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646
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
RELAÇÃO ENTRE HABILIDADES DE
PROCESSAMENTO AUDITIVO E FUNÇÕES
NEUROPSICOLÓGICAS EM ADOLESCENTES
Relation between auditory processing abilities
and neuropsychological process in teenagers
Mirella Liberatore Prando (1)
, Josiane Pawlowski (2)
, Jandyra Maria Guimarães Fachel (3)
,
Mari Ivone Lanfredi Misorelli (4)
, Rochele Paz Fonseca(5)
RESUMO
Objetivo: averiguar a existência de relações entre o desempenho em testes de processamento
auditivo e em tarefas cognitivas. Métodos: participaram 12 adolescentes com desenvolvimento
típico, estudantes de terceiro ano do Ensino Médio de escolas privadas do estado do Rio Grande
do Sul, Brasil, examinados com uma bateria de testes de PA(C) e com o Instrumento de Avaliação
Neuropsicológica Breve Neupsilin. Foram realizadas análises de correlação de Pearson e análises
qualitativas intertestes para comparação do desempenho na avaliação do PA(C) e na avaliação neu-
ropsicológica. Resultados: da bateria de testes PA(C), os Testes SSI – MCI – Teste de Sentenças
Sintéticas com mensagem competitiva ipsilateral, SSW - Teste de Dissílabos Alternados e o teste
Dicóticos de Dígitos apresentaram correlação forte significativa positiva (coeficiente de correlação de
Pearson) com os subtestes do Neupsilin: atenção – contagem inversa, percepção de faces, lingua-
gem oral automática e repetição, memória verbal episódica e memória de trabalho – span auditivo de
palavras em sentenças. Alguns testes do PA(C) apresentaram maior frequência de dissociações com
subtestes neuropsicológicos. As correlações encontradas indicam que os testes de PA(C) e as tare-
fas neuropsicológicas parecem examinar algumas habilidades cognitivas subjacentes em comum.
As dissociações observadas sugerem que os processamentos auditivo e neuropsicológico são rela-
tivamente independentes e a análise intertestes do desempenho dos participantes na avaliação do
PA(C), comparada ao desempenho na avaliação neuropsicológica, confirma os resultados encontra-
dos para as questões anteriores. Conclusão: ressalta-se a necessidade de se pensar o contexto da
administração dos testes de PA(C), considerando-se a relação de complementaridade da avaliação
neuropsicológica e do exame de processamento auditivo.
DESCRITORES: Percepção Auditiva; Testes Neuropsicológicos; Neuropsicologia; Adolescente
(1) 	
Fonoaudióloga; Membro do Grupo de Pesquisa Neuropsi-
cologia Clínica e Experimental, GNCE, Porto Alegre, RS,
Brasil; Especialização em Neuropsicologia pela Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul; Mestranda em Psi-
cologia, área de concentração em Cognição Humana da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
(2)
	 Psicóloga; Membro do Grupo de Neuropsicologia Clínica
e Experimental, GNCE, Porto Alegre, RS, Brasil; Especia-
lista em Avaliação Psicológica Universidade Federal do Rio
Grande do Sul; Mestre em Psicologia pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul; Doutoranda em Psicologia
na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
(3)
	 Graduada em Matemática; Professora Titular do Depar-
tamento de Estatística, Instituto de Matemática e do Pro-
grama de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Porto Alegre,
RS, Brasil; PhD em Estatística pela University of London.
(4) 	
Fonoaudióloga; Docente do CEFAC – Pós-Graduação
em Saúde e Educação, São Paulo, SP, Brasil; Mestre em
Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo.
(5)
	 Fonoaudióloga e Psicóloga; Professora Adjunta da Facul-
dade de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia, área de concentração Cognição Humana
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, PUC-RS, Porto Alegre, RS, Brasil; Coordenadora do
Grupo de Pesquisa Neuropsicologia Clínica e Experimen-
tal, GNCE, Porto Alegre, RS, Brasil; Doutora em Psicolo-
gia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e Université de Montreal, com Pós-Douto-
ramento em Neurociências pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro.
Conflito de interesses: inexistente
PAC e avaliação neuropsicológica  647
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
„„ INTRODUÇÃO
O presente artigo aborda a relação entre o
desempenho de adolescentes em habilidades de
processamento auditivo (central) e em funções neu-
ropsicológicas. O Processamento Auditivo (Central)
[PA(C)] pode ser definido como o processamento
perceptual da informação auditiva pelo sistema
nervoso central (SNC) e a atividade neurobioló-
gica subjacente. Inclui mecanismos auditivos rela-
cionados às seguintes habilidades: 1) localização
e lateralização do som; 2) discriminação auditiva;
3) reconhecimento de padrão auditivo; 4) aspectos
temporais da audição, entre eles, integração tem-
poral, discriminação temporal (por exemplo, detec-
ção de intervalo de tempo), ordenação temporal e
mascaramento temporal; 5) desempenho auditivo
diante de sinais acústicos competitivos (incluindo
escuta dicótica); e 6) desempenho auditivo com
degradação de sinais acústicos 1
.
O PA(C) consta de quatro mecanismos auditivos:
processamento temporal escuta dicótica, monoau-
ral de baixa redundância e interação binaural. O
processamento temporal refere-se ao modo como
o sistema nervoso auditivo central (SNAC) analisa
aspectos temporais do sinal acústico; é o meca-
nismo auditivo mais elaborado, pois inclui muitas
habilidades auditivas e muitos níveis do SNAC. A
habilidade de percepção do contorno do sinal acús-
tico contribui para o reconhecimento dos aspectos
de prosódia, como ritmo, tonicidade e entonação.
A escuta dicótica caracteriza-se pela condição em
que diferentes estímulos são apresentados para
cada orelha simultaneamente, situação de escuta
em que as vias contralaterais dominam e suprimem
as vias ipsilaterais. Avalia a função hemisférica, a
transferência inter-hemisférica de informação, matu-
ração e desenvolvimento do SNAC. O mecanismo
auditivo monoaural de baixa redundância ocorre
quando há a redução da redundância extrínseca do
sinal de fala e avalia a habilidade de fechamento
auditivo. Essa habilidade é necessária para que o
indivíduo complete a informação quando parte dela
for perdida durante a redução do sinal de fala. Estão
envolvidas nessa função, a discriminação auditiva
e a decodificação. A interação binaural refere-se à
habilidade do SNAC em receber informações dís-
pares, embora complementares, e unificá-las em
um evento perceptual. Este processo depende pri-
mariamente da integridade de estruturas do tronco
encefálico, além do sistema auditivo periférico. No
entanto, podem ser afetados por disfunções/lesões
corticais. As funções auditivas que dependem da
interação são: localização e lateralização, diminui-
ção de mascaramento binaural, detecção de sinais
no ruído e fusão binaural 2,3
. A função auditiva cen-
tral envolve muito mais do que um mapa do sistema
nervoso central para a porção auditiva. Trata-se de
uma dinâmica complexa que envolve transforma-
ções do estímulo acústico na cóclea, as vias efe-
rentes, vias de processamento no cérebro além do
papel das estruturas fora do lobo temporal posterior
como prosencéfalo, por exemplo, para que ocorra
os mecanismos ouvir e escutar” 4
.
Dessa forma, algumas habilidades envolvi-
das no processamento auditivo (central) [PA(C)]
são específicas da modalidade auditiva e outras
dependem de processos cognitivos adicionais 2,5
.
Inúmeras discussões a cerca do entendimento do
processamento auditivo como modalidade especí-
fica e o diagnóstico diferencial vêm ocorrendo na
tentativa de elucidar o conceito dos seus distúrbios
5-7
. Algumas definições de [PA(C)] consideram que
o diagnóstico do transtorno do processamento audi-
tivo (central) [TPA(C)] pode ser aplicado somente
quando um déficit (perceptual) é demonstrado no
sistema auditivo 6-8
. Outros autores, apoiados na
revisão da literatura em neurociência, neurofisiolo-
gia cognitiva e auditiva e áreas afins, afirmam que a
definição de TPA(C), a qual inclui modalidade espe-
cífica como critério diagnóstico, é neurofisiologica-
mente insustentável 1,5,9
.
Entende-se, portanto, que exista uma relação
entre processamento auditivo (central) e as habili-
dades neuropsicológicas, contudo, a identificação
de quais processos cognitivos estariam envolvidos
no processamento auditivo ainda não é consensual
na literatura e pode ser considerada, até mesmo,
pouco explorada. Alguns autores argumentam que,
devido à natureza complexa dos testes propostos
para a avaliação de PA(C), os resultados podem
sofrer a interferência dos aspectos neuropsicológi-
cos e que o dado encontrado de PA(C) poderia ser
um sintoma dentro de um quadro maior 7,8
. Outros
afirmam que mesmo considerando o fato de que
a investigação dos aspectos perceptuais auditivos
possa sofrer influência de outros fatores, é possível
diferenciar um déficit mais global (ou supramodal)
de uma dificuldade mais específica de PA(C) 9
.
Considerando essa abordagem, o PA(C) tam-
bém poderia ser considerado uma modalidade
envolvida nas funções neuropsicológicas 10
. A ava-
liação neuropsicológica deve envolver a verificação
das funções sensoriais receptivas e perceptivas,
que devem ser analisadas conjuntamente com
os demais aspectos cognitivos, tais como memó-
ria, aprendizado, pensamento, atenção, funções
expressivas, linguagem e funções executivas. No
entanto, a percepção auditiva é menos investigada
numa avaliação neuropsicológica do que a percep-
ção visual 11
.
648  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
A avaliação neuropsicológica é um método de
examinar as funções cognitivas através do estudo
da expressão comportamental das disfunções
cerebrais 11
. A avaliação comportamental do PA(C)
pode ser realizada a partir do exame das habilida-
des auditivas centrais que são eliciadas através de
testes específicos. Através da aplicação desses
testes, em conjunto com a avaliação neuropsicoló-
gica, é possível verificar a existência de correlações
e dissociações no desempenho do paciente nas
avaliações. O conceito de dissociação é utilizado
na clínica neuropsicológica em busca do entendi-
mento dos déficits cognitivos. Segundo Willmes 12
, a
dissociação pode ser definida como uma diferença
no desempenho de um paciente em duas diferentes
tarefas ou, ainda, os prejuízos de desempenho de
algumas tarefas em contraposição a um desempe-
nho normal em outras tarefas, são apontados como
evidência da existência de diferentes sistemas neu-
rais subjacentes 10
. Devido à forte natureza desse
modelo de pesquisa, experimentos de dissociação
estão tornando-se mais prevalentes 7
. Em virtude
da lacuna na literatura específica sobre as relações
entre processamento auditivo e habilidades cogniti-
vas, torna-se relevante investigar empiricamente se
tais relações existem e, caso existam, como se dão.
A partir dessa visão integradora entre a avalia-
ção de processamento auditivo e de funções cog-
nitivas, o objetivo geral desse estudo foi investigar
a existência de relações entre o desempenho em
PA(C) e em tarefas neuropsicológicas. Pretendeu-
se, então, responder às seguintes questões de
pesquisa:
1) 	 Há correlação entre o desempenho em PA(C)
e o desempenho neuropsicológico em uma
amostra de adolescentes saudáveis?
2) 	 Podem ser observadas dissociações de
desempenho nas tarefas de PA(C) e nas tare-
fas de orientação têmporo-espacial, atenção,
percepção visual, memória, habilidades aritmé-
ticas, linguagem, praxias e funções executivas
em adolescentes?
3) 	 A análise intertestes do desempenho dos par-
ticipantes na bateria selecionada para a avalia-
ção do PA(C), quando comparada ao desem-
penho na avaliação neuropsicológica, confirma
os resultados encontrados para as questões
anteriores?
Para tais questões norteadoras, formularam-se
as seguintes hipóteses:
1) 	 Haverá correlações entre tarefas de PA(C) e
tarefas de avaliação neuropsicológica, prin-
cipalmente com subtestes de atenção e de
memória.
2) 	 Serão observadas dissociações entre o desem-
penho nos testes de PA(C) e o desempenho em
alguns subtestes do exame neuropsicológico,
tais como, desempenho de processamento
preservado acompanhado de desempenho
deficitário em subtestes neuropsicológicos, por
exemplo, orientação têmporo-espacial e pra-
xias, ou vice-versa.
3) 	 A análise intertestes da avaliação do PA(C),
comparada à análise do desempenho neu-
ropsicológico, confirmará as duas hipóteses
anteriores.
„„ MÉTODOS
Participaram do estudo 12 adolescentes, sete do
sexo feminino e cinco do masculino, de 16 (16,67%)
e 17 (83,3%) anos de idade, todos com escolari-
dade de 10 anos completos de estudo formal e o
terceiro ano do Ensino Médio em curso, em escolas
privadas do Estado do Rio Grande do Sul. A fre­
quência de hábitos de leitura e escrita variou de no
mínimo uma vez por semana a todos os dias. Em
sua maioria, os participantes pertenciam às classes
econômicas B1 (50%) e A2 (41,7%), sendo apenas
um da classe A1, segundo o Critério de Classifica-
ção Econômica Brasil – CCEB 13
.
No que diz respeito aos critérios de inclusão na
amostra participaram apenas brasileiros natos, com
fluência no Português Brasileiro, sem história pré-
via ou atual de quaisquer distúrbios neurológicos,
psiquiátricos, visuais, auditivos e/ou linguísticos
auto-relatados, de alcoolismo ou de uso de drogas
ilícitas ou de benzodiazepínicos.
De acordo com os princípios éticos das pesqui-
sas com seres humanos, os participantes foram
avaliados voluntariamente, mediante autorização
através da assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, pela diretoria da instituição edu-
cacional, por um de seus responsáveis legais e por
ele/ela próprio(a).
Os participantes foram examinados por um
fonoaudiólogo em duas sessões individuais de uma
hora, em média, nas quais foram submetidos à ava-
liação auditiva periférica e central. A avaliação audi-
tiva periférica envolveu audiometria tonal, índice
percentual de reconhecimento de fala e limiar de
reconhecimento de fala e imitanciometria, com-
posta de timpanograma e pesquisa de reflexos ipsi
e contralaterais. Todos os participantes incluídos
obtiveram limiares auditivos dentro da normalidade
na audiometria tonal, presença de reflexos acústi-
cos e funcionamento normal de orelha média.
A avaliação auditiva central foi composta por
testes gravados em compact disc (CD) e comer-
cializados pela Auditec – St. Louis 14
e por Pereira
e Schochat 15
. Os mecanismos avaliados foram
escuta dicótica, interação binaural, processamento
temporal e monoaurais de baixa redundância. A
PAC e avaliação neuropsicológica  649
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
análise da bateria permitiu a caracterização da
função auditiva central, compreendida entre tronco
encefálico e o córtex auditivo, possibilitando a
caracterização da função auditiva (envolvendo as
habilidades auditivas) como normal ou alterada. Os
testes incluídos na bateria foram os que seguem,
descritos brevemente:
A) Testes dicóticos: Teste Dicótico de Dissíla-
bos Alternados (SSW) e Dicótico de Dígitos (DD).
Ambos avaliam o mecanismo de escuta dicótica
por meio da apresentação simultânea de estímulos
diferentes em cada orelha.
O SSW utiliza como estímulo verbal palavras
dissílabas. São 40 itens compostos por quatro
dissílabas cada um, o que totaliza 160 palavras-
estímulo. Os 20 itens de números ímpares são
apresentados, iniciando-se pela orelha direita, e
os 20 pares, iniciando-se pela orelha esquerda. A
primeira palavra dos itens ímpares é apresentada
sozinha à orelha direita e constitui a condição direita
não-competitiva. Em seguida, são apresentadas
duas palavras diferentes, uma para cada uma das
orelhas, simultaneamente, formando a condição
direita e esquerda competitiva. A última palavra é
apresentada isolada à orelha esquerda, formando a
condição esquerda não-competitiva. Os itens pares
seguem os mesmos critérios, só que se iniciam pela
orelha esquerda.
O DD envolve a apresentação de uma lista de
20 pares de dígitos dissílabos. É solicitada tanto a
tarefa de integração binaural, quando o indivíduo
repete os estímulos ouvidos em ambas as orelhas,
e a de separação binaural, quando o indivíduo
repete o estímulo de apenas uma orelha. Estes tes-
tes foram apresentados em um nível de 50 decibéis
nível de sensação (dBNS), tendo como base os
limiares médios tonais.
B) Teste de processamento temporal: Teste de
Reconhecimento do Padrão de Frequência (PPST).
Avalia o mecanismo de processamento temporal
mediante a apresentação de uma sequência de
três tons não-verbais que variam em frequência. É
solicitado ao indivíduo que inicialmente murmure as
sequências ouvidas e depois as nomeie. Esse teste
foi apresentado em um nível de 50 dBNS, tendo
como base os limiares médios tonais.
C) Teste monoaural de baixa redundância:
Teste de Identificação de Sentenças Sintéticas
(SSI). Avalia as habilidades de fechamento auditivo,
figura-fundo e discriminação, quando uma parte
do sinal auditivo está distorcida ou ausente e/ou
em presença de estímulos auditivos competitivos
(história). É solicitado ao indivíduo que despreze a
mensagem competitiva e indique as frases ouvidas
que estão escritas em uma folha. Foi apresentado
na modalidade de mensagem competitiva ipsilateral
(MCI). O teste foi aplicado em um nível de 40 dBNS
nas relações estímulo/competição de 0 dB, -10dB
e -15dB.
D) Teste de interação binaural: Teste de dife-
rença de Limiar de Mascaramento (MLD). Examina
a habilidade do sistema nervoso auditivo central
para processar informação díspar, mas comple-
mentar, apresentada às duas orelhas. É solicitado
ao indivíduo que despreze a presença do ruído
mascarador e indique a presença de um tom pulsá-
til, levantando a mão sempre que o perceber. Este
teste foi aplicado em um nível de 40 dBNS.
Além da avaliação auditiva periférica e cen-
tral, os participantes responderam aos seguintes
instrumentos:
E) Questionário estruturado de dados sociocul-
turais e aspectos da saúde 16
. Inclui a avaliação
de questões referentes à renda, hábitos culturais
e comunicativos e antecedentes médicos (aspec-
tos de saúde geral, sensorial e neurológica). Este
instrumento inclui a Escala CAGE 17
para avaliação
dos hábitos de ingestão de bebida alcoólica. Tais
avaliações confirmaram os critérios de inclusão no
estudo.
F) Instrumento de Avaliação Neuropsicológica
Breve Neupsilin 18,19
. Fornece um perfil neuropsi-
cológico breve, delimitando, em aproximadamente
45 minutos, a presença ou ausência de déficit nas
funções cognitivas: orientação têmporo-espacial,
atenção (concentrada), percepção (visual), memó-
ria (cinco sistemas), habilidades aritméticas, lingua-
gem (oral e escrita), praxias e funções executivas
(resolução de problemas e fluência verbal), avalia-
das por meio de 32 subtestes. Permite, também,
qualificar tipos de erros e algumas estratégias de
processamento utilizadas pelo avaliando. Os sub-
testes são apresentados abaixo, conforme a função
neuropsicológica investigada.
1) 	 Orientação Têmporo-espacial: Tempo: res-
posta de dia da semana, dia do mês, mês e
ano, e Espaço: resposta de local, cidade,
estado e país;
2) 	 Atenção: 1) Contagem Inversa: contagem de
50 a 30 pelo examinando e contagem do tempo
de realização da tarefa pelo examinador para
avaliar a velocidade de processamento e 2)
Repetição de Sequência de Dígitos: repetição
de uma sequência de sete números;
3) 	 Percepção: 1) Verificação de Igualdade e Dife-
rença de Linhas: verificação de seis pares de
linhas; 2) Heminegligência Visual: percepção
de todo espaço de uma folha de papel repleta
de traços que deverão ser riscados; 3) Percep-
ção de Faces: avaliação, como iguais ou dife-
rentes, de três pares de fotografias de faces,
sendo uma delas de frente e outra de perfil;
e 4) Reconhecimento de Faces: memoriza-
ção de dois rostos desenhados, que devem
650  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
ser reconhecidos entre quatro apresentados
posteriormente;
4) 	 Memória: 1) Memória de Trabalho: a) Ordena-
mento Ascendente de Dígitos: repetição em
ordem crescente de 10 conjuntos de dois até
seis dígitos; b) Span Auditivo de Palavras em
Sentenças: memorização e evocação das últi-
mas palavras de frases, após a leitura de con-
juntos de dois, três, quatro e cinco sentenças
pelo examinador; 2) Memória Verbal Episó-
dico-Semântica: a) Evocação Imediata: repeti-
ção de nove palavras ditas pelo examinador, b)
Evocação Tardia: emissão das mesmas nove
palavras em tempo posterior, e c) Reconheci-
mento: indicação, em uma lista de 18 palavras,
da presença ou não da palavra na lista original
falada pelo examinador; 3) Memória Semântica
de Longo Prazo: resposta a duas perguntas
referentes a conhecimentos gerais; 4) Memória
Visual de Curto Prazo (três estímulos): memo-
rização de uma figura sem sentido de cada vez
e reconhecimento entre um conjunto de três
figuras semelhantes; 5) Memória Prospectiva:
lembrança, ao final da testagem, da instrução
de escrever o nome em uma folha de papel for-
necida no início da avaliação;
5) 	 Habilidades Aritméticas: resolução de qua-
tro cálculos, um de cada operação aritmética
básica;
6) 	 Linguagem: 1) Linguagem Oral: a) Nomeação
de dois objetos e de duas figuras; b) Repetição
de oito palavras reais e de duas pseudopala-
vras; c) Linguagem Automática: contagem de
um a dez e verbalização de todos os meses
do ano, em ordem; d) Compreensão Oral (três
conjuntos de figuras): indicação da figura cor-
respondente ao enunciado verbal do examina-
dor; e) Processamento de Inferências: explica-
ção do significado de um provérbio e de duas
metáforas; 2) Linguagem Escrita: a) Leitura em
Voz Alta de dez palavras reais e de duas pseu-
dopalavras; b) Compreensão Escrita (três estí-
mulos): leitura em silêncio de palavras e frases
e indicação das figuras correspondentes; c)
Escrita Espontânea de uma frase; d) Escrita
Copiada de uma frase, e e) Escrita Ditada de
dez palavras reais e de duas pseudopalavras;
7) 	 Praxias: a) Ideomotora: realização de três ges-
tos, conforme instrução verbal do examina-
dor; b) Construtiva: cópia de três figuras (qua-
drado, flor e cubo) e desenho de um relógio
sem modelo; c) Reflexiva: repetição de uma
se­quência de três gestos;
8) Funções executivas: 1) Resolução de problemas:
resposta a duas perguntas envolvendo raciocí-
nio abstrato; 2) Fluência Verbal fonêmica: ver-
balização, durante um minuto, de palavras que
iniciem com a letra F.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (parecer 2008/09).
Os resultados obtidos nos testes de PA(C)
foram analisados descritivamente, em forma de
percentual de acerto. Do mesmo modo, os escores
brutos obtidos no Neupsilin foram convertidos para
percentual. Além disso, efetuou-se uma análise de
ocorrência de déficits a partir dos dados normati-
vos nacionais, para a verificação de dissociações.
Por fim, realizou-se uma análise subjetiva global
(interpretação intertestes) do perfil geral de pro-
cessamento e de desempenho neuropsicológico,
mediante o julgamento de dois fonoaudiólogos,
com domínio da teoria e do método de avaliação de
processamento auditivo, e de dois neuropsicólogos,
com domínio dos pressupostos da avaliação neu-
ropsicológica. Ambos julgamentos foram indepen-
dentes, com estabelecimento de consenso quando
necessário.
Os dados foram submetidos a análises descri-
tivas (média e desvio-padrão) e à análise de Cor-
relação de Pearson para estudar a associação do
desempenho dos adolescentes nas habilidades de
processamento auditivo e nas tarefas neuropsicoló-
gicas. Foram, ainda, agrupados conforme frequên-
cia de déficits.
„„ RESULTADOS
Os resultados serão apresentados em três ses-
sões: 1) dados descritivos da amostra e análise cor-
relacional; 2) dissociações e 3) análise comparativa
inter e intratestes (PA(C) versus Neupsilin).
Dados descritivos da amostra e análise
correlacional
Na Tabela 1, apresentam-se as médias de per-
centuais de acertos nos testes de PA(C), com seus
respectivos desvios-padrão. Em complementari-
dade, na Tabela 2, expõem-se as médias de per-
centuais de acertos nos subtestes do Neupsilin,
acompanhados dos desvios-padrão.
Em geral, observando-se os dados na Tabela
1, nota-se que os adolescentes obtiveram um
bom desempenho médio na avaliação de PA(C).
No MLD, inclusive, não houve erros. Tabela 2:
Médias de percentuais de acertos nos subtestes do
Neupsilin.
Embora a análise da Tabela 2 evidencie um bom
desempenho neuropsicológico da amostra, nota-se
que o percentual de acertos foi inferior aos demais
em sustestes que examinam atenção, memória e
funções executivas.
PAC e avaliação neuropsicológica  651
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
Na Figura 1, pode-se visualizar os resultados da
análise correlacional entre os escores dos subtes-
tes do Neupsilin e do exame de PA(C). Os gráficos
expostos na Figura 1 mostram apenas as correla-
ções significantes.
Observa-se que, dentre as correlações ��������signifi-
cantes encontradas, todas foram positivas e fortes,
exceto a correlação entre o teste dicótico de dígi-
tos e o subteste do Neupsilin evocação imediata da
memória episódico-semântica.
Dissociações
Na Tabela 3, expõe-se a quantidade de dissocia-
ções, totalizando dois tipos na comparação de cada
prova de PA(C) e do Neupsilin: 1) presença de défi-
cit em um dos testes de PA(C) e ausência de déficit
em um dos subtestes do Neupsilin e 2) ausência de
déficit em um dos testes de PA(C) e presença de
déficit em um dos subtestes do Neupsilin.
Quanto às dissociações encontradas, observou-
se que alguns testes do PA(C) apresentam maior
frequência de dissociações com subtestes neu-
ropsicológicos. Conforme apresentado na Tabela
3, o maior número de dissociações com os tes-
tes neuropsicológicos foi do Teste de PA(C) SSI/
MCI, seguido, em ordem decrescente, pelos tes-
tes, PPST, SSW, DD e MLD. A função neuropsi-
cológica que apresentou mais dissociação com os
testes PA(C) foi: habilidades aritméticas, seguida,
em ordem decrescente, pelos subtestes processa-
mento de inferências, percepção (visual), atenção,
resolução de problemas, memória de trabalho,
Funções e componentes avaliados Média de percentuais de acertos
1. Orientação têmporo-espacial 100 (0,00)
1.1 Tempo 100 (0,00)
1.2. Espaço 100 (0,00)
2) Atenção (concentrada) 91,58 (8,46)
2.1) Contagem inversa 99,58 (1,44)
2.2) Repetição de seqüência de dígitos 67,50 (30,53)
3) Percepção 90,97 (13,51)
3.1) Verificação de igualdade e diferença de linhas 90,2758 (13,21)
3.2) Heminegligência visual 100 (0,00)
3.3) Percepção de faces 86,11 (26,43)
Tabela 2 – Percentuais de acertos nas funções neuropsicológicas avaliadas pelo Neupsilin
Testes PA(C)
Médias dos percentuais de acertos
(Desvio-padrão)
MLD 100,00 (0,00)%
PPST
Etapa Imitação
Etapa Nomeação
88,88 (22,77)%
86,90 (15,19)%
SSI
Rel. s/r= 0
OD OE
89,17 (15,05)% 89,17 (10,83)%
SSW
% acertos condições competitivas
DC EC
95,21 (5,05)% 92,50 (7,76)%
Dicótico de Dígitos
Etapa Integração Binaural
Etapa Separação Binaural
OD OE
99,58 (1,44)% 99,58 (1,44)%
AD OD AD OE
99,17 (2,88)% 98,88 (2,70)%
Tabela 1 – Percentuais de acertos nos testes de avaliação do PA(C)
Rel. s/r = sinal/ruído; OD = orelha direita; OE = orelha esquerda; DC = direita competitiva; EC = esquerda competitiva; AD OD = aten-
ção dirigida a OD; AD OE = atenção dirigida a OE.
652  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
1008060
SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas
com Mensagem Competitiva Ipsilateral
Orelha Direita relação sinal/ruído = 0
100,00
98,00
96,00
ContagemInversa
r = 0,61; p = 0,035
8075706560
SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas
com Mensagem Competitiva Ipsilateral
Orelha Direita relação sinal/ruído = - 10
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
PercepçãodeFaces
r = 0,878; p = 0,021
8075706560
SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas
com Mensagem Competitiva Ipsilateral
Orelha Direita relação sinal/ruído = - 10
100,00
80,00
60,00
LinguagemOralAutomática
r = 0,878; p = 0,021
806040
SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas
com Mensagem Competitiva Ipsilateral
Orelha Esquerda relação sinal/ruído = - 15
100,00
80,00
60,00
MemóriadeTrabalho/Span
AuditivodePalavrasemSentenças
r = 0,702; p = 0,016
806040
SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas
com Mensagem Competitiva Ipsilateral
Orelha Esquerda relação sinal/ruído = - 15
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
MemóriaVerbalEpisódica/
EvocaçãoTardia
r = 0,785; p = 0,004
806040
SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas
com Mensagem Competitiva Ipsilateral
Orelha Esquerda relação sinal/ruído = - 15
100,00
98,00
96,00
LinguagemOralTotal
r = 0,735; p = 0,010
PAC e avaliação neuropsicológica  653
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
1009896
DD – Dícótico de Dígitos Etapa de
Integração Binaural OE
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
MemóriaVerbalEpisódica/
EvocaçãoImediata
r = 0,599; p = 0,04
1009896949290
DD – Dícótico de Dígitos Etapa de
Separação Binaural OE
100,00
98,00
96,00
94,00
92,00
90,00
LinguagemOralRepetição
r = 0,847; p = 0,001
1009590858075
SSW – Dissílabos Alternados DC
(orelha direita competitiva) % acertos
85,00
80,00
75,00
70,00
65,00
60,00
55,00
50,00
MemóriaVerbal
r = 0,604; p = 0,038
10098969492908886
SSW – Dissílabos Alternados DC
(orelha direita competitiva) % acertos
100,00
98,00
96,00
94,00
92,00
90,00
LinguagemOralRepetição
r = 0,636; p = 0,026
1009590858075
SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha
esquerda competitiva) % acertos
85,00
80,00
75,00
70,00
65,00
60,00
55,00
50,00
MemóriaVerbal
r = 0,649; p = 0,022
1009590858075
SSW – Dissílabos Alternados DC
(orelha esquerda competitiva) % acertos
100,00
98,00
96,00
94,00
92,00
90,00
LinguagemOralRepetição
r = 0,71; p = 0,01
1009896
DD – Dícótico de Dígitos Etapa de
Integração Binaural OE
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
MemóriaVerbalEpisódica/
EvocaçãoImediata
r = 0,599; p = 0,04
1009896949290
DD – Dícótico de Dígitos Etapa de
Separação Binaural OE
100,00
98,00
96,00
94,00
92,00
90,00
LinguagemOralRepetição
r = 0,847; p = 0,001
1009590858075
SSW – Dissílabos Alternados DC
(orelha direita competitiva) % acertos
85,00
80,00
75,00
70,00
65,00
60,00
55,00
50,00
MemóriaVerbal
r = 0,604; p = 0,038
10098969492908886
SSW – Dissílabos Alternados DC
(orelha direita competitiva) % acertos
100,00
98,00
96,00
94,00
92,00
90,00
LinguagemOralRepetição
r = 0,636; p = 0,026
1009590858075
SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha
esquerda competitiva) % acertos
85,00
80,00
75,00
70,00
65,00
60,00
55,00
50,00
MemóriaVerbal
r = 0,649; p = 0,022
1009590858075
SSW – Dissílabos Alternados DC
(orelha esquerda competitiva) % acertos
100,00
98,00
96,00
94,00
92,00
90,00
LinguagemOralRepetição
r = 0,71; p = 0,01
Figura 1 – Gráficos de correlações entre os testes de PA(C) e os subtestes do Neupsilin
654  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
memória verbal episódica, linguagem oral automá-
tica, praxia reflexiva, fluência verbal e linguagem
oral repetição.
Salienta-se que nos testes comportamentais de
PA(C), MLD e DD, nenhum dos 12 participantes
apresentou déficit nas habilidades auditivas exami-
nadas. No entanto, houve ocorrência de déficit da
amostra em algumas funções neuropsicológicas
avaliadas pelo Neupsilin.
Análise comparativa inter e intratestes (PA(C)
versus Neupsilin)
Foi realizada uma análise inter e intratestes de
PA(C) para analisar o perfil geral de desempenho
dos participantes. Dos 12 participantes avaliados,
seis apresentaram um conjunto de respostas que
merecem algumas considerações. Quatro destes
seis obtiveram déficits em alguns testes de PA(C),
mas a análise do conjunto de resultados encontra-
dos não é compatível com o conjunto de critérios
mínimos para o diagnóstico de um Transtorno de
Processamento Auditivo (Central) [TPA(C)] 1
. Os
resultados encontrados podem sugerir outro tipo
de dificuldade. Esta análise do perfil encontrado foi
confrontada com o resultado nas tarefas do Neup-
silin e uma análise geral de desempenho em todo o
instrumento, visando ao entendimento das respos-
tas. Dos quatro adolescentes cujos resultados na
bateria de testes de PA(C) não foram compatíveis
com uma disfunção auditiva central, dois apresen-
taram alguns déficits em subtestes do Neupsilin,
que sugerem dificuldades de atenção. Os outros
dois não apresentaram este indício, pois não tive-
ram déficits que pudessem sugerir algum tipo de
dificuldade cognitiva específica.
Além destes quatro participantes com perfil de
PA(C), alvo de algumas considerações, outros dois
participantes apresentaram resultados compatíveis
com déficit de PA(C). Esses dados foram obtidos a
partir da análise intertestes e de auto-relato de difi-
culdades em manter a atenção, mas em grau leve,
pois nunca procuraram investigar esse sintoma. Na
análise do desempenho nos subtestes do Neupsilin,
esses dois participantes não apresentaram déficits
que confirmassem um quadro sugestivo de dificul-
dade de atenção ou em outras funções, sugerindo
uma confirmação do déficit perceptual auditivo.
„„ DISCUSSÃO
No âmbito da interface subjetivamente identifi-
cada, mas ainda pouco explorada, entre a avalia-
ção de PA(C) e o exame neuropsicológico, o obje-
tivo geral desse estudo foi averiguar a existência de
relações entre o desempenho em testes de proces-
samento auditivo e em tarefas cognitivas. Foram
feitas análises em busca de respostas prelimina-
res a três questões de pesquisa, para as quais se
elaboraram hipóteses. A presente discussão será
norteada por estes três conjuntos de problema de
pesquisa e hipótese.
No que diz respeito à primeira questão, “Há
correlação entre o desempenho em PA(C) e o
desempenho neuropsicológico em uma amos-
tra de adolescentes saudáveis?”, hipotetizou-se
que haveria correlações entre algumas tarefas de
processamento auditivo e subtestes do Neupsilin,
Testes PA(C)
Subtestes Neupsilin
Quantidade de dissociações
MLD PPST SSI/MCI SSW DD Total
Atenção 02 03 06 05 02 19
Percepção 02 05 06 05 02 20
Memória de trabalho 02 03 07 04 02 18
Memória verbal episódica 01 04 10 01 01 17
Habilidades aritméticas 02 05 10 04 02 23
Linguagem oral repetição 01 04 06 0 01 12
Linguagem oral automática 01 06 08 01 01 17
Linguagem PI 03 08 06 02 03 22
Praxia reflexiva 02 03 07 03 02 17
FE resolução de problemas 03 03 08 02 03 19
FE fluência verbal 01 04 08 01 01 15
Total 21 48 76 28 20 -
PI = processamento de inferências; FE = funções executivas.
Tabela 3 – Dissociações encontradas entre os testes de PA(C) e os subtestes Neupsilin
PAC e avaliação neuropsicológica  655
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
predominantemente com tarefas de atenção
concentrada e de memória (de trabalho e episó-
dico-semântica verbal). Os resultados do estudo
demonstraram correlações fortes e significantes
entre o desempenho de adolescentes em testes
que avaliam o processamento auditivo e em tarefas
que examinam habilidades neuropsicológicas, prin-
cipalmente as que investigam atenção concentrada,
percepção de faces, linguagem oral e memória (de
trabalho e episódico-semântica), confirmando o que
se esperava. As correlações fortes podem ser justi-
ficadas pelo compartilhamento de habilidades cog-
nitivas subjacentes às tarefas de PA(C) e destas
funções neuropsicológicas. Esse achado corrobora
os estudos que demonstram uma relação evidente
entre a percepção e produção da linguagem 20
.
A neurociência cognitiva demonstrou que há
poucas, se é que existem, áreas inteiramente com-
partimentadas no cérebro que sejam responsáveis
somente por uma única modalidade sensorial. Há
evidências de que o processamento de dados sen-
soriais é interdependente e integrado com base em
domínios cognitivos, mais precisamente em aten-
ção, memória e representações linguísticas 1
. Ape-
sar de existirem algumas regiões do cérebro que são
específicas para estímulos de modalidade auditiva,
a organização cerebral é predominante não modu-
lar e não exclusivamente segregada 9
. Algumas
definições sugerem que o diagnóstico de TPA(C)
deveria ser aplicado somente quando um déficit
(perceptual) fosse verificado no sistema auditivo e
em nenhuma outra parte 8
. No entanto, a exigência
do processamento auditivo como uma modalidade
específica para o diagnóstico não deveria ser um
critério, pois não é consistente com a forma em que
esse tipo de processamento ocorre no SNC 1,5,9
.
Mais especificamente, algumas correlações
entre subtestes do PA(C) e do Neupsilin serão
comentadas. Neste sentido, a correlação significa-
tiva forte e positiva entre o teste SSI e a tarefa de
atenção – contagem inversa pode ser justificada
pela demanda de um alto nível de atenção, con-
centração e controle mental requeridos no teste. A
habilidade avaliada no SSI é a figura-fundo auditiva
(identificação de mensagem primária na presença
de sons competitivos) diante de estímulos auditivos
e visuais. Portanto, é necessário, para a execução
do teste, um alto nível de atenção focalizada ou
seletiva além da atenção sustentada (mantida/con-
centrada). Muitas das áreas auditivas são também
responsáveis pela manutenção da atenção, con-
trole executivo, regulação motora, estando relacio-
nadas à fisiopatologia do Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDA/H) 3
. Vias auditivas
presentes no corpo caloso, responsáveis pela trans-
ferência inter-hemisférica desempenham um papel
no controle atencional e na sua modulação, além
da sua atividade sensorial 21
. Fica clara, assim, a
relação estreita entre atenção concentrada auditiva
e a habilidade de figura-fundo auditiva. Em comple-
mentaridade, houve correlação do teste SSI ainda
com um subteste de percepção visual e com tare-
fas mnemônicas. A correlação do SSI com o teste
percepção de faces faz sentido pelo envolvimento
da questão auditivo-visual, já que a identificação
dos símbolos gráficos (a escrita) é requerida, além
da atenção seletiva concentrada. No que tange às
associações com a memória, a tarefa Span auditivo
de palavras em sentenças, subteste que examina a
memória de trabalho, apresentou correlação forte e
significativa com o teste SSI (OE na relação –15). É
possível inferir, através desse achado, que a dupla
tarefa exigida nesta prova do Neupsilin (repetição
de frases e armazenamento da última palavra de
cada frase, simultaneamente, para posterior evoca-
ção dos últimos vocábulos, em ordem), pode apre-
sentar relação com o SSI por esse também reque-
rer a atividade do executivo central. Embora o SSI
demande predominantemente atenção focalizada
concentrada, para que esta seja processada, é
necessária inibição. Na medida em que no teste SSI,
o indivíduo escuta uma história narrada enquanto
deve ficar alerta para o aparecimento súbito de uma
sentença, sabe-se que a tarefa demanda alerta e
atenção seletiva. Tais correlações eram, então,
esperadas. Essa associação que ocorreu na rela-
ção –15 é a mais difícil, demandando ainda mais da
atenção e do executivo central, cuja complexidade
provavelmente explique a demanda do executivo
central na tarefa. Segundo o modelo de memória de
trabalho de Baddeley 22
, este sistema mnemônico
exige a participação de um supervisor atencional, o
executivo central para garantir entrada e a manipu-
lação de dois estímulos simultaneamente.
De um modo geral, quanto ao SSI, a maior ocor-
rência de correlações se deu com a etapa mono-
aural OD (orelha direita) e o mesmo não ocorreu
com a esquerda. Este fato pode ser justificado por
ter sido a OD a primeira orelha testada em todos os
participantes, não havendo alternância, por isso é
possível hipotetizar que a OE, que foi a segunda,
possa ter sofrido efeito de aprendizagem ou de
habituação com a situação de avaliação.
No que tange ao SSW, a correlação forte signi-
ficativa positiva entre este teste e os subtestes de
Memória verbal episódico-semântica e Linguagem
oral repetição pode ser justificada pelo fato de o
SSW envolver a codificação e o armazenamento
de curto prazo de estímulos verbais, ao ser solici-
tada a evocação de quatro palavras na ordem em
que foram escutadas, tal como uma prova neu-
ropsicológica de span verbal 23
. Tal correlação era
656  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
esperada, na medida em que em ambos os casos
há componentes de memória episódica verbal de
curto prazo, além da repetição oral. No entanto,
também seria esperada alguma correlação com a
memória de trabalho, já que parte de duas palavras
foram ouvidas simultaneamente durante a apresen-
tação dicótica, solicitando também atenção dividida
(executivo central). Essa correlação não foi, entre-
tanto, encontrada. É possível inferir que a integra-
ção binaural, habilidade auditiva envolvida no teste,
no momento em que há a apresentação dicótica
das duas palavras, esteja mais fortemente envol-
vida na tarefa, do que a memória de trabalho em si.
Cabe ressaltar aqui o apontamento na literatura da
importância de se examinar tanto a memória verbal
episódica quanto as habilidades auditivas requeri-
das no SSW. Tal exame é relevante para o diagnós-
tico diferencial entre TPA(C) e/ou déficit cognitivo
mais amplo, tal como o mnemônico. Por exemplo,
se o desempenho em memória verbal for muito
superior ao desempenho no SSW, na condição de
escuta dicótica, é possível inferir que a dificuldade
está na habilidade auditiva de integração binaural e
não em memória verbal episódica. Caso as dificul-
dades se apresentem em ambos os testes, maiores
investigações dos aspectos cognitivos devem ser
consideradas antes do diagnóstico de DPA(C) ser
estabelecido 2
.
Frente a estes diagnósticos, a princípio paralelos,
salienta-se o cuidado na avaliação de PA(C) quanto
aos resultados serem coerentes e a importância de
uma análise inter e intratestes cuidadosa. Resulta-
dos incoerentes nos testes ou achados reduzidos
pela aplicação restrita da bateria dos testes, sem
que outras funções sejam investigadas, não podem
conduzir a um diagnóstico de TPA(C) 1
. O poten-
cial para o envolvimento de fatores não diretamente
perceptuais no resultado do teste não significa
que a percepção auditiva nunca seja um determi-
nante principal de desempenho, mas somente que
os resultados não podem ser determinados sem
uma investigação posterior ou complementar das
demais funções neuropsicológicas 2
. Bellis 2
afirma
que a investigação de um possível TPA(C) deveria
ser realizada somente depois que medidas sobre
os aspectos cognitivos, de aprendizagem, de fala e
de linguagem (oral e escrita) tenham sido obtidas.
Em concordância, os pesquisadores 1
afirmam que
quando há prejuízos de fala e linguagem, intelec-
tuais ou psicológicos, a avaliação desses aspec-
tos deve preceder a avaliação do processamento
auditivo.
Além da análise correlacional acima discutida,
uma segunda questão norteou a presente pesquisa:
“Podem ser observadas dissociações de desempe-
nho nas tarefas de PA(C) e nas tarefas de orien-
tação têmporo-espacial, atenção, percepção visual,
memória, habilidades aritméticas, linguagem, pra-
xias e funções executivas em adolescentes?”.
Como resposta a essa questão, esperavam-se dis-
sociações entre o desempenho de processamento
auditivo e algumas tarefas neuropsicológicas, con-
cordantes com os achados do estudo correlacional
promovido.
O estudo das dissociações foi um princípio ado-
tado pela “neuropsicologia cognitiva” para a inves-
tigação dos subcomponentes das funções cogniti-
vas 24
. Na dissociação, constata-se uma diferença
no desempenho em duas tarefas pelo mesmo indi-
víduo. A presença de dissociações entre as habi-
lidades envolvidas nos testes de PA(C) e as fun-
ções neuropsicológicas investigadas confirmam e
reforçam a hipótese da relação não causal exis-
tente entre déficits em funções neuropsicológicas
e déficits perceptuais auditivos. Confirma, ainda,
que possa haver diferença no desempenho de um
paciente nos dois tipos de tarefas avaliadas e que
pode haver prejuízos de desempenho em algumas
tarefas em contraposição a um desempenho pre-
servado em outras tarefas, o que confirma a evi-
dência da existência de diferentes sistemas neurais
subjacentes, isto é, de um processamento rela-
tivamente independente 15
. Este achado está de
acordo com a definição de TPA(C) como sendo um
déficit no processamento neural do estímulo acús-
tico que não é resultado de uma disfunção em
outras modalidades 1
. Apesar de neurônios da via
auditiva no cérebro estabelecerem interconectivi-
dade com uma variedade de neurônios de outras
áreas não auditivas, incluindo sistema límbico, giro
do cíngulo, hipocampo e lobo frontal 2
, neurônios
nas áreas auditivas podem não responder exclusi-
vamente ao estímulo auditivo, mas também podem
responder primariamente a ele 5
. No entanto, deve-
se salientar que a ausência de uma relação causal
não exclui a possibilidade de comorbidades entre
déficits de processamento auditivo e prejuízos cog-
nitivos específicos.
Alguns participantes não obtiveram desempe-
nho abaixo do esperado para a idade em testes de
PA(C) e apresentaram déficits em algumas funções
neuropsicológicas e vice-versa. Na medida em que
as funções com maior correlação com habilidades
do PA(C) foram atenção, memória e linguagem,
esperava-se que tais processos cognitivos apre-
sentassem as dissociações menos frequentes. Tal
hipótese foi confirmada, já que as funções neurop-
sicológicas como memória verbal episódica, fluên-
cia verbal e linguagem oral repetição foram as que
menos se dissociaram com as tarefas de processa-
mento auditivo. Isso pode sugerir que essas funções
PAC e avaliação neuropsicológica  657
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
são as que mais compartilham mecanismos cogniti-
vos subjacentes com as habilidades auditivas.
Por fim, quanto à terceira questão de pesquisa,
“A análise intertestes do desempenho dos partici-
pantes na bateria selecionada para a avaliação
do PA(C) quando comparada ao desempenho na
avaliação neuropsicológica confirma os resulta-
dos encontrados para as questões anteriores?”, a
hipótese era de que esta análise qualitativa mais
global confirmaria as relações encontradas nos
achados em resposta às duas questões anteriores.
Para o entendimento das dissociações verificadas,
foi realizada uma análise inter e intratestes 1
com
base nos resultados obtidos. Mediante tal interpre-
tação, procurou-se, também, compreender o per-
fil geral de desempenho dos participantes. Essa
análise é sugerida por alguns autores 2,5,7, 25-27
ao
afirmarem que a interpretação dos testes deve ser
ponto fundamental para compreender as dificulda-
des apresentadas pelo paciente em contrapartida à
influência de fatores supramodais e a modalidade
específica de processamento perceptual auditivo.
A interpretação deve incluir a análise intrateste,
que compara os padrões observados em determi-
nado teste, fornecendo dados interpretativos, assim
como a intertestes, caracterizada pela comparação
entre os testes da bateria diagnóstica. Além disso,
faz-se necessária a análise transdisciplinar, que
consiste em comparar os resultados da avaliação
de PA(C) e outros dados não audiológicos, como
avaliação de linguagem e das funções cognitivas 1
.
Dos 12 participantes avaliados, quando submeti-
dos a uma análise intra, intertestes e transdiciplinar.
Quatro deles obtiveram resultados quantitativos
que não são compatíveis com um déficit específico
de PA(C), pois apresentaram falhas apenas nos
testes PPST e SSI/MCI. Os resultados encontrados
podem sugerir outro tipo de dificuldade, por exem-
plo, déficit na atenção, como sugerido por estes
últimos autores. Eles afirmam que falhas apenas
nestes tipos de testes não são consistentes para
caracterizar um TPA(C), podendo indicar que o
baixo desempenho possa ocorrer por influência de
fatores atencionais mais globais prejudicados 1,26-29
.
Esta análise do perfil encontrado foi confron-
tada com o resultado obtido nas tarefas do Neup-
silin. Assim, uma interpretação geral de desempe-
nho em todo o instrumento foi também realizada,
visando ao entendimento do perfil neuropsicoló-
gico do participante. Dois dos quatro adolescen-
tes, cujos resultados na bateria de testes de PA(C)
não foram compatíveis com uma disfunção auditiva
central, apresentaram alguns déficits em subtestes
do Neupslin que sugerem dificuldades atencionais,
confirmando a hipótese levantada na avaliação
de PA(C). Apesar de áreas auditivas do cérebro
demonstrarem diferenças de funcionamento neu-
roanatômico em indivíduos portadores de trans-
torno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH),
é possível distinguir a sintomatologia entre eles 27,28
.
Embora as dificuldades de atenção frequentemente
caracterizem o TPA(C) e o TDAH (particularmente
os tipos combinado e o predominantemente desa-
tento), há distinções a serem observadas na natu-
reza da desatenção nos dois distúrbios 3
. Os déficits
de atenção no TDAH tipicamente são pervasivos
e supramodais e têm impacto em mais de uma
modalidade sensorial 28
. Em oposição, indivíduos
com TPA(C) apresentam dificuldades de atenção
que podem estar restritas à modalidade auditiva
3
. A desvantagem da orelha esquerda competitiva
(EC) em testes dicóticos comumente percebida em
indivíduos com TPA(C), assim como um prejuízo
nas condições de escuta contralateral ou ipsilateral
como uma função do tronco encefálico, vão contra
uma dificuldade de atenção pervasiva e contribuem
para distinguir TPA(C) de TDA/H 27,28
. Esse dado
reforça a importância da avaliação do PA(C) para
o diagnóstico diferencial do TDA/H e da análise cri-
teriosa de desempenho nos testes que avaliam a
função auditiva central. Além disso, ressalta-se a
necessidade da análise e entendimento sobre quais
os testes que de fato seriam mais resistentes a dis-
funções da atenção e quais os que seriam os mais
suscetíveis a elas 30
. Em complementaridade, ainda
é possível afirmar que esses dois participantes
fecharam critérios, pela análise geral do Neupsilin,
para déficit de atenção e não apresentaram o per-
fil de desempenho nos testes de PA(C), sugerido
pelos autores, para o diagnóstico diferencial dos
dois quadros.
Além destes dois participantes, cujos resulta-
dos foram acima interpretados, os resultados da
análise dos testes de outros dois adolescentes
não confirmaram a hipótese de déficit de atenção,
tendo apresentado o mesmo perfil de desempenho
na avaliação de PA(C) (falha no SSI e no PPST).
Estes adolescentes não apresentaram déficits no
Neupslin que pudessem sugerir a presença de uma
disfunção neuropsicológica. Pode-se inferir, então,
que as falhas nos testes de PA(C) podem ter ocor-
rido por fadiga, diminuição do nível de atenção no
momento da realização da tarefa, sem que a pre-
sença de um déficit de atenção propriamente dito
estivesse presente.
Outros dois participantes, que completam o total
de seis cujos resultados se mostraram particular-
mente interessantes para a análise qualitativa glo-
bal em pauta, apresentaram resultados compatíveis
com TPA(C) na análise inter e intratestes, como
falhas no SSW e SSI associadas 1,27
. Ambos relata-
ram dificuldades em manter a atenção, mas em grau
658  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
leve, nunca tendo procurado investigar tal queixa.
Na análise do desempenho nos subtestes do Neup-
silin, esses dois participantes não apresentaram
déficits que confirmassem um quadro sugestivo de
dificuldade de atenção e de dificuldades em habi-
lidades neuropsicológicas de modo geral, mas foi
confirmado o déficit perceptual auditivo através da
análise do desempenho geral nos testes de PA(C).
Esse achado corrobora a existência de uma relação
de interdependência entre os processamentos cog-
nitivos em geral e o processamento auditivo (cen-
tral) 2
. Remete, também, ao entendimento sobre
as queixas de desatenção, que por vezes podem
levar a diagnósticos falso-positivo. No caso desses
dois participantes, a hipótese de desatenção não foi
confirmada pela avaliação neuropsicológica, mas
compreendida pela presença de um déficit percep-
tual auditivo. O fato dos dois testes que indicaram a
presença de déficit em PA(C), SSW e SSI associa-
dos, apresentarem grande demanda da habilidade
de figura-fundo auditivo pode justificar a queixa de
desatenção desses dois participantes. Isso forta-
lece a importância do diagnóstico diferencial, pois
nesse caso a desatenção está ligada ao compro-
metimento das funções auditivas centrais e não
pela presença de um TDA/H.
A partir de uma análise do desempenho geral
nos testes de PA(C) pode-se observar ainda que,
os participantes que não fecharam critérios para
comprovar um déficit perceptual auditivo, mas que
apresentaram falhas combinadas nos testes – PPS
e SSI/ MCI, apresentaram falhas também nos sub-
testes do Neupsilin cujas tarefas exigem a partici-
pação do executivo central (memória de trabalho,
funções executivas). Esse fato chama a atenção e
pode demonstrar que a participação do executivo
central é relevante para tarefas de PA(C) envolvi-
das nos testes mencionados e está de acordo com
a literatura que aponta a sobreposição de áreas
cerebrais na realização de tarefas auditivas e cogni-
tivas em geral 5
. Portanto, alguns cuidados ao ava-
liar pacientes com suspeita ou com a comprovação
de um TDA/H devem ser tomados. Neste contexto,
uma visão mais ampla, sob a perspectiva da neuro-
ciência, permite a verificação de outras dificuldades
além das de PA(C) presentes no mesmo indivíduo e
evidencia a necessidade da aplicação de testes adi-
cionais em outras modalidades e para outras fun-
ções cognitivas para elucidar o diagnóstico 30
, mais
especificamente testes auditivos e não auditivos 10
.
Ressalta-se, ainda, a necessidade de se explo-
rar de modo mais profundo e detalhado o quão sen-
síveis são os testes PPST e SSI para dificuldades
de atenção e o quão especifico é o teste SSW para
determinar a presença de um TPA(C). Sugere-se
isso porque na amostra do presente estudo os
únicos participantes que falharam nesse teste, que
foi determinante para sugerir a presença de déficits
perceptuais auditivos, não apresentaram déficits
nas habilidades do Neupsilin que sugerissem a pre-
sença de dificuldades neuropsicológicas.
Embora os achados preliminares desta investi-
gação tenham sido elucidativos, mostram-se, ainda
incipientes e restritos. É importante considerar
que, apesar de rico em detalhes, foi utilizado um
instrumento breve de avaliação neuropsicológica
(Neupsilin) e, portanto, outros estudos devem ser
promovidos com baterias completas. Pesquisas
futuras devem abranger o exame da maior quan-
tidade possível de componentes atencionais, mne-
mônicos e executivos, funções que apresentaram
maior associação com as habilidades de PA(C).
Uma bateria breve oferece um panorama geral da
cognição dos examinandos, mas não aprofunda a
investigação de todos os componentes cognitivos,
tal como o Neupsilin que não contempla a avalia-
ção de atenção dividida direta e de funções execu-
tivas de maneira mais completa. Estas habilidades
parecem estar envolvidas nas tarefas que avaliam
a função auditiva central e auxiliariam na resolução
de algumas questões.
Sugere-se a continuidade do estudo com o
aumento da amostra e a aplicação de testes mais
específicos por função cognitiva. Com o aumento
das pesquisas em busca de um melhor entendi-
mento das relações entre PA(C) e habilidades cog-
nitivas, as dissociações e comorbidades poderão
ser pormenorizadamente caracterizadas. De um
modo geral, quanto a implicações clínicas diagnós-
ticas, os achados do presente estudo sugerem a
ausência de uma relação de causa-e-efeito entre
déficits neuropsicológicos de funções específicas e
TPA(C), que precisam ser melhor investigadas com
a aplicação de mais testes 31
e utilizando recursos
estatísticos mais apropriados. Em contrapartida,
indica a ocorrência de uma comorbidade de déficits,
em alguns casos, sugerindo a existência de uma
sobreposição de habilidades cognitivas subjacen-
tes a ambos os processamentos.
Um TPA(C) real e verdadeiro, comprovado, é
caracterizado por um déficit que ocorre primaria-
mente quando o individuo se ocupa da informação
auditiva e não quando uma informação similar é
apresentada em outras modalidades sensoriais
(por exemplo, visuais, táteis, olfatórias, etc.). Essa
abordagem exige que comparações relevantes de
tarefas similares sejam feitas em no mínimo duas
modalidades sensoriais separadas. Modalidades
auditivas e visuais são escolhas lógicas para a com-
paração, porque ambas são canais principais para
a comunicação. Podem ser úteis em determinar se
os déficits perceptuais observados são específicos
PAC e avaliação neuropsicológica  659
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
de modalidade ou não. Já que o TPA(C) refere-se
a déficits em processos perceptuais específicos
auditivos, fatores não perceptuais auditivos preci-
sam ser descartados antes que o diagnóstico seja
estabelecido 2
. Além de medidas comportamentais,
instrumentos e métodos diagnósticos, uma abor-
dagem multidisciplinar de investigação que inclua
métodos de neuroimagem, por exemplo, seriam
procedimentos úteis na diferenciação de TPA(C) de
outros transtornos do desenvolvimento cognitivo 32
.
Considerando o que os autores já sinalizavam a
respeito do entendimento dos TPA(C) desde 1995,
pressupostos ainda reafirmados em 2005, mas com
um olhar mais amplo nos diagnósticos, entende-se
a importância da avaliação de PA(C) como parte
da avaliação neuropsicológica. Portanto, ressalta-
se que ambas devem ocorrer com o objetivo de
que diagnósticos mais precisos e propostas de
intervenção mais eficazes sejam promovidos. Res-
salta-se a importância de pesquisas longitudinais
com rigor metodológico para estudar melhor estas
questões 33
.
„„ CONCLUSÃO
Os resultados desse estudo evidenciam a
necessidade de se repensar o contexto da adminis-
tração dos testes de PA(C). Em geral, há uma rotina
de aplicação desses testes como parte integrante
da bateria audiológica e nem sempre a análise
transdisciplinar é realizada para que os clínicos e
avaliadores obtenham o entendimento de cada caso
apoiados nos princípios da neurociência. Acredita-
se que a avaliação do PA(C) deveria ser analisada
sob o viés neuropsicológico, assim como uma bate-
ria neuropsicológica envolvendo estímulos verbais
não poderia ser interpretada sem o conhecimento
do status das habilidades de processamento audi-
tivo. Nesse sentido, a avaliação de processamento
auditivo deve ser administrada e interpretada em
um contexto mais amplo da cognição, com racio-
cínio clínico neuropsicológico no desempenho dos
testes que avaliam a função auditiva central. A aná-
lise da história clínica, avaliações neuropsicológicas
e PA(C) devem andar juntas num processo de com-
plementaridade em busca de uma maior garantia
da acurácia de diagnóstico e da decisão de condu-
tas terapêuticas.
Espera-se que os resultados iniciais neste artigo
abordados sejam um alerta a profissionais que
atuam em avaliação e reabilitação da função audi-
tiva central sobre o cuidado com os critérios diag-
nósticos utilizados.
„„ AGRADECIMENTOS
Dedicamos um especial agradecimento a Fono-
audióloga Sabrina Scherer pela importante contri-
buição  nos procedimentos de avaliação audioló-
gica dos participantes desta pesquisa.
ABSTRACT
Purpose: to check if there is a relation between the performance in auditory processing tests and in
cognitive tasks. Methods: the sample was made up by 12 teenagers in typical development, all of
them high-school students (third year) in private schools from Rio Grande do Sul, Brazil. They were
evaluated through an auditory processing battery as well as with the Brazilian Brief Neuropsychological
Assessment Battery NEUPSILIN. Data analyses included Person’s correlation and qualitative interests
interpretationtowardsacomparisonoftheperformancein(C)AP’sbatteryandintheneuropsychological
assessment. Results: regarding (C)AP’s battery, SSI – MCI – Synthetic Sentence Test with ipsilateral
competitive message, SSW - Test of Alternated Disyllables and Digit Dicotics tests showed a significant
strong positive correlation with NEUPSILIN’s subtests that follows: attention – reverse counting, face
perception, oral language – automated language and repetition, episodic verbal memory and working
memory – auditory word span in sentences. Some (C)AP’s tests presented a greater frequency of
dissociation when compared to neuropsychological tasks. Correlation index suggest that (C)AP’s tests
and neuropsychological tasks seem to evaluate some common basic cognitive abilities. The observed
dissociation suggest that auditory and neuropsychological processing are partially independent on
each other. The interests analysis confirms these results. Conclusion: there is a need to rethink about
the administration of (C)AP’s tests, when it comes to the addition relation between neuropsychological
assessment and auditory processing examination.
KEYWORDS: Auditory Perception; Neuropsychological Tests; Neuropsychology; Adolescent
660  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP
Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661
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DOI: 10.1590/S1516-18462010005000027
RECEBIDO EM: 29/05/2009
ACEITO EM: 06/12/2009
Endereço para correspondência:
Mirella Liberatore Prando
Rua Quintino Bocaiúva, 1410
Porto Alegre – RS
CEP: 90440-050
E-mail: mirellalprando@gmail.com

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Relacion entre pac y habilidades neuropsicologicas en adolescentes

  • 1. 646 Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 RELAÇÃO ENTRE HABILIDADES DE PROCESSAMENTO AUDITIVO E FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS EM ADOLESCENTES Relation between auditory processing abilities and neuropsychological process in teenagers Mirella Liberatore Prando (1) , Josiane Pawlowski (2) , Jandyra Maria Guimarães Fachel (3) , Mari Ivone Lanfredi Misorelli (4) , Rochele Paz Fonseca(5) RESUMO Objetivo: averiguar a existência de relações entre o desempenho em testes de processamento auditivo e em tarefas cognitivas. Métodos: participaram 12 adolescentes com desenvolvimento típico, estudantes de terceiro ano do Ensino Médio de escolas privadas do estado do Rio Grande do Sul, Brasil, examinados com uma bateria de testes de PA(C) e com o Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve Neupsilin. Foram realizadas análises de correlação de Pearson e análises qualitativas intertestes para comparação do desempenho na avaliação do PA(C) e na avaliação neu- ropsicológica. Resultados: da bateria de testes PA(C), os Testes SSI – MCI – Teste de Sentenças Sintéticas com mensagem competitiva ipsilateral, SSW - Teste de Dissílabos Alternados e o teste Dicóticos de Dígitos apresentaram correlação forte significativa positiva (coeficiente de correlação de Pearson) com os subtestes do Neupsilin: atenção – contagem inversa, percepção de faces, lingua- gem oral automática e repetição, memória verbal episódica e memória de trabalho – span auditivo de palavras em sentenças. Alguns testes do PA(C) apresentaram maior frequência de dissociações com subtestes neuropsicológicos. As correlações encontradas indicam que os testes de PA(C) e as tare- fas neuropsicológicas parecem examinar algumas habilidades cognitivas subjacentes em comum. As dissociações observadas sugerem que os processamentos auditivo e neuropsicológico são rela- tivamente independentes e a análise intertestes do desempenho dos participantes na avaliação do PA(C), comparada ao desempenho na avaliação neuropsicológica, confirma os resultados encontra- dos para as questões anteriores. Conclusão: ressalta-se a necessidade de se pensar o contexto da administração dos testes de PA(C), considerando-se a relação de complementaridade da avaliação neuropsicológica e do exame de processamento auditivo. DESCRITORES: Percepção Auditiva; Testes Neuropsicológicos; Neuropsicologia; Adolescente (1) Fonoaudióloga; Membro do Grupo de Pesquisa Neuropsi- cologia Clínica e Experimental, GNCE, Porto Alegre, RS, Brasil; Especialização em Neuropsicologia pela Universi- dade Federal do Rio Grande do Sul; Mestranda em Psi- cologia, área de concentração em Cognição Humana da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. (2) Psicóloga; Membro do Grupo de Neuropsicologia Clínica e Experimental, GNCE, Porto Alegre, RS, Brasil; Especia- lista em Avaliação Psicológica Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Doutoranda em Psicologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (3) Graduada em Matemática; Professora Titular do Depar- tamento de Estatística, Instituto de Matemática e do Pro- grama de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universi- dade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil; PhD em Estatística pela University of London. (4) Fonoaudióloga; Docente do CEFAC – Pós-Graduação em Saúde e Educação, São Paulo, SP, Brasil; Mestre em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. (5) Fonoaudióloga e Psicóloga; Professora Adjunta da Facul- dade de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, área de concentração Cognição Humana da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC-RS, Porto Alegre, RS, Brasil; Coordenadora do Grupo de Pesquisa Neuropsicologia Clínica e Experimen- tal, GNCE, Porto Alegre, RS, Brasil; Doutora em Psicolo- gia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Université de Montreal, com Pós-Douto- ramento em Neurociências pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Conflito de interesses: inexistente
  • 2. PAC e avaliação neuropsicológica  647 Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 „„ INTRODUÇÃO O presente artigo aborda a relação entre o desempenho de adolescentes em habilidades de processamento auditivo (central) e em funções neu- ropsicológicas. O Processamento Auditivo (Central) [PA(C)] pode ser definido como o processamento perceptual da informação auditiva pelo sistema nervoso central (SNC) e a atividade neurobioló- gica subjacente. Inclui mecanismos auditivos rela- cionados às seguintes habilidades: 1) localização e lateralização do som; 2) discriminação auditiva; 3) reconhecimento de padrão auditivo; 4) aspectos temporais da audição, entre eles, integração tem- poral, discriminação temporal (por exemplo, detec- ção de intervalo de tempo), ordenação temporal e mascaramento temporal; 5) desempenho auditivo diante de sinais acústicos competitivos (incluindo escuta dicótica); e 6) desempenho auditivo com degradação de sinais acústicos 1 . O PA(C) consta de quatro mecanismos auditivos: processamento temporal escuta dicótica, monoau- ral de baixa redundância e interação binaural. O processamento temporal refere-se ao modo como o sistema nervoso auditivo central (SNAC) analisa aspectos temporais do sinal acústico; é o meca- nismo auditivo mais elaborado, pois inclui muitas habilidades auditivas e muitos níveis do SNAC. A habilidade de percepção do contorno do sinal acús- tico contribui para o reconhecimento dos aspectos de prosódia, como ritmo, tonicidade e entonação. A escuta dicótica caracteriza-se pela condição em que diferentes estímulos são apresentados para cada orelha simultaneamente, situação de escuta em que as vias contralaterais dominam e suprimem as vias ipsilaterais. Avalia a função hemisférica, a transferência inter-hemisférica de informação, matu- ração e desenvolvimento do SNAC. O mecanismo auditivo monoaural de baixa redundância ocorre quando há a redução da redundância extrínseca do sinal de fala e avalia a habilidade de fechamento auditivo. Essa habilidade é necessária para que o indivíduo complete a informação quando parte dela for perdida durante a redução do sinal de fala. Estão envolvidas nessa função, a discriminação auditiva e a decodificação. A interação binaural refere-se à habilidade do SNAC em receber informações dís- pares, embora complementares, e unificá-las em um evento perceptual. Este processo depende pri- mariamente da integridade de estruturas do tronco encefálico, além do sistema auditivo periférico. No entanto, podem ser afetados por disfunções/lesões corticais. As funções auditivas que dependem da interação são: localização e lateralização, diminui- ção de mascaramento binaural, detecção de sinais no ruído e fusão binaural 2,3 . A função auditiva cen- tral envolve muito mais do que um mapa do sistema nervoso central para a porção auditiva. Trata-se de uma dinâmica complexa que envolve transforma- ções do estímulo acústico na cóclea, as vias efe- rentes, vias de processamento no cérebro além do papel das estruturas fora do lobo temporal posterior como prosencéfalo, por exemplo, para que ocorra os mecanismos ouvir e escutar” 4 . Dessa forma, algumas habilidades envolvi- das no processamento auditivo (central) [PA(C)] são específicas da modalidade auditiva e outras dependem de processos cognitivos adicionais 2,5 . Inúmeras discussões a cerca do entendimento do processamento auditivo como modalidade especí- fica e o diagnóstico diferencial vêm ocorrendo na tentativa de elucidar o conceito dos seus distúrbios 5-7 . Algumas definições de [PA(C)] consideram que o diagnóstico do transtorno do processamento audi- tivo (central) [TPA(C)] pode ser aplicado somente quando um déficit (perceptual) é demonstrado no sistema auditivo 6-8 . Outros autores, apoiados na revisão da literatura em neurociência, neurofisiolo- gia cognitiva e auditiva e áreas afins, afirmam que a definição de TPA(C), a qual inclui modalidade espe- cífica como critério diagnóstico, é neurofisiologica- mente insustentável 1,5,9 . Entende-se, portanto, que exista uma relação entre processamento auditivo (central) e as habili- dades neuropsicológicas, contudo, a identificação de quais processos cognitivos estariam envolvidos no processamento auditivo ainda não é consensual na literatura e pode ser considerada, até mesmo, pouco explorada. Alguns autores argumentam que, devido à natureza complexa dos testes propostos para a avaliação de PA(C), os resultados podem sofrer a interferência dos aspectos neuropsicológi- cos e que o dado encontrado de PA(C) poderia ser um sintoma dentro de um quadro maior 7,8 . Outros afirmam que mesmo considerando o fato de que a investigação dos aspectos perceptuais auditivos possa sofrer influência de outros fatores, é possível diferenciar um déficit mais global (ou supramodal) de uma dificuldade mais específica de PA(C) 9 . Considerando essa abordagem, o PA(C) tam- bém poderia ser considerado uma modalidade envolvida nas funções neuropsicológicas 10 . A ava- liação neuropsicológica deve envolver a verificação das funções sensoriais receptivas e perceptivas, que devem ser analisadas conjuntamente com os demais aspectos cognitivos, tais como memó- ria, aprendizado, pensamento, atenção, funções expressivas, linguagem e funções executivas. No entanto, a percepção auditiva é menos investigada numa avaliação neuropsicológica do que a percep- ção visual 11 .
  • 3. 648  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 A avaliação neuropsicológica é um método de examinar as funções cognitivas através do estudo da expressão comportamental das disfunções cerebrais 11 . A avaliação comportamental do PA(C) pode ser realizada a partir do exame das habilida- des auditivas centrais que são eliciadas através de testes específicos. Através da aplicação desses testes, em conjunto com a avaliação neuropsicoló- gica, é possível verificar a existência de correlações e dissociações no desempenho do paciente nas avaliações. O conceito de dissociação é utilizado na clínica neuropsicológica em busca do entendi- mento dos déficits cognitivos. Segundo Willmes 12 , a dissociação pode ser definida como uma diferença no desempenho de um paciente em duas diferentes tarefas ou, ainda, os prejuízos de desempenho de algumas tarefas em contraposição a um desempe- nho normal em outras tarefas, são apontados como evidência da existência de diferentes sistemas neu- rais subjacentes 10 . Devido à forte natureza desse modelo de pesquisa, experimentos de dissociação estão tornando-se mais prevalentes 7 . Em virtude da lacuna na literatura específica sobre as relações entre processamento auditivo e habilidades cogniti- vas, torna-se relevante investigar empiricamente se tais relações existem e, caso existam, como se dão. A partir dessa visão integradora entre a avalia- ção de processamento auditivo e de funções cog- nitivas, o objetivo geral desse estudo foi investigar a existência de relações entre o desempenho em PA(C) e em tarefas neuropsicológicas. Pretendeu- se, então, responder às seguintes questões de pesquisa: 1) Há correlação entre o desempenho em PA(C) e o desempenho neuropsicológico em uma amostra de adolescentes saudáveis? 2) Podem ser observadas dissociações de desempenho nas tarefas de PA(C) e nas tare- fas de orientação têmporo-espacial, atenção, percepção visual, memória, habilidades aritmé- ticas, linguagem, praxias e funções executivas em adolescentes? 3) A análise intertestes do desempenho dos par- ticipantes na bateria selecionada para a avalia- ção do PA(C), quando comparada ao desem- penho na avaliação neuropsicológica, confirma os resultados encontrados para as questões anteriores? Para tais questões norteadoras, formularam-se as seguintes hipóteses: 1) Haverá correlações entre tarefas de PA(C) e tarefas de avaliação neuropsicológica, prin- cipalmente com subtestes de atenção e de memória. 2) Serão observadas dissociações entre o desem- penho nos testes de PA(C) e o desempenho em alguns subtestes do exame neuropsicológico, tais como, desempenho de processamento preservado acompanhado de desempenho deficitário em subtestes neuropsicológicos, por exemplo, orientação têmporo-espacial e pra- xias, ou vice-versa. 3) A análise intertestes da avaliação do PA(C), comparada à análise do desempenho neu- ropsicológico, confirmará as duas hipóteses anteriores. „„ MÉTODOS Participaram do estudo 12 adolescentes, sete do sexo feminino e cinco do masculino, de 16 (16,67%) e 17 (83,3%) anos de idade, todos com escolari- dade de 10 anos completos de estudo formal e o terceiro ano do Ensino Médio em curso, em escolas privadas do Estado do Rio Grande do Sul. A fre­ quência de hábitos de leitura e escrita variou de no mínimo uma vez por semana a todos os dias. Em sua maioria, os participantes pertenciam às classes econômicas B1 (50%) e A2 (41,7%), sendo apenas um da classe A1, segundo o Critério de Classifica- ção Econômica Brasil – CCEB 13 . No que diz respeito aos critérios de inclusão na amostra participaram apenas brasileiros natos, com fluência no Português Brasileiro, sem história pré- via ou atual de quaisquer distúrbios neurológicos, psiquiátricos, visuais, auditivos e/ou linguísticos auto-relatados, de alcoolismo ou de uso de drogas ilícitas ou de benzodiazepínicos. De acordo com os princípios éticos das pesqui- sas com seres humanos, os participantes foram avaliados voluntariamente, mediante autorização através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, pela diretoria da instituição edu- cacional, por um de seus responsáveis legais e por ele/ela próprio(a). Os participantes foram examinados por um fonoaudiólogo em duas sessões individuais de uma hora, em média, nas quais foram submetidos à ava- liação auditiva periférica e central. A avaliação audi- tiva periférica envolveu audiometria tonal, índice percentual de reconhecimento de fala e limiar de reconhecimento de fala e imitanciometria, com- posta de timpanograma e pesquisa de reflexos ipsi e contralaterais. Todos os participantes incluídos obtiveram limiares auditivos dentro da normalidade na audiometria tonal, presença de reflexos acústi- cos e funcionamento normal de orelha média. A avaliação auditiva central foi composta por testes gravados em compact disc (CD) e comer- cializados pela Auditec – St. Louis 14 e por Pereira e Schochat 15 . Os mecanismos avaliados foram escuta dicótica, interação binaural, processamento temporal e monoaurais de baixa redundância. A
  • 4. PAC e avaliação neuropsicológica  649 Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 análise da bateria permitiu a caracterização da função auditiva central, compreendida entre tronco encefálico e o córtex auditivo, possibilitando a caracterização da função auditiva (envolvendo as habilidades auditivas) como normal ou alterada. Os testes incluídos na bateria foram os que seguem, descritos brevemente: A) Testes dicóticos: Teste Dicótico de Dissíla- bos Alternados (SSW) e Dicótico de Dígitos (DD). Ambos avaliam o mecanismo de escuta dicótica por meio da apresentação simultânea de estímulos diferentes em cada orelha. O SSW utiliza como estímulo verbal palavras dissílabas. São 40 itens compostos por quatro dissílabas cada um, o que totaliza 160 palavras- estímulo. Os 20 itens de números ímpares são apresentados, iniciando-se pela orelha direita, e os 20 pares, iniciando-se pela orelha esquerda. A primeira palavra dos itens ímpares é apresentada sozinha à orelha direita e constitui a condição direita não-competitiva. Em seguida, são apresentadas duas palavras diferentes, uma para cada uma das orelhas, simultaneamente, formando a condição direita e esquerda competitiva. A última palavra é apresentada isolada à orelha esquerda, formando a condição esquerda não-competitiva. Os itens pares seguem os mesmos critérios, só que se iniciam pela orelha esquerda. O DD envolve a apresentação de uma lista de 20 pares de dígitos dissílabos. É solicitada tanto a tarefa de integração binaural, quando o indivíduo repete os estímulos ouvidos em ambas as orelhas, e a de separação binaural, quando o indivíduo repete o estímulo de apenas uma orelha. Estes tes- tes foram apresentados em um nível de 50 decibéis nível de sensação (dBNS), tendo como base os limiares médios tonais. B) Teste de processamento temporal: Teste de Reconhecimento do Padrão de Frequência (PPST). Avalia o mecanismo de processamento temporal mediante a apresentação de uma sequência de três tons não-verbais que variam em frequência. É solicitado ao indivíduo que inicialmente murmure as sequências ouvidas e depois as nomeie. Esse teste foi apresentado em um nível de 50 dBNS, tendo como base os limiares médios tonais. C) Teste monoaural de baixa redundância: Teste de Identificação de Sentenças Sintéticas (SSI). Avalia as habilidades de fechamento auditivo, figura-fundo e discriminação, quando uma parte do sinal auditivo está distorcida ou ausente e/ou em presença de estímulos auditivos competitivos (história). É solicitado ao indivíduo que despreze a mensagem competitiva e indique as frases ouvidas que estão escritas em uma folha. Foi apresentado na modalidade de mensagem competitiva ipsilateral (MCI). O teste foi aplicado em um nível de 40 dBNS nas relações estímulo/competição de 0 dB, -10dB e -15dB. D) Teste de interação binaural: Teste de dife- rença de Limiar de Mascaramento (MLD). Examina a habilidade do sistema nervoso auditivo central para processar informação díspar, mas comple- mentar, apresentada às duas orelhas. É solicitado ao indivíduo que despreze a presença do ruído mascarador e indique a presença de um tom pulsá- til, levantando a mão sempre que o perceber. Este teste foi aplicado em um nível de 40 dBNS. Além da avaliação auditiva periférica e cen- tral, os participantes responderam aos seguintes instrumentos: E) Questionário estruturado de dados sociocul- turais e aspectos da saúde 16 . Inclui a avaliação de questões referentes à renda, hábitos culturais e comunicativos e antecedentes médicos (aspec- tos de saúde geral, sensorial e neurológica). Este instrumento inclui a Escala CAGE 17 para avaliação dos hábitos de ingestão de bebida alcoólica. Tais avaliações confirmaram os critérios de inclusão no estudo. F) Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve Neupsilin 18,19 . Fornece um perfil neuropsi- cológico breve, delimitando, em aproximadamente 45 minutos, a presença ou ausência de déficit nas funções cognitivas: orientação têmporo-espacial, atenção (concentrada), percepção (visual), memó- ria (cinco sistemas), habilidades aritméticas, lingua- gem (oral e escrita), praxias e funções executivas (resolução de problemas e fluência verbal), avalia- das por meio de 32 subtestes. Permite, também, qualificar tipos de erros e algumas estratégias de processamento utilizadas pelo avaliando. Os sub- testes são apresentados abaixo, conforme a função neuropsicológica investigada. 1) Orientação Têmporo-espacial: Tempo: res- posta de dia da semana, dia do mês, mês e ano, e Espaço: resposta de local, cidade, estado e país; 2) Atenção: 1) Contagem Inversa: contagem de 50 a 30 pelo examinando e contagem do tempo de realização da tarefa pelo examinador para avaliar a velocidade de processamento e 2) Repetição de Sequência de Dígitos: repetição de uma sequência de sete números; 3) Percepção: 1) Verificação de Igualdade e Dife- rença de Linhas: verificação de seis pares de linhas; 2) Heminegligência Visual: percepção de todo espaço de uma folha de papel repleta de traços que deverão ser riscados; 3) Percep- ção de Faces: avaliação, como iguais ou dife- rentes, de três pares de fotografias de faces, sendo uma delas de frente e outra de perfil; e 4) Reconhecimento de Faces: memoriza- ção de dois rostos desenhados, que devem
  • 5. 650  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 ser reconhecidos entre quatro apresentados posteriormente; 4) Memória: 1) Memória de Trabalho: a) Ordena- mento Ascendente de Dígitos: repetição em ordem crescente de 10 conjuntos de dois até seis dígitos; b) Span Auditivo de Palavras em Sentenças: memorização e evocação das últi- mas palavras de frases, após a leitura de con- juntos de dois, três, quatro e cinco sentenças pelo examinador; 2) Memória Verbal Episó- dico-Semântica: a) Evocação Imediata: repeti- ção de nove palavras ditas pelo examinador, b) Evocação Tardia: emissão das mesmas nove palavras em tempo posterior, e c) Reconheci- mento: indicação, em uma lista de 18 palavras, da presença ou não da palavra na lista original falada pelo examinador; 3) Memória Semântica de Longo Prazo: resposta a duas perguntas referentes a conhecimentos gerais; 4) Memória Visual de Curto Prazo (três estímulos): memo- rização de uma figura sem sentido de cada vez e reconhecimento entre um conjunto de três figuras semelhantes; 5) Memória Prospectiva: lembrança, ao final da testagem, da instrução de escrever o nome em uma folha de papel for- necida no início da avaliação; 5) Habilidades Aritméticas: resolução de qua- tro cálculos, um de cada operação aritmética básica; 6) Linguagem: 1) Linguagem Oral: a) Nomeação de dois objetos e de duas figuras; b) Repetição de oito palavras reais e de duas pseudopala- vras; c) Linguagem Automática: contagem de um a dez e verbalização de todos os meses do ano, em ordem; d) Compreensão Oral (três conjuntos de figuras): indicação da figura cor- respondente ao enunciado verbal do examina- dor; e) Processamento de Inferências: explica- ção do significado de um provérbio e de duas metáforas; 2) Linguagem Escrita: a) Leitura em Voz Alta de dez palavras reais e de duas pseu- dopalavras; b) Compreensão Escrita (três estí- mulos): leitura em silêncio de palavras e frases e indicação das figuras correspondentes; c) Escrita Espontânea de uma frase; d) Escrita Copiada de uma frase, e e) Escrita Ditada de dez palavras reais e de duas pseudopalavras; 7) Praxias: a) Ideomotora: realização de três ges- tos, conforme instrução verbal do examina- dor; b) Construtiva: cópia de três figuras (qua- drado, flor e cubo) e desenho de um relógio sem modelo; c) Reflexiva: repetição de uma se­quência de três gestos; 8) Funções executivas: 1) Resolução de problemas: resposta a duas perguntas envolvendo raciocí- nio abstrato; 2) Fluência Verbal fonêmica: ver- balização, durante um minuto, de palavras que iniciem com a letra F. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (parecer 2008/09). Os resultados obtidos nos testes de PA(C) foram analisados descritivamente, em forma de percentual de acerto. Do mesmo modo, os escores brutos obtidos no Neupsilin foram convertidos para percentual. Além disso, efetuou-se uma análise de ocorrência de déficits a partir dos dados normati- vos nacionais, para a verificação de dissociações. Por fim, realizou-se uma análise subjetiva global (interpretação intertestes) do perfil geral de pro- cessamento e de desempenho neuropsicológico, mediante o julgamento de dois fonoaudiólogos, com domínio da teoria e do método de avaliação de processamento auditivo, e de dois neuropsicólogos, com domínio dos pressupostos da avaliação neu- ropsicológica. Ambos julgamentos foram indepen- dentes, com estabelecimento de consenso quando necessário. Os dados foram submetidos a análises descri- tivas (média e desvio-padrão) e à análise de Cor- relação de Pearson para estudar a associação do desempenho dos adolescentes nas habilidades de processamento auditivo e nas tarefas neuropsicoló- gicas. Foram, ainda, agrupados conforme frequên- cia de déficits. „„ RESULTADOS Os resultados serão apresentados em três ses- sões: 1) dados descritivos da amostra e análise cor- relacional; 2) dissociações e 3) análise comparativa inter e intratestes (PA(C) versus Neupsilin). Dados descritivos da amostra e análise correlacional Na Tabela 1, apresentam-se as médias de per- centuais de acertos nos testes de PA(C), com seus respectivos desvios-padrão. Em complementari- dade, na Tabela 2, expõem-se as médias de per- centuais de acertos nos subtestes do Neupsilin, acompanhados dos desvios-padrão. Em geral, observando-se os dados na Tabela 1, nota-se que os adolescentes obtiveram um bom desempenho médio na avaliação de PA(C). No MLD, inclusive, não houve erros. Tabela 2: Médias de percentuais de acertos nos subtestes do Neupsilin. Embora a análise da Tabela 2 evidencie um bom desempenho neuropsicológico da amostra, nota-se que o percentual de acertos foi inferior aos demais em sustestes que examinam atenção, memória e funções executivas.
  • 6. PAC e avaliação neuropsicológica  651 Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 Na Figura 1, pode-se visualizar os resultados da análise correlacional entre os escores dos subtes- tes do Neupsilin e do exame de PA(C). Os gráficos expostos na Figura 1 mostram apenas as correla- ções significantes. Observa-se que, dentre as correlações ��������signifi- cantes encontradas, todas foram positivas e fortes, exceto a correlação entre o teste dicótico de dígi- tos e o subteste do Neupsilin evocação imediata da memória episódico-semântica. Dissociações Na Tabela 3, expõe-se a quantidade de dissocia- ções, totalizando dois tipos na comparação de cada prova de PA(C) e do Neupsilin: 1) presença de défi- cit em um dos testes de PA(C) e ausência de déficit em um dos subtestes do Neupsilin e 2) ausência de déficit em um dos testes de PA(C) e presença de déficit em um dos subtestes do Neupsilin. Quanto às dissociações encontradas, observou- se que alguns testes do PA(C) apresentam maior frequência de dissociações com subtestes neu- ropsicológicos. Conforme apresentado na Tabela 3, o maior número de dissociações com os tes- tes neuropsicológicos foi do Teste de PA(C) SSI/ MCI, seguido, em ordem decrescente, pelos tes- tes, PPST, SSW, DD e MLD. A função neuropsi- cológica que apresentou mais dissociação com os testes PA(C) foi: habilidades aritméticas, seguida, em ordem decrescente, pelos subtestes processa- mento de inferências, percepção (visual), atenção, resolução de problemas, memória de trabalho, Funções e componentes avaliados Média de percentuais de acertos 1. Orientação têmporo-espacial 100 (0,00) 1.1 Tempo 100 (0,00) 1.2. Espaço 100 (0,00) 2) Atenção (concentrada) 91,58 (8,46) 2.1) Contagem inversa 99,58 (1,44) 2.2) Repetição de seqüência de dígitos 67,50 (30,53) 3) Percepção 90,97 (13,51) 3.1) Verificação de igualdade e diferença de linhas 90,2758 (13,21) 3.2) Heminegligência visual 100 (0,00) 3.3) Percepção de faces 86,11 (26,43) Tabela 2 – Percentuais de acertos nas funções neuropsicológicas avaliadas pelo Neupsilin Testes PA(C) Médias dos percentuais de acertos (Desvio-padrão) MLD 100,00 (0,00)% PPST Etapa Imitação Etapa Nomeação 88,88 (22,77)% 86,90 (15,19)% SSI Rel. s/r= 0 OD OE 89,17 (15,05)% 89,17 (10,83)% SSW % acertos condições competitivas DC EC 95,21 (5,05)% 92,50 (7,76)% Dicótico de Dígitos Etapa Integração Binaural Etapa Separação Binaural OD OE 99,58 (1,44)% 99,58 (1,44)% AD OD AD OE 99,17 (2,88)% 98,88 (2,70)% Tabela 1 – Percentuais de acertos nos testes de avaliação do PA(C) Rel. s/r = sinal/ruído; OD = orelha direita; OE = orelha esquerda; DC = direita competitiva; EC = esquerda competitiva; AD OD = aten- ção dirigida a OD; AD OE = atenção dirigida a OE.
  • 7. 652  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 1008060 SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas com Mensagem Competitiva Ipsilateral Orelha Direita relação sinal/ruído = 0 100,00 98,00 96,00 ContagemInversa r = 0,61; p = 0,035 8075706560 SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas com Mensagem Competitiva Ipsilateral Orelha Direita relação sinal/ruído = - 10 100,00 90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 PercepçãodeFaces r = 0,878; p = 0,021 8075706560 SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas com Mensagem Competitiva Ipsilateral Orelha Direita relação sinal/ruído = - 10 100,00 80,00 60,00 LinguagemOralAutomática r = 0,878; p = 0,021 806040 SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas com Mensagem Competitiva Ipsilateral Orelha Esquerda relação sinal/ruído = - 15 100,00 80,00 60,00 MemóriadeTrabalho/Span AuditivodePalavrasemSentenças r = 0,702; p = 0,016 806040 SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas com Mensagem Competitiva Ipsilateral Orelha Esquerda relação sinal/ruído = - 15 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 MemóriaVerbalEpisódica/ EvocaçãoTardia r = 0,785; p = 0,004 806040 SSI / MCI – Teste de Sentenças Sintéticas com Mensagem Competitiva Ipsilateral Orelha Esquerda relação sinal/ruído = - 15 100,00 98,00 96,00 LinguagemOralTotal r = 0,735; p = 0,010
  • 8. PAC e avaliação neuropsicológica  653 Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 1009896 DD – Dícótico de Dígitos Etapa de Integração Binaural OE 90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 MemóriaVerbalEpisódica/ EvocaçãoImediata r = 0,599; p = 0,04 1009896949290 DD – Dícótico de Dígitos Etapa de Separação Binaural OE 100,00 98,00 96,00 94,00 92,00 90,00 LinguagemOralRepetição r = 0,847; p = 0,001 1009590858075 SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha direita competitiva) % acertos 85,00 80,00 75,00 70,00 65,00 60,00 55,00 50,00 MemóriaVerbal r = 0,604; p = 0,038 10098969492908886 SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha direita competitiva) % acertos 100,00 98,00 96,00 94,00 92,00 90,00 LinguagemOralRepetição r = 0,636; p = 0,026 1009590858075 SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha esquerda competitiva) % acertos 85,00 80,00 75,00 70,00 65,00 60,00 55,00 50,00 MemóriaVerbal r = 0,649; p = 0,022 1009590858075 SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha esquerda competitiva) % acertos 100,00 98,00 96,00 94,00 92,00 90,00 LinguagemOralRepetição r = 0,71; p = 0,01 1009896 DD – Dícótico de Dígitos Etapa de Integração Binaural OE 90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 MemóriaVerbalEpisódica/ EvocaçãoImediata r = 0,599; p = 0,04 1009896949290 DD – Dícótico de Dígitos Etapa de Separação Binaural OE 100,00 98,00 96,00 94,00 92,00 90,00 LinguagemOralRepetição r = 0,847; p = 0,001 1009590858075 SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha direita competitiva) % acertos 85,00 80,00 75,00 70,00 65,00 60,00 55,00 50,00 MemóriaVerbal r = 0,604; p = 0,038 10098969492908886 SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha direita competitiva) % acertos 100,00 98,00 96,00 94,00 92,00 90,00 LinguagemOralRepetição r = 0,636; p = 0,026 1009590858075 SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha esquerda competitiva) % acertos 85,00 80,00 75,00 70,00 65,00 60,00 55,00 50,00 MemóriaVerbal r = 0,649; p = 0,022 1009590858075 SSW – Dissílabos Alternados DC (orelha esquerda competitiva) % acertos 100,00 98,00 96,00 94,00 92,00 90,00 LinguagemOralRepetição r = 0,71; p = 0,01 Figura 1 – Gráficos de correlações entre os testes de PA(C) e os subtestes do Neupsilin
  • 9. 654  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 memória verbal episódica, linguagem oral automá- tica, praxia reflexiva, fluência verbal e linguagem oral repetição. Salienta-se que nos testes comportamentais de PA(C), MLD e DD, nenhum dos 12 participantes apresentou déficit nas habilidades auditivas exami- nadas. No entanto, houve ocorrência de déficit da amostra em algumas funções neuropsicológicas avaliadas pelo Neupsilin. Análise comparativa inter e intratestes (PA(C) versus Neupsilin) Foi realizada uma análise inter e intratestes de PA(C) para analisar o perfil geral de desempenho dos participantes. Dos 12 participantes avaliados, seis apresentaram um conjunto de respostas que merecem algumas considerações. Quatro destes seis obtiveram déficits em alguns testes de PA(C), mas a análise do conjunto de resultados encontra- dos não é compatível com o conjunto de critérios mínimos para o diagnóstico de um Transtorno de Processamento Auditivo (Central) [TPA(C)] 1 . Os resultados encontrados podem sugerir outro tipo de dificuldade. Esta análise do perfil encontrado foi confrontada com o resultado nas tarefas do Neup- silin e uma análise geral de desempenho em todo o instrumento, visando ao entendimento das respos- tas. Dos quatro adolescentes cujos resultados na bateria de testes de PA(C) não foram compatíveis com uma disfunção auditiva central, dois apresen- taram alguns déficits em subtestes do Neupsilin, que sugerem dificuldades de atenção. Os outros dois não apresentaram este indício, pois não tive- ram déficits que pudessem sugerir algum tipo de dificuldade cognitiva específica. Além destes quatro participantes com perfil de PA(C), alvo de algumas considerações, outros dois participantes apresentaram resultados compatíveis com déficit de PA(C). Esses dados foram obtidos a partir da análise intertestes e de auto-relato de difi- culdades em manter a atenção, mas em grau leve, pois nunca procuraram investigar esse sintoma. Na análise do desempenho nos subtestes do Neupsilin, esses dois participantes não apresentaram déficits que confirmassem um quadro sugestivo de dificul- dade de atenção ou em outras funções, sugerindo uma confirmação do déficit perceptual auditivo. „„ DISCUSSÃO No âmbito da interface subjetivamente identifi- cada, mas ainda pouco explorada, entre a avalia- ção de PA(C) e o exame neuropsicológico, o obje- tivo geral desse estudo foi averiguar a existência de relações entre o desempenho em testes de proces- samento auditivo e em tarefas cognitivas. Foram feitas análises em busca de respostas prelimina- res a três questões de pesquisa, para as quais se elaboraram hipóteses. A presente discussão será norteada por estes três conjuntos de problema de pesquisa e hipótese. No que diz respeito à primeira questão, “Há correlação entre o desempenho em PA(C) e o desempenho neuropsicológico em uma amos- tra de adolescentes saudáveis?”, hipotetizou-se que haveria correlações entre algumas tarefas de processamento auditivo e subtestes do Neupsilin, Testes PA(C) Subtestes Neupsilin Quantidade de dissociações MLD PPST SSI/MCI SSW DD Total Atenção 02 03 06 05 02 19 Percepção 02 05 06 05 02 20 Memória de trabalho 02 03 07 04 02 18 Memória verbal episódica 01 04 10 01 01 17 Habilidades aritméticas 02 05 10 04 02 23 Linguagem oral repetição 01 04 06 0 01 12 Linguagem oral automática 01 06 08 01 01 17 Linguagem PI 03 08 06 02 03 22 Praxia reflexiva 02 03 07 03 02 17 FE resolução de problemas 03 03 08 02 03 19 FE fluência verbal 01 04 08 01 01 15 Total 21 48 76 28 20 - PI = processamento de inferências; FE = funções executivas. Tabela 3 – Dissociações encontradas entre os testes de PA(C) e os subtestes Neupsilin
  • 10. PAC e avaliação neuropsicológica  655 Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 predominantemente com tarefas de atenção concentrada e de memória (de trabalho e episó- dico-semântica verbal). Os resultados do estudo demonstraram correlações fortes e significantes entre o desempenho de adolescentes em testes que avaliam o processamento auditivo e em tarefas que examinam habilidades neuropsicológicas, prin- cipalmente as que investigam atenção concentrada, percepção de faces, linguagem oral e memória (de trabalho e episódico-semântica), confirmando o que se esperava. As correlações fortes podem ser justi- ficadas pelo compartilhamento de habilidades cog- nitivas subjacentes às tarefas de PA(C) e destas funções neuropsicológicas. Esse achado corrobora os estudos que demonstram uma relação evidente entre a percepção e produção da linguagem 20 . A neurociência cognitiva demonstrou que há poucas, se é que existem, áreas inteiramente com- partimentadas no cérebro que sejam responsáveis somente por uma única modalidade sensorial. Há evidências de que o processamento de dados sen- soriais é interdependente e integrado com base em domínios cognitivos, mais precisamente em aten- ção, memória e representações linguísticas 1 . Ape- sar de existirem algumas regiões do cérebro que são específicas para estímulos de modalidade auditiva, a organização cerebral é predominante não modu- lar e não exclusivamente segregada 9 . Algumas definições sugerem que o diagnóstico de TPA(C) deveria ser aplicado somente quando um déficit (perceptual) fosse verificado no sistema auditivo e em nenhuma outra parte 8 . No entanto, a exigência do processamento auditivo como uma modalidade específica para o diagnóstico não deveria ser um critério, pois não é consistente com a forma em que esse tipo de processamento ocorre no SNC 1,5,9 . Mais especificamente, algumas correlações entre subtestes do PA(C) e do Neupsilin serão comentadas. Neste sentido, a correlação significa- tiva forte e positiva entre o teste SSI e a tarefa de atenção – contagem inversa pode ser justificada pela demanda de um alto nível de atenção, con- centração e controle mental requeridos no teste. A habilidade avaliada no SSI é a figura-fundo auditiva (identificação de mensagem primária na presença de sons competitivos) diante de estímulos auditivos e visuais. Portanto, é necessário, para a execução do teste, um alto nível de atenção focalizada ou seletiva além da atenção sustentada (mantida/con- centrada). Muitas das áreas auditivas são também responsáveis pela manutenção da atenção, con- trole executivo, regulação motora, estando relacio- nadas à fisiopatologia do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDA/H) 3 . Vias auditivas presentes no corpo caloso, responsáveis pela trans- ferência inter-hemisférica desempenham um papel no controle atencional e na sua modulação, além da sua atividade sensorial 21 . Fica clara, assim, a relação estreita entre atenção concentrada auditiva e a habilidade de figura-fundo auditiva. Em comple- mentaridade, houve correlação do teste SSI ainda com um subteste de percepção visual e com tare- fas mnemônicas. A correlação do SSI com o teste percepção de faces faz sentido pelo envolvimento da questão auditivo-visual, já que a identificação dos símbolos gráficos (a escrita) é requerida, além da atenção seletiva concentrada. No que tange às associações com a memória, a tarefa Span auditivo de palavras em sentenças, subteste que examina a memória de trabalho, apresentou correlação forte e significativa com o teste SSI (OE na relação –15). É possível inferir, através desse achado, que a dupla tarefa exigida nesta prova do Neupsilin (repetição de frases e armazenamento da última palavra de cada frase, simultaneamente, para posterior evoca- ção dos últimos vocábulos, em ordem), pode apre- sentar relação com o SSI por esse também reque- rer a atividade do executivo central. Embora o SSI demande predominantemente atenção focalizada concentrada, para que esta seja processada, é necessária inibição. Na medida em que no teste SSI, o indivíduo escuta uma história narrada enquanto deve ficar alerta para o aparecimento súbito de uma sentença, sabe-se que a tarefa demanda alerta e atenção seletiva. Tais correlações eram, então, esperadas. Essa associação que ocorreu na rela- ção –15 é a mais difícil, demandando ainda mais da atenção e do executivo central, cuja complexidade provavelmente explique a demanda do executivo central na tarefa. Segundo o modelo de memória de trabalho de Baddeley 22 , este sistema mnemônico exige a participação de um supervisor atencional, o executivo central para garantir entrada e a manipu- lação de dois estímulos simultaneamente. De um modo geral, quanto ao SSI, a maior ocor- rência de correlações se deu com a etapa mono- aural OD (orelha direita) e o mesmo não ocorreu com a esquerda. Este fato pode ser justificado por ter sido a OD a primeira orelha testada em todos os participantes, não havendo alternância, por isso é possível hipotetizar que a OE, que foi a segunda, possa ter sofrido efeito de aprendizagem ou de habituação com a situação de avaliação. No que tange ao SSW, a correlação forte signi- ficativa positiva entre este teste e os subtestes de Memória verbal episódico-semântica e Linguagem oral repetição pode ser justificada pelo fato de o SSW envolver a codificação e o armazenamento de curto prazo de estímulos verbais, ao ser solici- tada a evocação de quatro palavras na ordem em que foram escutadas, tal como uma prova neu- ropsicológica de span verbal 23 . Tal correlação era
  • 11. 656  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 esperada, na medida em que em ambos os casos há componentes de memória episódica verbal de curto prazo, além da repetição oral. No entanto, também seria esperada alguma correlação com a memória de trabalho, já que parte de duas palavras foram ouvidas simultaneamente durante a apresen- tação dicótica, solicitando também atenção dividida (executivo central). Essa correlação não foi, entre- tanto, encontrada. É possível inferir que a integra- ção binaural, habilidade auditiva envolvida no teste, no momento em que há a apresentação dicótica das duas palavras, esteja mais fortemente envol- vida na tarefa, do que a memória de trabalho em si. Cabe ressaltar aqui o apontamento na literatura da importância de se examinar tanto a memória verbal episódica quanto as habilidades auditivas requeri- das no SSW. Tal exame é relevante para o diagnós- tico diferencial entre TPA(C) e/ou déficit cognitivo mais amplo, tal como o mnemônico. Por exemplo, se o desempenho em memória verbal for muito superior ao desempenho no SSW, na condição de escuta dicótica, é possível inferir que a dificuldade está na habilidade auditiva de integração binaural e não em memória verbal episódica. Caso as dificul- dades se apresentem em ambos os testes, maiores investigações dos aspectos cognitivos devem ser consideradas antes do diagnóstico de DPA(C) ser estabelecido 2 . Frente a estes diagnósticos, a princípio paralelos, salienta-se o cuidado na avaliação de PA(C) quanto aos resultados serem coerentes e a importância de uma análise inter e intratestes cuidadosa. Resulta- dos incoerentes nos testes ou achados reduzidos pela aplicação restrita da bateria dos testes, sem que outras funções sejam investigadas, não podem conduzir a um diagnóstico de TPA(C) 1 . O poten- cial para o envolvimento de fatores não diretamente perceptuais no resultado do teste não significa que a percepção auditiva nunca seja um determi- nante principal de desempenho, mas somente que os resultados não podem ser determinados sem uma investigação posterior ou complementar das demais funções neuropsicológicas 2 . Bellis 2 afirma que a investigação de um possível TPA(C) deveria ser realizada somente depois que medidas sobre os aspectos cognitivos, de aprendizagem, de fala e de linguagem (oral e escrita) tenham sido obtidas. Em concordância, os pesquisadores 1 afirmam que quando há prejuízos de fala e linguagem, intelec- tuais ou psicológicos, a avaliação desses aspec- tos deve preceder a avaliação do processamento auditivo. Além da análise correlacional acima discutida, uma segunda questão norteou a presente pesquisa: “Podem ser observadas dissociações de desempe- nho nas tarefas de PA(C) e nas tarefas de orien- tação têmporo-espacial, atenção, percepção visual, memória, habilidades aritméticas, linguagem, pra- xias e funções executivas em adolescentes?”. Como resposta a essa questão, esperavam-se dis- sociações entre o desempenho de processamento auditivo e algumas tarefas neuropsicológicas, con- cordantes com os achados do estudo correlacional promovido. O estudo das dissociações foi um princípio ado- tado pela “neuropsicologia cognitiva” para a inves- tigação dos subcomponentes das funções cogniti- vas 24 . Na dissociação, constata-se uma diferença no desempenho em duas tarefas pelo mesmo indi- víduo. A presença de dissociações entre as habi- lidades envolvidas nos testes de PA(C) e as fun- ções neuropsicológicas investigadas confirmam e reforçam a hipótese da relação não causal exis- tente entre déficits em funções neuropsicológicas e déficits perceptuais auditivos. Confirma, ainda, que possa haver diferença no desempenho de um paciente nos dois tipos de tarefas avaliadas e que pode haver prejuízos de desempenho em algumas tarefas em contraposição a um desempenho pre- servado em outras tarefas, o que confirma a evi- dência da existência de diferentes sistemas neurais subjacentes, isto é, de um processamento rela- tivamente independente 15 . Este achado está de acordo com a definição de TPA(C) como sendo um déficit no processamento neural do estímulo acús- tico que não é resultado de uma disfunção em outras modalidades 1 . Apesar de neurônios da via auditiva no cérebro estabelecerem interconectivi- dade com uma variedade de neurônios de outras áreas não auditivas, incluindo sistema límbico, giro do cíngulo, hipocampo e lobo frontal 2 , neurônios nas áreas auditivas podem não responder exclusi- vamente ao estímulo auditivo, mas também podem responder primariamente a ele 5 . No entanto, deve- se salientar que a ausência de uma relação causal não exclui a possibilidade de comorbidades entre déficits de processamento auditivo e prejuízos cog- nitivos específicos. Alguns participantes não obtiveram desempe- nho abaixo do esperado para a idade em testes de PA(C) e apresentaram déficits em algumas funções neuropsicológicas e vice-versa. Na medida em que as funções com maior correlação com habilidades do PA(C) foram atenção, memória e linguagem, esperava-se que tais processos cognitivos apre- sentassem as dissociações menos frequentes. Tal hipótese foi confirmada, já que as funções neurop- sicológicas como memória verbal episódica, fluên- cia verbal e linguagem oral repetição foram as que menos se dissociaram com as tarefas de processa- mento auditivo. Isso pode sugerir que essas funções
  • 12. PAC e avaliação neuropsicológica  657 Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 são as que mais compartilham mecanismos cogniti- vos subjacentes com as habilidades auditivas. Por fim, quanto à terceira questão de pesquisa, “A análise intertestes do desempenho dos partici- pantes na bateria selecionada para a avaliação do PA(C) quando comparada ao desempenho na avaliação neuropsicológica confirma os resulta- dos encontrados para as questões anteriores?”, a hipótese era de que esta análise qualitativa mais global confirmaria as relações encontradas nos achados em resposta às duas questões anteriores. Para o entendimento das dissociações verificadas, foi realizada uma análise inter e intratestes 1 com base nos resultados obtidos. Mediante tal interpre- tação, procurou-se, também, compreender o per- fil geral de desempenho dos participantes. Essa análise é sugerida por alguns autores 2,5,7, 25-27 ao afirmarem que a interpretação dos testes deve ser ponto fundamental para compreender as dificulda- des apresentadas pelo paciente em contrapartida à influência de fatores supramodais e a modalidade específica de processamento perceptual auditivo. A interpretação deve incluir a análise intrateste, que compara os padrões observados em determi- nado teste, fornecendo dados interpretativos, assim como a intertestes, caracterizada pela comparação entre os testes da bateria diagnóstica. Além disso, faz-se necessária a análise transdisciplinar, que consiste em comparar os resultados da avaliação de PA(C) e outros dados não audiológicos, como avaliação de linguagem e das funções cognitivas 1 . Dos 12 participantes avaliados, quando submeti- dos a uma análise intra, intertestes e transdiciplinar. Quatro deles obtiveram resultados quantitativos que não são compatíveis com um déficit específico de PA(C), pois apresentaram falhas apenas nos testes PPST e SSI/MCI. Os resultados encontrados podem sugerir outro tipo de dificuldade, por exem- plo, déficit na atenção, como sugerido por estes últimos autores. Eles afirmam que falhas apenas nestes tipos de testes não são consistentes para caracterizar um TPA(C), podendo indicar que o baixo desempenho possa ocorrer por influência de fatores atencionais mais globais prejudicados 1,26-29 . Esta análise do perfil encontrado foi confron- tada com o resultado obtido nas tarefas do Neup- silin. Assim, uma interpretação geral de desempe- nho em todo o instrumento foi também realizada, visando ao entendimento do perfil neuropsicoló- gico do participante. Dois dos quatro adolescen- tes, cujos resultados na bateria de testes de PA(C) não foram compatíveis com uma disfunção auditiva central, apresentaram alguns déficits em subtestes do Neupslin que sugerem dificuldades atencionais, confirmando a hipótese levantada na avaliação de PA(C). Apesar de áreas auditivas do cérebro demonstrarem diferenças de funcionamento neu- roanatômico em indivíduos portadores de trans- torno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), é possível distinguir a sintomatologia entre eles 27,28 . Embora as dificuldades de atenção frequentemente caracterizem o TPA(C) e o TDAH (particularmente os tipos combinado e o predominantemente desa- tento), há distinções a serem observadas na natu- reza da desatenção nos dois distúrbios 3 . Os déficits de atenção no TDAH tipicamente são pervasivos e supramodais e têm impacto em mais de uma modalidade sensorial 28 . Em oposição, indivíduos com TPA(C) apresentam dificuldades de atenção que podem estar restritas à modalidade auditiva 3 . A desvantagem da orelha esquerda competitiva (EC) em testes dicóticos comumente percebida em indivíduos com TPA(C), assim como um prejuízo nas condições de escuta contralateral ou ipsilateral como uma função do tronco encefálico, vão contra uma dificuldade de atenção pervasiva e contribuem para distinguir TPA(C) de TDA/H 27,28 . Esse dado reforça a importância da avaliação do PA(C) para o diagnóstico diferencial do TDA/H e da análise cri- teriosa de desempenho nos testes que avaliam a função auditiva central. Além disso, ressalta-se a necessidade da análise e entendimento sobre quais os testes que de fato seriam mais resistentes a dis- funções da atenção e quais os que seriam os mais suscetíveis a elas 30 . Em complementaridade, ainda é possível afirmar que esses dois participantes fecharam critérios, pela análise geral do Neupsilin, para déficit de atenção e não apresentaram o per- fil de desempenho nos testes de PA(C), sugerido pelos autores, para o diagnóstico diferencial dos dois quadros. Além destes dois participantes, cujos resulta- dos foram acima interpretados, os resultados da análise dos testes de outros dois adolescentes não confirmaram a hipótese de déficit de atenção, tendo apresentado o mesmo perfil de desempenho na avaliação de PA(C) (falha no SSI e no PPST). Estes adolescentes não apresentaram déficits no Neupslin que pudessem sugerir a presença de uma disfunção neuropsicológica. Pode-se inferir, então, que as falhas nos testes de PA(C) podem ter ocor- rido por fadiga, diminuição do nível de atenção no momento da realização da tarefa, sem que a pre- sença de um déficit de atenção propriamente dito estivesse presente. Outros dois participantes, que completam o total de seis cujos resultados se mostraram particular- mente interessantes para a análise qualitativa glo- bal em pauta, apresentaram resultados compatíveis com TPA(C) na análise inter e intratestes, como falhas no SSW e SSI associadas 1,27 . Ambos relata- ram dificuldades em manter a atenção, mas em grau
  • 13. 658  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 leve, nunca tendo procurado investigar tal queixa. Na análise do desempenho nos subtestes do Neup- silin, esses dois participantes não apresentaram déficits que confirmassem um quadro sugestivo de dificuldade de atenção e de dificuldades em habi- lidades neuropsicológicas de modo geral, mas foi confirmado o déficit perceptual auditivo através da análise do desempenho geral nos testes de PA(C). Esse achado corrobora a existência de uma relação de interdependência entre os processamentos cog- nitivos em geral e o processamento auditivo (cen- tral) 2 . Remete, também, ao entendimento sobre as queixas de desatenção, que por vezes podem levar a diagnósticos falso-positivo. No caso desses dois participantes, a hipótese de desatenção não foi confirmada pela avaliação neuropsicológica, mas compreendida pela presença de um déficit percep- tual auditivo. O fato dos dois testes que indicaram a presença de déficit em PA(C), SSW e SSI associa- dos, apresentarem grande demanda da habilidade de figura-fundo auditivo pode justificar a queixa de desatenção desses dois participantes. Isso forta- lece a importância do diagnóstico diferencial, pois nesse caso a desatenção está ligada ao compro- metimento das funções auditivas centrais e não pela presença de um TDA/H. A partir de uma análise do desempenho geral nos testes de PA(C) pode-se observar ainda que, os participantes que não fecharam critérios para comprovar um déficit perceptual auditivo, mas que apresentaram falhas combinadas nos testes – PPS e SSI/ MCI, apresentaram falhas também nos sub- testes do Neupsilin cujas tarefas exigem a partici- pação do executivo central (memória de trabalho, funções executivas). Esse fato chama a atenção e pode demonstrar que a participação do executivo central é relevante para tarefas de PA(C) envolvi- das nos testes mencionados e está de acordo com a literatura que aponta a sobreposição de áreas cerebrais na realização de tarefas auditivas e cogni- tivas em geral 5 . Portanto, alguns cuidados ao ava- liar pacientes com suspeita ou com a comprovação de um TDA/H devem ser tomados. Neste contexto, uma visão mais ampla, sob a perspectiva da neuro- ciência, permite a verificação de outras dificuldades além das de PA(C) presentes no mesmo indivíduo e evidencia a necessidade da aplicação de testes adi- cionais em outras modalidades e para outras fun- ções cognitivas para elucidar o diagnóstico 30 , mais especificamente testes auditivos e não auditivos 10 . Ressalta-se, ainda, a necessidade de se explo- rar de modo mais profundo e detalhado o quão sen- síveis são os testes PPST e SSI para dificuldades de atenção e o quão especifico é o teste SSW para determinar a presença de um TPA(C). Sugere-se isso porque na amostra do presente estudo os únicos participantes que falharam nesse teste, que foi determinante para sugerir a presença de déficits perceptuais auditivos, não apresentaram déficits nas habilidades do Neupsilin que sugerissem a pre- sença de dificuldades neuropsicológicas. Embora os achados preliminares desta investi- gação tenham sido elucidativos, mostram-se, ainda incipientes e restritos. É importante considerar que, apesar de rico em detalhes, foi utilizado um instrumento breve de avaliação neuropsicológica (Neupsilin) e, portanto, outros estudos devem ser promovidos com baterias completas. Pesquisas futuras devem abranger o exame da maior quan- tidade possível de componentes atencionais, mne- mônicos e executivos, funções que apresentaram maior associação com as habilidades de PA(C). Uma bateria breve oferece um panorama geral da cognição dos examinandos, mas não aprofunda a investigação de todos os componentes cognitivos, tal como o Neupsilin que não contempla a avalia- ção de atenção dividida direta e de funções execu- tivas de maneira mais completa. Estas habilidades parecem estar envolvidas nas tarefas que avaliam a função auditiva central e auxiliariam na resolução de algumas questões. Sugere-se a continuidade do estudo com o aumento da amostra e a aplicação de testes mais específicos por função cognitiva. Com o aumento das pesquisas em busca de um melhor entendi- mento das relações entre PA(C) e habilidades cog- nitivas, as dissociações e comorbidades poderão ser pormenorizadamente caracterizadas. De um modo geral, quanto a implicações clínicas diagnós- ticas, os achados do presente estudo sugerem a ausência de uma relação de causa-e-efeito entre déficits neuropsicológicos de funções específicas e TPA(C), que precisam ser melhor investigadas com a aplicação de mais testes 31 e utilizando recursos estatísticos mais apropriados. Em contrapartida, indica a ocorrência de uma comorbidade de déficits, em alguns casos, sugerindo a existência de uma sobreposição de habilidades cognitivas subjacen- tes a ambos os processamentos. Um TPA(C) real e verdadeiro, comprovado, é caracterizado por um déficit que ocorre primaria- mente quando o individuo se ocupa da informação auditiva e não quando uma informação similar é apresentada em outras modalidades sensoriais (por exemplo, visuais, táteis, olfatórias, etc.). Essa abordagem exige que comparações relevantes de tarefas similares sejam feitas em no mínimo duas modalidades sensoriais separadas. Modalidades auditivas e visuais são escolhas lógicas para a com- paração, porque ambas são canais principais para a comunicação. Podem ser úteis em determinar se os déficits perceptuais observados são específicos
  • 14. PAC e avaliação neuropsicológica  659 Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 de modalidade ou não. Já que o TPA(C) refere-se a déficits em processos perceptuais específicos auditivos, fatores não perceptuais auditivos preci- sam ser descartados antes que o diagnóstico seja estabelecido 2 . Além de medidas comportamentais, instrumentos e métodos diagnósticos, uma abor- dagem multidisciplinar de investigação que inclua métodos de neuroimagem, por exemplo, seriam procedimentos úteis na diferenciação de TPA(C) de outros transtornos do desenvolvimento cognitivo 32 . Considerando o que os autores já sinalizavam a respeito do entendimento dos TPA(C) desde 1995, pressupostos ainda reafirmados em 2005, mas com um olhar mais amplo nos diagnósticos, entende-se a importância da avaliação de PA(C) como parte da avaliação neuropsicológica. Portanto, ressalta- se que ambas devem ocorrer com o objetivo de que diagnósticos mais precisos e propostas de intervenção mais eficazes sejam promovidos. Res- salta-se a importância de pesquisas longitudinais com rigor metodológico para estudar melhor estas questões 33 . „„ CONCLUSÃO Os resultados desse estudo evidenciam a necessidade de se repensar o contexto da adminis- tração dos testes de PA(C). Em geral, há uma rotina de aplicação desses testes como parte integrante da bateria audiológica e nem sempre a análise transdisciplinar é realizada para que os clínicos e avaliadores obtenham o entendimento de cada caso apoiados nos princípios da neurociência. Acredita- se que a avaliação do PA(C) deveria ser analisada sob o viés neuropsicológico, assim como uma bate- ria neuropsicológica envolvendo estímulos verbais não poderia ser interpretada sem o conhecimento do status das habilidades de processamento audi- tivo. Nesse sentido, a avaliação de processamento auditivo deve ser administrada e interpretada em um contexto mais amplo da cognição, com racio- cínio clínico neuropsicológico no desempenho dos testes que avaliam a função auditiva central. A aná- lise da história clínica, avaliações neuropsicológicas e PA(C) devem andar juntas num processo de com- plementaridade em busca de uma maior garantia da acurácia de diagnóstico e da decisão de condu- tas terapêuticas. Espera-se que os resultados iniciais neste artigo abordados sejam um alerta a profissionais que atuam em avaliação e reabilitação da função audi- tiva central sobre o cuidado com os critérios diag- nósticos utilizados. „„ AGRADECIMENTOS Dedicamos um especial agradecimento a Fono- audióloga Sabrina Scherer pela importante contri- buição  nos procedimentos de avaliação audioló- gica dos participantes desta pesquisa. ABSTRACT Purpose: to check if there is a relation between the performance in auditory processing tests and in cognitive tasks. Methods: the sample was made up by 12 teenagers in typical development, all of them high-school students (third year) in private schools from Rio Grande do Sul, Brazil. They were evaluated through an auditory processing battery as well as with the Brazilian Brief Neuropsychological Assessment Battery NEUPSILIN. Data analyses included Person’s correlation and qualitative interests interpretationtowardsacomparisonoftheperformancein(C)AP’sbatteryandintheneuropsychological assessment. Results: regarding (C)AP’s battery, SSI – MCI – Synthetic Sentence Test with ipsilateral competitive message, SSW - Test of Alternated Disyllables and Digit Dicotics tests showed a significant strong positive correlation with NEUPSILIN’s subtests that follows: attention – reverse counting, face perception, oral language – automated language and repetition, episodic verbal memory and working memory – auditory word span in sentences. Some (C)AP’s tests presented a greater frequency of dissociation when compared to neuropsychological tasks. Correlation index suggest that (C)AP’s tests and neuropsychological tasks seem to evaluate some common basic cognitive abilities. The observed dissociation suggest that auditory and neuropsychological processing are partially independent on each other. The interests analysis confirms these results. Conclusion: there is a need to rethink about the administration of (C)AP’s tests, when it comes to the addition relation between neuropsychological assessment and auditory processing examination. KEYWORDS: Auditory Perception; Neuropsychological Tests; Neuropsychology; Adolescent
  • 15. 660  Prando ML, Pawlowski J, Fachel JMG, Misorelli MIL, Fonseca RP Rev. CEFAC. 2010 Jul-Ago; 12(4):646-661 „„ REFERÊNCIAS 1. American Speech-Language-Hearing Association – ASHA. (Central) Auditory processing disorders: technical report. 2005. [acesso em: agosto 2005]. Disponível em: URL: http: //www.asha.org/ members/deskref-journals/deskref/default. 2. Bellis TJ. Assessment and management of central auditory processing disorders in the educational setting: from science to practice. San Diego, USA: Singular Publishing Group; 2003. 3. Musiek FE, Chermak DD. Handbook of (central) auditory processing disorders: auditory neuroscience and clinical diagnosis. Vol. 1. San Diego, USA: Plural Publishing; 2007. 4. Moore DR. Auditory processing disorder (APD): definition, diagnosis, neural basis, and intervention. Audiol Med. 2006; 4(1):4-11. http://dx.doi. org/10.1080/16513860600568573 5. Musiek FE, Bellis TJ, Chermak GD. Nonmodularity of the central auditory nervous system: implications for (central) auditory processing disorder. Am J Audiol. 2005; 14(2):128-38. http://dx.doi. org/10.1044/1059-0889(2005/014) 6. Cacace AT, McFarland DJ. Central auditory processing disorder in school-aged children: a critical review. J Speech Lang Hear Res. 1998; 41(2):355-73. 7. Cacace AT, McFarland DJ. The importance of modality specificity in diagnosing central auditory processing disorder. Am J Audiol. 2005; 14(2):112-23. 8. Rosen S. “A riddle wrapped in a mystery inside an enigma”. Defining central auditory processing disorder. Am J Audiol. 2005; 14(2):139-42. http:// dx.doi.org/10.1044/1059-0889(2005/015) 9. Jerger  J, Musiek  F. Report of the consensus conference on the diagnosis of auditory processing disorders in school-age children. J Am Acad Audiol. 2000; 11(9):467-74. 10. Bellis TJ, Billiet C, Ross J. Hemispheric lateralization of bilaterally presented homologous visual and auditory stimuli in normal adults, normal children, and children with central auditory dysfunction. Brain Cognition. 2008; 66(3):280–9. 11. Lezak MD, Howieson DB, Loring DW. Neuropsychological assessment. 4. ed. New York, USA: Oxford; 2004. p. 375-413. 12. Willmes K. Methodological and statistical considerations in cognitive neurolinguistics. In: Stemmer B, Whitaker HA, organizadores. Handbook of neurolinguistics. San Diego, USA: Academic Press; 1998. p. 57-70. 13. Critério de Classificação Econômica Brasil – CCEB. [homepage na internet] [acesso em maio 2007]. Disponível em: URL: http://www.abep.org/ codigosguias/ABEP_CCEB_2003.pdf. 14. Auditec. Inc. St. Louis: MO USA. Disponível em: URL: http://www.auditec.com 15. Pereira LD, Schochat E. Processamento auditivo central: manual de avaliação. São Paulo: Lovise; 1997. 16. Pawlowski J. Evidências de validade e fidedignidade do instrumento de avaliação neuropsicológica breve Neupsilin. [dissertação]. Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2007. 17. Amaral RA, Malbergier A. Avaliação de instrumento de detecção de problemas relacionados ao uso do álcool (CAGE) entre trabalhadores da Prefeitura do Campus da Universidade de São Paulo (USP) – Campus Capital. Rev Bras Psiquiatr. 2004; 26(3):156-63. 18. Fonseca RP, Salles JF, Parente MAMP. Development and content validity of the Brazilian brief neuropsychological assessment battery Neupsilin. Psychol Neurosci. 2008; 1(1):55-62. 19. Fonseca RP, Salles JF, Parente MAMP. Instrumento de avaliação neuropsicológica breve: Neupsilin. São Paulo: Vetor; 2009. 20. Nijland L. Speech perception in children with speech output disorders. Clin Linguist Phonet. Mar 2009; 23(3):222-39. 21. Bamiou DE, Sisodiya S, Musiek FE, Luxon LM. The role of the interhemispheric pathway in hearing. Brain Res Rev. 2007; 56(1):170-82. 22. Baddeley A. Working memory and language: an overview. J Commun Disord. 2003; 36(3):189-208. 23. Strauss E, Sherman EMS, Spreen O. A compendium of neuropsychological tests. 3. ed. New York, USA: Oxford; 2006. 24. McCarthy RA, Warrington EK. Cognitive neuropsychology: a clinical introduction. London, UK: Academic Press Ltd; 1990. 25. Shinn JB, Baran JA, Moncrieff DW, Musiek FE. Differential attention effects on dichotic listening. J Am Acad Audiol. 2005; 16(4):205-18. 26. Katz J, Tillery KL. Can central auditory processing tests resist supramodal influences? Am J Audiol. 2005; 14(2):124-7. 27. Riccio CA, Cohen MJ, Garrison T, Smith B. Auditory processing measures: correlation with neuropsychological measures of attention, memory and behavior. Child Neuropsychol. 2005; 11(4):363-72. 28. Chermak GD, Hall JW III, Musiek FE. Differential diagnosis and management of central auditory processing disorder and attention deficit hyperactivity disorder. J Am Acad Audiol. 1999; 10(6):289-303.
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