SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  1
Télécharger pour lire hors ligne
BANHEIRO
ECOLÓGICO
DISPENSA
ÁGUA
» SUSTENTABILIDADE NO SEMIÁRIDO
Veronica Almeida
valmeida@jc.com.br
No Agreste pernambucano, on-
de a temperatura máxima do
ar, na sombra, tem ultrapas-
sado 35 graus neste verão e são pou-
cas as fontes hídricas, uma tecnolo-
gia do século 18 vem possibilitando a
instalação de vasos sanitários e a ma-
nutenção da higiene, mesmo sem
água. O banheiro seco requer cal, ser-
ragem ou cinzas do carvão e transfor-
ma as fezes humanas em adubo para
a agricultura.
“Dependemos muito da água da
chuva. Com o banheiro seco, pode-
mos deixar o que guardamos na cis-
terna para fazer comida e tomar ba-
nho”, conta o professor Antônio Josi-
val da Silva, 30 anos, casado e pai de
gêmeas de 10 meses. A família é uma
das cinco do Sítio Salambaia, a oito
quilômetros do Centro de Alagoinha,
que tiveram direito ao banheiro há
três meses. “É excelente, além da eco-
nomia de água, ele está sempre limpi-
nho”, testemunha Rosilma Melo, es-
posa de Antônio.
Salambaia e outras 14 comunida-
des rurais da mesma região, situadas
entre Alagoinha, Poção, Pesqueira,
Sertânia e Tupanatinga, são alvo de
um projeto piloto do Centro Diocesa-
no de Apoio ao Pequeno Produtor (Ce-
dapp). A ONG assessora há 19 anos fa-
mílias de 13 municípios de Pernam-
buco, para fortalecimento da organi-
zação comunitária, geração de renda
e gerenciamento de recursos hídricos.
Maria Elizabeth Pires, integrante do
centro, conta que a intenção é insta-
lar 85 banheiros, cada um ao custo
de R$ 1.600. O projeto tem financia-
mento de entidades internacionais e é
executado com a participação das fa-
mílias em mutirões.
A tecnologia vem sendo utilizada
em Florianópolis (Santa Catarina),
pelo Centro de Estudos e Promoção
da Agricultura de Grupo, que tornou-
se parceiro do Cedapp. “No semiári-
do, clima, falta de saneamento e au-
sência de política pública fazem com
que famílias rurais não possuam sani-
tários e os poucos existentes são celei-
ros de doenças pela ausência de água
para sua higienização”, observa Ma-
ria Elizabeth. O banheiro seco, então,
tem “dado dignidade às pessoas, redu-
zindo doenças infecciosas e mortalida-
de infantil”.
TEMORES
Mas a solução, no princípio, gerou
receios. “As pessoas temiam o mau
cheiro. Quando eu mostrei a elas a
proposta do Cedapp, todo mundo pen-
sou: como pode um banheiro sem
água?”, conta a vice-presidente da As-
sociação de Pequenos Produtores Ru-
rais de Salambaia e Barrinhos, Suely
Rodrigues. Agora até quem já tem ba-
nheiro tradicional (o projeto prioriza
quem não tem sanitário em casa e fa-
mílias com muitos filhos) quer expe-
rimentar a novidade. “Eu mesma gos-
taria de ter o meu”, diz.
O sítio enfrenta muita dificuldade
em razão do clima e das poucas fon-
tes hídricas. “As pessoas precisam ca-
minhar até seis horas a pé para conse-
guir uma lata d’água.” Lá, a água se
evapora rápido. Tanto que guarda-
chuva protege mesmo é do sol.
O banheiro seco é construído junto
da casa. Tem chuveiro, pia e mictó-
rio, além do vaso que recebe as fezes.
A água usada no banho e na lava-
gem das mãos se junta ao xixi e cor-
re direto, num cano, para irrigar ba-
naneiras e mamoeiros, que necessi-
tam de ureia.
O vaso que recebe fezes é composto
por tambor de diâmetro maior que o
da bacia sanitária. A parte superior é
de alumínio e a mais funda de plásti-
co. A borda recebe tampa de louça tra-
dicional, que pode ser lavada com sa-
bão e desinfetante. Produtos químicos
não podem ser jogados no vaso. A ca-
da uso, coloca-se um balde pequeno
com cinzas, pó de serragem ou cal,
que resseca as fezes. Não fica mau
cheiro porque ele sai por espécie de
exaustor: um cano fino e alto, como
os usados nas fossas domésticas.
Quando o tambor está cheio, dejetos
são removidos para compostagem.
Muito calor no semiárido
Alternativa evita
contaminação
de mananciais
SOMBRINHA O Sol forte faz parte da paisagem do Sítio Salambaia, distante 230 quilômetros do Recife, onde a água evapora facilmente
QUENTE Temperatura no Centro de Pesqueira subiu demais este ano
www.jc.com.br/cidades
» ciência / meio ambiente
A novidade está sendo implantada no Agreste por
uma ONG que apoia agricultores. A limpeza do
vaso sanitário é feita com cal, serragem ou cinza
Em Pesqueira, onde o banheiro se-
co também vem sendo instalado, a
temperatura esteve elevada ao ponto
de o termômetro da Praça Dom José
Lopes, no Centro, marcar 45 graus às
15h do último dia 2.
“Insuportável. Quando saio de ca-
sa preciso voltar antes das 10h”, co-
menta a dona de casa Fátima Medei-
ros. A vendedora Luciene da Hora
conta que a loja onde trabalha vende
20 sombrinhas por dia. As sorveterias
também calculam aumento de 70%
no consumo. A cidade, de quase 65
mil habitantes, enfrenta racionamen-
to d’água. O governo do Estado de-
senvolve projeto para melhorar o
abastecimento.
“No semiárido, a evaporação é su-
perior às precipitações pluviométri-
cas. Evapora mais do que chove”,
analisa Maria Elizabeth Pires, do Cen-
tro de Apoio ao Pequeno Produtor.
Por isso, a organização atua na edu-
cação das comunidades para o uso
responsável da água. Banheiro seco é
uma das alternativas de baixo custo.
Francis Lacerda, coordenadora do
Laboratório de Meteorologia de Per-
nambuco, confirma que o semiárido
registra este mês cinco graus a mais
que em fevereiro. O Lamepe consta-
tou quinta-feira, em Arcoverde, tem-
peratura do ar, na sombra, de até
35,5 graus. Francis explica que o ter-
mômetro da praça de Pesqueira (vizi-
nha de Arcoverde) pode registrar tem-
po mais quente porque recebe radia-
ção direta do sol e influências, como
o calor do asfalto e de edificações em
volta. A alta temperatura, que no Ser-
tão chega a 38,5 graus na sombra,
deve-se a fatores naturais, como o el
niño, e à ação do homem, que des-
mata e impermeabiliza o solo.
APROVAÇÃO Suely, da Associação de Pequenos Produtores, diz que banheiro seco diminui busca por
água em fontes distantes de casa. Antônio usa cinzas do carvão para limpar o vaso e poupa sua cisterna
Cada descarga a menos significa
sete ou 15 litros de água poupados,
calcula o engenheiro agrônomo Mar-
cos José de Abreu, do Centro de Estu-
dos e Promoção da Agricultura de
Grupo (Cepagro), de Santa Catarina.
Ele orienta a ONG pernambucana na
implantação dos banheiros secos. Na
semana passada, esteve no semiárido,
capacitando agricultores para o prepa-
ro do adubo orgânico com fezes hu-
manas.
Além de preservar as poucas fontes
de abastecimento existentes, a alterna-
tiva tem mais elementos ecológicos e
de preservação da saúde. Evita, por
exemplo, a produção de esgoto, e a
consequente contaminação de ma-
nanciais e do lençol freático. Por con-
sequência, protege o homem de doen-
ças por veiculação hídrica, já que as
fezes têm micro-organismos. “A cada
ano, no Brasil, cerca de 160 milhões
de toneladas de dejetos humanos po-
luem rios ou são misturados ao lixo
urbano”, completa Maria Elizabeth,
do Cedapp.
No Sul dos País, a experiência com
banheiros secos é desenvolvida na
Grande Florianópolis há cinco anos,
em comunidades rurais e urbanas,
com apoio internacional e do Ministé-
rio do Desenvolvimento Agrário. Lá, o
desafio não é a seca, mas proteger os
mananciais e desenvolver a agroecolo-
gia. O composto de fezes, restos de ga-
lhos e frutas, alimenta a floricultura
e árvores frutíferas. “A compostagem
nos sítios de Pernambuco será desti-
nada aos pomares, palmas e capin-
zais para animal”, diz Marcos. Segun-
do ele, a Universidade Federal de San-
ta Catarina participará do projeto,
examinando a presença de elementos
patógenos na compostagem.
As fezes humanas são consideradas
adubo de boa qualidade. “O trato di-
gestivo absorve os nutrientes e quebra
as moléculas. Bem degradado, é facil-
mente absorvido pela plantação”, ex-
plica. A compostagem demora um
ano e só então pode ser usada. Quan-
do o tambor do banheiro seco fica
quase cheio, o resíduo é removido e
misturado a restos de frutas. Depois, é
exposto ao sol, no terreno, a no míni-
mo 30 metros de distância de fontes
de água, sobre uma camada de fo-
lhas e capim seco. Por último, cobre-
se o material com pó de serra e pa-
lha, que protegem da chuva.
Embora seja difundido agora, o ba-
nheiro seco é iniciativa antiga. “Há
relatos de que índios brasileiros, da
Amazônia, no passado, adotavam a
prática, fertilizando a região”, lem-
bra Marcos. Na atualidade brasileira,
teria se incorporado na década de 60
e 70, na agricultura alternativa. An-
tes, China, Índia e Oceania aplica-
vam a técnica, misturando fezes a
cascas, folhas e cinzas, para adubo or-
gânico.
»cidades

Contenu connexe

Tendances

Curso gratuito de Introdução à Permacultura - Módulo Água
Curso gratuito de Introdução à Permacultura - Módulo ÁguaCurso gratuito de Introdução à Permacultura - Módulo Água
Curso gratuito de Introdução à Permacultura - Módulo ÁguaFluxus Design Ecológico
 
Água. manual de sobrevivencia
Água. manual de sobrevivenciaÁgua. manual de sobrevivencia
Água. manual de sobrevivencialeonidas_zazelis
 
Curso Manejo Água e Tratamento Águas Servidas - Humanaterra - Nov/2012
Curso Manejo Água e Tratamento Águas Servidas - Humanaterra - Nov/2012Curso Manejo Água e Tratamento Águas Servidas - Humanaterra - Nov/2012
Curso Manejo Água e Tratamento Águas Servidas - Humanaterra - Nov/2012Fluxus Design Ecológico
 
Projecto agua apresentação
Projecto agua apresentaçãoProjecto agua apresentação
Projecto agua apresentaçãopasseixas
 
Trabalho escrito de estatistica
Trabalho escrito de estatisticaTrabalho escrito de estatistica
Trabalho escrito de estatisticaMonique Mazarin
 
Revolução dos Baldinhos
Revolução dos BaldinhosRevolução dos Baldinhos
Revolução dos BaldinhosCepagro
 
Aula sobre o Destino do Lixo
Aula sobre o Destino do Lixo Aula sobre o Destino do Lixo
Aula sobre o Destino do Lixo Cláudia Marques
 
Plasticos e Meio Ambiente
Plasticos e  Meio AmbientePlasticos e  Meio Ambiente
Plasticos e Meio AmbienteClaudia Costa
 
Ciencias tratamento de esgoto
Ciencias   tratamento de esgotoCiencias   tratamento de esgoto
Ciencias tratamento de esgotoGustavo Soares
 
Projeto de compostagem lixo zero
Projeto de compostagem lixo zeroProjeto de compostagem lixo zero
Projeto de compostagem lixo zeroPaulo Henrique
 
Sustentabilidade med md8p3q4w
Sustentabilidade med md8p3q4wSustentabilidade med md8p3q4w
Sustentabilidade med md8p3q4wKetheley Freire
 
Campanha Contra O Uso Do Saco Plastico
Campanha Contra O Uso Do Saco PlasticoCampanha Contra O Uso Do Saco Plastico
Campanha Contra O Uso Do Saco PlasticoJoana Bicalho Félix
 
Cartilha fossas septicas biodigestoras
Cartilha fossas septicas biodigestorasCartilha fossas septicas biodigestoras
Cartilha fossas septicas biodigestorasJoão Siqueira da Mata
 
Tratamento de efluentes ou reciclagem de nutrientes?
Tratamento de efluentes ou reciclagem de nutrientes?Tratamento de efluentes ou reciclagem de nutrientes?
Tratamento de efluentes ou reciclagem de nutrientes?Fluxus Design Ecológico
 
A triste historia dos sacos plasticos descartaveis
A triste historia dos sacos plasticos descartaveisA triste historia dos sacos plasticos descartaveis
A triste historia dos sacos plasticos descartaveisstefanofaustini
 

Tendances (20)

Semana do Meio Ambiente
Semana do Meio AmbienteSemana do Meio Ambiente
Semana do Meio Ambiente
 
Curso gratuito de Introdução à Permacultura - Módulo Água
Curso gratuito de Introdução à Permacultura - Módulo ÁguaCurso gratuito de Introdução à Permacultura - Módulo Água
Curso gratuito de Introdução à Permacultura - Módulo Água
 
Estacoes tratamento esgoto
Estacoes tratamento esgotoEstacoes tratamento esgoto
Estacoes tratamento esgoto
 
Semana da Água
Semana da ÁguaSemana da Água
Semana da Água
 
Água. manual de sobrevivencia
Água. manual de sobrevivenciaÁgua. manual de sobrevivencia
Água. manual de sobrevivencia
 
Curso Manejo Água e Tratamento Águas Servidas - Humanaterra - Nov/2012
Curso Manejo Água e Tratamento Águas Servidas - Humanaterra - Nov/2012Curso Manejo Água e Tratamento Águas Servidas - Humanaterra - Nov/2012
Curso Manejo Água e Tratamento Águas Servidas - Humanaterra - Nov/2012
 
Projecto agua apresentação
Projecto agua apresentaçãoProjecto agua apresentação
Projecto agua apresentação
 
Trabalho escrito de estatistica
Trabalho escrito de estatisticaTrabalho escrito de estatistica
Trabalho escrito de estatistica
 
Revolução dos Baldinhos
Revolução dos BaldinhosRevolução dos Baldinhos
Revolução dos Baldinhos
 
Aula sobre o Destino do Lixo
Aula sobre o Destino do Lixo Aula sobre o Destino do Lixo
Aula sobre o Destino do Lixo
 
Plasticos e Meio Ambiente
Plasticos e  Meio AmbientePlasticos e  Meio Ambiente
Plasticos e Meio Ambiente
 
Previsões
PrevisõesPrevisões
Previsões
 
Carta Ano 2070
Carta Ano 2070Carta Ano 2070
Carta Ano 2070
 
Ciencias tratamento de esgoto
Ciencias   tratamento de esgotoCiencias   tratamento de esgoto
Ciencias tratamento de esgoto
 
Projeto de compostagem lixo zero
Projeto de compostagem lixo zeroProjeto de compostagem lixo zero
Projeto de compostagem lixo zero
 
Sustentabilidade med md8p3q4w
Sustentabilidade med md8p3q4wSustentabilidade med md8p3q4w
Sustentabilidade med md8p3q4w
 
Campanha Contra O Uso Do Saco Plastico
Campanha Contra O Uso Do Saco PlasticoCampanha Contra O Uso Do Saco Plastico
Campanha Contra O Uso Do Saco Plastico
 
Cartilha fossas septicas biodigestoras
Cartilha fossas septicas biodigestorasCartilha fossas septicas biodigestoras
Cartilha fossas septicas biodigestoras
 
Tratamento de efluentes ou reciclagem de nutrientes?
Tratamento de efluentes ou reciclagem de nutrientes?Tratamento de efluentes ou reciclagem de nutrientes?
Tratamento de efluentes ou reciclagem de nutrientes?
 
A triste historia dos sacos plasticos descartaveis
A triste historia dos sacos plasticos descartaveisA triste historia dos sacos plasticos descartaveis
A triste historia dos sacos plasticos descartaveis
 

En vedette

Artigo equina 24 jul ago-2009
Artigo equina 24 jul ago-2009Artigo equina 24 jul ago-2009
Artigo equina 24 jul ago-2009Roberto Arruda
 
Administre seu tempo, Cuide dos detalhes e faça sucesso
Administre seu tempo, Cuide dos detalhes e faça sucessoAdministre seu tempo, Cuide dos detalhes e faça sucesso
Administre seu tempo, Cuide dos detalhes e faça sucessoMarcos Luthero
 
Simuladinho Diagnóstico 12
Simuladinho Diagnóstico 12Simuladinho Diagnóstico 12
Simuladinho Diagnóstico 12Prof. Materaldo
 
Resultado cat a fev
Resultado cat a fevResultado cat a fev
Resultado cat a fevejacmat
 
Atendimentos terapêuticos
Atendimentos terapêuticosAtendimentos terapêuticos
Atendimentos terapêuticosmaianaik
 
Elementos multimedia
Elementos multimediaElementos multimedia
Elementos multimedialupiisg10
 
Fato de caçasub
Fato de caçasubFato de caçasub
Fato de caçasubjotasub
 
Cronograma da Disciplina Aspectos Teóricos da Computação
Cronograma da Disciplina Aspectos Teóricos da ComputaçãoCronograma da Disciplina Aspectos Teóricos da Computação
Cronograma da Disciplina Aspectos Teóricos da Computaçãowab030
 
Elaborado por João Maria - 4ºA
Elaborado por João Maria - 4ºAElaborado por João Maria - 4ºA
Elaborado por João Maria - 4ºAformacaoedp
 
Escala de caetés mês de dezembro 2010
Escala de caetés mês de dezembro 2010Escala de caetés mês de dezembro 2010
Escala de caetés mês de dezembro 2010ipadcamela
 
trabajo de inteligencia artificial
trabajo de inteligencia artificialtrabajo de inteligencia artificial
trabajo de inteligencia artificialFabian Parraga
 
Diario oficial 05.0320101
Diario oficial 05.0320101Diario oficial 05.0320101
Diario oficial 05.0320101emanuelomena
 

En vedette (20)

Artigo equina 24 jul ago-2009
Artigo equina 24 jul ago-2009Artigo equina 24 jul ago-2009
Artigo equina 24 jul ago-2009
 
Administre seu tempo, Cuide dos detalhes e faça sucesso
Administre seu tempo, Cuide dos detalhes e faça sucessoAdministre seu tempo, Cuide dos detalhes e faça sucesso
Administre seu tempo, Cuide dos detalhes e faça sucesso
 
Simuladinho Diagnóstico 12
Simuladinho Diagnóstico 12Simuladinho Diagnóstico 12
Simuladinho Diagnóstico 12
 
Dia 27 02
Dia 27 02Dia 27 02
Dia 27 02
 
Resultado cat a fev
Resultado cat a fevResultado cat a fev
Resultado cat a fev
 
Atendimentos terapêuticos
Atendimentos terapêuticosAtendimentos terapêuticos
Atendimentos terapêuticos
 
Elementos multimedia
Elementos multimediaElementos multimedia
Elementos multimedia
 
A dengue
A dengueA dengue
A dengue
 
Fato de caçasub
Fato de caçasubFato de caçasub
Fato de caçasub
 
Cronograma da Disciplina Aspectos Teóricos da Computação
Cronograma da Disciplina Aspectos Teóricos da ComputaçãoCronograma da Disciplina Aspectos Teóricos da Computação
Cronograma da Disciplina Aspectos Teóricos da Computação
 
Procura-se
Procura-seProcura-se
Procura-se
 
Elaborado por João Maria - 4ºA
Elaborado por João Maria - 4ºAElaborado por João Maria - 4ºA
Elaborado por João Maria - 4ºA
 
Xornada semanal 1 2 bach.
Xornada semanal 1 2 bach.Xornada semanal 1 2 bach.
Xornada semanal 1 2 bach.
 
Bateria
BateriaBateria
Bateria
 
Escala de caetés mês de dezembro 2010
Escala de caetés mês de dezembro 2010Escala de caetés mês de dezembro 2010
Escala de caetés mês de dezembro 2010
 
trabajo de inteligencia artificial
trabajo de inteligencia artificialtrabajo de inteligencia artificial
trabajo de inteligencia artificial
 
Boletim Informativo Nº 03 - Outubro/2009
Boletim Informativo Nº 03 - Outubro/2009Boletim Informativo Nº 03 - Outubro/2009
Boletim Informativo Nº 03 - Outubro/2009
 
Diario oficial 05.0320101
Diario oficial 05.0320101Diario oficial 05.0320101
Diario oficial 05.0320101
 
Eeso 331 1
Eeso 331 1Eeso 331 1
Eeso 331 1
 
036
036036
036
 

Similaire à Banheiro seco no semiárido economiza água e gera adubo

Coleção Saber na Prática - Vol. 1, Banheiro Seco
Coleção Saber na Prática - Vol. 1, Banheiro Seco  Coleção Saber na Prática - Vol. 1, Banheiro Seco
Coleção Saber na Prática - Vol. 1, Banheiro Seco Cepagro
 
Aproveitamento de agua
Aproveitamento de aguaAproveitamento de agua
Aproveitamento de aguaprojeto2020
 
Apresentação2 web 2.0
Apresentação2 web 2.0Apresentação2 web 2.0
Apresentação2 web 2.0Conrado
 
Composta no Bairro - Correio Popular
Composta no Bairro - Correio PopularComposta no Bairro - Correio Popular
Composta no Bairro - Correio PopularNovaterra Ambiental
 
Compostagem Doméstica com minhocas
Compostagem Doméstica com minhocasCompostagem Doméstica com minhocas
Compostagem Doméstica com minhocasAlexandre Panerai
 
Projeto de compostagem santa rita (grupo turma 2013.2)
Projeto de compostagem   santa rita (grupo turma 2013.2)Projeto de compostagem   santa rita (grupo turma 2013.2)
Projeto de compostagem santa rita (grupo turma 2013.2)Camila Tavora
 
Planejamento de outubro reciclagem
Planejamento de outubro   reciclagemPlanejamento de outubro   reciclagem
Planejamento de outubro reciclagemSandraPaulino13
 
Problemas ambientais que envolvem água
Problemas ambientais que envolvem águaProblemas ambientais que envolvem água
Problemas ambientais que envolvem águaDayane Almeida
 
Jmab2012finalmente 120726203449-phpapp02
Jmab2012finalmente 120726203449-phpapp02Jmab2012finalmente 120726203449-phpapp02
Jmab2012finalmente 120726203449-phpapp02rcatanese
 
Minuta da ata de reunião ordinaria de 12 de fevereiro de 2014 enviado
Minuta da  ata de  reunião ordinaria de  12  de fevereiro de 2014 enviadoMinuta da  ata de  reunião ordinaria de  12  de fevereiro de 2014 enviado
Minuta da ata de reunião ordinaria de 12 de fevereiro de 2014 enviadoJames Martins Pereira
 
4º a karina conferência
4º a karina   conferência 4º a karina   conferência
4º a karina conferência emefjbonifacio
 
Cartilha de saneamento ecologico
Cartilha de saneamento ecologicoCartilha de saneamento ecologico
Cartilha de saneamento ecologicoandregrs
 
Bazzarella bb 2005 pag70 (1)
Bazzarella bb 2005 pag70 (1)Bazzarella bb 2005 pag70 (1)
Bazzarella bb 2005 pag70 (1)Israel Henrique
 

Similaire à Banheiro seco no semiárido economiza água e gera adubo (20)

Coleção Saber na Prática - Vol. 1, Banheiro Seco
Coleção Saber na Prática - Vol. 1, Banheiro Seco  Coleção Saber na Prática - Vol. 1, Banheiro Seco
Coleção Saber na Prática - Vol. 1, Banheiro Seco
 
01 banheiro seco
01 banheiro seco01 banheiro seco
01 banheiro seco
 
Aproveitamento de agua
Aproveitamento de aguaAproveitamento de agua
Aproveitamento de agua
 
Jmab 2012 finalmente
Jmab 2012 finalmenteJmab 2012 finalmente
Jmab 2012 finalmente
 
Apresentação2 web 2.0
Apresentação2 web 2.0Apresentação2 web 2.0
Apresentação2 web 2.0
 
Composta no Bairro - Correio Popular
Composta no Bairro - Correio PopularComposta no Bairro - Correio Popular
Composta no Bairro - Correio Popular
 
Compostagem Doméstica com minhocas
Compostagem Doméstica com minhocasCompostagem Doméstica com minhocas
Compostagem Doméstica com minhocas
 
Projeto de compostagem santa rita (grupo turma 2013.2)
Projeto de compostagem   santa rita (grupo turma 2013.2)Projeto de compostagem   santa rita (grupo turma 2013.2)
Projeto de compostagem santa rita (grupo turma 2013.2)
 
POAMS (Apresentação)
POAMS (Apresentação)POAMS (Apresentação)
POAMS (Apresentação)
 
Planejamento de outubro reciclagem
Planejamento de outubro   reciclagemPlanejamento de outubro   reciclagem
Planejamento de outubro reciclagem
 
Problemas ambientais que envolvem água
Problemas ambientais que envolvem águaProblemas ambientais que envolvem água
Problemas ambientais que envolvem água
 
Jmab2012finalmente 120726203449-phpapp02
Jmab2012finalmente 120726203449-phpapp02Jmab2012finalmente 120726203449-phpapp02
Jmab2012finalmente 120726203449-phpapp02
 
Minuta da ata de reunião ordinaria de 12 de fevereiro de 2014 enviado
Minuta da  ata de  reunião ordinaria de  12  de fevereiro de 2014 enviadoMinuta da  ata de  reunião ordinaria de  12  de fevereiro de 2014 enviado
Minuta da ata de reunião ordinaria de 12 de fevereiro de 2014 enviado
 
4º a karina conferência
4º a karina   conferência 4º a karina   conferência
4º a karina conferência
 
Crise Hídrica No País
Crise Hídrica No PaísCrise Hídrica No País
Crise Hídrica No País
 
CaptaçãO De áGua De Chuva
CaptaçãO De áGua De ChuvaCaptaçãO De áGua De Chuva
CaptaçãO De áGua De Chuva
 
Tecnologias socioambientais
Tecnologias socioambientaisTecnologias socioambientais
Tecnologias socioambientais
 
Cartilha de saneamento ecologico
Cartilha de saneamento ecologicoCartilha de saneamento ecologico
Cartilha de saneamento ecologico
 
Cartilha manejo bx
Cartilha manejo bxCartilha manejo bx
Cartilha manejo bx
 
Bazzarella bb 2005 pag70 (1)
Bazzarella bb 2005 pag70 (1)Bazzarella bb 2005 pag70 (1)
Bazzarella bb 2005 pag70 (1)
 

Plus de Sofia Lemos

Xmas island compost_toilet
Xmas island compost_toiletXmas island compost_toilet
Xmas island compost_toiletSofia Lemos
 
Waterless composting toilet systems
Waterless composting toilet systemsWaterless composting toilet systems
Waterless composting toilet systemsSofia Lemos
 
Composting toilet manual_vanuatu
Composting toilet manual_vanuatuComposting toilet manual_vanuatu
Composting toilet manual_vanuatuSofia Lemos
 
Composting toilet full plans[1] 1
Composting toilet full plans[1] 1Composting toilet full plans[1] 1
Composting toilet full plans[1] 1Sofia Lemos
 
Manual de capacitação para implantação de banheiro seco com compostagem
Manual de capacitação para implantação de banheiro seco com compostagemManual de capacitação para implantação de banheiro seco com compostagem
Manual de capacitação para implantação de banheiro seco com compostagemSofia Lemos
 
Manual de Implantação e Manutenção de Leira para Compostagem dos Resíduos Org...
Manual de Implantação e Manutenção de Leira para Compostagem dos Resíduos Org...Manual de Implantação e Manutenção de Leira para Compostagem dos Resíduos Org...
Manual de Implantação e Manutenção de Leira para Compostagem dos Resíduos Org...Sofia Lemos
 
Orientaçãoes para utilização de dejetos humanos na agricultura
Orientaçãoes para utilização de dejetos humanos na agriculturaOrientaçãoes para utilização de dejetos humanos na agricultura
Orientaçãoes para utilização de dejetos humanos na agriculturaSofia Lemos
 
Estudo do líquido percolado da leira de compostagem
Estudo do líquido percolado da leira de compostagemEstudo do líquido percolado da leira de compostagem
Estudo do líquido percolado da leira de compostagemSofia Lemos
 

Plus de Sofia Lemos (10)

Xmas island compost_toilet
Xmas island compost_toiletXmas island compost_toilet
Xmas island compost_toilet
 
Waterless composting toilet systems
Waterless composting toilet systemsWaterless composting toilet systems
Waterless composting toilet systems
 
Composting toilet manual_vanuatu
Composting toilet manual_vanuatuComposting toilet manual_vanuatu
Composting toilet manual_vanuatu
 
Composting toilet full plans[1] 1
Composting toilet full plans[1] 1Composting toilet full plans[1] 1
Composting toilet full plans[1] 1
 
Biolan
BiolanBiolan
Biolan
 
Design notes
Design notesDesign notes
Design notes
 
Manual de capacitação para implantação de banheiro seco com compostagem
Manual de capacitação para implantação de banheiro seco com compostagemManual de capacitação para implantação de banheiro seco com compostagem
Manual de capacitação para implantação de banheiro seco com compostagem
 
Manual de Implantação e Manutenção de Leira para Compostagem dos Resíduos Org...
Manual de Implantação e Manutenção de Leira para Compostagem dos Resíduos Org...Manual de Implantação e Manutenção de Leira para Compostagem dos Resíduos Org...
Manual de Implantação e Manutenção de Leira para Compostagem dos Resíduos Org...
 
Orientaçãoes para utilização de dejetos humanos na agricultura
Orientaçãoes para utilização de dejetos humanos na agriculturaOrientaçãoes para utilização de dejetos humanos na agricultura
Orientaçãoes para utilização de dejetos humanos na agricultura
 
Estudo do líquido percolado da leira de compostagem
Estudo do líquido percolado da leira de compostagemEstudo do líquido percolado da leira de compostagem
Estudo do líquido percolado da leira de compostagem
 

Banheiro seco no semiárido economiza água e gera adubo

  • 1. BANHEIRO ECOLÓGICO DISPENSA ÁGUA » SUSTENTABILIDADE NO SEMIÁRIDO Veronica Almeida valmeida@jc.com.br No Agreste pernambucano, on- de a temperatura máxima do ar, na sombra, tem ultrapas- sado 35 graus neste verão e são pou- cas as fontes hídricas, uma tecnolo- gia do século 18 vem possibilitando a instalação de vasos sanitários e a ma- nutenção da higiene, mesmo sem água. O banheiro seco requer cal, ser- ragem ou cinzas do carvão e transfor- ma as fezes humanas em adubo para a agricultura. “Dependemos muito da água da chuva. Com o banheiro seco, pode- mos deixar o que guardamos na cis- terna para fazer comida e tomar ba- nho”, conta o professor Antônio Josi- val da Silva, 30 anos, casado e pai de gêmeas de 10 meses. A família é uma das cinco do Sítio Salambaia, a oito quilômetros do Centro de Alagoinha, que tiveram direito ao banheiro há três meses. “É excelente, além da eco- nomia de água, ele está sempre limpi- nho”, testemunha Rosilma Melo, es- posa de Antônio. Salambaia e outras 14 comunida- des rurais da mesma região, situadas entre Alagoinha, Poção, Pesqueira, Sertânia e Tupanatinga, são alvo de um projeto piloto do Centro Diocesa- no de Apoio ao Pequeno Produtor (Ce- dapp). A ONG assessora há 19 anos fa- mílias de 13 municípios de Pernam- buco, para fortalecimento da organi- zação comunitária, geração de renda e gerenciamento de recursos hídricos. Maria Elizabeth Pires, integrante do centro, conta que a intenção é insta- lar 85 banheiros, cada um ao custo de R$ 1.600. O projeto tem financia- mento de entidades internacionais e é executado com a participação das fa- mílias em mutirões. A tecnologia vem sendo utilizada em Florianópolis (Santa Catarina), pelo Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo, que tornou- se parceiro do Cedapp. “No semiári- do, clima, falta de saneamento e au- sência de política pública fazem com que famílias rurais não possuam sani- tários e os poucos existentes são celei- ros de doenças pela ausência de água para sua higienização”, observa Ma- ria Elizabeth. O banheiro seco, então, tem “dado dignidade às pessoas, redu- zindo doenças infecciosas e mortalida- de infantil”. TEMORES Mas a solução, no princípio, gerou receios. “As pessoas temiam o mau cheiro. Quando eu mostrei a elas a proposta do Cedapp, todo mundo pen- sou: como pode um banheiro sem água?”, conta a vice-presidente da As- sociação de Pequenos Produtores Ru- rais de Salambaia e Barrinhos, Suely Rodrigues. Agora até quem já tem ba- nheiro tradicional (o projeto prioriza quem não tem sanitário em casa e fa- mílias com muitos filhos) quer expe- rimentar a novidade. “Eu mesma gos- taria de ter o meu”, diz. O sítio enfrenta muita dificuldade em razão do clima e das poucas fon- tes hídricas. “As pessoas precisam ca- minhar até seis horas a pé para conse- guir uma lata d’água.” Lá, a água se evapora rápido. Tanto que guarda- chuva protege mesmo é do sol. O banheiro seco é construído junto da casa. Tem chuveiro, pia e mictó- rio, além do vaso que recebe as fezes. A água usada no banho e na lava- gem das mãos se junta ao xixi e cor- re direto, num cano, para irrigar ba- naneiras e mamoeiros, que necessi- tam de ureia. O vaso que recebe fezes é composto por tambor de diâmetro maior que o da bacia sanitária. A parte superior é de alumínio e a mais funda de plásti- co. A borda recebe tampa de louça tra- dicional, que pode ser lavada com sa- bão e desinfetante. Produtos químicos não podem ser jogados no vaso. A ca- da uso, coloca-se um balde pequeno com cinzas, pó de serragem ou cal, que resseca as fezes. Não fica mau cheiro porque ele sai por espécie de exaustor: um cano fino e alto, como os usados nas fossas domésticas. Quando o tambor está cheio, dejetos são removidos para compostagem. Muito calor no semiárido Alternativa evita contaminação de mananciais SOMBRINHA O Sol forte faz parte da paisagem do Sítio Salambaia, distante 230 quilômetros do Recife, onde a água evapora facilmente QUENTE Temperatura no Centro de Pesqueira subiu demais este ano www.jc.com.br/cidades » ciência / meio ambiente A novidade está sendo implantada no Agreste por uma ONG que apoia agricultores. A limpeza do vaso sanitário é feita com cal, serragem ou cinza Em Pesqueira, onde o banheiro se- co também vem sendo instalado, a temperatura esteve elevada ao ponto de o termômetro da Praça Dom José Lopes, no Centro, marcar 45 graus às 15h do último dia 2. “Insuportável. Quando saio de ca- sa preciso voltar antes das 10h”, co- menta a dona de casa Fátima Medei- ros. A vendedora Luciene da Hora conta que a loja onde trabalha vende 20 sombrinhas por dia. As sorveterias também calculam aumento de 70% no consumo. A cidade, de quase 65 mil habitantes, enfrenta racionamen- to d’água. O governo do Estado de- senvolve projeto para melhorar o abastecimento. “No semiárido, a evaporação é su- perior às precipitações pluviométri- cas. Evapora mais do que chove”, analisa Maria Elizabeth Pires, do Cen- tro de Apoio ao Pequeno Produtor. Por isso, a organização atua na edu- cação das comunidades para o uso responsável da água. Banheiro seco é uma das alternativas de baixo custo. Francis Lacerda, coordenadora do Laboratório de Meteorologia de Per- nambuco, confirma que o semiárido registra este mês cinco graus a mais que em fevereiro. O Lamepe consta- tou quinta-feira, em Arcoverde, tem- peratura do ar, na sombra, de até 35,5 graus. Francis explica que o ter- mômetro da praça de Pesqueira (vizi- nha de Arcoverde) pode registrar tem- po mais quente porque recebe radia- ção direta do sol e influências, como o calor do asfalto e de edificações em volta. A alta temperatura, que no Ser- tão chega a 38,5 graus na sombra, deve-se a fatores naturais, como o el niño, e à ação do homem, que des- mata e impermeabiliza o solo. APROVAÇÃO Suely, da Associação de Pequenos Produtores, diz que banheiro seco diminui busca por água em fontes distantes de casa. Antônio usa cinzas do carvão para limpar o vaso e poupa sua cisterna Cada descarga a menos significa sete ou 15 litros de água poupados, calcula o engenheiro agrônomo Mar- cos José de Abreu, do Centro de Estu- dos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), de Santa Catarina. Ele orienta a ONG pernambucana na implantação dos banheiros secos. Na semana passada, esteve no semiárido, capacitando agricultores para o prepa- ro do adubo orgânico com fezes hu- manas. Além de preservar as poucas fontes de abastecimento existentes, a alterna- tiva tem mais elementos ecológicos e de preservação da saúde. Evita, por exemplo, a produção de esgoto, e a consequente contaminação de ma- nanciais e do lençol freático. Por con- sequência, protege o homem de doen- ças por veiculação hídrica, já que as fezes têm micro-organismos. “A cada ano, no Brasil, cerca de 160 milhões de toneladas de dejetos humanos po- luem rios ou são misturados ao lixo urbano”, completa Maria Elizabeth, do Cedapp. No Sul dos País, a experiência com banheiros secos é desenvolvida na Grande Florianópolis há cinco anos, em comunidades rurais e urbanas, com apoio internacional e do Ministé- rio do Desenvolvimento Agrário. Lá, o desafio não é a seca, mas proteger os mananciais e desenvolver a agroecolo- gia. O composto de fezes, restos de ga- lhos e frutas, alimenta a floricultura e árvores frutíferas. “A compostagem nos sítios de Pernambuco será desti- nada aos pomares, palmas e capin- zais para animal”, diz Marcos. Segun- do ele, a Universidade Federal de San- ta Catarina participará do projeto, examinando a presença de elementos patógenos na compostagem. As fezes humanas são consideradas adubo de boa qualidade. “O trato di- gestivo absorve os nutrientes e quebra as moléculas. Bem degradado, é facil- mente absorvido pela plantação”, ex- plica. A compostagem demora um ano e só então pode ser usada. Quan- do o tambor do banheiro seco fica quase cheio, o resíduo é removido e misturado a restos de frutas. Depois, é exposto ao sol, no terreno, a no míni- mo 30 metros de distância de fontes de água, sobre uma camada de fo- lhas e capim seco. Por último, cobre- se o material com pó de serra e pa- lha, que protegem da chuva. Embora seja difundido agora, o ba- nheiro seco é iniciativa antiga. “Há relatos de que índios brasileiros, da Amazônia, no passado, adotavam a prática, fertilizando a região”, lem- bra Marcos. Na atualidade brasileira, teria se incorporado na década de 60 e 70, na agricultura alternativa. An- tes, China, Índia e Oceania aplica- vam a técnica, misturando fezes a cascas, folhas e cinzas, para adubo or- gânico. »cidades