1) Cinco grandes aeroportos brasileiros (Guarulhos, Viracopos e Brasília) começarão a ser concedidos à iniciativa privada em fevereiro de 2012, após anos de administração estatal defasada.
2) É fundamental conter a Infraero e resistir a novas pressões de fundo ideológico para que a transição ocorra sem problemas.
3) A concessão desses aeroportos é um começo para melhorar a infraestrutura aeroportuária, porém outros problemas do setor permanecem
1. 6 Sábado, 17 de dezembro de 2011
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O GLOBO
OPINIÃO
A hora de mudar os aeroportos
N
o dia 6 de fevereiro de 2012, três todo o mundo, com marcos regulatórios leiros se acostumaram ao desconforto e à es- Com enorme atraso, o governo Dilma tenta
grandes aeroportos brasileiros mais adequados aos novos tempos, fez com cassez de serviços quando passam pelos ae- agora corrigir o erro do seu antecessor. Nes-
(Guarulhos e Viracopos, em São que as tarifas barateassem e mais pessoas ti- roportos nacionais, mas se envergonham ao sa corrida contra o tempo, espera-se que o
Paulo, e o de Brasília) começarão a vessem acesso a essa modalida- receber visitantes estrangeiros, cronograma dos leilões, da assinatura dos
se livrar de uma longa trajetória de adminis- de de transporte. pois eles geralmente se surpre- contratos de concessão e da transferência da
tração incompatível com os desafios atuais e A multiplicação do número de endem quando vêm ao país pela administração seja cumprido à risca. Para is-
futuros do setor aeroportuário. Enquanto passageiros e de cargas abriu É fundamental primeira vez: o impacto negati- so, o governo não pode ser complacente com
terminais marítimos e rodoviários em todo o oportunidades para os mais vo na recepção contrasta com o corporativismo, com resistências ideológi-
país há muito tempo passaram para as mãos competitivos, e, em tal quadro, conter a Infraero as notícias e os depoimentos a cas e não deve ceder às pressões para que a
de concessionários privados, nos aeroportos foram ficando para trás as anti- respeito dos avanços ocorridos Infraero tenha um papel que vá além do que
prevaleceu a mentalidade retrógrada da es- gas empresas estatais, inclusive e resistir a novas no Brasil nas últimas décadas. lhe cabe no novo modelo.
tatização. no segmento de administração Infelizmente, a infraestrutura O cumprimento do cronograma é impor-
Com o crescimento vertiginoso do tráfego de terminais (Infraero). pressões de aeroportuária se transformou tante para que se consiga promover ainda
aéreo, e um visível esforço de companhias Diversos países perceberam em um dos derradeiros baluar- em 2012 o leilão dos aeroportos internacio-
para atender a uma demanda que chegou a que era hora de mudar e rapida- fundo ideológico tes do saudosismo estatizante. nais do Rio de Janeiro (Antonio Carlos Jo-
se expandir a quase 20% em um ano, os ae- mente puseram seus aeroportos O governo Lula fraquejou o tem- bim) e de Confins (Tancredo Neves).
roportos viraram um gargalo. Quem busca o sob concessão privada. E os re- po todo diante dos interesses A concessão desses cinco grandes aero-
transporte aéreo como opção geralmente sultados não demoraram a apa- corporativos e não fez o que era portos não resolve totalmente os problemas
tem pressa para chegar a seu destino ou an- recer. Quando se compara a qualidade dos óbvio, principalmente depois de o Brasil ter do setor, mas já representará um grande sal-
seia por conforto. No passado, pagava-se serviços nesses aeroportos, até mesmo de al- se comprometido a abrigar grandes eventos to. Uma esperança, enfim, mesmo que, devi-
muito caro para isso. Porém, o estímulo à gumas nações da América do Sul, o quadro internacionais, cujo sucesso dependerá em do aos atrasos enervantes, seja difícil prestar
competição entre as companhias aéreas em chega a ser vexaminoso para nós. Os brasi- parte de bons serviços aeroportuários. serviços amplos de boa qualidade na Copa.
Jogo do bicho se conecta a outros crimes
A
imagem clássica de apontadores últimos anos. A aliança dos grandes contra- tas, grave por si só. Em seu rastro, contabili- incluídos na folha salarial da contravenção.
sentados em bancos e caixotes nas ventores do Rio com grupos mafiosos da Rús- zam-se também homicídios, tráfico de influên- Não à toa, a grande (e necessária, desconta-
esquinas, anotando apostas em blo- sia e de Israel, descoberta recentemente em cia, lavagem de dinheiro e outros crimes con- dos alguns aspectos tão espalhafatosos quan-
cos toscos, ainda não é um anacro- operações da Polícia Federal, co- tra a vida humana e a economia to ineficazes) operação desfechada esta sema-
nismo absoluto no jogo do bicho fluminense. mo revelou O GLOBO, comprova do país. A versão globalizada dos na pela polícia fluminense para prender acu-
Mas eles perdem terreno gradativamente, e que também do ponto de vista bicheiros apenas potencializa o sados de ligação com a máfia do bicho acabou
num ritmo a cada dia mais intenso, para a tec- “gerencial” os bicheiros flumi- Contravenção se perigo que eles representam pa- não alcançando três dos grandes “banquei-
nologia: a alta cúpula da contravenção do Rio nenses diversificam os negócios ra a sociedade — e cuja gravida- ros” com mandados de prisão decretados pela
de Janeiro investe pesadamente em máquinas ilegais. Disso também é evidência alia a máfias de nem sempre é devidamente Justiça. É cristalina a evidência de que, mais
de anotação eletrônica, bem como em apare- a ligação dos chefões fluminen- avaliada pelo poder público, não uma vez, a ação vazou por canais que levam
lhos caça-níqueis e outros dispositivos, aper- ses com cassinos em países sul- internacionais e poucas vezes leniente com a pro- aos chefões contraventores.
feiçoando esquemas que são a razão de ser americanos, parceria que ajuda a liferação de bancas de apostas, Desses movimentos da contravenção, que
dos jogos de azar: abastecer o caixa dos “ban- lastrear suas atividades interna- corrompe maus tíbio na repressão a máquinas passam por assassinatos, manipulação de
queiros” com somas bilionárias à base de mente, em razão do aumento dos caça-níqueis e cego diante do de- apostas e graves ameaças contra a paz social,
fraudes e manipulações que tiram do aposta- ganhos providos por esses novos policiais sembaraço com que “banquei- sobressai a constatação de que é insustentá-
dor qualquer chance contra a “banca”. mercados. De comum entre os ros” ostentam seu poder em ins- vel a tese da legalização da jogatina. Seja pelo
Métodos conhecidos de ganhar dinheiro à dois tempos — o dos métodos tâncias da vida legal. aspecto criminal, pelo viés legal ou do ponto
custa da boa-fé alheia e personagens que ain- artesanais de burla e o da infor- Um poder que também avan- de vista social, o jogo é uma atividade ligada a
da remetem ao passado misturando-se a no- matização — permanece a inescapável reali- ça sobre a vida institucional, e, de forma ainda uma estrutura viciada, violenta e — compro-
vas tecnologias a serviço do engodo não são a dade de que a contravenção é uma atividade mais profunda, sobre os organismos de segu- va-se agora — dominada por máfias. Logo,
única coisa que mudou no jogo do bicho nos que não se restringe a manipulação de apos- rança, com a cooptação de agentes públicos longe dos interesses da sociedade.
Hoje é a idade de ouro
Marcelo
CACÁ DIEGUES como nós mesmos, sem precisar um Porter, George Gershwin e Irving Ber-
dia desaparecer da face da terra. lin (até roqueiros os gravam!), mas
H
á algumas décadas, muito O formato da ópera nasceu no sé- conscientes da intuição de Chico
antes de Woody Allen ter culo 18, com “Orfeu e Eurídice” de Buarque de que a canção se esgotou,
t o c a d o n o a s s u n t o e m Gluck, até hoje encenada e gravada. que novos formatos como o rap ga-
“Meia-noite em Paris”, o an- Mas dificilmente surgirão no futuro nham o espaço desse esgotamento,
tropólogo Lévi-Strauss já nos tinha novos Verdi e Puccini, as grandes es- como Caetano Veloso anda a experi-
advertido sobre a ilusão das idades trelas da ópera no século 19, o apo- mentar há algum tempo, acho que
de ouro. Talvez por culpa dos sofri- geu desse formato cultural. Da mes- desde o disco “Noites do Norte”.
mentos inevitáveis ao longo de nos- ma forma, a humanidade vai sempre Como diz o poeta e filósofo Antonio
sas vidas, imaginamos sempre que, cultivar a ideia de moda, mas a alta- Cícero, as vanguardas do século 20
em algum outro tempo, houve ou ha- costura de gênios como Channel ou serviram sobretudo para nos mostrar
verá dias melhores sem as frustra- Dior nunca mais terá o mesmo valor que as artes não têm limites, não há
ções e as dores do presente. nesse mundo de prêt-à-porter. E não fronteiras que impeçam o artista de ir
Para os conservadores, essa idade há nada de errado nisso. adiante. Nas galerias do Chelsea ou em
de ouro está sempre no Pergunte a qualquer parques como o Dia Beacon de Nova
passado que não volta melômano contemporâ- York e o Inhotim de Belo Horizonte, to-
mais, só nos resta lamen- neo sobre suas esperan- das as formas se dissolvem sem rumo
tá-lo e indispor-nos com O desejo de que ças em achar um novo certo, como se isso fosse necessário
a decadência do presen- Beethoven por aí. De Ba- para se reencontrar o reinício de algu-
te. Para os progressistas, as coisas deem ch e Vivaldi a Mozart e ma coisa, nessa aurora do século 21.
ela está no futuro e, para Wagner, o formato do No mundo pós-industrial, à porta do
merecê-la, é preciso que eternamente que chamamos música qual nos encontramos, novos forma-
sacrifiquemos a insufi- erudita alcançou sua tos culturais estão surgindo, novas ar-
ciência do presente. E, no certo perturba perfeição com Beetho- tes e novos jogos que a humanidade
entanto, a idade de ouro ven usando todos os não vai parar nunca de inventar. Assim
é o tempo que nos foi da- a observação equipamentos e alterna- como o teatro não acabou com a in-
do viver. tivas possíveis à sua ma- venção do cinema, nem o cinema com
Na cultura, esse mito nifestação. De tal modo a da televisão, nem a televisão com a
da idade de ouro é sem- que os gênios posterio- da internet, as economias criativas da
pre objeto de polêmica. O poeta Ezra res de Debussy e Ravel ou de Stra- era industrial continuarão vivas como
Pound foi quem melhor conseguiu ar- vinski e Boulez acabam expressando fornecedoras de ideias à criação pós-
ticular essas ideias controversas, a melancolia inventiva desse esgota- industrial. Assim como o WikiLeaks
quando dividiu os artistas em mes- mento, do que não se repete nunca precisou da imprensa de papel para vi-
tres, inventores e diluidores. A obra mais. Um pouco como foram as artes rar escândalo produtor de progresso,
dos mestres é clássica, os inventores plásticas do século 20, do “Olympia” os fascinantes games eletrônicos não
criam a produção de seu tempo e os de Manet à tela em branco de Mon- acabarão com o futebol.
diluidores usam os resultados de am- drian, uma reinvenção, em novo for- nosso time. Nada nos fará desprezar vas em campo são nossas conheci- A cada instante, seremos surpre-
bos para consolidar uma tendência. mato, da pintura esgotada pelo re- o futebol. Mas o apogeu do jogo ficou das, o Barça de Messi nos encanta endidos e encantados por novos for-
O desejo de que as coisas deem nascimento e diluída pelo neoclássi- para trás, com o esgotamento de mas já vimos aquele jeito de jogar, do matos de novas eras, que nos reve-
eternamente certo perturba a obser- co do século 19. Ninguém melhor do suas estratégias, das seleções húnga- Ajax de Cruyff ao Flamengo de Zico. larão mais do espírito humano e do
vação delas. Mas sendo a cultura que Marcel Duchamp compreendeu e ra de 1954 à holandesa de 1974-78, Nada disso significa que a música, a estado do mundo. E nem por isso dei-
uma criação humana, ela é necessa- deu um basta nisso. com dois picos sublimes: as seleções pintura, o futebol e todos os formatos xaremos de ouvir Beethoven.
riamente dinâmica, em crise perma- Também jogaremos bola pelo res- brasileiras de 1958 e de 1970. Ama- culturais do passado tenham morrido
nente, condenada a um processo de to da vida e voltaremos ao Maracanã, nhã torceremos por Neymar como já e vão desaparecer para sempre. Con- CACÁ DIEGUES é cineasta.
surgimento, apogeu e decadência, sempre que houver uma partida de torcemos por Pelé, mas as alternati- tinuaremos a ouvir encantados Cole E-mail: carlosdiegues@uol.com.br.
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