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J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946
Pneumoconiose reumatoide (síndrome de Caplan)
com apresentação clássica*
Rheumatoid pneumoconiosis (Caplan’s syndrome)
with a classical presentation
Eduardo Mello De Capitani, Marcelo Schweller, Cristiane Mendes da Silva,
Konradin Metze, Elza Maria Figueiras Pedreira de Cerqueira, Manoel Barros Bértolo
Resumo
Apesar de rara, a pneumoconiose reumatoide, também chamada de síndrome de Caplan, pode ser diagnosticada
entre trabalhadores expostos à sílica e entre pacientes com silicose, pneumoconiose dos mineiros de carvão e
asbestose. A maior prevalência ocorre entre os silicóticos, apesar de ter sido descrita inicialmente em mineiros de
carvão com pneumoconiose. O achado que define o tipo clássico da síndrome é a presença de nódulos reumatoides
nos pulmões, independente da presença ou não de pequenas opacidades pneumoconióticas, ou de grandes opaci-
dades de fibrose pulmonar maciça, associada ou não a um quadro de artrite reumatoide em atividade. Relatamos
o caso de uma mulher com quadro de artrite reumatoide, diagnosticada 34 anos após exposição à sílica livre em
uma indústria de porcelana por 7 anos, apresentando radiograma de tórax com opacidades arredondadas de 1 a
5 cm de diâmetro, distribuídas na periferia de ambos os pulmões. A biópsia transtorácica guiada por TC de um dos
nódulos revelou tratar-se de nódulo reumatoide com macrófagos em paliçada, típico da síndrome de Caplan. São
discutidos aspectos de diagnóstico da síndrome, classificação e ocorrência, ressaltando a importância da anamnese
ocupacional em casos de artrite reumatoide com opacidades radiológicas pulmonares.
Descritores: Pneumoconiose; Artrite reumatoide; Síndrome de Caplan; Silicose.
Abstract
Although rare, rheumatoid pneumoconiosis, also known as Caplan’s syndrome, can occur in workers exposed to
silica, as well as in patients with silicosis, coal workers’ pneumoconiosis or asbestosis. Prevalence is higher among
patients with silicosis, despite the fact that it was originally described in coal workers with pneumoconiosis. The
classical finding that defines this syndrome is that of rheumatoid nodules in the lungs, regardless of whether there
are small rounded opacities suggestive of pneumoconiosis or large opacities consistent with massive pulmonary
fibrosis, with or without clinical rheumatoid arthritis. We describe the case of a female patient with rheumatoid
arthritis, diagnosed 34 years after 7 years of occupational exposure to silica at a porcelain plant. A chest X-ray
showed circular opacities of 1-5 cm in diameter, bilaterally distributed at the periphery of the lungs. A CT-guided
thoracic punch biopsy of one of those nodules revealed that it was rheumatoid nodule surrounded by a palisade
of macrophages, which is typical of Caplan’s syndrome. Aspects of diagnosis, classification and occurrence of this
syndrome are discussed, emphasizing the importance of the occupational anamnesis of patients with rheumatoid
arthritis and lung opacities on chest X-rays.
Keywords: Pneumoconiosis; Arthritis, rheumatoid; Caplan’s syndrome; Silicosis.
* Trabalho realizado na Faculdade de Ciências Médicas, Hospital de Clínicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP) Brasil.
Endereço para correspondência: Eduardo Mello De Capitani. Caixa Postal 7042, CEP 13076-970, Campinas, SP, Brasil.
Tel 55 19 3521-7595. E-mail: capitani@fcm.unicamp.br
Apoio financeiro: Nenhum.
Recebido para publicação em 27/1/2009. Aprovado, após revisão, em 8/5/2009.
Introdução
A pneumoconiose reumatoide foi definida
por Caplan, em 1953,(1)
como a associação de
imagens radiológicas pulmonares arredondadas,
medindo de 0,5 a 5,0 cm de diâmetro, periféricas,
associadas ou não a pequenas opacidades pneu-
moconióticas ou à fibrose maciça pulmonar, em
pacientes com artrite reumatoide (AR) e expostos
a poeiras de carvão mineral ou sílica. A preva-
lência dessa entidade entre pneumoconióticos é
baixa. Caplan(1)
encontrou uma prevalência de
0,4%, e, mais recentemente, Honma e Vallyathan
mostraram a ocorrência de 0,75% no Japão e
Relato de Caso
Pneumoconiose reumatoide (síndrome de Caplan) com apresentação clássica
J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946
943
A TCAR do tórax revelou nódulos redondos
bilaterais, bem delimitados, de distribuição peri-
férica e, nos ápices, nódulos não maiores que 5
cm com as mesmas características. Muitas das
opacidades mostravam calcificações pontuais.
Pequenos nódulos centrolobulares, com atenu-
açãoemvidrofoscodiscreta,emregiõessuperiores
de ambos os pulmões. Presença de adenopatia
calcificada no mediastino (Figura 2).
Realizada biópsia transtorácica sob TC de um
nódulo de 5 cm periférico, em região posterior
do pulmão esquerdo, cuja análise histopatoló-
gica mostrou ser um nódulo tipo reumatoide
de colágeno frouxo em camadas concêntricas
entremeadas por fibrócitos e macrófagos em
paliçada, com partículas birrefringentes de
entremeio (Figura 3).
Discussão
Entre 1950 e 1952, Caplan observou uma
maior prevalência de imagens compatíveis
com fibrose maciça entre 51 trabalhadores
com pneumoconiose dos mineiros de carvão
(PMC) e AR (90% dos casos), quando compa-
rado com pneumoconióticos sem AR (30% dos
casos). A prevalência de AR entre 14.000 casos
de PMC estudados foi de 0,4%, não acima do
esperado.(1)
. Além disso, em 25% dos casos com
PMC e AR, Caplan observou, e descreveu com
detalhes, um quadro radiológico característico,
distinto das imagens normalmente visualizadas
em mineiros de carvão com PMC. Tratava-se de
opacidades redondas bem definidas, de 0,5 a
de 1,5% nos EUA.(2)
No Brasil, os dados sobre
a síndrome restringem-se a dois casos clínicos
publicados.(3,4)
Descrevemos a seguir um caso
clínico com apresentação pulmonar típica e com
confirmação tomográfica e histopatológica da
presença de nódulos reumatoides nos pulmões.
Relato de caso
Paciente feminina, 55 anos, encaminhada ao
nosso serviço por suspeita de neoplasia metas-
tática no pulmão, sem emagrecimento, sem
tosse e sem hemoptise. Queixava-se de dispneia
aos esforços havia quatro meses. Referia um
quadro de poliartrite de mãos, pés e joelhos,
acompanhado de rigidez matinal com mais de
uma hora de duração há 5 anos e, ao exame
físico, apresentava discreto aumento de volume
das articulações das mãos e desvio ulnar do
carpo, correspondendo ao diagnóstico de AR.
Fazia uso de cloroquina, prednisona, meloxican
e ranitidina. Tabagista ativa (25 anos-maço),
sem antecedentes de doença pulmonar. História
ocupacional de trabalho com exposição à sílica
livre em cerâmica de porcelana por 7 anos, na
função de esmaltadora, entre 1966 e 1972, época
em que não existiam medidas de proteção cole-
tiva instaladas nesse tipo de empresa, 34 anos
antes do diagnóstico de AR.
Ao exame físico apresentava-se bem, sem
sinais de AR em atividade, eupneica, ­frequência
respiratória de 12 ciclos/min, frequência cardíaca
de 72 bpm, rítmica, ausculta pulmonar sem
alterações e SpO2
= 94% em ar ambiente. A espi-
rometria revelou CVF = 2,44 L (87% do predito);
VEF1
= 1,49 L (66% do predito); VEF1
/CVF =
0,61; e FEF25-75%
= 0,86 L/s (38% do predito).
Fator reumatóide = 277 UI/mL; fator antinuclear
negativo; e velocidade de hemossedimentação
de 13 mm na primeira hora.
A radiografia de mãos e punhos evidenciou
diminuição simétrica do espaço articular, erosões
ósseas marginais e osteoporose periarticular nas
articulações metacarpofalangeanas e interfalan-
geanas proximais (Figura 1a).
O radiograma de tórax revelou nódulos de
tamanhos variados, entre 1 e 5 cm de diâmetro,
arredondados, bem delimitados, distribuídos
na periferia de ambos os pulmões, abrangendo
as metades superiores e inferiores de ambos
os pulmões, e massas maiores nos dois ápices,
também periféricas (Figura 1b).
a b
Figura 1 - Em a, radiografia de mão mostrando
diminuiçãosimétricadoespaçoarticular,erosõesósseas
marginais e osteoporose periarticular nas articulações
metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais.
Em b, radiograma de tórax mostrando nódulos de
tamanhos variados, entre 1 e 5 cm de diâmetro,
arredondados e bem delimitados, distribuídos na
periferia de ambos os pulmões.
944	 De Capitani EM, Schweller M, Silva CM, Metze K, Cerqueira EMFP, Bértolo MB
J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946
pulmões de pacientes com AR sem imagens
de pneumoconiose.(5)
Por outro lado, as lesões
características da síndrome seriam as apresen-
tadas pelos nódulos arredondados periféricos
de 0,5 a 5,0 cm, independente da presença de
opacidades pneumoconióticas típicas. Essa defi-
nição da “síndrome” foi ressaltada por Caplan
posteriormente em outro trabalho de 1965.(5)
A literatura francesa propõe chamar essa
síndrome de síndrome de Colinet-Caplan, em
função da descrição de casos com as caracterís-
ticas clínicas e radiológicas descritas por Caplan
em 3 pacientes com silicose e AR diagnosticados
em 1948 e 1950.(6,7)
Em 1955, Gough(8)
descreveu as altera-
ções histopatológicas da síndrome, mostrando
que os nódulos descritos por Caplan ao radio-
grama simples eram nódulos reumatoides, com
área central de colágeno necrótico, rodeada de
processo inflamatório com macrófagos e leucó-
citos, com variados graus de deposição de poeira.
5,0 cm de diâmetro (e, portanto, bem maiores
que as opacidades típicas das pneumoconioses e
no limite para serem consideradas como parte do
quadro de fibrose maciça), distribuídas em toda a
extensão dos pulmões, bilateralmente, principal-
mente na periferia dos mesmos. Ressaltava que
“(...) um achado importante nesses casos é que
as opacidades típicas de pneumoconiose simples
são frequentemente de grau leve ou ausentes,
classificadas em categoria 1 ou mesmo 0”.(1)
Assim, a presença de pequenas opacidades
arredondadas, típicas de pneumoconiose, não
é condição necessária para o diagnóstico da
síndrome de Caplan. Em seu trabalho original,
esse autor demonstrou a presença de pequenas
opacidades de categoria 1 ou menor (segundo
a classificação da Organização Internacional do
Trabalho da época) em 45% dos casos.(1)
Sugeria
ainda que a exposição não ocupacional a poeiras
de carvão, ou a poeiras contendo sílica, poderia
explicar a presença de nódulos reumatoides nos
a
c d
b
Figura 2 - Imagens de TCAR mostrando nódulos de tamanhos variados, entre 1 e 5 cm de diâmetro,
arredondados e bem delimitados, distribuídos na periferia de ambos os pulmões, abrangendo as metades
superiores e inferiores de ambos os pulmões, e massas maiores nos dois ápices, também periféricas. Muitas das
opacidades mostram calcificações pontuais.
Pneumoconiose reumatoide (síndrome de Caplan) com apresentação clássica
J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946
945
inflamatório, como IL-1 e TNF, são detectadas
em altas concentrações na membrana sinovial,
no líquido sinovial e no soro de pacientes, o que
provavelmente estaria relacionado às manifesta-
ções extra-articulares da AR.(17)
Os mecanismos imunológicos envolvidos
na hiperatividade imune desencadeada pela
presença de sílica livre no organismo humano
ainda não foram completamente elucidados.
Estudos experimentais mostram, sem dúvida, que
a sílica desencadeia um importante efeito adju-
vante na resposta imune animal, estimulando
monócitos e macrófagos, com consequente
liberação de citocinas, como a IL-1, fator
estimulador de colônias de granulócitos-macró-
fagos e TNF-α.(18)
Além disso, a sílica estimula
os macrófagos a produzir espécies reativas do
oxigênio e a liberar proteases lisossômicas. Com
relação aos linfócitos, existem fortes evidências
de que a sílica não estimule diretamente essas
células, mas o faça através do estímulo macro-
fágico, conectando o sistema imune inato (mais
antigo filogeneticamente que o adaptativo,
baseado na resposta inicial macrofágica) com os
braços adaptativos do sistema imune (respon-
sável por respostas específicas humoral e celular
a antígenos), incluindo a ativação de células
dendríticas, que são as células apresentadoras
de antígenos aos linfócitos T CD4.(18)
Através
dessa conexão, existiria a possibilidade da expo-
sição à sílica desencadear respostas autoimunes
em pessoas geneticamente predispostas, como
clinicamente ocorre na AR, esclerodermia, lúpus
eritematoso sistêmico e outras doenças mistas
do colágeno.
Ressalta-se ainda a significativa maior
frequência de TB nos casos de pneumoconiose
reumatoide quando comparada com casos de
pneumoconiose sem nódulos reumatoides.(2)
Revisando a literatura especializada brasi-
leira, não há, até o momento, relatos de casos
com as características radiológicas e histopato-
lógicas típicas da síndrome, como descritas no
presente caso. Em um estudo de 1981, relatou-se
o caso de um paciente masculino de 61 anos,
moedor de pedras, com lesões articulares
típicas de AR e opacidades nodulares nos terços
médios e superiores de ambos os pulmões, mas
sem uma descrição detalhada desses achados
radiológicos  e sem a realização de um exame
histopatológico.(3)
Outros autores posterior-
mente descreveram um caso com associação de
Gardner, em 1992, corroborou os achados de
Gough, afirmando a necessidade da presença do
nódulo reumatoide no pulmão para o diagnóstico
de pneumoconiose reumatoide, independente da
presença de nódulos pneumoconióticos. Talvez
a visão mais sensata com relação à nomenclatura
e à classificação dessa entidade tenha sido colo-
cada por Honma e Vallyathan,(2)
classificando a
pneumoconiose reumatoide em dois tipos: tipo
clássico (síndrome de Caplan), conforme descrito
por Caplan (1953, 1959)(1,9)
e Gough (1955)(8)
;
e tipo silicótico, sem nódulos reumatoides nos
pulmões, mas com pequenos nódulos silicóticos,
ou de pneumoconiose por poeira mista, asso-
ciados à presença de AR.
Apesar de originalmente a síndrome ter sido
descrita em mineiros de carvão, numerosos casos
têm sido diagnosticados em indivíduos expostos
à sílica livre e ao asbesto desde então,(2,10-12)
apesar de serem bem mais raros que em indiví-
duos expostos à poeira de carvão mineral.
A relação das pneumoconioses, principal-
mente da silicose, com o desencadeamento de
doenças autoimunes é um fato reconhecido
desde a década de 50, com a publicação de
casos associados à esclerodermia (síndrome de
Erasmus), lúpus eritematoso sistêmico, doença
mista do tecido conjuntivo, etc., e presença
anormal de autoanticorpos.(13-16)
O processo
inflamatório articular da AR é desencadeado por
citocinas produzidas por macrófagos ativados.
Essas citocinas, claramente implicadas no desen-
volvimento da AR e na manutenção do processo
Figura 3 - Histopatologia de amostra colhida por
biópsia transtorácica sob TC, mostrando um nódulo
tipo reumatoide de colágeno frouxo em camadas
concêntricas, entremeadas por fibrócitos e macrófagos
em paliçada.
946	 De Capitani EM, Schweller M, Silva CM, Metze K, Cerqueira EMFP, Bértolo MB
J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946
	 6.	Colinet E. Evolutive chronic polyarthritis and pulmonary
silicosis [Article in Undetermined Language]. Acta
Physiother Rheumatol Belg. 1953;8(2):37-41.
	 7.	Clerens J. Silicose pulmonaire et rhumatisme ou
syndrome de Colinet-Caplan. Arch Belg Med Soc.
1953;11(10):336-42.
	 8.	Gough J, Rivers D, Seal RM. Pathological studies
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rheumatoid arthritis; Caplan’s syndrome. Thorax.
1955;10(1):9-18.
	 9.	Caplan A. Rheumatoid disease and pneumoconiosis
(Caplan’s syndrome). Proc R Soc Med. 1959;52:1111-3.
	10.	Rickards AG, Barrett GM. Rheumatoid lung changes
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	11.	Morgan WK. Rheumatoid pneumoconiosis in association
with asbestosis. Thorax. 1964;19:433-5.
	12.	Caplan A, Cowen ED, Gough J. Rheumatoid
pneumoconiosis in a foundry worker. Thorax.
1958;13(3):181-4.
	13.	Erasmus LD. Scleroderma in goldminers on
the Witwatersrand with particular reference to
pulmonary manifestations. S Afr J Lab Clin Med.
1957;3(3):209-31.
	14.	Innocencio RM, Sampaio-Barros PD, Capitani EM, Souza
ML, Marques-Neto JF. Esclerose sistêmica associada à
silicose pulmonar: relato de caso. Rev Bras Reumatol.
1998;38(4):249-52.
	15.	Costallat LT, De Capitani EM, Zambon L. Pulmonary
silicosisandsystemiclupuserythematosusinmen:areport
of two cases. Joint Bone Spine. 2002;69(1):68-71.
	16.	Sanchez-Roman J, Wichmann I, Salaberri J, Varela
JM, Nuñez-Roldan A. Multiple clinical and biological
autoimmune manifestations in 50 workers after
occupational exposure to silica. Ann Rheum Dis.
1993;52(7):534-8.
	17.	ArendWP.Physiologyofcytokinepathwaysinrheumatoid
arthritis. Arthritis Rheum. 2001;45(1):101-6.
	18.	Pernis B. Silica and the immune system. Acta Biomed.
2005;76 Suppl 2:38-44.
silicose subaguda e AR em um paciente mascu-
lino de 59 anos, perfurador de rochas, mas sem
as características radiológicas de tórax típicas da
síndrome; a biópsia pulmonar mostrava fibrose
inespecífica sem nódulos silicóticos ou nódulos
reumatoides, sendo que o nódulo reumatoide
descrito era subcutâneo.(4)
O presente caso clínico preenche os critérios
estabelecidos para o diagnóstico de síndrome de
Caplan do ponto de vista radiológico, histopato-
lógico e de história de exposição. Ressaltamos a
importância da anamnese ocupacional em casos
de AR com opacidades radiológicas distintas do
acometimento pulmonar mais típico da doença.
O caso também ilustra de forma didática o poten-
cial da sílica livre e de outras poeiras minerais de
desencadear quadros de doenças autoimunes.
Referências
	 1.	Caplan A. Certain unusual radiological appearances in
the chest of coal-miners suffering from rheumatoid
arthritis. Thorax. 1953;8(1):29-37.
	 2.	Honma K, Vallyathan V. Rheumatoid Pneumoconiosis:
A comparative study of autopsy cases between Japan
and North America. Ann Occup Hyg. 2002;46(Suppl
1):265-7.
	 3.	Samara AM, Napoli MD. Sindrome de Caplan e po de
pedra. Rev Bras Reumatol. 1981;21(6):193-5.
	 4.	Franco CA, Suzuki I, Madi K, Bethlem NM. Síndrome de
Caplan: relato de caso. J Pneumol. 1986;12(1):31-5.
	 5.	Caplan A. Rheumatoid pneumoconiosis syndrome. Med
Lav. 1965;56(6):494-9.
Sobre os autores
Eduardo Mello De Capitani
Docente da Disciplina de Pneumologia. Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas (SP) Brasil.
Marcelo Schweller
Médico Pneumologista. Unidade de Emergência Referenciada, Hospital de Clínicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas
(SP) Brasil.
Cristiane Mendes da Silva
Médica Residente. Disciplina de Reumatologia, Hospital de Clínicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP) Brasil.
Konradin Metze
Docente. Departamento de Anatomia Patológica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP)
Brasil.
Elza Maria Figueiras Pedreira de Cerqueira
Médica Radiologista. Divisão de Imagens, Hospital Estadual de Sumaré, Universidade Estadual de Campinas, Sumaré (SP) Brasil.
Manoel Barros Bértolo
Docente da Disciplina de Reumatologia. Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas (SP) Brasil.

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Pneumoconiose reumatoide com apresentação clássica

  • 1. J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946 Pneumoconiose reumatoide (síndrome de Caplan) com apresentação clássica* Rheumatoid pneumoconiosis (Caplan’s syndrome) with a classical presentation Eduardo Mello De Capitani, Marcelo Schweller, Cristiane Mendes da Silva, Konradin Metze, Elza Maria Figueiras Pedreira de Cerqueira, Manoel Barros Bértolo Resumo Apesar de rara, a pneumoconiose reumatoide, também chamada de síndrome de Caplan, pode ser diagnosticada entre trabalhadores expostos à sílica e entre pacientes com silicose, pneumoconiose dos mineiros de carvão e asbestose. A maior prevalência ocorre entre os silicóticos, apesar de ter sido descrita inicialmente em mineiros de carvão com pneumoconiose. O achado que define o tipo clássico da síndrome é a presença de nódulos reumatoides nos pulmões, independente da presença ou não de pequenas opacidades pneumoconióticas, ou de grandes opaci- dades de fibrose pulmonar maciça, associada ou não a um quadro de artrite reumatoide em atividade. Relatamos o caso de uma mulher com quadro de artrite reumatoide, diagnosticada 34 anos após exposição à sílica livre em uma indústria de porcelana por 7 anos, apresentando radiograma de tórax com opacidades arredondadas de 1 a 5 cm de diâmetro, distribuídas na periferia de ambos os pulmões. A biópsia transtorácica guiada por TC de um dos nódulos revelou tratar-se de nódulo reumatoide com macrófagos em paliçada, típico da síndrome de Caplan. São discutidos aspectos de diagnóstico da síndrome, classificação e ocorrência, ressaltando a importância da anamnese ocupacional em casos de artrite reumatoide com opacidades radiológicas pulmonares. Descritores: Pneumoconiose; Artrite reumatoide; Síndrome de Caplan; Silicose. Abstract Although rare, rheumatoid pneumoconiosis, also known as Caplan’s syndrome, can occur in workers exposed to silica, as well as in patients with silicosis, coal workers’ pneumoconiosis or asbestosis. Prevalence is higher among patients with silicosis, despite the fact that it was originally described in coal workers with pneumoconiosis. The classical finding that defines this syndrome is that of rheumatoid nodules in the lungs, regardless of whether there are small rounded opacities suggestive of pneumoconiosis or large opacities consistent with massive pulmonary fibrosis, with or without clinical rheumatoid arthritis. We describe the case of a female patient with rheumatoid arthritis, diagnosed 34 years after 7 years of occupational exposure to silica at a porcelain plant. A chest X-ray showed circular opacities of 1-5 cm in diameter, bilaterally distributed at the periphery of the lungs. A CT-guided thoracic punch biopsy of one of those nodules revealed that it was rheumatoid nodule surrounded by a palisade of macrophages, which is typical of Caplan’s syndrome. Aspects of diagnosis, classification and occurrence of this syndrome are discussed, emphasizing the importance of the occupational anamnesis of patients with rheumatoid arthritis and lung opacities on chest X-rays. Keywords: Pneumoconiosis; Arthritis, rheumatoid; Caplan’s syndrome; Silicosis. * Trabalho realizado na Faculdade de Ciências Médicas, Hospital de Clínicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP) Brasil. Endereço para correspondência: Eduardo Mello De Capitani. Caixa Postal 7042, CEP 13076-970, Campinas, SP, Brasil. Tel 55 19 3521-7595. E-mail: capitani@fcm.unicamp.br Apoio financeiro: Nenhum. Recebido para publicação em 27/1/2009. Aprovado, após revisão, em 8/5/2009. Introdução A pneumoconiose reumatoide foi definida por Caplan, em 1953,(1) como a associação de imagens radiológicas pulmonares arredondadas, medindo de 0,5 a 5,0 cm de diâmetro, periféricas, associadas ou não a pequenas opacidades pneu- moconióticas ou à fibrose maciça pulmonar, em pacientes com artrite reumatoide (AR) e expostos a poeiras de carvão mineral ou sílica. A preva- lência dessa entidade entre pneumoconióticos é baixa. Caplan(1) encontrou uma prevalência de 0,4%, e, mais recentemente, Honma e Vallyathan mostraram a ocorrência de 0,75% no Japão e Relato de Caso
  • 2. Pneumoconiose reumatoide (síndrome de Caplan) com apresentação clássica J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946 943 A TCAR do tórax revelou nódulos redondos bilaterais, bem delimitados, de distribuição peri- férica e, nos ápices, nódulos não maiores que 5 cm com as mesmas características. Muitas das opacidades mostravam calcificações pontuais. Pequenos nódulos centrolobulares, com atenu- açãoemvidrofoscodiscreta,emregiõessuperiores de ambos os pulmões. Presença de adenopatia calcificada no mediastino (Figura 2). Realizada biópsia transtorácica sob TC de um nódulo de 5 cm periférico, em região posterior do pulmão esquerdo, cuja análise histopatoló- gica mostrou ser um nódulo tipo reumatoide de colágeno frouxo em camadas concêntricas entremeadas por fibrócitos e macrófagos em paliçada, com partículas birrefringentes de entremeio (Figura 3). Discussão Entre 1950 e 1952, Caplan observou uma maior prevalência de imagens compatíveis com fibrose maciça entre 51 trabalhadores com pneumoconiose dos mineiros de carvão (PMC) e AR (90% dos casos), quando compa- rado com pneumoconióticos sem AR (30% dos casos). A prevalência de AR entre 14.000 casos de PMC estudados foi de 0,4%, não acima do esperado.(1) . Além disso, em 25% dos casos com PMC e AR, Caplan observou, e descreveu com detalhes, um quadro radiológico característico, distinto das imagens normalmente visualizadas em mineiros de carvão com PMC. Tratava-se de opacidades redondas bem definidas, de 0,5 a de 1,5% nos EUA.(2) No Brasil, os dados sobre a síndrome restringem-se a dois casos clínicos publicados.(3,4) Descrevemos a seguir um caso clínico com apresentação pulmonar típica e com confirmação tomográfica e histopatológica da presença de nódulos reumatoides nos pulmões. Relato de caso Paciente feminina, 55 anos, encaminhada ao nosso serviço por suspeita de neoplasia metas- tática no pulmão, sem emagrecimento, sem tosse e sem hemoptise. Queixava-se de dispneia aos esforços havia quatro meses. Referia um quadro de poliartrite de mãos, pés e joelhos, acompanhado de rigidez matinal com mais de uma hora de duração há 5 anos e, ao exame físico, apresentava discreto aumento de volume das articulações das mãos e desvio ulnar do carpo, correspondendo ao diagnóstico de AR. Fazia uso de cloroquina, prednisona, meloxican e ranitidina. Tabagista ativa (25 anos-maço), sem antecedentes de doença pulmonar. História ocupacional de trabalho com exposição à sílica livre em cerâmica de porcelana por 7 anos, na função de esmaltadora, entre 1966 e 1972, época em que não existiam medidas de proteção cole- tiva instaladas nesse tipo de empresa, 34 anos antes do diagnóstico de AR. Ao exame físico apresentava-se bem, sem sinais de AR em atividade, eupneica, ­frequência respiratória de 12 ciclos/min, frequência cardíaca de 72 bpm, rítmica, ausculta pulmonar sem alterações e SpO2 = 94% em ar ambiente. A espi- rometria revelou CVF = 2,44 L (87% do predito); VEF1 = 1,49 L (66% do predito); VEF1 /CVF = 0,61; e FEF25-75% = 0,86 L/s (38% do predito). Fator reumatóide = 277 UI/mL; fator antinuclear negativo; e velocidade de hemossedimentação de 13 mm na primeira hora. A radiografia de mãos e punhos evidenciou diminuição simétrica do espaço articular, erosões ósseas marginais e osteoporose periarticular nas articulações metacarpofalangeanas e interfalan- geanas proximais (Figura 1a). O radiograma de tórax revelou nódulos de tamanhos variados, entre 1 e 5 cm de diâmetro, arredondados, bem delimitados, distribuídos na periferia de ambos os pulmões, abrangendo as metades superiores e inferiores de ambos os pulmões, e massas maiores nos dois ápices, também periféricas (Figura 1b). a b Figura 1 - Em a, radiografia de mão mostrando diminuiçãosimétricadoespaçoarticular,erosõesósseas marginais e osteoporose periarticular nas articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais. Em b, radiograma de tórax mostrando nódulos de tamanhos variados, entre 1 e 5 cm de diâmetro, arredondados e bem delimitados, distribuídos na periferia de ambos os pulmões.
  • 3. 944 De Capitani EM, Schweller M, Silva CM, Metze K, Cerqueira EMFP, Bértolo MB J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946 pulmões de pacientes com AR sem imagens de pneumoconiose.(5) Por outro lado, as lesões características da síndrome seriam as apresen- tadas pelos nódulos arredondados periféricos de 0,5 a 5,0 cm, independente da presença de opacidades pneumoconióticas típicas. Essa defi- nição da “síndrome” foi ressaltada por Caplan posteriormente em outro trabalho de 1965.(5) A literatura francesa propõe chamar essa síndrome de síndrome de Colinet-Caplan, em função da descrição de casos com as caracterís- ticas clínicas e radiológicas descritas por Caplan em 3 pacientes com silicose e AR diagnosticados em 1948 e 1950.(6,7) Em 1955, Gough(8) descreveu as altera- ções histopatológicas da síndrome, mostrando que os nódulos descritos por Caplan ao radio- grama simples eram nódulos reumatoides, com área central de colágeno necrótico, rodeada de processo inflamatório com macrófagos e leucó- citos, com variados graus de deposição de poeira. 5,0 cm de diâmetro (e, portanto, bem maiores que as opacidades típicas das pneumoconioses e no limite para serem consideradas como parte do quadro de fibrose maciça), distribuídas em toda a extensão dos pulmões, bilateralmente, principal- mente na periferia dos mesmos. Ressaltava que “(...) um achado importante nesses casos é que as opacidades típicas de pneumoconiose simples são frequentemente de grau leve ou ausentes, classificadas em categoria 1 ou mesmo 0”.(1) Assim, a presença de pequenas opacidades arredondadas, típicas de pneumoconiose, não é condição necessária para o diagnóstico da síndrome de Caplan. Em seu trabalho original, esse autor demonstrou a presença de pequenas opacidades de categoria 1 ou menor (segundo a classificação da Organização Internacional do Trabalho da época) em 45% dos casos.(1) Sugeria ainda que a exposição não ocupacional a poeiras de carvão, ou a poeiras contendo sílica, poderia explicar a presença de nódulos reumatoides nos a c d b Figura 2 - Imagens de TCAR mostrando nódulos de tamanhos variados, entre 1 e 5 cm de diâmetro, arredondados e bem delimitados, distribuídos na periferia de ambos os pulmões, abrangendo as metades superiores e inferiores de ambos os pulmões, e massas maiores nos dois ápices, também periféricas. Muitas das opacidades mostram calcificações pontuais.
  • 4. Pneumoconiose reumatoide (síndrome de Caplan) com apresentação clássica J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946 945 inflamatório, como IL-1 e TNF, são detectadas em altas concentrações na membrana sinovial, no líquido sinovial e no soro de pacientes, o que provavelmente estaria relacionado às manifesta- ções extra-articulares da AR.(17) Os mecanismos imunológicos envolvidos na hiperatividade imune desencadeada pela presença de sílica livre no organismo humano ainda não foram completamente elucidados. Estudos experimentais mostram, sem dúvida, que a sílica desencadeia um importante efeito adju- vante na resposta imune animal, estimulando monócitos e macrófagos, com consequente liberação de citocinas, como a IL-1, fator estimulador de colônias de granulócitos-macró- fagos e TNF-α.(18) Além disso, a sílica estimula os macrófagos a produzir espécies reativas do oxigênio e a liberar proteases lisossômicas. Com relação aos linfócitos, existem fortes evidências de que a sílica não estimule diretamente essas células, mas o faça através do estímulo macro- fágico, conectando o sistema imune inato (mais antigo filogeneticamente que o adaptativo, baseado na resposta inicial macrofágica) com os braços adaptativos do sistema imune (respon- sável por respostas específicas humoral e celular a antígenos), incluindo a ativação de células dendríticas, que são as células apresentadoras de antígenos aos linfócitos T CD4.(18) Através dessa conexão, existiria a possibilidade da expo- sição à sílica desencadear respostas autoimunes em pessoas geneticamente predispostas, como clinicamente ocorre na AR, esclerodermia, lúpus eritematoso sistêmico e outras doenças mistas do colágeno. Ressalta-se ainda a significativa maior frequência de TB nos casos de pneumoconiose reumatoide quando comparada com casos de pneumoconiose sem nódulos reumatoides.(2) Revisando a literatura especializada brasi- leira, não há, até o momento, relatos de casos com as características radiológicas e histopato- lógicas típicas da síndrome, como descritas no presente caso. Em um estudo de 1981, relatou-se o caso de um paciente masculino de 61 anos, moedor de pedras, com lesões articulares típicas de AR e opacidades nodulares nos terços médios e superiores de ambos os pulmões, mas sem uma descrição detalhada desses achados radiológicos  e sem a realização de um exame histopatológico.(3) Outros autores posterior- mente descreveram um caso com associação de Gardner, em 1992, corroborou os achados de Gough, afirmando a necessidade da presença do nódulo reumatoide no pulmão para o diagnóstico de pneumoconiose reumatoide, independente da presença de nódulos pneumoconióticos. Talvez a visão mais sensata com relação à nomenclatura e à classificação dessa entidade tenha sido colo- cada por Honma e Vallyathan,(2) classificando a pneumoconiose reumatoide em dois tipos: tipo clássico (síndrome de Caplan), conforme descrito por Caplan (1953, 1959)(1,9) e Gough (1955)(8) ; e tipo silicótico, sem nódulos reumatoides nos pulmões, mas com pequenos nódulos silicóticos, ou de pneumoconiose por poeira mista, asso- ciados à presença de AR. Apesar de originalmente a síndrome ter sido descrita em mineiros de carvão, numerosos casos têm sido diagnosticados em indivíduos expostos à sílica livre e ao asbesto desde então,(2,10-12) apesar de serem bem mais raros que em indiví- duos expostos à poeira de carvão mineral. A relação das pneumoconioses, principal- mente da silicose, com o desencadeamento de doenças autoimunes é um fato reconhecido desde a década de 50, com a publicação de casos associados à esclerodermia (síndrome de Erasmus), lúpus eritematoso sistêmico, doença mista do tecido conjuntivo, etc., e presença anormal de autoanticorpos.(13-16) O processo inflamatório articular da AR é desencadeado por citocinas produzidas por macrófagos ativados. Essas citocinas, claramente implicadas no desen- volvimento da AR e na manutenção do processo Figura 3 - Histopatologia de amostra colhida por biópsia transtorácica sob TC, mostrando um nódulo tipo reumatoide de colágeno frouxo em camadas concêntricas, entremeadas por fibrócitos e macrófagos em paliçada.
  • 5. 946 De Capitani EM, Schweller M, Silva CM, Metze K, Cerqueira EMFP, Bértolo MB J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946 6. Colinet E. Evolutive chronic polyarthritis and pulmonary silicosis [Article in Undetermined Language]. Acta Physiother Rheumatol Belg. 1953;8(2):37-41. 7. Clerens J. Silicose pulmonaire et rhumatisme ou syndrome de Colinet-Caplan. Arch Belg Med Soc. 1953;11(10):336-42. 8. Gough J, Rivers D, Seal RM. Pathological studies of modified pneumoconiosis in coal-miners with rheumatoid arthritis; Caplan’s syndrome. Thorax. 1955;10(1):9-18. 9. Caplan A. Rheumatoid disease and pneumoconiosis (Caplan’s syndrome). Proc R Soc Med. 1959;52:1111-3. 10. Rickards AG, Barrett GM. Rheumatoid lung changes associated with asbestosis. Thorax. 1958;13(3):185-93. 11. Morgan WK. Rheumatoid pneumoconiosis in association with asbestosis. Thorax. 1964;19:433-5. 12. Caplan A, Cowen ED, Gough J. Rheumatoid pneumoconiosis in a foundry worker. Thorax. 1958;13(3):181-4. 13. Erasmus LD. Scleroderma in goldminers on the Witwatersrand with particular reference to pulmonary manifestations. S Afr J Lab Clin Med. 1957;3(3):209-31. 14. Innocencio RM, Sampaio-Barros PD, Capitani EM, Souza ML, Marques-Neto JF. Esclerose sistêmica associada à silicose pulmonar: relato de caso. Rev Bras Reumatol. 1998;38(4):249-52. 15. Costallat LT, De Capitani EM, Zambon L. Pulmonary silicosisandsystemiclupuserythematosusinmen:areport of two cases. Joint Bone Spine. 2002;69(1):68-71. 16. Sanchez-Roman J, Wichmann I, Salaberri J, Varela JM, Nuñez-Roldan A. Multiple clinical and biological autoimmune manifestations in 50 workers after occupational exposure to silica. Ann Rheum Dis. 1993;52(7):534-8. 17. ArendWP.Physiologyofcytokinepathwaysinrheumatoid arthritis. Arthritis Rheum. 2001;45(1):101-6. 18. Pernis B. Silica and the immune system. Acta Biomed. 2005;76 Suppl 2:38-44. silicose subaguda e AR em um paciente mascu- lino de 59 anos, perfurador de rochas, mas sem as características radiológicas de tórax típicas da síndrome; a biópsia pulmonar mostrava fibrose inespecífica sem nódulos silicóticos ou nódulos reumatoides, sendo que o nódulo reumatoide descrito era subcutâneo.(4) O presente caso clínico preenche os critérios estabelecidos para o diagnóstico de síndrome de Caplan do ponto de vista radiológico, histopato- lógico e de história de exposição. Ressaltamos a importância da anamnese ocupacional em casos de AR com opacidades radiológicas distintas do acometimento pulmonar mais típico da doença. O caso também ilustra de forma didática o poten- cial da sílica livre e de outras poeiras minerais de desencadear quadros de doenças autoimunes. Referências 1. Caplan A. Certain unusual radiological appearances in the chest of coal-miners suffering from rheumatoid arthritis. Thorax. 1953;8(1):29-37. 2. Honma K, Vallyathan V. Rheumatoid Pneumoconiosis: A comparative study of autopsy cases between Japan and North America. Ann Occup Hyg. 2002;46(Suppl 1):265-7. 3. Samara AM, Napoli MD. Sindrome de Caplan e po de pedra. Rev Bras Reumatol. 1981;21(6):193-5. 4. Franco CA, Suzuki I, Madi K, Bethlem NM. Síndrome de Caplan: relato de caso. J Pneumol. 1986;12(1):31-5. 5. Caplan A. Rheumatoid pneumoconiosis syndrome. Med Lav. 1965;56(6):494-9. Sobre os autores Eduardo Mello De Capitani Docente da Disciplina de Pneumologia. Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP) Brasil. Marcelo Schweller Médico Pneumologista. Unidade de Emergência Referenciada, Hospital de Clínicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP) Brasil. Cristiane Mendes da Silva Médica Residente. Disciplina de Reumatologia, Hospital de Clínicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP) Brasil. Konradin Metze Docente. Departamento de Anatomia Patológica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP) Brasil. Elza Maria Figueiras Pedreira de Cerqueira Médica Radiologista. Divisão de Imagens, Hospital Estadual de Sumaré, Universidade Estadual de Campinas, Sumaré (SP) Brasil. Manoel Barros Bértolo Docente da Disciplina de Reumatologia. Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP) Brasil.