SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  15
Télécharger pour lire hors ligne
CAMINHADA DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO REINO
                    DO MUR

                           Período 2011-2012

                                 9ª ETAPA
                      SEXUALIDADE E AFETIVIDADE



                            APRESENTAÇÃO


        Colocamos à disposição dos participantes dos Grupos de Partilha de
Profissionais (GPP), do Ministério Universidades Renovadas (MUR), mais um
módulo de formação referente ao biênio 2011/2012, cujo tema é: “Sexualidade
e Afetividade”. Esse é o quarto de sete temas propostos para serem estudados
ao longo desse período em nossas comunidades. Em seu conjunto,
contemplam-se as quatro dimensões ou aspectos da formação indicados no
Documento de Aparecida: espiritual, humana, doutrinário e missionário-pastoral
e destacados em nosso texto-base. Esperamos, com isso, que os diversos
temas, selecionados de acordo com pesquisa realizada entre membros dos
GPPs de todo o Brasil, reunidos no ENUR/2010 no mês de setembro em
Brasília, contribuam para robustecer os cinco pilares que sustentam nossas
comunidades e promover o crescimento das mesmas.
          É nosso objetivo, conforme o texto base dos Grupos de Partilha de
Profissionais, “Formar integralmente, na força do Espírito Santo, homens e
mulheres novos, que sejam discípulos missionários de Jesus Cristo, capazes
de beber cotidianamente da Palavra, confrontando e unindo fé e vida, fé e
razão, oração, reflexão e ação; de estabelecer relações humanas profundas e
frutuosas; de dialogar com as instituições e com a cultura do nosso tempo,
rumo à civilização do amor”. Temos por pressuposto que o estudo, assim como
a oração e a partilha que o acompanham, proporciona-nos entrar na intimidade
do Senhor, ouvir sua voz, fortalecer nossos grupos e encorajar nossa missão
evangelizadora na sociedade. Trata-se, portanto, de uma “ferramenta
poderosa” na formulação e comunicação contínua das “razões de nossa
Esperança” e de nossa Fé (1Pe 3.15).
           Almejamos, enfim e mais amplamente, em comunhão com todos os
ministérios e serviços da Renovação Carismática Católica, avançar para
“águas mais profundas” e atentos à Palavra do Senhor, “lançar nossas redes”
para uma pesca abundante (Lc, 5, 1-11) e perene.


         Segue abaixo um novo cronograma para os temas programados para
o biênio 2011/2012.


                   2011
           Janeiro, Fevereiro e
               Março/2011
         Abril, Maio e Junho/2011          Oração e escuta (Espiritual)
             Julho, Agosto e             Vocação e missão dos leigos na
             Setembro/2011                Igreja e no mundo (Doutrinária)

       Novembro, Dezembro/2011 e         Administração da vida (Humana)
               Janeiro/2012
2012
       Fevereiro, Março e Abril/2012   Sexualidade e afetividade (Humana)
        Maio, Junho e Julho/2012             Cura interior (Espiritual)
           Agosto, Setembro e                Fé e razão (Doutrinária)
              Outubro/2012
       Novembro e Dezembro/2012        Planejamento de projetos, captação
                                               de recursos e dízimo
                                              (Pastoral/Missionária)
Obs.: O tema referente à dimensão Pastoral/Missionária: “Eclesiologia: ser
Igreja no novo milênio”, inicialmente programada para Out a Dez/2011, será
incluído, oportunamente, em programações futuras.
PROPOSTAS DE ENCAMINHAMENTOS E SUGESTÕES DE ATIVIDADES




         Esperamos uma recepção criativa e crítica dos textos que
apresentamos. Deste modo, é importante que os conteúdos sejam discutidos,
refletidos e meditados de acordo com o contexto que sabemos sempre singular
de nossas comunidades. Deve-se evitar, deste modo, que a formação aconteça
nos moldes de uma aula tradicional na qual alguém, do alto de sua cátedra,
ministre lições a uma classe passiva e descomprometida com o debate ou na
forma de pregação.
         Ainda que seja necessária uma pessoa em especial para moderar as
discussões, estimulamos os participantes de nossas comunidades que os
momentos de formação ocorram, preferencialmente, na forma de um grupo de
estudo. Mesmo que seus membros possuam diferentes níveis de
sistematização dos conteúdos que compõem os diversos temas apresentados,
a experiência pessoal e as leituras anteriores que cada um dos participantes
possui devem ser valorizadas. É necessário, enfim, que haja um “clima
favorável” para o estudo, tais como, a título de contribuição, propomos a seguir:

      Que os textos sejam disponibilizados com a devida antecedência e os
      participantes estimulados a lê-los previamente;
      Preparar espaços e tempos de qualidade para o estudo;
      Divulgar bibliografia a respeito do tema, incentivando a “troca” de
      referências e materiais (livros, artigos, vídeos etc.) entre os participantes
      do estudo visando seu aprofundamento;
       Reservar espaços apropriados para questionamentos: “cultivar a
      dúvida” e propiciar um saudável ambiente de debate;
      O estudo pode “continuar” em nossas listas de e-mails, podendo ser
      disponibilizados outros textos afins considerados relevantes;
      Procurar, sempre que possível, remeter os leitores aos textos das
      Sagradas Escrituras como oportunidade de estudo da própria palavra;
      Desenvolver o hábito do estudo e da reflexão é tão importante quanto o
      estudo do tema em si.
SEXUALIDADE E AFETIVIDADE1




SEXUALIDADE E AFETIVIDADE – DOM DE DEUS

            “Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e que
    eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas
     as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra. E Deus criou o homem à sua
     imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher.” (Gn 1, 26-27)



           Deus é a origem de todas as coisas. Em sua onipotência, sabedoria e
em seu amor criou o universo, a Terra, a vida, o homem e a mulher.

           Deus é amor (I Jo 4, 8) e nos criou, em um transbordamento de seu
amor, à sua imagem e semelhança; somos, assim, vocacionados a amar. Viver
o amor, segundo o que o Deus nos propõe é uma forma de viver a comunhão
com Ele. E é a comunhão com Deus que orienta nosso viver.

           A vida é um dom de Deus, cada pessoa é razão de louvor a Deus, pois
sua existência é sinal do amor e do poder criador de Deus. A sexualidade e a
afetividade são dons de Deus que dignificam os seres humanos e os fazem
colaboradores na obra criadora de Deus e em Seu plano de amor para toda a
humanidade.

                         A sexualidade não se confunde com genitalidade, nem com
                         sexo, nem com órgãos sexuais. Esses são componentes, mas a
                         realidade mais profunda é constituída por uma energia, ou seja,
                         uma força que nos impele ao encontro dos outros. Deus nos fez
                         sexuados para facilitar a comunicação e a comunhão. Outra
                         maneira de dizer que somos sexuados é dizer: Graças a Deus
                         fomos feitos por amor e para o amor (Mozer, 2004).



           Fomos feitos para o amor, somos chamados a amar e a irmos ao
encontro do outro. Deus nos convida a criarmos laços afetivos e estarmos em
comunhão com Ele no amor. Os dons que o Senhor nos deu, a sexualidade e a



1
    Este módulo foi elaborado por Leandra Alonso da Silva.
afetividade, são dádivas que, se bem vividas, nos levam a uma vida de
santidade e nos torna colaboradores no plano de Deus para a humanidade.

        E o que a Igreja nos diz sobre o dom da sexualidade? De acordo com
o Catecismo da Igreja Católica no número 2332:

                   A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na
                   unidade de corpo e alma. Diz respeito particularmente à
                   afetividade, à capacidade de amar e procriar e, de uma maneira
                   mais geral, à aptidão de criar vínculos de comunhão com os
                   outros.



        Cada ser humano possui uma vivência pessoal e única de sua
sexualidade e afetividade, visto que cada um tem um modo próprio de ser, de
se comunicar, de sentir etc. O ser homem e o ser mulher exprimem essa
diferença de vivência da afetividade e da sexualidade e manifestam, também, a
unidade entre a dimensão corporal e espiritual que essa mesma vivência
contempla.

        A sexualidade, portanto, não diz respeito apenas à dimensão biológica
e corporal do/da homem/mulher; diz respeito, também, à subjetividade humana.
Existe, certamente, uma maneira pessoal e única de amar, reagir, sentir, de
criar laços afetivos, de pensar. A sexualidade é algo que deve estar integrado
na dinâmica geral da pessoa, ou seja, revela-se na sua maneira de se vestir,
de se relacionar, nas manifestações de carinho etc. A experiência de
relacionar-se compreende, vale repetir, a dimensão corporal, espiritual, enfim,
todo o ser.

        A sexualidade, como podemos observar no texto que transcrevemos a
seguir, tem sua finalidade também no aspecto social:

                   [...] o Evangelho da Sexualidade parte do pressuposto de que
                   ela é sempre um dom de Deus e, como tal, entra em cheio nos
                   projetos de Deus. Ao criar-nos como sexuados, Deus nos fez
                   assim, não por engano ou de maneira temerária, mas para
                   propiciar-nos o crescimento numa tríplice dimensão pessoal,
                   social e transcendente. Na dimensão pessoal, a sexualidade
                   encontra-se a serviço da personalização, ou seja, é uma energia
                   que nos torna pessoas únicas e originais, à exata medida que
                   nos empurra ao encontro do diferente, do outro. Na dimensão
                   social, a sexualidade abre-se ao serviço da construção de uma
nova humanidade: não aquela do ódio e da destruição, mas
                   aquela que derruba todos os muros e preconceitos [...] (Mozer,
                   2004).

        Jesus assumiu em tudo a condição humana, exceto no pecado. Deste
modo, a sexualidade e a afetividade foram também assumidas pelo filho de
Deus que se fez homem. Jesus, como podemos observar na leitura dos
evangelhos, demonstrava seus sentimentos: ele chorou e se alegrou, se
decepcionou, foi firme exercendo autoridade, teve amizades e afeição pelas
pessoas. Jesus propôs, a partir de sua palavra e de sua proposta de vida, que
rompia com toda hipocrisia e exclusão, a construção de uma nova humanidade.

       Jesus assumiu o ser humano de forma integral. A sexualidade a
afetividade como parte desse todo é um dom que precisa ser cuidado e
valorizado, é uma fonte de graça para a construção do Reino de Deus.




Para oração, reflexão e partilha:

                A vida em Cristo inclui a alegria de comer juntos [...] o contato com a
    natureza, o entusiasmo dos projetos comunitários, o prazer de uma sexualidade
  vivida segundo o Evangelho, e todas as coisas com as quais o Pai nos presenteia
                  como sinais de seu sincero amor. (Documento de Aparecida, 356)




       Vamos agradecer a Deus por nos ter criado, pela nossa existência, por
sermos homem ou mulher, pelos dons que nos oferece e, entre eles, a
afetividade e a sexualidade. Vamos agradecer a Deus pela nossa capacidade
de nos afeiçoarmos uns aos outros e de amar.

        Partindo do exemplo de vida de Jesus, como vivemos esse belíssimo
dom da sexualidade a da afetividade com que Deus, em seu amor, nos
presenteou? Vamos ao encontro do outro? Qual a qualidade dos laços afetivos
que criamos?

CASTIDADE

       Segundo o Catecismo da Igreja Católica no número 2337:
A castidade significa a integração correta da sexualidade na
                   pessoa e com isso a unidade interior do homem em seu ser
                   corporal e espiritual. A sexualidade na qual se exprime a
                   pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se
                   pessoa e verdadeiramente humana quando é integrada na
                   relação de pessoa a pessoa, na doação mútua integral e
                   temporariamente ilimitada, do homem e da mulher. A virtude da
                   castidade comporta, portanto, a integridade da pessoa e a
                   integralidade da doação.



       A vivência da castidade é o reconhecimento de si e do outro como um
ser sagrado e templo do Espírito Santo, é relacionar-se consigo mesmo e com
os outros os respeitando e amando-os em sua dignidade de filhos de Deus. A
pessoa casta não é centrada em si mesma e não mantém relações egoístas,
abre-se para viver o seu corpo e a sexualidade como dom de Deus. Inserida na
experiência da fé, a castidade implica em renúncia de paixões, pensamentos e
atitudes, é expressão de responsabilidade para consigo mesmo e para com os
outros. A castidade é virtude de todos os estado de vida e também expressão
do amor da pessoa a Deus.

       Os dons do Espírito Santo, o desejo de viver a palavra, de buscar o
Senhor e de estar em comunhão com Ele cria condições para a vivência da
castidade. Contamos com a força de Deus e com auxílio do Espírito para
levarmos adiante uma vida casta. É o próprio Senhor que nos convence da
beleza de viver a castidade, é Ele quem assegura as condições para Vivenciá-
la e quem nos suporta.




       Para reflexão e partilha:

         A   vontade     de   Deus,   expressa   nas   palavras   da   Igreja   é
frequentemente apresentada pelos meios de comunicação em geral, como
conservadora. Os desafios pessoais e comunitários enfrentados pelos cristãos
para a vivência da castidade são, assim, enormes: Quais são os desafios
sociais atuais para vivermos a castidade? Quais as lutas pessoais, os desafios
relacionados ao autodomínio e a renúncia que temos que viver? Nos meios em
que estamos inseridos – no trabalho, na família, na vida social – temos
conseguido testemunhar a fé cristã católica?




        CONTEXTO CULTURAL

        Os padrões de relacionamento que caracterizam nosso cotidiano na
atualidade são, muitas vezes, pautados em interesses imediatos e na
possibilidade de retribuições. São marcados, frequentemente, pela busca de
satisfação pessoal. Vivemos, deste modo, um tempo em que as relações
pessoais têm a característica da superficialidade; as pessoas travam
relacionamentos curtos e aparentes, de acordo com o que é mais satisfatório
ou vantajoso, não se comprometem umas com as outras, não buscam
conhecerem-se mais profundamente e, assim, assumir o chamado de Deus de
ser dom para o outro.

        Além disso, vivemos em um mundo em que as pessoas prezam
excessivamente pelo imediato, tudo precisa ser rápido; o trabalhador bom é
avaliado pela produção gerada em um curto período de tempo, o computador
precisar trabalhar rapidamente. Não sabemos esperar por nada: qualquer coisa
que tenha um processo diferente do imediato nos parece lento, monótono,
enfadonho. Rapidamente os objetos se tornam obsoletos, queremos sempre
algo mais novo, mais potente ou mais ágil. Em suma, segundo o Documento de
Aparecida, uma das marcas da cultura atual é valorização do descartável e do
provisório.

         A fragmentação da concepção integral do homem na sua relação com
o mundo e com Deus distorce a verdade sobre o homem e pode conduzi-lo a
caminhos destrutivos. O individualismo característico do nosso tempo justifica a
busca de satisfações individuais e imediatas em lugar do bem do outro.

              O individualismo enfraquece os vínculos comunitários e propõe
              uma radical transformação do tempo e do espaço, dando papel
              primordial à imaginação. Os fenômenos sociais, econômicos e
              tecnológicos estão na base da profunda vivência do tempo, o qual
              se concebe fixado no próprio presente, trazendo concepções de
              inconsistência e instabilidade. Deixa-se de lado a preocupação
              pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos
dos indivíduos, à criação de novos e muitas vezes arbitrários
             direitos individuais, aos problemas da sexualidade, da família, das
             enfermidades e da morte. [...] Prefere-se viver o dia-a-dia, sem
             programas a longo prazo nem apegos pessoais, familiares e
             comunitários. As relações humanas estão sendo consideradas
             objetos de consumo, conduzindo as relações afetivas sem
             compromisso responsável e definitivo (Documento de Aparecida
             n. 44 e 46).


        As características da sociedade atual se refletem, evidentemente, nos
relacionamentos pessoais: as pessoas dizem umas para outras que o amor
acabou, unem-se e separam-se rapidamente, descartam pessoas motivadas a
viver uma experiência nova e descompromissada.

        É necessário, assim, à luz da Palavra de Deus, lançar um olhar crítico
sobre a sociedade atual. É prudente que julguemos, sob essa Luz, os modos e
padrões de relacionamento que são apresentados.

        Os pensamentos de Deus não são os pensamentos dos homens; Ele
[Deus] nos convida a viver um amor sublime, a enxergar os outros como
imagem e semelhança Sua. Cristo nos revelou o amor que edifica o outro, que
o eleva e o introduz em um caminho de felicidade e santidade. Esse amor o
Senhor nos convida a viver em qualquer estado de vida, em todas as vocações
que há na igreja.

        A sexualidade, enquanto modalidade de relacionamento tem como fim
o amor, ela é plenamente realizada no amor. Na atualidade, a dimensão da
sexualidade e da afetividade humana, como algo que abrange os diferentes
aspectos da pessoa, está fragmentada. Percebemos na fala das pessoas ou na
mídia, um jeito de viver no qual as relações humanas são superficiais; o sexo é
banalizado, separado do amor e vivido em relações sem solidez que
rapidamente se desfazem. O corpo humano, que é sagrado e templo do
Espírito Santo, torna-se objeto de sedução e prazer.

        O gênero sexual é um elemento constitutivo da pessoa humana e
também um diferenciador. O corpo humano, seu sexo, a masculinidade e a
feminilidade integram dimensões da sexualidade e afetividade humana que se
expressam no ser homem e no ser mulher. Trata-se de um dom que realiza o
sentido de ser e existir da pessoa humana. O Catecismo da Igreja Católica no
número 364 afirma:

                     O corpo2 do homem participa da dignidade da imagem de
                     Deus, ele é corpo humano precisamente porque é animado
                     pela alma espiritual, e é a pessoa humana inteira que está
                     destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do
                     Espírito.



Para reflexão e partilha:

        Quais as influências da sociedade atual em nossas vivências de um
modo geral e, particularmente, sobre o exercício da castidade? O que
pensamos sobre as características de nossa sociedade? Como nos inserimos e
vivemos em meio a essa realidade?




ENCONTRO COM DEUS

           Quando Israel era jovem comecei a amá-lo e do Egito chamei meu filho.
         Quanto mais o chamava, tanto mais ele corria de mim (Oséias 11,1)




        O Senhor deseja nos conduzir e nos ensinar a amá-lo para, a partir
dessa experiência, irmos ao encontro dos outros. É necessário, em primeiro
lugar, deixar-se amar; não nos fechemos em nossas dificuldades e barreiras
para vivenciar uma afetividade plena. A vivência madura de nossa afetividade
leva-nos a estarmos disponíveis ao amor. Com serenidade e simplicidade, a
gostar dos sinais de afeto que os outros demonstram e de estabelecer relações
humanas profundas e sadias (CENCINI, 2002).

        Todo ser humano quer e precisa ser amado em sua singularidade. É
fundamental, deste modo, que todo ser humano seja “tocado” por um amor que
acolhe, compreende, edifica e o leve a conhecer e desenvolver suas

2
  Os números 1004 e 2031 do Catecismo também fazem referência ao corpo e nos ajuda a
compreender sua dimensão na vivência da fé.
potencialidades. Olhando o mundo ao nosso redor, nas letras das músicas
seculares, por exemplo, percebemos o anseio das pessoas por amor e
felicidade; mas muitas vezes a forma de amar vivida pelos homens gera
escravidão, sofrimentos, infelicidades e pode até se tornar um vício.

        As pessoas buscam incessantemente o amor e muitas vezes se iludem
porque partem da premissa de satisfazer suas necessidades pessoais, de
serem amadas; Essa busca excessiva do amor, em seu egoísmo, escraviza e é
ilusória; quanto mais buscamos a nossa própria satisfação, mais exigentes
seremos e menos saciados estaremos. A desconfiança, a raiva, o ciúme
podem fazer adoecer o amor e os nossos relacionamentos. Fomos criados
para a felicidade e a realização pessoal; somos chamados a buscá-la [a
felicidade], mas apenas a “experiência transcendente” nos leva ao verdadeiro
sentido do amor.

        Pensemos, mais uma vez, na realidade atual e na forma como as
pessoas se relacionam em geral e buscam seus pares: O que orienta as
pessoas? Quais são os critérios para relacionar-se?

        Muitas pessoas se unem a outras na busca de sua própria satisfação,
ou de vantagens, se preocupam excessivamente consigo mesmas. De acordo
com Cencini (2002), essas pessoas estão presas ao nível da relação
meramente corporal e muitas vezes, o relacionamento com esse parâmetro
traz problemas na área afetivo-sexual.

        Viver o corpo como um dom é viver a renúncia, a doação de si, até de
suas qualidades físicas como um dom a serviço do verdadeiro ideal. Ou seja, é
realizar aquilo que o homem realmente é e que é chamado a ser. O corpo
como dom e não como posse, nos leva à coragem da entrega de si, do
martírio, do comprometimento.

        Aqueles que são chamados ao matrimônio vivem a doação de si em
todas as dimensões de seu ser a fim de realizarem-se plenamente e, ao
mesmo tempo favorecer a plena realização do outro. As pessoas que são
chamadas a uma vida consagrada exclusivamente a Deus, oferecem também o
corpo como dom. A renúncia, neste caso, da dimensão genital dimensiona a
afetividade para além do componente corporal. Segundo Cencini (2002) a
“superação” da dimensão corporal e o abster-se do prazer genital conduz a
pessoa a viver alegrias profundas do relacionamento humano.

            O verdadeiro amor liberta nosso coração e nos leva a amar de maneira
desinteressada. A decisão por essa forma de amar nos conduz a sentirmos
amados; ensina-nos, de forma generosa, a doar-nos e sermos capazes de
receber. Perceberemos o quanto somos amados e isso nos trará grande
alegria: “quando alguém ama aí Deus se faz presente” (Cencini, 2002).

            O verdadeiro amor compreende a outra pessoa na sua singularidade e
na sua diferença, acolhe-a. É o amor que sustenta esse processo porque
aceita e acolhe a pessoa como ela realmente é e não como uma imagem ou
algo que gostaria que fosse. Deus nos convida a amar os outros como Ele nos
ama e fazer uma experiência com Ele, não apenas com o intuito de satisfazer
nossa necessidade pessoal, mas para nos abrirmos ao outro.

                       Jesus respondeu: O primeiro de todos os mandamentos é
                       este: [...] que ame ao Senhor seu Deus com todo o seu
                       coração, com toda a sua alma, com todo o seu
                       entendimento e com toda a sua força. O segundo
                       mandamento é este: Ame o seu próximo como a si mesmo.
                       (Mc 12,29-31).


            Aquele que ama relaciona-se de forma benévola com tudo e com
todos: consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo a sua volta. É a
pessoa que acolhe, contempla e faz bem a todos que dela se aproximam; a
pessoa que ama é misericordiosa e branda. Jesus em sua humanidade
acolheu as crianças, foi misericordioso com os pecadores, envolvia e cativava
os que estavam a sua volta com sua palavra, com seu olhar de ternura, com
seu zelo com as pessoas e com toda sua humanidade. Jesus, de braços
abertos na cruz – com essa atitude de liberdade – nos comunica seu amor
infinito.

            Deus atrai o ser humano para Si, é apaixonado por ele e quer
conquistá-lo. Há vários relatos nos textos bíblicos que ilustram o encontro de
Deus com os homens e como estes, numa relação intensa e amorosa, foram
seduzidos por Ele. É o caso, por exemplo, do profeta Jeremias e Isaias e do
apóstolo Paulo. Todavia, o Amor de Deus é exigente, pede renúncia, nos põe a
prova, nos propõe a cruz. Tudo isso será vivido com nossa decisão de
abraçarmos e nos apaixonarmos por Deus. Trata-se de uma resposta a quem
nos amou primeiro e nos convida a uma relação de amor: “Com amor eterno te
amei; por isso mantive por tanto tempo a fidelidade a ti”. (Jr 31,3)

        O amor incondicional e absoluto é atributo apenas do amor divino. Por
mais bem sucedida que seja uma experiência afetiva e amorosa, (não falo
apenas de relacionamento entre homem e mulher, mas dos nossos
relacionamentos com a família, com os amigos e com a comunidade) ela terá
os seus limites porque somos humanos e temos nossas fraquezas; ninguém é
capaz de nos amar como o Senhor nos ama. Assim, mergulhar no amor de
Deus é condição fundamental para construirmos relacionamentos saudáveis e
duradouros.

        A felicidade que cada pessoa busca e necessita, voltamos a afirmar,
não está nas pessoas ou nas coisas. É imprescindível um encontro pessoal
com Deus, deixar-se amar por Ele e, a partir desse encontro, dessa intimidade,
seremos impelidos pelo Senhor a irmos ao encontro daqueles que Ele mesmo
proporciona para vivermos a aventura, a beleza e a ousadia de amar e de se
relacionar.

        O aspecto humano do amor de Deus por nós manifestou-se na pessoa
de Jesus. Deixemo-nos fascinar pela pessoa de Jesus, é Ele quem torna plena
nossa vida, muda-a, nos faz verdadeiramente livres, toca profundamente nosso
coração com sua Palavra que ilumina todos os aspectos de nosso ser e nos dá
um novo sentido à vida.

        Os místicos, alguns santos, por exemplo, tiveram uma experiência com
Deus de forma a abranger a sexualidade; os místicos não dissociam
espiritualidade de sexualidade, a experiência do amor de Deus envolve,
portanto, todo o ser.

        O termo experiência mística significa a experiência daquilo que Deus
realiza em nós, é a ação misteriosa de Deus em nós (CENCINI, 2002). É
necessário que a pessoa se disponha, em atitudes concretas, a acolher a ação
de Deus. Que a oração diária, nossa intimidade e amizade com Deus, nos
transformem e nos convençam a respeito daquilo que realmente somos e, que
nos façam ouvir com clareza, nosso chamado.

       Oração e reflexão

        Contemplemos Jesus, em sua humanidade e em seus inúmeros
encontros com as pessoas. Deixemo-nos amar por Ele, deixemos que Seu
olhar e suas palavras nos envolvam e nos cure.

       Convido a todos a meditarmos nessa passagem:

       “Tu és meu filho amado, em ti encontro o meu agrado” (Mc 1,11)

       Nós somos filhos amados do Senhor e Ele se afeiçoa a cada de um
nós.

         Que o nosso coração se abra à experiência do Amor de Deus. Que
esse amor invada os abismos de nossa alma, percorra conosco a nossa
história, cure nossa sexualidade e afetividade, nos ilumine e nos conduza a
uma vida nova.




REFERÊNCIAS

CENCINI, Amedeo. Amarás o Senhor teu Deus. Tradução M. T. Voltarelli. São
Paulo, Paulinas, 2002.

COELHO, Márcio Marcelo. Sexualidade: o que os jovens sabem e pensam.
São Paulo: Editora Canção Nova, 2010.

GRÜN, Anselm. Abra o seu coração para o amor; tradução Sidnei Vilmar Noé –
Petropólis, RJ: Vozes, 2010.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola/Vozes/Paulinas/Ave
Maria/Paulus, 1998.

Conselho Pontifício para a Família. Sexualidade Humana: Verdade e
Significado. Orientações Educativas em Família. Paulinas, 2009.
Conselho Episcopal Latino Americano. Documento de Aparecida. Texto
Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do
Caribe. 13-31 de maio de 2007. Edições: Paulus, Paulinas e CNBB.

Mozer, Frei A. Sexualidade: Felicidade ao alcance de todos. Vida Pastoral de
nov./dez. de 2004.




Sugestões de leitura




AQUINO, F. R. Q. Família, Santuário de Vida – Vida Conjugal e Educação dos
Filhos. 9ª Ed. São Paulo, Ed. Cleófas.

LÉO, Padre. Sede fecundos. 12 ed. São Paulo: Canção Nova, 2008.

MOHANAM J. A Vida Sexual dos Solteiros e Casados. São Paulo: Edições
Loyola, 4 edição, 2009.

AGOSTINI, N. Sexualidade e realização humana: a proposta da igreja católica
Religião e Cultura (PUC-SP), vol. VII, n° 13, junho de 2008, p. 71-82.

Contenu connexe

Tendances

Sexualidade e afetividade 2
Sexualidade e afetividade   2Sexualidade e afetividade   2
Sexualidade e afetividade 2familiaregsul4
 
Os tres-pilares-para-construir-uma-relacao-a-dois-de-sucesso
Os tres-pilares-para-construir-uma-relacao-a-dois-de-sucessoOs tres-pilares-para-construir-uma-relacao-a-dois-de-sucesso
Os tres-pilares-para-construir-uma-relacao-a-dois-de-sucessoAcademia do Casamento
 
Primeira apostila dos jovens - PDF
Primeira apostila dos jovens - PDFPrimeira apostila dos jovens - PDF
Primeira apostila dos jovens - PDFLucas Martins
 
O sexo que os cristãos praticam
O sexo que os cristãos praticamO sexo que os cristãos praticam
O sexo que os cristãos praticamPr Ismael Carvalho
 
Lição 4 - Orientações Bíblicas sobre a Intimidade do casal
Lição 4 - Orientações Bíblicas sobre a Intimidade do casalLição 4 - Orientações Bíblicas sobre a Intimidade do casal
Lição 4 - Orientações Bíblicas sobre a Intimidade do casalÉder Tomé
 
Conhecimento de si e do outro e diálogo
Conhecimento de si e do outro e diálogoConhecimento de si e do outro e diálogo
Conhecimento de si e do outro e diálogofamiliaregsul4
 
LIÇÃO Nº 8 – ÉTICA CRISTÃ E SEXUALIDADE
LIÇÃO Nº 8 – ÉTICA CRISTÃ E SEXUALIDADELIÇÃO Nº 8 – ÉTICA CRISTÃ E SEXUALIDADE
LIÇÃO Nº 8 – ÉTICA CRISTÃ E SEXUALIDADEHamilton Souza
 
O cristão e a sexualidade
O cristão e a sexualidadeO cristão e a sexualidade
O cristão e a sexualidadeLuan Almeida
 
Noivos sacramento do matrimônio slides
Noivos   sacramento do matrimônio slidesNoivos   sacramento do matrimônio slides
Noivos sacramento do matrimônio slidesMauricio Soares
 
Pastoral familiar - Sexualidade
Pastoral familiar - SexualidadePastoral familiar - Sexualidade
Pastoral familiar - Sexualidadefamiliaregsul4
 

Tendances (20)

Palestra seminario de casais 2015
Palestra seminario de casais 2015Palestra seminario de casais 2015
Palestra seminario de casais 2015
 
Curso de noivos
Curso de noivosCurso de noivos
Curso de noivos
 
Sexualidade e afetividade 2
Sexualidade e afetividade   2Sexualidade e afetividade   2
Sexualidade e afetividade 2
 
Os tres-pilares-para-construir-uma-relacao-a-dois-de-sucesso
Os tres-pilares-para-construir-uma-relacao-a-dois-de-sucessoOs tres-pilares-para-construir-uma-relacao-a-dois-de-sucesso
Os tres-pilares-para-construir-uma-relacao-a-dois-de-sucesso
 
Primeira apostila dos jovens - PDF
Primeira apostila dos jovens - PDFPrimeira apostila dos jovens - PDF
Primeira apostila dos jovens - PDF
 
O sexo que os cristãos praticam
O sexo que os cristãos praticamO sexo que os cristãos praticam
O sexo que os cristãos praticam
 
Matrimónio
MatrimónioMatrimónio
Matrimónio
 
Lição 4 - Orientações Bíblicas sobre a Intimidade do casal
Lição 4 - Orientações Bíblicas sobre a Intimidade do casalLição 4 - Orientações Bíblicas sobre a Intimidade do casal
Lição 4 - Orientações Bíblicas sobre a Intimidade do casal
 
Conhecimento de si e do outro e diálogo
Conhecimento de si e do outro e diálogoConhecimento de si e do outro e diálogo
Conhecimento de si e do outro e diálogo
 
Palestra para Casais
Palestra para CasaisPalestra para Casais
Palestra para Casais
 
O Plano de Deus - ECC
O Plano de Deus - ECCO Plano de Deus - ECC
O Plano de Deus - ECC
 
LIÇÃO Nº 8 – ÉTICA CRISTÃ E SEXUALIDADE
LIÇÃO Nº 8 – ÉTICA CRISTÃ E SEXUALIDADELIÇÃO Nº 8 – ÉTICA CRISTÃ E SEXUALIDADE
LIÇÃO Nº 8 – ÉTICA CRISTÃ E SEXUALIDADE
 
O cristão e a sexualidade
O cristão e a sexualidadeO cristão e a sexualidade
O cristão e a sexualidade
 
Noivos sacramento do matrimônio slides
Noivos   sacramento do matrimônio slidesNoivos   sacramento do matrimônio slides
Noivos sacramento do matrimônio slides
 
Sexualidade
SexualidadeSexualidade
Sexualidade
 
Ecc historia
Ecc historiaEcc historia
Ecc historia
 
Pastoral familiar - Sexualidade
Pastoral familiar - SexualidadePastoral familiar - Sexualidade
Pastoral familiar - Sexualidade
 
É MISSÃO DE TODOS BATIZADOS!
É MISSÃO DE TODOS BATIZADOS!É MISSÃO DE TODOS BATIZADOS!
É MISSÃO DE TODOS BATIZADOS!
 
(1) a moda e a mulher cristã i
(1) a moda e a mulher cristã   i(1) a moda e a mulher cristã   i
(1) a moda e a mulher cristã i
 
Liderança cristã apresentação
Liderança cristã apresentaçãoLiderança cristã apresentação
Liderança cristã apresentação
 

En vedette

Sexualidade no matrimônio
Sexualidade no matrimônioSexualidade no matrimônio
Sexualidade no matrimônioWebExecutivo1
 
Sexualidade Humana - palestra
Sexualidade Humana - palestraSexualidade Humana - palestra
Sexualidade Humana - palestraJosy Farias
 
Sexualidade e adolescência
Sexualidade e adolescênciaSexualidade e adolescência
Sexualidade e adolescênciaDalila Melo
 
Sexualidade e afetividade
Sexualidade e afetividade Sexualidade e afetividade
Sexualidade e afetividade Léia Adriane
 
Como ensinar os conceitos de Sexo e de Sexualidade na escola?
Como ensinar os conceitos de Sexo e de Sexualidade na escola?Como ensinar os conceitos de Sexo e de Sexualidade na escola?
Como ensinar os conceitos de Sexo e de Sexualidade na escola?Thiago de Almeida
 
Slides sexualidade na adolescência (palestra infanto)
Slides sexualidade na adolescência (palestra infanto)Slides sexualidade na adolescência (palestra infanto)
Slides sexualidade na adolescência (palestra infanto)Alinebrauna Brauna
 

En vedette (10)

Afetividade e sexualidade
Afetividade e sexualidadeAfetividade e sexualidade
Afetividade e sexualidade
 
Sexualidade powerpoint
Sexualidade  powerpointSexualidade  powerpoint
Sexualidade powerpoint
 
Sexualidade no matrimônio
Sexualidade no matrimônioSexualidade no matrimônio
Sexualidade no matrimônio
 
Sexualidade e afetividade 1
Sexualidade e afetividade 1Sexualidade e afetividade 1
Sexualidade e afetividade 1
 
Sexualidade Humana - palestra
Sexualidade Humana - palestraSexualidade Humana - palestra
Sexualidade Humana - palestra
 
Sexualidade e adolescência
Sexualidade e adolescênciaSexualidade e adolescência
Sexualidade e adolescência
 
Sexualidade e afetividade
Sexualidade e afetividade Sexualidade e afetividade
Sexualidade e afetividade
 
Adolescência
AdolescênciaAdolescência
Adolescência
 
Como ensinar os conceitos de Sexo e de Sexualidade na escola?
Como ensinar os conceitos de Sexo e de Sexualidade na escola?Como ensinar os conceitos de Sexo e de Sexualidade na escola?
Como ensinar os conceitos de Sexo e de Sexualidade na escola?
 
Slides sexualidade na adolescência (palestra infanto)
Slides sexualidade na adolescência (palestra infanto)Slides sexualidade na adolescência (palestra infanto)
Slides sexualidade na adolescência (palestra infanto)
 

Similaire à Formação sobre sexualidade e afetividade

ensino religioso 9 ano.pdf
ensino religioso 9 ano.pdfensino religioso 9 ano.pdf
ensino religioso 9 ano.pdfLaraLara114511
 
ensino religioso 9 ano.pdf
ensino religioso 9 ano.pdfensino religioso 9 ano.pdf
ensino religioso 9 ano.pdfLaraLara114511
 
Apostila Acolher é Comunicar
Apostila Acolher é ComunicarApostila Acolher é Comunicar
Apostila Acolher é ComunicarBernadetecebs .
 
VII Seminário Nacional da Pastoral da Aids
VII Seminário Nacional da Pastoral da AidsVII Seminário Nacional da Pastoral da Aids
VII Seminário Nacional da Pastoral da AidsMarcelo Monti Bica
 
A colônia espiritual u.a. (luiz guilherme marques)
A colônia espiritual u.a. (luiz guilherme marques)A colônia espiritual u.a. (luiz guilherme marques)
A colônia espiritual u.a. (luiz guilherme marques)Ricardo Akerman
 
Evangelização e educação reflexões visita pastoral
Evangelização e educação reflexões visita pastoralEvangelização e educação reflexões visita pastoral
Evangelização e educação reflexões visita pastoralAntonio De Assis Ribeiro
 
Espiritua-BIBLICA.ppt
Espiritua-BIBLICA.pptEspiritua-BIBLICA.ppt
Espiritua-BIBLICA.pptssuser901b57
 
INTRODUCAO-A-FORMACAO-BIBLICA.ppt
INTRODUCAO-A-FORMACAO-BIBLICA.pptINTRODUCAO-A-FORMACAO-BIBLICA.ppt
INTRODUCAO-A-FORMACAO-BIBLICA.pptssuser901b57
 
YESHUA - M5A29 - As tretas de Jesus e a Religião.pdf
YESHUA - M5A29 - As tretas de Jesus e a Religião.pdfYESHUA - M5A29 - As tretas de Jesus e a Religião.pdf
YESHUA - M5A29 - As tretas de Jesus e a Religião.pdfGarantiaCorujonda
 
Jornal ha esperença 13 final.corrigido
Jornal ha esperença 13 final.corrigidoJornal ha esperença 13 final.corrigido
Jornal ha esperença 13 final.corrigidoEdson Rodrigues
 
Santas Missões - Fe e vida
Santas Missões - Fe e vidaSantas Missões - Fe e vida
Santas Missões - Fe e vidaBernadetecebs .
 
TEMPO 4 - Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, com as crian...
TEMPO 4 - Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, com as crian...TEMPO 4 - Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, com as crian...
TEMPO 4 - Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, com as crian...BlogMaterialdeCatequ
 
Aula 2 o que é o espiritismo
Aula 2   o que é o espiritismoAula 2   o que é o espiritismo
Aula 2 o que é o espiritismossusereccc9c
 

Similaire à Formação sobre sexualidade e afetividade (20)

Grupo Adoração e Vida
Grupo Adoração e VidaGrupo Adoração e Vida
Grupo Adoração e Vida
 
052 ensino religioso
052   ensino religioso052   ensino religioso
052 ensino religioso
 
Adv apresentação-2014
Adv   apresentação-2014Adv   apresentação-2014
Adv apresentação-2014
 
ensino religioso 9 ano.pdf
ensino religioso 9 ano.pdfensino religioso 9 ano.pdf
ensino religioso 9 ano.pdf
 
ensino religioso 9 ano.pdf
ensino religioso 9 ano.pdfensino religioso 9 ano.pdf
ensino religioso 9 ano.pdf
 
Apostila Acolher é Comunicar
Apostila Acolher é ComunicarApostila Acolher é Comunicar
Apostila Acolher é Comunicar
 
VII Seminário Nacional da Pastoral da Aids
VII Seminário Nacional da Pastoral da AidsVII Seminário Nacional da Pastoral da Aids
VII Seminário Nacional da Pastoral da Aids
 
Livrodeefesios pg
Livrodeefesios pgLivrodeefesios pg
Livrodeefesios pg
 
A colônia espiritual u.a. (luiz guilherme marques)
A colônia espiritual u.a. (luiz guilherme marques)A colônia espiritual u.a. (luiz guilherme marques)
A colônia espiritual u.a. (luiz guilherme marques)
 
Evangelização e educação reflexões visita pastoral
Evangelização e educação reflexões visita pastoralEvangelização e educação reflexões visita pastoral
Evangelização e educação reflexões visita pastoral
 
Espiritua-BIBLICA.ppt
Espiritua-BIBLICA.pptEspiritua-BIBLICA.ppt
Espiritua-BIBLICA.ppt
 
INTRODUCAO-A-FORMACAO-BIBLICA.ppt
INTRODUCAO-A-FORMACAO-BIBLICA.pptINTRODUCAO-A-FORMACAO-BIBLICA.ppt
INTRODUCAO-A-FORMACAO-BIBLICA.ppt
 
YESHUA - M5A29 - As tretas de Jesus e a Religião.pdf
YESHUA - M5A29 - As tretas de Jesus e a Religião.pdfYESHUA - M5A29 - As tretas de Jesus e a Religião.pdf
YESHUA - M5A29 - As tretas de Jesus e a Religião.pdf
 
formação para catequistas
formação para catequistasformação para catequistas
formação para catequistas
 
Formação para catequistas
Formação para catequistasFormação para catequistas
Formação para catequistas
 
Jornal ha esperença 13 final.corrigido
Jornal ha esperença 13 final.corrigidoJornal ha esperença 13 final.corrigido
Jornal ha esperença 13 final.corrigido
 
Santas Missões - Fe e vida
Santas Missões - Fe e vidaSantas Missões - Fe e vida
Santas Missões - Fe e vida
 
TEMPO 4 - Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, com as crian...
TEMPO 4 - Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, com as crian...TEMPO 4 - Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, com as crian...
TEMPO 4 - Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, com as crian...
 
6. Células Apostólicas - Aula 6 (1).pdf
6. Células Apostólicas - Aula 6 (1).pdf6. Células Apostólicas - Aula 6 (1).pdf
6. Células Apostólicas - Aula 6 (1).pdf
 
Aula 2 o que é o espiritismo
Aula 2   o que é o espiritismoAula 2   o que é o espiritismo
Aula 2 o que é o espiritismo
 

Formação sobre sexualidade e afetividade

  • 1. CAMINHADA DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO REINO DO MUR Período 2011-2012 9ª ETAPA SEXUALIDADE E AFETIVIDADE APRESENTAÇÃO Colocamos à disposição dos participantes dos Grupos de Partilha de Profissionais (GPP), do Ministério Universidades Renovadas (MUR), mais um módulo de formação referente ao biênio 2011/2012, cujo tema é: “Sexualidade e Afetividade”. Esse é o quarto de sete temas propostos para serem estudados ao longo desse período em nossas comunidades. Em seu conjunto, contemplam-se as quatro dimensões ou aspectos da formação indicados no Documento de Aparecida: espiritual, humana, doutrinário e missionário-pastoral e destacados em nosso texto-base. Esperamos, com isso, que os diversos temas, selecionados de acordo com pesquisa realizada entre membros dos GPPs de todo o Brasil, reunidos no ENUR/2010 no mês de setembro em Brasília, contribuam para robustecer os cinco pilares que sustentam nossas comunidades e promover o crescimento das mesmas. É nosso objetivo, conforme o texto base dos Grupos de Partilha de Profissionais, “Formar integralmente, na força do Espírito Santo, homens e mulheres novos, que sejam discípulos missionários de Jesus Cristo, capazes de beber cotidianamente da Palavra, confrontando e unindo fé e vida, fé e razão, oração, reflexão e ação; de estabelecer relações humanas profundas e frutuosas; de dialogar com as instituições e com a cultura do nosso tempo, rumo à civilização do amor”. Temos por pressuposto que o estudo, assim como a oração e a partilha que o acompanham, proporciona-nos entrar na intimidade do Senhor, ouvir sua voz, fortalecer nossos grupos e encorajar nossa missão evangelizadora na sociedade. Trata-se, portanto, de uma “ferramenta
  • 2. poderosa” na formulação e comunicação contínua das “razões de nossa Esperança” e de nossa Fé (1Pe 3.15). Almejamos, enfim e mais amplamente, em comunhão com todos os ministérios e serviços da Renovação Carismática Católica, avançar para “águas mais profundas” e atentos à Palavra do Senhor, “lançar nossas redes” para uma pesca abundante (Lc, 5, 1-11) e perene. Segue abaixo um novo cronograma para os temas programados para o biênio 2011/2012. 2011 Janeiro, Fevereiro e Março/2011 Abril, Maio e Junho/2011 Oração e escuta (Espiritual) Julho, Agosto e Vocação e missão dos leigos na Setembro/2011 Igreja e no mundo (Doutrinária) Novembro, Dezembro/2011 e Administração da vida (Humana) Janeiro/2012 2012 Fevereiro, Março e Abril/2012 Sexualidade e afetividade (Humana) Maio, Junho e Julho/2012 Cura interior (Espiritual) Agosto, Setembro e Fé e razão (Doutrinária) Outubro/2012 Novembro e Dezembro/2012 Planejamento de projetos, captação de recursos e dízimo (Pastoral/Missionária) Obs.: O tema referente à dimensão Pastoral/Missionária: “Eclesiologia: ser Igreja no novo milênio”, inicialmente programada para Out a Dez/2011, será incluído, oportunamente, em programações futuras.
  • 3. PROPOSTAS DE ENCAMINHAMENTOS E SUGESTÕES DE ATIVIDADES Esperamos uma recepção criativa e crítica dos textos que apresentamos. Deste modo, é importante que os conteúdos sejam discutidos, refletidos e meditados de acordo com o contexto que sabemos sempre singular de nossas comunidades. Deve-se evitar, deste modo, que a formação aconteça nos moldes de uma aula tradicional na qual alguém, do alto de sua cátedra, ministre lições a uma classe passiva e descomprometida com o debate ou na forma de pregação. Ainda que seja necessária uma pessoa em especial para moderar as discussões, estimulamos os participantes de nossas comunidades que os momentos de formação ocorram, preferencialmente, na forma de um grupo de estudo. Mesmo que seus membros possuam diferentes níveis de sistematização dos conteúdos que compõem os diversos temas apresentados, a experiência pessoal e as leituras anteriores que cada um dos participantes possui devem ser valorizadas. É necessário, enfim, que haja um “clima favorável” para o estudo, tais como, a título de contribuição, propomos a seguir: Que os textos sejam disponibilizados com a devida antecedência e os participantes estimulados a lê-los previamente; Preparar espaços e tempos de qualidade para o estudo; Divulgar bibliografia a respeito do tema, incentivando a “troca” de referências e materiais (livros, artigos, vídeos etc.) entre os participantes do estudo visando seu aprofundamento; Reservar espaços apropriados para questionamentos: “cultivar a dúvida” e propiciar um saudável ambiente de debate; O estudo pode “continuar” em nossas listas de e-mails, podendo ser disponibilizados outros textos afins considerados relevantes; Procurar, sempre que possível, remeter os leitores aos textos das Sagradas Escrituras como oportunidade de estudo da própria palavra; Desenvolver o hábito do estudo e da reflexão é tão importante quanto o estudo do tema em si.
  • 4. SEXUALIDADE E AFETIVIDADE1 SEXUALIDADE E AFETIVIDADE – DOM DE DEUS “Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra. E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher.” (Gn 1, 26-27) Deus é a origem de todas as coisas. Em sua onipotência, sabedoria e em seu amor criou o universo, a Terra, a vida, o homem e a mulher. Deus é amor (I Jo 4, 8) e nos criou, em um transbordamento de seu amor, à sua imagem e semelhança; somos, assim, vocacionados a amar. Viver o amor, segundo o que o Deus nos propõe é uma forma de viver a comunhão com Ele. E é a comunhão com Deus que orienta nosso viver. A vida é um dom de Deus, cada pessoa é razão de louvor a Deus, pois sua existência é sinal do amor e do poder criador de Deus. A sexualidade e a afetividade são dons de Deus que dignificam os seres humanos e os fazem colaboradores na obra criadora de Deus e em Seu plano de amor para toda a humanidade. A sexualidade não se confunde com genitalidade, nem com sexo, nem com órgãos sexuais. Esses são componentes, mas a realidade mais profunda é constituída por uma energia, ou seja, uma força que nos impele ao encontro dos outros. Deus nos fez sexuados para facilitar a comunicação e a comunhão. Outra maneira de dizer que somos sexuados é dizer: Graças a Deus fomos feitos por amor e para o amor (Mozer, 2004). Fomos feitos para o amor, somos chamados a amar e a irmos ao encontro do outro. Deus nos convida a criarmos laços afetivos e estarmos em comunhão com Ele no amor. Os dons que o Senhor nos deu, a sexualidade e a 1 Este módulo foi elaborado por Leandra Alonso da Silva.
  • 5. afetividade, são dádivas que, se bem vividas, nos levam a uma vida de santidade e nos torna colaboradores no plano de Deus para a humanidade. E o que a Igreja nos diz sobre o dom da sexualidade? De acordo com o Catecismo da Igreja Católica no número 2332: A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na unidade de corpo e alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e procriar e, de uma maneira mais geral, à aptidão de criar vínculos de comunhão com os outros. Cada ser humano possui uma vivência pessoal e única de sua sexualidade e afetividade, visto que cada um tem um modo próprio de ser, de se comunicar, de sentir etc. O ser homem e o ser mulher exprimem essa diferença de vivência da afetividade e da sexualidade e manifestam, também, a unidade entre a dimensão corporal e espiritual que essa mesma vivência contempla. A sexualidade, portanto, não diz respeito apenas à dimensão biológica e corporal do/da homem/mulher; diz respeito, também, à subjetividade humana. Existe, certamente, uma maneira pessoal e única de amar, reagir, sentir, de criar laços afetivos, de pensar. A sexualidade é algo que deve estar integrado na dinâmica geral da pessoa, ou seja, revela-se na sua maneira de se vestir, de se relacionar, nas manifestações de carinho etc. A experiência de relacionar-se compreende, vale repetir, a dimensão corporal, espiritual, enfim, todo o ser. A sexualidade, como podemos observar no texto que transcrevemos a seguir, tem sua finalidade também no aspecto social: [...] o Evangelho da Sexualidade parte do pressuposto de que ela é sempre um dom de Deus e, como tal, entra em cheio nos projetos de Deus. Ao criar-nos como sexuados, Deus nos fez assim, não por engano ou de maneira temerária, mas para propiciar-nos o crescimento numa tríplice dimensão pessoal, social e transcendente. Na dimensão pessoal, a sexualidade encontra-se a serviço da personalização, ou seja, é uma energia que nos torna pessoas únicas e originais, à exata medida que nos empurra ao encontro do diferente, do outro. Na dimensão social, a sexualidade abre-se ao serviço da construção de uma
  • 6. nova humanidade: não aquela do ódio e da destruição, mas aquela que derruba todos os muros e preconceitos [...] (Mozer, 2004). Jesus assumiu em tudo a condição humana, exceto no pecado. Deste modo, a sexualidade e a afetividade foram também assumidas pelo filho de Deus que se fez homem. Jesus, como podemos observar na leitura dos evangelhos, demonstrava seus sentimentos: ele chorou e se alegrou, se decepcionou, foi firme exercendo autoridade, teve amizades e afeição pelas pessoas. Jesus propôs, a partir de sua palavra e de sua proposta de vida, que rompia com toda hipocrisia e exclusão, a construção de uma nova humanidade. Jesus assumiu o ser humano de forma integral. A sexualidade a afetividade como parte desse todo é um dom que precisa ser cuidado e valorizado, é uma fonte de graça para a construção do Reino de Deus. Para oração, reflexão e partilha: A vida em Cristo inclui a alegria de comer juntos [...] o contato com a natureza, o entusiasmo dos projetos comunitários, o prazer de uma sexualidade vivida segundo o Evangelho, e todas as coisas com as quais o Pai nos presenteia como sinais de seu sincero amor. (Documento de Aparecida, 356) Vamos agradecer a Deus por nos ter criado, pela nossa existência, por sermos homem ou mulher, pelos dons que nos oferece e, entre eles, a afetividade e a sexualidade. Vamos agradecer a Deus pela nossa capacidade de nos afeiçoarmos uns aos outros e de amar. Partindo do exemplo de vida de Jesus, como vivemos esse belíssimo dom da sexualidade a da afetividade com que Deus, em seu amor, nos presenteou? Vamos ao encontro do outro? Qual a qualidade dos laços afetivos que criamos? CASTIDADE Segundo o Catecismo da Igreja Católica no número 2337:
  • 7. A castidade significa a integração correta da sexualidade na pessoa e com isso a unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual. A sexualidade na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoa e verdadeiramente humana quando é integrada na relação de pessoa a pessoa, na doação mútua integral e temporariamente ilimitada, do homem e da mulher. A virtude da castidade comporta, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação. A vivência da castidade é o reconhecimento de si e do outro como um ser sagrado e templo do Espírito Santo, é relacionar-se consigo mesmo e com os outros os respeitando e amando-os em sua dignidade de filhos de Deus. A pessoa casta não é centrada em si mesma e não mantém relações egoístas, abre-se para viver o seu corpo e a sexualidade como dom de Deus. Inserida na experiência da fé, a castidade implica em renúncia de paixões, pensamentos e atitudes, é expressão de responsabilidade para consigo mesmo e para com os outros. A castidade é virtude de todos os estado de vida e também expressão do amor da pessoa a Deus. Os dons do Espírito Santo, o desejo de viver a palavra, de buscar o Senhor e de estar em comunhão com Ele cria condições para a vivência da castidade. Contamos com a força de Deus e com auxílio do Espírito para levarmos adiante uma vida casta. É o próprio Senhor que nos convence da beleza de viver a castidade, é Ele quem assegura as condições para Vivenciá- la e quem nos suporta. Para reflexão e partilha: A vontade de Deus, expressa nas palavras da Igreja é frequentemente apresentada pelos meios de comunicação em geral, como conservadora. Os desafios pessoais e comunitários enfrentados pelos cristãos para a vivência da castidade são, assim, enormes: Quais são os desafios sociais atuais para vivermos a castidade? Quais as lutas pessoais, os desafios relacionados ao autodomínio e a renúncia que temos que viver? Nos meios em
  • 8. que estamos inseridos – no trabalho, na família, na vida social – temos conseguido testemunhar a fé cristã católica? CONTEXTO CULTURAL Os padrões de relacionamento que caracterizam nosso cotidiano na atualidade são, muitas vezes, pautados em interesses imediatos e na possibilidade de retribuições. São marcados, frequentemente, pela busca de satisfação pessoal. Vivemos, deste modo, um tempo em que as relações pessoais têm a característica da superficialidade; as pessoas travam relacionamentos curtos e aparentes, de acordo com o que é mais satisfatório ou vantajoso, não se comprometem umas com as outras, não buscam conhecerem-se mais profundamente e, assim, assumir o chamado de Deus de ser dom para o outro. Além disso, vivemos em um mundo em que as pessoas prezam excessivamente pelo imediato, tudo precisa ser rápido; o trabalhador bom é avaliado pela produção gerada em um curto período de tempo, o computador precisar trabalhar rapidamente. Não sabemos esperar por nada: qualquer coisa que tenha um processo diferente do imediato nos parece lento, monótono, enfadonho. Rapidamente os objetos se tornam obsoletos, queremos sempre algo mais novo, mais potente ou mais ágil. Em suma, segundo o Documento de Aparecida, uma das marcas da cultura atual é valorização do descartável e do provisório. A fragmentação da concepção integral do homem na sua relação com o mundo e com Deus distorce a verdade sobre o homem e pode conduzi-lo a caminhos destrutivos. O individualismo característico do nosso tempo justifica a busca de satisfações individuais e imediatas em lugar do bem do outro. O individualismo enfraquece os vínculos comunitários e propõe uma radical transformação do tempo e do espaço, dando papel primordial à imaginação. Os fenômenos sociais, econômicos e tecnológicos estão na base da profunda vivência do tempo, o qual se concebe fixado no próprio presente, trazendo concepções de inconsistência e instabilidade. Deixa-se de lado a preocupação pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos
  • 9. dos indivíduos, à criação de novos e muitas vezes arbitrários direitos individuais, aos problemas da sexualidade, da família, das enfermidades e da morte. [...] Prefere-se viver o dia-a-dia, sem programas a longo prazo nem apegos pessoais, familiares e comunitários. As relações humanas estão sendo consideradas objetos de consumo, conduzindo as relações afetivas sem compromisso responsável e definitivo (Documento de Aparecida n. 44 e 46). As características da sociedade atual se refletem, evidentemente, nos relacionamentos pessoais: as pessoas dizem umas para outras que o amor acabou, unem-se e separam-se rapidamente, descartam pessoas motivadas a viver uma experiência nova e descompromissada. É necessário, assim, à luz da Palavra de Deus, lançar um olhar crítico sobre a sociedade atual. É prudente que julguemos, sob essa Luz, os modos e padrões de relacionamento que são apresentados. Os pensamentos de Deus não são os pensamentos dos homens; Ele [Deus] nos convida a viver um amor sublime, a enxergar os outros como imagem e semelhança Sua. Cristo nos revelou o amor que edifica o outro, que o eleva e o introduz em um caminho de felicidade e santidade. Esse amor o Senhor nos convida a viver em qualquer estado de vida, em todas as vocações que há na igreja. A sexualidade, enquanto modalidade de relacionamento tem como fim o amor, ela é plenamente realizada no amor. Na atualidade, a dimensão da sexualidade e da afetividade humana, como algo que abrange os diferentes aspectos da pessoa, está fragmentada. Percebemos na fala das pessoas ou na mídia, um jeito de viver no qual as relações humanas são superficiais; o sexo é banalizado, separado do amor e vivido em relações sem solidez que rapidamente se desfazem. O corpo humano, que é sagrado e templo do Espírito Santo, torna-se objeto de sedução e prazer. O gênero sexual é um elemento constitutivo da pessoa humana e também um diferenciador. O corpo humano, seu sexo, a masculinidade e a feminilidade integram dimensões da sexualidade e afetividade humana que se expressam no ser homem e no ser mulher. Trata-se de um dom que realiza o
  • 10. sentido de ser e existir da pessoa humana. O Catecismo da Igreja Católica no número 364 afirma: O corpo2 do homem participa da dignidade da imagem de Deus, ele é corpo humano precisamente porque é animado pela alma espiritual, e é a pessoa humana inteira que está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do Espírito. Para reflexão e partilha: Quais as influências da sociedade atual em nossas vivências de um modo geral e, particularmente, sobre o exercício da castidade? O que pensamos sobre as características de nossa sociedade? Como nos inserimos e vivemos em meio a essa realidade? ENCONTRO COM DEUS Quando Israel era jovem comecei a amá-lo e do Egito chamei meu filho. Quanto mais o chamava, tanto mais ele corria de mim (Oséias 11,1) O Senhor deseja nos conduzir e nos ensinar a amá-lo para, a partir dessa experiência, irmos ao encontro dos outros. É necessário, em primeiro lugar, deixar-se amar; não nos fechemos em nossas dificuldades e barreiras para vivenciar uma afetividade plena. A vivência madura de nossa afetividade leva-nos a estarmos disponíveis ao amor. Com serenidade e simplicidade, a gostar dos sinais de afeto que os outros demonstram e de estabelecer relações humanas profundas e sadias (CENCINI, 2002). Todo ser humano quer e precisa ser amado em sua singularidade. É fundamental, deste modo, que todo ser humano seja “tocado” por um amor que acolhe, compreende, edifica e o leve a conhecer e desenvolver suas 2 Os números 1004 e 2031 do Catecismo também fazem referência ao corpo e nos ajuda a compreender sua dimensão na vivência da fé.
  • 11. potencialidades. Olhando o mundo ao nosso redor, nas letras das músicas seculares, por exemplo, percebemos o anseio das pessoas por amor e felicidade; mas muitas vezes a forma de amar vivida pelos homens gera escravidão, sofrimentos, infelicidades e pode até se tornar um vício. As pessoas buscam incessantemente o amor e muitas vezes se iludem porque partem da premissa de satisfazer suas necessidades pessoais, de serem amadas; Essa busca excessiva do amor, em seu egoísmo, escraviza e é ilusória; quanto mais buscamos a nossa própria satisfação, mais exigentes seremos e menos saciados estaremos. A desconfiança, a raiva, o ciúme podem fazer adoecer o amor e os nossos relacionamentos. Fomos criados para a felicidade e a realização pessoal; somos chamados a buscá-la [a felicidade], mas apenas a “experiência transcendente” nos leva ao verdadeiro sentido do amor. Pensemos, mais uma vez, na realidade atual e na forma como as pessoas se relacionam em geral e buscam seus pares: O que orienta as pessoas? Quais são os critérios para relacionar-se? Muitas pessoas se unem a outras na busca de sua própria satisfação, ou de vantagens, se preocupam excessivamente consigo mesmas. De acordo com Cencini (2002), essas pessoas estão presas ao nível da relação meramente corporal e muitas vezes, o relacionamento com esse parâmetro traz problemas na área afetivo-sexual. Viver o corpo como um dom é viver a renúncia, a doação de si, até de suas qualidades físicas como um dom a serviço do verdadeiro ideal. Ou seja, é realizar aquilo que o homem realmente é e que é chamado a ser. O corpo como dom e não como posse, nos leva à coragem da entrega de si, do martírio, do comprometimento. Aqueles que são chamados ao matrimônio vivem a doação de si em todas as dimensões de seu ser a fim de realizarem-se plenamente e, ao mesmo tempo favorecer a plena realização do outro. As pessoas que são chamadas a uma vida consagrada exclusivamente a Deus, oferecem também o corpo como dom. A renúncia, neste caso, da dimensão genital dimensiona a
  • 12. afetividade para além do componente corporal. Segundo Cencini (2002) a “superação” da dimensão corporal e o abster-se do prazer genital conduz a pessoa a viver alegrias profundas do relacionamento humano. O verdadeiro amor liberta nosso coração e nos leva a amar de maneira desinteressada. A decisão por essa forma de amar nos conduz a sentirmos amados; ensina-nos, de forma generosa, a doar-nos e sermos capazes de receber. Perceberemos o quanto somos amados e isso nos trará grande alegria: “quando alguém ama aí Deus se faz presente” (Cencini, 2002). O verdadeiro amor compreende a outra pessoa na sua singularidade e na sua diferença, acolhe-a. É o amor que sustenta esse processo porque aceita e acolhe a pessoa como ela realmente é e não como uma imagem ou algo que gostaria que fosse. Deus nos convida a amar os outros como Ele nos ama e fazer uma experiência com Ele, não apenas com o intuito de satisfazer nossa necessidade pessoal, mas para nos abrirmos ao outro. Jesus respondeu: O primeiro de todos os mandamentos é este: [...] que ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força. O segundo mandamento é este: Ame o seu próximo como a si mesmo. (Mc 12,29-31). Aquele que ama relaciona-se de forma benévola com tudo e com todos: consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo a sua volta. É a pessoa que acolhe, contempla e faz bem a todos que dela se aproximam; a pessoa que ama é misericordiosa e branda. Jesus em sua humanidade acolheu as crianças, foi misericordioso com os pecadores, envolvia e cativava os que estavam a sua volta com sua palavra, com seu olhar de ternura, com seu zelo com as pessoas e com toda sua humanidade. Jesus, de braços abertos na cruz – com essa atitude de liberdade – nos comunica seu amor infinito. Deus atrai o ser humano para Si, é apaixonado por ele e quer conquistá-lo. Há vários relatos nos textos bíblicos que ilustram o encontro de Deus com os homens e como estes, numa relação intensa e amorosa, foram
  • 13. seduzidos por Ele. É o caso, por exemplo, do profeta Jeremias e Isaias e do apóstolo Paulo. Todavia, o Amor de Deus é exigente, pede renúncia, nos põe a prova, nos propõe a cruz. Tudo isso será vivido com nossa decisão de abraçarmos e nos apaixonarmos por Deus. Trata-se de uma resposta a quem nos amou primeiro e nos convida a uma relação de amor: “Com amor eterno te amei; por isso mantive por tanto tempo a fidelidade a ti”. (Jr 31,3) O amor incondicional e absoluto é atributo apenas do amor divino. Por mais bem sucedida que seja uma experiência afetiva e amorosa, (não falo apenas de relacionamento entre homem e mulher, mas dos nossos relacionamentos com a família, com os amigos e com a comunidade) ela terá os seus limites porque somos humanos e temos nossas fraquezas; ninguém é capaz de nos amar como o Senhor nos ama. Assim, mergulhar no amor de Deus é condição fundamental para construirmos relacionamentos saudáveis e duradouros. A felicidade que cada pessoa busca e necessita, voltamos a afirmar, não está nas pessoas ou nas coisas. É imprescindível um encontro pessoal com Deus, deixar-se amar por Ele e, a partir desse encontro, dessa intimidade, seremos impelidos pelo Senhor a irmos ao encontro daqueles que Ele mesmo proporciona para vivermos a aventura, a beleza e a ousadia de amar e de se relacionar. O aspecto humano do amor de Deus por nós manifestou-se na pessoa de Jesus. Deixemo-nos fascinar pela pessoa de Jesus, é Ele quem torna plena nossa vida, muda-a, nos faz verdadeiramente livres, toca profundamente nosso coração com sua Palavra que ilumina todos os aspectos de nosso ser e nos dá um novo sentido à vida. Os místicos, alguns santos, por exemplo, tiveram uma experiência com Deus de forma a abranger a sexualidade; os místicos não dissociam espiritualidade de sexualidade, a experiência do amor de Deus envolve, portanto, todo o ser. O termo experiência mística significa a experiência daquilo que Deus realiza em nós, é a ação misteriosa de Deus em nós (CENCINI, 2002). É
  • 14. necessário que a pessoa se disponha, em atitudes concretas, a acolher a ação de Deus. Que a oração diária, nossa intimidade e amizade com Deus, nos transformem e nos convençam a respeito daquilo que realmente somos e, que nos façam ouvir com clareza, nosso chamado. Oração e reflexão Contemplemos Jesus, em sua humanidade e em seus inúmeros encontros com as pessoas. Deixemo-nos amar por Ele, deixemos que Seu olhar e suas palavras nos envolvam e nos cure. Convido a todos a meditarmos nessa passagem: “Tu és meu filho amado, em ti encontro o meu agrado” (Mc 1,11) Nós somos filhos amados do Senhor e Ele se afeiçoa a cada de um nós. Que o nosso coração se abra à experiência do Amor de Deus. Que esse amor invada os abismos de nossa alma, percorra conosco a nossa história, cure nossa sexualidade e afetividade, nos ilumine e nos conduza a uma vida nova. REFERÊNCIAS CENCINI, Amedeo. Amarás o Senhor teu Deus. Tradução M. T. Voltarelli. São Paulo, Paulinas, 2002. COELHO, Márcio Marcelo. Sexualidade: o que os jovens sabem e pensam. São Paulo: Editora Canção Nova, 2010. GRÜN, Anselm. Abra o seu coração para o amor; tradução Sidnei Vilmar Noé – Petropólis, RJ: Vozes, 2010. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola/Vozes/Paulinas/Ave Maria/Paulus, 1998. Conselho Pontifício para a Família. Sexualidade Humana: Verdade e Significado. Orientações Educativas em Família. Paulinas, 2009.
  • 15. Conselho Episcopal Latino Americano. Documento de Aparecida. Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. 13-31 de maio de 2007. Edições: Paulus, Paulinas e CNBB. Mozer, Frei A. Sexualidade: Felicidade ao alcance de todos. Vida Pastoral de nov./dez. de 2004. Sugestões de leitura AQUINO, F. R. Q. Família, Santuário de Vida – Vida Conjugal e Educação dos Filhos. 9ª Ed. São Paulo, Ed. Cleófas. LÉO, Padre. Sede fecundos. 12 ed. São Paulo: Canção Nova, 2008. MOHANAM J. A Vida Sexual dos Solteiros e Casados. São Paulo: Edições Loyola, 4 edição, 2009. AGOSTINI, N. Sexualidade e realização humana: a proposta da igreja católica Religião e Cultura (PUC-SP), vol. VII, n° 13, junho de 2008, p. 71-82.