremos ser tratados. Portanto criticar alguém implicitamente é criticar a própria lei. Para combater este tipo de prática, Tiago declara: “há um só legislador e juiz”. Ensinou-nos Jesus, que só Deus tem autoridade para julgar (Jo 5:22; 23; 30), e todo judeu sabia que foi Deus quem outorgou a lei. “Tu , porém, quem és, que julgas ao próximo?” Se foi Deus quem outorgou a lei, e se só Deus é juiz, como ousa alguém estabelecer-se como juiz? A arrogância é condenada (4:13, 17) Tiago imprime nova direção a seu pensamento: “Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos”. Ele fala da classe social das pessoas que planejam viajar para realizar sua atividade profissional: o comércio. Continua dizendo que qualquer homem de negócios honesto planejaria suas atividades mercantis exatamente da mesma maneira; quer pagão, quer cristão, quer judeu. Nada se declara, a respeito de seus desejos quanto ao futuro, ao uso que farão do dinheiro, ou quanto à sua maneira de negociar, que se pudesse afirmar ser diferente do resto do mundo. Ainda que sua forma de prestar culto ao Senhor seja exemplar, mas no que concerne a negócios, pensam exclusivamente de acordo com os padrões do mundo. Tiago prossegue: “Ora não sabeis o que acontecerá amanhã”. De fato, a vida é eminentemente efêmera: “o que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece”. Os planos estão traçados; as projeções lançadas. Todavia, tudo gira em torno não da vontade deles, mas sim da vontade de Deus, que não foi nem consultado no planejamento. Ao pensarem unicamente numa esfera mundana, os negociantes cristãos da carta de Tiago tinham uma falsa sensação de segurança. Era preciso que encarassem a morte, e percebessem que não tinham nenhum controle desta vida. Aqueles que não descansam em falsa segurança mas que elevam o pensamento ao nível mais alto, dizem: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. O que Tiago quer ensinar é que não se deve simplesmente esperar que o Senhor faça, mas deve-se fazer juntamente com Ele. Desta forma cada plano é avaliado segundo os padrões de Deus e levado a Ele em oração para que se ouça as idéias Dele à respeito. Mas aqueles cristãos estavam longe de planejar em espírito de oração, a eles Tiago disse: “Vós vos jactais das vossas presunções”. Ora toda jactância, tal como esta é maligna, porque rouba de Deus o direito honroso que lhe cabe como Senhor soberano, e exalta o I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 17
  • 18. mero homem como se este fora Deus. Todo e qualquer plano concebido fora da vontade de Deus, sem o discernimento da oração, não é tolice apenas, é grave pecado. Para resumir este pensamento, Tiago acrescenta um provérbio: “Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o faz, comete pecado”. Tendo falado a cristãos cujos corações estavam seduzidos pelo mundo, Tiago dirige a atenção, a seguir, aos incrédulos ricos. Ele os critica de forma direta, com linguagem parecida com a do Senhor Jesus (Lc. 6:20–26), buscando desviar os cristãos da sedução da riqueza. CAPÍTULO 5 Os que fazem mal uso das riquezas serão condenados (5:1–6) Tiago inicia este capítulo falando no tom dos profetas do Antigo Testamento: “chorai”e “uivai”. Normalmente estas palavras eram usadas para descrever a reação dos perversos quando chegar o dia do Senhor, o que denota julgamento. É certo que a enumeração que Tiago faz dos pecados dos ricos, que ele condena, mostra que, aqui este também é o caso. É obvio que Tiago não pretende lançar julgamento sobre todos os ricos, mas sobre aqueles que fazem mau uso da riqueza. Tiago lança advertências contra os ricos: A primeira advertência contra os ricos tem a ver com suas riquezas corruptas. A segunda advertência contra os ricos é mais específica: eles defraudaram o pagamento dos trabalhadores. A última advertência contra os ricos é que eles têm “condenado e matado o justo”. Estimulando a paciência e a perseverança (5:7–11). Tiago faz referência ao Sl 37 que é um maravilhoso cântico de ânimo dirigido ao justo. Escreve aos justos, principalmente aos pobres, que estavam sofrendo em circunstâncias semelhantes. O conselho é o mesmo do salmista: “sede pacientes, pois a ”vinda do Senhor”, quando os ímpios serão julgados (5:1–6) e os justos libertados, está próxima”. Tiago incentiva a paciência até a vinda do Senhor. Como exemplo de paciência, Tiago menciona o “lavrador” que aguarda com paciência que a terra produza o precioso fruto do qual depende sua subsistência. Como o agricultor que espera pacientemente a semente germinar e a safra amadurecer, os cristãos devem esperar com paciência a volta do Senhor que os libertará e julgará seus opressores. Enquanto esperam eles precisam fortalecer seus corações. Tiago não quer dizer que a paciência no sofrimento sempre será recompensada com prosperidade material. Ele procura incentivar nossa firmeza fiel e paciente na aflição lembrando-nos das bem-aventuranças que recebemos de nosso Deus compassivo e misericordioso, em troca de tal fidelidade. Os juramentos (5:12) O juramento que Tiago proíbe aqui é o ato de invocarmos o nome de Deus, ou um substituto dele, para garantirmos a veracidade daquilo que dizemos. No Antigo Testamento, Deus é apresentado muitas vezes garantindo com um juramento o cumprimento de suas promessas. A lei não proíbe os juramentos, mas exige que a pessoa seja fiel a qualquer juramento que fizer. (Lv. 9:12). Jesus exigiu de seus discípulos que de “modo algum” jurassem (Mt. 5:34). Quando comparamos Mt. 5:34–37 com Tg. 5:12 vemos que o autor está conscientemente reproduzindo aquela tradição. A oração e a cura (5:13–18) Tiago exorta os cristãos a orarem em casos de sofrimentos e a cantarem quando estiverem contentes. I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 18
  • 19. Outra situação onde a oração deve ser proeminente é na doença. Tiago orienta que os enfermos devem chamar os presbíteros da igreja, para que façam oração sobre eles, ungindo-os com óleo. A partir das informações sobre os presbíteros em Atos e da descrição do ofício nas Epístolas pastorais, chega-se à conclusão que os presbíteros eram homens espiritualmente maduros, responsáveis pela supervisão espiritual de cada congregação local. Esta oração deve ser acompanhada de “unção com óleo”, e esta deve ser realizada “em nome do Senhor”, representando a autoridade divina com a qual se pratica a unção. Apesar da “unção com óleo”, a principal preocupação de Tiago é a oração. Isto é refletido pelo fato de Tiago atribuir a cura prevista à oração dos presbíteros, não à unção. “A oração da fé salvará o enfermo, e seus pecados ser-lhe-ão perdoados”. Esta fé, mesmo incluindo a idéia de confiança na capacidade que Deus tem de responder, também envolve uma confiança absoluta na perfeição da vontade de Deus. Como conseqüência da promessa de que Deus responde à oração (Tg. 5:14, 15a) e perdoa pecados (Tg. 5:15b), os cristãos devem se comprometer a confessar seus pecados uns aos outros e orar uns pelos outros. A mútua confissão de pecados, que Tiago incentiva como uma prática habitual, é altamente benéfica para a vitalidade espiritual da igreja. Uma vez que o propósito da confissão e oração é a cura física, é melhor entender que se a confissão não é sincera pode colocar obstáculos à cura, e as orações. E, embora seja apropriado que aquelas pessoas encarregadas da supervisão espiritual da comunidade sejam chamadas para interceder pelos seriamente enfermos. Tiago deixa claro que “todos” os cristãos tem o privilégio e a responsabilidade de orar pela cura. O poder da oração não está limitado aos “super-santos”; o justo designa apenas uma pessoa sinceramente comprometida com Deus e que, de coração, busca fazer a sua vontade. Como exemplo de um homem justo de quem Deus ouviu as orações, Tiago cita Elias. O profeta cujos feitos foram tão espetaculares e foi transladado ao céu, era uma das figuras mais populares entre os judeus. Ele era exaltado por seus milagres poderosos e denúncias proféticas do pecado. Contudo o que Tiago quer ressaltar em ralação a Elias não são os dotes proféticos especiais, nem seu lugar único na história, mas sim o fato de que mesmo sendo “homem semelhante a nós”, sua oração teve grande eficácia. Uma chamada final à ação (5:19–20) Tiago conclui sua carta não com as saudações e bênçãos típicas dos encerramentos epistolares, mas com uma chamada à ação. Ele lhes falou em sua carta acerca de muitos problemas: falar pecaminoso, desobediência, despreocupação com os outros, mundanismo, brigas, arrogância. Agora, ele incentiva cada cristão a tomar a iniciativa de trazer de volta à comunhão com Deus e com a comunidade qualquer pessoa que tenha se “desviado da verdade” de alguma daquelas formas. Os leitores de Tiago não devem estar profundamente preocupados com que outras pessoas também as “pratiquem”. Participando da convicção de Tiago de que, de fato, existe uma morte eterna, à qual o caminho do pecado conduz, devemos estar motivados a lidar com o pecado em nossa vida e na vida de outras pessoas. Exercício de Fixação - Unidade I 1) Responder: Por ser mais prática que doutrinária, como é considerada esta Epístola? a) Lâmpada para os meus pés, e luz para os meus caminhos. b) É o guia prático para a vida e conduta cristãs. c) A solução para as dificuldades da igreja. d) Solução para os problemas pessoais dos membros. 2) Se esta Epístola fosse entendida de forma correta, o que ela poderia harmonizar? a) O Judaísmo e o gnosticismo b) O paganismo e o cristianismo I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 19
  • 20. c) O cristianismo e o judaísmo d) O gnosticismo e o paganismo. 3) Quem era o líder da igreja de Jerusalém? a) Pedro b) Paulo c) João d) Tiago 4) Qual das características a seguir não corresponde a Tiago, o justo? a) Foi de Jope a Cesaréia b) Era estimado pelos judeus de sua comunidade c) Era um homem de oração d) Era respeitado por sua santidade de vida. 5) Segundo o historiador Flávio Josefo, como foi a morte de Tiago? a) Foi decapitado b) Foi apedrejado c) Foi jogado aos leões d) Foi crucificado II Unidade - I Epístola de Pedro O APÓSTOLO DA ESPERANÇA AUTORIA Tendo presentes os dados da epístola, o autor é Pedro , “apóstolo de Jesus Cristo” (1:1), “ancião”, “testemunha dos sofrimentos de Cristo” (5:1), que escreveu sua carta “por meio de Silvano” (5:12), tendo junto a si Marcos , seu “filho” (5:13). A atribuição da epístola ao apóstolo Pedro é confirmada pela tradição: a segunda epístola de Pedro, um dos escritos mais tardios do Novo Testamento , já dá testemunho disso (2. Pe 3:1); mais tarde, Irineu, Tertuliano e Clemente de Alexandria apontam o apóstolo Pedro como autor desta epístola. A isto tudo acresce o fato que, segundo o historiador Eusébio, Papias atesta, nos inícios do século II, uma relação estreita entre o apóstolo Pedro e Marcos , autor do segundo evangelho (cf. também At. 12:12). Embora, de vez em quando seja colocada em dúvida quem foi o autor desta Epístola, a opinião mais aceita sempre foi que este é um escrito original do apóstolo Pedro, aquele mesmo que conhecemos através dos Evangelhos e de Atos dos Apóstolos. Não temos dúvidas ao concluir que esta Epístola é obra de Pedro, portadora de sua autoridade e testemunhos apostólicos, ao passo que a forma literária da mesma leva a contribuição de Silvano. ONDE FOI ESCRITA À vista da declaração em 1 Pe. 5:13, a Epístola foi escrita em “Babilônia”. Nos tempos apostólicos conheciam-se duas cidades com este nome: Uma ficava no Egito, sendo provavelmente um posto militar do Império Romano, no local onde é hoje a cidade do Cairo. A outra é a Babilônia do Eufrates, onde judeus em número considerável, ainda moravam. Muito se tem escrito a favor e contra este parecer. Forte objeção a este ponto de vista diz que não havia nem notícia e nem tradição de que qualquer dos apóstolos, salvo Tomé, ter estado na Mesopotâmia. Uma terceira opinião é que o termo “Babilônia” é empregado como símbolo de Roma. Roma é chamada Babilônia em Ap 17 e 18, assim como, em Ap. 11:8. Na mente de Pedro, a Roma dos seus dias lembrava a antiga Babilônia em riqueza, luxúria e licenciosidade. Este termo também pode ser usado como motivo de prudência, pois em caindo em mãos de funcionário romano, este lendo o escrito se ofenderia e aconteceriam, com certeza, sanções contra os cristãos. Esta explicação era aceita universalmente na era cristã primitiva e ainda hoje se tem como a mais plausível. DESTINATÁRIOS I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 20
  • 21. A epístola contém poucas indicações que permitam a identificação precisa dos seus destinatários. No primeiro versículo da carta, Pedro a destina “aos forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. “Os eleitos que vivem como estrangeiros na dispersão" (1 Pe. 1:1). Originalmente, este termo "dispersão" ou "diáspora" se aplicava aos judeus que residiam fora da Palestina , o que permitiria supor, à primeira vista, que aqui se trate de judeus-cristãos. Na realidade, esse termo é muito provavelmente empregado simbolicamente para indicar os cristãos dispersos no mundo (1 Pe. 2:11), de origem majoritariamente pagã. Com efeito, a alusão ao seu antigo modo de vida corresponde melhor a ex-gentios do que a judeus (1 Pe. 1:14; 18; 4:3). Todavia, eles já estavam familiarizados com a Sagrada Escritura, como prova o uso freqüente de citações do Antigo Testamento na epístola. As comunidades a que se destinava a epístola tinham, na sua maior parte sido fundadas durante a missão paulina, ou seja, se não diretamente pelo próprio Paulo, ao menos por seus colaboradores que se espalharam pelas diversas províncias da Ásia Menor, a partir dos principais centros (conforme o exemplo de Epafras, que levou o Evangelho para Colossos, Cl. 1:7). Porque Pedro escreveria para eles? Isso faz com que alguns entendam que, quando essa Epístola foi produzida, Paulo já teria morrido. O fato de Silvano e Marcos, antigos companheiros de Paulo, estarem com Pedro também reforça essa hipótese. Na epístola, a organização dos ministérios é menos elaborada do que nas epístolas pastorais e se amolda melhor a uma época relativamente antiga da vida da Igreja primitiva; mencionam-se apenas os anciãos (1 Pe. 5:1-4) e, indiretamente, os diáconos (1 Pe. 4:11). Com relação à condição social, os membros dessas comunidades, de modo geral, deviam ser humildes, como atesta a passagem especialmente desenvolvida sobre o modo de se comportarem os servos ou escravos (1 Pe. 2:18-25). Os destinatários estavam distribuídos em comunidades cristãs, gente que passou pela experiência de um “novo nascimento” pela fé em Jesus Cristo (1 Pe. 1:3, 23), e que está ligada á sua aceitação ao evangelho que lhes fora pregado (1 Pe. 1:12, 22, 25). Tal evento marcou, decididamente, uma ruptura nas suas vidas, de sorte que agora se pode falar de um “outrora sem Cristo” e de um “mas agora ... com Cristo”. DATA DA EPÍSTOLA As perseguições aos cristãos, na segunda metade do primeiro século se tornaram tão comuns que as palavras de Pedro poderiam aplicar-se a qualquer década deste período. Pouco aproveita, portanto, procurar deduzir de seus termos, e de sua mensagem, com alguma exatidão, a data da Epístola. Porém, em I Pe. 1:1, Pedro dirige-se aos seus leitores chamando-os “eleitos, forasteiros da dispersão”, nas regiões que menciona. O uso do termo “dispersão” indica que os cristãos a quem Pedro escrevia, davam valor à sua nacionalidade judaica e gozavam dos muitos privilégios que os romanos tornaram extensivos aos judeus. Ora, Pedro ensina claramente que aos cristãos cumpre estar sujeitos a toda ordenação humana por amor ao Senhor e considerar as autoridades civis como divinamente designadas para governá-los (I Pe. 2:13–17). Tal exortação não seria feita depois, senão antes que a perseguição de Nero os alcançasse. Sendo assim a carta deve ter sido escrita antes do verão de 64 A. D. CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA O livro é exortativo, consolador, cristológico, "cristocêntrico". Observamos que Tiago quase não cita Jesus em sua carta. Pedro, porém, cita-o a todo momento. Aquele que o havia negado, agora tem no seu nome a base de sua doutrina. Pedro apresenta Jesus como: Fonte de esperança – I Pe. 1:3 / Cordeiro do sacrifício – I Pe. 1:19. Pedra angular – I Pe; 2:6 / Exemplo perfeito – I Pe. 2:21-23. Aquele que levou nossos pecados – I Pe. 2:24. / Sumo Pastor – I Pe. 2:25. Bispo das nossas almas – I Pe. 2:25. / Aquele que está assentado à destra de Deus – I Pe. 3:22. I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 21
  • 22. ESTILO LITERÁRIO A atenção de numerosos críticos tem sido despertada pelas alusões ao batismo que aparecem, em particular, nos três primeiros capítulos da epístola. Além disso, alguns julgaram poder distinguir uma mudança de atmosfera a partir de I Pe. 4:12, os sofrimentos já não são considerados como mera possibilidade, mas, como realidade atual (I Pe. 4:12; 5:9; 2:20; 3:14, 17). Com fundamento em tais constatações, têm sido emitidas várias hipóteses a respeito do gênero literário e da unidade da epístola, encarecendo principalmente sua origem litúrgica. Uns pensam que ela reproduz uma liturgia batismal (I Pe. 1:3; 4:11), à qual se teria ajuntado um escrito mais tardio, destinado a confirmar os batizados na fé (I Pe. 4:12; 5:14). Outros não dão maior importância às diferenças notadas entre I Pe. 1:3; 4:11; 4:12; 5:11, e consideram I Pe. 1:3–5, 11 como uma homilia batismal, à qual se teria conferido o caráter de uma epístola pelo acréscimo de I Pe. 1:1-2; 5:12-14. Por fim, pretendeu-se ver em I Pedro uma liturgia da semana pascal. Portanto, não há como pôr em dúvida a natureza epistolar e a unidade de 1 Pedro . A epístola está solidamente enraizada em toda uma tradição catequética comum à Igreja primitiva. O final (I Pe. 5:12) lhe define exatamente o escopo: exortar e fortalecer na fé cristãos cujo zelo corria o risco de esmorecer, e cuja coragem estava sendo posta à prova por diversas tribulações. Neste intuito, o autor se refere a ensinamentos que esses cristãos já tinham ouvido por ocasião da sua conversão e do seu batismo. Esta Epístola não se mostra tão hábil na retórica como a de Tiago, mas evidencia conhecimento sobre os artifícios retóricos do grego. A Epístola contém menor número de hebraísmos do que os escritos de Paulo, e os supostamente identificados aparecem em I Pe. 1:13; 14; 17; 25; 3:7. De forma geral o autor sagrado usa de graça, liberdade e dignidade em sua linguagem, e freqüentemente com precisão refinada. É obvio, portanto que Pedro, o apóstolo não poderia ter escrito esta Epístola pessoalmente, mas os escritos tem o toque de Silvano que era escriba e foi o amanuense dela. Silvano era um judeu, um cidadão romano, escolhido para a delicada tarefa de explicar as resoluções tomadas pelo concílio de Jerusalém (At. 15:22) para igrejas gentílicas de áreas remotas, portanto era um homem de considerável habilidade. Era um obreiro devotado, que trabalhava em áreas gentílicas. Portanto, deveria ser um homem que dominava o idioma grego. MOTIVO E PROPÓSITOS Há muitas alusões a perseguições nesta Epístola, considerando-se sua brevidade. Torna-se óbvio que tais perseguições foram o motivo da escrita desta Epístola. O escritor sagrado queria fortalecer os cristãos da Ásia Menor, para poderem enfrentar as tribulações que já sofriam e preparando-os para os testes ainda mais severos no futuro (1 Pe. 4:12), e para todo tipo de oposição que enfrentariam. Também queria que se mostrassem firmes em sua lealdade cristã mostrando-lhes que o próprio Cristo foi perseguido. O alvo do autor desta breve Epístola, é exclusivamente prático. Seus leitores não deveriam perder de vista o grande prêmio; através de seu amor e pureza deveriam avançar e propagar o poder do Evangelho, provocando a admiração de seus adversários. O verdadeiro cristão é distinguido melhor em período de grande sofrimento. PROPÓSITO DA CARTA - FIRMAR, ORIENTAR, CONFORTAR. Para os irmãos atribulados, Pedro oferece uma palavra de esperança, menciona os fundamentos da fé cristã e o que Deus tem para nós no futuro. Quando as tribulações se multiplicam, é bastante oportuno que essas verdades sejam mencionadas para renovação da fé e do ânimo. A obra de Cristo no passado (I Pe. 1:3) e a herança cristã no futuro (I Pe. 1:4-5) são mencionadas como estímulo para se enfrentar as dificuldades presentes (1 Pe. 1:6). I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 22
  • 23. Em tais circunstâncias, é necessário que nos lembremos de quem somos. Nossa identidade pode estar sendo questionada pelos homens, pelo diabo (Mt. 4.2) ou até mesmo por nós mesmos. Pedro então enfatiza essa realidade espiritual que, muitas vezes, é desafiada por uma realidade aparente adversa. Ele utiliza enfaticamente o verbo ser: "Não éreis povo..."; "Agora sois... povo de Deus, geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido..." (I Pe. 2:9-10). "Sois guardados, mediante a fé, para a salvação." (I Pe. 1:5). "Sois edificados como casa espiritual." (I Pe. 2:5). O autor lembra aos seus leitores o que Cristo fez por eles (I Pe. 1:2; 3:19; 2:5-21; 3:18). Nos momentos difíceis é bom lembrarmos o que Jesus fez por nós e qual é o nosso vínculo com ele. O inimigo procura colocar tudo isso em dúvida na hora da tentação. TEMAS PRINCIPAIS O tema predominante, que também sugere quase todos os demais, é o do sofrimento do cristão (I Pe. 1:6; 2:12-15; 4:12; 5:9). Vamos considerar os seguintes pontos em relação aos temas: 1) Podemo-nos regozijar nos sofrimentos (1Pe. 1:6); 2) Isso traz honra e glória a Cristo, através da prova da purificação da fé (I Pe. 1:7); Isso resulta em alegria inexprimível e cheia de glória (I Pe. 1:8); Isso resulta em vida eterna, a salvação da alma (I Pe. 1:9); A própria morte, mediante a perseguição, não é fatal: Deus ressuscitou a Cristo, e Ele também nos ressuscitará após a purificação de nossas almas (I Pe. 1:21-22); Seja como for, toda carne é apenas “erva” e através da perseguição, ou de outro modo, logo haverá de perecer (I Pe. 1: 24-25); Mas a Palavra de Deus, o Evangelho, não pode perecer, como também não podem perecer aqueles que confiam nessa Palavra (I Pe. 1:25); O próprio Jesus, a despeito de toda a sua grandeza e valor, não pode evitar o sofrimento (I Pe. 2:6), antes, seus sofrimentos foram vicários e expiatórios, o que lhes dá imenso valor, assim também os sofrimentos do cristão podem revestir-se de valor (I Pe. 2:21); O sofrimento nos mostra que precisamos ser estrangeiros e peregrinos neste mundo, pois a terra não oferece habitação segura (I Pe. 2:12); Os sofrimentos de Cristo levaram o Evangelho até as almas perdidas no hades (I Pe. 3:18; 4:6). O sofrimento serve-nos de lição moral que nos ensina a rejeitar os pecados da carne, pois é o princípio do pecado que produz desastres, bem como os atos desumanos dos homens (I Pe. 4:1); Os sofrimentos humanos podem ser uma participação nos sofrimentos de Cristo, mas devem ser sofridos apenas porque o cristão participa de sua santidade e não porque merece os maus-tratos devido a uma vida depravada (I Pe. 4:12); Os anciãos da igreja local, particularmente, deveriam estar prontos a sofrer pelo rebanho, tal como fez o Grande Pastor (I Pe. 5:1); Satanás está por detrás de homens ímpios desvairados, ele é o inspirador das desumanidades deles. Resistamos ao diabo, (I Pe. 5:8); Haverá um fim de todos os sofrimentos do cristão, porquanto Deus nos chamará para a vida eterna (I Pe. 5:10), e haveremos de finalmente triunfar, contra todos os obstáculos (I Pe. 5:11). A vida cristã conforme a primeira Epístola de Pedro. Muitas vezes ignorou-se o valor todo especial da mensagem de I Pedro . Ora, este valor aparece com toda a clareza desde que se leve em conta a situação visada pela epístola. Para o autor não se tratava mais de lançar os fundamentos da fé, que já tinham sido ensinados aos leitores destinatários do escrito (1:12). Tratava-se bem pelo contrário, diante das crescentes dificuldades experimentadas pelas comunidades cristãs, de exortá-las à perseverança, em razão mesmo da esperança que lhes fora pregada. Para tal fim, o apóstolo orienta as atenções de seus leitores em direção a Cristo , a fim de que eles tomem (ou retomem) consciência I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 23
  • 24. do poder da vida nova que nele está (1:3; 2:2); ademais, insiste sobre a natureza vitoriosa da esperança recebida, fonte de uma atividade perseverante e radiosa na vida de cada dia. A este propósito, é preciso ressaltar que a cristologia da epístola se assemelha mais à apresentada no início dos Atos, especialmente nos discursos de Pedro, que à de Paulo (p. ex., o tema do servo sofredor, conforme as citações acima; a função do batismo , At 2:38-40 e I Pe. 3:21; cf. igualmente At. 2:31 e I Pe. 3:18). Note-se ainda que se encontram ecos de várias confissões de fé ou hinos da comunidade cristã (p. ex. 2:22-24; 3:22; 4:5). Aos cristãos de todos os tempos, a epístola recorda o que implica “a esperança viva”, que é a deles em Jesus Cristo, a adesão confiante ao Senhor vitorioso, junto com uma atividade construtiva a seu serviço. CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA Esta é essencialmente a Epístola da esperança, esperança viva, fundada e firmada na ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. É portadora da certeza de uma herança gloriosa, descrita como sendo incorruptível, incontaminada e imarcescível. Pedro coloca estes pensamentos, acerca da viva esperança e da herança gloriosa, no princípio de sua carta, para encorajar seus companheiros de fé com as consolações do Evangelho, a fim de que permaneçam firmes no dia da prova de fogo, suportando pacientemente seus sofrimentos e triunfando sobre as perseguições, aflições e tentações. ESBOÇO DOS CAPÍTULOS I Pedro trata de aspectos relativos à graça de Deus: A graça de Deus e o caráter de Deus – Esperança, santidade e amor fraternal – Capítulo 1 A graça de Deus e as relações – Autoridades civis, empregados e igreja – Capítulo 2 A graça de Deus e o sofrimento justificado – O exemplo de Cristo – Capítulo 4 CAPÍTULO 1 1. Saudação (1:1–2) É evidente que se tratava de alguém bastante conhecido, pois não é necessária mais nenhuma explicação sobre a sua pessoa. O autor se apresenta como “apóstolo”. O termo é usado num tom mais ou menos solene, designando a função de autoridade, de que está revestido alguém, que assim se põem a escrever para comunidades cristãs distantes. “De Jesus Cristo”, indica que a autoridade do autor não é sua, mas é delegada. Pedro fala sobre os destinatários da carta designando-os como os “eleitos que são forasteiros da dispersão”. Dois termos então, identificam este grupo: O primeiro é “eleitos”, que significa basicamente “escolhido dentro de um grupo”. O termo é muito comum na Bíblia grega, designando “aqueles que Deus separou de dentro da grande massa humana, trazendo-os para junto de si”. O segundo termo usado é “forasteiros”, que se traduz por “estrangeiros”. Refere-se a uma pessoa que está a pouco tempo num certo lugar com intenção de lá residir permanentemente. De uma forma geral, parece que os escritos do Novo Testamento, confirmam uma impressão de certos grupos com grande dinâmica e rotatividade domiciliar dentro da condição social da época, o que se tornou numa grande mola propulsora da rápida expansão do Evangelho pelo mundo romano. I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 24
  • 25. A terceira declaração sobre os destinatários de I Pedro é que se encontram na “dispersão”. Usualmente, este termo tem sido compreendido de duas maneiras: Em termos geográficos, sendo um termo técnico do vocabulário judaico, designando os judeus residentes fora da Palestina. Parece que os cristãos logo adotaram para si a idéia, representando os grupos cristãos espalhados pelo mundo gentio. Em sentido figurado, descrevendo a situação dos cristãos em qualquer lugar como pessoas que estão longe da pátria, espalhadas por este mundo. Esse é o sentido de diáspora. Uma vez que a grande maioria dos cristãos na época provinha de classes inferiores da sociedade, marginalizadas e privadas de toda sorte de direitos, a idéia aqui seria então de grupos vivendo à margem da sociedade, numa verdadeira diáspora dentro da própria localidade em que moram. A eleição e o conseqüente estilo de vida dos cristãos em meio à sociedade, é assim apresentada, como: fundamentada no propósito eterno de Deus Pai, concretizada por mediação do Espírito Santo e realizada como obediência a Cristo, junto com o reconhecimento do fato de ser Sua propriedade. O caráter trinitário dessa formulação geralmente é reconhecido por todos. Em cada uma das três frases coordenadas, a ênfase recai respectivamente sobre Pai, Espírito Santo e Jesus Cristo: Em primeiro lugar, a experiência dos cristãos como forasteiros eleitos está fundamentada na presciência de Deus. Uma maneira possível de se compreender o termo, é considerá-lo como tão somente a capacidade que Deus tem de ver e saber todas as coisas antes mesmo que aconteçam (Onisciência). Em segundo lugar, essa salvação que já estava na mente de Deus é realizada concretamente, então, em “santificação do Espírito”. Santificação indica um processo de natureza moral, ou pelo menos com implicações morais claras. Em terceiro lugar, é indicado o objetivo da escolha do Pai concretizada pelo Espírito: a “obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”. A ênfase aqui parece estar na obediência como decisão, como aceitação da mensagem do Evangelho, embora não se possa excluir a conseqüência lógica: uma vida de obediência. 2. Louvor a Deus pela Salvação (1:3–12) Depois da saudação que era comum nas cartas da época, o autor entra agora no conteúdo específico da sua carta. Como em outras cartas do Novo Testamento, olha-se primeiro para o alto, numa expressão de louvor e agradecimento a Deus por bênçãos recebidas, ou em pura contemplação de Sua grandeza e bondade. 2.1. Conseqüências da ressurreição de Jesus Cristo para os cristãos (1:3–5) “Bendito o Deus e Pai...” O agradecimento e a intercessão é formulado aqui no estilo das bendições judaicas. Mas a situação é bem diferente. Alguma coisa mudou. Aparentemente, aqui Deus está mais próximo, parece ser conhecido de forma mais íntima pela pessoa que louva e bendiz. O Deus que opera prodígios (Sl. 72:18), é reconhecido agora pelo maior prodígio já efetuado na história humana: a ressurreição de Jesus Cristo, revelando através dela, e pelas implicações que dela advém, a Sua grande misericórdia para com o homem. Logo, o novo nascimento é decorrência da ressurreição de Jesus Cristo. Ele é possível porque esta foi possível; é o mesmo poder que opera em ambos. Deus, então, é louvado pela regeneração que operou tanto no autor como nos leitores. O novo nascimento, assim, tem a virtude de criar naqueles que o experimentam uma “viva esperança”. No sentido bíblico, viva esperança é uma esperança sempre renovada, pela confiança no poder e na confiabilidade daquele que a motivou. O propósito ou alvo do novo nascimento é outra vez definido, desta vez em termos de uma “herança”. Esta herança não é definida como uma espécie de utopia futura, mas como tendo já sua existência. Existe uma relação entre o conceito de “herança” (v. 4) e do novo nascimento (v. 3). O cristão renasce dentro de uma nova “família” (Ef. 2:19), passando a estar para com Deus numa I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 25