1. Instituto Politécnico de Setúbal
Escola Superior de Educação
Resumo de alguns excertos da tese de Doutoramento “Educação para a
Televisão e aprendizagem do Português – Um estudo prospectivo” de
Fernanda Botelho
Unidade Curricular: Língua Portuguesa e Tecnologias da Informação e Comunicação
Docentes: Helena Camacho e Maria do Rosário Rodrigues
Ano Lectivo: 2009/2010
Curso: Licenciatura em Educação Básica
Ano: 3º ano
Turma: A
Discentes:
Ana Baptista, 070142057
Inês Graça, 070142065
3 de Dezembro de 2009
2. Media, significação e dimensões sociais
Os Media não constituem a total realidade exterior, assim necessitam ser trabalhados para
que a distinção entre o real e as suas representações aconteça. É esta distinção que
incorpora o fundamento principal da Educação para os Media.
Os produtos dos Media requerem compreensão, análise e avaliação nas várias formas que
apresentam. A televisão é um dos Media mais presentes e significativos no nosso
quotidiano, por isso é necessário que as gerações futuras trabalhem na educação e na
compreensão da sua construção e mediação da realidade.
A educação para a televisão permite trabalhar aspectos concretos do quotidiano das
crianças, uma vez que as mesmas edificam através da televisão a sua construção social
de uma significação.
O texto televisivo
Características: polissemia(s) e construção de significação
O texto televisivo pode apresentar variadas significações, por isso é considerado
polissémico.
A leitura de um texto de produção Media é descrita por Fiske (1992) na diferenciação de
três circunstâncias: “ “dominante” ou socialmente correcto; “oposto” que interroga os
aspectos ideológicos da mensagem textual; e “negociado” que permite as diferenças
individuais na construção das significações”. O mesmo autor apresenta, nesta obra, o texto
televisivo como uma dicotomia em que por um lado existem forças de tensão que
propendem a fechar o seu universo de significações e por outro lado forças de abertura
que levam o seu público a negociar a diversidade de significações. Assim, tendo em conta
as diferentes características, o texto televisivo apresenta uma definição flexível.
Fiske considera três factores deveras importantes aquando a negociação dos significados
propostos pela televisão: o leitor e as suas crenças e conhecimentos; os conhecimentos
realizados pela televisão; e a leitura partilhada com os outros.
Também os recursos textuais são possibilitadores de várias leituras dado a sua
multiplicidade de significados, assim como a variedade de espectadores.
A produção de significados, assim como a construção de conhecimentos acerca do mundo
é de acesso facilitado tanto a produtores como a telespectadores. Assim há uma abertura
às práticas discursivas dos últimos que, por sua vez, constituem o espírito da “democracia
semiótica”.
3. A narrativa na televisão: tipos, estruturas e códigos
Os dois principais processos culturais, narrativa e linguagem, de uma qualquer sociedade,
atribuem um sentido à nossa experiência do mundo real.
A estrutura da narrativa partilha muitas das características da linguagem (segundo os
estruturalistas), pois relaciona-se com a paradigmática e a sintagmática.
Na televisão prevalece o género narrativo, pois é considerado um processo cultural
fundamental. Os Media utilizam a narrativa para relatar os acontecimentos, como se de
uma história se tratasse, construindo conflitos para uma posterior resolução.
A narrativa realista clássica possui estratégias de leitura que tentam construir um mundo
consistente, coerente e semelhante ao mundo real e remete para o leitor a construção do
seu próprio sentido, fora das suas características culturais.
Aprendizagens sobre Televisão: aspectos essenciais
Os avanços tecnológicos na área das comunicações (computador) e o aparecimento de
um vasto conjunto de canais disponíveis tornaram a televisão num mercado muito mais
competitivo.
O entretenimento, a educação e a informação inserem-se no conjunto dos objectivos
inerentes à Televisão. É lhe dada uma enorme credibilidade na transmissão de informação
sobre os acontecimentos mundiais.
As aprendizagens realizadas pelas crianças, com a televisão, são referidas pelas mesmas
aquando das aquisições de conhecimentos factuais e das aquisições pessoais e sociais
acerca da forma como se lida com as pessoas ou de como lidar com situações sociais
diferentes.
As aprendizagens realizadas com a televisão dependem de um conjunto de factores.
A Educação para a televisão é uma questão relevante nos dias de hoje, pois na sua
grande maioria, a televisão transmite programas que constituem reflexões no âmbito da
sociedade contemporânea, logo os espectadores construirão os significados baseados
nessas reflexões. Por isso se conclui que a televisão tem cada vez mais capacidades para
desempenhar funções como meio educativo.
Bob Hodge e David Tripp definem dez teses da relação entre as crianças e a televisão.
A primeira tese reporta-se para as capacidades activas da generalidade das crianças na
descodificação da televisão, ou seja, as significações que constroem são complexas e por
isso precisam de um acompanhamento porque nem todos os programas são igualmente
benéficos.
4. A segunda tese remete para a diversidade existente na preferência das crianças pelos
programas televisivos
A terceira tese faz referência ao auxílio que pode ser dado pelos pais no sentido de ajudar
a clarificar algumas questões sociais fundamentais para a criança e até para si próprios.
A quarta tese apresenta a relação entre a “representação da realidade na televisão e o
mundo real, bem como à capacidade das crianças julgarem esta mesma relação”.
A quinta tese apresenta a preocupação dos educadores em trabalhar as mensagens e
fazer com que as crianças compreendam os seus conteúdos, tornando-os cidadãos da
sociedade da informação.
A sexta tese justifica a importância das crianças experimentarem programas com
representações da realidade diferentes, logo, as crianças tornar-se-ão capazes de
estabelecerem distinções entre os programas que visionam.
A sétima tese relaciona-se com a construção de significações da televisão através do
discurso social, isto é, as interacções presentes com os adultos, e até mesmo com os
pares (redefinições e novas apropriações).
A oitava tese refere-se à importância da família como agente de socialização, na
sociedade contemporânea, e por isso os adultos não podem apenas preocupar-se com a
quantidade ou o tipo de programas que as crianças vêem mas também procurar trabalhar
toda a informação que deles provém.
Na nona tese importa referir o “papel activo da família na construção das significações da
televisão”, tentando defini-las e integra-las.
A décima tese aborda a relação entre a televisão e o contexto educativo (escola). A
Educação para a Televisão deveria ser integrada nos curricula, pois é uma boa forma de
se tornarem cidadãos adequados à sociedade em que estão inseridos, trabalhando todos
os aspectos essenciais que esta lhes oferece.
Literacia televisiva e ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa
A Educação para a Comunicação é um dos grandes objectivos da disciplina de Língua
Portuguesa, assim um trabalho inovador e de qualidade na Educação para os Media em
conjunção com a mesma são os grandes fundamentos para a sua inclusão no curriculum
da disciplina.
Acredita-se que A Educação para os Media deve constituir uma dimensão transversal nos
curricula do Ensino Básico, no entanto, com esta medida podem surgir riscos a vários
5. níveis. Assim sustenta-se que a mesma deva incorporar um curriculum, especificamente o
de Língua Portuguesa.
Os objectos e finalidades do ensino da Língua Materna e os da Educação para os Media
são muito semelhantes ao contrário do que muitos tentam provar. Apesar dos mesmos
fazerem parte de campos académicos diferentes, ambos trabalham na mesma área e nas
mesmas apreensões da linguagem.
A Educação para os Media propicia às crianças aprendizagens no âmbito da Língua, pois
criam situações de interesse nas crianças que as motivam a querer aprender.
A aprendizagem da Língua Materna pode estar muito ligada aos Media desde “o que
produzem” á forma como é produzido.
Os curricula da Língua Materna de alguns países incorporam a Educação para os Media,
uma vez que se acredita que o ensino-aprendizagem da mesma deve proporcionar aos
alunos oportunidades de utilização e investigação da linguagem em todas as suas
dimensões.