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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                              62
                 (Corresponde à introdução do Capítulo 8,
               intitulado Os mantenedores do velho mundo)




A Força era um conceito complexo e difícil.
A Força estava enraizada no equilíbrio de todas as coisas,
E todo movimento dentro de seu fluxo
arriscava um desequilíbrio nessa harmonia.
Terry Brooks em Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999)



Se os tubarões fossem homens,
eles fariam construir resistentes caixas do mar,
para os peixes pequenos...
Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas...
Também haveria uma religião ali.
Bertold Brech em Se os tubarões fossem homens (1926-1956)
A força (Te) não é (um querer) induzir alguém
(ou alguma coisa) a seguir um caminho prefigurado
e sim (um deixar) fluir com o curso (Tao).
O autor em Desobedeça (2010)



Mas fluzz não é a força. Fluzz é o curso.
O autor, aqui (2010)




                                      2
Nada disso está sendo percebido pelos mantenedores do velho
      mundo que são, invariavelmente, “net-avoids”, ou seja, aqueles que
      desconfiam das redes quando não deveriam fazê-lo, posto que
      justamente em uma época de transição para uma sociedade em rede.
      E estes são, quase sempre, hierarcas. Não conseguem ver o que está
      ocorrendo porque, do lugar onde operam, objetivamente, contra os
      novos mundos que estão emergindo, a mudança não pode mesmo
      aparecer. Alguns exemplos dessas categorias – que freqüentemente
      se misturam e incidem em alguma combinação particular sobre um
      mesmo indivíduo “vitorioso” (segundo os critérios do milênio
      pretérito) – merecem ser destacados: os ensinadores ou burocratas
      sacerdotais do conhecimento, os codificadores de doutrinas, os
      aprisionadores de corpos, os construtores de pirâmides, os
      fabricantes de guerras e os condutores de rebanhos.




Conhecimento atestado por títulos, fama, riqueza e poder são indicadores
de sucesso adequados às sociedades hierárquicas. São coisas que só alguns
podem ter, não todos. São coisas que alguns podem ter em detrimento dos
outros. Assim o sábio se destaca dos ignorantes (ou o titulado do não
titulado, até na cadeia), o famoso não se mistura com o zé-ninguém, o rico
vive entre os ricos para ficar mais rico e não se relaciona com o pobre (que
– como sabemos – só continua pobre porque seus amigos são pobres) e o
poderoso só consegue exercer seu poder porque os que (acham que) não
têm poder lhe prestam obediência. Os critérios de sucesso competitivo são,
na verdade, mais do que indicadores: são ordenações da sociedade
hierárquica.

O fato é que, os que tiveram sucesso ou venceram no mundo do comando-
e-controle, em grande parte, venceram aplicando esquemas de comando-e-
controle. Venceram – e foram reconhecidos como vencedores – porque
aplicaram esquemas de comando-e-controle; ou seja, porque replicaram
um determinado padrão de ordem (e, para tanto, é como se tivessem
recebido uma ordenação).


                                     3
Dentre os que fazem sucesso na sociedade hierárquica e de massa
encontram-se, é claro, pessoas esforçadas, criativas ou inovadoras, talentos
extraordinários e gênios incontestes. Mas estão lá também – em número
tão grande para derrubar o mito de que o sucesso é um prêmio pelo talento
– os agentes reprodutores desse tipo de sociedade, como, por exemplo, os
colecionadores de diplomas, os vendedores de ilusões, os marqueteiros de
si mesmos, os aprisionadores de corpos, os ensinadores ou burocratas
sacerdotais do conhecimento, os codificadores de doutrinas, os
aprisionadores de corpos, os construtores de pirâmides, os fabricantes de
guerras e os condutores de rebanhos.

Não se trata de inculpar esses tipos por todo mal que assola a humanidade.
Eles são apenas agentes inconscientes da reprodução do sistema. Eles não
existem propriamente como indivíduos. Não adianta para nada tentar
nomeá-los: eles são legião (Mc 5: 9, hehe), entidades inumeráveis
configuradas nas redes sociais, quando campos perturbados pela presença
da hierarquia aglomeram e enxameiam no contra-fluzz.




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  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 62 (Corresponde à introdução do Capítulo 8, intitulado Os mantenedores do velho mundo) A Força era um conceito complexo e difícil. A Força estava enraizada no equilíbrio de todas as coisas, E todo movimento dentro de seu fluxo arriscava um desequilíbrio nessa harmonia. Terry Brooks em Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999) Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos... Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas... Também haveria uma religião ali. Bertold Brech em Se os tubarões fossem homens (1926-1956)
  • 2. A força (Te) não é (um querer) induzir alguém (ou alguma coisa) a seguir um caminho prefigurado e sim (um deixar) fluir com o curso (Tao). O autor em Desobedeça (2010) Mas fluzz não é a força. Fluzz é o curso. O autor, aqui (2010) 2
  • 3. Nada disso está sendo percebido pelos mantenedores do velho mundo que são, invariavelmente, “net-avoids”, ou seja, aqueles que desconfiam das redes quando não deveriam fazê-lo, posto que justamente em uma época de transição para uma sociedade em rede. E estes são, quase sempre, hierarcas. Não conseguem ver o que está ocorrendo porque, do lugar onde operam, objetivamente, contra os novos mundos que estão emergindo, a mudança não pode mesmo aparecer. Alguns exemplos dessas categorias – que freqüentemente se misturam e incidem em alguma combinação particular sobre um mesmo indivíduo “vitorioso” (segundo os critérios do milênio pretérito) – merecem ser destacados: os ensinadores ou burocratas sacerdotais do conhecimento, os codificadores de doutrinas, os aprisionadores de corpos, os construtores de pirâmides, os fabricantes de guerras e os condutores de rebanhos. Conhecimento atestado por títulos, fama, riqueza e poder são indicadores de sucesso adequados às sociedades hierárquicas. São coisas que só alguns podem ter, não todos. São coisas que alguns podem ter em detrimento dos outros. Assim o sábio se destaca dos ignorantes (ou o titulado do não titulado, até na cadeia), o famoso não se mistura com o zé-ninguém, o rico vive entre os ricos para ficar mais rico e não se relaciona com o pobre (que – como sabemos – só continua pobre porque seus amigos são pobres) e o poderoso só consegue exercer seu poder porque os que (acham que) não têm poder lhe prestam obediência. Os critérios de sucesso competitivo são, na verdade, mais do que indicadores: são ordenações da sociedade hierárquica. O fato é que, os que tiveram sucesso ou venceram no mundo do comando- e-controle, em grande parte, venceram aplicando esquemas de comando-e- controle. Venceram – e foram reconhecidos como vencedores – porque aplicaram esquemas de comando-e-controle; ou seja, porque replicaram um determinado padrão de ordem (e, para tanto, é como se tivessem recebido uma ordenação). 3
  • 4. Dentre os que fazem sucesso na sociedade hierárquica e de massa encontram-se, é claro, pessoas esforçadas, criativas ou inovadoras, talentos extraordinários e gênios incontestes. Mas estão lá também – em número tão grande para derrubar o mito de que o sucesso é um prêmio pelo talento – os agentes reprodutores desse tipo de sociedade, como, por exemplo, os colecionadores de diplomas, os vendedores de ilusões, os marqueteiros de si mesmos, os aprisionadores de corpos, os ensinadores ou burocratas sacerdotais do conhecimento, os codificadores de doutrinas, os aprisionadores de corpos, os construtores de pirâmides, os fabricantes de guerras e os condutores de rebanhos. Não se trata de inculpar esses tipos por todo mal que assola a humanidade. Eles são apenas agentes inconscientes da reprodução do sistema. Eles não existem propriamente como indivíduos. Não adianta para nada tentar nomeá-los: eles são legião (Mc 5: 9, hehe), entidades inumeráveis configuradas nas redes sociais, quando campos perturbados pela presença da hierarquia aglomeram e enxameiam no contra-fluzz. 4