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João de Deus
Por um estilo
Romântico/Realista
João de Deus de Nogueira Ramos
 São Bartolomeu de Messines 11/03/1830
 Lisboa 11/01/1896)
 Representa ao lado de Júlio Dinis, a transição do Romantismo
para as primeiras manifestações realistas. Abandonando certos
temas ultrarromânticos, João de Deus se aproxima das
composições populares, produzindo textos escritos em
linguagem simples e métricas variadas, o que lhe valeu a
admiração dos jovens realistas.
 O amor (às vezes, de concepção camoniana), a religiosidade, a
sátira, os versos curtos e melódicos (revelando a influência de
Tomás Antonio Gonzaga) completam as características da
poesia de João de Deus.
Amores, Amores
 Não sou eu tão tola
Que caia em casar;
Mulher não é rola
Que tenha um só par:
Eu tenho um moreno,
Tenho um de outra cor,
Tenho um mais pequeno,
Tenho outro maior.
Que mal faz um beijo,
Se apenas o dou,
Desfaz-se-me o pejo,
E o gosto ficou?
Um deles por graça
Deu-me um, e, depois,
Gostei da chalaça,
Paguei-lhe com dois.
 Abraços, abraços,
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Se Deus me deu braços,
Foi essa a razão:
Um dia que o alto
Me vinha abraçar,
Fiquei-lhe de um salto
Suspensa no ar.
Vivendo e gozando,
Que a morte é fatal,
E a rosa em murchando
Não vale um real:
Eu sou muito amada,
E há muito que sei
Que Deus não fez nada
Sem ser para quê.
 Amores, amores,
Deixá-los dizer;
Se Deus me deu flores,
Foi para as colher:
Eu tenho um moreno,
Tenho um de outra cor,
Tenho um mais pequeno,
Tenho outro maior.
João de Deus, in 'Campo de
Flores'
Beijo

Beijo na face
Pede-se e dá-se:
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
Vá!
Um beijo é culpa,
Que se desculpa:
Dá?
A borboleta
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Vá!
*
 Um beijo é graça,
Que a mais não passa:
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Vê?
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 Como ele é doce!
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Saciar-me veio,
Amor!
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Flor!
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Amor!
 Talvez te leve
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A vida foge,
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Amor!
Guardo segredo,
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Pois!
Um mais na face,
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Três é a conta
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Vês?
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Não sejas tonta!
Três!
 Três, sim: não cuides
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Vês?
Três são as Graças,
Três as Virtudes;
Três.
As folhas santas
Que o lírio fecham,
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E não o deixam
Manchar, são... quantas?
Três!
João de Deus, in 'Campo de
Flores'
Dinheiro
 O dinheiro é tão bonito,
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O falar, fala de um modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
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O que aquele demo faz!
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Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
Tlim!
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Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«Conhece este amigo antigo?»
— Oh, meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não!
Perdão!

Seria o beijo
Que te pedi,
Dize, a razão
(outra não vejo)
Por que perdi
Tanta afeição?
Fiz mal, confesso;
Mas esse excesso,
Se o cometi,
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Sim, por amor
De quem?... de ti!
 Tu pensas, flor,
Que a mulher basta
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Unicamente?
Não basta tal:
Cumpre ser boa,
Ser indulgente.
Fiz-te algum mal?
Pois bem: perdoa!
É tão suave
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Mesmo o perdão
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Beijar-te a face...
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Perdão! perdão!
Attracção
 Meus olhos sempre inquietos
Que posso até dizer,
Só acham n'alma objectos
Que os possam entreter;
Meus olhos... coisa rara!
Porque hão de em ti parar
Como a corrente pára
Em encontrando o mar!?
 E penso n'isto, scismo...
Mas é tão natural
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A vista que te puz.
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João de Deus: poeta português entre o Romantismo e Realismo

  • 1. João de Deus Por um estilo Romântico/Realista
  • 2. João de Deus de Nogueira Ramos  São Bartolomeu de Messines 11/03/1830  Lisboa 11/01/1896)  Representa ao lado de Júlio Dinis, a transição do Romantismo para as primeiras manifestações realistas. Abandonando certos temas ultrarromânticos, João de Deus se aproxima das composições populares, produzindo textos escritos em linguagem simples e métricas variadas, o que lhe valeu a admiração dos jovens realistas.  O amor (às vezes, de concepção camoniana), a religiosidade, a sátira, os versos curtos e melódicos (revelando a influência de Tomás Antonio Gonzaga) completam as características da poesia de João de Deus.
  • 3. Amores, Amores  Não sou eu tão tola Que caia em casar; Mulher não é rola Que tenha um só par: Eu tenho um moreno, Tenho um de outra cor, Tenho um mais pequeno, Tenho outro maior. Que mal faz um beijo, Se apenas o dou, Desfaz-se-me o pejo, E o gosto ficou? Um deles por graça Deu-me um, e, depois, Gostei da chalaça, Paguei-lhe com dois.
  • 4.  Abraços, abraços, Que mal nos farão? Se Deus me deu braços, Foi essa a razão: Um dia que o alto Me vinha abraçar, Fiquei-lhe de um salto Suspensa no ar. Vivendo e gozando, Que a morte é fatal, E a rosa em murchando Não vale um real: Eu sou muito amada, E há muito que sei Que Deus não fez nada Sem ser para quê.  Amores, amores, Deixá-los dizer; Se Deus me deu flores, Foi para as colher: Eu tenho um moreno, Tenho um de outra cor, Tenho um mais pequeno, Tenho outro maior. João de Deus, in 'Campo de Flores'
  • 5. Beijo  Beijo na face Pede-se e dá-se: Dá? Que custa um beijo? Não tenha pejo: Vá! Um beijo é culpa, Que se desculpa: Dá? A borboleta Beija a violeta: Vá! *  Um beijo é graça, Que a mais não passa: Dá? Teme que a tente? É inocente... Vá! Guardo segredo, Não tenha medo... Vê? Dê-me um beijinho, Dê de mansinho, Dê!
  • 6.  Como ele é doce! Como ele trouxe, Flor, Paz a meu seio! Saciar-me veio, Amor! Saciar-me? louco... Um é tão pouco, Flor! Deixa, concede Que eu mate a sede, Amor!  Talvez te leve O vento em breve, Flor! A vida foge, A vida é hoje, Amor! Guardo segredo, Não tenhas medo Pois! Um mais na face, E a mais não passe! Dois... *
  • 7.  Oh! dois? piedade! Coisas tão boas... Vês? Quantas pessoas Tem a Trindade? Três! Três é a conta Certinho, e justa... Vês? E que te custa? Não sejas tonta! Três!  Três, sim: não cuides Que te desgraças: Vês? Três são as Graças, Três as Virtudes; Três. As folhas santas Que o lírio fecham, Vês? E não o deixam Manchar, são... quantas? Três! João de Deus, in 'Campo de Flores'
  • 8. Dinheiro  O dinheiro é tão bonito, Tão bonito, o maganão! Tem tanta graça, o maldito, Tem tanto chiste, o ladrão! O falar, fala de um modo... Todo ele, aquele todo... E elas acham-no tão guapo! Velhinha ou moça que veja, Por mais esquiva que seja, Tlim! Papo. E a cegueira da justiça Como ele a tira num ai! Sem lhe tocar com a pinça; E só dizer-lhe: «Aí vai...» Operação melindrosa, Que não é lá qualquer coisa; Catarata, tome conta! Pois não faz mais do que isto, Diz-me um juiz que o tem visto: Tlim! Pronta.  Nessas espécies de exames Que a gente faz em rapaz, São milagres aos enxames O que aquele demo faz! Sem saber nem patavina De gramática latina, Quer-se um rapaz dali fora? Vai ele com tais falinhas, Tais gaifonas, tais coisinhas... Tlim! Ora... Aquela fisionomia É lábia que o demo tem! Mas numa secretaria Aí é que é vê-lo bem! Quando ele de grande gala, Entra o ministro na sala, Aproveita a ocasião: «Conhece este amigo antigo?» — Oh, meu tão antigo amigo! (Tlim!) Pois não!
  • 9. Perdão!  Seria o beijo Que te pedi, Dize, a razão (outra não vejo) Por que perdi Tanta afeição? Fiz mal, confesso; Mas esse excesso, Se o cometi, Foi por paixão, Sim, por amor De quem?... de ti!  Tu pensas, flor, Que a mulher basta Que seja casta, Unicamente? Não basta tal: Cumpre ser boa, Ser indulgente. Fiz-te algum mal? Pois bem: perdoa! É tão suave Ao coração Mesmo o perdão De ofensa grave! Se o alcançasse, Se o conseguisse, Quisera então Beijar-te a mão, Beijar-te a face... Beijar? que disse! (Que indiscrição...) Perdão! perdão!
  • 10. Attracção  Meus olhos sempre inquietos Que posso até dizer, Só acham n'alma objectos Que os possam entreter; Meus olhos... coisa rara! Porque hão de em ti parar Como a corrente pára Em encontrando o mar!?  E penso n'isto, scismo... Mas é tão natural Cahir-se no abysmo D'uma belleza tal!... Olhei!... Foi indiscreta A vista que te puz. A pobre borboleta Viu luz... cahiu na luz! Uma attracção mais forte Que toda a reflexão, (É fado, é sina, é sorte!) Me arrasta o coração...