O documento discute as classes gramaticais de palavras na língua portuguesa. Existem tradicionalmente dez classes: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. No entanto, as definições dessas classes variam dependendo se baseiam no critério semântico, morfológico ou funcional. Uma classificação coerente deve considerar todos esses critérios.
1. Classe Gramatical das palavras.
Na Língua Portuguesa existem dez classes gramaticais de palavras. Qualquer palavra usada
estará inserida em uma das dez classes abaixo.
1 -Substantivo: palavras que nomeia os seres – visíveis ou não, animados ou não e também nomeia
os estados, desejos, sentimentos e ideias dos seres;
2 -Adjetivo: palavra que caracteriza os seres. Refere-se sempre a um substantivo explícito ou
implícito na frase, com o qual concorda em gênero e número;
3 -Numeral: palavra que expressa quantidade de pessoas ou seres, e também o lugar que elas
ocupam em uma determinada sequência;
4 -Artigo: palavra que antecede o substantivo, indicando-lhe o gênero e o número, ao mesmo
tempo que determina ou generaliza o substantivo;
5 -Advérbio: palavra ligada ao verbo, que o modifica , geralmente atribui uma circunstância ou
característica ao verbo;
6 -Pronome: palavra que substitui , indica ou acompanha um substantivo.
7 -Preposição: palavra invariável que liga termos de uma oração, estabelecendo entre elas
diversas relações;
8 - Conjunção: é a palavra invariável usada para unir orações ou termos semelhantes de uma
oração;
9 - Interjeição: palavra invariável usada para exprimir emoções e sentimentos;
10 -Verbo: palavra que costuma indicar uma ação, um estado ou fenômeno da natureza. Flexiona-se
em número, pessoa, tempo e voz.
Os vocábulos de uma língua constituem um conjunto ordenado, e o que concorre para essa ordenação é o
fato de apresentarem semelhanças de forma, de sentido e de função, como vimos na introdução. Daí
poderem ser agrupados ou classificados levando em conta três critérios: o formal ou mórfico, o semântico
e o funcional. O critério formal ou mórfico baseia-se nas características da estrutura do vocábulo; o
semântico baseia-se no seu modo de significação (extralingüístico e intralingüístico), e o funcional baseia-se
na função ou papel que ele desempenha na oração. A aplicação desses critérios nos conduzirá às classes de
vocábulos, ou seja, aos conjuntos "das unidades que têm as mesmas possibilidades de aparecer num dado
enunciado" (Dubois, 1973, p.108).
Para reforçar a opção por esses critérios, convém lembrar que a língua é um sistema de elementos e de
relações; esse sistema, formado de subsistemas, se organiza nos níveis fonológico, morfo-sintático e
semântico.
Segundo Mattoso Câmara, o critério semântico não deve ser observado isoladamente, como acontece
comumente na Gramática Tradicional. Para ele, o critério semântico e o critério mórfico se associam de
forma muito estreita, pois o vocábulo é uma unidade de forma e de sentido. "O sentido não é qualquer
coisa de independente, ou, mais particularmente, não é apenas um conceito; conjuga-se a uma forma. O
2. termo ´sentido´ só pode ser entendido com o auxílio do conceito de ´forma´." (Mattoso Câmara, 1970).
De acordo com o critério morfo-semântico, os vocábulos do português se agrupam em nomes, verbos,
pronomes, advérbios e conectivos, constituindo-se as três primeiras classes, de vocábulos variáveis, e as
duas últimas, de vocábulos invariáveis. A diferença entre essas classes está no modo de significação e nas
categorias gramaticais que cada uma delas expressa, ou seja, na sua flexão.
o nome, por nomear os seres, expressa as categorias de gênero e número;
o pronome faz uma referência ao nome dentro de um contexto e por isso expressa também as categorias
de gênero e número, além de possuir formas diferentes para pessoas e funções sintáticas;
o verbo, que expressa um processo, se distingue das outras classes do grupo porque apresenta variação de
modo, tempo (aspecto) e pessoa (número);
o advérbio especifica a significação de um processo verbal e é invariável;
os conectores estabelecem relações de sentido entre os elementos da frase e são invariáveis.
Por outro lado, os critérios mórfico e funcional estão também intimamente relacionados, pois a forma
depende da função que o vocábulo desempenha na frase, das relações de regência e concordância que se
estabelecem.
Do ponto de vista funcional, as classes de vocábulos podem ser diferenciadas de acordo com características
sintáticas. O nome substantivo funciona como núcleo do sintagma nominal, acompanhado por
determinantes e modificadores. O verbo funciona como núcleo do sintagma verbal, acompanhado por
complementos e modificadores.
Retomando o conceito de função como um princípio da organização da oração, devemos entender que
"determinar a função de um constituinte é formular sua relação com os demais constituintes da unidade de
que ambos fazem parte" (Perini, 1995).
Para Perini (1995), "classificar as palavras implica elaborar uma classificação sobre critérios formais (sem
excluir da descrição a classificação semântica, mas separando-se nitidamente dela)". Afirma que "é
necessário classificar as palavras quanto a seus traços formais, isto é, quanto ao seu comportamento
sintático e morfológico; e também é necessário classificá-las quanto a seus traços de significado". Segundo
ele, é preciso estar atento à coerência que deve haver dentro de cada classe, isto é, a definição que se dá
dessa classe deve se adequar ao conjunto de vocábulos nela incluído; deve haver também uma relativa
homogeneidade entre os componentes da classe quanto ao comportamento gramatical.
Assim, a tradicional definição da classe dos verbos sob o ponto de vista basicamente semântico ("palavra
que exprime uma ação") é inadequada, já que vocábulos de outras classes também podem conter esse
traço de sentido. Por exemplo, corrida e construção são nomes que contêm a idéia de processo.
Por isso, o critério morfológico e o funcional, juntos, permitem uma definição mais coerente desta classe de
vocábulos:
a)verbos são vocábulos que variam em tempo (+aspecto), modo e pessoa (+ número);
b)somente os verbos podem desempenhar a função de núcleo do predicado.
Embora esses conjuntos de vocábulos possam ser estabelecidos com base em semelhanças de
3. comportamento gramatical, a função que eles desempenham é fundamental para determinar suas
características semânticas e morfológicas. Por isso, a separação entre as classes não é estanque. O verbo,
por exemplo, pode funcionar como nome ao ocupar o núcleo do sintagma nominal, antecedido por um
determinante ( artigo ou pronome). Esse processo de nominalização é muito produtivo na língua, sendo,
inclusive, a origem da formação de inúmeros vocábulos.
Exemplos:
Viver é muito perigoso.(Guimarães Rosa)
Não desejo outro viver.
O ir e vir das pessoas me incomodava.
O vai e vem dos carros diminuía à medida que a noite avançava.
Essa mobilidade dos vocábulos é um forte argumento para que eles sejam observados sob diferentes
aspectos -- morfológico, funcional e semântico. O problema com os livros de gramática e os livros didáticos
é que, em geral, a definição de cada classe não leva em conta os mesmos critérios, o que resulta em
definições confusas, privilegiando ora um, ora outro critério. De uma forma geral, a classificação se apóia
basicamente no critério semântico, complementado às vezes pelo morfológico.
Essa posição tem origens históricas. Os antigos gramáticos gregos e latinos já se preocupavam com o
estudo das diferentes classes, estabelecendo, com base em uma perspectiva morfológica, distinções
basadas nas flexões a que cada tipo de vocábulo se submetia. Por exemplo, o substantivo era diferenciado
do verbo por apresentar flexão de gênero e número, e não de pessoa, tempo e modo.
Seguindo esse modelo, as gramáticas normativas também privilegiam o critério morfológico, aliando-o,
agora, ao critério semântico. Já nos estudos lingüísticos mais recentes, fica evidente a necessidade de
basear a classificação dos vocábulos no critério funcional.
Em português, distinguem-se, tradicionalmente, dez classes de vocábulos. Vejamos as definições
normalmente encontradas nos compêndios gramaticais. Elas devem ser analisadas e comparadas com a
concepção defendida por Mattoso Câmara e apresentada no corpo deste estudo.
Substantivo - é o nome de todos os seres (critério semântico) que existem ou que imaginamos existir.
Adjetivo - é toda e qualquer palavra que, junto de um substantivo, (critério funcional) indica uma
qualidade, estado, defeito ou condição (critério semântico).
Numeral - é a palavra que dá idéia de número (critério semântico).
Artigo - é a palavra que antecede o substantivo (critério funcional) e indica o seu gênero e número, (critério
morfológico) individualizando-o ou generalizando-o (critério semântico).
Pronome - é a palavra que substitui ou acompanha um substantivo (nome), (critério funcional) em relação
às pessoas do discurso (critério morfo-semântico).
Verbo - é a palavra que pode sofrer as flexões de tempo, pessoa, número e modo. (critério morfológico) (...)
é a palavra que pode ser conjugada; indica essencialmente um desenvolvimento, um processo (ação,
4. estado ou fenômeno) (critério semântico).
Advérbio - é a palavra invariável, (critério morfológico) que modifica essencialmente o verbo (critério
funcional), exprimindo uma circunstância (tempo, modo, lugar etc.)(critério funcional).
Preposição - é a palavra invariável (critério morfológico) que liga duas outras palavras entre si (critério
funcional), estabelecendo entre elas certas relações (critério semântico).
Conjunção - é a palavra invariável (critério morfológico) que liga orações, ou, ainda, termos de uma mesma
função sintática (critério funcional).
Interjeição - é a palavra invariável (critério morfológico) que exprime emoção ou sentimento repentino
(critério semântico).
ATENÇÃO
Essas definições são incompletas e devem ser revistas, porque privilegiam, seguindo a tradição gramatical,
quase que exclusivamente o critério semântico.
Em um dos compêndios analisados, encontra-se, inclusive, a seguinte afirmação sobre as interjeições: "As
interjeições são, na verdade, frases implícitas, e não palavras invariáveis. Comprova-o o fato de a
interjeição não exercer nenhuma função na oração." Esse tipo de definição é contraditório porque, apesar
de encaminhar a argumentação com base em um critério funcional ("a interjeição é uma frase implícita"),
conclui o raciocínio com base em um critério morfo-semântico ("palavra invariável que exprime noção ou
sentimento repentino").
Tendo em vista esse problema, vamos procurar trabalhar, nesta unidade, com uma classificação que tenha
uma coerência maior, levando em conta as considerações anteriormente feitas.