Este documento descreve uma experiência educativa em arte contemporânea com alunos do 9o ano do ensino fundamental. O autor apresenta o contexto da escola, as discussões com os alunos sobre conceitos de arte contemporânea e exemplos históricos. O projeto teve como objetivo promover o conhecimento e a criticidade dos alunos por meio da exploração de temas e técnicas da arte contemporânea.
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
Ensino de arte contemporânea no 9o ano
1. Práticas de ensino na formação inicial do professorado
INFORME DE EXPERÊNCIA
ARTE CONTEMPORÂNEA, EXPERIÊNCIAS DE ACUMULAÇÃO NO 9° ANO
DO ENSINO FUNDAMENTAL
CUNHA, Dayany da Silva
dayany.cunha@gmail.com
FAV-UFG
Palavras Chave: Acumulação - Arte Contemporânea - Ação Pedagógica.
Arte contemporânea quando?
A Arte Contemporânea ainda é um labirinto de conceitos, formas e técnicas a ser
explorado e pesquisado. É um conceito que vem sendo gerado desde o final da
década de 60 e que está em construção até hoje. Não podemos nos desaperceber do
fato de que Arte Contemporânea não está diretamente relacionada à arte que se faz
hoje (na contemporaneidade) e sim, muito mais, ao aspecto conceitual do mesmo.
Segundo Millet (1997, p.7), a expressão:
... arte contemporânea possui as qualidades das expressões feitas,
suficientemente ampla para se inserir numa frase quando falta uma
designação mais precisa, mas suficientemente explícita para que o
interlocutor perceba que está a falar de uma determinada forma de
arte e não de toda a arte produzida por todos os artistas hoje vivos e
que são, portanto, nossos contemporâneos.
Dentro deste conceito artístico, queremos descobrir como a arte contemporânea tem
sido trabalhada no 9º ano da Escola Municipal Marechal Castelo Branco e,
conjuntamente com a realidade da comunidade local propor uma ação pedagógica que
dê aos alunos maior conhecimento histórico do assunto, descobrir as relações dessa
arte com o nosso cotidiano e contexto social e produzir arte que tem a ver conosco.
A escolha do tema se deu devido à necessidade de compreender como a arte
contemporânea tem sido abordada na escola pública, já que é um tema relativamente
novo até mesmo para os professores formados em Artes Visuais na UFG, dado a
discussão do tema só ter sido iniciado dentro da universidade há aproximadamente
dez anos, contemplando então a minoria dos professores atuantes no ensino de arte
em Goiás. Por isso, a importância de levar essa discussão para dentro da escola, por
mais complexa que seja devido à dificuldade de sua classificação histórica e formal.
2. Onde...
A Escola Municipal Marechal Castelo Branco está situada numa região afastada do
Centro de Goiânia. Neste bairro existem mais quatro escolas municipais, duas
estaduais e algumas particulares. É uma escola ampla, com quadra de esportes, um
pátio central coberto onde os estudantes correm e jogam bola durante o recreio,
também tem um mine tablado neste local, onde eles usam para palestras e
apresentações e um espaço para horta.
Esta escola foi construída sob um modelo padrão para escolas municipais do ano
aproximado de 2006, pavilhões de salas de aula com dois andares laterais ao pátio
central e quadra de esportes ao fundo. É uma construção relativamente nova se
comparada às demais escolas municipais. Fica ao lado do condomínio e quartel do
exercito de Goiânia. Foi nessa escola que fiz minhas observações, estabeleci contato
com a comunidade escolar e desenvolvi minha proposta de ação pedagógica.
Nesta escola não há espaço específico para aula de artes, às vezes o professor
improvisa quando precisa de um lugar maior para trabalhar com os alunos, o pátio, por
ser amplo, muitas vezes é usado como o local das produções artísticas. Existe uma
sala de Vídeo/Cinema reservada para artes, mas não contempla todas as aulas, sendo
restrita para a apresentação de vídeos.
São oito turmas com o professor de artes e dois com professor pedagogo, uma média
de 33 alunos por turma. A visualidade da escola é composta por alguns grafites de
stencil,(uma técnica de molde vazado utilizada para grafitar).
Nas paredes de dentro e de fora das salas, tem cartazes pregados de acordo com o
tema da disciplina abordada em sala por um determinado período. O professor de arte
faz em média quatro mostras artísticas por ano com a produção dos alunos, com
resultados muito interessantes.
A seguir demonstro uma das surpresas que tive na escola, que rompeu com os meus
preconceitos, por descobrir que apesar dos fatos indicarem uma direção oposta ao
desenvolvimento de arte contemporânea nas escolas de ensino fundamental, ela
existe, e neste caso muito bem trabalhada e representada através das propostas do
professor de arte regente.
3. Exposição dos alunos de artes da Escola Marechal Castelo Branco 2012
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Exposição dos alunos de artes da Escola Marechal Castelo Branco 2013
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Quando...
O pré-projeto foi elaborado antes do contato com a escola, devido às orientações
metodológicas voltadas para a pesquisa tradicional. Quando entrei no PIBID, era nos
exigido um pré-projeto, com tema, metodologia, objetivos já elaborados, antes mesmo
do primeiro contato com a escola. Essa posição mudou quando tivemos contato com o
campo de estudo da cultura visual. Discorrendo sobre o ensino de artes visuais e da
cultura visual, descobrimos que era importante e necessário conhecer a comunidade
escolar local, antes de propor uma ação pedagógica. Ter um período de imersão na
1
Foto de arquivo pessoal: Kleber Jorge d’Abreu Teixeira
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Foto de arquivo pessoal: Kleber Jorge d’Abreu Teixeira
4. escola, conhecer os alunos a realidade social e comunitária, descobrir os fenômenos
próprios da realidade vivenciada por esse grupo que poderiam ocorrer durante o
processo de observação e juntos propor uma ação pedagógica coerente com a
realidade local.
Através do contato com a escola e o professor supervisor de arte, percebi de cara que
eu havia caído numa contradição a respeito do que eu imaginara. Pensava eu que
devido a recente exploração da arte contemporânea no ensino de artes visuais na
Universidade, talvez essa temática não estivesse sendo escoado ainda para as
escolas de base.
O professor supervisor Kleber Jorge d’Abreu Teixeira formou-se na UFG, em
Licenciatura em Artes Plásticas no ano de 1995, época em que o curso era
polivalente, abrangendo, artes visuais, teatro, musica e dança. Bem ou mal essa
mistura se estendeu por seu estilo de trabalho poético e aberto ao diálogo reunindo
várias características sensoriais ao ensino das artes na Escola Municipal Marechal
Castelo Branco.
Vendo o trabalho já realizado com os estudantes, percebi que tinha muito o que
aprender com eles, e que a contemporaneidade do discurso estava presente nas suas
realizações e formas de produzir. Fiquei encantada com os trabalhos realizados,
descobri depois que o trabalho desenvolvido, levou um tempo relativamente grande,
fruto de muito esforço e persistência do grupo e do professor Kleber que além de
mediador dos processos, sempre ressaltou a importância de iniciar projetos com
começo, meio e fim, motivando os estudantes a experienciar os processos até a
conclusão e fechamento do trabalho, para que os estudantes pudessem também
descobrir a satisfação de terem um trabalho concluído depois de muito labor, algo do
qual os estudantes pudessem se orgulhar, feito com suas próprias mãos.
Eu particularmente me interessei por essa pesquisa devido a minha própria dificuldade
de entender os tempos da arte contemporânea, sua definição, inicio e fim... E descobri
que ela realmente não se define como processo, ou material, método ou tempo. Não
inventaram ainda uma classificação que a enquadre num período histórico e não tem
um fim definindo porque ainda o estamos vivendo. “Os balanços e estudos disponíveis
sobre arte contemporânea tendem a fixar-se na década de 1960", sobretudo com o
advento da arte pop e do minimalismo”... Essas questões foram me permeando à
medida que eu me envolvia com o tema e pesquisava mais a respeito.
Antes de iniciar a proposta de ação, já havia tido contato com os estudantes quando
acompanhei o desenvolvimento de um projeto anterior, realizado por outra bolsista do
PIBID sobre audiovisual stopmotion. Percebi com isso que minha inserção em sala foi
tranquila, sem estranhamento, testes ou resistência por parte dos estudantes, uma vez
que eles já me conheciam em sala.
Desde o primeiro dia me trataram como ‘A Professora’, e não como uma aluna que
também estava ali para aprender. Dirigiram-se a mim para qualquer petição, e não ao
5. professor supervisor que estava comigo em sala e que me acompanhou durante todo
o processo.
Minha relação com o professor regente foi enriquecedora, trocamos muitas ideias,
discutimos os assuntos abordados as metodologias, conteúdos e plano de aula antes
da minha entrada em sala. Meu interesse maior era na construção do conhecimento e
da criticidade, através da arte contemporânea, por ser ela, carregada de conceitos,
quebra de conceitos, críticas e contradições. Neste momento meu foco maior era na
discussão com os estudantes, e o que essas imagens carregadas de ideologias
poderiam suscitar entre nós. Porém, como costume da escola e prática do professor,
ambos prestigiavam muito a produção plástica material, então adequei o projeto para
que ele contemplasse teoria e produção plástica meio a meio no curto espaço de
tempo que tínhamos. Este foi um grande desafio. Creio que passamos por isso
diariamente como professores de arte, já que o conteúdo é extenso e nos é reservada
no máximo duas entradas semanais no ensino fundamental.
A interação com os alunos também foi muito boa, apesar das conversas paralelas,
conseguimos discutir assuntos interessantes que citarei adiante.
Iniciei a primeira aula de minha ação pedagógica com as cadeiras dispostas em
círculo para nos apresentarmos e falarmos sobre o que gostávamos em artes visuais.
Observamos uma chuva de imagens, 71 fotografias de obras de arte contemporânea,
e em síntese discutimos algumas ideias como parte da abordagem teórica, como o
significado da palavra contemporâneo.
Roda de bicicleta
3
A Fonte
4
Campbell’s Soup Cans
5
3
Imagem. Marcel Duchamp. Roda de Bicicleta. Disponível em:
<http://salomao.tijolo.zip.net/images/duchamp.gif> Acesso: 26/08/13.
4
Imagem. Marcel Duchamp. A Fonte. Disponível em:
< http://comunicacaoeartes20122.wordpress.com/2013/02/18/marcel-duchamp/> Acesso: 26/08/13.
6. De Lama Lâmina
6
Invenção da cor, Penetrável Magic Square
7
Mostrei a eles uma linha do tempo para situar e localizar o movimento em questão.
Ressaltei algumas rupturas, primeiro a imagética, como o surgimento da fotografia e a
desconstrução do realismo pictórico como o impressionismo e alguns movimentos
modernos, como a arte saiu da tela para novas formas de expressão como a
instalação por exemplo. Fazendo um link com o que eles tinham estudado antes nos
projetos de PIBID anteriores ao meu, dados em sequencia com os assuntos:
identidade e subjetividade tendo a fotografia como trabalho prático e posteriormente o
trabalho áudio visual com o desenvolvimento de um curta em stop motion. Depois
discutimos um pouco sobre a ruptura conceitual com a antiarte de Duchamp que
culminou no movimento contemporâneo.
Estudamos um texto com o título: A ruptura da arte como modelo de representação do
exterior, de Ângelo Dimitre Gomes Guedes.
Adaptamos a técnica Phillips 6x6 em dinâmica de grupo para a leitura e discussão do
texto. Que tem como objetivo, segundo Barata (ano?, p.17) em,
aproveitar ao máximo a eficácia do trabalho de grupo em casos onde
não se exige forçosamente a apresentação de uma solução. Divide-
se o grupo em subgrupos de 6 participantes e concede-se um tempo
de discussão limitado a 6 minutos. Entretanto, essa característica não
5
Imagem. Andy Warhol. Campbell’s Soup Cans. Disponível em:
< http://www.imageriacomunicacao.com.br/arte/campbells-e-andy-warhol/#.Uhv2gudwfng>
Acesso: 26/08/13.
6
Imagem. Matthew Barney, De Lama Lâmina, 2004, trator florestal, Ficus, polietileno de alta
densidade, polivinil e tela de nylon. Disponível em: < http://magelstudio.com.br/2011/10/30/voce-precisa-
conhecer-inhotim/> Acesso: 26/08/13.
7
Imagem. Hélio Oiticica. Invenção da cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe, 1977, foto:
Carol Reis. Disponível em: < http://www.inhotim.org.br/index.php/arte/obra/view/354> Acesso: 26/08/13.
7. é rígida, podendo o grupo alterar tanto o número como o tempo, de
acordo com a conveniência.
Estudantes da Escola Marechal Castelo Branco em sala
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A estética da acumulação na arte contemporânea
A ideia de acumulação nas artes surge inicialmente com as assemblages, “O termo
assemblage é incorporado às artes em 1953, cunhado pelo pintor e gravador francês
Jean Dubuffet (1901-1985) para fazer referência a trabalhos que, segundo ele, "vão
além das colagens". O princípio que orienta a feitura de assemblages é a "estética da
acumulação": todo e qualquer tipo de material pode ser incorporado à obra de arte. O
trabalho artístico visa romper definitivamente as fronteiras entre arte e vida cotidiana;
ruptura já ensaiada pelo dadaísmo, sobretudo pelo ready-made de Marcel Duchamp
(1887-1968) e pelas obras Merz (1919), de Kurt Schwitters (1887-1948). O princípio
que orienta a feitura de assemblages é a "estética da acumulação": todo e qualquer
tipo de material pode ser incorporado à obra de arte. O trabalho artístico visa romper
definitivamente as fronteiras entre arte e vida cotidiana; ruptura já ensaiada pelo
dadaísmo, sobretudo pelo ready-made de Marcel Duchamp (1887-1968) e pelas obras
Merz (1919), de Kurt Schwitters (1887-1948)”.
Como a arte contemporânea é muito extensa em suas formas, materiais, expressões
como instalação, performance, escultura, fotografia com muitos exemplares
documentados para demonstração, decidi fazer um recorte dentro da arte acumulativa,
para a execução da ação pedagógica por alguns motivos que valem a pena destacar:
A arte de acumular acontece desde as primeiras rupturas conceituais como já foi
citado acima. Tem grande representatividade em volume de trabalho realizado por
artistas até hoje como pude observar na Bienal de Arte Contemporânea de São Paulo
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Foto: Dayany Cunha. Arquivo pessoal.
8. em 2012 e, além disso, possui uma vasta gama de materiais que podem ser
relacionados com os objetos do cotidiano dos estudantes.
Considerando que podemos criar uma estética com qualquer objeto na perspectiva da
acumulação e que os materiais podem ser diversos, acessíveis e expandir o campo de
possibilidades propus trabalhar no viés da acumulação no contexto da arte
contemporânea. Essa perspectiva poderia ampliar nossas discussões uma vez que a
própria historia do nosso país nos proporciona, no aspecto político e social, várias
formas de acumulação, como, por exemplo, de terras, de bens, de renda etc.
Os alunos ficaram interessados, e conversam entre si. Pergunto que nome eles dariam
as obras que estou mostrando, então a sala vira um alvoroço. Todo mundo quer falar
ao mesmo tempo. Peço ordem e que falem um de cada vez, que deem sua opinião,
mas que também possam ouvir a opinião dos colegas. Proponho que escrevam numa
folha de cartolina afixada na parede o que veem e o que sentem com as imagens que
estão mudando na projeção.
Estudantes da Escola Marechal Castelo Branco em sala
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Continuamos a demonstração de imagens com obras de vários artistas como: Wahol,
Duchamp, Jean Shin, Bispo do Rosário, Cildo Meireles, Vick Muniz, Yoko Ono,
Romero Brito, obras do acervo de Inhotim entre outros. Discutimos sobre o que é
acumular e abrimos os horizontes para reflexões sociais e pessoais sobre o ato de
acumular, o que gerou uma boa discussão sobre quais as formas de acumulação
(bens, pessoas, coisas, sentimentos bons ou ruins, dinheiro, poder...) as
consequências dessas acumulações como as desigualdades sociais, as favelas, os
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Foto: Dayany Cunha. Arquivo pessoal.
9. problemas urbanos gerados pela acumulação de lixo, ou pessoas ou o que o acumular
tem a ver com o nosso cotidiano. Os estudantes foram bem participativos deram suas
opiniões, falaram sobre os problemas do país, as lotações de ônibus, o acumulo de
lixo nas ruas e o que acumulavam em casa.
Missão/Missões
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Atalanta e Hippomenes After Guido Reni
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Carte Blanche Construções
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Natureza Morta
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Imagem. Cildo Meireles. Missão/Missões. Disponível em:
< http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u501175.shtml> Acesso: 26/08/13.
11
Imagem. Vik Muniz. Atalanta e Hippomenes After Guido Reni. Disponível em:
< http://www.mercadoarte.com.br/artigos/artistas/vik-muniz/vik-muniz/ > Acesso: 26/08/13.
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Imagem. Jean Shin. Carte Blanche Construções. Disponível em:
< http://www.jeanshin.com/carte_blanch.htm > Acesso: 26/08/13.
10. Partimos para uma discussão pessoal, sobre o que nós mesmos acumulamos o que
geramos com isso. Refletimos sobre dividir mais e acumular menos. Englobamos as
desigualdades sociais e nosso próprio egoísmo diário com as pessoas com quem
convivemos e nossa comunidade. Os próprios alunos então chegaram à conclusão
que o maior problema não está na ferramenta acumular, mas sim o que fazemos
dessa acumulação.
Podemos acumular coisas boas ou para o bem social, ou contra ele e pra nós
mesmos. Pensei que chegar a essa discussão crítica e dialógica fosse o ápice da
intenção do meu projeto, mas felizmente eu estava enganada, algo maior ainda estava
por vir.
Nas aulas subsequentes dividimos os grupos para a prática artística acumulativa.
Formamos quatro grupos, com quatro tipos de matérias diferentes, sugeri: pessoas,
madeira, tecido e papelão, mas deixei livre pra que eles escolhessem outro tipo de
material se quisessem. A um dos grupos propus o desafio de criar expressões de
acumulação de pessoas através da performance. Aos outros, que criassem alguma
representação com os outros materiais já citados e que dialogassem com as recentes
reflexões obtidas em sala para, então, partirmos para a produção.
Os alunos se organizaram em torno do material escolhido, papelão, madeira, tecido e
a cada grupo de estudantes pedi que fizessem um esboço antes de começarem a lidar
com o material. A primeira dificuldade que percebi dos estudantes foi a dificuldade de
criar com autonomia, de elaborar o esboço e manusear o material, sem que eu desse
minhas próprias sugestões de como fazer a proposta. Eu queria que partissem deles
as ideias, que sugerissem embasados nas aulas teóricas, nas discussões e nas
imagens que foram mostradas em sala. Mas na prática, mesmo depois de três aulas
teóricas e todas as discussões, eles queriam que eu dissesse a eles o que fazer,
dirigindo e delimitando o objeto a ser executado, penso que para eles era o caminho
mais rápido e fácil. Precisei conscientiza-los da importância de aliar teoria a pratica.
Existia empolgação inicial e o trabalho começou bem. Percorrendo os grupos que
produziam o trabalho ao ar livre, no pátio da escola, participei do processo orientando,
às vezes sugerindo e até limitando os excessos de brincadeiras fora de contexto entre
os estudantes.
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Imagem. Yoko Ono. Natureza Morta. Disponível em:
< http://olharparaarte.wordpress.com/2010/08/28/yoko-ono/> Acesso: 26/08/13.
11. Foto dos alunos durante a execução do projeto
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Reflexões Finais
No prazo de seis aulas chegamos ao final da linha, quer dizer do tempo. Era a ultima
aula que eu tinha para dar antes das férias de julho. O trabalho prático ainda não
estava concluído e neste ultimo dia, houve muitos faltosos. Também fomos pegos de
surpresa com um evento da Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas)
da policia militar, que ocupou o ‘nosso lugar’ no pátio da escola.
Sem a possibilidade de concluir o trabalho prático, nos reunimos em sala para
reflexões finais.
Fizemos uma roda e começamos o debate. A descoberta de um fenômeno
interessante surgiu depois da prática pedagógica, com as vivencias durante a
execução do projeto, questionamentos substanciais que apontaram através das falas
dos alunos para possíveis novas pesquisas:
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Foto: Dayany Cunha. Arquivo pessoal.
12. “Achei o trabalho interessante, porque nele conhecemos a capacidade de cada
pessoa, e poder mostrar as coisas do dia a dia, como no ônibus, na torcida
organizada, no elevador.” A. Silva.
“O trabalho no começo foi difícil de interpretar, porque a gente levou na
brincadeira, o dia a dia uma coisa que a gente faz tão normal, ficou tão difícil
pra fazer.” B. Correa.
“Eu gostei muito do trabalho no geral, mas achei muito difícil lidar com algumas
pessoas, você não pode fazer do jeito que você quer, você tem que escutar a
ideia do outro e eu tava indo nessa, borá minha ideia mesmo, e quando você
escuta a outra pessoa é muito melhor. A gente tem que saber dialogar pra
colocar o trabalho legal.” C. Batista.
Então eu questionei: Quando eu sugeri um trabalho sobre acumulação de pessoas
vocês não imaginaram que teriam esses problemas?
“Eu achei que seria reunido e que não seria brincadeira porque vale nota. É uma coisa
que a gente ta fazendo porque gosta, mas também porque a gente precisa.” D. Diniz.
Saber lidar com as diferenças, com os colegas, respeitar o espaço uns dos outros e as
opiniões dos participantes foi um dos nossos principais debates. Além da importância
de passar por etapas, vencê-las e alcançar um estagio subsequente. Não desistir no
meio do processo fez com que os estudantes percebessem que é gratificante concluir um
projeto iniciado.
Durante o debate alguns alunos se exaltaram, expondo seu ponto de vista. Nesta fase
os estudantes concluíram que trabalhar em grupo foi a parte mais difícil do projeto. A
conciliação das ideias e do fazer gerou conflitos e revelou outros problemas como
dificuldades pessoais de relacionamento e o desejo de só permanecer em algo
enquanto é fácil e prazeroso.
Descobrimos que em todos os grupos, houve uma grande dificuldade de trabalhar em
equipe, de achar um equilíbrio entre colaborar e ceder para que juntos executassem o
trabalho e atingissem algum resultado. Essa dificuldade de interação, de foco e de
organização gerou a desmotivação de alguns integrantes se estendendo para os
demais. Percebemos a importância de lidar com nossas próprias limitações e ampliar
nossa flexibilidade para aceitar a contribuição de outras pessoas do grupo.
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