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INTERVENÇÃO NA CONVENÇÃO DA A.S.A.1
Martin Nicolaus2
Minhas observações não são dirigidas ao Secretário da Saúde,
Educação e Bem-Estar. Este funcionário aceitou voluntariamente atuar como
membro de uma instituição governamental que atualmente mantém, para
sobreviver, uma batalha em duas frentes. As guerras imperialistas, tais como a
que se desenvolve contra o Vietnã, são em geral também batalhas em duas
frentes: uma é a luta contra os cidadãos estrangeiros e a outra é o
enfrentamento com a própria população de seu país. O Secretário da Saúde,
Educação e Bem-Estar é o chefe militar da luta interna. A experiência
adquirida no Vietnã demonstra que o diálogo entre cidadãos e seus
governantes é um adestramento na tolerância repressiva. Segundo as palavras
de Robert S. Lynd, constitui um diálogo entre galinhas e elefantes. Ele detém
certo poder sobre minha pessoa: portanto, ainda que sendo errôneos seus
argumentos, há de ter razão; e eu sempre estarei equivocado por mais certo
que esteja.
Dirijo-me sim, à platéia que ouviu o Secretário. Há certa esperança - se
bem que já é muito tarde para isso - de que entre os membros e simpatizantes
da Sociologia aqui reunidos, existam alguns cuja vida ainda não foi vendida e
comprometida a tal ponto que esteja fora de seu controle a possibilidade de
iniciar mudanças e reparar erros.
A elite dirigente dentro de nossa profissão convidou um orador que tem
um cargo que se chama Saúde, Educação e Bem-Estar. Aqueles entre vocês
que prestaram a atenção ao que ele se viu obrigado a dizer, possivelmente
estejam de acordo em que esta definição, esta descrição que fiz, leva uma
mensagem precisa. Entretanto, há muitos entre vocês, incluindo os
investigadores inflexíveis, que sabem ou devem saber mais. O departamento
que ele encabeça se acha descrito com maior precisão como o local onde se
vela pela injusta distribuição do mal evitável, pela consolidação da propaganda
interna e pela doutrinação e preservação de uma força de trabalho, barata e
dócil para ganhar salários. É o Secretário da Corrupção, Propaganda e
Dissolução de Greves.
Possivelmente vocês - você - considerem que me expressei com
demasiada força; tudo depende da perspectiva que cada um tem e do lugar de
observação que esteja. Vistos pelo outro lado das paredes do Hotel Sheraton,
tais termos podem parecer ofensivos, porém se vocês, senhoras e senhores,
tiverem a bondade de se colocar frente à rua que vai a Roxbury, poderão ter
1
Trabalho lido durante a convenção anual da A.S.A. (American Sociological Association) em 26 de
agosto de 1968. Publicado em espanhol na coletânea Ciências Sociales: Ideologia y realidad nacional
preparada por Rosalía Cortés. Publicada pela Editorial Tiempo Contemporáneo de Buenos Aires, em
1970. A tradução do inglês para o espanhol foi feita por Giovanna von Winckhler. A presente tradução,
do espanhol para o português, foi realizada por Nelson Dacio Tomazi, então professor do Departamento
de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina – Paraná, em fevereiro de 2000.
2
O autor é membro do Movimento de Liberação dos Sociólogos.
outra perspectiva e mudar o vocabulário. Se desejam observar o mundo social
pelos olhos daqueles que se acham imersos nele, em sua realidade, ou seja,
através dos olhos da população, e se usarem a mesma perspicácia com que se
estimulam mutuamente, então conseguirão um enfoque diferente da ci6encia
social a que se dedicam.
Por tudo o que disse, esta convenção é um embuste. Não é a reunião
daqueles que estudam e conhecem, ou promovem o estudo e o conhecimento
da realidade social, senão um conclave de sacerdotes, escribas, servos
intelectuais de alta e baixa linhagem, e suas inocentes vítimas, comprometidos
na mútua acusação de falsidade, na comum consagração de um mito.
A Sociologia não e nem foi jamais uma indagação objetiva da verdade
ou realidade sociais. Historicamente, a profissão tem como origem o
tradicionalismo e conservadorismo europeus do século XIX, unidos ao
liberalismo da grande empresa estadunidense do século XX. Isso quer dizer
que os olhos dos sociólogos, com poucas e honoráveis (ou bem honoráveis e
poucas) exceções, estão dirigidos para baixo e suas mãos para cima.
O olhar para baixo, para estudar as atividades das classes baixas, da
população submetida, daquelas classes que criam problemas para o fácil
exercício da hegemonia governamental. Posto que a classe governamental
nesta sociedade se define a si mesma como a sociedade autêntica - da mesma
forma que Davis e Moore em seu desonroso artigo de propaganda de 1945,
identificaram a sociedade com aqueles que a dirigem - os problemas da classe
governamental tem sido definidos como problemas sociais.
A profissão se afastou já da etapa conservadora: "problema social" não
é mais o termo preferido. Porém a perspectiva subjacente é a mesma. As
coisas que sociologicamente são "interessantes" são as que afetam aqueles
que se acham no topo da montanha e sentem os tremores de um terremoto.
Os sociólogos montam guarda na guarnição e informam a seus chefes
os movimentos da população sitiada. Os mais intrépidos se disfarçam de povo
e se mesclam - com o paisano no "campo" para retornar com livros e artigos
que rompem a secreta proteção que envolve a população oprimida, e a tornam
mais acessível à manipulação e ao controle.
O sociólogo, como investigador ao serviço de seus amos, é
precisamente uma espécie de espião. O exercício da profissão difere da
espionagem tão só pelo fato que esta conta com uma complexidade
relativamente maior, graças às modernas técnicas eletrônicas.
É por acaso um acidente que a Sociologia Industrial surgiu no contexto
dos emergentes "problemas trabalhistas", que a Sociologia Política haja
evoluído quando as eleições se tornaram menos previsíveis, ou que a
Sociologia da relações raciais esteja florescendo agora? E estes são nada
mais que alguns exemplos.
Como sociólogos, vocês devem seu trabalho aos organizadores de
sindicatos que foram surpreendidos e golpeados, aos eleitores que chegaram
ao tédio, aos negros que foram baleados. A Sociologia chegou a sua atual
prosperidade e eminência graças ao sangue e aos ossos do pobre e do
oprimido; deve seu prestígio nesta sociedade à suposta habilidade que
possuem para brindar com informações e notificar às classes governantes dos
meios e caminhos para manter o povo reprimido.
Os olhos dos profissionais, do sociólogo se fixam na gente da classe
baixa e suas mãos se estendem para as classes dominantes. Não é um
segredo nem uma descoberta original, advertir publicamente que os setores
mais importantes da Sociologia se dedicam a vender computadores, códigos e
questionários às pessoas que possuem dinheiro suficiente para dar-se a esse
luxo e que encontra considerável utilidade em fazer-se servir de centenas de
homens e mulheres inteligentes ocupados em uma trivialidade pelas ruas.
Não quero dizer com isto, que cada investigador venda seu cérebro a
um velhaco - se bem que muitos de nos sabemos de projetos de investigação
onde isso aconteceu - senão meramente que os estratos dominantes da
profissão, aos quais todos os membros se acham, em certa medida
associados, são tais que o serviço presenteado às classes governantes desta
sociedade é a forma mais elevada de honra e a maior proeza.
O sociólogo laureado, o de alto status, o de avultado contrato, o
sociólogo de alto turismo, o que publica um livro por ano e o que leva o
uniforme de criado, a roupa e a gravata de seus amos, é o que dá o tom e a
ética da profissão e na realidade não é mais nem menos que um servente
doméstico na instituição corporativa, um Tio Tom branco, intelectual, não só
para seu próprio governo e classe governamental, senão para qualquer
vivente. Isto ajuda a compreender porque os sociólogos soviéticos e os
estadunidenses estão descobrindo, após tantos anos de separação que, depois
de tudo, tem algo em comum.
Formar, educar e treinar geração após geração as mentes mais
brilhantes que, no assim chamado sistema educacional deste país, tem sido
autorizadas a sobreviver na presente ética sociológica da servidão, e
associadas à conseguinte sociocracia, é uma empresa criminal, uma das
muitas traições que se cometem contra a juventude e de são responsáveis
aqueles que se constituem em uma atitude loco parentis, que geralmente é
muito mais opressiva que qualquer relação paternal. O crime que as escolas
de graduação cometem contra a mente a moral da gente jovem é ainda mais
imperdoável pelo enorme potencial libertário que decorre do conhecimento
acerca da vida social.
Diferentemente do que ocorre com a investigação sobre as árvores, as
pedras, o conhecimento da gente afeta diretamente o que somos, o que
fazemos e nossas expectativas. O clã dos governantes desta sociedade não
investiria tanto em fomentar tal conhecimento se não conferisse poder. Até
agora, os sociólogos tem estado deslocando este conhecimento ao longo de
um único caminho: tomando-o do povo e presenteando-o aos governantes.
Que aconteceria se esta mecânica se invertesse? Que aconteceria se
os hábitos, problemas, atitudes e decisões do rico e do poderoso fossem
diariamente controlados por milhares de investigações sistemáticas,
observados cada hora, analisados e checados, tabulados e publicados em uma
centena de baratas revistas populares, escritas de tal modo que mesmo os
adolescentes pudessem entender e prever os atos dos chefes de seus pais,
bem como manipulá-los e controlá-los?
Teria sido possível a guerra contra o Vietnã se a estrutura, função e
táticas da instituição imperial dos Estados Unidos houvesse sido matéria de
detalhado conhecimento público há dez anos? A Sociologia tem trabalhado
para criar e aumentar a distribuição injusta do conhecimento; tem trabalhado
com o objetivo de potencializar a estrutura de poder e faze-la mais conhecível
e, portanto, para reduzir a população a uma maior impotência e ignorância.
No verão passado, de 1968, enquanto o partido político agora no poder
era convocado com o desenrolar de arames farpados e carros blindados, a
profissão sociológica considerou-se a si mesma especialmente favorecida e
feliz, porque suas próprias deliberações puderam levar a cabo com uma
proporção entre policiais e participantes menor de um a um. Talvez isso de
deva a que o povo dos Estados Unidos não sabe quantos de seus problemas
correntes emanam dos quase esquecidos (para citar uma frase de Lord
Keynes) garranchos de um obscuro professor de Sociologia. Ou é possível que
a Sociologia seja ainda uma ciência tão tosca que não represente nenhum
perigo claro e imediato.
Em 1968 é tarde já, muito tarde, demasiado tarde, para repetir uma vez
mais o que Robert S. Lyn e C. Wright Mills e centenas de outros estão dizendo
durante muito tempo: que a profissão deve reformar-se. Tendo em vista as
forças e o dinheiro que há por trás da sociologia como uma prática de
servilismo intelectual, é irreal esperar que o corpo profissional dê uma meia
volta.
Quando as cercas de arame farpado cercarem a convenção da
Associação Americana de sociologia (ASA) em um ano futuro, a maioria de
seus membros ainda não entenderá o porquê.

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De 1968 até aqui: qual a diferença?

  • 1. INTERVENÇÃO NA CONVENÇÃO DA A.S.A.1 Martin Nicolaus2 Minhas observações não são dirigidas ao Secretário da Saúde, Educação e Bem-Estar. Este funcionário aceitou voluntariamente atuar como membro de uma instituição governamental que atualmente mantém, para sobreviver, uma batalha em duas frentes. As guerras imperialistas, tais como a que se desenvolve contra o Vietnã, são em geral também batalhas em duas frentes: uma é a luta contra os cidadãos estrangeiros e a outra é o enfrentamento com a própria população de seu país. O Secretário da Saúde, Educação e Bem-Estar é o chefe militar da luta interna. A experiência adquirida no Vietnã demonstra que o diálogo entre cidadãos e seus governantes é um adestramento na tolerância repressiva. Segundo as palavras de Robert S. Lynd, constitui um diálogo entre galinhas e elefantes. Ele detém certo poder sobre minha pessoa: portanto, ainda que sendo errôneos seus argumentos, há de ter razão; e eu sempre estarei equivocado por mais certo que esteja. Dirijo-me sim, à platéia que ouviu o Secretário. Há certa esperança - se bem que já é muito tarde para isso - de que entre os membros e simpatizantes da Sociologia aqui reunidos, existam alguns cuja vida ainda não foi vendida e comprometida a tal ponto que esteja fora de seu controle a possibilidade de iniciar mudanças e reparar erros. A elite dirigente dentro de nossa profissão convidou um orador que tem um cargo que se chama Saúde, Educação e Bem-Estar. Aqueles entre vocês que prestaram a atenção ao que ele se viu obrigado a dizer, possivelmente estejam de acordo em que esta definição, esta descrição que fiz, leva uma mensagem precisa. Entretanto, há muitos entre vocês, incluindo os investigadores inflexíveis, que sabem ou devem saber mais. O departamento que ele encabeça se acha descrito com maior precisão como o local onde se vela pela injusta distribuição do mal evitável, pela consolidação da propaganda interna e pela doutrinação e preservação de uma força de trabalho, barata e dócil para ganhar salários. É o Secretário da Corrupção, Propaganda e Dissolução de Greves. Possivelmente vocês - você - considerem que me expressei com demasiada força; tudo depende da perspectiva que cada um tem e do lugar de observação que esteja. Vistos pelo outro lado das paredes do Hotel Sheraton, tais termos podem parecer ofensivos, porém se vocês, senhoras e senhores, tiverem a bondade de se colocar frente à rua que vai a Roxbury, poderão ter 1 Trabalho lido durante a convenção anual da A.S.A. (American Sociological Association) em 26 de agosto de 1968. Publicado em espanhol na coletânea Ciências Sociales: Ideologia y realidad nacional preparada por Rosalía Cortés. Publicada pela Editorial Tiempo Contemporáneo de Buenos Aires, em 1970. A tradução do inglês para o espanhol foi feita por Giovanna von Winckhler. A presente tradução, do espanhol para o português, foi realizada por Nelson Dacio Tomazi, então professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina – Paraná, em fevereiro de 2000. 2 O autor é membro do Movimento de Liberação dos Sociólogos.
  • 2. outra perspectiva e mudar o vocabulário. Se desejam observar o mundo social pelos olhos daqueles que se acham imersos nele, em sua realidade, ou seja, através dos olhos da população, e se usarem a mesma perspicácia com que se estimulam mutuamente, então conseguirão um enfoque diferente da ci6encia social a que se dedicam. Por tudo o que disse, esta convenção é um embuste. Não é a reunião daqueles que estudam e conhecem, ou promovem o estudo e o conhecimento da realidade social, senão um conclave de sacerdotes, escribas, servos intelectuais de alta e baixa linhagem, e suas inocentes vítimas, comprometidos na mútua acusação de falsidade, na comum consagração de um mito. A Sociologia não e nem foi jamais uma indagação objetiva da verdade ou realidade sociais. Historicamente, a profissão tem como origem o tradicionalismo e conservadorismo europeus do século XIX, unidos ao liberalismo da grande empresa estadunidense do século XX. Isso quer dizer que os olhos dos sociólogos, com poucas e honoráveis (ou bem honoráveis e poucas) exceções, estão dirigidos para baixo e suas mãos para cima. O olhar para baixo, para estudar as atividades das classes baixas, da população submetida, daquelas classes que criam problemas para o fácil exercício da hegemonia governamental. Posto que a classe governamental nesta sociedade se define a si mesma como a sociedade autêntica - da mesma forma que Davis e Moore em seu desonroso artigo de propaganda de 1945, identificaram a sociedade com aqueles que a dirigem - os problemas da classe governamental tem sido definidos como problemas sociais. A profissão se afastou já da etapa conservadora: "problema social" não é mais o termo preferido. Porém a perspectiva subjacente é a mesma. As coisas que sociologicamente são "interessantes" são as que afetam aqueles que se acham no topo da montanha e sentem os tremores de um terremoto. Os sociólogos montam guarda na guarnição e informam a seus chefes os movimentos da população sitiada. Os mais intrépidos se disfarçam de povo e se mesclam - com o paisano no "campo" para retornar com livros e artigos que rompem a secreta proteção que envolve a população oprimida, e a tornam mais acessível à manipulação e ao controle. O sociólogo, como investigador ao serviço de seus amos, é precisamente uma espécie de espião. O exercício da profissão difere da espionagem tão só pelo fato que esta conta com uma complexidade relativamente maior, graças às modernas técnicas eletrônicas. É por acaso um acidente que a Sociologia Industrial surgiu no contexto dos emergentes "problemas trabalhistas", que a Sociologia Política haja evoluído quando as eleições se tornaram menos previsíveis, ou que a Sociologia da relações raciais esteja florescendo agora? E estes são nada mais que alguns exemplos. Como sociólogos, vocês devem seu trabalho aos organizadores de sindicatos que foram surpreendidos e golpeados, aos eleitores que chegaram
  • 3. ao tédio, aos negros que foram baleados. A Sociologia chegou a sua atual prosperidade e eminência graças ao sangue e aos ossos do pobre e do oprimido; deve seu prestígio nesta sociedade à suposta habilidade que possuem para brindar com informações e notificar às classes governantes dos meios e caminhos para manter o povo reprimido. Os olhos dos profissionais, do sociólogo se fixam na gente da classe baixa e suas mãos se estendem para as classes dominantes. Não é um segredo nem uma descoberta original, advertir publicamente que os setores mais importantes da Sociologia se dedicam a vender computadores, códigos e questionários às pessoas que possuem dinheiro suficiente para dar-se a esse luxo e que encontra considerável utilidade em fazer-se servir de centenas de homens e mulheres inteligentes ocupados em uma trivialidade pelas ruas. Não quero dizer com isto, que cada investigador venda seu cérebro a um velhaco - se bem que muitos de nos sabemos de projetos de investigação onde isso aconteceu - senão meramente que os estratos dominantes da profissão, aos quais todos os membros se acham, em certa medida associados, são tais que o serviço presenteado às classes governantes desta sociedade é a forma mais elevada de honra e a maior proeza. O sociólogo laureado, o de alto status, o de avultado contrato, o sociólogo de alto turismo, o que publica um livro por ano e o que leva o uniforme de criado, a roupa e a gravata de seus amos, é o que dá o tom e a ética da profissão e na realidade não é mais nem menos que um servente doméstico na instituição corporativa, um Tio Tom branco, intelectual, não só para seu próprio governo e classe governamental, senão para qualquer vivente. Isto ajuda a compreender porque os sociólogos soviéticos e os estadunidenses estão descobrindo, após tantos anos de separação que, depois de tudo, tem algo em comum. Formar, educar e treinar geração após geração as mentes mais brilhantes que, no assim chamado sistema educacional deste país, tem sido autorizadas a sobreviver na presente ética sociológica da servidão, e associadas à conseguinte sociocracia, é uma empresa criminal, uma das muitas traições que se cometem contra a juventude e de são responsáveis aqueles que se constituem em uma atitude loco parentis, que geralmente é muito mais opressiva que qualquer relação paternal. O crime que as escolas de graduação cometem contra a mente a moral da gente jovem é ainda mais imperdoável pelo enorme potencial libertário que decorre do conhecimento acerca da vida social. Diferentemente do que ocorre com a investigação sobre as árvores, as pedras, o conhecimento da gente afeta diretamente o que somos, o que fazemos e nossas expectativas. O clã dos governantes desta sociedade não investiria tanto em fomentar tal conhecimento se não conferisse poder. Até agora, os sociólogos tem estado deslocando este conhecimento ao longo de um único caminho: tomando-o do povo e presenteando-o aos governantes. Que aconteceria se esta mecânica se invertesse? Que aconteceria se os hábitos, problemas, atitudes e decisões do rico e do poderoso fossem
  • 4. diariamente controlados por milhares de investigações sistemáticas, observados cada hora, analisados e checados, tabulados e publicados em uma centena de baratas revistas populares, escritas de tal modo que mesmo os adolescentes pudessem entender e prever os atos dos chefes de seus pais, bem como manipulá-los e controlá-los? Teria sido possível a guerra contra o Vietnã se a estrutura, função e táticas da instituição imperial dos Estados Unidos houvesse sido matéria de detalhado conhecimento público há dez anos? A Sociologia tem trabalhado para criar e aumentar a distribuição injusta do conhecimento; tem trabalhado com o objetivo de potencializar a estrutura de poder e faze-la mais conhecível e, portanto, para reduzir a população a uma maior impotência e ignorância. No verão passado, de 1968, enquanto o partido político agora no poder era convocado com o desenrolar de arames farpados e carros blindados, a profissão sociológica considerou-se a si mesma especialmente favorecida e feliz, porque suas próprias deliberações puderam levar a cabo com uma proporção entre policiais e participantes menor de um a um. Talvez isso de deva a que o povo dos Estados Unidos não sabe quantos de seus problemas correntes emanam dos quase esquecidos (para citar uma frase de Lord Keynes) garranchos de um obscuro professor de Sociologia. Ou é possível que a Sociologia seja ainda uma ciência tão tosca que não represente nenhum perigo claro e imediato. Em 1968 é tarde já, muito tarde, demasiado tarde, para repetir uma vez mais o que Robert S. Lyn e C. Wright Mills e centenas de outros estão dizendo durante muito tempo: que a profissão deve reformar-se. Tendo em vista as forças e o dinheiro que há por trás da sociologia como uma prática de servilismo intelectual, é irreal esperar que o corpo profissional dê uma meia volta. Quando as cercas de arame farpado cercarem a convenção da Associação Americana de sociologia (ASA) em um ano futuro, a maioria de seus membros ainda não entenderá o porquê.