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4          Campinas, 29 de outubro a 4 de novembro de 2012




Mandioca gera
etanol e eletricidade
Dissertação desenvolvida na FEM caracteriza e demonstra potencial da biomassa
                                                                                                                                                                                                                             Fotos: Antoninho Perri
              LUIZ SUGIMOTO
        sugimoto@reitoria.unicamp.br

           produção de etanol tendo a mandio-
            ca como matéria-prima já foi objeto
             de estudos nas décadas de 1970 e
              80, mas esta opção acabou des-
               cartada pelos pesquisadores
por conta da baixa produtividade da raiz no
campo. Hoje, entretanto, é possível mais do
que dobrar aquela produtividade, então de 12
toneladas por hectare ao ano, para pelo menos
30 toneladas, justificando uma nova avaliação
da ideia. É o que fizeram o professor Waldir
Antonio Bizzo e o engenheiro agrônomo João
Paulo Soto Veiga, em pesquisa de mestrado
junto à Faculdade de Engenharia Mecânica
(FEM). E com resultados surpreendentes.
    O estudo focou o potencial da mandioca
para fins de etanol, bem como a caracterização
dos resíduos da planta e seu aproveitamento
na geração de eletricidade e vapor para autos-
suficiência energética de uma usina produtora
do combustível. “ ideia de voltar a pesqui-
                    A
sar a mandioca no sentido de produzir ener-
gia partiu da professora Teresa Lousada Valle,
do IAC, que acaba de ser premiada por seu
conhecimento em raízes e tubérculos”, reco-
nhece Waldir Bizzo. “Vem do passado o mito
de que a mandioca não funciona para etanol
e, por isso, até hoje não se faz. Por que não
tentar fazer?”
     Segundo o docente da FEM, a parceria             O professor Waldir Antonio Bizzo (dir.), orientador, e o engenheiro agrônomo João Paulo Soto Veiga, autor da dissertação: dobrando a produtividade
com o IAC começou há quatro anos, mas o
trabalho evoluiu com a integração à equipe do
                                                                                                                                                                                        tornando os processos mais intensivos, pro-
agrônomo João Paulo Veiga, que explica algu-
                                                                                                                                                                                        dutivos e rentáveis, inclusive reduzindo seu
mas características da mandioca. “No proces-
                                                                                                                                                                                        custo. A cana deve ter ficado muito mais bara-
so de colheita, utiliza-se uma máquina cortan-
                                                                                                                                                                                        ta nos últimos anos.”
do os ramos superiores da planta. Sobram 10
ou 20 centímetros de galhos e a chamada cepa                                                                                                                                                A sugestão do docente da FEM, contida
– que serviu como semente no ano anterior e                                                                                                                                             na dissertação, é o cultivo da mandioca para
de onde saem as raízes de mandioca. A cepa                                                                                                                                              fins de etanol em regiões onde a produção do
ganha volume, aspecto lenhoso e, embora                                                                                                                                                 biocombustível a partir da cana-de-açúcar não
possua alto teor de amido, acaba descartada                                                                                                                                             se dê em níveis economicamente viáveis. “        A
por causa da dificuldade em moê-la. Além dis-                                                                                                                                           cana é a menina dos olhos da cultura energéti-
so, precisa ser separada manualmente, o que é                                                                                                                                           ca e não vejo possibilidade de entrada de outra
demorado e acarreta gasto com mão de obra.”                                                                                                                                             cultura onde ela já está estabelecida. Mas em
    Na falta de dados sobre as propriedades                                                                                                                                             regiões áridas e semiáridas, que apresentam
dos resíduos da mandioca, a novidade na                                                                                                                                                 deficiência hídrica e de outros parâmetros cli-
dissertação de João Veiga está justamente na                                                                                                                                            máticos, a mandioca poderia ser utilizada para
caracterização desta biomassa, calculando a                                                                                                                                             geração de etanol e de excedente de energia
quantidade em que é produzida, a umidade                                                                                                                                                elétrica, assim como outras culturas.”
que apresenta no campo e quando estocada,                                                                                                                                                   Waldir Bizzo reconhece que os resíduos das vá-
e o quanto de energia é capaz de gerar. Para a                                                                                                                                          rias culturas agrícolas são deixados no campo tam-
avaliação, o IAC forneceu três variedades de          A cepa e resíduos da mandioca: caracterização da biomassa                                                                         bém por sua utilidade agronômica, pois contribuem
seu campo experimental na cidade de Echapo-                                                                                                                                             para a ciclagem de nutrientes. No entanto, faz uma
rã (SP), sendo que a de melhor desempenho                                                                                                                                               pergunta aos agrônomos. “Quanto é preciso deixar
foi a IAC-14, que já é comercializada. Colhida        formação de amido (de milho ou de mandioca)                     temperaturas menores na câmara de combus-                         lá? Existe uma parte considerável de energia sen-
12 meses após o plantio, a variedade apresen-         em etanol, os resíduos podem ser queimados                      tão. Isso porque estas cinzas apresentam baixo                    do descartada. Há necessidade de uma mudança de
tou alta produção de raízes (30,12 t/ha/ano)          na caldeira para geração de vapor, que por sua                  ponto de fusão e, se fundidas no caminho de                       técnicas, como de colheita, e também de conceito,
e uma das maiores relações de produção de             vez vai acionar uma turbina para fornecer tan-                  exaustão, vão se agregando nos tubos da cal-                      começando-se a ver o resíduo como sendo também
resíduos (315 quilos por tonelada de raiz).           to a energia elétrica quanto a energia térmica                  deira e criando uma camada isolante, ao invés                     um produto.”
                                                      demandadas no processo. “    Atualmente, usi-                   de proporcionar boa troca térmica.”
    Foram dois anos de pesquisa para demons-
trar que o montante de resíduos produzidos            nas de açúcar e álcool no Estado de São Paulo
pela planta, além de gerar a energia para a ma-       vendem uma média de 4,4 gigajoule de eletri-
                                                      cidade excedente por hectare/ano; com resídu-
                                                                                                                          SURPRESA                                                        Publicação
nutenção de uma usina de produção de etanol                                                                               O professor Waldir Bizzo confessou-se sur-
a partir do amido de mandioca, proporciona a          os da mandioca este excedente pode chegar a                                                                                         Dissertação: “Aproveitamento de resíduos de
                                                      21,8 gigajoule.”                                                preso diante dos resultados obtidos com a raiz
geração de energia elétrica excedente, passível                                                                       e os resíduos da mandioca, que são compará-                         campo da cultura da mandioca (Manihot Escu-
de ser vendida ao mercado. “Este excedente                Um parâmetro importante obtido nos estu-                    veis aos oferecidos pela cana-de-açúcar. “Do                        lenta CRANTZ) para cogeração de energia no
de eletricidade é muito superior à praticada          dos é que os resíduos não podem ser utilizados                  ponto de vista energético, penso que se trata                       processo de produção de etanol de mandioca”
atualmente pelas usinas de açúcar e álcool.           assim que colhidos, devido à alta umidade, ha-                  de um produto atrativo. O lado negativo, as-                        Autor: João Paulo Soto Veiga
E, considerando a produção de energia e de            vendo necessidade de um período de secagem                      sim como no caso da cana, é a energia com-
biocombustível, a mandioca possui índices             no campo ou na indústria. “Os índices que es-                                                                                       Orientador: Waldir Antonio Bizzo
                                                                                                                      petindo com o alimento. Mas, por outro lado,
comparáveis aos da cana-de-açúcar”, assegura          tudamos foram a 30% de umidade. Outro de-                       imagino que a intensificação da utilização da                       Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica
o engenheiro agrônomo.                                talhe é que esta biomassa tem cinzas com alto                   raiz de mandioca para produzir energia pode                         (FEM)
    De acordo com João Paulo Veiga, na trans-         teor de óxidos básicos e deve ser trabalhada a                  incentivar, também, o consumo do alimento,




  Brasil é o segundo maior produtor mundial
      A dissertação de João Paulo Soto Veiga traz          A cultura da mandioca no país é, em sua                    etanol. A Tailândia já utiliza a mandioca em 10%              para cada joule (unidade de energia) consumi-
  informações da FAO (Organização das Nações           maioria, realizada por pequenos agricultores                   da produção do biocombustível, índice que deve                do na produção agrícola e processamento desta
  Unidas para Agricultura e Alimentação) colocan-      e tradicionalmente voltada para a alimentação                  saltar a 90% depois da implantação e entrada em               matéria-prima, obtém-se 1,76 joule no combus-
  do o Brasil como segundo maior produtor mun-         humana, na forma in natura, de amido e de de-                  operação de novas usinas com este propósito. Na               tível produzido. Este índice pode ser melhorado
  dial de mandioca (com 24,3 milhões de toneladas      rivados como a farinha. A sua utilização para a                China, a política de segurança alimentar está ini-            através da utilização de resíduos de campo da
  em 2010), atrás apenas da Nigéria (37,5) e segui-    produção de etanol é inexpressiva no mercado                   bindo a implantação de mais usinas que produ-                 mandioca, visando à produção total ou parcial
  do de Indonésia (23,9), Tailândia (22) e Congo       brasileiro e mundial – a maioria das usinas utiliza            zem etanol a partir do milho, presente em 80%                 da energia consumida no processamento indus-
  (15 milhões de toneladas). Segundo o IBGE, os        principalmente milho (Estados Unidos) e cana-                  desta produção. Diante da restrição ao milho, são             trial. Usando também o biogás dos resíduos das
  maiores produtores brasileiros são os estados do     de-açúcar (Brasil).                                            estudadas outras matérias-primas, como mandio-                raízes como fonte energética no processamento
  Pará, Paraná e Bahia, sendo que em termos regio-          Entretanto, em países da Ásia como Chi-                   ca, sorgo sacarino e batata doce.                             da raiz, pesquisadores encontraram uma relação
  nais, o Nordeste fica em primeiro lugar com mais      na e Tailândia, já está em fase de implantação e                   Estudos realizados em 2010 mostram que na                 de 9,8 J no etanol para cada 1 J consumido na
  de 8 milhões de toneladas/ano.                       adoção dessa matéria-prima para a produção de                  produção de etanol a partir da raiz de mandioca,              produção.

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Mandioca gera etanol e eletricidade

  • 1. 4 Campinas, 29 de outubro a 4 de novembro de 2012 Mandioca gera etanol e eletricidade Dissertação desenvolvida na FEM caracteriza e demonstra potencial da biomassa Fotos: Antoninho Perri LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br produção de etanol tendo a mandio- ca como matéria-prima já foi objeto de estudos nas décadas de 1970 e 80, mas esta opção acabou des- cartada pelos pesquisadores por conta da baixa produtividade da raiz no campo. Hoje, entretanto, é possível mais do que dobrar aquela produtividade, então de 12 toneladas por hectare ao ano, para pelo menos 30 toneladas, justificando uma nova avaliação da ideia. É o que fizeram o professor Waldir Antonio Bizzo e o engenheiro agrônomo João Paulo Soto Veiga, em pesquisa de mestrado junto à Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM). E com resultados surpreendentes. O estudo focou o potencial da mandioca para fins de etanol, bem como a caracterização dos resíduos da planta e seu aproveitamento na geração de eletricidade e vapor para autos- suficiência energética de uma usina produtora do combustível. “ ideia de voltar a pesqui- A sar a mandioca no sentido de produzir ener- gia partiu da professora Teresa Lousada Valle, do IAC, que acaba de ser premiada por seu conhecimento em raízes e tubérculos”, reco- nhece Waldir Bizzo. “Vem do passado o mito de que a mandioca não funciona para etanol e, por isso, até hoje não se faz. Por que não tentar fazer?” Segundo o docente da FEM, a parceria O professor Waldir Antonio Bizzo (dir.), orientador, e o engenheiro agrônomo João Paulo Soto Veiga, autor da dissertação: dobrando a produtividade com o IAC começou há quatro anos, mas o trabalho evoluiu com a integração à equipe do tornando os processos mais intensivos, pro- agrônomo João Paulo Veiga, que explica algu- dutivos e rentáveis, inclusive reduzindo seu mas características da mandioca. “No proces- custo. A cana deve ter ficado muito mais bara- so de colheita, utiliza-se uma máquina cortan- ta nos últimos anos.” do os ramos superiores da planta. Sobram 10 ou 20 centímetros de galhos e a chamada cepa A sugestão do docente da FEM, contida – que serviu como semente no ano anterior e na dissertação, é o cultivo da mandioca para de onde saem as raízes de mandioca. A cepa fins de etanol em regiões onde a produção do ganha volume, aspecto lenhoso e, embora biocombustível a partir da cana-de-açúcar não possua alto teor de amido, acaba descartada se dê em níveis economicamente viáveis. “ A por causa da dificuldade em moê-la. Além dis- cana é a menina dos olhos da cultura energéti- so, precisa ser separada manualmente, o que é ca e não vejo possibilidade de entrada de outra demorado e acarreta gasto com mão de obra.” cultura onde ela já está estabelecida. Mas em Na falta de dados sobre as propriedades regiões áridas e semiáridas, que apresentam dos resíduos da mandioca, a novidade na deficiência hídrica e de outros parâmetros cli- dissertação de João Veiga está justamente na máticos, a mandioca poderia ser utilizada para caracterização desta biomassa, calculando a geração de etanol e de excedente de energia quantidade em que é produzida, a umidade elétrica, assim como outras culturas.” que apresenta no campo e quando estocada, Waldir Bizzo reconhece que os resíduos das vá- e o quanto de energia é capaz de gerar. Para a rias culturas agrícolas são deixados no campo tam- avaliação, o IAC forneceu três variedades de A cepa e resíduos da mandioca: caracterização da biomassa bém por sua utilidade agronômica, pois contribuem seu campo experimental na cidade de Echapo- para a ciclagem de nutrientes. No entanto, faz uma rã (SP), sendo que a de melhor desempenho pergunta aos agrônomos. “Quanto é preciso deixar foi a IAC-14, que já é comercializada. Colhida formação de amido (de milho ou de mandioca) temperaturas menores na câmara de combus- lá? Existe uma parte considerável de energia sen- 12 meses após o plantio, a variedade apresen- em etanol, os resíduos podem ser queimados tão. Isso porque estas cinzas apresentam baixo do descartada. Há necessidade de uma mudança de tou alta produção de raízes (30,12 t/ha/ano) na caldeira para geração de vapor, que por sua ponto de fusão e, se fundidas no caminho de técnicas, como de colheita, e também de conceito, e uma das maiores relações de produção de vez vai acionar uma turbina para fornecer tan- exaustão, vão se agregando nos tubos da cal- começando-se a ver o resíduo como sendo também resíduos (315 quilos por tonelada de raiz). to a energia elétrica quanto a energia térmica deira e criando uma camada isolante, ao invés um produto.” demandadas no processo. “ Atualmente, usi- de proporcionar boa troca térmica.” Foram dois anos de pesquisa para demons- trar que o montante de resíduos produzidos nas de açúcar e álcool no Estado de São Paulo pela planta, além de gerar a energia para a ma- vendem uma média de 4,4 gigajoule de eletri- cidade excedente por hectare/ano; com resídu- SURPRESA Publicação nutenção de uma usina de produção de etanol O professor Waldir Bizzo confessou-se sur- a partir do amido de mandioca, proporciona a os da mandioca este excedente pode chegar a Dissertação: “Aproveitamento de resíduos de 21,8 gigajoule.” preso diante dos resultados obtidos com a raiz geração de energia elétrica excedente, passível e os resíduos da mandioca, que são compará- campo da cultura da mandioca (Manihot Escu- de ser vendida ao mercado. “Este excedente Um parâmetro importante obtido nos estu- veis aos oferecidos pela cana-de-açúcar. “Do lenta CRANTZ) para cogeração de energia no de eletricidade é muito superior à praticada dos é que os resíduos não podem ser utilizados ponto de vista energético, penso que se trata processo de produção de etanol de mandioca” atualmente pelas usinas de açúcar e álcool. assim que colhidos, devido à alta umidade, ha- de um produto atrativo. O lado negativo, as- Autor: João Paulo Soto Veiga E, considerando a produção de energia e de vendo necessidade de um período de secagem sim como no caso da cana, é a energia com- biocombustível, a mandioca possui índices no campo ou na indústria. “Os índices que es- Orientador: Waldir Antonio Bizzo petindo com o alimento. Mas, por outro lado, comparáveis aos da cana-de-açúcar”, assegura tudamos foram a 30% de umidade. Outro de- imagino que a intensificação da utilização da Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica o engenheiro agrônomo. talhe é que esta biomassa tem cinzas com alto raiz de mandioca para produzir energia pode (FEM) De acordo com João Paulo Veiga, na trans- teor de óxidos básicos e deve ser trabalhada a incentivar, também, o consumo do alimento, Brasil é o segundo maior produtor mundial A dissertação de João Paulo Soto Veiga traz A cultura da mandioca no país é, em sua etanol. A Tailândia já utiliza a mandioca em 10% para cada joule (unidade de energia) consumi- informações da FAO (Organização das Nações maioria, realizada por pequenos agricultores da produção do biocombustível, índice que deve do na produção agrícola e processamento desta Unidas para Agricultura e Alimentação) colocan- e tradicionalmente voltada para a alimentação saltar a 90% depois da implantação e entrada em matéria-prima, obtém-se 1,76 joule no combus- do o Brasil como segundo maior produtor mun- humana, na forma in natura, de amido e de de- operação de novas usinas com este propósito. Na tível produzido. Este índice pode ser melhorado dial de mandioca (com 24,3 milhões de toneladas rivados como a farinha. A sua utilização para a China, a política de segurança alimentar está ini- através da utilização de resíduos de campo da em 2010), atrás apenas da Nigéria (37,5) e segui- produção de etanol é inexpressiva no mercado bindo a implantação de mais usinas que produ- mandioca, visando à produção total ou parcial do de Indonésia (23,9), Tailândia (22) e Congo brasileiro e mundial – a maioria das usinas utiliza zem etanol a partir do milho, presente em 80% da energia consumida no processamento indus- (15 milhões de toneladas). Segundo o IBGE, os principalmente milho (Estados Unidos) e cana- desta produção. Diante da restrição ao milho, são trial. Usando também o biogás dos resíduos das maiores produtores brasileiros são os estados do de-açúcar (Brasil). estudadas outras matérias-primas, como mandio- raízes como fonte energética no processamento Pará, Paraná e Bahia, sendo que em termos regio- Entretanto, em países da Ásia como Chi- ca, sorgo sacarino e batata doce. da raiz, pesquisadores encontraram uma relação nais, o Nordeste fica em primeiro lugar com mais na e Tailândia, já está em fase de implantação e Estudos realizados em 2010 mostram que na de 9,8 J no etanol para cada 1 J consumido na de 8 milhões de toneladas/ano. adoção dessa matéria-prima para a produção de produção de etanol a partir da raiz de mandioca, produção.