SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  5
Télécharger pour lire hors ligne
"O Rio civiliza-se": sonhos e pesadelos da cidade moderna
Mônica Pimenta Veloso

No início do século XX, sob o governo Rodrigues Alves (1902-1906), assiste-se à
implementação do projeto modernizador no Rio de Janeiro. Tal projeto implicaria na
remodelação, higienização e saneamento da cidade, assim como na abertura de novas
avenidas e obras de reforma do cais do porto.
A intenção era a de tornar o Rio uma "Europa possível", e, para isso, era necessário
esconder ou mesmo destruir o que significava atraso ou motivo de vergonha aos olhos
das nossas elites. Vielas escuras e esburacadas, epidemias, becos mal afamados,
cortiços, povo, pobreza destoavam visivelmente do modelo civilizatório sonhado.
Face às revolucionárias conquistas do mundo moderno, como a vacina, o automóvel, a
luz elétrica, a fotografia, o cinematógrafo, era inadmissível que o Rio - capital da
República - mantivesse ainda as feições de uma cidade colonial. Baseadas nesses
argumentos, as nossas elites endossam com euforia o slogan, criado pelo cronista
Figueiredo Pimentel, que logo iria se tornar célebre: "O Rio civiliza-se" (Machado Neto,
1973). Era uma espécie de ordem.
Pressionado pelos interesses do capital internacional que exigia o controle das doenças
tropicais, o governo assume como sua meta prioritária a bandeira do saneamento. Ao
atrelar o projeto sanitário de Osvaldo Cruz ao projeto de reforma urbana, as autoridades
públicas tentavam minimizar o caráter autoritário e repressivo das medidas
modernizadoras. Em nome do saneamento científico e do progresso, a administração
pública vai converter o espaço urbano em valiosa fonte de arrecadação de capital.
Alegando garantir melhores condições de vida à população pobre, o governo
desapropria e põe abaixo grande parte dos prédios e casarões das ruas centrais da
cidade. Desalojadas do centro, as camadas populares são obrigadas a se deslocarem para
os subúrbios e favelas da periferia (Bodstein, 1986).
Com a construção da avenida Beira-Mar fica facilitado o acesso à zona sul,
configurando-se essa como local de moradia das classes mais abastadas. Surgem as
mansões art-nouveau de Botafogo, Gávea, Jardim Botânico e Laranjeiras, local da
residência de Pereira Passos, prefeito da cidade e autor do projeto urbanístico.
Confeitaria Carceler, na
rua Direita, ponto elegante
do Rio antigo (foto Marc
Ferrez).

Esta distribuição geográfica da população vai se constituir
na própria razão ordenadora do projeto, que busca
desenhar a "cidade ideal". A ordem social hierárquica é
transposta para uma ordem distributiva geométrica que
polariza norte (povo) e centro-sul (elites). Tal ordenação
do espaço físico revela claramente as intenções elitistas
do projeto:
O sonho de uma ordem servia para perpetuar o poder e
conservar a estrutura socioeconômica e cultural que esse
poder garantia. (Rama, 1985:32.)

De modo geral, essas são as linhas do projeto modernizador ocidental, inspirado
diretamente na remodelação de Paris. Por volta de 1880, sob o reinado de Napoleão III e
com o apoio do prefeito Haussmann, aquela cidade inaugura um modelo urbanístico que
viria a se tornar universal. Tal modelo transformaria a capital em um verdadeiro
espetáculo para os olhos e sentidos, dando origem à moderna geração de escritores,
pintores e fotógrafos (Berman, 1987: 127-59, "Baudelaire").
O Rio de Janeiro não foge à regra. No traçado arquitetônico de suas fachadas, avenidas,
jardins e bulevares, vemos reproduzir-se o sonho parisiense. A fotografia de Malta, a
pintura de Gustavo Dallara e os escritos de João do Rio e Lima Barreto se inspiram
diretamente na temática da modernidade urbana. Entretanto, como na poética
baudelairiana, eles se mostram sensíveis aos conflitos e contradições da metrópole
carioca.
A câmara de Malta, o pincel de Gustavo e a pena de Lima Barreto e João do Rio não se
detêm apenas na moderna cidade que surge. Eles também retratam, com igual paixão, a
cidade que desaparece: sobrados coloniais, quiosques, mafuás, mercados suburbanos,
favelas e morros tradicionais; tipos populares como os vendedores ambulantes,
seresteiros, funileiros e colhedores de carvão.
Já se conhece o caráter excludente do projeto modernizador em relação às camadas
populares. Imposto de forma autoritária, este iria entrar diretamente em confronto com
os anseios e tradições populares.
Neste contexto, onde é consagrado o modelo cultural cosmopolita, a identificação com
os grupos nativos está totalmente fora de cogitação. É pela cartilha do darwinismo
social que as nossas elites vão interpretar a realidade brasileira. Já se sabe a que
conclusões conduz tal leitura: o nativo é identificado como elemento inferior.
Responsabilizado pelo nosso atraso cultural e econômico, o mestiço se transforma em
motivo de vergonha nacional. Assim, para "recuperar" o país aos olhos das nações
européias, a única alternativa é a de esquecer esse Brasil mestiço...
A Nação passa a ser pensada em termos de natureza, já que a raça se constitui em
elemento prejudicial à idéia de unidade. Não apenas a raça, mas a religião e a língua são
identificadas com a diversidade, encarando-se esta como uma ameaça ao projeto de
integração nacional (Oliveira, 1986, "Belle Époque"). Neste contexto, em que a
diversidade cultural ameaça, a geografia e a natureza se transformam numa espécie de
tábua de salvação da nacionalidade e verdadeiro parâmetro para a ação política. Datam
dessa época uma série de obras que associam a Nação ao território, argumentando ser a
geografia a razão da nossa grandeza. Se o fator humano e o cultural causam "pejo", o
elemento natureza compensa magnificamente. O livro de Afonso Celso, Porque me
ufano do meu país, publicado em 1900, é o que melhor representa essa visão. Ao longo
da primeira década do século XX, a ideologia ufanista assume força inédita entre as
nossas elites políticas e intelectuais. O raciocínio desenvolve-se da seguinte forma: se a
raça avilta a Nação, a geografia a redime.
Na revista Kosmos, publicação destinada a difundir o novo modelo de sociedade, essa
idéia aparece de forma clara. "Ao redor e através do Brasil" e "Recordações de viagem"
são seções destinadas a enaltecer a nossa grandeza territorial, sua beleza ímpar e riqueza
de recursos inédita. Os igarapés do Amazonas, as montanhas de Minas, o território do
Acre são assuntos de longas e minuciosas reportagens, cuidadosamente documentadas
através de fotografias, ilustrações e mapas.
Neste contexto, onde a grandeza da Nação é atribuída ao território, a questão da
diversidade cultural não entra em pauta. Procura-se todo o tempo desconhecê-la. O
modelo cultural da Belle Époque é intolerante, impondo rígidos padrões de
sensibilidade, gosto e cultura.
Sacudidas pelo afã modernizador, as nossas elites mostram-se intransigentes com as
tradições populares. A alteridade é vista com profunda desconfiança, constituindo-se
mesmo em ameaça aos padrões civilizatórios idealizados. Assim, as manifestações
populares são identificadas com a barbárie, selvageria e primitivismo. Apesar de tantas
condições adversas, a cultura popular consegue sobreviver, criando estratégias próprias
de defesa. Um exemplo dessa resistência cultural é a casa da tia Ciata. Agregando
elementos marginalizados pelas propostas modernizadoras - normalmente ex-escravos -,
a tia Ciata, através do candomblé, consegue criar uma verdadeira comunidade popular.
Liderada pelos elementos negros, oriundos da Bahia, essa comunidade vai oferecer
alternativas de organização fora dos modelos da rotina fabril. Rejeitando os padrões
vigentes - fornecidos pelos sindicatos anarquistas - essa comunidade se estutura a partir
dos centros religiosos e festas (Moura, 1983).
O objetivo é o de garantir a permanência das tradições africanas que eram totalmente
discriminadas pela ideologia da Belle Époque. Entre nós, o terreiro funciona como
espaço delimitado da cultura negra, capaz de garantir, através dos rituais, a
solidariedade comunitária. A música, dança, canto, narração, artesanato, cozinha
aparecem, então, como algumas das possibilidades discursivas dessa cultura (Sodré,
1983: 117-82, "A cultura negra").
Essa idéia de pertencimento a uma comunidade, à qual se deve obrigações e respeito, é
clara. Não é à toa que os ranchos carnavalescos da época tinham uma obrigação: a de ir
cumprimentar as tias Ciata e Bibiana (Efegê, 1982: 131). Fazia parte do ritual
reverenciar as "tias" ou, mais propriamente, o terreiro. Essa prática denota o
reconhecimento e a legitimidade da comunidade negra encarnada pelas referidas
figuras.
Casada com um funcionário do gabinete do chefe de Polícia, a tia Ciata consegue
garantir a inviolabilidade da sua casa das investidas policiais. Estava assegurado, dessa
forma, um espaço cultural que seria de fundamental importância na história social do
Rio de Janeiro. Pois é dessa comunidade negra que nasce o embrião da cultura popular
carioca. Incorporando elementos de diversos códigos culturais, fornecidos pelos
migrantes nordestinos e latinos europeus, o referido grupo consegue habilmente
harmonizá-los, fazendo valer a sua liderança (Moura, 1983:58).
A influência desse grupo, disposto a resistir às investidas modernizadoras da Belle
Époque, tem sido minimizada pela nossa história social. Na realidade, a europeização da
cultura brasileira não foi aceita tão passivamente quanto se supõe. A denominação de
"Pequena África" à Cidade Nova registra o anseio de uma comunidade - que não se
reconhece enquanto branca - de fazer valer a sua identidade. Essa Pequena África vai se
constituir em um verdadeiro desafio à cidade ideal, quando oferece modelos alternativos
de integração.
Daí a repressão sistemática desencadeada pelo governo em relação às camadas
populares. Trata-se não apenas de deslocá-las do centro da cidade, mas de deslocá-las
também do eixo de influência da vida nacional. A modernização exige que se ponham
abaixo as construções antigas, da mesma forma que exige a extinção das manifestações
culturais tradicionais. Essa exigência é vista na época como uma espécie de fatalidade
imposta pelos novos tempos. Tal ponto de vista é defendido por um jornalista que
compara o morro do Castelo a um de seus habitantes: uma negra velha que dorme num
canto da rua. Ambos estariam fadados ao desaparecimento. O morro e a negra
representariam o passado e o espírito da tradição, que deve ser sacrificado na
instauração da modernidade (Fluminense, 1905).
Nos salões da moda, nos cafés e conferências literárias, a referência ao nativo atinge o
máximo de desqualificação. Falar nos "índios" era no mínimo deselegante,
inconveniente, gerando profundo mal-estar.
Essa ideologia da desqualificação é defendida com grande eficácia, tendo um raio de
ação maior do que se costuma supor. A Revista da Semana dá exemplos claros dessa
discriminação ideológica dirigida contra as mais variadas expressões da cultura popular.
Através de uma seção intitulada "Propaganda de higiene infantil", temos um exemplo
significativo dessa ofensiva ideológica. Em um dos seus artigos aparece um quadro
encimado pelos seguintes dizeres: "Os amuletos e crendices prejudiciais". Abaixo, fotos
e ilustrações de breves, figas e amuletos. Finalizando, temos a conclusão e o alerta: "As
crendices desta ordem são indício de ignorância. Muitas dessas bugigangas são
perigosas e todas inúteis".
Detalhe importante: esse quadro era afixado no hall de entrada das escolas, portanto
forçosamente era objeto de atenção dos olhos infantis. O ideal de assepsia é claramente
enunciado. Trata-se de uma questão de higiene não se envolver com as "bugigangas"
dos negros. Pela retórica das elites, a cidade ideal é a cidade higiênica. As camadas
pauperizadas são prontamente identificadas com a insalubridade, com a sujeira. Suas
superstições são atestado de atraso e ignorância, impedindo a realização do sonho da
cidade ideal.
Mas, logo adiante, num outro artigo, a própria revista acaba mostrando que não tem
nada contra a superstição. Tão antiga quanto a humanidade, a superstição já faz parte do
coração humano. Impossível extirpá-la, principalmente entre as mulheres. Feitas tais
considerações, a revista sugere o uso de porte-bonheurs, de acordo com a influência dos
astros. Um dicionário de ciências ocultas determina os dias da semana em que tal e tal
pedra preciosa devem ser usadas. O mago é francês, naturalmente...
Fragmento de As tradições populares na Belle Époque carioca. Rio de Janeiro,
Funarte/Instituto Nacional do Folclore, 1988, pp.11-17.
Mônica Veloso é pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas. É autora de O
modernismo. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas Editora, 1996.

Contenu connexe

Tendances

Escravidão racial o legado do racismo aula de história prof. silvânio barcelos
Escravidão racial o legado do racismo  aula de história prof. silvânio barcelosEscravidão racial o legado do racismo  aula de história prof. silvânio barcelos
Escravidão racial o legado do racismo aula de história prof. silvânio barcelosSilvânio Barcelos
 
Geo Urb 2.pptx
Geo Urb 2.pptxGeo Urb 2.pptx
Geo Urb 2.pptxvpcsilva
 
A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas mirza ...
A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza ...A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza ...
A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas mirza ...Prefeitura Municipal de Campinas
 
UrbanizaÇao Brsileira
UrbanizaÇao BrsileiraUrbanizaÇao Brsileira
UrbanizaÇao Brsileiralucianno
 
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...Vanessa Faria
 
Hebe Mattos: Remanescentes das comunidades dos quilombos
Hebe Mattos: Remanescentes das comunidades dos quilombosHebe Mattos: Remanescentes das comunidades dos quilombos
Hebe Mattos: Remanescentes das comunidades dos quilombosGeraa Ufms
 
Geo Urb 3.pptx
Geo Urb 3.pptxGeo Urb 3.pptx
Geo Urb 3.pptxvpcsilva
 
Sociedadeculturaecotidianonobrasilimperial 110508083108-phpapp02
Sociedadeculturaecotidianonobrasilimperial 110508083108-phpapp02Sociedadeculturaecotidianonobrasilimperial 110508083108-phpapp02
Sociedadeculturaecotidianonobrasilimperial 110508083108-phpapp02Italo Henrique Borges Silva
 
Pré modernismo novo (1)
Pré modernismo novo (1)Pré modernismo novo (1)
Pré modernismo novo (1)Leticia Araújo
 
Maria encarnação beltrão sposito capitalismo e urbanização (pdf) (rev)
Maria encarnação beltrão sposito   capitalismo e urbanização (pdf) (rev)Maria encarnação beltrão sposito   capitalismo e urbanização (pdf) (rev)
Maria encarnação beltrão sposito capitalismo e urbanização (pdf) (rev)naoutu
 
SEMANA DO FERA - PRIMEIRO ANO
SEMANA DO FERA - PRIMEIRO ANOSEMANA DO FERA - PRIMEIRO ANO
SEMANA DO FERA - PRIMEIRO ANOPaulo Alexandre
 

Tendances (18)

História 2007
História 2007História 2007
História 2007
 
1264
12641264
1264
 
Escravidão racial o legado do racismo aula de história prof. silvânio barcelos
Escravidão racial o legado do racismo  aula de história prof. silvânio barcelosEscravidão racial o legado do racismo  aula de história prof. silvânio barcelos
Escravidão racial o legado do racismo aula de história prof. silvânio barcelos
 
Geo Urb 2.pptx
Geo Urb 2.pptxGeo Urb 2.pptx
Geo Urb 2.pptx
 
A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas mirza ...
A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza ...A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza ...
A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas mirza ...
 
UrbanizaÇao Brsileira
UrbanizaÇao BrsileiraUrbanizaÇao Brsileira
UrbanizaÇao Brsileira
 
Romantismo
RomantismoRomantismo
Romantismo
 
Preseed 2014-revisão 10
Preseed 2014-revisão 10Preseed 2014-revisão 10
Preseed 2014-revisão 10
 
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
O outro lado da Abolição: o envolvimento dos maçons e dos negros no processo ...
 
~URBANIZAÇÃO YAGO 1VB
~URBANIZAÇÃO YAGO 1VB~URBANIZAÇÃO YAGO 1VB
~URBANIZAÇÃO YAGO 1VB
 
Espaços sagrados v.2013
Espaços sagrados v.2013Espaços sagrados v.2013
Espaços sagrados v.2013
 
Hebe Mattos: Remanescentes das comunidades dos quilombos
Hebe Mattos: Remanescentes das comunidades dos quilombosHebe Mattos: Remanescentes das comunidades dos quilombos
Hebe Mattos: Remanescentes das comunidades dos quilombos
 
Geo Urb 3.pptx
Geo Urb 3.pptxGeo Urb 3.pptx
Geo Urb 3.pptx
 
Sociedadeculturaecotidianonobrasilimperial 110508083108-phpapp02
Sociedadeculturaecotidianonobrasilimperial 110508083108-phpapp02Sociedadeculturaecotidianonobrasilimperial 110508083108-phpapp02
Sociedadeculturaecotidianonobrasilimperial 110508083108-phpapp02
 
Raizes do brasil
Raizes do brasilRaizes do brasil
Raizes do brasil
 
Pré modernismo novo (1)
Pré modernismo novo (1)Pré modernismo novo (1)
Pré modernismo novo (1)
 
Maria encarnação beltrão sposito capitalismo e urbanização (pdf) (rev)
Maria encarnação beltrão sposito   capitalismo e urbanização (pdf) (rev)Maria encarnação beltrão sposito   capitalismo e urbanização (pdf) (rev)
Maria encarnação beltrão sposito capitalismo e urbanização (pdf) (rev)
 
SEMANA DO FERA - PRIMEIRO ANO
SEMANA DO FERA - PRIMEIRO ANOSEMANA DO FERA - PRIMEIRO ANO
SEMANA DO FERA - PRIMEIRO ANO
 

Similaire à O Rio se moderniza: sonhos e realidades do projeto urbanístico

A utopia da cidade ideal, modernidade, controle e tensão no cotidiano de brag...
A utopia da cidade ideal, modernidade, controle e tensão no cotidiano de brag...A utopia da cidade ideal, modernidade, controle e tensão no cotidiano de brag...
A utopia da cidade ideal, modernidade, controle e tensão no cotidiano de brag...Aldair José Batista Guarani Kaiowá
 
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007Elisio Estanque
 
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007Elisio Estanque
 
da cultura popular a cultura negra
da cultura popular a cultura negrada cultura popular a cultura negra
da cultura popular a cultura negraAlex Sandro
 
A questão racial presente na sintese de macunaima araujo e neves
A questão racial presente na sintese de macunaima   araujo e nevesA questão racial presente na sintese de macunaima   araujo e neves
A questão racial presente na sintese de macunaima araujo e nevesMonitoria Contabil S/C
 
IntroduçãO6
IntroduçãO6IntroduçãO6
IntroduçãO6rogerio
 
História das favelas
História das favelasHistória das favelas
História das favelascarlsojsb
 
IntroduçãO2
IntroduçãO2IntroduçãO2
IntroduçãO2rogerio
 
"O que o rei não viu": música popular e nacionalidade no RJ da 1ª República
"O que o rei não viu": música popular e nacionalidade no RJ da 1ª República"O que o rei não viu": música popular e nacionalidade no RJ da 1ª República
"O que o rei não viu": música popular e nacionalidade no RJ da 1ª RepúblicaalfeuRIO
 
“Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
 “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç... “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
“Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...Emerson Mathias
 
Paper - As Transformações do cenário...
Paper - As Transformações do cenário...Paper - As Transformações do cenário...
Paper - As Transformações do cenário...Emerson Mathias
 
Romantismo
RomantismoRomantismo
Romantismovinivs
 

Similaire à O Rio se moderniza: sonhos e realidades do projeto urbanístico (20)

A utopia da cidade ideal, modernidade, controle e tensão no cotidiano de brag...
A utopia da cidade ideal, modernidade, controle e tensão no cotidiano de brag...A utopia da cidade ideal, modernidade, controle e tensão no cotidiano de brag...
A utopia da cidade ideal, modernidade, controle e tensão no cotidiano de brag...
 
Artigo publicar
Artigo publicarArtigo publicar
Artigo publicar
 
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
 
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
Opiniao 2b cultura popular (2), 2007
 
Etnia, cultura e cidadania
Etnia, cultura e cidadaniaEtnia, cultura e cidadania
Etnia, cultura e cidadania
 
da cultura popular a cultura negra
da cultura popular a cultura negrada cultura popular a cultura negra
da cultura popular a cultura negra
 
A questão racial presente na sintese de macunaima araujo e neves
A questão racial presente na sintese de macunaima   araujo e nevesA questão racial presente na sintese de macunaima   araujo e neves
A questão racial presente na sintese de macunaima araujo e neves
 
IntroduçãO6
IntroduçãO6IntroduçãO6
IntroduçãO6
 
História das favelas
História das favelasHistória das favelas
História das favelas
 
IntroduçãO2
IntroduçãO2IntroduçãO2
IntroduçãO2
 
"O que o rei não viu": música popular e nacionalidade no RJ da 1ª República
"O que o rei não viu": música popular e nacionalidade no RJ da 1ª República"O que o rei não viu": música popular e nacionalidade no RJ da 1ª República
"O que o rei não viu": música popular e nacionalidade no RJ da 1ª República
 
“Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
 “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç... “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
“Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relaç...
 
2-2020 art Cult pop.pdf
2-2020 art Cult pop.pdf2-2020 art Cult pop.pdf
2-2020 art Cult pop.pdf
 
Cul pop tradicao art.pdf
Cul pop tradicao art.pdfCul pop tradicao art.pdf
Cul pop tradicao art.pdf
 
Geo urb a08
Geo urb a08Geo urb a08
Geo urb a08
 
Arte afro brasileira
Arte afro brasileiraArte afro brasileira
Arte afro brasileira
 
07
0707
07
 
Raizes do brasil
Raizes do brasilRaizes do brasil
Raizes do brasil
 
Paper - As Transformações do cenário...
Paper - As Transformações do cenário...Paper - As Transformações do cenário...
Paper - As Transformações do cenário...
 
Romantismo
RomantismoRomantismo
Romantismo
 

Plus de Adilson P Motta Motta

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO - PROJETO POEMA
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO - PROJETO POEMACRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO - PROJETO POEMA
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO - PROJETO POEMAAdilson P Motta Motta
 
A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA INGLESA POR MEIO...
A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA INGLESA POR MEIO...A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA INGLESA POR MEIO...
A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA INGLESA POR MEIO...Adilson P Motta Motta
 
UM ESTUDO SOBRE A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA ...
UM ESTUDO SOBRE A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA ...UM ESTUDO SOBRE A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA ...
UM ESTUDO SOBRE A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA ...Adilson P Motta Motta
 
As várias faces do ópio do Povo.pdf
As várias faces do ópio do Povo.pdfAs várias faces do ópio do Povo.pdf
As várias faces do ópio do Povo.pdfAdilson P Motta Motta
 
pdf MONTANDO UMA REDACAO - PASSO A PASSO.pdf
pdf MONTANDO UMA REDACAO - PASSO A PASSO.pdfpdf MONTANDO UMA REDACAO - PASSO A PASSO.pdf
pdf MONTANDO UMA REDACAO - PASSO A PASSO.pdfAdilson P Motta Motta
 
Projeto Escolar - História de Bom Jardim-MA.pdf
Projeto Escolar - História de Bom Jardim-MA.pdfProjeto Escolar - História de Bom Jardim-MA.pdf
Projeto Escolar - História de Bom Jardim-MA.pdfAdilson P Motta Motta
 
LEI ORGÂNICA DE BOM JARDIM-MA 2020.pdf
LEI ORGÂNICA DE BOM JARDIM-MA 2020.pdfLEI ORGÂNICA DE BOM JARDIM-MA 2020.pdf
LEI ORGÂNICA DE BOM JARDIM-MA 2020.pdfAdilson P Motta Motta
 
DESAFIOS DAS ESCOLA MULTISSERIADAS EM BOM JARDIM-MA..pdf
DESAFIOS DAS ESCOLA MULTISSERIADAS EM BOM JARDIM-MA..pdfDESAFIOS DAS ESCOLA MULTISSERIADAS EM BOM JARDIM-MA..pdf
DESAFIOS DAS ESCOLA MULTISSERIADAS EM BOM JARDIM-MA..pdfAdilson P Motta Motta
 
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL INGLÊS SÓ ENEM
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL INGLÊS  SÓ ENEMINTERPRETAÇÃO TEXTUAL INGLÊS  SÓ ENEM
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL INGLÊS SÓ ENEMAdilson P Motta Motta
 
LEI ORGANICA DE BOM JARDIM-MA. 2022 - ATUALIZADA.pdf
LEI ORGANICA DE BOM JARDIM-MA. 2022 - ATUALIZADA.pdfLEI ORGANICA DE BOM JARDIM-MA. 2022 - ATUALIZADA.pdf
LEI ORGANICA DE BOM JARDIM-MA. 2022 - ATUALIZADA.pdfAdilson P Motta Motta
 
VALE -PRIVATIZAÇÃO A SAÍDA OU O FUNDO DO POÇO.pptx
VALE -PRIVATIZAÇÃO A SAÍDA OU O FUNDO DO POÇO.pptxVALE -PRIVATIZAÇÃO A SAÍDA OU O FUNDO DO POÇO.pptx
VALE -PRIVATIZAÇÃO A SAÍDA OU O FUNDO DO POÇO.pptxAdilson P Motta Motta
 
01- LINGUAGEM INDÍGENA 5 PRIMEIRAS PÁGINAS.pdf
01-  LINGUAGEM INDÍGENA 5 PRIMEIRAS PÁGINAS.pdf01-  LINGUAGEM INDÍGENA 5 PRIMEIRAS PÁGINAS.pdf
01- LINGUAGEM INDÍGENA 5 PRIMEIRAS PÁGINAS.pdfAdilson P Motta Motta
 
Regimento do conselho municipal de educação bom j ardim - ma
Regimento do conselho municipal de educação   bom j ardim - maRegimento do conselho municipal de educação   bom j ardim - ma
Regimento do conselho municipal de educação bom j ardim - maAdilson P Motta Motta
 
Projeto programa educacao ambiental. bom jardim ma
Projeto programa educacao ambiental. bom jardim  maProjeto programa educacao ambiental. bom jardim  ma
Projeto programa educacao ambiental. bom jardim maAdilson P Motta Motta
 

Plus de Adilson P Motta Motta (20)

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO - PROJETO POEMA
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO - PROJETO POEMACRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO - PROJETO POEMA
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO - PROJETO POEMA
 
PDF LIVRO BOM JARDIM 2023.pdf
PDF LIVRO BOM JARDIM  2023.pdfPDF LIVRO BOM JARDIM  2023.pdf
PDF LIVRO BOM JARDIM 2023.pdf
 
A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA INGLESA POR MEIO...
A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA INGLESA POR MEIO...A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA INGLESA POR MEIO...
A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA INGLESA POR MEIO...
 
UM ESTUDO SOBRE A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA ...
UM ESTUDO SOBRE A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA ...UM ESTUDO SOBRE A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA ...
UM ESTUDO SOBRE A LEITURA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO DE LÍNGUA ...
 
As várias faces do ópio do Povo.pdf
As várias faces do ópio do Povo.pdfAs várias faces do ópio do Povo.pdf
As várias faces do ópio do Povo.pdf
 
pdf MONTANDO UMA REDACAO - PASSO A PASSO.pdf
pdf MONTANDO UMA REDACAO - PASSO A PASSO.pdfpdf MONTANDO UMA REDACAO - PASSO A PASSO.pdf
pdf MONTANDO UMA REDACAO - PASSO A PASSO.pdf
 
Projeto Escolar - História de Bom Jardim-MA.pdf
Projeto Escolar - História de Bom Jardim-MA.pdfProjeto Escolar - História de Bom Jardim-MA.pdf
Projeto Escolar - História de Bom Jardim-MA.pdf
 
LEI ORGÂNICA DE BOM JARDIM-MA 2020.pdf
LEI ORGÂNICA DE BOM JARDIM-MA 2020.pdfLEI ORGÂNICA DE BOM JARDIM-MA 2020.pdf
LEI ORGÂNICA DE BOM JARDIM-MA 2020.pdf
 
DESAFIOS DAS ESCOLA MULTISSERIADAS EM BOM JARDIM-MA..pdf
DESAFIOS DAS ESCOLA MULTISSERIADAS EM BOM JARDIM-MA..pdfDESAFIOS DAS ESCOLA MULTISSERIADAS EM BOM JARDIM-MA..pdf
DESAFIOS DAS ESCOLA MULTISSERIADAS EM BOM JARDIM-MA..pdf
 
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL INGLÊS SÓ ENEM
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL INGLÊS  SÓ ENEMINTERPRETAÇÃO TEXTUAL INGLÊS  SÓ ENEM
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL INGLÊS SÓ ENEM
 
LEI ORGANICA DE BOM JARDIM-MA. 2022 - ATUALIZADA.pdf
LEI ORGANICA DE BOM JARDIM-MA. 2022 - ATUALIZADA.pdfLEI ORGANICA DE BOM JARDIM-MA. 2022 - ATUALIZADA.pdf
LEI ORGANICA DE BOM JARDIM-MA. 2022 - ATUALIZADA.pdf
 
VALE -PRIVATIZAÇÃO A SAÍDA OU O FUNDO DO POÇO.pptx
VALE -PRIVATIZAÇÃO A SAÍDA OU O FUNDO DO POÇO.pptxVALE -PRIVATIZAÇÃO A SAÍDA OU O FUNDO DO POÇO.pptx
VALE -PRIVATIZAÇÃO A SAÍDA OU O FUNDO DO POÇO.pptx
 
01- LINGUAGEM INDÍGENA 5 PRIMEIRAS PÁGINAS.pdf
01-  LINGUAGEM INDÍGENA 5 PRIMEIRAS PÁGINAS.pdf01-  LINGUAGEM INDÍGENA 5 PRIMEIRAS PÁGINAS.pdf
01- LINGUAGEM INDÍGENA 5 PRIMEIRAS PÁGINAS.pdf
 
DICIONÁRIO TUPI - PORTUGUES.pdf
DICIONÁRIO TUPI - PORTUGUES.pdfDICIONÁRIO TUPI - PORTUGUES.pdf
DICIONÁRIO TUPI - PORTUGUES.pdf
 
A gramática do texto.ppt
A gramática do texto.pptA gramática do texto.ppt
A gramática do texto.ppt
 
A importância de falar inglês.ppt
A importância de falar inglês.pptA importância de falar inglês.ppt
A importância de falar inglês.ppt
 
Breve Resumo - Novo Ensino Médio
Breve Resumo -  Novo Ensino MédioBreve Resumo -  Novo Ensino Médio
Breve Resumo - Novo Ensino Médio
 
Frases à cidadania
Frases à cidadaniaFrases à cidadania
Frases à cidadania
 
Regimento do conselho municipal de educação bom j ardim - ma
Regimento do conselho municipal de educação   bom j ardim - maRegimento do conselho municipal de educação   bom j ardim - ma
Regimento do conselho municipal de educação bom j ardim - ma
 
Projeto programa educacao ambiental. bom jardim ma
Projeto programa educacao ambiental. bom jardim  maProjeto programa educacao ambiental. bom jardim  ma
Projeto programa educacao ambiental. bom jardim ma
 

Dernier

Linguagem verbal , não verbal e mista.pdf
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdfLinguagem verbal , não verbal e mista.pdf
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdfLaseVasconcelos1
 
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileirosMary Alvarenga
 
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptxErivaldoLima15
 
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdfHABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdfdio7ff
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosAntnyoAllysson
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfIedaGoethe
 
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASQUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASEdinardo Aguiar
 
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresSociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresaulasgege
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdf
Geometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdfGeometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdf
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdfDemetrio Ccesa Rayme
 
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024GleyceMoreiraXWeslle
 
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parteDança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira partecoletivoddois
 
Mini livro sanfona - Diga não ao bullying
Mini livro sanfona - Diga não ao  bullyingMini livro sanfona - Diga não ao  bullying
Mini livro sanfona - Diga não ao bullyingMary Alvarenga
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptxpamelacastro71
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfIedaGoethe
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveaulasgege
 
LIVRO A BELA BORBOLETA. Ziraldo e Zélio.
LIVRO A BELA BORBOLETA. Ziraldo e Zélio.LIVRO A BELA BORBOLETA. Ziraldo e Zélio.
LIVRO A BELA BORBOLETA. Ziraldo e Zélio.HildegardeAngel
 
AULA 7 - REFORMA PROTESTANTE SIMPLES E BASICA.pptx
AULA 7 - REFORMA PROTESTANTE SIMPLES E BASICA.pptxAULA 7 - REFORMA PROTESTANTE SIMPLES E BASICA.pptx
AULA 7 - REFORMA PROTESTANTE SIMPLES E BASICA.pptxrenatacolbeich1
 
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxacaciocarmo1
 

Dernier (20)

Linguagem verbal , não verbal e mista.pdf
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdfLinguagem verbal , não verbal e mista.pdf
Linguagem verbal , não verbal e mista.pdf
 
(76- ESTUDO MATEUS) A ACLAMAÇÃO DO REI..
(76- ESTUDO MATEUS) A ACLAMAÇÃO DO REI..(76- ESTUDO MATEUS) A ACLAMAÇÃO DO REI..
(76- ESTUDO MATEUS) A ACLAMAÇÃO DO REI..
 
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
 
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
6°ano Uso de pontuação e acentuação.pptx
 
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdfHABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
 
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASQUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
 
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresSociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdf
Geometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdfGeometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdf
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdf
 
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
 
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parteDança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
 
Mini livro sanfona - Diga não ao bullying
Mini livro sanfona - Diga não ao  bullyingMini livro sanfona - Diga não ao  bullying
Mini livro sanfona - Diga não ao bullying
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
 
LIVRO A BELA BORBOLETA. Ziraldo e Zélio.
LIVRO A BELA BORBOLETA. Ziraldo e Zélio.LIVRO A BELA BORBOLETA. Ziraldo e Zélio.
LIVRO A BELA BORBOLETA. Ziraldo e Zélio.
 
AULA 7 - REFORMA PROTESTANTE SIMPLES E BASICA.pptx
AULA 7 - REFORMA PROTESTANTE SIMPLES E BASICA.pptxAULA 7 - REFORMA PROTESTANTE SIMPLES E BASICA.pptx
AULA 7 - REFORMA PROTESTANTE SIMPLES E BASICA.pptx
 
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
 

O Rio se moderniza: sonhos e realidades do projeto urbanístico

  • 1. "O Rio civiliza-se": sonhos e pesadelos da cidade moderna Mônica Pimenta Veloso No início do século XX, sob o governo Rodrigues Alves (1902-1906), assiste-se à implementação do projeto modernizador no Rio de Janeiro. Tal projeto implicaria na remodelação, higienização e saneamento da cidade, assim como na abertura de novas avenidas e obras de reforma do cais do porto. A intenção era a de tornar o Rio uma "Europa possível", e, para isso, era necessário esconder ou mesmo destruir o que significava atraso ou motivo de vergonha aos olhos das nossas elites. Vielas escuras e esburacadas, epidemias, becos mal afamados, cortiços, povo, pobreza destoavam visivelmente do modelo civilizatório sonhado. Face às revolucionárias conquistas do mundo moderno, como a vacina, o automóvel, a luz elétrica, a fotografia, o cinematógrafo, era inadmissível que o Rio - capital da República - mantivesse ainda as feições de uma cidade colonial. Baseadas nesses argumentos, as nossas elites endossam com euforia o slogan, criado pelo cronista Figueiredo Pimentel, que logo iria se tornar célebre: "O Rio civiliza-se" (Machado Neto, 1973). Era uma espécie de ordem. Pressionado pelos interesses do capital internacional que exigia o controle das doenças tropicais, o governo assume como sua meta prioritária a bandeira do saneamento. Ao atrelar o projeto sanitário de Osvaldo Cruz ao projeto de reforma urbana, as autoridades públicas tentavam minimizar o caráter autoritário e repressivo das medidas modernizadoras. Em nome do saneamento científico e do progresso, a administração pública vai converter o espaço urbano em valiosa fonte de arrecadação de capital. Alegando garantir melhores condições de vida à população pobre, o governo desapropria e põe abaixo grande parte dos prédios e casarões das ruas centrais da cidade. Desalojadas do centro, as camadas populares são obrigadas a se deslocarem para os subúrbios e favelas da periferia (Bodstein, 1986). Com a construção da avenida Beira-Mar fica facilitado o acesso à zona sul, configurando-se essa como local de moradia das classes mais abastadas. Surgem as mansões art-nouveau de Botafogo, Gávea, Jardim Botânico e Laranjeiras, local da residência de Pereira Passos, prefeito da cidade e autor do projeto urbanístico.
  • 2. Confeitaria Carceler, na rua Direita, ponto elegante do Rio antigo (foto Marc Ferrez). Esta distribuição geográfica da população vai se constituir na própria razão ordenadora do projeto, que busca desenhar a "cidade ideal". A ordem social hierárquica é transposta para uma ordem distributiva geométrica que polariza norte (povo) e centro-sul (elites). Tal ordenação do espaço físico revela claramente as intenções elitistas do projeto: O sonho de uma ordem servia para perpetuar o poder e conservar a estrutura socioeconômica e cultural que esse poder garantia. (Rama, 1985:32.) De modo geral, essas são as linhas do projeto modernizador ocidental, inspirado diretamente na remodelação de Paris. Por volta de 1880, sob o reinado de Napoleão III e com o apoio do prefeito Haussmann, aquela cidade inaugura um modelo urbanístico que viria a se tornar universal. Tal modelo transformaria a capital em um verdadeiro espetáculo para os olhos e sentidos, dando origem à moderna geração de escritores, pintores e fotógrafos (Berman, 1987: 127-59, "Baudelaire"). O Rio de Janeiro não foge à regra. No traçado arquitetônico de suas fachadas, avenidas, jardins e bulevares, vemos reproduzir-se o sonho parisiense. A fotografia de Malta, a pintura de Gustavo Dallara e os escritos de João do Rio e Lima Barreto se inspiram diretamente na temática da modernidade urbana. Entretanto, como na poética baudelairiana, eles se mostram sensíveis aos conflitos e contradições da metrópole carioca. A câmara de Malta, o pincel de Gustavo e a pena de Lima Barreto e João do Rio não se detêm apenas na moderna cidade que surge. Eles também retratam, com igual paixão, a cidade que desaparece: sobrados coloniais, quiosques, mafuás, mercados suburbanos, favelas e morros tradicionais; tipos populares como os vendedores ambulantes, seresteiros, funileiros e colhedores de carvão. Já se conhece o caráter excludente do projeto modernizador em relação às camadas populares. Imposto de forma autoritária, este iria entrar diretamente em confronto com os anseios e tradições populares. Neste contexto, onde é consagrado o modelo cultural cosmopolita, a identificação com os grupos nativos está totalmente fora de cogitação. É pela cartilha do darwinismo social que as nossas elites vão interpretar a realidade brasileira. Já se sabe a que conclusões conduz tal leitura: o nativo é identificado como elemento inferior. Responsabilizado pelo nosso atraso cultural e econômico, o mestiço se transforma em motivo de vergonha nacional. Assim, para "recuperar" o país aos olhos das nações européias, a única alternativa é a de esquecer esse Brasil mestiço... A Nação passa a ser pensada em termos de natureza, já que a raça se constitui em elemento prejudicial à idéia de unidade. Não apenas a raça, mas a religião e a língua são identificadas com a diversidade, encarando-se esta como uma ameaça ao projeto de integração nacional (Oliveira, 1986, "Belle Époque"). Neste contexto, em que a diversidade cultural ameaça, a geografia e a natureza se transformam numa espécie de tábua de salvação da nacionalidade e verdadeiro parâmetro para a ação política. Datam
  • 3. dessa época uma série de obras que associam a Nação ao território, argumentando ser a geografia a razão da nossa grandeza. Se o fator humano e o cultural causam "pejo", o elemento natureza compensa magnificamente. O livro de Afonso Celso, Porque me ufano do meu país, publicado em 1900, é o que melhor representa essa visão. Ao longo da primeira década do século XX, a ideologia ufanista assume força inédita entre as nossas elites políticas e intelectuais. O raciocínio desenvolve-se da seguinte forma: se a raça avilta a Nação, a geografia a redime. Na revista Kosmos, publicação destinada a difundir o novo modelo de sociedade, essa idéia aparece de forma clara. "Ao redor e através do Brasil" e "Recordações de viagem" são seções destinadas a enaltecer a nossa grandeza territorial, sua beleza ímpar e riqueza de recursos inédita. Os igarapés do Amazonas, as montanhas de Minas, o território do Acre são assuntos de longas e minuciosas reportagens, cuidadosamente documentadas através de fotografias, ilustrações e mapas. Neste contexto, onde a grandeza da Nação é atribuída ao território, a questão da diversidade cultural não entra em pauta. Procura-se todo o tempo desconhecê-la. O modelo cultural da Belle Époque é intolerante, impondo rígidos padrões de sensibilidade, gosto e cultura. Sacudidas pelo afã modernizador, as nossas elites mostram-se intransigentes com as tradições populares. A alteridade é vista com profunda desconfiança, constituindo-se mesmo em ameaça aos padrões civilizatórios idealizados. Assim, as manifestações populares são identificadas com a barbárie, selvageria e primitivismo. Apesar de tantas condições adversas, a cultura popular consegue sobreviver, criando estratégias próprias de defesa. Um exemplo dessa resistência cultural é a casa da tia Ciata. Agregando elementos marginalizados pelas propostas modernizadoras - normalmente ex-escravos -, a tia Ciata, através do candomblé, consegue criar uma verdadeira comunidade popular. Liderada pelos elementos negros, oriundos da Bahia, essa comunidade vai oferecer alternativas de organização fora dos modelos da rotina fabril. Rejeitando os padrões vigentes - fornecidos pelos sindicatos anarquistas - essa comunidade se estutura a partir dos centros religiosos e festas (Moura, 1983). O objetivo é o de garantir a permanência das tradições africanas que eram totalmente discriminadas pela ideologia da Belle Époque. Entre nós, o terreiro funciona como espaço delimitado da cultura negra, capaz de garantir, através dos rituais, a solidariedade comunitária. A música, dança, canto, narração, artesanato, cozinha aparecem, então, como algumas das possibilidades discursivas dessa cultura (Sodré, 1983: 117-82, "A cultura negra"). Essa idéia de pertencimento a uma comunidade, à qual se deve obrigações e respeito, é clara. Não é à toa que os ranchos carnavalescos da época tinham uma obrigação: a de ir cumprimentar as tias Ciata e Bibiana (Efegê, 1982: 131). Fazia parte do ritual reverenciar as "tias" ou, mais propriamente, o terreiro. Essa prática denota o reconhecimento e a legitimidade da comunidade negra encarnada pelas referidas figuras. Casada com um funcionário do gabinete do chefe de Polícia, a tia Ciata consegue garantir a inviolabilidade da sua casa das investidas policiais. Estava assegurado, dessa forma, um espaço cultural que seria de fundamental importância na história social do
  • 4. Rio de Janeiro. Pois é dessa comunidade negra que nasce o embrião da cultura popular carioca. Incorporando elementos de diversos códigos culturais, fornecidos pelos migrantes nordestinos e latinos europeus, o referido grupo consegue habilmente harmonizá-los, fazendo valer a sua liderança (Moura, 1983:58). A influência desse grupo, disposto a resistir às investidas modernizadoras da Belle Époque, tem sido minimizada pela nossa história social. Na realidade, a europeização da cultura brasileira não foi aceita tão passivamente quanto se supõe. A denominação de "Pequena África" à Cidade Nova registra o anseio de uma comunidade - que não se reconhece enquanto branca - de fazer valer a sua identidade. Essa Pequena África vai se constituir em um verdadeiro desafio à cidade ideal, quando oferece modelos alternativos de integração. Daí a repressão sistemática desencadeada pelo governo em relação às camadas populares. Trata-se não apenas de deslocá-las do centro da cidade, mas de deslocá-las também do eixo de influência da vida nacional. A modernização exige que se ponham abaixo as construções antigas, da mesma forma que exige a extinção das manifestações culturais tradicionais. Essa exigência é vista na época como uma espécie de fatalidade imposta pelos novos tempos. Tal ponto de vista é defendido por um jornalista que compara o morro do Castelo a um de seus habitantes: uma negra velha que dorme num canto da rua. Ambos estariam fadados ao desaparecimento. O morro e a negra representariam o passado e o espírito da tradição, que deve ser sacrificado na instauração da modernidade (Fluminense, 1905). Nos salões da moda, nos cafés e conferências literárias, a referência ao nativo atinge o máximo de desqualificação. Falar nos "índios" era no mínimo deselegante, inconveniente, gerando profundo mal-estar. Essa ideologia da desqualificação é defendida com grande eficácia, tendo um raio de ação maior do que se costuma supor. A Revista da Semana dá exemplos claros dessa discriminação ideológica dirigida contra as mais variadas expressões da cultura popular. Através de uma seção intitulada "Propaganda de higiene infantil", temos um exemplo significativo dessa ofensiva ideológica. Em um dos seus artigos aparece um quadro encimado pelos seguintes dizeres: "Os amuletos e crendices prejudiciais". Abaixo, fotos e ilustrações de breves, figas e amuletos. Finalizando, temos a conclusão e o alerta: "As crendices desta ordem são indício de ignorância. Muitas dessas bugigangas são perigosas e todas inúteis". Detalhe importante: esse quadro era afixado no hall de entrada das escolas, portanto forçosamente era objeto de atenção dos olhos infantis. O ideal de assepsia é claramente enunciado. Trata-se de uma questão de higiene não se envolver com as "bugigangas" dos negros. Pela retórica das elites, a cidade ideal é a cidade higiênica. As camadas pauperizadas são prontamente identificadas com a insalubridade, com a sujeira. Suas superstições são atestado de atraso e ignorância, impedindo a realização do sonho da cidade ideal. Mas, logo adiante, num outro artigo, a própria revista acaba mostrando que não tem nada contra a superstição. Tão antiga quanto a humanidade, a superstição já faz parte do coração humano. Impossível extirpá-la, principalmente entre as mulheres. Feitas tais considerações, a revista sugere o uso de porte-bonheurs, de acordo com a influência dos
  • 5. astros. Um dicionário de ciências ocultas determina os dias da semana em que tal e tal pedra preciosa devem ser usadas. O mago é francês, naturalmente... Fragmento de As tradições populares na Belle Époque carioca. Rio de Janeiro, Funarte/Instituto Nacional do Folclore, 1988, pp.11-17. Mônica Veloso é pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas. É autora de O modernismo. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas Editora, 1996.