1) O documento discute o conceito de Supereu em Freud e Lacan e como ele se manifesta clinicamente como um gozo que consome o sujeito.
2) Dois casos clínicos são apresentados ilustrando o Supereu como um imperativo que atravessa o sujeito de forma compulsiva.
3) A Clínica Psicanalítica pode oferecer novas abordagens para lidar com o gozo que se impõe no tempo atual.
HOSPITAL SÃO JOÃO DE DEUS (parte 2): CLÍNICA DA ESCUTA À CLÍNICA DO SUJEITO
CURSO CLÍNICA PSICANALÍTICA 2012 - Aula 6 - Adolescência e transgressão: a devastação do sintoma
1. Clínica Psicanalítica:
manejo e subjetivações na contemporaneidade
Tema:
Adolescência e transgressão: a devastação do sintoma
Mantendo o debate com o tema anterior: Adolescência e transgressão: o supereu
imperativo
Alexandre Simões
ALEXANDRE
SIMÕES
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Coordenação
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4. Chegamos a
localizar a
problematização do
Supereu em Freud
e em Lacan,
bem como o ponto de interseção entre as
duas perspectivas
5. Fundamentalmente
demarcamos o Supereu em sua
perspectiva clínica: como um gozo
que consome o sujeito, tal
qual uma vela é consumida pela chama
6. A isto, devemos
sempre acrescentar
que este gozo atravessa o
sujeito como um
imperativo; daí, seu caráter
compulsivo
7. Vejamos, na sequência, duas
breves cenas clínicas que nos
apresentam a injunção do
Supereu
O gozo é do Outro
Jacques Lacan, em 1975, no Seminário ... ou pire
8. Fragmento clínico 1:
Um rapaz, prestes a completar seus 18 anos de
idade, me procurou em companhia de seus pais.
Este jovem estava cursando o terceiro ano do
Ensino Fundamental e, há aproximadamente um
ano, vinha se envolvendo ininterruptamente com
um conjunto de situações que em muito
preocupavam seus pais.
No momento em que ele chegou à análise, ele
próprio - em alguma medida - já começava
também a se inquietar com o que vinha
ocorrendo.
9. A s marcas da intensidade e da repetição estavam bem
presentes em meio aos acontecimentos que, em linhas
gerais, giravam ao redor do uso abusivo de álcool e a
participação em reuniões e festas cotidianas que findavam
por alterar inteiramente o ciclo de vigília e sono (tornando
impraticável a frequência às aulas no último ano do Ensino
Médio).
A este modo compulsivo de se encontrar com aquilo que
claramente se figurava como excesso, havia também a
constante demarcação, por parte do jovem paciente, da
impotência dos pais em lidar com tal situação.
Desta forma, a cada situação marcada pela
desmedida, a palavra dos pais só entrava em cena
para indicar (tanto para os próprios pais quanto para
o filho) a total precariedade da função coibidora e
limitadora que um dia ela pôde ter desempenhado.
10. Não é a lei que barra o acesso do
sujeito ao gozo
Jacques Lacan, em 1966, nos Escritos
11. O que especialmente conduziu este jovem à análise foi
um acontecimento bastante específico: ele estava em
uma festa que já se prolongava por várias horas, junto
de colegas da escola, e após a ingestão de uma grande
quantidade de vodka, ele não mais se deu conta do que
se passava.
Ao acordar, em um canto da sala, percebeu - ainda
bastante obnubilado - que ele havia passado algum
tempo “apagado” e, subitamente, percebeu que havia
perdido o controle dos esfíncteres. Deu-se conta, em
meio a vômitos, salivas, suores e o corpo largado como
dejeto que naquele momento ele estava também
envolvido por urina e fezes.
De forma bem especial, o jovem se dizia bastante
tocado (no caso, surgiu o pathos do constrangimento
e da vergonha) não bem com o ocorrido, mas sim
com o olhar dos outros;
12. Este chamado ao gozo não se restringia a esta apresentação
pública de um corpo vazado, por assim dizer.
A isto iam se somando agressões físicas entre o paciente e
seus pais, mais notavelmente entre o paciente e seu pai.
Este pai, há alguns anos, era tido como um homem bem
sucedido financeiramente mas que, atuando no ramo das
construtoras, veio a falir desastrosamente. Portava
atualmente um diagnóstico de transtorno afetivo bipolar
que, junto da vigorosa medicação e do início de um
Parkinson, o incapacitavam para o trabalho.
Era atualmente um pai do qual o filho exigia que algo lhe fosse dado
(a exigência era inversamente proporcional à falência do pai), sendo
insuportável para este filho a encarnação ininterrupta, dentro de
casa, de um pai em declínio.
13. não teríamos um Supereu implacável
especialmente na adolescência?
14. Fragmento clínico 2:
Uma jovem, próxima de seus 15 anos de idade,
foi levada a mim - um tanto quanto a
contragosto - pela mãe, bastante aflita diante de
sua impotência face aos constantes
desentendimentos com a filha e as recorrentes
atuações desta.
Na primeira sessão, mãe e filha são ouvidas por
mim em conjunto. Em um dado momento da
sessão, a jovem diz para a mãe, em um tom bem
inamistoso: “Você vai continuar dizendo tudo
para ele?. Se você continuar a falar de mim, eu
vou embora!”
15. Vendo que a mãe prosseguia na descrição dos impasses
instalados entre as duas, a filha bruscamente se retirou do
consultório.
Um tanto quanto atônita, a mãe parecia não saber muito bem o que
fazer, naquele momento (e isto veio a se mostrar como emblemático
quanto a todos os entraves postos entre mãe e filha): disse-lhe para
prosseguir com a tarefa que, caso contrário, ficaria inconclusa:
dizer sobre aquilo que estava marcado pelo
desencontro entre mãe e filha.
16. Há aproximadamente 2 anos, a mãe não mais
conseguia reconhecer na filha a bela e
companheira criança de tempos passados.
Ao ver da mãe, a filha queria
insistentemente a sua ruína. A mãe já se
encontrava separada do pai de sua filha e,
sozinha a maior parte do tempo, tentava a
duras penas dar conta da filha.
17. Em meio a agressões mútuas (verbais e
físicas), a jovem indicava claramente uma
impossibilidade em ser freada:
Decidiu, por si mesma, abandonar os estudos. Paralelamente,
sempre indicava para a mãe que estava indo a alguns lugares quando,
na verdade, encontrava-se em outros, com outras companhias. Na
ausência de uma lei apaziguadora não restava para a filha outro
caminho a não ser as constantes atuações e apelar para a Polícia: ela
denunciou a mãe por maus tratos.
18. Não é a lei que barra o acesso do
sujeito ao gozo
Jacques Lacan, em 1966, nos Escritos
19. É o prazer que oferece ao gozo
seus limites
Jacques Lacan, em 1966
Jacques Lacan, em 1966, nos Escritos
20. A Clínica Psicanalítica pode,
atualmente, oferecer outras vias
a estes sujeitos?
Como operar com o
gozo que se impõe ao
nosso tempo?
21. Prosseguiremos com o tema:
18/06: Neurose obsessiva e transtorno afetivo bipolar
Até lá!
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