Este documento discute a língua portuguesa e suas particularidades ortográficas. Em três frases ou menos:
O português é falado por cerca de 4% da população mundial e é a quinta língua mais falada no mundo. A língua portuguesa possui regras complexas de acentuação gráfica para indicar a pronúncia correta das palavras. O documento explica essas regras detalhadamente com vários exemplos.
1. Jornal
O Bandeirante Informativo Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Regional do Estado de São Paulo
Ano XVI - nº. 183 - FEVEREIRO de 2008
Redação: sobrames@uol.com.br - (11) 9182-4815
Língua portuguesa
e particularidades de sua ortografia
Helio Begliomini*
“O escritor original não é aquele que não imita ninguém,
mas sim aquele que ninguém pode imitar”.
François René de Chateaubriand (1768-1848), escritor francês.
O Brasil caracteriza-se por ter uma sociedade urbana, uma vez
que apenas 16% de sua população estão no campo. Contrariamente, esse
percentual é de 71% na Índia e 60% na China.
O Brasil, país-continente, quinto maior em extensão territorial
do globo terrestre, oferece notável homogeneidade cultural. Apesar dos
discretos regionalismos, o português é falado em toda a sua extensão
amá-la; dizê-lo, odiá-lo; fá-lo-ei; fê-los, movê-las-íamos, pô-los,
territorial e inexistem dialetos. Ao contrário, na China, além do
qué-los, dá-nos.
mandarim, como língua oficial, existem pelo menos 53 idiomas nacionais
Em monossílabos tônicos (com pronúncia forte), coloca-se
e mais de cem dialetos! Por sua vez, na Índia, há dezesseis línguas oficiais
acento agudo nas palavras que terminam em a, e, o abertos, e com
e 844 dialetos!
acento circunflexo os que acabam em e, o fechado, sendo exemplos: pá,
O português é a quinta língua mais falada no mundo (!), perdendo
pó, pé, pás, pós, pés, dê, dês, vô, vôs, Sé, lá, lê, dá, nó, nós, vó, vós.
apenas para o mandarim (chinês) e o pequinês, sua variante dialetal; para
Coloca-se acento agudo no e de palavras oxítonas cuja
o inglês; o espanhol e o hindi.
terminação é em ou ens: alguém, também, além, desdém, porém,
O português é falado por cerca de 4% dos seis bilhões de
nenéns. Diferenciam-se de vocábulos paroxítonos com a mesma
habitantes da população mundial. Esse número sobe para 12% se levar-
terminação e que não precisam ser acentuados: imagem, cosem, cedem,
se em consideração apenas o mundo ocidental, onde existe a maior
garagem, viagem, plumagem, nuvem, item, jovem, totem. Quando
porção da riqueza e de desenvolvimento tecnológico do planeta. No
a palavra é monossílaba é desnecessário acentuá-la: tem, cem, nem,
continente Americano, é expresso por 1/5 da população (22%); na
vem, sem, quem, bem, trem, tens, vens, bens.
América do Sul e Central juntas, 43%; e, exclusivamente na América do
Vocábulos oxítonos terminados em i e u só necessitam
Sul, por 51% dos 328 milhões de habitantes.
acentuação quando estiverem sozinhos na sílaba. Sem acentuação: aqui,
O idioma português possui acentuação gráfica que serve para
ri, vau, gurupi, bambu, peru, urubus, mau, nau, feri-lo, caju,
informar a correta leitura das palavras. Os acentos podem indicar a
admiti-lo, abri-la, permiti-nos, garanti-lo, persegui-los,
intensidade e, outros, a leitura correta das palavras, ou seja, se a pronúncia
consegui-las, muni-los, fingi-lo. Com acentuação: baú, Emaús,
é aberta ou fechada. Como exemplos, têm-se verbos que, na dependência
atraí-la, distribuí-los, distraí-la, subtraí-las, destruí-lo, instruí-
da acentuação e da frase, podem-se tornar substantivos ou adjetivos: ela
la, constituí-lo, traí-las, atraí-lo. O acento serve também para
critica (verbo); a crítica foi suave (substantivo); ou ela é uma pessoa
diferenciar tempos verbais: ele sai de eu saí; ela cai de eu caí; dai-nos
crítica (adjetivo). Outros exemplos são: eu publico/local público; eu
de daí disse-nos; ele conclui de eu concluí; ai de aí.
me exercito/o exército; ela pacifica/ela é pacífica; eu pratico/ele é
Os vocábulos proparoxítonos, cuja acentuação tônica recai
prático; eu habito ali/esse é o hábito franciscano; o trânsito vitima/
sobre a antepenúltima sílaba, necessitam de acentuação gráfica.
ela foi vítima do trânsito; eu transito/o trânsito; a bandeira tremula/
Entretanto, constituem a minoria em nosso vernáculo. São exemplos:
a mão trêmula; ele duvida/qual é a sua dúvida? etc.
médico, tíquete, rubéola, fac-símile, ácido, lâmpada, ênfase, câmara,
Entretanto, a língua portuguesa é preponderantemente
fenômeno, pêssego, êxito, estereótipo, rubéola, revólveres etc. Ademais,
paroxítona, ou seja, possui palavras que não necessitam de acentuação
muitos verbos na primeira pessoa do plural tornam-se proparoxítonos,
gráfica. Existem milhares de palavras que possuem pronúncia forte ou
devendo levar acentuação gráfica: fôssemos, saíamos, levávamos,
tonicidade na penúltima sílaba: carvalho, escrevo, amamos, cama, horas,
dispúnhamos, perdíamos, éramos, quiséssemos.
mesa, cadeira, claro, clareza, varia, carinho, escuro, direito, correto,
Na ortografia correta, deve-se também acentuar os nomes
certo, advogado, soco, bolo, tolo, mofo etc.
próprios proparoxítonos: Angélica, Ângelo, Jéferson, Cícero, Róbinson,
Há, outrossim, palavras nas quais o acento tônico ocorre na
Amábile, Émerson, Éverton, Eurídice, Rosângela etc. Entretanto, o que
última sílaba. São as oxítonas terminadas em i, u, r, l, ao, ã, sendo
deve prevalecer é o modo como foi registrado em Cartório. O idioma
exemplos ali, caju, valor, papel, cartel, acharão, falarão, manhã, maçã
português escorreito não é de fácil aprendizado, assimilação e domínio,
etc. Como se vê, o acento gráfico é a exceção. Por vezes, ele é colocado
haja vista sua multiplicidade de regras e tempos verbais. Entretanto, é aí
para diferenciar a significação de vocábulos, tais como sabiá (pássaro)
que residem sua beleza, versatilidade e riqueza de expressão.
de sabia (verbo); maio (mês) de maiô (roupa de banho); Pelé (nome,
Inexiste escritor sem idioma e idioma sem escritor. A propósito,
apelido) de pele (órgão de revestimento).
Pietro Bembo (1470-1547), literato italiano, cinco séculos atrás,
Coloca-se acento agudo ou circunflexo nas palavras oxítonas
brilhantemente asseverou: “Não se pode chamar realmente de língua
terminadas em a, e, o seguidas ou não de s. Exemplos: avôs, avós,
ao idioma que não possui escritor”.
português, norueguês, Iaiá, dominó, jacarés, cachê, cajá. Nesta
regra, incluem-se as formas verbais seguidas de pronomes: contatá-lo, *Médico urologista e Presidente da SOBRAMES-SP
2. 2 O Bandeirante - Fevereiro de 2008
editorial
expediente
Os critérios para publicação
Jornal O Bandeirante
Freqüentemente sou abordado correio ou por e-mail, o que propicia uma
ANO XVI - nº. 183 - Fevereiro 2008
pelos autores acerca dos critérios que quantidade bastante expressiva de textos
utilizo para a seleção e publicação dos aguardando publicação .
Publicação mensal da SOBRAMES-SP -
Sociedade Brasileira de Médicos textos literários no suplemento mensal. Ocorre que o espaço disponível
Escritores - Regional do Estado de São Paulo Na maioria das vezes, eles insinuam para os textos em nosso suplemento é de
apenas: “faz tempo que não publicam 4 páginas mensais, comportando a
Sede: Rua Alves Guimarães, 251 -
nenhum texto meu”. Ou então queixam- publicação de cerca de 8 a 10 autores a
CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP
Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 se de maneira velada que os editores têm cada edição. É fácil fazer as contas e
privilegiado mais um autor do que outro verificar que, para que se publique a
Editores: Flerts Nebó, Marcos Gimenes e que seus trabalhos têm sido preteridos. todos em igualdade de condições,
Salun.
Desde que assumi a co-editoria do demandará algum tempo entre uma
Redatores: Helio Begliomini, Marcos
Gimenes Salun, Flerts Nebó. jornal “O Bandeirante” em fevereiro de aparição e outra. É importante salientar
Rev isão: Ligia Terezinha Pezzuto 2001, em parceria com Flerts Nebó, tem ainda a dificuldade de edição de textos
(MTb 17.671 - SP). sido minha a responsabilidade de muito longos, que ocupariam várias
Jornalista Responsável: Marcos Gimenes
selecionar os textos que mensalmente irão páginas para um só autor em detrimento
Salun - (MTb 20.405 - SP).
Redação e Correspondência: Av.Prof. compor o Suplemento Literário. Para de outros. Ressalte-se, finalmente, que
Sylla Mattos, 652 - ap. 12 - Jardim Santa tanto, tenho procurado adotar os os textos premiados em nossos
Cruz - São Paulo - SP - CEP 04182-010. critérios mais justos possíveis para que concursos anuais ou na Superpizza são
E-mail: sobrames@uol.com.br.
todos os autores tenham iguais opor- publicados no Suplemento indepen-
Tels.: (11) 9182-4815 / 6331-1351
tunidades de publicação. dentemente do “rodízio” de autores feito
Colaboradores desta edição: Walter Contudo e, como esses critérios para melhor atender aos parâmetros
Whitton Harris, Michel Herbert Alves nem sempre transparecem ou não são acima mencionados.
Florêncio, Carlos Alberto Ferriani, Antonio
divulgados a todo instante, sempre é bom A missão do editor, portanto, não
Carlos Lima Pompeo, Carlos Augusto
Ferreira Galvão, Thereza Freire Vieira, que se pontuem os principais deles, para é das mais fáceis, pois além disso tudo,
Josyanne Rita de Arruda Franco. que não pairem dúvidas. também deve ter em foco que a Sobrames
Em primeiro lugar, é dada prefe- é uma Sociedade formada por amantes
Diretoria - Gestão 2007/2008 - Presidente:
rência à publicação dos textos dos da literatura amadora. Ao editor cabe, na
Helio Begliomini; Vice-Presidente:
Josyanne Rita de Arruda Franco; Primeiro- associados que estejam em dia com a medida do possível, dar conta dos
Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã; tesouraria. A média de pagantes anual tem objetivos estatutários dessa entidade,
Segundo-Secretário: Evanir da Silva sido de cerca de 50 associados. Boa parte qual seja a de incentivar a todos os
Carvalho; Primeiro-Tesoureiro: Marcos
desses autores apresenta seus textos nas autores, proporcionando-lhes a justa
Gimenes Salun; Segundo-Tesoureiro: Ligia
Terezinha Pezzuto; Conselho Fiscal Pizzas Literárias e disponibiliza-os para divulgação e promoção de seu diletante
Efetivos: Flerts Nebó, Arary da Cruz Tiriba, publicação mensalmente. Muitos outros trabalho literário.
Luiz Jorge Ferreira; Conselho Fiscal autores remetem-nos seus textos por Marcos Gimenes Salun
Suplentes: Carlos Augusto Ferreira Galvão;
Geováh Paulo da Cruz; Helmut Adolf
Mataré. Walter Whitton Harris
Projeto Gráfico e Diagramação: Cirurgia do Pé e Tornozelo
Ortopedia e Traumatologia Geral
Rumo Editorial Produções e Edições
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3. O Bandeirante - Fevereiro de 2008 - SUPLEMENTO LITERÁRIO 3
O calendário e o ano bissexto
Walter Whitton Harris
Médico ortopedista - São Paulo - SP
S SENDO 2008 UM ANO BISSEXTO, interessou-me
pesquisar sua origem, razão de ser e, ao mesmo tempo, estudar
o calendário que adotamos.
Desde os tempos mais remotos, existiram calendários,
devido à necessidade do Homem de contar o tempo e à
observação do dia e da noite, e das estações do ano. Muitos
calendários passavam de pais para filhos oralmente, quando
ainda não existia a escrita e, mais tarde, havendo-a, baseou-se
freqüentemente na ascensão dos monarcas, levando a enormes Quando Júlio César introduziu seu calendário em 46 a.C.,
confusões na cronologia da história da humanidade. ele fez com que o ano se iniciasse em 1º. de janeiro, mas nem
Havia grandes dificuldades para sua adequação, sempre foi assim. A Igreja não gostava das festividades quase
justamente porque a duração do dia e de um mês não é um pagãs que ocorriam no Ano Novo e, em 567 d.C., o Concílio de
múltiplo exato, resultando num ano inexato. Tours declarou que iniciar o ano em 1º. de janeiro era um erro
Muitos séculos antes de Cristo, os egípcios já utilizavam que precisava ser corrigido. Durante a Idade Média, várias datas
um ano de 360 dias que se iniciava com a enchente anual do foram usadas, gerando muitos problemas de interpretação.
Nilo. A cada 4 anos, começaram a adicionar um dia, depois de Apesar de representar um avanço, e muitos países
deduzirem que um ano correspondia a 365,25 dias. adotarem o Calendário Gregoriano, principalmente os países
Em 46 a.C., o Imperador Júlio César (Gaius Julius Caesar, protestantes demoraram para aceitá-lo. Na Alemanha só foi
102-44 a.C.) reformou o calendário existente em Roma, no qual adotado no século XVII, e países europeus como Dinamarca,
se introduzia um 13º. mês sempre que se achava necessário e, Finlândia, Noruega e Suécia, no séc. XVIII. Curiosamente, na
assim, surgiu o Calendário Juliano, com 12 meses em que, a Inglaterra (e não na Escócia), o ano histórico começava em 1º.
cada 4 anos, havia um ano de 366 dias. Esse calendário foi de janeiro e o ano litúrgico iniciava-se no primeiro dia do
adotado na Europa por cerca de 1500 anos. Advento (quatro semanas antes do Natal). No entanto, o ano
Foi observado que, apesar da correção a cada 4 anos, o civil variou muito: do século VII ao século XII, começava em 25
Calendário Juliano não era preciso, pois o ano apresentava 11 de dezembro; do século XII até 1751, em 25 de março. Somente
minutos e 14 segundos a mais em relação ao Ano Solar. Com o após 1752, quando se adotou o Calendário Gregoriano,
passar do tempo, essa diferença afetava as datas do início das oficializou-se a data de 1º. de janeiro. Vários países só adotaram
estações e dos festivais religiosos. esse calendário no século XX, como Bulgária, Grécia, Iugoslávia,
Em 1582, o Papa Gregório XIII (1502-1585), após vários Romênia, Turquia e União Soviética. Na China foi aceito para
estudos juntamente com astrônomos e matemáticos, modificou vigorar simultaneamente com o calendário tradicional chinês.
o Calendário Juliano e elaborou o Calendário Gregoriano, que é No Brasil, colônia de Portugal, então sob domínio da Espanha,
utilizado até os dias de hoje. Através de muitos erros e acertos, passou a vigorar em 1582, data em que fora instituído pelo
chegou-se à seguinte regra, que é seguida desde então: “Será Papa Gregório XIII.
bissexto todo ano cujo número seja divisível por 4 e não divisível É interessante saber a forma inglesa de chamar-se o ano
por 100, sendo também bissexto os anos divisíveis por 400”. bissexto: leap year. Ao pé da letra, significa “o ano que pula”.
Como o Ano Juliano é mais longo que o Ano Solar, no Cogita-se que deriva do fato de que os festivais, após o dia
final de um século há um excesso cerca de ¾ de um dia. Em 4 intercalado (29 de fevereiro), “pulam” um dia à frente.
séculos, essa diferença corresponde a aproximadamente 3 dias. O antigo calendário romano apresentava três dias fixos
Como a cada 4 anos há um ano bissexto, em cada 400 anos no mês, baseados no ciclo lunar e um mês era dividido em três
teríamos 100 bissextos. Considerando-se que os dias partes, separadas por calendas (lua nova), nonas (quarto
excedentes seriam introduzidos nos futuros anos bissextos, a crescente) e idos (lua cheia). Os demais dias eram contados de
solução ao problema foi de eliminar 3 anos bissextos para se trás para a frente em relação ao dia fixo subseqüente. O dia 2 de
eliminar os 3 dias excedentes, ou seja, a partir de 1582 somente janeiro, por exemplo, era antediem IV nonas januarii, “quatro
poderiam existir 97 anos bissextos a cada 400 anos. Escolheu- dias antes da nona de janeiro”, o dia 3 de fevereiro, antediem
se então retirar os anos bissextos divisíveis por 100 (que seriam III nonas februarii, ou seja “três dias antes da nona de
4), mas para poder retirar apenas 3, manteve-se o único ano fevereiro” e assim por diante. Obviamente, calendas resultou
bissexto divisível por 400. Por esse motivo, um em cada 4 anos no termo “calendário”.
de fim de século é considerado ano bissexto, mas tão somente Júlio César não inventou um novo dia (como existe hoje
se for divisível por 400. Os anos de 1700, 1800, 1900 não foram o dia 29 de fevereiro) para compensar o dia a mais a cada 4
anos bissextos, assim como 2100 não o será, porém 1600 e 2000 anos, mas escolheu, aleatoriamente, o dia 24 de fevereiro para
foram bissextos, por serem divisíveis por 400. A engenhosidade ser repetido novamente. Esse dia, em latim, chamava-se bis
para resolver esse problema talvez seja um dos cálculos mais sextum antediem calendas martii, “o segundo sexto dia antes
brilhantes do século XVI. das calendas de março”. Daí a origem do termo bissexto.
4. 4 SUPLEMENTO LITERÁRIO - O Bandeirante - Fevereiro de 2008
A nuvem e eu
Michel Herbert Alves Florêncio
Médico pediatra - São Luiz - MA
A A 10 mil pés, voando do norte ao sul do Brasil
neste imenso céu azul
consegui enfim extrair de ti, além das gotas da chuva,
a tua essência.
Notei-te tão pertinho de mim, ora homogênea, pura e límpida,
leve plenitude que segue, sem destino.
Ora densa, escura, informe e resistente ao vento, como eu.
Ora divinamente útil e até suficientemente sábia
para assim poder abrandar a ira do sol.
Ora revolta, uma verdadeira inversão do mar,
que deságua torrentes naufragando na terra,
culpados inocentes.
Tal qual a nuvem, multiforme em suas várias dimensões,
tento harmonizar na minha inquietude,
a terra, o mar e o céu,
em chuvas de versos em linhas de qualquer papel.
Assim como a nuvem, evaporo-me neste torrão
transpasso em muito ares sem perder jamais
de vista a minha missão.
Sou a própria substância em sentimentos
que inesperadamente se decompõe em gotas
trazendo refrigério ao mais ambígüo coração.
Está aí, enfim, a minha vocação.
Fugidio
S Carlos Alberto Ferriani
Nem toda a luz
Sentado na rede
Cirurgião plástico - Ribeirão Preto - SP Que invade vísceras e pele
Numa travessia sem mágoa
Amortiza o breu da alma que arde
Umbilical e iluminada
Talvez a dor da falta do filho
Sem pedir licença ao passado
Que parte por ter razão de ir
Procuro a causa da solidão
Explique esse vazio
Que se faz chegar
Cause tanto desvario
E que me torna mar
Mas vida reluz
E morto de sede
Do oceano impele
Como quando nem toda a água
Desenhado pelas ondas do fim de tarde
Basta a saciar ou se faz dada
Então resgato calma e brilho
E o tão castigo consumado
Pela só doçura do existir
Entranha na minha imensidão
Vou paz no homizio
Fico a navegar
Vou pois, menos sombrio
Areia à beira-mar
5. O Bandeirante - Fevereiro de 2008 - SUPLEMENTO LITERÁRIO
5
O “quase” linchamento
do delegado
Antonio Carlos Lima Pompeo
Médico urologista - São Paulo - SP
O O costume de fazer a lei pela força permaneceu
por muitos anos em nossa cidade (Mogi-Guaçu). Teve
origem, provavelmente, na época em que os bandeirantes
por aqui paravam para descanso ou abastecimento. As
famílias constituíam clãs em que o “apoio” a todos do
grupo era irrestrito, independentemente de os valores
A família e concidadãos resolveram vingar-se do
delegado. Aguardaram sua saída da cadeia no final da
tarde e, como um enxame de abelhas, caíram sobre ele,
estarem certos ou não. que tentava escapar, gritando e correndo de forma
Os delegados em geral eram forasteiros, ficavam desordenada. Os poucos policiais nada puderam fazer,
pouco tempo por aqui e tinham um poder de decisão ficando também imobilizados.
inimaginável. Com grande autonomia, prendiam, puniam, Graças ao bom senso de alguns cidadãos, que
soltavam. Pois bem! Um desses delegados, recém- impediram que o massacre fosse concluído, o pobre
chegado (início dos anos 50 do século XX), que morava delegado conseguiu sair com vida. Daí em diante, a força
com sua esposa muito próximo da loja de meu avô, ordenou policial ganhou mais elementos, e os futuros homens da
a prisão de um senhor de mais ou menos setenta anos, lei foram instruídos a lidar com mais discernimento com
por motivo aparentemente fútil. Na delegacia, puniu o os habitantes. Da loja do meu avô, que cerrou as portas e
cidadão com agressões físicas, comuns na época (costume gritava para que poupassem a vida do delegado, assisti
que teve seu auge anos depois com a mudança do regime). apavorado a esse triste episódio.
Surreal
Carlos Augusto Ferreira Galvão
Médico psiquiatra - São Paulo - SP
A A espuma do espumante grita no meu copo
Cheiro de patchuli em Sampa e a chuva cai
Choro pizza com seu riso gorduroso
O espumante passa zarpando na garganta
Sobrames acabanada
Coleção de neurônios literários
Açúcar em água, drama, comédia
Teatro paulistano, delícia cultural
O avião caiu em nossa cabeça
São Paulo esmaga-me em trapaça
Aventuras, daqui a pouco, à beça
Tem ternura aqui em Sampa, bela cachaça.
6. 6 SUPLEMENTO LITERÁRIO - O Bandeirante - Fevereiro de 2008
O Os meninos de rua, abandonados,
enjeitados, mal-amados, miseráveis
que perderam a esperança, o direito de sonhar.
Das migalhas que ganham na rua,
com esmolar, com pequenos furtos
não matam a fome com alimentos
Os mal-amados
Thereza Freire Vieira
Médica geriatra - Taubaté - SP
mas sim com a cola, o craque, a maconha
para tapear o abandono e a falta de amor.
Esses nunca foram crianças!
São velhos na mais tenra idade, são desiludidos,
que da vida apenas esperam...
serem apanhados pela polícia,
levados ao juizado de menores,
serem encurralados na FEBEM,
que nada tem a oferecer...
Nem espaço, nem conforto, nem estudo.
Existe apenas um aprendizado especializado,
como uma pós-graduação que os bacanas
buscam nas universidades e ali lhes é dado...
É o aprendizado do crime, dos desvios sexuais
da marginalidade, do ódio e da revolta.
E quando voltar à sociedade
com a especialização completa,
será uma fera invencível!
Girândolas
Josyanne Rita de Arruda Franco
Q
Médica pediatra e psicanalista - Jundiaí - SP
Qual é a minha cidade?
É um espaço no meu pensamento,
É um sonho que se disfarçou
No sentido do meu sentimento?
Cadê a minha cidade?
Vive cercada de folguedos
Que me adornam as lembranças,
Camuflando os meus segredos?
Em que galáxia está?
Na constelação de mil flores,
Nos aromas divinais,
no deslumbrar de mil cores?
Será que deixou de existir
Ou nunca passou do desejo
De um cigano a suplicar
Um rumo, um norte, um cortejo?
Não sei mais onde ela está,
Só sei que me olha e eu a vejo
Cá dentro do peito a gritar
Que é o porto seguro de um beijo!
7. O Bandeirante - Fevereiro de 2008 7
estante
Fragmentos de uma Uma família paulista Orações, Salmos e
história Leda Galvão de Poesias - o verbo
Luiz Barreto - Edição Avelar Pires - Edição em ebulição Michel
do autor - 2000 - do autor - 2007 - Herbert - Edição do
Recife - PE - 184 p. Botucatu - SP - 318 p. autor - 2007 - São
Luís - MA - 112 p.
O médico Luiz de Gonzaga Braga Nesta obra Leda Galvão coloca com O projeto é de 2001, mas só agora
Barreto, ex-presidente da Sobrames- maestria literária suas memórias e vem a lume a poesia deste médico
PE, sempre manteve uma séria e suas pesquisas nos relatos da família, pediatra maranhense, numa obra
dedicada atenção para os assuntos da reconstituindo os episódios, singela, plena de fé e de lirismo, que
Sociedade Brasileira de Médicos enriquecendo-os com as informações desde logo contagia os leitores.
Escritores. Foi com esse espírito que do contexto histórico e social da Trata-se de uma leitura leve, mas
ele brindou os leitores, em 2000, com época. Nas entrelinhas de “Uma profunda, onde os temas são
uma obra de inegável valor histórico Família Paulista”, surge o retrato de abordados de forma inteligente numa
para a Sobrames, ao registrar toda a várias épocas, lições de vida e , linguagem que cativa o leitor desde
trajetória da regional pernambucana sabedoria popular de que “não existe os primeiros momentos. O próprio
desde sua fundação e até aquele ano. problema que não possa ser a-
t
m autor avisa: “Procurei brincar com as
Com imparcialidade e baseado em resolvido”. Leda é membro da b
é
m palavras, ousei fazer novos conceitos,
acervo documental, Barreto alinhavou Academia Botucatuense de Letras e fiquei livre e voei em meus
e registrou, nessa importante obra, a participou ativamente da VI Jornada pensamentos.” O livro, que foi
história da regional que já dirigiu. Médico-Literária Paulista realizada na prefaciado por Walter Harris, poderá
Leitura recomendada para quem cidade de Botucatu em 2001, além de ser adquirido diretamente com o
pretende conhecer melhor a colaborar eventualmente com autor, que destina 20% do valor
Sobrames. Contatos: Rua Alfredo atividades da SOBRAMES. Para arrecadado para as Missões Munidias.
Pereira Borba, 21 - ap.701 informações e aquisições envie Para contatos e informações, escreva
CEP 50720-190 - Recife - PE e-mail: leda_galvao@uol.com.br para mh.florencio@uol.com.br
Esta seção tem como objetivo divulgar e promover a venda dos livros dos associados adimplentes. Para participar, os autores
interessados devem enviar as seguintes informações sobre os livros que pretendam divulgar: Título, Editora, Ano e Cidade da
Publicação, Nº. de Páginas, Preço, Forma de contato e aquisição e um arquivo magnético, contendo a foto da capa do livro (extensão
JPG). São dispensadas essas informações caso o livro já esteja disponível no acervo da SOBRAMES-SP. Opcionalmente o autor poderá
também enviar o livro, ainda que por empréstimo, para a redação do jornal. O envio do material, assim como de notícias, publicações ou
informações sobre lançamentos de livros deve ser feito para: Jornal “O Bandeirante” - Redação: Av. Prof.Sylla Mattos, 652 - ap.12
Jardim Santa Cruz - São Paulo - SP - CEP 04182-010 - Também serão recebidas as informações pelo e-mail: SOBRAMES@UOL.COM.BR.
registro
tiriba na imprensa
Ceará sediará XXII
Nosso associado e membro da
atual diretoria, Dr. Arary da
Congresso Brasileiro
Cruz Tiriba, teve publicados
recentemente dois artigos de
sua autoria na imprensa: 1. Na edição de 22.01.2008 do jornal “O Estado de São Paulo”,
na coluna Espaço Aberto, o artigo “Febre amarela ontem e hoje”; 2. Na revista
“Diagnósticos e Tratamentos”, edição de dezembro de 2007, a crônica “Memória: a do
paciente e a do médico”.
visita a tatiana a voz da poesia De 4 a 7 de junho, a cidade de
Tatiana Belinky, membro Chegou mais uma vez em nossa caixa de Fortaleza sediará o XXII Congresso
honorário da SOBRAMES- correio uma edição do jornal “A Voz da Brasileiro de Médicos Escritores e o III
SP, foi visitada em 26 de Poesia”, publicação do Movimento Poético Comitê Feminino da SOBRAMES. As
janeiro pelo confrade Nacional. Trata-se da edição nº. 79, onde inscrições já estão abertas. O evento
Walter Harris. Encontra- se registra, dentre outras poesias, os acontecerá no Ponta Mar Hotel e as
se muito bem e, com seus versos de nosso confrade Hélio J. Déstro. reservas e informações sobre preços do
89 anos de idade, acabou pacote podem ser obtidas através dos e-mails
de lançar mais um livro infantil de nome michel de volta angela.campos@casablanca.tur.br ou
“Limeriques sobre Cocanha”, refente ao Com grande satisfação, joana.pires@casablanca.tur.br.
país imaginário europeu utópico Cocagne. anunciamos o retorno, A programação cultural inclui
Pediu para mandar um forte abraço a ao quadro de sessões de temas livres (prosa e poesia),
todos os associados, desejando-lhes um associados ativos da mesas redondas, conferências e palestras.
2008 repleto de realizações. Sobrames-SP, do médico A regional de São Paulo já está organizando
pediatra Michel Herbert sua caravana para participação no evento.
falecimento Alves Florêncio, O material informativo está sendo enviado
Com pesar registramos o falecimento do atualmente residindo em São Luís - MA. O por e-mail aos associados paulistas, que
Sr.Hamilton Osório, marido da vice- poeta Michel havia ingressado na regional devem inscrever seus trabalhos até 31 de
presidente da Sobrames - SP, Dra. paulista no ano 2000, mas por março. Maiores informações podem ser
Josyanne Rita de Arruda Franco, ocorrido necessidade de atividades profissionais obtidas diretamente com a comissão
no último dia 06.02.2008. Aos familiares acabou ficando ausente por algum tempo. organizadora do Congresso, através do e-
enlutados, manifestamos nossas mais Agora volta ao nosso convívio literário, mail sobramesce@secrel.com.br ou pelo
sinceras condolências. para gáudio de todos os confrades. tel./fax (85) 3244-3807.
8. 8 O Bandeirante - Fevereiro de 2008
Você já pagou sua Abril em Jundiaí: agenda
anuidade de 2008? Sabatina Literária
Foi fixado em Anote nossos próximos com-
No próximo dia 26 abril (sábado),
R$140,00 (cento e promissos e participe de todas as
a Sobrames-SP vai realizar, na cidade de
quarenta reais) o valor atividades, marcando pontos para o
Jundiaí, mais uma Sabatina Literária. A
da anuidade de 2008. “Prêmio Rodolpho Civile” de
programação do evento prevê a visita
Essa quantia é válida assiduidade e “Prêmio Aldo Miletto”
a um dos muitos museus da região, uma
para os que efetuarem para o melhor desempenho, ambas na
tertúlia literária dos membros de nossa
o pagamento até o dia segunda edição. As datas aqui previstas
associação em conjunto com entidades
31.03.2008. A partir de poderão sofrer alterações no caso de
culturais locais e um almoço de
1º. de abril, o valor haver algum impedimento ou de
confraternização por adesão, num dos
passa a ser de R$ 170,00 (cento e ocorrências de feriados. Nesta
deliciosos restaurantes da cidade, com
setenta reais). hipótese, haverá divulgação de novas
custo estimado em R$ 30,00 por
Os pagamentos podem ser feitos datas.
pessoa.
durante as Pizzas Literárias ou através
do envio de cheque cruzado, nominal
à SOBRAMES-SP, para o endereço do MARÇO - 6 reunião de diretoria /
atual tesoureiro:
27 Pizza Literária.
Marcos Gimenes Salun
Av. Prof. Sylla Mattos, 652 - ap.12 ABRIL - 3 reunião de diretoria /
Jardim Santa Cruz - São Paulo - SP 17 Pizza Literária / 26 Sabatina
CEP - 04182-010 Literária (Jundiaí).
A previsão é de que o evento
Até o fechamento desta edição, MAIO - 8 reunião de diretoria /
tenha início às 8h30 e que os
já haviam contribuído:Aida Lúcia Pullin
participantes estejam de volta a partir 29 Pizza Literária
Dal Sasso Begliomini, Arary da Cruz
de 16h00. Os interessados devem
Tiriba, Carlos Augusto Ferreira Galvão,
inscrever-se nas Pizzas Literárias de JUNHO - 4 a 7 XXII Congresso
Geováh Paulo da Cruz, Hélio Begliomini,
20.03 e 17.04, para que seja planejada Brasileiro de Médicos Escritores
Hélio José Déstro, José Jucovsky, José
a viagem de ida e volta a Jundiaí, que
Rodrigues Louzã, Ligia Terezinha (Fortaleza-CE) / 12 reunião de
poderá ser feita distribuindo-se os
Pezzuto, Luiz Jorge Ferreira, Maria da
inscritos em alguns veículos dos diretoria / 19 Pizza Literária.
Glória Civile, Maria do Céu Coutinho
próprios participantes. A participação
Louzã, Mário de Melo Faro, Michel JULHO - 3 reunião de diretoria /
também contará pontos para o prêmio
Herbert A. Florêncio, Nelson Jacintho,
Roberto Antonio Aniche, Rodolpho
“Aldo Miletto” de Melhor Desempenho 17 Pizza Literária.
na Sobrames em 2008.
Civile, Sérgio Perazzo, Thereza Freire
Vieira, Walter Whitton Harris e AGOSTO - 7 reunião de diretoria /
Wladimir do Carmo Porto. Vem aí mais uma 21 Pizza Literária.
Coletânea da Sobrames. SETEMBRO - 4 reunião de diretoria/
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NOVEMBRO - 6 reunião de diretoria
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