Diarreia Aguda na Infância: Seminário apresentado no Internato em Pediatria I (PED I) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) - Natal - Brasil.
1. Luíza Emília
Marcela Mara
Pedro Victor
Wendell Ricardo
Yuri Raoni
Orientadora: Profa Jussara Melo de Cerqueira Maia
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA
INTERNATO EM PEDIATRIA I
DIARREIA AGUDA NA INFÂNCIA
2. IntroduçãoIntrodução
• Diarreia:Diarreia: ≥ 3 evacuações amolecidas em 24 horas≥ 3 evacuações amolecidas em 24 horas
• Aumento do número de evacuações e/ou diminuição
da consistência das fezes
• Diarreia agudaDiarreia aguda
• Diarreia persistenteDiarreia persistente
• Diarreia crônicaDiarreia crônica
• DisenteriaDisenteria
3. • ≈ 1,5 bilhões de episódios agudos de diarréia no mundo por
ano
• Responsável por 3 a 5 milhões de óbitos em crianças a cada
ano
• Países em desenvolvimento: < 5 anos 3-5/ano
• Transmissão: via fecal-oral, principalmente pela água,
alimentos, mãos e objetos contaminados
• Queda significativa na mortalidade infantil por diarréia após
introdução da TRO
IntroduçãoIntrodução
9. ROTAVÍRUS
• Principal causa de diarréia grave em menores de 2 anos de idade em
países desenvolvidos e subdesenvolvidos
• Necessidade de tratamento hospitalar: 33%.
• Sazonalidade
• Período de transmissibilidade
• Surtos
• Possuem 7 grupos (A, B, C, D, E, F, G)
• Doenças em humanos (Grupo A – sorotipo G)
10. ROTAVÍRUS
• Mecanismos da diarreia:
• Osmótico: destruição de céluas epiteliais do topo das vilosidades
que tem função digestiva e absortiva
• Secretor: proteína viral NSP4 ↑ de Ca 2+
intracelular (em
murinos)
• Período de incubação: 48-72 horas
• Vômitos, febre e eliminação de fezes líquidas e abundantes
desidratação
• Duração: 2 – 8 dias
12. Giardia lamblia
• Habita porções mais altas do intestino delgado
• Cistos e trofozoítas
• Cistos disseminação da doença (viáveis por 3 meses,
resistentes a cloração da água)
• Diarréia aguda autolimitada
• Diarréia crônica de curso persistente ou interminente, pode
haver má-absorção
• Incidência: 1-5 anos
13. Entamoeba histolytica
• Doença endêmica
• Cistos transmissão
• Escolares e adolescentes
• Colite amebiana disentérica: início insidioso, evacuações com
muco, sangue, cólicas abdominais e tenesmo
• Colite amebiana não-disentérica: surtos de diarréia
alternados com normalização do hábito intestinal
• Complicações: colite fulminante e perfuração intestinal
15. • Gram-negativas, flora endógena
• Cepas patogênicas, são subdivididas em 6 subtipos segundo o
mecanismo básico de interação com a mucosa intestinal:
• E. coli enteropatogênica (ECEP)
• E. coli enteroaderente difusa (ECED)
• E. coli enteroagregativa (ECEA)
• E. coli enterotoxigência (ECET)
• E. coli enterohemorrágica (ECEH)
• E coli enteroinvasiva (ECEI)
Escherichia coli
16. • Altamente prevalente em países em desenvolvimento, é endêmica eAltamente prevalente em países em desenvolvimento, é endêmica e
apresenta surtos epidêmicosapresenta surtos epidêmicos
• Juntamente com os rotavírus, principal causa de diarréia (mais de 25%Juntamente com os rotavírus, principal causa de diarréia (mais de 25%
dos episódios)dos episódios)
• Todas as faixas etáriasTodas as faixas etárias
• Diarréia do viajante (principal causa)Diarréia do viajante (principal causa)
• Não lesam ou invadem a mucosa intestinalNão lesam ou invadem a mucosa intestinal
• Enterotoxinas: LT (termolábel) e ST (termoestável), estimulam AMPc eEnterotoxinas: LT (termolábel) e ST (termoestável), estimulam AMPc e
GMPcGMPc
• Diarréia abundante, aquosa, variando de moderada a graveDiarréia abundante, aquosa, variando de moderada a grave
• Autolimitada, duração de 5 dias, podendo prolongar-se até 3 semanasAutolimitada, duração de 5 dias, podendo prolongar-se até 3 semanas
E. COLI ENTEROTOXIGÊNCIA (ECET)
17. • Citotoxinas: Shiga-like toxina 1 (SLT 1) e Shiga-like toxina
2 (SLT 2) que se ligam a receptores intestinais e renais
• Diarréia sanguinolenta, dor abdominal em cólica, vômitos
• Síndrome hemolítico-urêmica: anemia hemolítica,
trombocitopenia, insuficiência renal
• Uso de Atb tem sido associado a maior risco
• Crianças entre 5-9 anos e adultos
• Duração: 1-24 dias (média: 4)
• Febre ausente ou baixa (diferencial)
• Pode simular abdome agudo
E. COLI ENTEROHEMORRÁGICA (EHEC)
18. Shigella sp
• Bactéria gram-negativa com capacidade invasora e de
produzir citotoxina e neurotoxina
• Disenteria bacilar: evacuações de pequeno volume, elevada
freqüência, inicialmente do tipo aquosa evoluindo para
diarréia com sangue, muco e pus, associada a tenesmo e
cólicas
• Pródromos: cefaléia, mal-estar e anorexia
• Maioria autolimitada com resolução em 5 a 7 dias
19. Shigella sp
• Homem é único hospedeiro
• Altamente contagiosa (inóculo = 10)
• Crianças entre 1 – 4 anos
• Pode haver disseminação via hematogênica septicemia
(principalmente em imunocomprometidos)
• Anemia microangiopática SHU e púrpura
trombocitopênica
20. Salmonella sp
• Bacilos gram-negativos, móveis e aeróbios
• 2300 sorotipos
• Capazes de causar infecção sistêmica: S. typhi e S. paratyphi
(febre tifóide)
• Hospedeiro: homem, animais domésticos e selvagens
• Causa freqüente de surtos de diarréia associados à
intoxicação alimentar
• Crianças menores de 5 anos
21. Salmonella sp
• Período de incubação: 6 horas a 10 dias (habitual: 6 a 48 horas)
• Enterocolite: invasão de bactérias nas células epiteliais do intestino
estimulam a secreção de líquido fezes aquosas que podem conter
sangue e muco
• Cefaléia, dor abdominal, febre
• Pode causar casos graves: septicemias, infecções metastáticas:
meningite, osteomielite, pneumonia, endocardite, etc
• Órgãos que apresentam alguma anormalidade (ex: anemia falciforme +
osteomielite)
• Pacientes podem continuar excretando bactérias nas fezes cerca de 5
semanas após término (pode chegar a 1 ano)
22. Campylobacter jejuni
• Bactérias gram-negativas
• Mais comum em países desenvolvidos
• Animais servem de reservatório (via mais comum de
contaminação: animal-pessoa)
• Virulência: invasão e produção de endotoxina citolítica
• Período de incubação: 24-72 horas
• Mialgia, febre, cefaléia dor abdominal, diarréia de início
abrupto, com muco e sangue nas fezes
• Septicemia, SHU, megacolón toxico, meningite (RN),
Síndrome de Guillain-Barré
23. Vibrio cholerae
• Bacilos gram-negativos, encurvados, aeróbios (anaeróbios
facultativos)
• Grandes epidemias de diarréia
• Toxina potente que estimula o AMPc
• Incubação: horas a 5 dias
• Gastroenterite leve/moderada a grave com vômitos perda
significativa de água e eletrólitos choque hipovolêmico e
óbito
• Fezes em “água de arroz” (água e muco)
• Resolução em 4-6 dias com hidratação adequada
24. Clostridium difficile
• Bacilos anaeróbios obrigatórios, gram-positivos, esporo-
resistentes
• Infecção nosocomial: permanecem viáveis em objetos por
períodos prolongados
• Infecção assintomática ou diarréia leve a grave associada ou
não ao uso de Atb
• Enterotoxinas: toxina A diarréia secretora, toxina B
colite
25. Clostridium difficile
• Colite pseudomembranosa: fezes disentéricas, com sangue,
muco, dor abdominal intensa, febre e desidratação
importante
• Inflamação da mucosa se apresenta como pseudomembranas
fibrinosas típicas
• Pode evoluir para megacolón toxico e óbito
• Antibióticos mais relacionados: cefalosporinas, ampicilina,
clindamicina
• Alguns antineoplásicos: metotrexato
• Quadro pode surgir até 2 meses após o uso de antibióticos
27. QUADRO CLÍNICO
• Depende da idade, estado nutricional, competência
imunológica, grau de patogenicidade do agente, manejo
adequado
• Outros sintomas: febre, vômitos, dores abdominais, perda ou
diminuição do apetite, redução do volume urinário
• Menor a idade e pior o estado nutricional pior a gravidade
28. QUADRO CLÍNICO
• Diarréias secretoras: atuam mais em segmentos do intestino delgado
• Fezes de grande volume de líquidos e eletrólitos, raramente com sangue ou muco
• Diarréias osmóticas: açucares acumulam na luz intestinal, favorecem o
afluxo de água e eletrólitos e sofrem metabolização por bactérias
• Fezes de conteúdo ácido e hiperosmótico, explosivas (gases), substâncias redutoras
presentes, distensão e cólicas, hiperemia anal
• Melhora com o jejum
• Diarréias inflamatórias: invasão da mucosa colônica
• Fezes em menores volumes, com maior freqüência, menor conteúdo hídrico,
características disentéricas
30. DIAGNÓSTICO
• MAIORIA: NÃO HÁ NECESSIDADE DE EXAMES
COMPLEMENTARES
• Reservado para:
• Evolução grave
• Comprometimento do estado geral
• Lactentes muito jovens, desnutrição grave, imunossuprimidos
Risco de generalização do processo infeccioso ou seu
prolongamento
31. DIAGNÓSTICO
1. Hemograma:
• Suspeita de sepse
2. Bioquímica:
• Desidratação grave com necessidade de reposição intravenosa
• K, Na, Cl
• Uréia, creatinina e glicose de acordo com o quadro clínico e complicações
3. Gasometria arterial:
• Suspeita clínica de acidose metabólica
4. EPF:
• Determinação de parasitas
• Surto de diarréia
• Imunodeprimidos
32. DIAGNÓSTICO
• Coprocultura:
• Infecções disseminadas, surtos epidêmicos, diarréia em imunodeprimidos e
crianças portadoras de doenças crônicas, quadros graves, pacientes de baixa
idade,, quadros que se prolongam.
• Diarréia osmótica:
• pH das fezes: < 5,6
• Substâncias redutoras: > 0,5%
• Osmolaridade fecal: > 290 mOsm
• Sangue e leucócitos nas fezes:
• Invasão do epitélio intestinal.
• Pesquisa de vírus nas fezes:
• Métodos imunoenzimáticos (ELISA)
35. CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO DE DESIDRATAÇÃO (CDC)
Sintomas S/ desidratação ou
desidratação mínima
Desidratação leve
moderada
Desidratação grave
Déficit de peso < 3% 3-9% >= 9%
Sede Bebe normalmente Sedento Incapaz de beber
FC Normal Normal ou aumentada Aumentada. Bradicardia
em casos muito graves
Amplitude do pulso Normal Normal ou diminuído Fraco ou impalpável
Respiração Normal Normal a rápida Profunda
Olhos Normal Fundos Muito Fundos
Lágrimas Presentes Diminuídas Ausentes
Boca e língua Ímidas Secas Muito secas
Sinal da pega Recolhe rápido Recolhe < 2s Recolhe > 2s
Enchimento capilar Rápido Lento Muito lento
Extremidades cianóticas Quentes Frias Frias.
Débito urinário Normal a diminuído Diminuído Minimo
36. TRATAMENTO
• Prevenir e repor as perdas fecais de água e eletrólitos
• Reestabelecer o equilíbrio hidroeletrolítico
• Proporcionar aporte protéico suficiente para impedir instalação ou
agravo da desnutrição
38. PLANO A
• Soro caseiro
• 40-50mEq/l
• Após cada evacuação:
• menores de 12 meses: 50-100ml;
• maiores de 12 meses: 100 a 200ml;
• adultos: a quantidade que aceitarem.
• Alimentação deve ser
mantida!
• Orientar sinais de
desidratação
39. PLANO B
• TRO – quantidade dependendo da sede da criança
• 50-100ml/Kg no período de 4-6h
• Após hidratação:
• Alta com SRO após evacuações:
• menores de 12 meses: 50-100ml;
• maiores de 12 meses: 100 a 200ml;
• >10 anos: a quantidade que aceitarem.
• Alimentação deve ser mantida!
-- Criança com diarréia e com sinais de
desidratação
40. PLANO B
• Gastróclise:
• Perda ponderal após 2h de TRO
• Vômitos persistentes
• Distensão abdominal acentuada com RHA+
• Dificuldade de ingestão de SRO
20-30ml/h até reidratação
41. PLANO C
• Indicações de HV:
• Desidratação grave
• Não ganha ou perde peso após SNG
• Alteração do estado de consciência
• Vômitos persistentes após SNG
• Íleo paralítico (distensão + RHA-)
• Fases
• Expensão (Rápida)
• Manutenção e reposição
Criança com diarréia e desidratação
grave
42. PLANO C
• Fase de expansão (MS)
• Partes iguais de SG 5% e SF 0,9%
• Fazer 100ml/Kg em 2h
• Se continuar desidratada – 25 a 50ml/Kg em 2h
• Reavaliar a cada 1h
• Fase de Manutenção
• Solução 1:4 (SF:SG)
• + KCl 10% (2ml) ou KCl 19,1% (1ml)
• Reposição: 50ml/kg/dia Solução 1:1
Peso do Paciente Volume de Manutenção
Até 10kg 100ml/Kg
10-20Kg 1000ml + 50ml/Kg acima de 10
>20Kg 1500ml +20ml/Kg acima de 20
43. PLANO C
• OMS (Guideline 2005)
• Iniciar 100ml/kg Ringer-lactato ou SF 0,9%
• < 1 ano
• 30ml/kg em 1h
• 70ml/kg nas proximas 5h
• > 1 ano
• 30ml/kg em 30min
• 70ml/kg em 2,5 h
• Repetir 01 vez se pulso radial permanecer fraco ou indetectável
• Oferecer também SRO tão logo seja possível 5ml/kg/h
• Fase de manutenção e reposição = MS
44. ANTIBIOTICOTERAPIA
• Restrito a pacientes com formas graves
• Presença de disenteria
• Cobertura de Shiguella:
• Ácido nalidíxico 40mg/kg/dia, VO, 6/6h, 5 dias
• SMT-TMP 40mg/kg/dia, VO, 12/12h, 5 dias
• Cólera
• SMT-TMP 40mg/kg/dia, VO, 12/12h, 3 dias
• Eritromicina 40mg/kg/dia, VO, 6/6h por 3 dias
45. PREVENÇÃO
• Aleitamento materno exclusivo até 6m
• Consumo de comida e água seguros
• Água: ferver por 5min antes de preparar
alimentos.
• Lavar as mãos depois de defecar,
manipular fezes e antes de preparar
alimentos
• Construção de fossas – min 10m de
fonte de água potável
• Vacinação:
• Rotavírus
• Cólera
47. REFERÊNCIAS
• World Health Organization. The Treatment of diarrhoea : a manual for
physicians and other senior health workers. 4th rev. Geneva, 2005
• Fleisher GR. Evaluation of diarrhea in children. UpToDate, Set 2012.
• Harris JB, Pietroni M. Approach to the child with acute diarrhea in
developing countries. UpToDate, Abr 2012.
• Gilger MA. Pathogenesis of acute diarrhea in children. UpToDate, Jun
2011.
• Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de
vigilância epidemiológica – Caderno 5. – 5. Ed: 33-47. – Brasília :
Ministério da Saúde, 2002.
• Lopez FA, Júnior CD. Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de
Pediatria. 1ª edição. Editora Manole Ltda. São Paulo, 2007.