6. Virgem mal-sexuada
Eu queria a estrela da manhã Atribuladora dos aflitos
Onde está a estrela da manhã? Girafa de duas cabeças
Meus amigos meus inimigos Pecai por todos pecai com todos
Procurem a estrela da manhã
Pecai com malandros
Ela desapareceu ia nua Pecai com sargentos
Desapareceu com quem? Pecai com fuzileiros navais
Procurem por toda à parte Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Digam que sou um homem sem orgulho Com o padre e o sacristão
Um homem que aceita tudo Com o leproso de Pouso Alto
Que me importa? Depois comigo
Eu quero a estrela da manhã
Te esperarei com mafuás novenas
Três dias e três noite cavalhadas
Fui assassino e suicida [comerei terra e direi coisas de uma
Ladrão, pulha, falsário ternura tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por toda à parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.
7. O que não tenho e desejo Criou-me, desde eu menino
É que melhor me enriquece. Para arquiteto meu pai.
Tive uns dinheiros — perdi-os... Foi-se-me um dia a saúde...
Tive amores — esqueci-os. Fiz-me arquiteto? Não pude!
Mas no maior desespero Sou poeta menor, perdoai!
Rezei: ganhei essa prece.
Não faço versos de guerra.
O que não tenho e desejo Não faço porque não sei.
É que melhor me enriquece. Mas num torpedo-suicida
Tive uns dinheiros — perdi-os... Darei de bom grado a vida
Tive amores — esqueci-os. Na luta em que não lutei!
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
8. E como farei ginástica E quando eu estiver mais
Andarei de bicicleta triste
Montarei em burro brabo Mas triste de não ter
Vou-me embora pra Pasárgada Subirei no pau-de-sebo jeito
Lá sou amigo do rei Tomarei banhos de mar! Quando de noite me der
Lá tenho a mulher que eu E quando estiver cansado Vontade de me matar
quero Deito na beira do rio — Lá sou amigo do rei
Na cama que escolherei Mando chamar a mãe-d'água —
Vou-me embora pra Pasárgada Pra me contar as histórias Terei a mulher que eu
Que no tempo de eu menino quero
Vou-me embora pra Pasárgada Rosa vinha me contar Na cama que escolherei
Aqui eu não sou feliz Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra
Lá a existência é uma aventura Pasárgada
De tal modo inconseqüente Em Pasárgada tem tudo
Que Joana a Louca de Espanha É outra civilização
Rainha e falsa demente Tem um processo seguro
Vem a ser contraparente De impedir a concepção
Da nora que eu nunca tive Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
11. - Tá vendo?
- Qual é, minha tia?
- Tou. A gente liberta o - Adivinhe.
negro. - Mulher...
A negra ia apanhando o - Não.
tabuleiro. Henrique ajudou-a - Cachaça...
a botar as latas vazias em - Não.
cima. Ela perguntou: - Feijoada...
- Não sabe o que é? É cavalo. Se não
fosse cavalo, branco montava em
- Você sabe qual é a coisa
negro..."
mais melhor do mundo?
Jorge Amado
12. É doce morrer no mar Saveiro partiu de noite foi Nas ondas verdes do mar
Nas ondas verdes do mar Madrugada não voltou meu bem
É doce morrer no mar O marinheiro bonito Ele se foi a se afogar
Nas ondas verdes do mar Sereia do mar levou Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá
A noite que ele não veio foi É doce morrer no mar
Foi de tristeza pra mim Nas ondas verdes do mar É doce morrer no mar
Saveiro voltou sozinho É doce morrer no mar Nas ondas verdes do mar
Triste noite foi pra mim Nas ondas verdes do mar É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
Composição: Dorival Caymmi e Jorge Amado
Interpretação: Dorival Caymmi