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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 5 de outubro de 2013 • Cidades • 25
Geração
traduzida
em gírias
» SHEILA OLIVEIRA
O
convite para o cinema,
‘se pá’, mas se é pra
‘mandar a real’, melhor
a ‘get’ ‘pop’. Todo mun-
do ‘gudi’, que é para acabar com
o ‘recalque’ alheio. Então, ‘hash-
tag partiu’. ‘É tois’. Essas são al-
gumas das novas gírias utiliza-
das pelos jovens brasilienses.
Para entender as expressões, é
necessária a ajuda de um tradu-
tor e conhecimento mínimo em
redes sociais. Ninguém sabe de
onde vieram, quem as inventou,
mas o certo é que não conhecê-
las significa estar fora da galera.
“Tem muita gíria que apren-
do na internet ou com amigos.
Tem vezes que minha mãe pe-
de para ‘ligar a tecla SAP’ (du-
blagem) para entender o que
estou dizendo. Por isso, tento
evitar falar gírias em casa, é co-
mo assumir uma segunda per-
sonalidade”, conta a estudante
do 2º ano do ensino médio do
Centro Educacional Sigma
Thaís Teófilo, 17 anos. Em algu-
mas situações, as gírias são in-
ventadas baseadas em expres-
sões restritas a um local ou a
uma pessoa específica. “De
tanto o professor de português
encerrar a aula com o ‘por hoje
é só’, o termo virou um bordão
entre os alunos. Quando encer-
ramos uma conversa, usamos a
gíria”, explica Thaís.
De acordo com a professora
de linguística da Universidade
de Brasília (UnB) Stella Bortoni,
as gírias, apesar de efêmeras,
são componentes importantes
paraarenovaçãodalíngua.“Elas
representam uma geração de
adolescentes, pois fazem parte
da moda e do jeito de ser dos jo-
vens. Quando as gírias ultrapas-
sam a barreira desse grupo,
transformam-se em neologis-
mos (palavras novas) e passam a
fazer parte do vocabulário colo-
quial”, explica.
Regionalização
O escritor baiano radicado
em Brasília Marcelo Torres ob-
servou, durante oito anos, o mo-
do de falar dos brasilienses. O
resultado do estudo informal
culminou na publicação do livro
O bê-á-bá de Brasília, lançado
em 2011. “A obra reúne palavras
intrínsecas ao linguajar dos mo-
radores da capital federal, como
balão (rotatória), bomba (san-
duíche), camelo (bicicleta), te-
sourinha e zebrinha (micro-ôni-
bus)”, destaca. Segundo Torres,
no Distrito Federal, é comum a
regionalização das gírias. “Exis-
tem expressões específicas de
cidades. Por exemplo, o ‘dindin’
(picolé de saco plástico) é mais
comum em Ceilândia, e ‘dodó’
ou ‘dods’ (doméstica), no Plano
Piloto”, afirma.
Outra curiosidade descrita na
obra de Marcelo Torres é o uso
de gírias políticas. “Existem ex-
pressões específicas usadas nas
repartições públicas de Brasília
e no Congresso. Dentre elas, es-
tão ‘toguinha’ (assistente de tri-
bunal), ‘itamareteca’ (aluno do
Instituto Rio Branco) e ‘pasti-
nha’ (negociador/ mensageiro)”,
observa.
Na rede
Apesar da existência de ex-
pressões regionais, o fato é que
boa parte das gírias que estão
hoje na boca dos jovens brasi-
lienses são compartilhadas pela
internet. Stella Bortoni denomi-
na esse fenômeno de gírias ur-
banas. “Elas ultrapassam as bar-
reiras geográficas e passam a ter
proporções de expressões na-
cionais”, define. A estudante
Paula Maia, 17 anos, dá o exem-
plo das gírias da rede mundial.
“A moda agora é ‘hashtag’. Ela é
quase como uma locução de gí-
riaporquesófazsentidoseusar-
mos com uma auxiliar, como
hashtag chateado, hashtag par-
tiu. É o termo utilizado em di-
versas mídias sociais”, explica.
O estrangeirismo também
está presente, mas de forma
adaptada. ‘Tô numa bad’, ‘get’ e
‘tô gudi’ são os maiores exem-
plos dos termos importados do
inglês. “São expressões utiliza-
das por jovens de classes mais
altas e que têm mais chances de
serem aceitas. Isso está ligado a
uma questão sociológica em
que a maioria, no caso dos ado-
lescentes mais carentes, elege
um grupo de referência, do qual
planeja fazer parte, e, com isso,
passa a imitar os seus costu-
mes”, aponta a especialista da
UnB. As expressões ‘é tois’ (esta-
mos juntos), ‘get’ (festa), ‘só que
sim’, ‘só que claro’ e ‘tá de caô’
utilizadas por artistas e veicu-
ladas na tevê e na internet tam-
bém compõem a lista de vocá-
bulos dos brasilienses.
Mesmo com o surgimento de
expressões, algumas gírias con-
seguem se manter no linguajar
dos jovens independentemente
do tempo ou da moda, caso de
‘véi’, ‘tipo/tipo assim’, ‘sóh’, ‘de
rocha’, ‘caozeiro’, ‘trolar’ e ‘zoar’.
“Acho que o uso de gírias, na
medida certa e desde que não
agrida ninguém, é bem-visto. É
uma maneira de interagir e se
aproximar dos mais jovens. Pre-
tendo utilizá-las na carreira de
professor, a qual quero seguir”,
conta o estudante Gabriel Lessa,
17 anos, que evita as palavras
desconhecidas ao falar com os
pais. “Tento me policiar para
não conversar com eles como
bato-papo com os meus ami-
gos”, diz. “Esse tipo de lingua-
gem acabou sendo agregada pe-
lo jovem, mas, de certa forma, é
originária de ambientes margi-
nalizados. É interessante o uso
dela, mas, dependendo do local,
não pega bem. No ambiente
profissional, é preciso cuidar da
imagem”, aconselha a especia-
lista em mercado de trabalho
Débora Barem.
COMPORTAMENTO
Esse tipo de linguagem acabou sendo
agregada pelo jovem, mas, de certa
forma, é originária de ambientes
marginalizados. É interessante o uso
dela, mas, dependendo do local, não
pega bem. No ambiente profissional,
é preciso cuidar da imagem”
Débora Barem,
especialista em mercado de trabalho
Novas Oportunidades de Negócio
Seleção de Empresas Investidoras e Empreendedoras para
Participação no Leilão de Geração A-3/2013 e Aquisição de Ativos
Furnas Centrais Elétricas S.A, com sede na Rua Real Grandeza, nº 219,
Botafogo, Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, no âmbito da Chamada
Pública para Novas Oportunidades de Negócio, torna pública sua intenção de
constituir parceria para participar, em forma de consórcio ou de Sociedade
de Propósito Específico – SPE, do Leilão de Geração 009/2013 (A-3) a ser
promovido pela ANEEL em 2013 e na aquisição de ativos de geração.
Informações adicionais estão à disposição no site www.furnas.com.br, devendo
os interessados se manifestar conforme instruções ali contidas até 11/10/2013.
A Diretoria
Furnas Centrais Elétricas S.A.
CHAMADA PÚBLICA
Ministério de
Minas e Energia
Bruno Peres/CB/D.A Press
É um susto atrás do outro.
Mães e pais se surpreendem
com a língua da meninada. No
telefone, usam código próprio.
É um tal de tô gudi pra cá, tá
numa bad pra lá, se pá pracolá.
No computador, o sobressalto
não é diferente:abreviaturas es-
tranhas, palavras inventadas
— tudo aos pedaços, sem come-
ço nem fim,sem pé nem cabeça.
Bicho vira bx.Você, vc. Beijo, bj.
Aqui, aki.
O que fazer? Nada. Somos
poliglotas na nossa língua.
“Não falamos português. Fala-
mos línguas em português”, re-
petia José Saramago. Gíria, in-
ternetês, estrangeirismos, nor-
ma culta convivem com har-
monia. Garotos e garotas são
safos. Transitam com desenvol-
tura em todas. Melhor: dispen-
sam professor pra lhes dizer
quando recorrer a esta ou àque-
la modalidade. Proibi-los de
usar uma ou outra? É excluí-
los. Deus castiga.
Turminha gudi
Artigo
por Dad Squarisi
Personagem da notícia
Sheila Oliveira/CB
Expressõesquesurgementreosjovensrepresentamojeitodeserdeumdeterminadogrupo.EmBrasília,algumastêmrelaçãocoma
políticaeoutrassãoespecíficasdeumaregiãoadministrativa.Muitasvêmdainternet.Amaioriaéefêmera,epoucasviramneologismos
Thaís(E),PaulaeGabrielensinamalgumasdasgíriasqueutilizamnodiaadia:expressõessãoumaformadesesentirpartedeumgrupo
Somente
entre amigos
A gíria é a marca registrada
da linguagem dos jovens, mas,
muitas vezes, causa constrangi-
mento se pronunciada em am-
bientes mais formais.Certa vez,o
estudante do 1º ano do ensino
médio do Setor Leste Danilo Pe-
reira, 16 anos, participava de
uma reunião de jovens católicos
e resolveu dar a opinião sobre o
assunto. “Quando terminei de
comentar, percebi o olhar de re-
pressão do pessoal e só aí percebi
que as gírias não eram adequa-
das àquele local. Pegou muito
mal. Mesmo que ninguém tenha
dito que foi errado, percebi o
quanto acabou sendo agressivo
para as pessoas que estavam ali”,
lembra. O adolescente conta que
é coibido diariamente pela mãe,
que trabalha como operadora de
telemarketing.“Ela fala correta-
mente e sempre destaca a impor-
tância em dominar a língua co-
mo ferramenta fundamental no
mercado de trabalho.Sempre pe-
de para que eu evite o uso das gí-
rias”, diz. Hoje, Danilo procura
usá-las somente entre amigos e
sabe dos problemas que a lin-
guagem pode lhe causar.“É pre-
ciso avaliar o local onde se está
para utilizar esses termos. Algu-
mas expressões são marginaliza-
das e vistas como linguajar de
bandido. Com certeza, não vou
usá-las no ambiente de traba-
lho”,afirma.