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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

“Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a
eletricidade e a energia atómica: a vontade.”.
Albert Einstein

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Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Nota introdutória
Pretende-se com este trabalho apresentar a técnica de entrevista enquanto técnica
fundamental de recolha de informação em qualquer estudo das ciências sociais e ao longo da
sua estrutura iremos abordar os vários conceitos, definições e diretrizes adstritas à entrevista e
a todos os métodos de preparação e execução da mesma, bem como a todos os fundamentos
que a suportam teoricamente. Pretende-se ainda expor a forma como abordamos a análise de
conteúdo, e de todo o enquadramento teórico que a sustenta, enquanto instrumento de estudo
da entrevista.
Ir-se-á também apresentar a forma como se efetuou a análise da informação recolhida
na entrevista e, por fim, a interpretação dos dados que permitiu descobrir os significados e os
sentidos fundamentados pelo quadro teórico.
Estas técnicas foram utilizadas no estudo de caso efetuado para a UC de Pobreza e
Exclusões Sociais e as suas aplicações visaram a recolha de dados sobre a criação do próprio
emprego como fator de resiliência ao desemprego, e, tratando o conceito de exclusão social,
partindo dos seus princípios norteadores, chegar ao desemprego enquanto fenómeno que afeta
cada vez mais indivíduos e cada vez mais de diferentes estratos sociais.
Esta abordagem, focada essencialmente na exclusão social de domínio económico
(parcos rendimentos ou inexistentes, impossibilidade de obtenção de bens e serviços
indispensáveis ao pleno funcionamento do indivíduo em sociedade), onde a situação de
desemprego assume um papel preponderante na fragilização da estrutura social do indivíduo e
das suas condições psicológicas, comportamentais e das relações familiares. Incidindo num
caso concreto de sucesso de criação do próprio emprego como determinante da inclusão
social, pretende-se ilustrar que este poderá ser um dos caminhos a seguir para evitar que a
pessoa se sinta ou seja excluída socialmente.
Enquanto Educadores Sociais, promotores da mudança social, pretendemos provocar a
sociedade com esta explicação positiva de criação do próprio emprego como alternativa
resiliente ao desemprego. Reconhecemos que esta resiliência, ao ser encarada como uma
estratégia a seguir, tende a servir de alavanca ao aumento da autoestima, valorização e auto
capacitação pessoal e coletiva.

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

1. O campo de estudo
Este trabalho, baseado no desemprego enquanto fator de exclusão social, baliza-se na
linha de pensamento de Bruto da Costa, que considera que as pessoas são socialmente
excluídas quando se combinam a falta de meios económicos, o isolamento social o acesso
limitado aos direitos sociais e civis, bem como o acesso insuficiente aos recursos pessoais,
familiares, económicos e culturais. A conjugação de todos estes fatores pode, portanto, ser
definida como a fase extrema do processo de desenvolvimento da marginalização (Castel,
19901, citando em Costa, 1998). Quando falamos de exclusão social significa a exclusão n(d)a
sociedade, aqui vista como a rutura do conjunto de sistemas sociais básicos (sociabilidade,
económico, institucional, espacial e simbólico). Assim, a sua definição tende a ser mais
complexa do que a do conceito de pobreza, na medida em que não se depende apenas de
determinantes económicos mas em termos mais amplos de integração ou participação na
sociedade em um ou vários domínios desses sistemas sociais. É, pois, um processo dinâmico
dentro de qualquer sociedade e que representa uma acumulação contínua de fatores sociais e
económicos ao longo do tempo (problemas laborais, formas de educação e estilos de vida,
saúde, nacionalidade, alcoolismo, toxicodependência, violência…) (Costa, 1998).
A exclusão social e a pobreza são sem dúvida dos maiores desafios do nosso século, na
medida em que colidem com o exercício dos direitos fundamentais dos seres humanos.
Tomando como ponto de partida estes direitos fundamentais, abordaremos a exclusão social
(do tipo económico), enquanto “falta de acesso a fontes de recursos, que incluem o mercado
de trabalho, em função ao salário que se aufere; o sistema da segurança social, pelas pensões,
abonos, subsídios, etc.”. (Costa, 1998, p.15).
O conceito de desemprego, suportado pelo pensamento teórico de Maruani (2002), onde
esta autora, recorrendo a conceitos históricos, refere que foram as políticas sociais que
contribuíram para a invenção do desemprego enquanto construção social em constante
movimento e transformação, levou a que refletíssemos sobre a forma de olhar este conceito.
Entendemos, portanto, que estar/ser desempregado não significa estar apenas privado de
um trabalho remunerado, voluntária ou involuntariamente, mas também reconhecer como
legítimo a procura ativa de emprego. As próprias condições de inscrição e de direito ao
subsídio de desemprego, e que se estende numa enorme franja da nossa sociedade, não fazem
mais do que limitar as fronteiras desta mesma legitimidade. Estas condições sinalizam e
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Castel, R., (1990). Extreme Cases of Marginalization, from Vulnerability to Desaffiliation, comunicação
apresentada no European Seminar on Social Exclusion, realizado em Alghero (Itália) em Abril de 1990.

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Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

oficializam os limites do direito ao desemprego que só pode existir se houver direito ao
trabalho.

2. A entrevista enquanto técnica qualitativa de excelência
Na abordagem a este trabalho, como em qualquer trabalho realizado em ciências
sociais, foi necessário recorrer a métodos, técnicas, e estratégias específicas consoante o
assunto em questão (Albarello, Digneffe, Maroy, Ruquoy, D & Saint-Georges, 1995) e o seu
caráter indutivo permitiu-nos fazer a correspondência entre a observação e a realidade e parte
de questões particulares para chegar a conclusões generalizadas (Flick, 2005). Assente num
princípio qualitativo, que implica uma reflexão do estudo por parte do investigador, trata-se
do principal instrumento de recolha de dados onde este adota uma postura objetiva durante a
recolha desses mesmos dados (observa, participa e conversa …), assumindo, contudo, um
papel neutro.
A entrevista, enquanto técnica por excelência da investigação qualitativa (Guerra,
2006), permitiu que o participante narrasse, na sua própria linguagem, a forma como
interpretou a sua vivência ao ficar desempregado e a subsequente criação do seu próprio
emprego. Optámos por realizar a técnica de entrevista atendendo que esta seria a técnica que
provocaria maior interação entre o entrevistador e o entrevistado e que daí resultasse a
obtenção da informação pretendida (Haguette, 1997). Desta técnica foi ainda possível
desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como o participante interpretou uma
etapa (e outros aspetos) da sua vida e do meio envolvente (Bogdan & Biklen, 1994), pois a
informação recolhida diretamente e resultante da interação cara-a-cara entre investigador e
entrevistado é fruto de “(…) uma interacção social completa, um sistema de papéis, de
expectativas, de injunções, de normas e de valores implícitos, (…)”, segundo Nóvoa e Finger
(1988, p.25).
Esta técnica foi importante neste estudo, onde se pretendeu recolher junto do
entrevistado dados subjetivos, ou seja, relacionados com crenças valores, atitudes,
comportamentos, percepções e opiniões que permitiram a obtenção de informações e
elementos de reflexão muito mais ricos. Deste mesmo modo, a atenção do entrevistador
procurou captar ainda aspetos simbólicos da comunicação não-verbal para melhor interpretar
os dados recolhidos, onde o “(…) observar expressões faciais, entoações vernaculares vocais,
sinais não-verbais e outras formas de linguagem corporal são partes importantes nas
entrevistas (..)” (Dunbar, Rodriguez e Parker, 2002, p.293).

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Existem diversos tipos de entrevistas que têm sido classificadas de formas diferentes,
consoante os mais variados autores, sendo a sua escolha encarada não de forma rígida mas
sim rigorosa, isto é, não necessitamos seguir apenas um tipo de entrevista e com rigidez, mas
sim aplicar vários tipos com rigor. São adotadas grandes variedades de usos e uma grande
multiplicidade de formas que vão da mais comum (a entrevista individual falada) à entrevista
de grupo, ou mesmo às entrevistas mediatizadas pelo correio, telefone ou computador
(Fontana e Frey, 1994). Estes autores evocam uma vasta bibliografia de diversos pensadores
que defendem a existência de dois grandes tipos de entrevistas e cujos estudos se têm
centrado nos diferentes tipos desta técnica: estruturada (Babbie,1992; Bradburn et al.1979;
Kahn & Cannell, 1957); não estruturada (Denzin, 1989b; Lofland, 1971; Lofland & Lofland,
1984; Spadley, 1979).
Para Patton (1987), as entrevistas dividem-se entre quantitativas e qualitativas, sendo que
as qualitativas admitem três classificações: conversa informal, guiada e aberta. De uma forma
geral, e segundo este autor, as entrevistas implicam a definição prévia de questões a colocar.
Isto não obriga, porém, que o elenco de questões não possa ser alterado, enriquecido ou com
questões substituídas no decurso da entrevista, cabendo ao investigador a capacidade de fazer
essa avaliação tendo em conta a forma como a “conversa” for fluindo.
Já Ruiz Olabuenaga (1996) entende que a entrevista divide-se em duas modalidades:
estruturada e não estruturada. E, é na ligação destes dois tipos, que encontramos as
semiestruturadas, onde a recolha de dados consistiu, e indo ao encontro da definição
defendida por Quivy e Campehoudt (2008), no tipo de abertura e flexibilidade das questões
do guião, que levaram o participante a fazer uma leitura da fase concreta da sua vida.
Este tipo de entrevista não se quer nem muito rigorosa quanto à sua estrutura (baseada em
perguntas previamente formuladas que implicam o cuidado de não fugir a elas, pressupondo a
previsão de um conjunto de temas sob a forma de guião e que serão tratadas durante a
entrevista, permitindo obter dados mais sistemáticos e conclusões mais gerais), nem muito
flexíveis (não estruturadas – em que as perguntas não são pré-estabelecidas pelo investigador
e são definidas no decorrer da entrevista, e, por isso, surgem com o decorrer da interação entre
entrevistador e entrevistado, implicando desse modo uma grande bagagem do investigador).
Não obstante da entrevista semiestruturada implicar o controlo e direção do entrevistador,
embora tal não inclua qualquer rigidez quanto ao conteúdo ou à forma de desenvolver a
conversa, a sua “não diretividade” não significa que se recorra a perguntas exclusivamente
abertas, dado que nada impede o entrevistador de formular perguntas totalmente fechadas
quando as considerar necessárias. A não diretividade, defendida por Ruiz Olabuenaga (1996),
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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

não implica também a ausência total de um “guião orientador”, pelo contrário, “uma
entrevista sem guião não conduz, frequentemente, a lugar algum” (p.168).
Considerámos também que este seria o tipo de entrevista que mais se enquadrava no
nosso estudo, uma vez que possibilitaria a criação de um ambiente natural e que se aproxima
de uma conversa/diálogo, colocando o entrevistado mais à vontade (Bogdan & Biklen, 1994),
e que, deste modo, se realizasse num local proposto pelo participante - esplanada de um café.
Durante a entrevista, procedemos ao registo da mesma através de um gravador áudio,
sendo a utilização desta ferramenta, além de muito desejável em entrevistas, que apesar da sua
condição flexível contêm tópicos de condução Wenger (2002), evita que fosse necessário tirar
muitas notas durante o desenvolvimento e que podiam condicionar o entrevistado, e garante a
manutenção dos dados por tempo indeterminado o que possibilita posteriormente uma melhor
análise (Bogdan & Biklen (1994). Deste modo, é importante referir que quando o entrevistado
aceitou participar na entrevista, foi-lhe garantido o anonimato e a confidencialidade (através
de uma declaração de anonimato). No entanto quando realizámos a entrevista tivemos em
consideração necessidade de informar o entrevistado do tempo médio da entrevista e o
cuidado de
“(…) não esquecer as questões prévias a colocar no início das entrevistas, tais
como a explicitação do objecto de trabalho, a valorização do papel do entrevistado
no fornecimento de informações considerando o seu estatuto de informador
privilegiado, a duração e a licença para gravar, etc.”. (Guerra, 2006, p.60).
Não obstante todos os cuidados em cumprir os requisitos já referidos e do rigor ético
que pretendemos garantir, houve ainda a necessidade de superar alguma ansiedade do
entrevistado, provocada naturalmente quer pelas questões apresentadas quer pela presença do
gravador (Wenger, 2002), tendo sido indispensável elucida-lo de que o estudo se tratava de
um mero trabalho académico e reforçado a confidencialidade e anonimato dos dados.
Atenuado todo stresse identificado, toda a transcrição da entrevista foi efetuada na íntegra e
da forma como foi narrada, sem que fossem adulterados quaisquer dados, para que se
reproduzisse o discurso narrado onde a
(…) fidelidade aos dados orais deve ser o objectivo de toda a transcrição.
Queremos registar o que foi dito por um falante da forma como foi dito.
Uma transcrição não é e não pode seu uma edição da fala do entrevistado.
(Paiva, 2004, p.136)

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Metodologias de Investigação
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O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

A transcrição foi suportada na sua leitura por um glossário (siglas) de normas, definido
por Flick (2005), sendo, posteriormente disponibilizada uma cópia da transcrição ao
participante.
2.1.

Planeamento da entrevista

Entendemos que esta é uma das etapas mais importantes da entrevista, que requer algum
tempo e exige alguns cuidados. O planeamento da entrevista, tendo em conta o objeto de
estudo, o objetivo a alcançar e a escolha dos participantes são dos primeiros passos a efetuar.
Os participantes devem, dentro das possibilidades, ser conhecidos do investigador ou
apresentados já dentro do contexto a explorar, levando a que se crie uma certa empatia entre
investigador e participante e, logo, a pessoa fica mais à vontade e sente-se mais segura para
colaborar e mais confiante para responder às questões que lhe vão sendo colocadas (Bourdieu,
1999).
A oportunidade e disponibilidade do participante em conceder a entrevista, marcada
com antecedência para assegurar a sua realização, a ética do investigador ao garantir ao
participante o anonimato e a confidencialidade dos dados e, por fim, a preparação específica
do guião são os aspetos mais fundamentais nesta fase (Lakatos e Marconi (2003). Na mesma
linha de pensamento, Wenger (2002) refere que independentemente do tipo de aproximação
ao participante, este irá marcar definitivamente a relação da entrevista, e, nessa relação, será
importante também assegurar algum grau de reciprocidade. Outro aspeto enaltecido por este
autor é fazer com que a entrevista pareça uma conversa, em que resulte interação entre
investigador e participante. Assim, e seguindo o pensamento destes autores, elegemos o
participante a partir da proximidade existente entre o mesmo e um dos investigadores, que,
aproveitando o facto do seu caso (de sucesso) de criação do próprio emprego se tratar de um
acontecimento visível (criação de uma pastelaria de fabrico próprio e estabelecida na cidade
de Faro) não apresentava quaisquer barreiras na obtenção de dados e de onde resultou uma
natural e positiva interação entre ambos (já esperada). Esta entrevista, presencial, apresentou
também um vasto leque de vantagens, tais como,
(…) respostas mais precisas, devido à naturalidade contextual. (...) maior
probabilidade de respostas auto geradas. (...) distribuição simétrica de poder
interativo. (...) maior eficácia com questões complexas. (...) melhor para
entrevistados idosos ou com deficiência auditiva. (...) respostas mais atenciosas.
(...) resultados mais precisos permitem uma menor carga de trabalho para o
entrevistador. (...) melhores taxas de resposta. (...) melhor para os respondentes

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

marginalizados. (...) melhor para pesquisas envolvendo questões sensíveis.
(Roger, 2002, pp.541-544).
No desenvolvimento da entrevista, o entrevistador absteve-se momentaneamente do seu
capital cultural evitando expressões ou linguagem muito técnica ou académica, para que
ambos se entendessem na perfeição (Bourdieu, 1999), tendo sido utilizada a linguagem
corrente e de acordo com a aplicada pelo participante. Esta forma de entrevistar evitou que o
participante se sentisse constrangido e que a interação entre ambos se tornasse difícil e
prejudicasse a recolha de dados.
Houve também o cuidado de verificar se o participante não apresentava quaisquer
dificuldades de comunicação e se não haveria a tentação de auxiliar nas respostas por parte do
entrevistador, o que poderia enviesar o rigor pretendido. Na verdade, quando o entrevistado
manifesta dificuldades discursivas, o entrevistador tende a sentir alguma tentação em colocar
as respostas pelo participante, terminando as frases ou palavras. Para além de poder conduzir
a interpretações erradas da informação, esta abordagem pode limitar muito os dados na
medida em que será mais fácil ao entrevistado confirmar as respostas dadas pelo entrevistador
do que corrigi-lo com a sua visão. (Wenger, 2002).

3. Análise de conteúdo
A análise de conteúdo, tal como definida por Krippendorf (1980), é “uma técnica de
investigação que permite fazer inferências, válidas e replicáveis, dos dados para o seu
contexto”. No mesmo raciocínio, Bardin (2008) diz que a análise de conteúdo não serve
apenas para se proceder à descrição dos dados apurados, atendendo que não se pretende
apenas reproduzir os conteúdos das mensagens através da técnica utilizada, mas sim
apresentar algumas significações dessas mesmas mensagens e que se traduzam em saber.
Assim, esta análise, foi conduzida indo ao encontro das etapas fundamentais
desenhadas por Bardin (2008). Numa primeira fase, denominada por pré-análise, foi realizada
uma leitura exaustiva das informações recolhidas (leitura flutuante), as quais nos orientaram
para as questões norteadoras, que nos sugeriram a explicação do fenómeno observado (criação
do próprio emprego). A escolha de índices que apontaram para o objetivo geral da
investigação (criação do próprio emprego como determinante da inclusão social), de acordo
com o seu quadro teórico, fundamentou toda a abordagem.
Quanto à constituição do corpus, defendido por Bardin (2008), foi definida toda a
panóplia de fundamentos teóricos que entendemos realçar e selecionar para serem submetidos
à respetiva análise e que definiram a organização da informação e deram respostas de forma:

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

exaustiva, em que se esgotou a comunicação na sua totalidade e não se omitiu qualquer dado;
representativa, cuja amostra representou o universo; homogénea, em que os dados expuseram
o tema e em que a técnica e a recolha dos dados foram uniformes; pertinente, cujos
documentos adequaram-se quer ao conteúdo quer ao objetivo da entrevista; e exclusiva, cuja
classificação da categoria correspondeu apenas a um único elemento.
Com estes critérios, segundo Silva e Pinto (1986), procurou-se a existência de padrões e
regularidades existentes nos discursos de modo a preparar uma lista prévia de categorias de
codificação, sendo que uma “categoria é habitualmente composta por um termo-chave que
indica a significação central do conceito que se quer aprender, e de outros indicadores que
descrevem o campo semântico do conceito” (pp.110-111).
A segunda fase, definida por Bardin (2008) como a etapa da exploração do material,
compreendida pelo processo de transformação sistemática dos dados e agrupados em
unidades, permitiram uma descrição correta das caraterísticas importantes do conteúdo e que
implica a já referida categorização (que apesar de não ser uma etapa obrigatória de toda a
análise de conteúdo, a maioria dos procedimentos de análise de conteúdo organizam-se em
redor deste processo). Com o objetivo de alcançar o núcleo central do texto em função das
regras estabelecidas, partimos da análise de unidades de registo, que surgem como o momento
da aplicação do que foi trabalhado na pré-análise, e que, segundo Carmo e Ferreira (1998),
(…) é o segmento mínimo de conteúdo que se considera necessário para poder
proceder à análise, colocando-o numa dada categoria” e de unidade de contexto
que “constitui o segmento mais longo de conteúdo que o investigador considera
quando caracteriza uma unidade de registo, sendo a unidade de registo o mais
curto. (p.257)
E por último, o tratamento dos resultados e devida interpretação, e já na posse de um
corpus de informação trabalhado e organizado de acordo com os objetivos da investigação e
das questões levantadas, foi possível propor inferências e realizar interpretações de acordo
com o quadro teórico definido.

4. Discussão de resultados
Entendemos que a interpretação dos dados deva seguir uma estrutura e de acordo com
as dimensões/variáveis consideradas relevantes, que permita contribuir para a facilidade da
sua leitura.

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

4.1.

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Exclusão Social e Desemprego

A partir dos dados obtidos e tendo por referência o quadro teórico definido
previamente para a pesquisa, constatou-se que o participante único da amostra conseguiu
travar o processo de exclusão social (de tipo económico) ao decidir criar o seu posto de
trabalho. O entrevistado optou por criar o seu próprio emprego, como alternativa a não
conseguir encontrar trabalho, sendo que essa opção já tinha sido ponderada anteriormente
quando se encontrava a trabalhar por conta de outrem. A mera situação de se encontrar
desempregado acarretava um conjunto de sentimentos e representações que o próprio
participante rejeitava e é observável quando, questionado acerca do seu estado de espírito
aquando da situação de desemprego, o mesmo refere que foi uma situação constrangedora
porque em primeiro lugar estava desocupado e em segundo lugar a situação financeira era
bastante desfavorável e que o levava a algumas inquietações quanto ao fato de não saber
como pagar as suas contas mensais.
Ainda que de uma forma algo subtil, foi possível perceber que o participante sentiu
algum grau de exclusão social quando refere que se sentiu «desamparado porque não tinha
nada para fazer» e algum isolamento social dada a distância física entre a família e entre os
amigos, uma vez que não é natural do Algarve e cujas distâncias não permitiram um apoio
mais próximo.
4.2.

A resiliência no desemprego

O facto de o participante ter insistentemente procurado emprego e, paralelamente, ter
procurado aconselhamento junto de terceiros próximos, quanto à possibilidade de se lançar
por conta própria, confirma a existência de uma atitude de resiliência do participante. Esta
atitude comprova-se quando o mesmo indica que enquanto esteve desempregado procurou
ativamente emprego através do envio de currículos para diversas entidades. Como, não
conseguia voltar ao mundo do trabalho, optou por se aconselhar com familiares que o
ajudaram financeiramente e a planear como iria criar o próprio negócio. Consideramos que o
entrevistado, apesar de ter tido o apoio de familiares, mesmo sem esse apoio, embora o
processo de sair da situação de desemprego fosse mais moroso, possivelmente, arriscava na
mesma criar o seu próprio negócio e no limite ponderava procurar emprego fora de Portugal.
Achamos que é desta forma, dada a aparente persistência, «teimosia» e atitude lutadora com
que encarou esta fase da sua vida, que fundamenta a sua personalidade resiliente.

11
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

4.3.

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Empreendedorismo VS Emprego

Nesta vertente, e pela análise dos dados podemos constatar que existiu uma atitude
empreendedora do participante, quer pelo facto de ter decidido arriscar no seu próprio negócio
quer, inclusive, por arriscar num negócio cuja área não tinha quaisquer conhecimentos. No
entanto é importante ressalvar que também tomou esta decisão porque tinha o apoio da sua
companheira, a qual já tinha experiência na área da pastelaria. Esta atitude permitiu-lhe
resolver as dificuldades que sentia em voltar ao mercado de trabalho enquanto trabalhador por
conta de outrem, que era a realidade vivida até ficar no desemprego.
Entendemos que, neste caso concreto, trata-se de um caso de empreendedorismo por
necessidade, atendendo ao facto do participante ter tido a iniciativa de criar o seu próprio
emprego por se encontrar na situação de desempregado, sem perspetivas de conseguir
encontrar qualquer emprego, levando-o a numa situação económica desfavorável e que de
alguma forma pôs em causa a sua subsistência. Esta estratégia de contornar a situação,
criando a alternativa favorável para a ultrapassar com a aposta da criação do próprio emprego
demonstra uma clara atitude empreendedora.

5. Conclusões
5.1.

Metodológicas

Antes de realizar qualquer interpretação dos dados obtidos, pretendemos também
interpretar a influência da técnica utlizada (entrevista) e do tipo incrementado
(semiestruturado), bem como de todos os instrumentos inerentes para a obtenção desses
mesmos dados. Consideramos, assim, que apesar deste tipo de técnica se encontrar
fundamentado por diversos autores, o mesmo per se não é suficiente para a realização de
qualquer trabalho científico. Entendemos sim, que esta técnica, articulada e triangulada com
todas as formas de recolha de dados, modalidades e ferramentas, tornam o procedimento mais
diligente, conceptível e enriquecem qualquer investigação.
Contudo, e neste caso concreto de avaliação da entrevista, entendemos que além da
mesma permitir inferências sobre as dimensões identificadas, permitiu também melhorar a sua
aplicabilidade e operacionalização e aferir com maior relevo sobre os constrangimentos e
potencialidades quanto ao uso desta técnica. Neste campo metodológico, pretendemos
salientar a flexibilidade estrutural da entrevista como um dos aspetos que consideramos
positivo, visto permitir qualquer alteração ao referencial temático do decurso da entrevista. O
facto de se ter verificado algum constrangimento por parte do entrevistado pela utilização do
equipamento de gravação áudio, entendemos ser um aspeto menos positivo e que pode ter

12
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

condicionado a entrevista. Foi observável que a presença deste instrumento, e tal como
defende Wenger (2002) não deixou o participante muito à vontade. É também de sinalizar
que, por vezes, a proximidade entre o participante e o investigador pode ser um dos fatores
menos positivos, onde o participante pode entender que a informação que se pretende pode
ser já do conhecimento do investigador e, logo, seja uma perda de tempo e/ou que o mesmo
crie dúvidas quanto à utilização do dados, contrariando desta forma, e resumindo-nos apenas
a esta caso concreto, ao que defende (Bourdieu, 1999). Desta forma, achamos que a opção da
entrevista ser conduzida por um investigador e participante desconhecido, desde que seja
dado o seu consentimento e devida elucidação do motivo do estudo, tende a recolher-se dados
mais profundos, sem subterfúgios e com maior objetividade.
Neste ponto do presente trabalho importa referir que a existência de um quadro teórico
de referência consistente, que permita abordar os aspectos e temas relevantes da investigação,
e a experiência empírica dos investigadores são fatores determinantes do produto final
(Bogdan & Biklen, 1994, p.206).
5.2.

Teóricas VS Empíricas

É na relação entre o quadro teórico e o trabalho de campo que pretendemos equacionar
os dados recolhidos. Neste sentido, e sendo certo que o panorama socioeconómico português
atual não é dos mais favoráveis, seria, supostamente, fácil abordar o tema do desemprego e da
exclusão social tal como os defende teoricamente Bruto de Costa (1998). Contudo, encarando
o objeto de estudo como um forte desafio e pretendendo ir mais além entendemos, pela leitura
dos dados obtidos, que o estar/ser desempregado não significa estar apenas privado de um
trabalho remunerado, voluntária ou involuntariamente, mas também reconhecer como
legítimo a procura ativa de emprego. As próprias condições de acesso e direito ao subsídio de
desemprego, e que se estende a uma enorme franja da nossa sociedade, não fazem mais do
que limitar as fronteiras desta mesma legitimidade. Estas condições sinalizam e oficializam os
limites do direito ao desemprego que só pode existir se houver direito ao trabalho (Maruani,
2002). É nesta linha que a exclusão social ganha forma ao considerar que as pessoas são
socialmente excluídas quando se combinam a falta de meios económicos, o isolamento social
o acesso limitado aos direitos sociais e civis, bem como o acesso insuficiente aos recursos
pessoais, familiares, económicos e culturais (Costa (1998).
Apoiando-nos do pensamento de Louçã e Caldas (2009, citados em Santos, 2011), que
ironizando sobre o pensamento neoliberal apontam como evidente que os despedimentos de
hoje serão, talvez, o emprego de amanhã, recorremos a este ponto de vista para, numa

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

inversão ideológica, propor o tema da criação do próprio emprego enquanto fator de
resiliência ao desemprego, resiliência essa bem patente nesta abordagem.
É, com atitudes empreendedoras, como a registada no nosso entrevistado, enquanto
respostas a necessidades específicas e conjunturais que devemos basear a nossa reflexão. O
empreendedorismo depende parcelarmente de estímulos de cariz económico (Baptista,
Teixeira, Portela, 2008), mas também é certo que a vontade, o crer, a criatividade e a
capacidade de iniciativa determinam a sua aplicação. Numa perspetiva norteada pelos
pensamentos de autonomia, capacitação, mudança e empowerment de Paulo Freire,
pretendemos inferir que o desemprego, visto por Boaventura de Sousa Santos (2011) como
um dos principais “detonadores da insolvência pessoal e familiar“ (p.69), por si só não poderá
continuar a ser entendido pela sociedade como um veículo propulsor de pobreza e de
endividamento das famílias e, logo, de exclusão social. Uma atitude empreendedora, de
criação do próprio emprego, exemplificada na presente abordagem, deverá ser encarada como
capacidade pessoal para resistir, lidar e reagir de modo positivo em situações adversas e, deste
modo, que rompa com a forma do desemprego, que apesar de ser um tipo de exclusão social,
apresente indícios de viragem para novas formas de encarar a vida e o mercado de trabalho.
Enquanto Educadores Sociais, e de acordo com Serapicos (2003), um dos grandes
desafios é preparar os indivíduos para questões como as da solidariedade e da tolerância para
que possa combater problemáticas, tais como, por exemplo, a exclusão social. E nas
perspetivas de Paulo Freire (1983) de educar para intervir (que se referem a mudanças reais
nas relações das pessoas e na sua autonomia, no trabalho, na educação e na saúde), e que
durante toda a sua vida procurou dar voz aos grupos mais oprimidos e excluídos da sociedade
para que pudessem ter domínio sobre a sua vida, entendemos que a situação de
vulnerabilidade criada pelo desemprego é um dos campos férteis da atuação da Educação
Social e pode ser um dos caminhos de mudança e que mostre às pessoas que podem criar os
meios para fazer uma reflexão constante sobre a sua vida e decidir conscientemente sobre ela.
É assim que
(…) no ato mesmo de responder aos desafios que lhe apresenta seu contexto de
vida, o homem se cria, se realiza como sujeito, porque esta resposta exige dele
reflexão, crítica, invenção, eleição, decisão, organização, acção. Todas essas
coisas pelas quais se cria a pessoa e que fazem dela um ser não somente adaptado
à realidade e aos outros, mas integrado. (Freire, 1980, p.15).
Como pista de uma futura investigação, e tendo em conta as características deste
trabalho, que serviu apenas como ilustração de uma das formas de encarar o desemprego, não
14
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

nos permitiram aferir que parcela da sociedade encara o risco calculado da criação do próprio
emprego como ponto de viragem à situação adversa do desemprego, e que parcela “cai na
subsidiodependência” que a leva ao débil modo de vida condigna, com apontamentos de
sobrevivência social, de forma a evitar qualquer tipo de exclusão e até mesmo de pobreza.
Seria, assim, de todo interessante estudar esta temática numa perspetiva mais macro
(por exemplo: com vários casos de sucesso/insucesso de uma comunidade), enquadrando no
estudo a perspetiva de educadores sociais e provocar a sociedade com registos e estratégias de
empowerment, autonomia, valorização, estímulo ao (re)aproveitamento de recursos, etc., que
despertem as comunidades e promovam o bem estar social.

15
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Bibliografia
Albarello, L.; Digneffe, J.; Maroy, C.; Ruquoy, D. & Saint-Georges, P. (1995). Práticas e
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Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Índice Remissivo
Nota introdutória ........................................................................................................................ 3
1. O campo de estudo ................................................................................................................ 4
2. A entrevista enquanto técnica qualitativa de excelência ....................................................... 5
2.1. Planeamento da entrevista ....................................................................................... 8
3. Análise de conteúdo............................................................................................................... 9
4. Discussão de resultados ....................................................................................................... 10
4.1. Exclusão Social e Desemprego ............................................................................. 11
4.2. A resiliência no desemprego ................................................................................. 11
4.3. Empreendedorismo VS Emprego .......................................................................... 12
5. Conclusões ........................................................................................................................... 12
5.1. Metodológicas ....................................................................................................... 12
5.2. Teóricas VS Empíricas .......................................................................................... 13
Bibliografia............................................................................................................................... 16
ANEXOS .................................................................................................................................. 19
Entrevista ........................................................................................................................ 22
Transcrição...................................................................................................................... 22
Análise de categorias ...................................................................................................... 27
Análise de conteúdo ........................................................................................................ 30

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

ANEXOS

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Guião de entrevista
Objetivo da entrevista
Pretende-se com a presente entrevista abordar o tema da criação do próprio emprego
enquanto fator de inclusão social. Isto é, pretendemos obter dados sobre a forma como lidou
com o facto de ficar desempregado e que capacidades pessoais sentiu e que o levou a resistir,
lidar e reagir de modo positivo com a situação adversa do desemprego pelo fato de ter criado
a sua atividade profissional atual.
Deste modo, vimos, por este meio, solicitar a sua preciosa colaboração, respondendo às
questões que lhe forem colocadas, garantindo-lhe o anonimato e confidencialidade dos dados.

1- Caraterização social do entrevistado
i.

Idade;

ii.

Naturalidade e nacionalidade;

iii.

Área de residência;

iv.

Habilitações literárias;
2- Experiência profissional

i.

Profissão

ii.

Que outras atividades profissionais exerceu?

iii.

Qual a atividade profissional que mais se identifica? E porquê?

iv.

Qual foi a sua última atividade profissional? Quanto tempo durou?
3- Situação de desemprego

i.

Porque ficou desempregado?

ii.

Já tinha estado desempregado anteriormente?

iii.

Como se sentiu enquanto desempregado (psicologicamente e socialmente)?

iv.

Enquanto esteve desmpregado sentiu-se excluído do seu gupo de amigos ou família?
Porquê?

v.

Quanto tempo esteve desempregado até decidir iniciar o seu próprio negócio?
4- Atitude perante o desemprego/criação do próprio negócio

20
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

i.

Que tentativas fez para regressar ao mercado de trabalho?

ii.

Como encarou a situação?

iii.

O que o motivou para criar o seu próprio emprego?

iv.

Inspirou-se em alguém para avançar com o seu próprio negócio?

v.

Sentiu alguns constrangimentos/dificuldades? Se sim, quais? E como os ultrapassou?

vi.

Já tinha trabalhado anteriormente na área profissional em que iniciou o seu negócio?

vii.

Que tipo de conhecimentos tinha na área? (optou por criar o seu próprio emprego)

viii.

Porque é que escolheu abrir um negócio em vez de trabalhar por conta de outrem?

ix.

Era algo que queria fazer antes de ter ficado desempregado, ou foi a uma opção de
recurso?

x.

Que carateristicas pessoais considera ter que o ajudaram na criação do próprio
emprego?

xi.

Sentiu que corria alguns riscos ao criar o próprio negócio? Quais?

xii.

Como acha que seria a sua situação económica e social hoje se não tivesse optado por
criar o seu próprio negócio?

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Entrevista
NOME

---

LOCAL

Esplanada de
café

DATA

02-11-2013

HORA

ENTREVISTADORA

15H58

Cecília Pires

DURAÇÃO

00:19´41

Transcrição
E- Bom dia, desde já agradecemos a tua disponibilidade para a realização da
entrevista… Esta entrevista vai servir para um trabalho académico, e gostaríamos
de obter informação sobre a forma como lidaste com o desemprego, tendo em
conta que criaste o teu próprio negócio, garantindo desde já que os dados só serão
usados para este trabalho e com o total anonimato e confidencialidade…. Assim,
podemos dar início à entrevista?
e- Sim.
E- De um modo geral podes conceder-nos alguns dados pessoais?
e- Sim.
E- Qual a tua idade?
e- Tenho 30 anos.
E- De onde és natural?
e- Beja… Portugal.
E- E a área de residência?
e- Faro.
E- Quais são as tuas habilitações literárias?
e- Tenho o 12º ano
E- E::::: Qual é a tua profissão?
e- ::: Acho que já posso dizer::: empresário de pastelaria (risos).
E- [ E:::: que outras atividades profissionais exerceste?
e- Pois … já fui técnico de análise de águas … vendedor::: de produtos químicos
… e :::: programas para os putos da escola::: softwares e:::::: distribuidor.
E- Qual dessas todas que tiveste foi a que gostaste mais?
e- Análise de águas::: porque foi sem dúvida a mais interessante, por todo o
trabalho que realizava :::: analisar e tratar águas de rede, de hotéis, piscinas,
hospitais, fábricas.
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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

E- Qual é que foi a última atividade profissional que tiveste antes desta?
e- Fui distribuidor .
E- E quanto tempo é que durou?
e- Trabalhei lá aproximadamente 4 anos::: ainda estive lá um bom tempo ::: Só saí
por falta de trabalho ::: a empresa tinha pouco movimento e tiveram necessidade
de reduzir o pessoal … infelizmente é uma realidade que se vê neste país.
E- Quanto tempo estiveste desempregado?
e- Estive cerca de um ano e dois meses [
E- [ E já tinhas estado desempregado numa outra altura?
e- Sim::: mas sempre por pouco tempo…
E- Como te sentiste quando estavas desempregado a:::: psicologicamente e
socialmente?
e- Foi algo que pesou um pouco em mim::: … é difícil … falta de dinheiro para
pagar as contas … e não ter aquela rotina::: andar sempre desocupado:::
E- Houve nesse período mais prolongado de desemprego::: algum momento em
que te sentisses::: assim::: excluído?
e- Por vezes::: os amigos estavam a trabalhar e eu sentia-me desamparado. E se
tivesse ficado mais tempo desempregado do que aquele que estive acho que a
situação se teria agravado. E::: a família não está perto::: a minha família está em
Beja e:::: estou aqui sozinho … Por mais que queiram apoiar, não é aquele apoio
constante::: devido à distância.
E- Mas::: isolaste-te de alguma forma?
e- ::: não. Sempre quis estar com os amigos e com a namorada. Não me sentia
deprimido, só estava mais sozinho porque eles não tinham tempo, ::::mas sabia
que era normal.
E- Estiveste desempregado um ano e dois meses sensivelmente::: e foi esse o
tempo que levaste até montar um negócio?
e- Nesse tempo fui pensando nessa possibilidade como alternativa ao facto de não
encontrar trabalho e também porque era algo que eu já queria fazer … e esta
situação veio também como uma escapatória do facto de estar desempregado [
E- [ Mas fizeste muitas tentativas para voltar ao mercado de trabalho?

23
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

e- Algumas::: procurava ativamente, entregava currículos e não me chamavam:::
E essa foi a forma que encontrei também para não estar parado::: e estava a ver o
tempo a passar e eu continuava sem trabalho.
E- Qual foi a alavanca que tiveste para avançar para a criação do teu próprio
negócio?
e- Falei com alguém que me ajudou a pensar::: a tomar a decisão::: colaborou
comigo no sentido de avançar. E essa pessoa foi também uma das pessoas que me
inspirou para abrir este negócio [
E- [ Mas, já tinha alguma referência na família que te tenha também inspirado?
e- Sim essa pessoa::: … que já tinha experiência como empresário:: uma pessoa
de negócios. Porque os negócios dele também eram nesta área [
E- [ Achas que o fato de teres trabalhado como comercial:: no passado ajudou-te?
e- Sim. Ajudou-me a lidar com o público (0.2), criou-me à vontade:::
E- Que tipo de dificuldades sentiste quando tomaste a decisão de criação do teu
próprio negócio?
e- Acho que as dificuldades que toda a gente sofre::: existem muitos entraves,
muita burocracia por parte da segurança social, finanças, câmaras::: licenças … é
muito complicado … leva o seu tempo (0.3). Só em burocracias demorei quase
um mês até conseguir abrir.
E- E que financiamento tiveste?
e- Fiz com o apoio de familiares, não tive que me (endividar) graças a Deus… é
uma vantagem::: porque há imensa gente que tem que recorrer a créditos. Mas,
hoje em dia também é difícil ter créditos, arranjar crédito não é assim tão fácil.
E- E microcrédito nunca te passou pela cabeça?
e- Não::: e não me queria meter nisso porque iriam ser mais problemas e preferi
assumir a dívida com os familiares.
E- Tens pessoas da família que formaram contigo sociedade?
e- Não, Não. Só me deram o apoio, confiaram em mim e avançaram.
E- Se não tivesses tido esse apoio, achas que terias avançado?
e- :::::::: talvez não. Se calhar escolhia sair de Portugal ou :::procurava um
emprego durante mais algum tempo.
E- Que tipo de conhecimentos tinhas na área da restauração?

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

e- Eu::::? tinha poucos ou nenhuns (0.1) mas a pessoa que está comigo já tinha
experiência, já tinha trabalho nisto e isso foi uma mais-valia, já não começámos
necessariamente do zero.
E- E porque escolheste abrir o teu negócio em vez de persistires na procura de
emprego?
e- (hhhh) Porque abrir o meu negócio para já é uma independência::: temos a
nossa independência ::: e fazemos o nossos serviço à nossa maneira::: criamos as
nossas próprias regras para que tudo corra bem … Não temos que estar sujeitos a
regras de outras pessoas::: aqui é diferente eu é que dou ordem … e tenho a
possibilidade de intervir quando vejo que alguém está mal … e vamos vendo
diariamente que alterações podemos fazer para melhor.
E- Mas já tinhas pensado nesta alternativa antes de teres ficado desempregado?
e- Sim::: Sempre me passou pela cabeça ((apontando o dedo)), o ter um negócio
meu (hhhhhhh). Não tinha pensado era em que área::: mas surgiu esta
oportunidade e foi nesta que fiquei ::: Gostava de ter criado negócio na área das
águas mas isso era mais difícil … tem que se ter outros licenciamentos, outros
conhecimentos … -- a nível de mercado também é diferente -- .
E- Que características pessoais consideras ter que te ajudaram na criação do próprio
emprego?
e- A teimosia::: É preciso ser teimoso e persistir no que se quer::: Eu quando não estou
contente com o resultado::: começo logo a pensar em maneiras diferentes::: para dar a
volta e::: no fundo chegar onde quero.
E- Sentiu que corria alguns riscos ao criar o seu próprio negócio?
e- Sim::: sem dúvida. Porque parar abrir negócio é preciso muitas burocracias… e para
abrir um estabelecimento tem que estar tudo nos conformes … caso contrário podesse
receber fiscalização e podia o fechar:::: Também podia o negócio correr mal e não
ganhar dinheiro sequer para pagar a quem me ajudou.
E- Consegues imaginar como era a tua situação económica hoje se não tivesses
optado por este caminho?
e- Continuava no desemprego::: se calhar teria a fazer uns biscates para ganhar
mais algum … E o mercado não está nada, nada, bom:::
E- Como te imaginas (profissionalmente) daqui a três anos, por exemplo?
e- Não sei, é difícil responder::: Mas acho que vai correr bem. Isto não é assim muito
difícil e é só manter a vidinha controlada e organizada::: até a crise passar. Eu também
não quero ficar rico:: só quero estar bem.
E- Como encaras o trabalho na tua vida?
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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

e- É uma forma de estar bem na vida e de se fazer o que se gosta:::não é aquela
forma de irmos para o trabalho já contrariados e mais um dia:::: é uma coisa
importante para mim::: estar ocupado ::: Não me imagino já sem trabalhar.
E- Damos por terminada a entrevista. Mais uma vez muito obrigado pela tua
disponibilidade e colaboração.

GLOSSÁRIO (Flick, 2005)
E: entrevistador
e: entrevistado
(xxx): Incompreensão de palavras ou segmentos.
(hipótese): hipótese do que se ouviu
MAIÚSCULA: Entoação enfática
...: Qualquer pausa
((minúscula)): Comentários gestual
-- --: Comentários que quebram a sequência temática da exposição
[: Sobreposição, simultaneidade de vozes
(...): Indicação de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto.
hhh: Inspirações/expirações audíveis de ar são transcritas como ´hhh´ (o número de hs
é proporcional à duração da inspiração/expiração)
(0.2): pausas em segundos
A::: - Sons prolongados: o prolongamento de sons é marcado com dois pontos, em
número proporcional à duração do prolongamento.
palavra sublinhada: mostra ênfase ou saliência.

26
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Análise de categorias
Categoria
Caraterização do
entrevistado

Sub-categorias
Caraterização social do
entrevistado

Excertos da entrevista
«[…] Tenho 30 anos[…]»
«Tenho 12º ano»

Profissão

«Empresário de pastelaria»

Profissões anteriores

«[…] técnico de análise de
águas […] vendedor::: de
produtos químicos […]
distribuidor.»

Profissão de maior
satisfação

«Análise de águas […]»

Última profissão antes do
desemprego

« Fui distribuidor
[…]Trabalhei lá
aproximadamente 4 anos
[…]»

Motivo de desemprego

« […] Só saí por falta de
trabalho ::: a empresa tinha
pouco movimento e
tiveram necessidade de
reduzir o pessoal […]»

Experiência profissional

Duração do desemprego

Sentimento enquanto
desempregado

Situação de desemprego

Excluído

Enquanto desempregado

« Estive cerca de um ano e dois
meses »
« Foi algo que pesou um pouco
em mim::: … é difícil … falta de
dinheiro para pagar as contas …
e não ter aquela rotina::: andar
sempre desocupado::: »
« Por vezes::: os amigos estavam
a trabalhar e eu sentia-me
desamparado […] E::: a família
não está perto::: a minha família
está em Beja e:::: estou aqui
sozinho … Por mais que
queiram apoiar, não é aquele
apoio constante::: devido à
distância.»
«::: não. Sempre quis estar com
os amigos e com a namorada.
Não me sentia deprimido, só
estava mais sozinho porque eles
não tinham tempo, ::::mas sabia
que era normal.»
«Nesse tempo fui pensando
nessa possibilidade (criar o

27
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Tentativas para voltar ao
mercado de trabalho

Alavanca para criar
emprego

Atitudeperante o
desemprego/ criação do
próprio negócio

Inspiração

Dificuldades

Financiamento

Microcrédito

Criação do próprio
emprego

Conhecimento na área

Opção de criar negócio em
vez de continuar a procurar

próprio negócio) como
alternativa ao facto de não
encontrar trabalho e também
porque era algo que eu já queria
fazer … e esta situação veio
também como uma escapatória
do facto de estar desempregado»
« […] procurava ativamente,
entregava currículos e não me
chamavam::: E essa foi a forma
que encontrei também para não
estar parado […]
« […] Falei com alguém que me
ajudou a pensar::: a tomar a
decisão::: colaborou comigo no
sentido de avançar. E essa
pessoa foi também uma das
pessoas que me inspirou para
abrir este negócio»
« […] essa pessoa::: … que já
tinha experiência como
empresário: uma pessoa de
negócios. Porque os negócios
dele também eram nesta área»
« […] Acho que as dificuldades
que toda a gente sofre::: existem
muitos entraves, muita
burocracia por parte da
segurança social, finanças,
câmaras::: licenças […] Só em
burocracias demorei quase um
mês até conseguir abrir.
« […] o apoio de
familiares, não tive que me
(endividar) graças a
Deus… é uma vantagem:::
[…]»
« […] Não::: e não em queria
meter nisso porque iriam ser
mais problemas e preferi assumir
a dívida com os familiares.»
« […] tinha poucos ou nenhuns
(0.1) mas a pessoa que está
comigo já tinha experiência, já
tinha trabalho nisto e isso foi
uma mais-valia, já não
começamos necessariamente do
zero.»
« […] Porque abrir o meu
negócio para já é uma

28
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Pontos fortes na
personalidade

Risco criar negócio

Situação se não tivesse
criado negócio

Futuro

Espetativas para o futuro

independência::: temos a nossa
independência ::: e fazemos o
nossos serviço à nossa maneira:::
criamos as nossas próprias
regras para que tudo corra bem
… Não temos que estar sujeitos
a regras de outras pessoas:::
[…]»
« […] Sempre me passou pela
cabeça ((apontando o dedo)), o
ter um negócio meu (hhhhhhh).
Não tinha pensado era em que
área::: mas surgiu esta
oportunidade e foi nesta que
fiquei ::: Gostava de ter criado
negócio na área das águas mas
isso era mais difícil … tem que
se ter outros licenciamentos,
outros conhecimentos … -- a
nível de mercado também é
diferente »
«A teimosia::: É preciso ser
teimoso e persistir no que se
quer::: Eu quando não estou
contente com o resultado:::
começo logo a pensar em
maneiras diferentes::: para dar a
volta e::: no fundo chegar onde
quero.»
« Sim::: sem dúvida. Porque
parar abrir negócio é preciso
muitas burocracias… e para
abrir um estabelecimento tem
que estar tudo nos conformes …
caso contrário podesse receber
fiscalização e podia o fechar::::
Também podia o negócio correr
mal e não ganhar dinheiro
sequer para pagar a quem me
ajudou.»
« […] Continuava no
desemprego::: se calhar teria a
fazer uns biscates para ganhar
mais algum […]»
«:::::: talvez não. Se calhar
escolhia sair de Portugal ou
:::procurava um emprego
durante mais algum tempo.»
«Não sei, é difícil responder:::
Mas acho que vai correr bem.

29
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

Trabalho

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Forma de encarar o trabalho

Isto não é assim muito difícil e é
só manter a vidinha controlada e
organizada::: até a crise passar.
Eu também não quero ficar rico::
só quero estar bem.»
« […] É uma forma de estar bem
na vida e de se fazer o que se
gosta:::não é aquela forma de
irmos para o trabalho já
contrariados e mais um dia:::: é
uma coisa importante para
mim::: estar ocupado ::: Não me
imagino já sem trabalhar.»

Análise de conteúdo
Problemática

Experiência profissional

Situação de desemprego

Análise
Atualmente o entrevistado
exerce a profissão de
empresário na área da
pastelaria. Tendo já
trabalhado como técnico de
análise de águas, vendedor
de produtos químicos. A
anterior profissão que
exerceu foi de distribuidor
durante 4 anos.
Foi dispensando do seu
trabalho como distribuidor,
porque a empresa
encontrava-se com poucos
clientes e sentiram
necessidade de reduzir o
pessoal.
Tendo o mesmo vivido a
situação de desemprego
durante um ano e dois meses.
Esta situação foi muito
constrangedora para ele,
porque viu-se com falta de
dinheiro para pagar contas e
sentiu-se desocupado.
Diariamente sentia-se
desamparado porque não
tinha nada para fazer, os
amigos encontravam-se a
trabalhar e a família
encontrava-se distante não o
conseguindo sempre o apoio
que necessitava.

Excerto
«empresário de pastelaria»
«[…] técnico de análise de
águas […] vendedor::: de
produtos químicos […]
distribuidor.»
«Análise de águas […]»
« Fui distribuidor
[…]Trabalhei lá
aproximadamente 4
anos […]»
« […] Só saí por falta de
trabalho ::: a empresa tinha
pouco movimento e tiveram
necessidade de reduzir o
pessoal […]»

« Tive cerca de um ano e
dois meses »
« Foi algo que pesou um
pouco em mim::: … é difícil
… falta de dinheiro para
pagar as contas … e não ter
aquela rotina::: andar sempre
desocupado::»
« Por vezes::: os amigos
estavam a trabalhar e eu
sentia-me desamparado […]
sentia me desamparado ::: a
minha família está em Beja
e:::: estou aqui sozinho …
Por mais que queiram apoiar,
não é aquele apoio

30
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

Mesmo perante a situação de
desemprego, não se sentiu
deprimido e não se isolou. O
mesmo procurou sempre que
possível estar com os amigos
e a namorada.
Enquanto estava
desempregado e como não
encontrava trabalho pensou
na possibilidade de criar o
seu próprio negócio.

O entrevistado enquanto
esteve desempregado
procurava ativamente
emprego enviando
currículos. Essa foi a forma
que arranjou para não passar
os dias desocupado.
Teve alguém com quem se
aconselhou e que o ajudou
em todo o processo para
conseguir criar o seu próprio
negócio.

Atitude perante o
desemprego/criação do
próprio negócio

Essa pessoa já tinha
experiência como empresário
na área da hotelaria e
restauração.

O entrevistado sentiu
algumas dificuldades durante
esse processo devido a todas
as burocracias (Finanças,
Segurança Social…) que
estão inerentes à criação do
próprio negócio. Por esse
motivo é que demorou cerca
de um mês para conseguir
abrir o negócio.
Neste processo contou com
apoio financeiro de
familiares o que permitiu
com que não tivesse que

constante::: devido à
distância.»
« não. Sempre quis estar com
os amigos e com a namorada.
Não me sentia
deprimido(…)»
« Nesse tempo fui pensando
nessa possibilidade (criar o
próprio negócio)como
alternativa ao facto de não
encontrar trabalho e também
porque era algo que eu já
queria fazer … e esta
situação veio também como
uma escapatória do facto de
estar desempregado»
« […] procurava ativamente,
entregava currículos e não
me chamavam::: E essa foi a
forma que encontrei também
para não estar parado […]
« […] Falei com alguém que
me ajudou a pensar::: a tomar
a decisão::: colaborou
comigo no sentido de
avançar. E essa pessoa foi
também uma das pessoas que
me inspirou para abrir este
negócio»
« […] essa pessoa::: … que
já tinha experiência como
empresário: uma pessoa de
negócios. Porque os negócios
dele também eram nesta
área»
« […] Acho que as
dificuldades que toda a gente
sofre::: existem muitos
entraves, muita burocracia
por parte da segurança social,
finanças, câmaras::: licenças
[…] Só em burocracias
demorei quase um mês até
conseguir abrir.
« […] o apoio de familiares,
não tive que me (endividar)
graças a Deus… é uma
vantagem::: […]»
« […] Não::: e não em queria
meter nisso porque iriam ser

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Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

recorrer a créditos. Porque se
tivesse recorrido a créditos
poderia vir a ter problemas.
Abriu o negócio numa área
em que nunca tinha
trabalhado mas contou com a
ajuda da companheira que já
tinha experiência,
Obtou por abrir o seu
negócio porque consegue
assim ter independência e
cria as suas próprias regras,
não ter que estar sobre sobre
o controle de terceiros.

Mesmo antes de estar
desempregado já tinha
pensando em abrir negócio
próprio mas não sabia era em
que área.

O entrevistado considera-se
teimoso e persistente e isso
foram duas das
características que o
ajudaram na criação do
próprio emprego. O mesmo
quando não está contente
com um resultado obtido
começa logo a pensar em
arranjar soluções para obter o
resultado esperado, o que
mostra que o mesmo também
é determinado.
Sentiu que corria alguns
riscos ao criar um negócio
próprio devido a todas as
burocracias que acarretam
estas situações. E, por outro
lado o negócio também podia
não correr como esperado e
não ter lucro nem para si,
nem para pagar a quem o
financiou neste projeto.

mais problemas e preferi
assumir a dívida com os
familiares.»
« […] tinha poucos ou
nenhuns (0.1) mas a pessoa
que está comigo já tinha
experiência, já tinha trabalho
nisto e isso foi uma maisvalia, já não começamos
necessariamente do zero.»
« […] Porque abrir o meu
negócio para já é uma
independência::: temos a
nossa independência ::: e
fazemos o nossos serviço à
nossa maneira::: criamos as
nossas próprias regras para
que tudo corra bem … Não
temos que estar sujeitos a
regras de outras pessoas:::
[…]»
« […] Sempre me passou
pela cabeça ((apontando o
dedo)), o ter um negócio meu
(hhhhhhh). Não tinha
pensado era em que área:::
mas surgiu esta oportunidade
e foi nesta que fiquei ::: (…)»
« A teimosia::: É preciso ser
teimoso e persistir no que se
quer::: Eu quando não estou
contente com o resultado:::
começo logo a pensar em
maneiras diferentes::: para
dar a volta e::: no fundo
chegar onde quero.»
« Sim::: sem dúvida. Porque
parar abrir negócio é preciso
muitas burocracias… e para
abrir um estabelecimento tem
que estar tudo nos conformes
… caso contrário pudesse
receber fiscalização e podia o
fechar:::: Também podia o
negócio correr mal e não
ganhar dinheiro sequer para
pagar a quem me ajudou.
«:::::: talvez não. Se calhar
escolhia sair de Portugal ou

32
Metodologias de Investigação
Mestrado em Educação Social

O outro lado do desemprego: um caso de sucesso

O mesmo considera que se
não tivesse tipo o apoio que
teve para conseguir criar o
seu próprio negócio,
provavelmente teria optado
por emigrar ou persistia na
procura de emprego.
Se não tivesse criado o seu
negócio provavelmente ainda
estava desempregado e a
trabalhar por fora para
ganhar algum dinheiro.

Trabalho (visão do
entrevistado)

:::procurava um emprego
durante mais algum tempo.»
« […] Continuava no
desemprego::: se calhar teria
a fazer uns PESCATOS para
ganhar mais algum […]»

« […] É uma forma de estar
bem na vida e de se fazer o
que se gosta:::não é aquela
O entrevistado prefere
forma de irmos para o
trabalhar porque é uma forma
trabalho já contrariados e
de se sentir bem e de se
mais um dia:::: é uma coisa
manter ocupado.
importante para mim::: estar
ocupado ::: Não me imagino
já sem trabalhar.»

33

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O desemprego a entrevista a um caso de sucesso

  • 1. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso “Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atómica: a vontade.”. Albert Einstein 2
  • 2. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Nota introdutória Pretende-se com este trabalho apresentar a técnica de entrevista enquanto técnica fundamental de recolha de informação em qualquer estudo das ciências sociais e ao longo da sua estrutura iremos abordar os vários conceitos, definições e diretrizes adstritas à entrevista e a todos os métodos de preparação e execução da mesma, bem como a todos os fundamentos que a suportam teoricamente. Pretende-se ainda expor a forma como abordamos a análise de conteúdo, e de todo o enquadramento teórico que a sustenta, enquanto instrumento de estudo da entrevista. Ir-se-á também apresentar a forma como se efetuou a análise da informação recolhida na entrevista e, por fim, a interpretação dos dados que permitiu descobrir os significados e os sentidos fundamentados pelo quadro teórico. Estas técnicas foram utilizadas no estudo de caso efetuado para a UC de Pobreza e Exclusões Sociais e as suas aplicações visaram a recolha de dados sobre a criação do próprio emprego como fator de resiliência ao desemprego, e, tratando o conceito de exclusão social, partindo dos seus princípios norteadores, chegar ao desemprego enquanto fenómeno que afeta cada vez mais indivíduos e cada vez mais de diferentes estratos sociais. Esta abordagem, focada essencialmente na exclusão social de domínio económico (parcos rendimentos ou inexistentes, impossibilidade de obtenção de bens e serviços indispensáveis ao pleno funcionamento do indivíduo em sociedade), onde a situação de desemprego assume um papel preponderante na fragilização da estrutura social do indivíduo e das suas condições psicológicas, comportamentais e das relações familiares. Incidindo num caso concreto de sucesso de criação do próprio emprego como determinante da inclusão social, pretende-se ilustrar que este poderá ser um dos caminhos a seguir para evitar que a pessoa se sinta ou seja excluída socialmente. Enquanto Educadores Sociais, promotores da mudança social, pretendemos provocar a sociedade com esta explicação positiva de criação do próprio emprego como alternativa resiliente ao desemprego. Reconhecemos que esta resiliência, ao ser encarada como uma estratégia a seguir, tende a servir de alavanca ao aumento da autoestima, valorização e auto capacitação pessoal e coletiva. 3
  • 3. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso 1. O campo de estudo Este trabalho, baseado no desemprego enquanto fator de exclusão social, baliza-se na linha de pensamento de Bruto da Costa, que considera que as pessoas são socialmente excluídas quando se combinam a falta de meios económicos, o isolamento social o acesso limitado aos direitos sociais e civis, bem como o acesso insuficiente aos recursos pessoais, familiares, económicos e culturais. A conjugação de todos estes fatores pode, portanto, ser definida como a fase extrema do processo de desenvolvimento da marginalização (Castel, 19901, citando em Costa, 1998). Quando falamos de exclusão social significa a exclusão n(d)a sociedade, aqui vista como a rutura do conjunto de sistemas sociais básicos (sociabilidade, económico, institucional, espacial e simbólico). Assim, a sua definição tende a ser mais complexa do que a do conceito de pobreza, na medida em que não se depende apenas de determinantes económicos mas em termos mais amplos de integração ou participação na sociedade em um ou vários domínios desses sistemas sociais. É, pois, um processo dinâmico dentro de qualquer sociedade e que representa uma acumulação contínua de fatores sociais e económicos ao longo do tempo (problemas laborais, formas de educação e estilos de vida, saúde, nacionalidade, alcoolismo, toxicodependência, violência…) (Costa, 1998). A exclusão social e a pobreza são sem dúvida dos maiores desafios do nosso século, na medida em que colidem com o exercício dos direitos fundamentais dos seres humanos. Tomando como ponto de partida estes direitos fundamentais, abordaremos a exclusão social (do tipo económico), enquanto “falta de acesso a fontes de recursos, que incluem o mercado de trabalho, em função ao salário que se aufere; o sistema da segurança social, pelas pensões, abonos, subsídios, etc.”. (Costa, 1998, p.15). O conceito de desemprego, suportado pelo pensamento teórico de Maruani (2002), onde esta autora, recorrendo a conceitos históricos, refere que foram as políticas sociais que contribuíram para a invenção do desemprego enquanto construção social em constante movimento e transformação, levou a que refletíssemos sobre a forma de olhar este conceito. Entendemos, portanto, que estar/ser desempregado não significa estar apenas privado de um trabalho remunerado, voluntária ou involuntariamente, mas também reconhecer como legítimo a procura ativa de emprego. As próprias condições de inscrição e de direito ao subsídio de desemprego, e que se estende numa enorme franja da nossa sociedade, não fazem mais do que limitar as fronteiras desta mesma legitimidade. Estas condições sinalizam e 1 Castel, R., (1990). Extreme Cases of Marginalization, from Vulnerability to Desaffiliation, comunicação apresentada no European Seminar on Social Exclusion, realizado em Alghero (Itália) em Abril de 1990. 4
  • 4. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso oficializam os limites do direito ao desemprego que só pode existir se houver direito ao trabalho. 2. A entrevista enquanto técnica qualitativa de excelência Na abordagem a este trabalho, como em qualquer trabalho realizado em ciências sociais, foi necessário recorrer a métodos, técnicas, e estratégias específicas consoante o assunto em questão (Albarello, Digneffe, Maroy, Ruquoy, D & Saint-Georges, 1995) e o seu caráter indutivo permitiu-nos fazer a correspondência entre a observação e a realidade e parte de questões particulares para chegar a conclusões generalizadas (Flick, 2005). Assente num princípio qualitativo, que implica uma reflexão do estudo por parte do investigador, trata-se do principal instrumento de recolha de dados onde este adota uma postura objetiva durante a recolha desses mesmos dados (observa, participa e conversa …), assumindo, contudo, um papel neutro. A entrevista, enquanto técnica por excelência da investigação qualitativa (Guerra, 2006), permitiu que o participante narrasse, na sua própria linguagem, a forma como interpretou a sua vivência ao ficar desempregado e a subsequente criação do seu próprio emprego. Optámos por realizar a técnica de entrevista atendendo que esta seria a técnica que provocaria maior interação entre o entrevistador e o entrevistado e que daí resultasse a obtenção da informação pretendida (Haguette, 1997). Desta técnica foi ainda possível desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como o participante interpretou uma etapa (e outros aspetos) da sua vida e do meio envolvente (Bogdan & Biklen, 1994), pois a informação recolhida diretamente e resultante da interação cara-a-cara entre investigador e entrevistado é fruto de “(…) uma interacção social completa, um sistema de papéis, de expectativas, de injunções, de normas e de valores implícitos, (…)”, segundo Nóvoa e Finger (1988, p.25). Esta técnica foi importante neste estudo, onde se pretendeu recolher junto do entrevistado dados subjetivos, ou seja, relacionados com crenças valores, atitudes, comportamentos, percepções e opiniões que permitiram a obtenção de informações e elementos de reflexão muito mais ricos. Deste mesmo modo, a atenção do entrevistador procurou captar ainda aspetos simbólicos da comunicação não-verbal para melhor interpretar os dados recolhidos, onde o “(…) observar expressões faciais, entoações vernaculares vocais, sinais não-verbais e outras formas de linguagem corporal são partes importantes nas entrevistas (..)” (Dunbar, Rodriguez e Parker, 2002, p.293). 5
  • 5. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Existem diversos tipos de entrevistas que têm sido classificadas de formas diferentes, consoante os mais variados autores, sendo a sua escolha encarada não de forma rígida mas sim rigorosa, isto é, não necessitamos seguir apenas um tipo de entrevista e com rigidez, mas sim aplicar vários tipos com rigor. São adotadas grandes variedades de usos e uma grande multiplicidade de formas que vão da mais comum (a entrevista individual falada) à entrevista de grupo, ou mesmo às entrevistas mediatizadas pelo correio, telefone ou computador (Fontana e Frey, 1994). Estes autores evocam uma vasta bibliografia de diversos pensadores que defendem a existência de dois grandes tipos de entrevistas e cujos estudos se têm centrado nos diferentes tipos desta técnica: estruturada (Babbie,1992; Bradburn et al.1979; Kahn & Cannell, 1957); não estruturada (Denzin, 1989b; Lofland, 1971; Lofland & Lofland, 1984; Spadley, 1979). Para Patton (1987), as entrevistas dividem-se entre quantitativas e qualitativas, sendo que as qualitativas admitem três classificações: conversa informal, guiada e aberta. De uma forma geral, e segundo este autor, as entrevistas implicam a definição prévia de questões a colocar. Isto não obriga, porém, que o elenco de questões não possa ser alterado, enriquecido ou com questões substituídas no decurso da entrevista, cabendo ao investigador a capacidade de fazer essa avaliação tendo em conta a forma como a “conversa” for fluindo. Já Ruiz Olabuenaga (1996) entende que a entrevista divide-se em duas modalidades: estruturada e não estruturada. E, é na ligação destes dois tipos, que encontramos as semiestruturadas, onde a recolha de dados consistiu, e indo ao encontro da definição defendida por Quivy e Campehoudt (2008), no tipo de abertura e flexibilidade das questões do guião, que levaram o participante a fazer uma leitura da fase concreta da sua vida. Este tipo de entrevista não se quer nem muito rigorosa quanto à sua estrutura (baseada em perguntas previamente formuladas que implicam o cuidado de não fugir a elas, pressupondo a previsão de um conjunto de temas sob a forma de guião e que serão tratadas durante a entrevista, permitindo obter dados mais sistemáticos e conclusões mais gerais), nem muito flexíveis (não estruturadas – em que as perguntas não são pré-estabelecidas pelo investigador e são definidas no decorrer da entrevista, e, por isso, surgem com o decorrer da interação entre entrevistador e entrevistado, implicando desse modo uma grande bagagem do investigador). Não obstante da entrevista semiestruturada implicar o controlo e direção do entrevistador, embora tal não inclua qualquer rigidez quanto ao conteúdo ou à forma de desenvolver a conversa, a sua “não diretividade” não significa que se recorra a perguntas exclusivamente abertas, dado que nada impede o entrevistador de formular perguntas totalmente fechadas quando as considerar necessárias. A não diretividade, defendida por Ruiz Olabuenaga (1996), 6
  • 6. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso não implica também a ausência total de um “guião orientador”, pelo contrário, “uma entrevista sem guião não conduz, frequentemente, a lugar algum” (p.168). Considerámos também que este seria o tipo de entrevista que mais se enquadrava no nosso estudo, uma vez que possibilitaria a criação de um ambiente natural e que se aproxima de uma conversa/diálogo, colocando o entrevistado mais à vontade (Bogdan & Biklen, 1994), e que, deste modo, se realizasse num local proposto pelo participante - esplanada de um café. Durante a entrevista, procedemos ao registo da mesma através de um gravador áudio, sendo a utilização desta ferramenta, além de muito desejável em entrevistas, que apesar da sua condição flexível contêm tópicos de condução Wenger (2002), evita que fosse necessário tirar muitas notas durante o desenvolvimento e que podiam condicionar o entrevistado, e garante a manutenção dos dados por tempo indeterminado o que possibilita posteriormente uma melhor análise (Bogdan & Biklen (1994). Deste modo, é importante referir que quando o entrevistado aceitou participar na entrevista, foi-lhe garantido o anonimato e a confidencialidade (através de uma declaração de anonimato). No entanto quando realizámos a entrevista tivemos em consideração necessidade de informar o entrevistado do tempo médio da entrevista e o cuidado de “(…) não esquecer as questões prévias a colocar no início das entrevistas, tais como a explicitação do objecto de trabalho, a valorização do papel do entrevistado no fornecimento de informações considerando o seu estatuto de informador privilegiado, a duração e a licença para gravar, etc.”. (Guerra, 2006, p.60). Não obstante todos os cuidados em cumprir os requisitos já referidos e do rigor ético que pretendemos garantir, houve ainda a necessidade de superar alguma ansiedade do entrevistado, provocada naturalmente quer pelas questões apresentadas quer pela presença do gravador (Wenger, 2002), tendo sido indispensável elucida-lo de que o estudo se tratava de um mero trabalho académico e reforçado a confidencialidade e anonimato dos dados. Atenuado todo stresse identificado, toda a transcrição da entrevista foi efetuada na íntegra e da forma como foi narrada, sem que fossem adulterados quaisquer dados, para que se reproduzisse o discurso narrado onde a (…) fidelidade aos dados orais deve ser o objectivo de toda a transcrição. Queremos registar o que foi dito por um falante da forma como foi dito. Uma transcrição não é e não pode seu uma edição da fala do entrevistado. (Paiva, 2004, p.136) 7
  • 7. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso A transcrição foi suportada na sua leitura por um glossário (siglas) de normas, definido por Flick (2005), sendo, posteriormente disponibilizada uma cópia da transcrição ao participante. 2.1. Planeamento da entrevista Entendemos que esta é uma das etapas mais importantes da entrevista, que requer algum tempo e exige alguns cuidados. O planeamento da entrevista, tendo em conta o objeto de estudo, o objetivo a alcançar e a escolha dos participantes são dos primeiros passos a efetuar. Os participantes devem, dentro das possibilidades, ser conhecidos do investigador ou apresentados já dentro do contexto a explorar, levando a que se crie uma certa empatia entre investigador e participante e, logo, a pessoa fica mais à vontade e sente-se mais segura para colaborar e mais confiante para responder às questões que lhe vão sendo colocadas (Bourdieu, 1999). A oportunidade e disponibilidade do participante em conceder a entrevista, marcada com antecedência para assegurar a sua realização, a ética do investigador ao garantir ao participante o anonimato e a confidencialidade dos dados e, por fim, a preparação específica do guião são os aspetos mais fundamentais nesta fase (Lakatos e Marconi (2003). Na mesma linha de pensamento, Wenger (2002) refere que independentemente do tipo de aproximação ao participante, este irá marcar definitivamente a relação da entrevista, e, nessa relação, será importante também assegurar algum grau de reciprocidade. Outro aspeto enaltecido por este autor é fazer com que a entrevista pareça uma conversa, em que resulte interação entre investigador e participante. Assim, e seguindo o pensamento destes autores, elegemos o participante a partir da proximidade existente entre o mesmo e um dos investigadores, que, aproveitando o facto do seu caso (de sucesso) de criação do próprio emprego se tratar de um acontecimento visível (criação de uma pastelaria de fabrico próprio e estabelecida na cidade de Faro) não apresentava quaisquer barreiras na obtenção de dados e de onde resultou uma natural e positiva interação entre ambos (já esperada). Esta entrevista, presencial, apresentou também um vasto leque de vantagens, tais como, (…) respostas mais precisas, devido à naturalidade contextual. (...) maior probabilidade de respostas auto geradas. (...) distribuição simétrica de poder interativo. (...) maior eficácia com questões complexas. (...) melhor para entrevistados idosos ou com deficiência auditiva. (...) respostas mais atenciosas. (...) resultados mais precisos permitem uma menor carga de trabalho para o entrevistador. (...) melhores taxas de resposta. (...) melhor para os respondentes 8
  • 8. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso marginalizados. (...) melhor para pesquisas envolvendo questões sensíveis. (Roger, 2002, pp.541-544). No desenvolvimento da entrevista, o entrevistador absteve-se momentaneamente do seu capital cultural evitando expressões ou linguagem muito técnica ou académica, para que ambos se entendessem na perfeição (Bourdieu, 1999), tendo sido utilizada a linguagem corrente e de acordo com a aplicada pelo participante. Esta forma de entrevistar evitou que o participante se sentisse constrangido e que a interação entre ambos se tornasse difícil e prejudicasse a recolha de dados. Houve também o cuidado de verificar se o participante não apresentava quaisquer dificuldades de comunicação e se não haveria a tentação de auxiliar nas respostas por parte do entrevistador, o que poderia enviesar o rigor pretendido. Na verdade, quando o entrevistado manifesta dificuldades discursivas, o entrevistador tende a sentir alguma tentação em colocar as respostas pelo participante, terminando as frases ou palavras. Para além de poder conduzir a interpretações erradas da informação, esta abordagem pode limitar muito os dados na medida em que será mais fácil ao entrevistado confirmar as respostas dadas pelo entrevistador do que corrigi-lo com a sua visão. (Wenger, 2002). 3. Análise de conteúdo A análise de conteúdo, tal como definida por Krippendorf (1980), é “uma técnica de investigação que permite fazer inferências, válidas e replicáveis, dos dados para o seu contexto”. No mesmo raciocínio, Bardin (2008) diz que a análise de conteúdo não serve apenas para se proceder à descrição dos dados apurados, atendendo que não se pretende apenas reproduzir os conteúdos das mensagens através da técnica utilizada, mas sim apresentar algumas significações dessas mesmas mensagens e que se traduzam em saber. Assim, esta análise, foi conduzida indo ao encontro das etapas fundamentais desenhadas por Bardin (2008). Numa primeira fase, denominada por pré-análise, foi realizada uma leitura exaustiva das informações recolhidas (leitura flutuante), as quais nos orientaram para as questões norteadoras, que nos sugeriram a explicação do fenómeno observado (criação do próprio emprego). A escolha de índices que apontaram para o objetivo geral da investigação (criação do próprio emprego como determinante da inclusão social), de acordo com o seu quadro teórico, fundamentou toda a abordagem. Quanto à constituição do corpus, defendido por Bardin (2008), foi definida toda a panóplia de fundamentos teóricos que entendemos realçar e selecionar para serem submetidos à respetiva análise e que definiram a organização da informação e deram respostas de forma: 9
  • 9. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso exaustiva, em que se esgotou a comunicação na sua totalidade e não se omitiu qualquer dado; representativa, cuja amostra representou o universo; homogénea, em que os dados expuseram o tema e em que a técnica e a recolha dos dados foram uniformes; pertinente, cujos documentos adequaram-se quer ao conteúdo quer ao objetivo da entrevista; e exclusiva, cuja classificação da categoria correspondeu apenas a um único elemento. Com estes critérios, segundo Silva e Pinto (1986), procurou-se a existência de padrões e regularidades existentes nos discursos de modo a preparar uma lista prévia de categorias de codificação, sendo que uma “categoria é habitualmente composta por um termo-chave que indica a significação central do conceito que se quer aprender, e de outros indicadores que descrevem o campo semântico do conceito” (pp.110-111). A segunda fase, definida por Bardin (2008) como a etapa da exploração do material, compreendida pelo processo de transformação sistemática dos dados e agrupados em unidades, permitiram uma descrição correta das caraterísticas importantes do conteúdo e que implica a já referida categorização (que apesar de não ser uma etapa obrigatória de toda a análise de conteúdo, a maioria dos procedimentos de análise de conteúdo organizam-se em redor deste processo). Com o objetivo de alcançar o núcleo central do texto em função das regras estabelecidas, partimos da análise de unidades de registo, que surgem como o momento da aplicação do que foi trabalhado na pré-análise, e que, segundo Carmo e Ferreira (1998), (…) é o segmento mínimo de conteúdo que se considera necessário para poder proceder à análise, colocando-o numa dada categoria” e de unidade de contexto que “constitui o segmento mais longo de conteúdo que o investigador considera quando caracteriza uma unidade de registo, sendo a unidade de registo o mais curto. (p.257) E por último, o tratamento dos resultados e devida interpretação, e já na posse de um corpus de informação trabalhado e organizado de acordo com os objetivos da investigação e das questões levantadas, foi possível propor inferências e realizar interpretações de acordo com o quadro teórico definido. 4. Discussão de resultados Entendemos que a interpretação dos dados deva seguir uma estrutura e de acordo com as dimensões/variáveis consideradas relevantes, que permita contribuir para a facilidade da sua leitura. 10
  • 10. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social 4.1. O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Exclusão Social e Desemprego A partir dos dados obtidos e tendo por referência o quadro teórico definido previamente para a pesquisa, constatou-se que o participante único da amostra conseguiu travar o processo de exclusão social (de tipo económico) ao decidir criar o seu posto de trabalho. O entrevistado optou por criar o seu próprio emprego, como alternativa a não conseguir encontrar trabalho, sendo que essa opção já tinha sido ponderada anteriormente quando se encontrava a trabalhar por conta de outrem. A mera situação de se encontrar desempregado acarretava um conjunto de sentimentos e representações que o próprio participante rejeitava e é observável quando, questionado acerca do seu estado de espírito aquando da situação de desemprego, o mesmo refere que foi uma situação constrangedora porque em primeiro lugar estava desocupado e em segundo lugar a situação financeira era bastante desfavorável e que o levava a algumas inquietações quanto ao fato de não saber como pagar as suas contas mensais. Ainda que de uma forma algo subtil, foi possível perceber que o participante sentiu algum grau de exclusão social quando refere que se sentiu «desamparado porque não tinha nada para fazer» e algum isolamento social dada a distância física entre a família e entre os amigos, uma vez que não é natural do Algarve e cujas distâncias não permitiram um apoio mais próximo. 4.2. A resiliência no desemprego O facto de o participante ter insistentemente procurado emprego e, paralelamente, ter procurado aconselhamento junto de terceiros próximos, quanto à possibilidade de se lançar por conta própria, confirma a existência de uma atitude de resiliência do participante. Esta atitude comprova-se quando o mesmo indica que enquanto esteve desempregado procurou ativamente emprego através do envio de currículos para diversas entidades. Como, não conseguia voltar ao mundo do trabalho, optou por se aconselhar com familiares que o ajudaram financeiramente e a planear como iria criar o próprio negócio. Consideramos que o entrevistado, apesar de ter tido o apoio de familiares, mesmo sem esse apoio, embora o processo de sair da situação de desemprego fosse mais moroso, possivelmente, arriscava na mesma criar o seu próprio negócio e no limite ponderava procurar emprego fora de Portugal. Achamos que é desta forma, dada a aparente persistência, «teimosia» e atitude lutadora com que encarou esta fase da sua vida, que fundamenta a sua personalidade resiliente. 11
  • 11. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social 4.3. O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Empreendedorismo VS Emprego Nesta vertente, e pela análise dos dados podemos constatar que existiu uma atitude empreendedora do participante, quer pelo facto de ter decidido arriscar no seu próprio negócio quer, inclusive, por arriscar num negócio cuja área não tinha quaisquer conhecimentos. No entanto é importante ressalvar que também tomou esta decisão porque tinha o apoio da sua companheira, a qual já tinha experiência na área da pastelaria. Esta atitude permitiu-lhe resolver as dificuldades que sentia em voltar ao mercado de trabalho enquanto trabalhador por conta de outrem, que era a realidade vivida até ficar no desemprego. Entendemos que, neste caso concreto, trata-se de um caso de empreendedorismo por necessidade, atendendo ao facto do participante ter tido a iniciativa de criar o seu próprio emprego por se encontrar na situação de desempregado, sem perspetivas de conseguir encontrar qualquer emprego, levando-o a numa situação económica desfavorável e que de alguma forma pôs em causa a sua subsistência. Esta estratégia de contornar a situação, criando a alternativa favorável para a ultrapassar com a aposta da criação do próprio emprego demonstra uma clara atitude empreendedora. 5. Conclusões 5.1. Metodológicas Antes de realizar qualquer interpretação dos dados obtidos, pretendemos também interpretar a influência da técnica utlizada (entrevista) e do tipo incrementado (semiestruturado), bem como de todos os instrumentos inerentes para a obtenção desses mesmos dados. Consideramos, assim, que apesar deste tipo de técnica se encontrar fundamentado por diversos autores, o mesmo per se não é suficiente para a realização de qualquer trabalho científico. Entendemos sim, que esta técnica, articulada e triangulada com todas as formas de recolha de dados, modalidades e ferramentas, tornam o procedimento mais diligente, conceptível e enriquecem qualquer investigação. Contudo, e neste caso concreto de avaliação da entrevista, entendemos que além da mesma permitir inferências sobre as dimensões identificadas, permitiu também melhorar a sua aplicabilidade e operacionalização e aferir com maior relevo sobre os constrangimentos e potencialidades quanto ao uso desta técnica. Neste campo metodológico, pretendemos salientar a flexibilidade estrutural da entrevista como um dos aspetos que consideramos positivo, visto permitir qualquer alteração ao referencial temático do decurso da entrevista. O facto de se ter verificado algum constrangimento por parte do entrevistado pela utilização do equipamento de gravação áudio, entendemos ser um aspeto menos positivo e que pode ter 12
  • 12. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso condicionado a entrevista. Foi observável que a presença deste instrumento, e tal como defende Wenger (2002) não deixou o participante muito à vontade. É também de sinalizar que, por vezes, a proximidade entre o participante e o investigador pode ser um dos fatores menos positivos, onde o participante pode entender que a informação que se pretende pode ser já do conhecimento do investigador e, logo, seja uma perda de tempo e/ou que o mesmo crie dúvidas quanto à utilização do dados, contrariando desta forma, e resumindo-nos apenas a esta caso concreto, ao que defende (Bourdieu, 1999). Desta forma, achamos que a opção da entrevista ser conduzida por um investigador e participante desconhecido, desde que seja dado o seu consentimento e devida elucidação do motivo do estudo, tende a recolher-se dados mais profundos, sem subterfúgios e com maior objetividade. Neste ponto do presente trabalho importa referir que a existência de um quadro teórico de referência consistente, que permita abordar os aspectos e temas relevantes da investigação, e a experiência empírica dos investigadores são fatores determinantes do produto final (Bogdan & Biklen, 1994, p.206). 5.2. Teóricas VS Empíricas É na relação entre o quadro teórico e o trabalho de campo que pretendemos equacionar os dados recolhidos. Neste sentido, e sendo certo que o panorama socioeconómico português atual não é dos mais favoráveis, seria, supostamente, fácil abordar o tema do desemprego e da exclusão social tal como os defende teoricamente Bruto de Costa (1998). Contudo, encarando o objeto de estudo como um forte desafio e pretendendo ir mais além entendemos, pela leitura dos dados obtidos, que o estar/ser desempregado não significa estar apenas privado de um trabalho remunerado, voluntária ou involuntariamente, mas também reconhecer como legítimo a procura ativa de emprego. As próprias condições de acesso e direito ao subsídio de desemprego, e que se estende a uma enorme franja da nossa sociedade, não fazem mais do que limitar as fronteiras desta mesma legitimidade. Estas condições sinalizam e oficializam os limites do direito ao desemprego que só pode existir se houver direito ao trabalho (Maruani, 2002). É nesta linha que a exclusão social ganha forma ao considerar que as pessoas são socialmente excluídas quando se combinam a falta de meios económicos, o isolamento social o acesso limitado aos direitos sociais e civis, bem como o acesso insuficiente aos recursos pessoais, familiares, económicos e culturais (Costa (1998). Apoiando-nos do pensamento de Louçã e Caldas (2009, citados em Santos, 2011), que ironizando sobre o pensamento neoliberal apontam como evidente que os despedimentos de hoje serão, talvez, o emprego de amanhã, recorremos a este ponto de vista para, numa 13
  • 13. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso inversão ideológica, propor o tema da criação do próprio emprego enquanto fator de resiliência ao desemprego, resiliência essa bem patente nesta abordagem. É, com atitudes empreendedoras, como a registada no nosso entrevistado, enquanto respostas a necessidades específicas e conjunturais que devemos basear a nossa reflexão. O empreendedorismo depende parcelarmente de estímulos de cariz económico (Baptista, Teixeira, Portela, 2008), mas também é certo que a vontade, o crer, a criatividade e a capacidade de iniciativa determinam a sua aplicação. Numa perspetiva norteada pelos pensamentos de autonomia, capacitação, mudança e empowerment de Paulo Freire, pretendemos inferir que o desemprego, visto por Boaventura de Sousa Santos (2011) como um dos principais “detonadores da insolvência pessoal e familiar“ (p.69), por si só não poderá continuar a ser entendido pela sociedade como um veículo propulsor de pobreza e de endividamento das famílias e, logo, de exclusão social. Uma atitude empreendedora, de criação do próprio emprego, exemplificada na presente abordagem, deverá ser encarada como capacidade pessoal para resistir, lidar e reagir de modo positivo em situações adversas e, deste modo, que rompa com a forma do desemprego, que apesar de ser um tipo de exclusão social, apresente indícios de viragem para novas formas de encarar a vida e o mercado de trabalho. Enquanto Educadores Sociais, e de acordo com Serapicos (2003), um dos grandes desafios é preparar os indivíduos para questões como as da solidariedade e da tolerância para que possa combater problemáticas, tais como, por exemplo, a exclusão social. E nas perspetivas de Paulo Freire (1983) de educar para intervir (que se referem a mudanças reais nas relações das pessoas e na sua autonomia, no trabalho, na educação e na saúde), e que durante toda a sua vida procurou dar voz aos grupos mais oprimidos e excluídos da sociedade para que pudessem ter domínio sobre a sua vida, entendemos que a situação de vulnerabilidade criada pelo desemprego é um dos campos férteis da atuação da Educação Social e pode ser um dos caminhos de mudança e que mostre às pessoas que podem criar os meios para fazer uma reflexão constante sobre a sua vida e decidir conscientemente sobre ela. É assim que (…) no ato mesmo de responder aos desafios que lhe apresenta seu contexto de vida, o homem se cria, se realiza como sujeito, porque esta resposta exige dele reflexão, crítica, invenção, eleição, decisão, organização, acção. Todas essas coisas pelas quais se cria a pessoa e que fazem dela um ser não somente adaptado à realidade e aos outros, mas integrado. (Freire, 1980, p.15). Como pista de uma futura investigação, e tendo em conta as características deste trabalho, que serviu apenas como ilustração de uma das formas de encarar o desemprego, não 14
  • 14. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso nos permitiram aferir que parcela da sociedade encara o risco calculado da criação do próprio emprego como ponto de viragem à situação adversa do desemprego, e que parcela “cai na subsidiodependência” que a leva ao débil modo de vida condigna, com apontamentos de sobrevivência social, de forma a evitar qualquer tipo de exclusão e até mesmo de pobreza. Seria, assim, de todo interessante estudar esta temática numa perspetiva mais macro (por exemplo: com vários casos de sucesso/insucesso de uma comunidade), enquadrando no estudo a perspetiva de educadores sociais e provocar a sociedade com registos e estratégias de empowerment, autonomia, valorização, estímulo ao (re)aproveitamento de recursos, etc., que despertem as comunidades e promovam o bem estar social. 15
  • 15. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Bibliografia Albarello, L.; Digneffe, J.; Maroy, C.; Ruquoy, D. & Saint-Georges, P. (1995). Práticas e Métodos de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva. Baptista, A; Teixeira, M; Portela, J. (2008). Motivações e obstáculos ao empreendedorismo em Portugal e propostas facilitadoras. Trabalho apresentado em Comunicação ao XIV Congresso da APDR. Comunicação ao XIV Congresso da APDR, Tomar. Bardin, L. (2008). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70. Bogdan, R. & Biklen, S. (1994). Investigação Qualitativa em Educação. Coleção Ciências da Educação. Porto: Porto Editora. Bourdieu, P. (1999). A miséria do mundo. Tradução de Mateus S. Soares. 3a edição. Petrópolis: Vozes. Carmo, H. & Ferrreira, M. (1998). Metodologia da Investigação. Lisboa: Universidade Aberta Duarte, R. (2002). Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo”. Cadernos de pesquisa, n.º 115, p.139-154. Dunbar, Christopher Jr., Rodriguez, Dalia e Parker, Laurence. (2002). Race, subjectivity, and the interview process. Handbook of Interview Research: Context and Method / (Editado) por Jaber F. Gubrium e James A. Holstein. Vários autores. Sage Publications Inc., Califórnia. EUA. Finger, M. & Nóvoa, A. (1988). O método (auto)biográfico e a formação. Portugal: Ministério da Saúde. Departamento dos Recursos Humanos da Saúde. Flick, U. (2005). Métodos qualitativos na investigação científica. Lisboa: Monitor. Fontana, A. & Frey, J. (1994). Interviewing: the art of science. In Denzin, N. & Lincoln Y. (Eds.), Handbook of qualitative research. Califónia: Sage. Fortin, M. (2000). O Processo de Investigação: Da concepção à realização. Loures: Lusociência. Gauthier, B. (2003). Investigação social: da problemática à colheita de dados. Lisboa: Lusociência. Guerra, I. (2006). Pesquisa Qualitativa e Análise de Conteúdo: Sentidos e formas de uso. Estoril: Princípia Editora, Lda., 1ª edição. Haguette, T. (1997). Metodologias qualitativas na Sociologia. 5ª edição. Petrópolis: Vozes. 16
  • 16. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Lakatos, E. & Marconi, M. (2003). Fundamentos de metodologia científica. 5ª edição. São Paulo: Atlas. Ludke, M. & André, M. (1986). Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: E.P.U. Krippendorf, K. (1980). Content Analysis. An Introduction to its Methodology. Londres: Sage. Paiva, M. (2004). Transcrição de dados linguísticos. In: Mollica, M. & Braga, M. (orgs.), Introdução à sociolinguística: o tratamento da variação. 2ª ed. São Paulo: Contexto, pp.135-146. Patton, M. Q. (1987). How to use qualitative methods in evaluation. Newbury Park, CA: Sage. Poirier,J., Chapier-Valadon, S. (1995). Histórias de Vida - Teoria e Prática. Oeiras: Celta. Quivy, R. & Campenhoudt, L.V. (2008). Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva. Roger W. Shuy (2002). In-person versus telephone interviewing. Handbook of Interview Research: Context and Method / (Editado) por Jaber F. Gubrium e James A. Holstein. Vários autores. Sage Publications Inc., Califórnia. EUA. Ruiz Olabuenaga, J. I. (1996). Metodologia de la investigación cualitativa. Bilbao: Universidad de Deusto. Silva, A; Pinto, J. (1986). Metodologia das Ciências Sociais. Porto: Afrontamento. Wenger, Clare G. (2002). Interviewing Older People. Handbook of Interview Research: Context and Method / (Editado) por Jaber F. Gubrium e James A. Holstein. Vários autores. Sage Publications Inc., Califórnia. EUA. 17
  • 17. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Índice Remissivo Nota introdutória ........................................................................................................................ 3 1. O campo de estudo ................................................................................................................ 4 2. A entrevista enquanto técnica qualitativa de excelência ....................................................... 5 2.1. Planeamento da entrevista ....................................................................................... 8 3. Análise de conteúdo............................................................................................................... 9 4. Discussão de resultados ....................................................................................................... 10 4.1. Exclusão Social e Desemprego ............................................................................. 11 4.2. A resiliência no desemprego ................................................................................. 11 4.3. Empreendedorismo VS Emprego .......................................................................... 12 5. Conclusões ........................................................................................................................... 12 5.1. Metodológicas ....................................................................................................... 12 5.2. Teóricas VS Empíricas .......................................................................................... 13 Bibliografia............................................................................................................................... 16 ANEXOS .................................................................................................................................. 19 Entrevista ........................................................................................................................ 22 Transcrição...................................................................................................................... 22 Análise de categorias ...................................................................................................... 27 Análise de conteúdo ........................................................................................................ 30 18
  • 18. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso ANEXOS 19
  • 19. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Guião de entrevista Objetivo da entrevista Pretende-se com a presente entrevista abordar o tema da criação do próprio emprego enquanto fator de inclusão social. Isto é, pretendemos obter dados sobre a forma como lidou com o facto de ficar desempregado e que capacidades pessoais sentiu e que o levou a resistir, lidar e reagir de modo positivo com a situação adversa do desemprego pelo fato de ter criado a sua atividade profissional atual. Deste modo, vimos, por este meio, solicitar a sua preciosa colaboração, respondendo às questões que lhe forem colocadas, garantindo-lhe o anonimato e confidencialidade dos dados. 1- Caraterização social do entrevistado i. Idade; ii. Naturalidade e nacionalidade; iii. Área de residência; iv. Habilitações literárias; 2- Experiência profissional i. Profissão ii. Que outras atividades profissionais exerceu? iii. Qual a atividade profissional que mais se identifica? E porquê? iv. Qual foi a sua última atividade profissional? Quanto tempo durou? 3- Situação de desemprego i. Porque ficou desempregado? ii. Já tinha estado desempregado anteriormente? iii. Como se sentiu enquanto desempregado (psicologicamente e socialmente)? iv. Enquanto esteve desmpregado sentiu-se excluído do seu gupo de amigos ou família? Porquê? v. Quanto tempo esteve desempregado até decidir iniciar o seu próprio negócio? 4- Atitude perante o desemprego/criação do próprio negócio 20
  • 20. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso i. Que tentativas fez para regressar ao mercado de trabalho? ii. Como encarou a situação? iii. O que o motivou para criar o seu próprio emprego? iv. Inspirou-se em alguém para avançar com o seu próprio negócio? v. Sentiu alguns constrangimentos/dificuldades? Se sim, quais? E como os ultrapassou? vi. Já tinha trabalhado anteriormente na área profissional em que iniciou o seu negócio? vii. Que tipo de conhecimentos tinha na área? (optou por criar o seu próprio emprego) viii. Porque é que escolheu abrir um negócio em vez de trabalhar por conta de outrem? ix. Era algo que queria fazer antes de ter ficado desempregado, ou foi a uma opção de recurso? x. Que carateristicas pessoais considera ter que o ajudaram na criação do próprio emprego? xi. Sentiu que corria alguns riscos ao criar o próprio negócio? Quais? xii. Como acha que seria a sua situação económica e social hoje se não tivesse optado por criar o seu próprio negócio? 21
  • 21. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Entrevista NOME --- LOCAL Esplanada de café DATA 02-11-2013 HORA ENTREVISTADORA 15H58 Cecília Pires DURAÇÃO 00:19´41 Transcrição E- Bom dia, desde já agradecemos a tua disponibilidade para a realização da entrevista… Esta entrevista vai servir para um trabalho académico, e gostaríamos de obter informação sobre a forma como lidaste com o desemprego, tendo em conta que criaste o teu próprio negócio, garantindo desde já que os dados só serão usados para este trabalho e com o total anonimato e confidencialidade…. Assim, podemos dar início à entrevista? e- Sim. E- De um modo geral podes conceder-nos alguns dados pessoais? e- Sim. E- Qual a tua idade? e- Tenho 30 anos. E- De onde és natural? e- Beja… Portugal. E- E a área de residência? e- Faro. E- Quais são as tuas habilitações literárias? e- Tenho o 12º ano E- E::::: Qual é a tua profissão? e- ::: Acho que já posso dizer::: empresário de pastelaria (risos). E- [ E:::: que outras atividades profissionais exerceste? e- Pois … já fui técnico de análise de águas … vendedor::: de produtos químicos … e :::: programas para os putos da escola::: softwares e:::::: distribuidor. E- Qual dessas todas que tiveste foi a que gostaste mais? e- Análise de águas::: porque foi sem dúvida a mais interessante, por todo o trabalho que realizava :::: analisar e tratar águas de rede, de hotéis, piscinas, hospitais, fábricas. 22
  • 22. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso E- Qual é que foi a última atividade profissional que tiveste antes desta? e- Fui distribuidor . E- E quanto tempo é que durou? e- Trabalhei lá aproximadamente 4 anos::: ainda estive lá um bom tempo ::: Só saí por falta de trabalho ::: a empresa tinha pouco movimento e tiveram necessidade de reduzir o pessoal … infelizmente é uma realidade que se vê neste país. E- Quanto tempo estiveste desempregado? e- Estive cerca de um ano e dois meses [ E- [ E já tinhas estado desempregado numa outra altura? e- Sim::: mas sempre por pouco tempo… E- Como te sentiste quando estavas desempregado a:::: psicologicamente e socialmente? e- Foi algo que pesou um pouco em mim::: … é difícil … falta de dinheiro para pagar as contas … e não ter aquela rotina::: andar sempre desocupado::: E- Houve nesse período mais prolongado de desemprego::: algum momento em que te sentisses::: assim::: excluído? e- Por vezes::: os amigos estavam a trabalhar e eu sentia-me desamparado. E se tivesse ficado mais tempo desempregado do que aquele que estive acho que a situação se teria agravado. E::: a família não está perto::: a minha família está em Beja e:::: estou aqui sozinho … Por mais que queiram apoiar, não é aquele apoio constante::: devido à distância. E- Mas::: isolaste-te de alguma forma? e- ::: não. Sempre quis estar com os amigos e com a namorada. Não me sentia deprimido, só estava mais sozinho porque eles não tinham tempo, ::::mas sabia que era normal. E- Estiveste desempregado um ano e dois meses sensivelmente::: e foi esse o tempo que levaste até montar um negócio? e- Nesse tempo fui pensando nessa possibilidade como alternativa ao facto de não encontrar trabalho e também porque era algo que eu já queria fazer … e esta situação veio também como uma escapatória do facto de estar desempregado [ E- [ Mas fizeste muitas tentativas para voltar ao mercado de trabalho? 23
  • 23. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso e- Algumas::: procurava ativamente, entregava currículos e não me chamavam::: E essa foi a forma que encontrei também para não estar parado::: e estava a ver o tempo a passar e eu continuava sem trabalho. E- Qual foi a alavanca que tiveste para avançar para a criação do teu próprio negócio? e- Falei com alguém que me ajudou a pensar::: a tomar a decisão::: colaborou comigo no sentido de avançar. E essa pessoa foi também uma das pessoas que me inspirou para abrir este negócio [ E- [ Mas, já tinha alguma referência na família que te tenha também inspirado? e- Sim essa pessoa::: … que já tinha experiência como empresário:: uma pessoa de negócios. Porque os negócios dele também eram nesta área [ E- [ Achas que o fato de teres trabalhado como comercial:: no passado ajudou-te? e- Sim. Ajudou-me a lidar com o público (0.2), criou-me à vontade::: E- Que tipo de dificuldades sentiste quando tomaste a decisão de criação do teu próprio negócio? e- Acho que as dificuldades que toda a gente sofre::: existem muitos entraves, muita burocracia por parte da segurança social, finanças, câmaras::: licenças … é muito complicado … leva o seu tempo (0.3). Só em burocracias demorei quase um mês até conseguir abrir. E- E que financiamento tiveste? e- Fiz com o apoio de familiares, não tive que me (endividar) graças a Deus… é uma vantagem::: porque há imensa gente que tem que recorrer a créditos. Mas, hoje em dia também é difícil ter créditos, arranjar crédito não é assim tão fácil. E- E microcrédito nunca te passou pela cabeça? e- Não::: e não me queria meter nisso porque iriam ser mais problemas e preferi assumir a dívida com os familiares. E- Tens pessoas da família que formaram contigo sociedade? e- Não, Não. Só me deram o apoio, confiaram em mim e avançaram. E- Se não tivesses tido esse apoio, achas que terias avançado? e- :::::::: talvez não. Se calhar escolhia sair de Portugal ou :::procurava um emprego durante mais algum tempo. E- Que tipo de conhecimentos tinhas na área da restauração? 24
  • 24. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso e- Eu::::? tinha poucos ou nenhuns (0.1) mas a pessoa que está comigo já tinha experiência, já tinha trabalho nisto e isso foi uma mais-valia, já não começámos necessariamente do zero. E- E porque escolheste abrir o teu negócio em vez de persistires na procura de emprego? e- (hhhh) Porque abrir o meu negócio para já é uma independência::: temos a nossa independência ::: e fazemos o nossos serviço à nossa maneira::: criamos as nossas próprias regras para que tudo corra bem … Não temos que estar sujeitos a regras de outras pessoas::: aqui é diferente eu é que dou ordem … e tenho a possibilidade de intervir quando vejo que alguém está mal … e vamos vendo diariamente que alterações podemos fazer para melhor. E- Mas já tinhas pensado nesta alternativa antes de teres ficado desempregado? e- Sim::: Sempre me passou pela cabeça ((apontando o dedo)), o ter um negócio meu (hhhhhhh). Não tinha pensado era em que área::: mas surgiu esta oportunidade e foi nesta que fiquei ::: Gostava de ter criado negócio na área das águas mas isso era mais difícil … tem que se ter outros licenciamentos, outros conhecimentos … -- a nível de mercado também é diferente -- . E- Que características pessoais consideras ter que te ajudaram na criação do próprio emprego? e- A teimosia::: É preciso ser teimoso e persistir no que se quer::: Eu quando não estou contente com o resultado::: começo logo a pensar em maneiras diferentes::: para dar a volta e::: no fundo chegar onde quero. E- Sentiu que corria alguns riscos ao criar o seu próprio negócio? e- Sim::: sem dúvida. Porque parar abrir negócio é preciso muitas burocracias… e para abrir um estabelecimento tem que estar tudo nos conformes … caso contrário podesse receber fiscalização e podia o fechar:::: Também podia o negócio correr mal e não ganhar dinheiro sequer para pagar a quem me ajudou. E- Consegues imaginar como era a tua situação económica hoje se não tivesses optado por este caminho? e- Continuava no desemprego::: se calhar teria a fazer uns biscates para ganhar mais algum … E o mercado não está nada, nada, bom::: E- Como te imaginas (profissionalmente) daqui a três anos, por exemplo? e- Não sei, é difícil responder::: Mas acho que vai correr bem. Isto não é assim muito difícil e é só manter a vidinha controlada e organizada::: até a crise passar. Eu também não quero ficar rico:: só quero estar bem. E- Como encaras o trabalho na tua vida? 25
  • 25. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso e- É uma forma de estar bem na vida e de se fazer o que se gosta:::não é aquela forma de irmos para o trabalho já contrariados e mais um dia:::: é uma coisa importante para mim::: estar ocupado ::: Não me imagino já sem trabalhar. E- Damos por terminada a entrevista. Mais uma vez muito obrigado pela tua disponibilidade e colaboração. GLOSSÁRIO (Flick, 2005) E: entrevistador e: entrevistado (xxx): Incompreensão de palavras ou segmentos. (hipótese): hipótese do que se ouviu MAIÚSCULA: Entoação enfática ...: Qualquer pausa ((minúscula)): Comentários gestual -- --: Comentários que quebram a sequência temática da exposição [: Sobreposição, simultaneidade de vozes (...): Indicação de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto. hhh: Inspirações/expirações audíveis de ar são transcritas como ´hhh´ (o número de hs é proporcional à duração da inspiração/expiração) (0.2): pausas em segundos A::: - Sons prolongados: o prolongamento de sons é marcado com dois pontos, em número proporcional à duração do prolongamento. palavra sublinhada: mostra ênfase ou saliência. 26
  • 26. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Análise de categorias Categoria Caraterização do entrevistado Sub-categorias Caraterização social do entrevistado Excertos da entrevista «[…] Tenho 30 anos[…]» «Tenho 12º ano» Profissão «Empresário de pastelaria» Profissões anteriores «[…] técnico de análise de águas […] vendedor::: de produtos químicos […] distribuidor.» Profissão de maior satisfação «Análise de águas […]» Última profissão antes do desemprego « Fui distribuidor […]Trabalhei lá aproximadamente 4 anos […]» Motivo de desemprego « […] Só saí por falta de trabalho ::: a empresa tinha pouco movimento e tiveram necessidade de reduzir o pessoal […]» Experiência profissional Duração do desemprego Sentimento enquanto desempregado Situação de desemprego Excluído Enquanto desempregado « Estive cerca de um ano e dois meses » « Foi algo que pesou um pouco em mim::: … é difícil … falta de dinheiro para pagar as contas … e não ter aquela rotina::: andar sempre desocupado::: » « Por vezes::: os amigos estavam a trabalhar e eu sentia-me desamparado […] E::: a família não está perto::: a minha família está em Beja e:::: estou aqui sozinho … Por mais que queiram apoiar, não é aquele apoio constante::: devido à distância.» «::: não. Sempre quis estar com os amigos e com a namorada. Não me sentia deprimido, só estava mais sozinho porque eles não tinham tempo, ::::mas sabia que era normal.» «Nesse tempo fui pensando nessa possibilidade (criar o 27
  • 27. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Tentativas para voltar ao mercado de trabalho Alavanca para criar emprego Atitudeperante o desemprego/ criação do próprio negócio Inspiração Dificuldades Financiamento Microcrédito Criação do próprio emprego Conhecimento na área Opção de criar negócio em vez de continuar a procurar próprio negócio) como alternativa ao facto de não encontrar trabalho e também porque era algo que eu já queria fazer … e esta situação veio também como uma escapatória do facto de estar desempregado» « […] procurava ativamente, entregava currículos e não me chamavam::: E essa foi a forma que encontrei também para não estar parado […] « […] Falei com alguém que me ajudou a pensar::: a tomar a decisão::: colaborou comigo no sentido de avançar. E essa pessoa foi também uma das pessoas que me inspirou para abrir este negócio» « […] essa pessoa::: … que já tinha experiência como empresário: uma pessoa de negócios. Porque os negócios dele também eram nesta área» « […] Acho que as dificuldades que toda a gente sofre::: existem muitos entraves, muita burocracia por parte da segurança social, finanças, câmaras::: licenças […] Só em burocracias demorei quase um mês até conseguir abrir. « […] o apoio de familiares, não tive que me (endividar) graças a Deus… é uma vantagem::: […]» « […] Não::: e não em queria meter nisso porque iriam ser mais problemas e preferi assumir a dívida com os familiares.» « […] tinha poucos ou nenhuns (0.1) mas a pessoa que está comigo já tinha experiência, já tinha trabalho nisto e isso foi uma mais-valia, já não começamos necessariamente do zero.» « […] Porque abrir o meu negócio para já é uma 28
  • 28. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Pontos fortes na personalidade Risco criar negócio Situação se não tivesse criado negócio Futuro Espetativas para o futuro independência::: temos a nossa independência ::: e fazemos o nossos serviço à nossa maneira::: criamos as nossas próprias regras para que tudo corra bem … Não temos que estar sujeitos a regras de outras pessoas::: […]» « […] Sempre me passou pela cabeça ((apontando o dedo)), o ter um negócio meu (hhhhhhh). Não tinha pensado era em que área::: mas surgiu esta oportunidade e foi nesta que fiquei ::: Gostava de ter criado negócio na área das águas mas isso era mais difícil … tem que se ter outros licenciamentos, outros conhecimentos … -- a nível de mercado também é diferente » «A teimosia::: É preciso ser teimoso e persistir no que se quer::: Eu quando não estou contente com o resultado::: começo logo a pensar em maneiras diferentes::: para dar a volta e::: no fundo chegar onde quero.» « Sim::: sem dúvida. Porque parar abrir negócio é preciso muitas burocracias… e para abrir um estabelecimento tem que estar tudo nos conformes … caso contrário podesse receber fiscalização e podia o fechar:::: Também podia o negócio correr mal e não ganhar dinheiro sequer para pagar a quem me ajudou.» « […] Continuava no desemprego::: se calhar teria a fazer uns biscates para ganhar mais algum […]» «:::::: talvez não. Se calhar escolhia sair de Portugal ou :::procurava um emprego durante mais algum tempo.» «Não sei, é difícil responder::: Mas acho que vai correr bem. 29
  • 29. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social Trabalho O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Forma de encarar o trabalho Isto não é assim muito difícil e é só manter a vidinha controlada e organizada::: até a crise passar. Eu também não quero ficar rico:: só quero estar bem.» « […] É uma forma de estar bem na vida e de se fazer o que se gosta:::não é aquela forma de irmos para o trabalho já contrariados e mais um dia:::: é uma coisa importante para mim::: estar ocupado ::: Não me imagino já sem trabalhar.» Análise de conteúdo Problemática Experiência profissional Situação de desemprego Análise Atualmente o entrevistado exerce a profissão de empresário na área da pastelaria. Tendo já trabalhado como técnico de análise de águas, vendedor de produtos químicos. A anterior profissão que exerceu foi de distribuidor durante 4 anos. Foi dispensando do seu trabalho como distribuidor, porque a empresa encontrava-se com poucos clientes e sentiram necessidade de reduzir o pessoal. Tendo o mesmo vivido a situação de desemprego durante um ano e dois meses. Esta situação foi muito constrangedora para ele, porque viu-se com falta de dinheiro para pagar contas e sentiu-se desocupado. Diariamente sentia-se desamparado porque não tinha nada para fazer, os amigos encontravam-se a trabalhar e a família encontrava-se distante não o conseguindo sempre o apoio que necessitava. Excerto «empresário de pastelaria» «[…] técnico de análise de águas […] vendedor::: de produtos químicos […] distribuidor.» «Análise de águas […]» « Fui distribuidor […]Trabalhei lá aproximadamente 4 anos […]» « […] Só saí por falta de trabalho ::: a empresa tinha pouco movimento e tiveram necessidade de reduzir o pessoal […]» « Tive cerca de um ano e dois meses » « Foi algo que pesou um pouco em mim::: … é difícil … falta de dinheiro para pagar as contas … e não ter aquela rotina::: andar sempre desocupado::» « Por vezes::: os amigos estavam a trabalhar e eu sentia-me desamparado […] sentia me desamparado ::: a minha família está em Beja e:::: estou aqui sozinho … Por mais que queiram apoiar, não é aquele apoio 30
  • 30. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso Mesmo perante a situação de desemprego, não se sentiu deprimido e não se isolou. O mesmo procurou sempre que possível estar com os amigos e a namorada. Enquanto estava desempregado e como não encontrava trabalho pensou na possibilidade de criar o seu próprio negócio. O entrevistado enquanto esteve desempregado procurava ativamente emprego enviando currículos. Essa foi a forma que arranjou para não passar os dias desocupado. Teve alguém com quem se aconselhou e que o ajudou em todo o processo para conseguir criar o seu próprio negócio. Atitude perante o desemprego/criação do próprio negócio Essa pessoa já tinha experiência como empresário na área da hotelaria e restauração. O entrevistado sentiu algumas dificuldades durante esse processo devido a todas as burocracias (Finanças, Segurança Social…) que estão inerentes à criação do próprio negócio. Por esse motivo é que demorou cerca de um mês para conseguir abrir o negócio. Neste processo contou com apoio financeiro de familiares o que permitiu com que não tivesse que constante::: devido à distância.» « não. Sempre quis estar com os amigos e com a namorada. Não me sentia deprimido(…)» « Nesse tempo fui pensando nessa possibilidade (criar o próprio negócio)como alternativa ao facto de não encontrar trabalho e também porque era algo que eu já queria fazer … e esta situação veio também como uma escapatória do facto de estar desempregado» « […] procurava ativamente, entregava currículos e não me chamavam::: E essa foi a forma que encontrei também para não estar parado […] « […] Falei com alguém que me ajudou a pensar::: a tomar a decisão::: colaborou comigo no sentido de avançar. E essa pessoa foi também uma das pessoas que me inspirou para abrir este negócio» « […] essa pessoa::: … que já tinha experiência como empresário: uma pessoa de negócios. Porque os negócios dele também eram nesta área» « […] Acho que as dificuldades que toda a gente sofre::: existem muitos entraves, muita burocracia por parte da segurança social, finanças, câmaras::: licenças […] Só em burocracias demorei quase um mês até conseguir abrir. « […] o apoio de familiares, não tive que me (endividar) graças a Deus… é uma vantagem::: […]» « […] Não::: e não em queria meter nisso porque iriam ser 31
  • 31. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso recorrer a créditos. Porque se tivesse recorrido a créditos poderia vir a ter problemas. Abriu o negócio numa área em que nunca tinha trabalhado mas contou com a ajuda da companheira que já tinha experiência, Obtou por abrir o seu negócio porque consegue assim ter independência e cria as suas próprias regras, não ter que estar sobre sobre o controle de terceiros. Mesmo antes de estar desempregado já tinha pensando em abrir negócio próprio mas não sabia era em que área. O entrevistado considera-se teimoso e persistente e isso foram duas das características que o ajudaram na criação do próprio emprego. O mesmo quando não está contente com um resultado obtido começa logo a pensar em arranjar soluções para obter o resultado esperado, o que mostra que o mesmo também é determinado. Sentiu que corria alguns riscos ao criar um negócio próprio devido a todas as burocracias que acarretam estas situações. E, por outro lado o negócio também podia não correr como esperado e não ter lucro nem para si, nem para pagar a quem o financiou neste projeto. mais problemas e preferi assumir a dívida com os familiares.» « […] tinha poucos ou nenhuns (0.1) mas a pessoa que está comigo já tinha experiência, já tinha trabalho nisto e isso foi uma maisvalia, já não começamos necessariamente do zero.» « […] Porque abrir o meu negócio para já é uma independência::: temos a nossa independência ::: e fazemos o nossos serviço à nossa maneira::: criamos as nossas próprias regras para que tudo corra bem … Não temos que estar sujeitos a regras de outras pessoas::: […]» « […] Sempre me passou pela cabeça ((apontando o dedo)), o ter um negócio meu (hhhhhhh). Não tinha pensado era em que área::: mas surgiu esta oportunidade e foi nesta que fiquei ::: (…)» « A teimosia::: É preciso ser teimoso e persistir no que se quer::: Eu quando não estou contente com o resultado::: começo logo a pensar em maneiras diferentes::: para dar a volta e::: no fundo chegar onde quero.» « Sim::: sem dúvida. Porque parar abrir negócio é preciso muitas burocracias… e para abrir um estabelecimento tem que estar tudo nos conformes … caso contrário pudesse receber fiscalização e podia o fechar:::: Também podia o negócio correr mal e não ganhar dinheiro sequer para pagar a quem me ajudou. «:::::: talvez não. Se calhar escolhia sair de Portugal ou 32
  • 32. Metodologias de Investigação Mestrado em Educação Social O outro lado do desemprego: um caso de sucesso O mesmo considera que se não tivesse tipo o apoio que teve para conseguir criar o seu próprio negócio, provavelmente teria optado por emigrar ou persistia na procura de emprego. Se não tivesse criado o seu negócio provavelmente ainda estava desempregado e a trabalhar por fora para ganhar algum dinheiro. Trabalho (visão do entrevistado) :::procurava um emprego durante mais algum tempo.» « […] Continuava no desemprego::: se calhar teria a fazer uns PESCATOS para ganhar mais algum […]» « […] É uma forma de estar bem na vida e de se fazer o que se gosta:::não é aquela O entrevistado prefere forma de irmos para o trabalhar porque é uma forma trabalho já contrariados e de se sentir bem e de se mais um dia:::: é uma coisa manter ocupado. importante para mim::: estar ocupado ::: Não me imagino já sem trabalhar.» 33