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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                                 70
                   (Corresponde à introdução do Capítulo 9,
                      intitulado Eles já estão entre nós)




Os herméticos irão perdendo terreno,
ou se linkarão a outros herméticos e então tudo bem.
Os velhos irão perdendo o terreno.
Ou se linkarão com outros velhos, só por prazer.
Tudo isso está fluindo
e para que mude o paradigma falta pouco.
É uma revolução silenciosa e divertida.
E é sub-corporativa, deliciosamente caótica, enredada,
sináptica, não linear, não metódica.
Marcelo Estraviz em A linkania e o religare (2001)
Sem dúvida, bebidas alcoólicas, tabaco etc.
são coisas que um santo deve evitar,
mas santidade também é algo que os seres humanos devem evitar.
George Orwell em Reflexões sobre Gandhi (1948)




                                      2
A resiliência das velhas funções, agenciadoras de um tipo de mundo
      (erigido para exterminar outros mundos) que teima em não
      desaparecer, não está conseguindo impedir o surgimento de novos
      papéis sociais que antecipam uma nova época.

      Caminhando fora dos trilhos estabelecidos, emergem a cada dia
      novos atores do mundo glocalizado. Sim, eles já estão entre nós. Não
      são conhecidos porquanto não são pessoas que ficaram famosas
      segundo o que até então era considerado indicador de sucesso: pelo
      seu poder, pela sua riqueza ou pelo seu conhecimento atestado por
      títulos. Quem são? Ora são os múltiplos anônimos conectados,
      habitantes de uma diversidade incrível de Highly Connected Worlds,
      que não foram produzidos por broadcasting. São como aquele
      personagem do romance “Distraction” de Bruce Sterling (1998) que,
      para se identificar, afirmou: “Não temos raízes. Somos pessoas da
      rede. Temos antenas”.

      Tais papéis inéditos que estão sendo produzidos pela (ou em) rede
      são também múltiplos. Por enquanto só conseguimos divisar alguns.
      Três exemplos marcantes são os hubs, os inovadores e os
      netweavers.




Os principais indicadores de sucesso do mundo hierárquico, no dealbar do
século 21, ainda são a fama, o conhecimento atestado por títulos, a riqueza
e o poder.

A fama parece ser o principal indicador. Quem colecionou muitos diplomas,
acumulou riqueza ou conseguiu deter em suas mãos algum poder de
mandar nos outros, não se sentirá plenamente bem-sucedido se não for
conhecido por muita gente ou, pelo menos, por uma parcela ponderável de
seus pares.




                                    3
Como critério de sucesso, a fama é inquestionável, indiscutível mesmo. Se
você virou uma celebridade, é sinal de que progrediu na vida. Deixou de ser
qualquer um. Destacou-se e continuará sendo destacado. Merecerá
tratamento especial aonde for. Não entrará na fila. Não receberá senhas. O
maitre logo lhe arranjará uma mesa, mesmo que o restaurante esteja
lotado. Não ficará aguardando atendimento nos bancos das repartições
públicas ou nos sofás das antesalas das organizações. E todos o observarão
com admiração, alguns deixarão escapar suspiros à sua passagem, muitos o
cumprimentarão como se o conhecessem de longa data; outros, mais
afoitos, lhe pedirão autógrafos ou implorarão sua licença para tirar uma foto
ao seu lado.

Mas a fama não é necessariamente um prêmio pelo talento e sim o
resultado direto da exposição em algum meio de comunicação centralizado,
do tipo broadcasting (de mão única, um-para-muitos). Qualquer pessoa que
aparece regularmente na televisão (não importa se apresentando um
noticiário ou um programa de auditório ou atuando em uma novela) fica
famosa. Qualquer pessoa que atua com certo protagonismo em um filme
fica famosa. Qualquer pessoa que escreve durante algum tempo em um
grande jornal ou revista fica famosa.

Artistas, desportistas e até cientistas só ficam famosos porque são
transmitidos por broadcasting (do contrário ninguém os reconheceria na
rua). Mesmo os grandes teatros, estádios e auditórios de conferências, nos
quais um é visto por muitos, já são uma forma de “broadcasting”
(conquanto não permitam uma visualização tão massiva).

O mesmo ocorre com quem acumulou riqueza ou detém algum cargo de
poder. Mesmo estes fazem certo esforço financeiro para sair na revista
Caras ou nas chamadas colunas sociais. Por quê? Ora, porque estão fazendo
sucesso, estão seguindo os conselhos da mamãe para se destacar dos
demais. Encaram isso como um investimento, pois aprenderam desde
pequenos que só é possível fazer negócios – comerciais ou políticos – a
partir de relacionamentos (é isso que a ridícula literatura empresarial mais
recente chama de networking). Aprenderam que é preciso ser conhecido
como alguém que se destacou dos demais para ser incluído nos círculos de
relacionamentos daqueles que se destacaram dos demais (porque têm
fama, riqueza ou poder). Estão apenas pagando a jóia, o preço para entrar
no clube. E a partir daí podem até ostentar alguns distintivos dos bem-
sucedidos, como fumar charutos e jogar golfe.

Quando questionadas, as pessoas que acreditam nesse tipo de coisa – e são
muitas – costumam dizer que a vida é assim mesmo. É uma luta. E que é



                                     4
preciso vencer na vida: bah! A expressão, convenhamos, é muito escrota:
vencer quem? Por acaso estamos em uma guerra?

O problema é que estamos. E aí, como se diz, tudo é sacrificado em nome
da vitória, a começar pela verdade.




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Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
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Os novos indicadores de sucesso na era digital

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 70 (Corresponde à introdução do Capítulo 9, intitulado Eles já estão entre nós) Os herméticos irão perdendo terreno, ou se linkarão a outros herméticos e então tudo bem. Os velhos irão perdendo o terreno. Ou se linkarão com outros velhos, só por prazer. Tudo isso está fluindo e para que mude o paradigma falta pouco. É uma revolução silenciosa e divertida. E é sub-corporativa, deliciosamente caótica, enredada, sináptica, não linear, não metódica. Marcelo Estraviz em A linkania e o religare (2001)
  • 2. Sem dúvida, bebidas alcoólicas, tabaco etc. são coisas que um santo deve evitar, mas santidade também é algo que os seres humanos devem evitar. George Orwell em Reflexões sobre Gandhi (1948) 2
  • 3. A resiliência das velhas funções, agenciadoras de um tipo de mundo (erigido para exterminar outros mundos) que teima em não desaparecer, não está conseguindo impedir o surgimento de novos papéis sociais que antecipam uma nova época. Caminhando fora dos trilhos estabelecidos, emergem a cada dia novos atores do mundo glocalizado. Sim, eles já estão entre nós. Não são conhecidos porquanto não são pessoas que ficaram famosas segundo o que até então era considerado indicador de sucesso: pelo seu poder, pela sua riqueza ou pelo seu conhecimento atestado por títulos. Quem são? Ora são os múltiplos anônimos conectados, habitantes de uma diversidade incrível de Highly Connected Worlds, que não foram produzidos por broadcasting. São como aquele personagem do romance “Distraction” de Bruce Sterling (1998) que, para se identificar, afirmou: “Não temos raízes. Somos pessoas da rede. Temos antenas”. Tais papéis inéditos que estão sendo produzidos pela (ou em) rede são também múltiplos. Por enquanto só conseguimos divisar alguns. Três exemplos marcantes são os hubs, os inovadores e os netweavers. Os principais indicadores de sucesso do mundo hierárquico, no dealbar do século 21, ainda são a fama, o conhecimento atestado por títulos, a riqueza e o poder. A fama parece ser o principal indicador. Quem colecionou muitos diplomas, acumulou riqueza ou conseguiu deter em suas mãos algum poder de mandar nos outros, não se sentirá plenamente bem-sucedido se não for conhecido por muita gente ou, pelo menos, por uma parcela ponderável de seus pares. 3
  • 4. Como critério de sucesso, a fama é inquestionável, indiscutível mesmo. Se você virou uma celebridade, é sinal de que progrediu na vida. Deixou de ser qualquer um. Destacou-se e continuará sendo destacado. Merecerá tratamento especial aonde for. Não entrará na fila. Não receberá senhas. O maitre logo lhe arranjará uma mesa, mesmo que o restaurante esteja lotado. Não ficará aguardando atendimento nos bancos das repartições públicas ou nos sofás das antesalas das organizações. E todos o observarão com admiração, alguns deixarão escapar suspiros à sua passagem, muitos o cumprimentarão como se o conhecessem de longa data; outros, mais afoitos, lhe pedirão autógrafos ou implorarão sua licença para tirar uma foto ao seu lado. Mas a fama não é necessariamente um prêmio pelo talento e sim o resultado direto da exposição em algum meio de comunicação centralizado, do tipo broadcasting (de mão única, um-para-muitos). Qualquer pessoa que aparece regularmente na televisão (não importa se apresentando um noticiário ou um programa de auditório ou atuando em uma novela) fica famosa. Qualquer pessoa que atua com certo protagonismo em um filme fica famosa. Qualquer pessoa que escreve durante algum tempo em um grande jornal ou revista fica famosa. Artistas, desportistas e até cientistas só ficam famosos porque são transmitidos por broadcasting (do contrário ninguém os reconheceria na rua). Mesmo os grandes teatros, estádios e auditórios de conferências, nos quais um é visto por muitos, já são uma forma de “broadcasting” (conquanto não permitam uma visualização tão massiva). O mesmo ocorre com quem acumulou riqueza ou detém algum cargo de poder. Mesmo estes fazem certo esforço financeiro para sair na revista Caras ou nas chamadas colunas sociais. Por quê? Ora, porque estão fazendo sucesso, estão seguindo os conselhos da mamãe para se destacar dos demais. Encaram isso como um investimento, pois aprenderam desde pequenos que só é possível fazer negócios – comerciais ou políticos – a partir de relacionamentos (é isso que a ridícula literatura empresarial mais recente chama de networking). Aprenderam que é preciso ser conhecido como alguém que se destacou dos demais para ser incluído nos círculos de relacionamentos daqueles que se destacaram dos demais (porque têm fama, riqueza ou poder). Estão apenas pagando a jóia, o preço para entrar no clube. E a partir daí podem até ostentar alguns distintivos dos bem- sucedidos, como fumar charutos e jogar golfe. Quando questionadas, as pessoas que acreditam nesse tipo de coisa – e são muitas – costumam dizer que a vida é assim mesmo. É uma luta. E que é 4
  • 5. preciso vencer na vida: bah! A expressão, convenhamos, é muito escrota: vencer quem? Por acaso estamos em uma guerra? O problema é que estamos. E aí, como se diz, tudo é sacrificado em nome da vitória, a começar pela verdade. 5