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O homem que reinventou o tempo

I acto
Decorre o ano de 1900. Sentado na esplanada de um café de uma movimentada praça
de Zurique, o jovem Einstein rabisca uns papeis. Um empregado, de ar emproado, já
cansado de o ver sentado sem fazer consumo, pergunta-lhe com azedume:

       [empregado] - O senhor vai desejar mais alguma coisa?

      Einstein, imerso nos seus cálculos, não lhe presta a mínima atenção. O
empregado, aborrecido, dá um berro que faz saltar Einstein da cadeira.

       [Einstein] - O que foi?

        [empregado] - Uma barata. Mas já se foi embora... – diz o empregado com ar
torcista.

       Einstein olha para ele de cima a baixo.

       [Einstein] - Cá para mim ela ainda aqui está. E é daquelas bem grandes e
nojentas.

       [empregado] - Por acaso o senhor não quer mais alguma coisa?

        [Einstein] – por acaso até quero. Uns cinco minutinhos de silêncio. E para já,
se faz favor.

       O empregado dirige-se para o café a resmungar:

       [empregado]- Este passa-me as tardes aqui enfiado sem fazer despesa! Quem
pensa que é? Não passa de um zé ninguém…

       Entretanto chegam dois colegas de faculdade.

       [Colega 1] - Albert, sempre no café. Deves ter um contracto com o gerente.

       [Colega 2] - É pá, tu nunca vais às aulas!

       [Einstein] - Vou às importantes.

       [Colega 1] - Ou seja, quase nenhuma. Olha que o barbas deu pela tua falta.

       [Einstein] - O Weber? Engraçado que não dei pela falta dele.

       [Colega 2]- ele regista as tuas faltas.

       [Einstein] - O tempo que gasta a contar os alunos e preencher sumários se o
aplicasse a fazer ciência, ganhava mais.

       [Colega 1] - Olha que os exames são difíceis.
[Einstein]- O que é que isso interessa? O verdadeiro exame é compreender a
mensagem do “velho das barbas”.

          [colega 2] – o Pai-Natal! Essa é simples: Ou Ou Ou…

          Riem-se. Um colega pega num jornal e começa a ler.

          [colega 1] - Olhem só as notícias.

          [colega 2] - Novo aumento do IVA?

          [Einstein] – O único imposto que devia aumentar era o ICA.

          [colega 1] - O ICA?

          [Einstein] - Imposto sobre a Cretinice Acrescentada.

        [colega 1] – Diz aqui que os físicos americanos Michelson e Morley
verificaram um facto intrigante: a velocidade da luz é sempre constante, qualquer que
seja o referencial. Embora a experiência tenha sido realizada à alguns anos, ainda
ninguém a soube explicar. A física está em polvoroso.

          [colega 2] - Não percebo o que isso tem de especial.

        Einstein levanta-se e pega numa maça que está na bandeja do empregado que
lhe faz uma careta.

          [empregado] - É um Franco!

          Einstein não lhe liga. Pega na maça e pede ao colega para se por à sua frente.

       [Einstein] – Repara bem. Se eu estiver parado e mandar a maça a uma
velocidade de 5 m/s, a que velocidade mais recebê-la?

          [colega 2] - 5 m/s, claro! - Diz ele enquanto agarra a maçã no ar.

          [Einstein] - E se eu estive a mover-me também a 5 m/s.

          Einstein atira a maça a correr violentamente esmagando-a contra a cara do
colega.

          [Einstein] - O que acontece agora?

          [colega 1] - compota de maçã!

          [empregado] - E menos 1 franco.

       [Einstein] - A velocidade com que a maça te atingiu é a soma da minha
velocidade com a velocidade com que eu atiro a maça
[colega 2] – ou seja 5 + 5 = 10 m/s.

       [Einstein] – exacto. Agora, se em vez da maçã eu estivesse a enviar luz.

       [colega 2] – seria a mesma coisa.

        [Einstein] – errado! Ias receber a luz sempre à mesma velocidade, quer eu
estivesse em movimento quer não.

       [colega 2] - O que não deixa de ser estranho.

       [Einstein] - Sem dúvida muito estranho. Ou a luz tem propriedades mágicas ou
então há algo de errado com a noção de espaço e de tempo de Newton.

       [colega 1] - Einstein dixit! – riso.

        [colega 2] - Mas ouve lá, quem é que pensas que és? Deus? Olha que de
santos está o inferno cheio. Vá, anda logo à noite a uma festa na minha casa. Olha que
estão lá miúdas giras.

      [Einstein] - A vida é demasiado curta para a desperdiçarmos em futilidades,
como aulas e festas. Não tenho tempo.

      [colega 2] - Raios parta o tempo. Nunca tens tempo. Devias é de arranjar uma
maneira de inventar tempo – disse com uma gargalhada.

       Eles e partem e Einstein fica a pensar murmurando para si mesmo.

       [Einstein] - É precisamente isso que eu ando à procura.
II acto
Sentado numa secretária no centro de patentes de Berna, Einstein escreve a seguinte
carta ao amigo Habicht:

Então o que andas tu a tramar minha baleia congelada, meu pedaço de alma
defumada, seca e enlatada, ou outra coisa qualquer que me apetece atirar-te à
cabeça e estoirar com os meus 70% de raiva e 30% de pena. Podes agradecer aos
últimos 30% por não te ter enviado uma lata cheia de cebolas e alhos podres depois
de teres tido a cobardia de não aparecer na nossa reunião do clube de ciência. Mas
porque é que não me enviaste a tua tese? Ainda não percebeste que sou uma das 1,5
pessoas que teria prazer e interesse em lê-la, ó criatura desprezível? Prometo-te
quatro artigos em troca. Um deles é um artigo revolucionário sobre a radiação e as
propriedades energéticas da luz, como poderás ver se me enviares o teu trabalho
primeiro. O 2º é sobre a determinação do tamanho exacto dos átomos a partir da
difusão e viscosidade de soluções diluídas em substâncias neutras. O terceiro prova
que os corpos da ordem de um milésimo de milímetro devem realizar um movimento
aleatório observável produzido por uma agitação térmica. O quarto artigo é só um
rascunho e trata da electrodinâmica de corpos em movimento que emprega uma
modificação da teoria do espaço e do tempo.

       Na parede um relógio de pêndulo marca um tic-tac cadênciado. Einstein
levanta-se e olha atentamente para o relógio.

       [Einstein] - Afinal o que é o tempo? Para Galileu a bitola que marca a
cadência de todos os pontos do universo. Um tempo absoluto, independente da nossa
vontade ou situação. Não gosto deste tempo assim. Um ditador que estou prestes a
destronar. A orquestra do universo não afina toda pelo mesmo compasso. Sou eu que
escolho o meu próprio ritmo.

       Einstein pega no violino e toca um pouco.

       Entretanto entra a sua mulher, Mileva que se aproxima-se dele com um
carinho nos ombros:

       [Mileva] - Então meu ursinho, ainda a trabalhar?

       [Einstein] - Trabalhar?! Não sabes que agora sou um funcionário público!

       Mileva ri-se.

       [Mileva] - Sim, mas a tua cabeça não pára. Vejo nos teus olhos que andas a
tramar alguma.

        [Einstein] - Não o consigo evitar. Estava precisamente a reflectir sobre o
significado do tempo. Questiono-me se o tempo não será elástico, capaz de se dilatar
ou contrair. Um tempo relativo para cada observador.

       [Mileva]- Claro que é. Não vês que quando estou contigo o tempo parece que
voa.
Mileva dá-lhe um beijinho

       [Mileva] - Gosto de te ver assim compenetrado num problema.

     [Einstein]- Lembras-te do artigo sobre a electrodinâmica dos corpos em
movimento?

       [Mileva] - E a estática dos corpos em repouso? Estás aqui metido à horas.
Precisas de descansar.

       [Einstein] - Não te preocupes, minha sapinha. Este trabalho vale bem o
esforço. Acho que estou à beira de uma grande descoberta.

       [Mileva] - Só espero que não tenhas morrido à fome no dia em que o mundo
souber disso.

       [Einstein] - Isso não interessa. Sabes, a nossa discussão de ontem à noite foi
muito interessante.

       [Mileva]- Sobre os invariantes de Lorentz onde espaço e tempo se interligam?

        [Einstein] - Exactamente. A única forma de explicar a experiência de
Michelson é enterrar de vez com o tempo absoluto e aceitar a ideia de um tempo
elástico.

       [Mileva] - Isso faz sentido. Se a velocidade da luz é constante e se velocidade
é o espaço percorrido num certo tempo, então o espaço e o tempo têm de se ajustar à
velocidade.

       [Einstein] – Para mim está claro. Só me faltam algumas equações que
generalizam os resultados. Queres ajudar-me?

       [Mileva] - Claro. Mas, como sabes, isso deita por terra o éter.

       [Einstein] - Ora, o éter é fruto da imaginação delirante de algumas mentes que
devem ter inalado éter a mais. Verifica as equações que escrevi – ordena Einstein com
um beijo rápido.

        Mileva relê o manuscrito enquanto Einstein toca violino. No final volta-se para
ele e diz:

      [Mileva] - És uma pessoa muito especial. Inteligência sem sensibilidade é
como combustível sem motor. Tu, meu querido, tens as duas.

       [Einstein] - Achas mesmo? Às vezes tenho a sensação que ninguém me
percebe além de ti.

       [Mileva] - Não, tudo faz sentido. Tempo e espaço intimamente ligados num
só.
[Einstein] - Como nós dois!

Einstein abraça Mileva beijando-a.
III acto

Ano 1919, pós primeira guerra mundial. Na Europa vivem-se dias difíceis. A guerra
tinha dizimado milhões de pessoas e destruido o tecido produtivo. O desemprego, a
inflação e a fome trazem a miséria ao que antes eram prósperas cidades.
       Neste cenário degradante de pobreza e miséria, Einstein passeia com um
amigo numa rua movimentada de Berlim.

       [Einstein] - Não percebo porque a minha teoria da relatividade não é aceite.

      [amigo] - A tua concepção do mundo é demasiado revolucionária. Espaço-
tempo curvilenio, tensores covariantes e contra-variantes, métrica Rimeniana…

       [Einstein] – E depois?

       [amigo] – Depois? Vê bem o que estás a dizer: a velocidade atrasa o tempo, a
gravidade deforma o espaço, a energia pode criar matéria e até a massa, afinal não
passa de mera energia condensada. Não achas tudo isto difícil de entender?

      [Einstein] - A única coisa que acho difícil são os malditos formulários dos
impostos.

       [amigo] - Mas tu próprio dizes que o Universo deve ser simples.

        [Einstein] - Simples mas não simplista. Na verdade espaço e tempo não
constituem o palco da encenação da nossa existência, são antes os actores mais
importantes.

       [amigo] - Dizer que não existe um tempo igual para mim, para ti e para
qualquer outro ponto no universo é inacreditável. É como se roubasses uma das
últimas certezas absolutas que ainda restam ao homem…

       [Einstein] - Muito gostam as pessoas de certezas. A única coisa que me parece
absoluta, e para a qual não há limites, são a imaginação e a estupidez.

       Depois faz uma pausa olha para o céu e remata:

       [Einstein] - O senhor é subtil mas não malicioso. Na verdade, o meu modelo é
bastante simples.

       [amigo] - Para quem saiba matemática.

      [Einstein] - Se queremos falar com Deus temos de aprender a sua linguagem.
Os padres usam as ladaínhas, os burocratas os impressos, os cientistas a matemática.

       [amigo] - O mundo não está preparado para ouvir certas verdades.

       Einstein olha em redor com um ar de desalento e desabafa:
[Einstein] - Mas pelos vistos está mais preparado para ouvir várias mentiras.

       Faz uma pausa para dar uma esmola a um pedinte na rua.

       [Einstein] – Vê bem esta miséria. O que ganhámos com esta guerra estúpida?!

       Nisto passa um ardina apregoando em grandes berros.

       [ardina] - Comprem o Diário de Berlin, o jornal que lhe dá as notícias até o
fim. Cientista demonstra Teoria da Rotatividade. Comprem, comprem!

       Einstein dirige-se ao jovem vendedor para comprar um jornal.

       [Einstein] - O que estás para aí a dizer rapaz?

        [ardina] - Diz aqui que foi demonstrada a teoria da rotatividade que comprova
que a terra é redonda.

       [Einstein]- Redonda é a tua cabeça. Mostra lá isso.

        “Revolução na Ciência. Teoria da Relatividade está correcta. O cientista inglês
Eddington realizou uma experiência durante o eclipse solar, ao largo do arquipélago
de S. Tomé e Príncipe, que demonstra o encurvamento da trajectória da luz ao passar
junto ao Sol, comprovando assim uma teoria proposta à alguns anos pelo cientista
alemão Albert Einstein de que o espaço-tempo é curvilineo…”
        Einstein pousa o jornal e abraça o amigo. Depois dá um grande pulo de
alegria.
        [Einstein] - Eu tinha razão. Eu tinha razão!

       De seguida Einstein abraça o ardina e as pessoas da rua.

       [Einstein] - A minha teoria está certa. Certa!

       [transeunde 1] - O que está ele a dizer? – pergunta um transeunde ao ardina.

       [transeunde 2] - Acho que é a por causa da teoria da rotatividade.

       [transeunde 1] - Deve fazer ficar com a cabeça à roda. Deus queira que não
seja contagioso.

       Na euforia, Einstein volta-se para uma vendedora mostra-lhe o jornal e
pergunta:

       [Einstein] - A senhora sabe o que significa isto?

       [vendedora] - Sei lá! Não sei ler…

        [Einstein] - Eu explico-lhe. A teoria da relatividade generalizada está correcta.
Quer dizer, a massa deforma o espaço-tempo, criando uma curvatura que é capaz de
atrair outra massa ou mesmo os fotões da luz.
[vendedora] - Ah!

      [Einstein] - Foi exactamente o mesmo que disse quando a descobri. Ah! “Ah”,
um grande Ahhhhhhh! Eu sabia que tinha conseguido falar com Deus.

       [vendedora] - E o que é que Ele lhe disse? – pergunta a vendedora.

       [Einstein] - Minha senhora, Ele é como os políticos, fala por códigos que é
preciso saber decifrar. Desta vez tive sorte.

       [vendedora] - Então Ele deve gostar muito de si.

        [Einstein] - Isso eu não sei, mas de si gosto eu muito. E de si também e de si e
de si – diz Einstein abraçando toda a gente na rua. - O mundo é local fantástico.

       [Ouve-se música festiva e toda a gente dança]

       Eis que surge a verdade
       Que o Senhor tão bem escondia
       Revelou-se a relatividade
       Que há muito eu perseguia.

       O mundo parece igual
       Mas não podia ser mais diferente
       Onde antes os planetas se moviam em planos
       Deslizamos agora em espaços Reiminianos

       Espaço, tempo, matéria e radiação
       Tudo fica agora unido pela força da imaginação
IV acto
Ano 1925. O cenário decorre numa conferência internacional onde estão presentes
alguns dos melhores cientistas do mundo. Depois do pequeno almoço, o jovem físico
dinamarquês Niels Bohr vem ter com Einstein.

       [bohr] - Professor Einstein, é um prazer conhecê-lo. Sou o…

       [Einstein] – Niels Bohr. O prazer é meu, caro Niels. Ainda bem que o encontro
nesta conferência. Gostei muito da sua comunicação e gostava de falar consigo.

       [bohr] – será uma honra.

       Einstein puxa de um bloco de notas de um bolso do casaco enxovalhado.

       [Einstein] – Começo por lhe dizer que apreciei a forma elegante como propôs
a quantificação das orbitais atómicas resolvendo o problema da estabilidade do átomo.

        [bohr] - Professor Einstein, baseei-me no seu conceito dos quanta de energia
que atribui um carácter corpuscular à luz e apliquei essa ideia aos electrões.

        [Einstein] – Sim, os fotões. A luz como um exército de pequenos soldados
invisíveis. Desculpe a metáfora militar, mas nos dias que correm ela é quase
inevitável.

       [bohr] – Daí a sua explicação para o efeito fotoeléctrico. Você e o professor
Plank abriram caminho para o nascimento da Física Quântica.

       [Einstein] - Não me fale da Física Quântica! Acho que ganhei aversão a essa
expressão.

       [bohr] - Mas o professor é um dos progenitores …

       [Einstein] - Uma filha ilegítima.

       [bohr] - Porque insiste em negá-la?

       [Einstein] - Preocupam-me as consequências.

       [bohr] - Refere-se ao princípio da complementaridade?

       [Einstein] - Entre outros. Não acha inquietante saber que é impossível
determinar o estado exacto de um sistema?

       Bohr olha para Einstein com uma expressão triste.

       [bohr] - É sem dúvida estranho? Tento descrever a realidade tal como ela nos é
dada a conhecer e não como ela deveria ser.

       [Einstein] – Diz muito bem, nos é dada a conhecer, não como ela é.
[bohr] - Mas isso ninguém pode saber. Temos de avançar por aproximações …

       [Einstein] - Por aproximações, não por aberrações. Cabe ao homem impor uma
visão coerente, uma lógica estrita. Só assim o mundo faz sentido.

       Einstein olha para a Lua e fica a contempla-la por instantes. Depois volta-se
para Bohr e pergunta:

        [Einstein] – Caro Niels, acha que é preciso olhar para a Lua para saber se ela
lá está?

       [bohr] – De forma alguma…

       [Einstein] – mas na sua abordagem parece que sim. Na verdade, o mundo fica
a parecer uma casa assombrada. Senão veja: os objectos são descritos por funções de
onda, entidades imaginárias que jamais alguém viu ou verá; os habitantes são uma
espécie de fantasmas com habilidades sobrenaturais, como atravessar paredes e estar
em locais proibidos. Ainda por cima, quando o dono não está a mobília esfuma-se
num éter que se dilui por toda a casa. Um verdadeiro filme de terror!

        [bohr] - Professor Einstein, sempre bem humorado. Infelizmente acho que não
está a ser justo.

        [Einstein] – Devo estar é realmente louco; depois de me terem chamado isso
tanta vez…

       Passa uma menina a oferecer bebidas.

       [empregada] - Senhores vão desejar alguma bebida?

       Einstein volta-se para ela e pergunta:

       [Einstein] - A menina acha que este copo está cheio ou vazio?

       [empregada] - Cheio claro – responde a jovem perturbada com a pergunta.

       [Einstein] - E se agora fechasse os olhos e soubesse que eu podia ter bebido o
líquido desse copo. O que responderia sobre a mesma pergunta.

       [empregada] - Podia estar cheio ou não.

       [Einstein] - E só podia saber quando abrisse os seus lindos olhos, não é?

       [empregada] - Sim, claro – diz espantada com a pergunta.

       [Einstein] – E se eu lhe dissesse que antes de abrir os olhos o copo está cheio
e vazio e que quando os abre ele fica instantaneamente ou cheio ou vazio.

       [empregada] – Isso só se bebesse copos a mais…
Gargalhada dos três. Einstein afasta-se e ao regressar ao quarto o amigo Paul
Ehrenfest diz-lhe:

       [paul] - Albert, sei da conversa que tiveste com o Niels. Tu envergonhas-me.

       Einstein olha para a roupa que traz vestida.

       [Einstein] - Não me esqueci de por umas roupas por cima da pele pois não?

        [paul]- Não. Mas fico espantado por te ver a tentar derrubar a nova teoria
quântica comportando-te da mesma forma que os teus opositores argumentaram
contra a tua teoria da relatividade.

       [Einstein] - Infelizmente não posso calar a minha consciência. Esta teoria não
me deixa dormir descansado.

        [paul]- Mesmo sabendo que foste tu mesmo que a ajudas-te a nascer. Grande
ironia queres destruir a criança que ajudas-te a nascer.

       [Einstein] - Não é uma criança, é um monstro, um Frankestein.

       Paul ri-se.

       [Einstein] - Deus não joga aos dados. O universo pode ser complexo mas é
objectivo e único.

        [paul] – Pois eu não tenho tanta certeza. Do jeito que o mundo está já não sei o
que é realidade ou fantasia. Ou muito me engano ou o mundo vai entrar outra vez em
guerra.
V acto
[Imagens do exército nazi a marchar numa parada militar e de Hitler. Inicio da II-
guerra mundial. Imagens dos horrores da guerra e do holocausto]

       Numa secretária, Einstein escreve uma carta à máquina.

Para Franklin Roosevelt,
Presidente dos Estados Unidos,
Casa Branca
Washington, D. C.

       Sir:

Alguns trabalhos recentes de Enrico Fermi e Szilard, que me foram apresentados
num manuscrito, levam-me a pensar que o elemento urânio possa ser a fonte de uma
nova e importante fonte de energia num futuro imediato. Alguns aspectos desta
investigação devem ser acompanhados com atenção e, se necessario, acção rápida
por parte da sua administração. Creio portanto, que é meu dever alertá-lo para as
seguintes recomendações:

Nos últimos quarto meses foi tornado provável – através do trabalho de Joliot na
França bem como Fermi e Szilard na América – que pode ser possível desencadear
uma reacção nuclear em cadeia usando uma quantidade de uranio relativamente
elevada, através da qual uma vasta potência, bem como grandes quantitidade de
novos elementos radioactivos, podem ser gerados.
…
[Termina aqui e depois continua com o presidente a ler o final da carta perante
Einstein e um conselheiro militar]
…
Este novo fenómeno poderá levar à construção de bombas, e é possível – embora seja
menos seguro – que estas bombas extremamente poderosas e de um tipo inteiramente
novo, possam ser construidas. Um única bomba destas, transportada por um navio e
detonada num porto, podia perfeitamente destruir todo o porto bem como estruturas
circundantes.

Com os melhor cumprimentos,
Albert Einstein

      Sentado, o presidente pousa a carta na secretária e olha para Einstein com um
semblante carregado:

       [roosevelt] - O senhor tem a certeza que este tipo de bombas possa ser feito?

       [Einstein] - Certezas tenho cada vez menos, senhor presidente. Porém, as
descobertas mencionadas e a informação que tenho de que os nazis estão a explorar
minas de urânio, são motivo para preocupação.

       [roosevelt] - E que bombas são essas assim tão potentes?
[Einstein] - bombas nucleares. Num artigo escrito há algum tempo mostrei que
a matéria é equivalente a energia. A massa não é mais que energia concentrada num
ponto do espaço. A equação que estabelece essa igualdade E = mc2 mostra que basta
uma diminuta massa para libertar quantidades colossais de energia.

       [roosevelt] - E como se pode obter essa energia?

       [Einstein] - De várias maneiras. A mais eficaz consiste na cisão do núcleo do
átomo de urânio 235. Os núcleos desse elemento possuem uma energia de ligação
muito alta. Ao absorverem um neutrão os núcleos quebram em vários fragmentos e
uma certa quantidade da massa é transformada em energia.

       [roosevelt] - Que antes não existia…

       [Einstein] - Existia, só que não estava disponível. É preciso juntar uma grande
quantidade de urânio para ter uma reacção em cadeia. Como juntar lenha para acender
uma fogueira.

     [conselheiro] - Diga-me uma coisa, professor Einstein, quantas pessoas
podemos matar com um bomba destas?

       Einstein olha-o assustado.

       [Einstein] – Matar!? Não faço ideia. Mas para que quer você matar?

       [conselheiro] - Ora professor, afinal para que servem as bombas?

        [roosevelt] - Não sei se sabe mas estamos numa guerra diferente. Uma guerra
total. Ou se mata ou se é morto. E nós queremos ser os que ficam para contar a
história.

       [Einstein] – Mas não leu a minha carta? Uma bomba destas pode ser muito
potente. Acho que devia ser usada apenas para dissuasão. Uma bomba destas é capaz
de destruir uma cidade inteira. Já pensou nos inocentes que podem morrer?

       [conselheiro] - Uma cidade inteira! Que interessante.

       [roosevelt] - Senhor Einstein, numa guerra não há inocentes. Deixe-nos ser nós
a decidir o que fazer com um engenho destes.

       [Einstein] - O senhor tem uma grande responsabilidade senhor Presidente.

      [roosevelt] - Exactamente, livrar o mundo dos nazis antes que eles ponham
mão numa bomba destas.

       [Einstein] – pois…

        [roosevelt] – Ouça professor, ninguém gosta de guerras mas há guerras que
justificam a paz .
Impaciente, o conselheiro levanta-se e diz a Einstein com uma palmadinha nas
costas:

       [conselheiro] - Se me permitem, em tempo de guerra não se fala de paz. Não
precisamos de conversas mas de acção. Vamos transformar essa materia em energia, e
rápido! Matéria é coisa que não falta por aqui.

          [Einstein] - Senhor presidente, pode não ser possível e …

        [roosevelt] - Ande lá, temos os melhores cérebros do mundo e dinheiro com
fartura. Impossível é uma palavra que ainda estou para conhecer o significado.
Levantei este país da maior crise da sua história. Hei-de livrar o mundo da maior
ameaça à liberdade.

          Depois volta-se para o conselheiro e diz:

        [roosevelt] - Vamos criar um projecto para desenvolver essa bomba. Frank,
ofereça um cheque ao professor e trate de me fazer uma estimativa de custos do
projecto. Quero tudo ultra-secreto. Para já ninguém, além de nós três, pode saber do
que se trata.

          [conselheiro] - É para já senhor presidente.

        [roosevelt] - Professor, foi um prazer conhece-lo. A América e o mundo um
dia ainda lhe hão-de retribuir o serviço prestado com a sua carta.

          Einstein sai do gabinete preocupado.

          [Einstein] - Eu não tenho tanta certeza.
VI acto
[Vê-se a bomba atómica em Hiroshima com música apocalíptica de fundo.]

      Sentado a uma secretária, Einstein apresenta-se triste e cansado. Toca uma
música de violino triste.

       [Einstein] - Dediquei 50 anos a compreender o universo. Nem 50 mil
chegariam para compreender o homem. Afinal de que vale conhecer melhor o espaço
o tempo, a energia, a matéria se a nossa tecnologia ultrapassou, finalmente, o nosso
humanismo?

       Tudo quanto penso,
       Tudo quanto sou
       É um deserto imenso
       Onde nem eu estou.

       Surge uma criança a brincar com um pião. Einstein olha-o com carinho. A
criança senta-se a olhar para o pião que pára junto de Einstein. Este pega nele e
entrega-o à criança.

       [Einstein] – é um belo pião.

       [criança] – obrigado.

       [Einstein] - Sabes porque roda?

       [criança] – por causa da energia. A minha professora explicou-me que tudo é
energia. E que até a massa é energia. Foi um senhor muito importante chamado Albert
Einstein que explicou isso. Gostava tanto de conhecê-lo.

       [Einstein] – talvez te possa apresentá-lo. O que querias perguntar-lhe?

      [criança] – queria saber o que são buracos negros, como funciona o átomo,
como começou o universo, e como é que acaba. Será que ainda dura muito tempo?

       [Einstein] – isso são muitas coisas, não achas?

       [criança] – sim, mas há tanta coisa interessante para aprender. Tanta coisa…

       [Einstein] – muito bem. Tens tempo?

       [criança] – tenho sim!

       [Einstein] – então eu vou explicar-te. Sabes, há muito tempo o homem pensava
que o universo era um disco gigante e que nós estávamos no centro, depois…


[No final passa um trail que mostra que as ideias de Albert Einstein que
revolucionaram quase todos os campos da Física.
Einstein abriu as portas ao conhecimento sobre o infinitamente pequeno e o
infinitamente grande: lasers, novos estados da matéria, fisica estatística, buracos
negros. Foi um acérrimo pacifista, manifestando-se profundamente indignado com a
proliferação das armas atómicas.

Ninguém exerceu uma influência tão grande na ciência e despertou maior fascínio e
admiração no público em geral. Einstein é, e será sempre, uma lenda não só pelo seu
intelecto mas também pela seu humanismo.]

[No final pode seguir-se um debate sobre vida e obra dele.]

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Einstein

  • 1. O homem que reinventou o tempo I acto Decorre o ano de 1900. Sentado na esplanada de um café de uma movimentada praça de Zurique, o jovem Einstein rabisca uns papeis. Um empregado, de ar emproado, já cansado de o ver sentado sem fazer consumo, pergunta-lhe com azedume: [empregado] - O senhor vai desejar mais alguma coisa? Einstein, imerso nos seus cálculos, não lhe presta a mínima atenção. O empregado, aborrecido, dá um berro que faz saltar Einstein da cadeira. [Einstein] - O que foi? [empregado] - Uma barata. Mas já se foi embora... – diz o empregado com ar torcista. Einstein olha para ele de cima a baixo. [Einstein] - Cá para mim ela ainda aqui está. E é daquelas bem grandes e nojentas. [empregado] - Por acaso o senhor não quer mais alguma coisa? [Einstein] – por acaso até quero. Uns cinco minutinhos de silêncio. E para já, se faz favor. O empregado dirige-se para o café a resmungar: [empregado]- Este passa-me as tardes aqui enfiado sem fazer despesa! Quem pensa que é? Não passa de um zé ninguém… Entretanto chegam dois colegas de faculdade. [Colega 1] - Albert, sempre no café. Deves ter um contracto com o gerente. [Colega 2] - É pá, tu nunca vais às aulas! [Einstein] - Vou às importantes. [Colega 1] - Ou seja, quase nenhuma. Olha que o barbas deu pela tua falta. [Einstein] - O Weber? Engraçado que não dei pela falta dele. [Colega 2]- ele regista as tuas faltas. [Einstein] - O tempo que gasta a contar os alunos e preencher sumários se o aplicasse a fazer ciência, ganhava mais. [Colega 1] - Olha que os exames são difíceis.
  • 2. [Einstein]- O que é que isso interessa? O verdadeiro exame é compreender a mensagem do “velho das barbas”. [colega 2] – o Pai-Natal! Essa é simples: Ou Ou Ou… Riem-se. Um colega pega num jornal e começa a ler. [colega 1] - Olhem só as notícias. [colega 2] - Novo aumento do IVA? [Einstein] – O único imposto que devia aumentar era o ICA. [colega 1] - O ICA? [Einstein] - Imposto sobre a Cretinice Acrescentada. [colega 1] – Diz aqui que os físicos americanos Michelson e Morley verificaram um facto intrigante: a velocidade da luz é sempre constante, qualquer que seja o referencial. Embora a experiência tenha sido realizada à alguns anos, ainda ninguém a soube explicar. A física está em polvoroso. [colega 2] - Não percebo o que isso tem de especial. Einstein levanta-se e pega numa maça que está na bandeja do empregado que lhe faz uma careta. [empregado] - É um Franco! Einstein não lhe liga. Pega na maça e pede ao colega para se por à sua frente. [Einstein] – Repara bem. Se eu estiver parado e mandar a maça a uma velocidade de 5 m/s, a que velocidade mais recebê-la? [colega 2] - 5 m/s, claro! - Diz ele enquanto agarra a maçã no ar. [Einstein] - E se eu estive a mover-me também a 5 m/s. Einstein atira a maça a correr violentamente esmagando-a contra a cara do colega. [Einstein] - O que acontece agora? [colega 1] - compota de maçã! [empregado] - E menos 1 franco. [Einstein] - A velocidade com que a maça te atingiu é a soma da minha velocidade com a velocidade com que eu atiro a maça
  • 3. [colega 2] – ou seja 5 + 5 = 10 m/s. [Einstein] – exacto. Agora, se em vez da maçã eu estivesse a enviar luz. [colega 2] – seria a mesma coisa. [Einstein] – errado! Ias receber a luz sempre à mesma velocidade, quer eu estivesse em movimento quer não. [colega 2] - O que não deixa de ser estranho. [Einstein] - Sem dúvida muito estranho. Ou a luz tem propriedades mágicas ou então há algo de errado com a noção de espaço e de tempo de Newton. [colega 1] - Einstein dixit! – riso. [colega 2] - Mas ouve lá, quem é que pensas que és? Deus? Olha que de santos está o inferno cheio. Vá, anda logo à noite a uma festa na minha casa. Olha que estão lá miúdas giras. [Einstein] - A vida é demasiado curta para a desperdiçarmos em futilidades, como aulas e festas. Não tenho tempo. [colega 2] - Raios parta o tempo. Nunca tens tempo. Devias é de arranjar uma maneira de inventar tempo – disse com uma gargalhada. Eles e partem e Einstein fica a pensar murmurando para si mesmo. [Einstein] - É precisamente isso que eu ando à procura.
  • 4. II acto Sentado numa secretária no centro de patentes de Berna, Einstein escreve a seguinte carta ao amigo Habicht: Então o que andas tu a tramar minha baleia congelada, meu pedaço de alma defumada, seca e enlatada, ou outra coisa qualquer que me apetece atirar-te à cabeça e estoirar com os meus 70% de raiva e 30% de pena. Podes agradecer aos últimos 30% por não te ter enviado uma lata cheia de cebolas e alhos podres depois de teres tido a cobardia de não aparecer na nossa reunião do clube de ciência. Mas porque é que não me enviaste a tua tese? Ainda não percebeste que sou uma das 1,5 pessoas que teria prazer e interesse em lê-la, ó criatura desprezível? Prometo-te quatro artigos em troca. Um deles é um artigo revolucionário sobre a radiação e as propriedades energéticas da luz, como poderás ver se me enviares o teu trabalho primeiro. O 2º é sobre a determinação do tamanho exacto dos átomos a partir da difusão e viscosidade de soluções diluídas em substâncias neutras. O terceiro prova que os corpos da ordem de um milésimo de milímetro devem realizar um movimento aleatório observável produzido por uma agitação térmica. O quarto artigo é só um rascunho e trata da electrodinâmica de corpos em movimento que emprega uma modificação da teoria do espaço e do tempo. Na parede um relógio de pêndulo marca um tic-tac cadênciado. Einstein levanta-se e olha atentamente para o relógio. [Einstein] - Afinal o que é o tempo? Para Galileu a bitola que marca a cadência de todos os pontos do universo. Um tempo absoluto, independente da nossa vontade ou situação. Não gosto deste tempo assim. Um ditador que estou prestes a destronar. A orquestra do universo não afina toda pelo mesmo compasso. Sou eu que escolho o meu próprio ritmo. Einstein pega no violino e toca um pouco. Entretanto entra a sua mulher, Mileva que se aproxima-se dele com um carinho nos ombros: [Mileva] - Então meu ursinho, ainda a trabalhar? [Einstein] - Trabalhar?! Não sabes que agora sou um funcionário público! Mileva ri-se. [Mileva] - Sim, mas a tua cabeça não pára. Vejo nos teus olhos que andas a tramar alguma. [Einstein] - Não o consigo evitar. Estava precisamente a reflectir sobre o significado do tempo. Questiono-me se o tempo não será elástico, capaz de se dilatar ou contrair. Um tempo relativo para cada observador. [Mileva]- Claro que é. Não vês que quando estou contigo o tempo parece que voa.
  • 5. Mileva dá-lhe um beijinho [Mileva] - Gosto de te ver assim compenetrado num problema. [Einstein]- Lembras-te do artigo sobre a electrodinâmica dos corpos em movimento? [Mileva] - E a estática dos corpos em repouso? Estás aqui metido à horas. Precisas de descansar. [Einstein] - Não te preocupes, minha sapinha. Este trabalho vale bem o esforço. Acho que estou à beira de uma grande descoberta. [Mileva] - Só espero que não tenhas morrido à fome no dia em que o mundo souber disso. [Einstein] - Isso não interessa. Sabes, a nossa discussão de ontem à noite foi muito interessante. [Mileva]- Sobre os invariantes de Lorentz onde espaço e tempo se interligam? [Einstein] - Exactamente. A única forma de explicar a experiência de Michelson é enterrar de vez com o tempo absoluto e aceitar a ideia de um tempo elástico. [Mileva] - Isso faz sentido. Se a velocidade da luz é constante e se velocidade é o espaço percorrido num certo tempo, então o espaço e o tempo têm de se ajustar à velocidade. [Einstein] – Para mim está claro. Só me faltam algumas equações que generalizam os resultados. Queres ajudar-me? [Mileva] - Claro. Mas, como sabes, isso deita por terra o éter. [Einstein] - Ora, o éter é fruto da imaginação delirante de algumas mentes que devem ter inalado éter a mais. Verifica as equações que escrevi – ordena Einstein com um beijo rápido. Mileva relê o manuscrito enquanto Einstein toca violino. No final volta-se para ele e diz: [Mileva] - És uma pessoa muito especial. Inteligência sem sensibilidade é como combustível sem motor. Tu, meu querido, tens as duas. [Einstein] - Achas mesmo? Às vezes tenho a sensação que ninguém me percebe além de ti. [Mileva] - Não, tudo faz sentido. Tempo e espaço intimamente ligados num só.
  • 6. [Einstein] - Como nós dois! Einstein abraça Mileva beijando-a.
  • 7. III acto Ano 1919, pós primeira guerra mundial. Na Europa vivem-se dias difíceis. A guerra tinha dizimado milhões de pessoas e destruido o tecido produtivo. O desemprego, a inflação e a fome trazem a miséria ao que antes eram prósperas cidades. Neste cenário degradante de pobreza e miséria, Einstein passeia com um amigo numa rua movimentada de Berlim. [Einstein] - Não percebo porque a minha teoria da relatividade não é aceite. [amigo] - A tua concepção do mundo é demasiado revolucionária. Espaço- tempo curvilenio, tensores covariantes e contra-variantes, métrica Rimeniana… [Einstein] – E depois? [amigo] – Depois? Vê bem o que estás a dizer: a velocidade atrasa o tempo, a gravidade deforma o espaço, a energia pode criar matéria e até a massa, afinal não passa de mera energia condensada. Não achas tudo isto difícil de entender? [Einstein] - A única coisa que acho difícil são os malditos formulários dos impostos. [amigo] - Mas tu próprio dizes que o Universo deve ser simples. [Einstein] - Simples mas não simplista. Na verdade espaço e tempo não constituem o palco da encenação da nossa existência, são antes os actores mais importantes. [amigo] - Dizer que não existe um tempo igual para mim, para ti e para qualquer outro ponto no universo é inacreditável. É como se roubasses uma das últimas certezas absolutas que ainda restam ao homem… [Einstein] - Muito gostam as pessoas de certezas. A única coisa que me parece absoluta, e para a qual não há limites, são a imaginação e a estupidez. Depois faz uma pausa olha para o céu e remata: [Einstein] - O senhor é subtil mas não malicioso. Na verdade, o meu modelo é bastante simples. [amigo] - Para quem saiba matemática. [Einstein] - Se queremos falar com Deus temos de aprender a sua linguagem. Os padres usam as ladaínhas, os burocratas os impressos, os cientistas a matemática. [amigo] - O mundo não está preparado para ouvir certas verdades. Einstein olha em redor com um ar de desalento e desabafa:
  • 8. [Einstein] - Mas pelos vistos está mais preparado para ouvir várias mentiras. Faz uma pausa para dar uma esmola a um pedinte na rua. [Einstein] – Vê bem esta miséria. O que ganhámos com esta guerra estúpida?! Nisto passa um ardina apregoando em grandes berros. [ardina] - Comprem o Diário de Berlin, o jornal que lhe dá as notícias até o fim. Cientista demonstra Teoria da Rotatividade. Comprem, comprem! Einstein dirige-se ao jovem vendedor para comprar um jornal. [Einstein] - O que estás para aí a dizer rapaz? [ardina] - Diz aqui que foi demonstrada a teoria da rotatividade que comprova que a terra é redonda. [Einstein]- Redonda é a tua cabeça. Mostra lá isso. “Revolução na Ciência. Teoria da Relatividade está correcta. O cientista inglês Eddington realizou uma experiência durante o eclipse solar, ao largo do arquipélago de S. Tomé e Príncipe, que demonstra o encurvamento da trajectória da luz ao passar junto ao Sol, comprovando assim uma teoria proposta à alguns anos pelo cientista alemão Albert Einstein de que o espaço-tempo é curvilineo…” Einstein pousa o jornal e abraça o amigo. Depois dá um grande pulo de alegria. [Einstein] - Eu tinha razão. Eu tinha razão! De seguida Einstein abraça o ardina e as pessoas da rua. [Einstein] - A minha teoria está certa. Certa! [transeunde 1] - O que está ele a dizer? – pergunta um transeunde ao ardina. [transeunde 2] - Acho que é a por causa da teoria da rotatividade. [transeunde 1] - Deve fazer ficar com a cabeça à roda. Deus queira que não seja contagioso. Na euforia, Einstein volta-se para uma vendedora mostra-lhe o jornal e pergunta: [Einstein] - A senhora sabe o que significa isto? [vendedora] - Sei lá! Não sei ler… [Einstein] - Eu explico-lhe. A teoria da relatividade generalizada está correcta. Quer dizer, a massa deforma o espaço-tempo, criando uma curvatura que é capaz de atrair outra massa ou mesmo os fotões da luz.
  • 9. [vendedora] - Ah! [Einstein] - Foi exactamente o mesmo que disse quando a descobri. Ah! “Ah”, um grande Ahhhhhhh! Eu sabia que tinha conseguido falar com Deus. [vendedora] - E o que é que Ele lhe disse? – pergunta a vendedora. [Einstein] - Minha senhora, Ele é como os políticos, fala por códigos que é preciso saber decifrar. Desta vez tive sorte. [vendedora] - Então Ele deve gostar muito de si. [Einstein] - Isso eu não sei, mas de si gosto eu muito. E de si também e de si e de si – diz Einstein abraçando toda a gente na rua. - O mundo é local fantástico. [Ouve-se música festiva e toda a gente dança] Eis que surge a verdade Que o Senhor tão bem escondia Revelou-se a relatividade Que há muito eu perseguia. O mundo parece igual Mas não podia ser mais diferente Onde antes os planetas se moviam em planos Deslizamos agora em espaços Reiminianos Espaço, tempo, matéria e radiação Tudo fica agora unido pela força da imaginação
  • 10. IV acto Ano 1925. O cenário decorre numa conferência internacional onde estão presentes alguns dos melhores cientistas do mundo. Depois do pequeno almoço, o jovem físico dinamarquês Niels Bohr vem ter com Einstein. [bohr] - Professor Einstein, é um prazer conhecê-lo. Sou o… [Einstein] – Niels Bohr. O prazer é meu, caro Niels. Ainda bem que o encontro nesta conferência. Gostei muito da sua comunicação e gostava de falar consigo. [bohr] – será uma honra. Einstein puxa de um bloco de notas de um bolso do casaco enxovalhado. [Einstein] – Começo por lhe dizer que apreciei a forma elegante como propôs a quantificação das orbitais atómicas resolvendo o problema da estabilidade do átomo. [bohr] - Professor Einstein, baseei-me no seu conceito dos quanta de energia que atribui um carácter corpuscular à luz e apliquei essa ideia aos electrões. [Einstein] – Sim, os fotões. A luz como um exército de pequenos soldados invisíveis. Desculpe a metáfora militar, mas nos dias que correm ela é quase inevitável. [bohr] – Daí a sua explicação para o efeito fotoeléctrico. Você e o professor Plank abriram caminho para o nascimento da Física Quântica. [Einstein] - Não me fale da Física Quântica! Acho que ganhei aversão a essa expressão. [bohr] - Mas o professor é um dos progenitores … [Einstein] - Uma filha ilegítima. [bohr] - Porque insiste em negá-la? [Einstein] - Preocupam-me as consequências. [bohr] - Refere-se ao princípio da complementaridade? [Einstein] - Entre outros. Não acha inquietante saber que é impossível determinar o estado exacto de um sistema? Bohr olha para Einstein com uma expressão triste. [bohr] - É sem dúvida estranho? Tento descrever a realidade tal como ela nos é dada a conhecer e não como ela deveria ser. [Einstein] – Diz muito bem, nos é dada a conhecer, não como ela é.
  • 11. [bohr] - Mas isso ninguém pode saber. Temos de avançar por aproximações … [Einstein] - Por aproximações, não por aberrações. Cabe ao homem impor uma visão coerente, uma lógica estrita. Só assim o mundo faz sentido. Einstein olha para a Lua e fica a contempla-la por instantes. Depois volta-se para Bohr e pergunta: [Einstein] – Caro Niels, acha que é preciso olhar para a Lua para saber se ela lá está? [bohr] – De forma alguma… [Einstein] – mas na sua abordagem parece que sim. Na verdade, o mundo fica a parecer uma casa assombrada. Senão veja: os objectos são descritos por funções de onda, entidades imaginárias que jamais alguém viu ou verá; os habitantes são uma espécie de fantasmas com habilidades sobrenaturais, como atravessar paredes e estar em locais proibidos. Ainda por cima, quando o dono não está a mobília esfuma-se num éter que se dilui por toda a casa. Um verdadeiro filme de terror! [bohr] - Professor Einstein, sempre bem humorado. Infelizmente acho que não está a ser justo. [Einstein] – Devo estar é realmente louco; depois de me terem chamado isso tanta vez… Passa uma menina a oferecer bebidas. [empregada] - Senhores vão desejar alguma bebida? Einstein volta-se para ela e pergunta: [Einstein] - A menina acha que este copo está cheio ou vazio? [empregada] - Cheio claro – responde a jovem perturbada com a pergunta. [Einstein] - E se agora fechasse os olhos e soubesse que eu podia ter bebido o líquido desse copo. O que responderia sobre a mesma pergunta. [empregada] - Podia estar cheio ou não. [Einstein] - E só podia saber quando abrisse os seus lindos olhos, não é? [empregada] - Sim, claro – diz espantada com a pergunta. [Einstein] – E se eu lhe dissesse que antes de abrir os olhos o copo está cheio e vazio e que quando os abre ele fica instantaneamente ou cheio ou vazio. [empregada] – Isso só se bebesse copos a mais…
  • 12. Gargalhada dos três. Einstein afasta-se e ao regressar ao quarto o amigo Paul Ehrenfest diz-lhe: [paul] - Albert, sei da conversa que tiveste com o Niels. Tu envergonhas-me. Einstein olha para a roupa que traz vestida. [Einstein] - Não me esqueci de por umas roupas por cima da pele pois não? [paul]- Não. Mas fico espantado por te ver a tentar derrubar a nova teoria quântica comportando-te da mesma forma que os teus opositores argumentaram contra a tua teoria da relatividade. [Einstein] - Infelizmente não posso calar a minha consciência. Esta teoria não me deixa dormir descansado. [paul]- Mesmo sabendo que foste tu mesmo que a ajudas-te a nascer. Grande ironia queres destruir a criança que ajudas-te a nascer. [Einstein] - Não é uma criança, é um monstro, um Frankestein. Paul ri-se. [Einstein] - Deus não joga aos dados. O universo pode ser complexo mas é objectivo e único. [paul] – Pois eu não tenho tanta certeza. Do jeito que o mundo está já não sei o que é realidade ou fantasia. Ou muito me engano ou o mundo vai entrar outra vez em guerra.
  • 13. V acto [Imagens do exército nazi a marchar numa parada militar e de Hitler. Inicio da II- guerra mundial. Imagens dos horrores da guerra e do holocausto] Numa secretária, Einstein escreve uma carta à máquina. Para Franklin Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos, Casa Branca Washington, D. C. Sir: Alguns trabalhos recentes de Enrico Fermi e Szilard, que me foram apresentados num manuscrito, levam-me a pensar que o elemento urânio possa ser a fonte de uma nova e importante fonte de energia num futuro imediato. Alguns aspectos desta investigação devem ser acompanhados com atenção e, se necessario, acção rápida por parte da sua administração. Creio portanto, que é meu dever alertá-lo para as seguintes recomendações: Nos últimos quarto meses foi tornado provável – através do trabalho de Joliot na França bem como Fermi e Szilard na América – que pode ser possível desencadear uma reacção nuclear em cadeia usando uma quantidade de uranio relativamente elevada, através da qual uma vasta potência, bem como grandes quantitidade de novos elementos radioactivos, podem ser gerados. … [Termina aqui e depois continua com o presidente a ler o final da carta perante Einstein e um conselheiro militar] … Este novo fenómeno poderá levar à construção de bombas, e é possível – embora seja menos seguro – que estas bombas extremamente poderosas e de um tipo inteiramente novo, possam ser construidas. Um única bomba destas, transportada por um navio e detonada num porto, podia perfeitamente destruir todo o porto bem como estruturas circundantes. Com os melhor cumprimentos, Albert Einstein Sentado, o presidente pousa a carta na secretária e olha para Einstein com um semblante carregado: [roosevelt] - O senhor tem a certeza que este tipo de bombas possa ser feito? [Einstein] - Certezas tenho cada vez menos, senhor presidente. Porém, as descobertas mencionadas e a informação que tenho de que os nazis estão a explorar minas de urânio, são motivo para preocupação. [roosevelt] - E que bombas são essas assim tão potentes?
  • 14. [Einstein] - bombas nucleares. Num artigo escrito há algum tempo mostrei que a matéria é equivalente a energia. A massa não é mais que energia concentrada num ponto do espaço. A equação que estabelece essa igualdade E = mc2 mostra que basta uma diminuta massa para libertar quantidades colossais de energia. [roosevelt] - E como se pode obter essa energia? [Einstein] - De várias maneiras. A mais eficaz consiste na cisão do núcleo do átomo de urânio 235. Os núcleos desse elemento possuem uma energia de ligação muito alta. Ao absorverem um neutrão os núcleos quebram em vários fragmentos e uma certa quantidade da massa é transformada em energia. [roosevelt] - Que antes não existia… [Einstein] - Existia, só que não estava disponível. É preciso juntar uma grande quantidade de urânio para ter uma reacção em cadeia. Como juntar lenha para acender uma fogueira. [conselheiro] - Diga-me uma coisa, professor Einstein, quantas pessoas podemos matar com um bomba destas? Einstein olha-o assustado. [Einstein] – Matar!? Não faço ideia. Mas para que quer você matar? [conselheiro] - Ora professor, afinal para que servem as bombas? [roosevelt] - Não sei se sabe mas estamos numa guerra diferente. Uma guerra total. Ou se mata ou se é morto. E nós queremos ser os que ficam para contar a história. [Einstein] – Mas não leu a minha carta? Uma bomba destas pode ser muito potente. Acho que devia ser usada apenas para dissuasão. Uma bomba destas é capaz de destruir uma cidade inteira. Já pensou nos inocentes que podem morrer? [conselheiro] - Uma cidade inteira! Que interessante. [roosevelt] - Senhor Einstein, numa guerra não há inocentes. Deixe-nos ser nós a decidir o que fazer com um engenho destes. [Einstein] - O senhor tem uma grande responsabilidade senhor Presidente. [roosevelt] - Exactamente, livrar o mundo dos nazis antes que eles ponham mão numa bomba destas. [Einstein] – pois… [roosevelt] – Ouça professor, ninguém gosta de guerras mas há guerras que justificam a paz .
  • 15. Impaciente, o conselheiro levanta-se e diz a Einstein com uma palmadinha nas costas: [conselheiro] - Se me permitem, em tempo de guerra não se fala de paz. Não precisamos de conversas mas de acção. Vamos transformar essa materia em energia, e rápido! Matéria é coisa que não falta por aqui. [Einstein] - Senhor presidente, pode não ser possível e … [roosevelt] - Ande lá, temos os melhores cérebros do mundo e dinheiro com fartura. Impossível é uma palavra que ainda estou para conhecer o significado. Levantei este país da maior crise da sua história. Hei-de livrar o mundo da maior ameaça à liberdade. Depois volta-se para o conselheiro e diz: [roosevelt] - Vamos criar um projecto para desenvolver essa bomba. Frank, ofereça um cheque ao professor e trate de me fazer uma estimativa de custos do projecto. Quero tudo ultra-secreto. Para já ninguém, além de nós três, pode saber do que se trata. [conselheiro] - É para já senhor presidente. [roosevelt] - Professor, foi um prazer conhece-lo. A América e o mundo um dia ainda lhe hão-de retribuir o serviço prestado com a sua carta. Einstein sai do gabinete preocupado. [Einstein] - Eu não tenho tanta certeza.
  • 16. VI acto [Vê-se a bomba atómica em Hiroshima com música apocalíptica de fundo.] Sentado a uma secretária, Einstein apresenta-se triste e cansado. Toca uma música de violino triste. [Einstein] - Dediquei 50 anos a compreender o universo. Nem 50 mil chegariam para compreender o homem. Afinal de que vale conhecer melhor o espaço o tempo, a energia, a matéria se a nossa tecnologia ultrapassou, finalmente, o nosso humanismo? Tudo quanto penso, Tudo quanto sou É um deserto imenso Onde nem eu estou. Surge uma criança a brincar com um pião. Einstein olha-o com carinho. A criança senta-se a olhar para o pião que pára junto de Einstein. Este pega nele e entrega-o à criança. [Einstein] – é um belo pião. [criança] – obrigado. [Einstein] - Sabes porque roda? [criança] – por causa da energia. A minha professora explicou-me que tudo é energia. E que até a massa é energia. Foi um senhor muito importante chamado Albert Einstein que explicou isso. Gostava tanto de conhecê-lo. [Einstein] – talvez te possa apresentá-lo. O que querias perguntar-lhe? [criança] – queria saber o que são buracos negros, como funciona o átomo, como começou o universo, e como é que acaba. Será que ainda dura muito tempo? [Einstein] – isso são muitas coisas, não achas? [criança] – sim, mas há tanta coisa interessante para aprender. Tanta coisa… [Einstein] – muito bem. Tens tempo? [criança] – tenho sim! [Einstein] – então eu vou explicar-te. Sabes, há muito tempo o homem pensava que o universo era um disco gigante e que nós estávamos no centro, depois… [No final passa um trail que mostra que as ideias de Albert Einstein que revolucionaram quase todos os campos da Física.
  • 17. Einstein abriu as portas ao conhecimento sobre o infinitamente pequeno e o infinitamente grande: lasers, novos estados da matéria, fisica estatística, buracos negros. Foi um acérrimo pacifista, manifestando-se profundamente indignado com a proliferação das armas atómicas. Ninguém exerceu uma influência tão grande na ciência e despertou maior fascínio e admiração no público em geral. Einstein é, e será sempre, uma lenda não só pelo seu intelecto mas também pela seu humanismo.] [No final pode seguir-se um debate sobre vida e obra dele.]