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D. Sebastião

                                                  Décimo              sexto        rei         de
                                              Portugal, filho do príncipe D.
                                              João e de D. Joana de Áustria,
                                              nasceu        em    Lisboa        a       20    de
                                              Janeiro de 1554, e morreu em
                                              Alcácer Quibir, a 4 de Agosto
                                              de 1578. Sucedeu a seu avô D.
                                              João      III            sendo        o        seu
                                              nascimento               esperado              com
                                              ansiedade, enchendo de júbilo
                                              o povo, pois a coroa corria o
                                              perigo de vir a                 ser herdada
                                              por outro neto de D. João III,
o príncipe D. Carlos, filho de Filipe II de Espanha.
      De saúde precária, D. Sebastião mostrou desde muito cedo
duas grandes paixões: a guerra e o zelo religioso. Cresceu na
convicção de que Deus o criara para grandes feitos, e, educado
entre dois partidos palacianos de interesses opostos - o de
sua    avó    que   pendia     para    a    Espanha,    e    o    do    seu    tio-avô          o
cardeal D. Henrique favorável a uma orientação nacional -, D.
Sebastião, desde a sua maioridade, afastou-se abertamente dum
e   doutro,     aderindo     ao     partido    dos     validos,         homens       da       sua
idade, temerários a exaltados, que estavam sempre prontos a
seguir as suas determinações.
      Nunca    ouviu   conselhos       de    ninguém,       e     entregue      ao       sonho
anacrónico de sujeitar a si toda a Berbéria a trazer à sua
soberania      a    veneranda       Palestina,    nunca          se    interessou            pelo
povo, nunca reuniu cortes nem visitou o País, só pensando em
recrutar      um    exército    a     armá-lo,   pedindo          auxílio      a    Estados
estrangeiros, contraindo empréstimos a arruinando os cofres do
reino, tendo o único fito de ir a África combater os mouros.
Chefe de um numeroso exército, na sua maioria aventureiros
e miseráveis, parte para a África em Junho de 1578; chega
perto   de   Alcácer    Quibir   a   3   de    Agosto   e   a   4,   o   exército
português esfomeado a estafado pela marcha e pelo calor, e
dirigido     por   um   rei   incapaz,   foi    completamente        destroçado,
figurando o próprio rei entre os mortos.


   Ficha genealógica:
   D. Sebastião, nasceu em Lisboa, a 20 de Janeiro de1554;
faleceu em Alcácer Quibir, a 4 de Agosto de 1578; sepultado em
1582    no   Mosteiro     dos    Jerónimos.      Morreu     solteiro      e   sem
descendência.
Cardeal D. Henrique

                                                  Filho do rei D. Manuel e
                                             da       segunda       mulher       deste,    D.
                                             Maria, foi o quarto na ordem
                                             varonil         dos      filhos          daquele
                                             rei.
                                                  A          sua      educação            foi
                                             orientada              para         a       vida
                                             eclesiástica, recebendo sólida
                                             cultura,              que       lhe          foi
                                             ministrada            por     sábios        como
                                             Pedro Nunes, Nicolau Clenardo
                                             e Aires Barbosa. Um cronista
                                             do tempo define-o como de sua
condição encolhido, e vergonhoso (...) pouco mimoso e severo,
continente e temperado nas palavras».
      A sua carreira eclesiástica iniciou-se aos 14 anos, ao ser
investido como prior comendatário de Santa Cruz de Coimbra.
Seis anos depois recebeu a administração do arcebispado de
Braga. Em 1540 é feito arcebispo de Évora. Nesta cidade cria
uma     pequena     corte      de     letrados,             músicos,        cantores        a
charameleiros,      que     faziam       parte    da    sua        casa    episcopal.       A
protecção que dispensou à cultura até 1562 permite considerá-
lo como um príncipe de ideal renascentista. Entretanto fora
nomeado, em 1539, inquisidor-geral do reino, em 1545 cardeal e
sete anos mais tarde legado apostólico em Portugal.
      Em 1562 obteve a arquidiocese de Lisboa, mas doze anos
depois transferiu-se de novo para Évora. Foi graças aos seus
esforços    que    se   criou,      em    1559,       uma    Universidade             naquela
cidade alentejana, tendo o cardeal ajudado ao desenvolvimento
dessa    instituição.       Como    prelado       e    inquisidor          foi       defensor
extreme    de     princípios        religiosos         que     concebia          de     forma
altamente conservadora. A sua importância política começa a
sobressair durante a menoridade de D. Sebastião, tendo sido
regente de 1562 a 1568, opondo-se às pretensões de D. Catarina
de     Áustria,       adepta      da     ingerência      espanhola     na     política
portuguesa.
     Nos primeiros anos após a maioridade de D. Sebastião, D.
Henrique é o seu principal orientador. Mas desentendem-se, e
partir de 1572, e o cardeal voltará a Évora onde, em Janeiro
de 1578, recusa o seu consentimento à expedição a Marrocos.
Subindo ao trono após o desastre de Alcácer Quibir, começa por
tentar    resolver         o   problema     da   sucessão    ao    trono    em   termos
nacionais, convocando cortes para Almeirim a projectando o seu
casamento       com    a       rainha-mãe     de   França.    Mas     a     influência
espanhola cada vez maior em Portugal, as rivalidades entre os
vários pretendentes ao trono, a ruína financeira do País a
outros    factores         fizeram     da    última   fase    do    reinado      de   D.
Henrique    um       período     de    indecisão;     eximindo-se     a     nomear    um
herdeiro da coroa, preferiu deixar o problema em suspenso,
escolhendo cinco governadores para o substituírem após a sua
morte.


     Ficha genealógica:
     D. Henrique, nasceu em Lisboa, a 31 de Janeiro de 1512 e
morreu em Almeirim a 31 de Janeiro de 1580. Foi sepultado na
capela-mor da igreja do Paço de Almeirim, e transferido em
1582     para    o    Panteão      dos      Jerónimos.    Cardeal     de     Portugal,
arcebispo de Braga, Lisboa e Évora, morreu sem descendência.
D. António prior do Crato

                                                     Nasceu em Lisboa, filho de
                                               uma     mulher             do    povo       e    do
                                               infante D. Luís.
                                                     Seu     pai        desejava         que    ele
                                               seguisse a vida eclesiástica e
                                               a sua educação processou-se em
                                               sucessivos                   mosteiros             e
                                               colégios              religiosos,           tendo
                                               tido     por          mestres         o    grande
                                               humanista Fr. Diogo de Murça,
                                               o     padre          Simão      Rodrigues         de
                                               Azevedo,             o       teólogo        Pedro
                                               Margalho a D. Frei Bartolomeu
dos Mártires.
     Com a morte de seu pai decide romper com a carreira que lhe
tinha sido imposta. Já prior do Crato e com as ordens de
diácono, recusa a ordenação de presbítero e comporta-se como
pessoa secular. Por esse motivo, seu tio o cardeal D. Henrique
manifesta-lhe um ódio declarado, o que o leva a exilar-se em
Castela,     em     várias      ocasiões,      durante          a       menoridade         de    D.
Sebastião. Com a subida ao trono deste monarca e gozando da
sua estima, D. António desempenha o cargo de governador de
Tânger.
     Obtém, então, dispensa do papel das ordens de diácono. Toma
parte   na   batalha       de       Alcácer   Quibir    e       é    feito      prisioneiro.
Resgatado,     regressa         a    Lisboa   para     chefiar            um   dos       partidos
nacionais que se opunham à candidatura de Filipe II ao trono
português.     O    prior       do    Crato   baseava       a       sua     candidatura          na
situação de filho legitimado do infante D. Luís, segundo filho
de D. Manuel, uma vez que não havia descendentes directos de
D.   João    III.    Era     necessário,       todavia,         provar         o   matrimónio
secreto de seus pais. Organiza-se um processo a D. António
obtém       uma    sentença            favorável,              mas      a    actuação             pessoal     do
cardeal-rei, que contesta aquela decisão, culmina numa nova
sentença desfavorável.
      Com    a    morte      do       cardeal,           as       tropas        filipinas          entram     em
Portugal. Os partidários do prior do Crato aclamam-no rei em
Santarém;         Lisboa      e       Setúbal           recebem-no              vibrantemente          e,     em
breve, quase todos os burgos do reino alinham a seu lado. Mas,
não     dispondo        de    exército                 organizado,           nem       de        recursos,     é
derrotado na batalha de Alcântara pelo exército castelhano.
Consegue fugir com dificuldade para o estrangeiro onde, nas
cortes de França a de Inglaterra, procura obter auxílio para
lutar contra Filipe II.
      Duas       esquadras        francesas              enviadas           à     Ilha       Terceira        são
derrotadas sucessivamente pelos castelhanos. A Terceira perde-
se, como último bastião de D. António. Vivendo miseravelmente
em França, a expensas de Catarina de Médicis resolve passar à
corte       de    Isabel     I        pedindo          novo       auxilio.            Os    ingleses        como
represália         contra         o    ataque           da     Invencível             Armada,        resolvem
enviar       a    Portugal            uma        esquadra,           comandada             por     Drake.     D.
António desembarca em Peniche mas sofre novo desaire. Regressa
a   França        e,    depois         de        ter    conseguido               um   novo        auxílio     de
Henrique         IV,    morre         em     Paris        de      uma       crise      de        uremia,     sem
realizar o projecto por que tanto lutou.


      Ficha genealógica:
      D. António nasceu em Lisboa, em 1531, tendo falecido em
Paris,       a    26    de   Agosto              de     1595,        tendo        sido       enterrado        no
Convento de S. Francisco da mesma cidade. Era filho natural ou
legitimado         do   infante             D.    Luís        e    de   Violante            Gomes,     mulher
plebeia. Foi rei de Portugal desde 19 de Junho de 1580, data
da sua aclamação em Santarém, até à derrota de Alcântara, a 25
de Agosto seguinte.
      Nunca       resignou        aos       seus        direitos            e,    embora          exilado     em
França e na Inglaterra, manteve luta armada contra Filipe II,
nos Açores (1582-1583) a em Lisboa (1589). De várias mulheres
teve 10 filhos, sendo os mais conhecidos:
   1.   D.   Manuel   de   Portugal   (n.   em   Lisboa,   1568;   f.   em
Bruxelas, a 22 de Junho de 1638), acompanhando seu pai no
exílio e vivendo em França, na Inglaterra a na Flandres. Casou
em 1597 com Emília de Nassau, princesa de Orange, dela se
separando em 1625 por motivos de ordem religiosa;
   2. D. Cristóvão de Portugal (n. em Tânger, em Abril de
1573; f. em Paris, a 3 de Junho de 1638). Viveu também no
estrangeiro, sustentando a causa paterna e, após a morte de D.
António, manteve vivo o mesmo ideal.
Filipe           II       de        Espanha                   e          I        de
Portugal

                                                n. 1527
                                                f. 13 de Setembro de 1598
                                                O Prudente.
                                                Nasceu        em     Valladolid          em
                                          1527, faleceu no Escurial a 13
                                          de Setembro de 1598. Era filho
                                          de     Carlos        V,        imperador       da
                                          Alemanha,       e    da    imperatriz          D.
                                          Isabel,       filha        de       el-rei     D.
                                          Manuel, de Portugal.
                                                Casou em 15 de Novembro de
                                          1543,     contando             16     anos     de
                                          idade, com a infanta D. Maria,
                                          que     também       contava          a   mesma
idade, filha de D. João III e da rainha D.: Catarina, a qual
faleceu dois anos depois, a 12 de Julho de 1545. Ficando viúvo
aos 18 anos, Filipe assim se conservou até 1551, em que casou
com   Maria      Tudor,   rainha   de     Inglaterra,         e     foi       residir    em
Londres, mas tornou-se tão pouco simpático aos ingleses, que
estes, com o maior prazer o viram partir em 1555 para os
Países     Baixos,     cujo     governo        Carlos    V     lhe        cedeu,       como
anteriormente lhe cedera, um ano antes, o governo de Nápoles e
da Sicília, e como lhe cedeu mais tarde, em 1556, a coroa de
Espanha,    quando     completamente       abdicou       para       se    recolher       no
mosteiro    de    S.   Justo.   Filipe    enviuvou        também         da    rainha    de
Inglaterra, falecida em 1558, e tornou a casar, pela terceira
vez, com a princesa de França, Isabel de Valois, filha de
Henrique II. Não seguiremos a vida deste monarca, senão depois
de se ter apoderado de Portugal em 1530.
Depois da morte de el-rei D. Sebastião na funesta batalha
de Alcácer Quibir, Filipe pensou na posse do trono português,
com    as   maiores      esperanças,    por    ver      aclamado      o    cardeal       D.
Henrique,       velho    decrépito,     de     quem      não    se       podia       recear
sucessão. Era, porém, preciso antes da sua morte, assegurar a
posse do trono, e para isso empenhou, todos os meios, intrigas
e dinheiro para ganhar ao seu partido a corte de Portugal,
conseguindo       assim       chamar   para    seu       lado       muitos         fidalgos
portugueses. Os pretendentes, que eram sete, disputavam entre
si a posse do reino, mas; desses sete, contavam-se cinco que
baseavam as suas pretensões em fundamentos aceitáveis. Estes
cinco eram: Filipe do Espanha, que alegava ser filho de D.
Isabel, filha primogénita de D. Manuel, que casara com Carlos
V; o duque de Sabóia dizia ser filho da infanta D. Beatriz,
filha do referido monarca, que casara com seu pai o duque de
Sabóia; D. António, prior: do Crato, alegava ser filho natural
do infante D. Luís, igualmente filho de el-rei D. Manuel; o
duque    de    Parma,    o    ser   neto,    por   sua       mãe,   do    príncipe       D.
Duarte, filho também de D. Manuel; e a duquesa de Bragança, D.
Catarina, alegava ser filha do mesmo príncipe. Os dois, que
menos direito mostravam, eram Catarina de Medicis, rainha de
França,       dizendo-se      descendente     de   D.    Afonso      III       e    de   sua
primeira mulher, a condessa Matilde de Bolonha, e finalmente o
papa, que se dizia herdeiro natural dos cardeais, e entendia
portanto dever usufruir o reino que um cardeal governava como
podia   usufruir        uma   quinta   de   que    fora      possuidor.        Os     cinco
primeiros é que apresentavam títulos valiosos, e entre esses
só três disputavam seriamente entre si a coroa: Filipe, D.
António, prior do Crato, e a duquesa de Bragança. Cem a morte
do    cardeal    D.     Henrique    ainda     mais      se    acendeu      a       intriga.
Cristóvão de Moura, o português renegado que estava sendo em
Portugal o agente infernal do rei de Espanha, conhecido pelo
demónio do meio-dia, enleava tudo nas redes da sua diplomacia
corruptora, espalhando ouro castelhano, com que comprava as
consciências que quisessem vender-se: Filipe II, em Espanha,
seguia   com       ansiedade       a    marcha     dos    acontecimentos,         e    de    lá
dirigia os planos e auxiliava a politica do seu emissário. O
reino    ficara,        entregue         a    cinco       governadores        vendidos        a
Cristóvão de Moura, os quais, receando do povo que se agitava;
hesitavam em reconhecer Filipe como rei de Portugal. Vendo
isto, o monarca castelhano dispôs-se a conquistar o reino pela
força das armas, empresa fácil, porque os governadores das
praças   já     eram,    na    maior         parte,     criaturas       de   Cristóvão       de
Moura.     D.      António,    prior         do    Crato,       fizera-se     aclamar        em
Santarém, mas dispunha de poucas tropas. Apesar disso, Filipe
reuniu um poderoso exército, cujo comando confiou ao general
duque de Alba; confiou ao marquês de Santa Cruz o comando duma
esquadra, e conservou-se próximo da fronteira de Badajoz. O
duque de Alba marchou sobre Setúbal; conquistando facilmente o
Alentejo, atravessou para Cascais na esquadra do marquês de
Santa Cruz, marchou sobre Lisboa, derrotou o prior do Crato na
batalha de Alcântara, a 4 de Agosto de 1580, perseguiu-o até à
província do Minho, e preparou enfim o reino para receber a
visita do seu novo soberano. (V. António, D.).
   Filipe, em 9 de Dezembro, atravessou a fronteira, entrou em
Elvas, onde se demorou dois meses recebendo nesta sua visita
os cumprimentos dos novos súbditos, sendo um dos primeiros que
o veio saudar o duque de Bragança. A 23 de Fevereiro de 1581
saiu de Elvas, atravessou triunfante e demoradamente todo o
país, e a 16 de Março entrou em Tomar, para onde convocara
cortes, e ali distribuiu as primeiras recompensas, e ordenou
os primeiros suplícios e confiscos, e recebeu a notícia de que
todas    as     colónias       portuguesas              haviam    reconhecido         a     sua
soberania, exceptuando a ilha Terceira, onde se arvorara a
bandeira      do    prior     do       Crato,     que    fora    ali,    jurado       rei    de
Portugal a 16 de Abril de 1581. Nessas cortes prometeu Filipe
II respeitar os foros e as isenções de Portugal, e nunca lhe
dar para governador senão um português ou um membro da família
real.     Entendendo          que      devia       demorar-se          algum           tempo       no
território           português,      expediu          de    Lisboa          as       tropas        que
subjugaram, depois de porfiada luta, a resistência da ilha
Terceira, em que D. António fora auxiliado pela França, e só
partiu para Espanha, quando a vitória naval de Vila Franca, em
que o marquês de Santa Cruz destroçou a esquadra francesa em
26 de Julho de 1582, lhe garantiu a definitiva submissão da
referida       ilha.        Nomeando        para       vice-rei        de        Portugal          seu
sobrinho,        o    cardeal-arquiduque              Alberto,     e    depois             lhe     ter
agregado um conselho de governo, e de ter nomeado os membros
do conselho de Portugal, que devia funcionar em Madrid, partiu
finalmente a 11 de Fevereiro de 1583 para Espanha. A 29 de
Agosto conquistava o marquês de Santa Cruz a ilha Terceira. A
nova monarquia hispano-lusitana era opulentíssima; abrangia na
Europa     toda       a    península      ibérica,         Nápoles,     Sicília,              Milão,
Sardenha e Bélgica actual; na Ásia as feitorias portuguesas da
Índia, da Pérsia, da China, da Indochina, e a da Arábia; na
África: Angola, Moçambique, Madeira. Cabo Verde, S. Tomé e
Príncipe, Canárias, toda a América menos algumas das Antilhas,
parte dos actuais Estados Unidos e o Canadá, e urnas porções
de   terrenos         na   Guiana;     na      Oceânia      tudo   o    que          então       havia
conhecido e pertencente aos europeus. Nenhuma outra nação ali
fora     ainda       assentar   domínio.         As    Molucas     eram          a    parte       mais
importante dessas possessões.
     A    Europa          principiou      a     assustar-se        com           este       poderio
colossal, receosa de que por este caminho Filipe chegasse a
realizar o sonho ambicioso de monarquia universal. Sucederam
se     então     importantes         acontecimentos           políticos,              em     que    a
Inglaterra aproveitou para se vingar de Filipe, de quem se
considerava          ofendida.       As       coisas       complicaram-se             gravemente
porque Isabel, de Inglaterra, mostrou-se disposta a auxiliar
as pretensões do prior do Crato, e o almirante Drake, por
ordem     superior,         invadiu       as    colónias       espanholas,              que       eram
também as portuguesas, saqueando Cabo Verde, tomando o castelo
do Cabo de S. Vicente, e apresando quantos galeões americanos
cruzavam nos mares dos Açores. Foi então que Filipe organizou
a célebre Armada Invencível, comandada pelo duque de Medina
Sidónia, que uma tempestade aniquilou por completo, em Junho
de   1588.     (V.    Armada    Invencível).        As    ambições       de    Filipe       II
foram profundamente ruinosas para as nossas colónias. Em 1589
fechara aos ingleses os Portos portugueses e em 1591 fechou-os
também aos holandeses Daí resultou que não podendo nem uns nem
outros vir buscar a Portugal os géneros do Oriente, lembraram-
se de ir à, fonte desse comércio. Os holandeses começaram a
aparecer no seu tempo no Oriente, onde a nossa decadência era
sensível, e onde depois da perda da nossa independência só
dois   capitães       ilustres,      D.    Paulo    de    Lima     Pereira         e    André
Furtado      de    Mendonça,    tinham         mantido   nobremente       a        honra    da
bandeira          portuguesa.       Os     ingleses       salteavam           as       nossas
possessões        mais   próximas,       Cabo    Verde    e   os    Açores,         mas    não
tardariam também a aparecer no Oriente favorecendo a natural
reacção dos indígenas contra o nosso domínio.
     Em Portugal houve duas tentativas de revolta, promovidas
pela aparição de dois homens em quem o povo julgou ver D.
Sebastião, e que por isso tiveram a denominação de rei de
Penamacor e de rei da Ericeira. O motim promovido por este
último tomou proporções gravíssimas, e foi reprimido dum modo
sanguinário e violentíssimo. Filipe II, apesar da destruição
da Armada Invencível, não desistiu das suas expedições contra
a Inglaterra, e ainda em 1596 enviou urna à Irlanda que também
os temporais dispersaram, perdendo a Espanha neste desastre 40
navios. Filipe enviuvou pela terceira vez, e casou novamente
com uma segunda prima, Ana de Áustria, que faleceu em 1580,
quando estava com seu marido em Badajoz, seguindo o progresso
das armas castelhanas em Portugal, deixando-o pela quarta vez
viúvo.     Filipe        II   teve       uma    série    de   primeiros-ministros
notáveis: o duque de Alba, que morreu em Lisboa dois anos
depois    da      conquista;    o    príncipe      de    Eboli     que   morreu         muito
antes do rei; António Peres, que lhe sobreviveu, mas que ele
perseguiu implacavelmente; o cardeal de Granville, que depois
de ter perdido todo o valimento, o recuperou e foi chamado de
Nápoles para ficar como regente do reino em Madrid, enquanto o
rei vinha a Portugal; e Cristóvão de Moura, que foi o valido
da última hora, o que recebeu o seu derradeiro suspiro e as
suas derradeiras confidencias. Pouco tempo antes de morrer, o
cardeal-arquiduque Alberto, vice-rei de Portugal, fora nomeado
soberano de Flandres, e para o substituir em Portugal nomeou
um conselho composto do arcebispo de Lisboa, dos condes de
Portalegre, de Sabugal e de Santa Cruz, e de Miguel de Moura.
Foi este o último acto importante do seu reinado.
      Com a Universidade de Coimbra deu-se o seguinte facto, logo
no começo do reinado de Filipe. Em Fevereiro de 1580, pouco
depois da morte do cardeal rei D. Henrique, apresentou-se ao
claustro da Universidade o Dr. João Nogueira, com uma provisão
dos    governadores     do    reino,       na       qual   permitiam     a   todos   os
lentes,    que    não   fossem      desembargadores,          dar    o   seu     parecer
dentro de oito dias, sobre a sucessão do trono. Quis, porém, a
má estrela da Universidade, que D. António, prior do Crato,
lhe escrevesse uma carta, datada de Santarém aos 20 de Junho
do mesmo ano, dando conta de ter sido aclamado rei em diversos
lugares do reino. A Universidade resolveu em claustro que se
fizesse uma procissão, em acção de graças, desde a sua capela
até Santa Cruz; e no mesmo claustro foram eleitos, para irem
dar obediência ao nosso rei, reconhece-lo como tal e fazer-lhe
a entrega da protectoria, o reitor Fernão Moniz Mascarenhas e
Fr. Luís Sotto-mayor. Em 13 de Dezembro voltou o reitor, disse
em claustro que era desnecessário dar conta do desempenho da
sua missão, pois de todos era já sabido que o rei de Castela
estava    reconhecido        como    rei       de     Portugal.     Em   vista     desta
declaração       deliberou-se       que    o        próprio   reitor,     encarregado
havia pouco de cumprimenta o prior do Crato, fosse agora com
os lentes da sua escolha, dar obediência a Filipe I. Este acto
cerimonial    realizou-se        em    Elvas      a    20    de    Dezembro      de    1580,
sendo a Universidade representada por D. Jorge de Ataíde e D.
Afonso     Castelo    Branco.     Tornou-se           a     fazer      outra     procissão
solene, quando o reitor, em voltando, trouxe carta de el-rei,
datada de Elvas a 25 de Fevereiro de 1581, na qual significava
o contentamento que sentira pela obediência da Universidade, e
com o ser declarado seu protector. Mas Filipe não era homem
que deixasse sem castigos os sentimentos que a Universidade
manifestara ao prior do Crato. Pedro de Alpoim, colegial de S.
Pedro e lente do Código, foi degolado em Lisboa; Fr. Luís de
Sotto-mayor       privado   da        cadeira     grande          de    Escritura;          Fr.
Agostinho    da    Trindade,      da    de    Escoto;        Fr.       Luís    foi    depois
restituído, mas Fr. Agostinho ausentou-se para França, e foi
lente de Teologia na Universidade de Tolosa; João Rodrigues de
Vasconcelos, que trouxera a carta do prior do Crato, foi preso
e morreu na prisão. Outro facto é também digno de narrar-se;
pela provisão de 9 de Março de 1583 foi Manuel de Quadros
nomeado visitador e reformador da Universidade; tomou posse do
cargo e prestou, juramento a 21 de Março do mesmo ano. O
visitador     vinha    encarregado           de   construir            escolas       para    a
Universidade, mas os seus esforços estacaram afinal pela falta
de dinheiro. A Universidade pediu a Filipe I que lhe cedesse
os paços reais para neles se assentarem as escolas, que lá
estavam havia já 40 anos. O rei respondeu, em 30 de Setembro
do referido ano de 1583, que, embora desejasse fazer muitas
mercês à Universidade, não era conveniente a seu serviço dar-
lhe   os   seus    paços,   que        aliás,     em      sendo        desocupados      pela
Universidade, tencionava mandar concertar, para poder em algum
tempo ir a eles, como desejava. Filipe nunca realizou o desejo
que disse ter de ir aos paços de Coimbra. Anos depois, em
1597, o mesmo monarca vendeu à Universidade esses mesmos paços
por 30 mil cruzados. Neste sentido foi expedido um alvará em
17 de Maio de 1597, e se fez a carta de venda, em nome de el-
rei, a 16 de Setembro do mesmo ano. No reinado de Filipe I
recebeu a Universidade estatutos por duas vezes, uma em 1592,
sendo   trazidos   de   Madrid    pelo     Dr.    António   Vaz    Cabaço,
resultantes   da   reformação    operada    por    Manuel   de    Quadros;
outra, os novos estatutos confirmados em 8 de Junho de 1597, e
trazidos de Madrid pelo Dr. Rui Lopes da Veiga.
   Filipe I, o rei ambicioso e desumano, que todos esmagava
com o seu feroz despotismo, faleceu coberto de vermes e de
úlceras, depois dum doloroso e demorado sofrimento.
Filipe                III         de        Espanha                     e       II          de
Portugal

                                                      n. 1578
                                                      f. 31 de Março de 1621
                                                      O Pio. Nasceu em Madrid em
                                                1578, onde também faleceu em
                                                31 de Março de 1621. Era filho
                                                de Filipe II, e de sua quarta
                                                mulher, D. Ana de Áustria.
                                                      Subiu          ao    trono      em    1598,
                                                contando             20   anos     de      idade.
                                                Tinha         um          carácter         fraco,
                                                apático          e     irresoluto,         e    foi
                                                completamente               dominado           pelo
                                                seu ministro duque de Lerma,
                                                D.    Cristóvão            de    Moura,         que
fora elevado a marquês de Castelo Rodrigo, e nomeado vice-rei
de Portugal, o que muito indignou os portugueses, apesar da
sua administração ser das mais hábeis, segundo consta. O duque
de Lerma procurava um pouco favorecer Portugal e cimentar a
união    dos    dois     reinos      da     península,           adoptando         medidas       de
grande    importância.          Assim       tratou    tanto          quanto      possível        do
desenvolvimento          da    marinha,        aboliu        os        Portos      secos,        as
alfândegas, abriu os Portos de Portugal ao comércio inglês, e
por algum tempo também os abriu ao comércio holandês, mas essa
ultima     medida      pouco       tempo     durou,      o       que      prejudicou        muito
Portugal. Em 1609, vendo que não podia lutar por mais tempo
com os estados da Holanda, assinou com eles uma trégua de doze
anos,     mas   tão      ineptamente         procedeu        o       marquês     de      Castelo
Rodrigo     que,      assinando         a    trégua      na       Europa,        deixou         que
continuassem        as        hostilidades         nas        colónias,            onde        mais
prejudiciais       eram       ao   país.     Por     essa        mesma      época       publicou
Filipe III um edito expulsando definitivamente de Espanha os
descendentes dos mouros. Depois da conquista de Granada por
Fernando       o    Católico,       esses       moiros      tinham         sido       forçados       a
abraçar     o       Cristianismo,         formavam          uma    massa         de        população
submissa,       industriosa,          cultivando         admiravelmente                a    terra    e
enriquecendo         o     Estado,    mas       o    fanatismo        espanhol             não   lhes
perdoava        a    sua     origem.       A    sua     expulsão           foi      uma       grande
fatalidade para a península, que perdeu perto de um milhão doa
seus     habitantes          mais      industriosos,              e        arruinou          a     sua
agricultura e a sua indústria. Desses desgraçados, os que se
recusavam a abandonar a pátria, eram perseguidos como feras e
assassinados, ficando somente as crianças de menos de 7 anos,
que se venderam como escravas, depois de se baptizarem. Esta
expulsão dos moiros não foi movida só pelo fanatismo, porque
Filipe III tratava ao mesmo tempo com os judeus de Portugal
para os proteger contra os rigores da Inquisição, a troco dum
subsídio importante. Ao marquês de Castelo Rodrigo sucedera no
governo de Portugal o bispo de Coimbra, a este o bispo de
Leiria,    voltara          depois    ao       marquês,      novamente            ao       bispo    de
Leiria,    ao       arcebispo    de       Braga,       ao    arcebispo        de          Lisboa,    e
finalmente ao marquês de Alenquer, espanhol de origem, e que
por    conseguinte           estava       completamente           fora        das          condições
estipuladas         pelas     cortes       de   Tomar.       O    descontentamento                 dos
portugueses         era    geral,     e    Filipe       III,      que      não    o        ignorava,
empreendeu uma viagem a Portugal, resolução que muito aplaudiu
o novo ministro e valido, o duque de Uzeda, filho do duque de
Lerma, que descaíra do valimento real, e se havia afastado da
corte.     A        viagem     realizou-se             em     1619.         Dela           ficou     a
interessantíssima             narrativa             ilustrada         de     João           Baptista
Lavanha, e que, embora impressa em Madrid, o foi à custa da
cidade de Lisboa. O soberano foi acolhido por toda a parte com
o maior entusiasmo, as câmaras e as corporações portuguesas
gastaram enormes somas para uma pomposa recepção, esperando
grandes    proveitos          desta       viagem,      imaginando           que       o     soberano
daria providencias contra os danos de que todos se queixavam
das arbitrariedades dos governadores. Filipe III, porém, nada
fez, nem sequer soube cativar simpatias. Insinuou-se-lhe que
fizesse de Lisboa a capital da vasta monarquia espanhola, e
Filipe     nem        se     dignou              responder;        os         fidalgos          e     os
jurisconsultos queixaram-se de que nem recebiam mercês, nem
eram      empregados             nos     tribunais,               nas      embaixadas,               nas
universidades         espanholas,            e     Filipe        não    fez     o    mínimo         caso
destas reclamações. O duque de Uzeda, muito menos hábil que
seu pai tratou com aspereza o duque de Bragança, que viera
também    prestar      homenagem             à    majestade        castelhana.            Depois      de
estar alguns mexes em Lisboa, sem fazer mais do que causar
grandes     despesas             aos    seus           súbditos         portugueses,            Filipe
retirou-se       em    Outubro          do       referido        ano     de     1619,       deixando
Portugal     descontentíssimo,                    agravando-se            ainda          mais       esse
descontentamento, depois da sua saída, com a recondução do
marquês    de    Alenquer          no    cargo         de   vice-rei          de    Portugal.         Na
Índia,    contudo,         mantinha-se            o     nosso     domínio,          ainda    que,      a
muito    custo;       os    holandeses            já    tinham         tentado      tomar-nos         as
Molucas, Malaca e Moçambique, mas batidos por André Furtado de
Mendonça e Estêvão de Ataíde, haviam desistido dessa empresa.
Na América também os holandeses ainda não tinham atacado as
nossas colónias. Filipe III casou com D. Margarida de Áustria,
filha do arquiduque Carlos, no dia 18 de Abril de 1599. Ao
sair de Portugal Filipe adoeceu gravemente em Covarrubias, e
nunca    mais    se    restabeleceu,               falecendo           pouco       mais   dum       anuo
depois.     Diz-se         que     a    sua       morte     foi        devida       ao    rigor       de
etiqueta, porque sentindo-se muito incomodado com o calor dum
braseiro, teve de o suportar enquanto não apareceu o fidalgo,
que pela sua hierarquia, segundo as praxes palacianas, era
encarregado de o fazer remover para outro lugar. No Panorama,
vol. II da 2.ª série, 1843, a pág. 218, 238 e 253, vem uma
narrativa       intitulada         O    Brazeiro,           em    que     se       descreve         este
facto. No seu reinado publicou-se a reforma das Ordenações do
reino, que Filipe II tratou logo no começo do seu reinado;
apesar de já estar concluída em 1597, só veio a publicar-se em
1603. São as conhecidas ordenações denominadas Filipinas, e
que na ordem dos tempos foram precedidas pelas intituladas
Afonsinas e Manuelinas.
Filipe        IV     de        Espanha                e           III        de
Portugal

                                               n. 8 de Abril de 1605
                                               f. 7 de Setembro de 1665
                                               O Grande. Nasceu em Madrid
                                         a    8   de   Abril       de   1605,      onde
                                         também faleceu a 7 de Setembro
                                         de 1665. Era filho de Filipe
                                         III, de Espanha, e da rainha
                                         sua      mulher,     D.    Margarida        de
                                         Áustria.
                                               Em 14 de Julho de 1619 foi
                                         jurado príncipe de Portugal, e
                                         aos 16 anos de idade, em 1621,
                                         sucedeu no trono por morte de
                                         seu pai. Logo no começo do seu
reinado chamou para junto de si D. Gaspar de Guzman, que fez
conde-duque de Olivares, que se tornou o seu ministro e valido
homem em que depositava a maior confiança e a quem entregou
completamente a administração dos negócios do Estado. O novo
valido era mais activo e mais inteligente que os anteriores
ministros, os duques de Lerma e de Uzeda, mas pela sua má
política, foi mais prejudicial do que eles ao rei e aos países
que   governava.    Julgando     conseguir        os   seus     fins        adoptando
medidas     rigorosas,   tomou    tais       providências       com      relação      a
Portugal,     que   provocou     a   maior        resistência.          O    que     os
portugueses aceitaram de bom grado, serenando mais os ânimos
irrequietos, foi a demissão do marquês de Alenquer, que era o
vice-rei de Portugal, substituindo-o por uma junta de três
membros, composta do conde de Basto, D. Nuno Alvares Portugal
e o bispo de Coimbra. Seria decerto um bom ensejo para se
entrar numa politica conciliadora, muito mais, conhecendo-se a
irritação que lavrava em Lisboa e nas províncias, mas o conde-
duque não viu ou não quis ver a gravidade da situarão, e
seguiu um caminho cheio de precipícios. Promulgou, em nome do
rei,    decretos            sobre         bens     da        Coroa,      sobre       a     fiscalização
financeira,           que    feria         os    interesses             do    povo,       decretos       que
começaram a suscitar grande indignação; arrancou tributos ao
país, a título de subsídios voluntários, publicou fechar outra
vez    os    Portos         do    reino         aos     holandeses,           medidas        que       muito
contribuíram           para       a       ruína         do     país,         que     tivera      algumas
esperanças de lucrar com a actividade e inteligência do novo
ministro      e       valido.         A     esta        situação         pouco       tranquilizadora
sobrevieram factos que seriamente inquietavam o conde-duque, e
que o obrigaram a empregar toda a energia.
      A trégua com as Províncias Unidas estava concluída, e a
luta recomeçava não muito desvantajosa na Europa, onde Spínola
mantinha o prestigio das armas espanholas, mas nas colónias,
onde    o   desmoronamento                 estava       sendo       completo,            principalmente
nas colónias portuguesas menos protegidas que as de Espanha,
pelo egoísmo inepto do governo de Madrid. Em 1623, Ormuz caiu
em poder dos persas auxiliados pelos ingleses; em 1624, os
holandeses tomaram Baía; no entretanto, Macau e a Mina foram
heroicamente           defendidas;              repeliram          os    holandeses,         e     a    Baia
foi-lhes reconquistada em 1625, por uma forte esquadra, que o
conde-duque           de    Olivares         mandou          rapidamente            aprestar,          com    o
auxílio      do       patriotismo           português,             então     vivamente        excitado.
Contudo, o ministro bem calculava que os holandeses deveriam
continuar         a    inquietá-lo,              porque        a    França         aliara-se       com       os
protestantes da Alemanha, com a Dinamarca e a Holanda, sendo
um    dos    planos         desses         aliados       o     enfraquecimento              da   Espanha
pelos       repetidos            assaltos          dados           ás    suas        colónias          pelas
esquadras holandesas. Para resistir àquela aliança, entendeu
Olivares que devia ligar fortemente os diferentes reinos que
constituíam a monarquia espanhola, quebrando os foros e as
isenções que cada um deles guardava com a maior tenacidade.
Para realizar esse plano começou por enfraquecer os diversos
reinos,         exigindo-lhes           pesados       impostos,          especialmente           a
Portugal, que no plano tributário ocupava o primeiro lugar. O
conde-duque de Olivares, de tal forma o oprimiu que o povo se
revolucionou, cansado de tantas violências. Não tendo já sobre
que lançar impostos, chegou até a tributar as maçarocas, o que
amotinou        as       regateiras      do    Porto,    que       correram        à     pedrada
Francisco de Lucena, que fora ali encarregado de distribuir e
cobrar      o     novo        imposto.    (V.     Maçarocas,            imposto        das).    Os
governadores do reino, o conde de Basto e D. Afonso Furtado de
Mendonça eram os primeiros a protestar contra os inauditos
tributos e tão repetidas vexações, ponderando ao governo de
Madrid      que      o     povo,   já    tão    oprimido       e   massacrado,           poderia
reagir energicamente, mas os seus protestos não foram ouvidos,
e    o    implacável          ministro    castelhano       ainda         mais     agravou       os
impostos, recomendando aos agentes fiscais que procedessem com
o máximo rigor contra os que não pagassem pontualmente. Era
duma      sofreguidão          insaciável;       Olivares       empregava         mil       formas
para arrancar dinheiro a Portugal, já alcançando dos cristãos
novos milhão e meio de cruzados a troco de um indulto que lhes
oferecia,         já       levantando     empréstimos,          que      eram     verdadeiros
tributos,        já      promovendo      subscrições,       a      que    dava     o    nome    de
voluntárias, a pretexto de socorrer as colónias. As ordens do
conde-duque           de    Olivares     tinham       hábeis       executores          em    Diogo
Soares, secretário do conselho de Portugal em Madrid, e no seu
parente, o celebre Miguel de Vasconcelos, nomeado escrivão de
fazenda e secretário de Estado de Portugal, quando a duquesa
de Mântua, parenta de el-rei, foi nomeada em 1631 vice-rainha
de Portugal.
     Este homem tornou-se justamente odioso aos portugueses pelo
modo como desempenhava a sua missão de secretário de Estado.
Os   impostos          eram    cada     vez    mais   odiosos.          Olivares       tivera    a
ideia de obrigar os portadores de títulos de divida publica a
um       empréstimo         forçado,      mandando      que        os     tesoureiros          das
alfândegas retivessem um trimestre de juros aos portadores, a
quem os pagavam. Com esta simplicidade entendia também Miguel
de Vasconcelos que se deviam cobrar os tributos. Foi ele quem
lembrou que, em vez de se lançarem tributos novos neste ou
naquele género, se lançasse ao reino de Portugal uma finta de
500:000 cruzados, finta que as câmaras distribuiriam depois
entre     os        contribuintes         como     lhes     aprouvesse.      A       paciência
popular        estava        esgotada;       de    tantos     sacrifícios        e     vexames
resultara           o    povo     revolucionar-se.           Em    Évora     romperam      os
tumultos e com Poda a energia, em que tanto se salientou o
celebre    Manuelinho             de    Évora.     Contudo,       tomaram    um       carácter
exclusivamente democrático, que foi muita prejudicial, porque
a nobreza em vez de se aliar à insurreição, viu-se insultada
pelo povo, e o mais que pôde fazer, em atenção ao patriotismo,
foi     apresentar-se             como       medianeira       deixando       a       revolução
entregue ás suas próprias forças, mas o movimento propagou-se
com bastante rapidez no Alentejo, Algarve, Porto e em alguns
pontos do Minho. Faltava, porém, um chefe, direcção e unidade
neste     ímpeto             revolucionário.        Olivares           aproveitou-o       como
pretexto para trazer tropas castelhanas a Portugal, punindo
severamente             os   revoltosos      de    Évora,    e    tornando       ainda    mais
despótico e opressor o jugo que fazia pesar sobre Portugal.
Esperava       que       o    povo     português    reagisse       de    novo,       dando-lhe
pretexto para poder aniquilar completamente a nossa autonomia.
Tomara     para          isso     todas      as    precauções          necessárias.      Fora
chamando        a       Espanha      pouco    a    pouco     os   principais          fidalgos
portugueses, invocando diferentes pretextos, mas na realidade
para tirar à revolução, que esperava, os seus naturais chefes;
mandava alistar em Portugal terços que remunerava bem para
irem    servir          em    Flandres,      apoderava-se         de    todos    os    navios
portugueses, e dera ordem à, esquadra de D. António de Oquendo
que viesse para Lisboa, afim de dar força à proclamação da
união definitiva de Portugal com a Espanha.
Receando que o duque de Bragança se resolvesse a capitanear
uma insurreição, resolveu Olivares enleá-lo de tal modo que,
ou se declarasse formalmente em oposição ao governo espanhol,
e então seria um pretexto para o obrigar a sair do reino, ou
se tornasse cúmplice do domínio espanhol, fazendo-se executor
das    suas    ordens      mais      odiadas.      D.        João       aceitou        o       cargo     de
presidente de uma junta de defesa do reino, e nessa qualidade
veio até Almada, onde os fidalgos lhe pediram para tomar a
Coroa. D. João recusou, mas se a sua timidez o impedia de se
lançar no caminho da revolução, o seu natural bom senso fazia
com    que    se    escapasse        dos   laços        de    Olivares,            e       evitasse       a
posição       falsa      em    que    o    ministro           castelhano               o       pretendia
colocar,      procedendo        de    modo    que       todos           percebessem             que     ele
andava ali forçado e tratando dos interesses do nosso país.
Procurando por todas as formas desprestigiar, desmoralizar e
enfraquecer Portugal, Olivares não hesitava em recomendar a
Miguel de Vasconcelos que promovesse tanto quanto possível a
desonra e o descrédito das famílias nobres; fazendo com que se
lhes seduzissem as filhas, indicação que pareceria fantasiada,
se    não     estivesse        publicada      a     correspondência                     sobre          este
assunto, entre Diogo Soares e Miguel de Vasconcelos. Os planos
do    conde-duque         de    Olivares      não        se     realizaram,                    porque     a
esquadra do almirante Oquendo foi derrotada pelos holandeses
na    batalha       do     Canal,      porque       a        guerra          dos       Trinta          Anos
recrudesceu, achando-se a Espanha a braços com todo o poder da
França,       porque      a    Catalunha,         que        via        os     seus            foros     já
suprimidos         violentamente       por    Olivares,             respondeu              à    opressão
com    a     revolução,        e,    expulsando          o     vice-rei            e       as     tropas
castelhanas,             declarou-se         em         insurreição                aberta.               Os
acontecimentos das colónias, que estavam cada vez em piores
circunstâncias,           tendo-nos        tomado       os     holandeses                  Pernambuco,
Paraíba,      Maranhão,        S.    Jorge    da        Mina        e    Malaca,           indignavam
seriamente os portugueses que já tinham reagido com toda a
energia contra a imprudência com que o conde-duque de Olivares
quisera mandar em socorro do México uma esquadra, equipada à
custa do tesouro português e destinada ao Brasil.
      A notícia da insurreição da Catalunha veio agitar ainda
mais a opinião pública. Olivares aproveitou esse acontecimento
para       arrancar       mais    tropas     a     Portugal,               e    chamar         a    Madrid
quantos fidalgos pôde, sendo o primeiro que chamou o duque de
Bragança. Em Lisboa conspirava um grupo de fidalgos de acordo
com João Pinto Ribeiro, procurador do duque de Bragança, para
lhe darem a Coroa. D. João, vendo que não podia desobedecer ás
ordens do governo de Espanha, que o chamava a Madrid, senão
pondo-se à frente da revolução, deu o seu consentimento, e o
glorioso dia primeiro de Dezembro de 1640 raiou finalmente, em
que Portugal readquiriu a sua independência depois de tio anos
de     ignominiosa         opressão        sob     o    domínio                de       três    monarcas
castelhanos. Filipe IV de Espanha e III de Portugal, enquanto
o    seu    ministro       e     valido    conde-duque                de    Olivares           governava
abertamente, cavando com os seus planos e as suas teorias a
ruína de Espanha, empregava o tempo divertindo-se, caçando,
escrevendo       comédias,             namorando       actrizes,               com       especialidade
Maria Calderon, de quem teve um filho, que foi depois D. João
de    Áustria,       um    dos    generais       espanhóis             de       maior         nomeada;    e
fazia-se       retratar          por     Velásquez          e    Rubens.             Apesar        da   sua
indiferença,          causou-lhe          uma      certa          sensação               a     perda     de
Portugal, e desde então começou a desgostar-se do valido, que
não    tardou    a    substituir          por    D.     Luís          de       Haro.         Deram-se    em
seguida      grandes       batalhas,        como       as       das    Linhas           de     Elvas,    do
Ameixial,       de        Castelo       Rodrigo,        terminando                  a    campanha        da
Independência com a de Montes Claros, em 1665.
      Filipe faleceu pouco depois desta batalha. Tinha casado com
D. Isabel de Bourbon, filha de Henrique IV, de França.
D. João IV

                                                             Filho        de          D.        Teodósio,
                                                    duque de Bragança e de D. Ana
                                                    Velasco, casou em 1633 com D.
                                                    Luísa de Gusmão, espanhola da
                                                    casa de Medina Sidónia.
                                                             Já em 1638, os conjurados
                                                    da       Revolução            de       1640      tinham
                                                    procurado obter a aceitação de
                                                    D.        João        para         uma          revolta
                                                    contra              Espanha.                Mas       as
                                                    hesitações,              ou        cautelas,          do
                                                    duque           fizeram             levantar           a
                                                    hipótese            de     se       conseguir         o
regresso do infante D. Duarte, solução que falhou, tendo-se
mesmo encarado a instauração de uma república, nos moldes da
das Províncias Unidas.
     A verdade é, que depois da sua aclamação como rei a 15 de
Dezembro de 1640, todas as hesitações desapareceram e D. João
IV    fez   frente            às       dificuldades          com     um      vigor          que        muito
contribuiu          para      a    efectiva      restauração            da     independência              de
Portugal.       Da          actividade         global    do       seu     reinado,              deveremos
destacar    o       esforço            efectuado    na       reorganização                 do       aparelho
militar     -       reparação           das     fortalezas         das       linhas         defensivas
fronteiriças,               fortalecimento          das           guarnições,               defesa        do
Alentejo        e       Beira      e    obtenção        de    material            e    reforços           no
estrangeiro;            a    intensa      e    inteligente         actividade              diplomática
junto das cortes da Europa, no sentido de obter apoio militar
e    financeiro,             negociar         tratados       de    paz       ou       de    tréguas        e
conseguir           o        reconhecimento             da        Restauração;                  a      acção
desenvolvida            para      a    reconquista       do       império         ultramarino,            no
Brasil e em Africa; a alta visão na escolha dos colaboradores;
enfim, o trabalho feito no campo administrativo e legislativo,
procurando impor a presença da dinastia nova.
     Quando       morreu,      o   reino           não   estava      ainda    em    segurança
absoluta,         mas   D.    João       IV    tinha-lhe        construído         umas    bases
suficientemente sólidas para vencer a crise. Sucedeu-lhe D.
Afonso VI, seu segundo filho.


     Ficha genealógica:
     D. João IV nasceu em Vila Viçosa, a 19 de Março de 1604 e
morreu       em    Lisboa,     a     6    de       Dezembro     de    1656,    tendo        sido
sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora. Era filho de D.
Teodósio II, 7 ° duque de Bragança, e de sua mulher, D. Ana de
Velasco. Do seu casamento, celebrado em 12 de Janeiro de 1633,
com D. Luísa Francisca de Gusmão, que nasceu em San Lucar de
Barrameda, a 13 de Outubro de 1613, e morreu em Lisboa a 27 de
Outubro de 1666, filha do 8 ° duque de Medina-Sidónia, D. Juan
Manuel Pérez de Guzman, e da duquesa D. Joana de Sandoval,
nasceram:
     1. D. Teodósio, que nasceu em Vila Viçosa a 8 de Fevereiro
de 1634 e morreu em Lisboa, a 13 de Maio de 1653. Foi 9 °
duque de Bragança e príncipe do Brasil, em 1645;
     2. D. Ana, que nasceu em Vila Viçosa, a 21 de Janeiro de
1635 e morreu no mesmo dia; estando enterrada no Convento das
Chagas daquela vila;
     3. D. Joana, que nasceu em Vila Viçosa a 18 de Setembro de
1635 e morreu em Lisboa, a 17 de Novembro de 1653; sepultada
no   Mosteiro       dos      Jerónimos         e    mais    tarde     trasladada          para    o
Mosteiro de S. Vicente de Fora;
     4. D. Catarina, que nasceu em Vila Viçosa, a 25 de Novembro
de 1638 e morreu em Lisboa, a 31 de Dezembro de 1705. Foi
sepultada no Mosteiro dos Jerónimos e mais tarde trasladada
para     o    Mosteiro       de    S.         Vicente      de   Fora.    Foi       rainha        de
Inglaterra pelo seu casamento, em 1661, com o Carlos II, rei
de Inglaterra, que morreu em 16 de Fevereiro de 1685;
5. D. Manuel, que nasceu em Vila Viçosa, a 6 de Setembro de
1640 e faleceu no mesmo dia, tendo sido sepultado no Convento
de S. Francisco daquela vila;
   6. D. Afonso VI, que herdou a coroa;
   7. D. Pedro II, que sucedeu ao precedente;
   Teve D. João IV uma filha ilegítima, de mãe desconhecida:
   8. D. Maria, que nasceu em Lisboa, a 30 de Abril de 1644, e
morreu em Carnide, a 7 de Fevereiro de 1693, no Convento de S.
João   dos   Carmelitas   Descalços.   Foi   reconhecida   pelo
progenitor, o qual lhe fez mercê das vilas de Torres Vedras e
Colares e dos lugares de Azinhaga e Cartaxo, tendo-se dado à
vida religiosa.
D. Afonso VI

                                              Rei de Portugal.
                                              Sexto filho de D. João IV
                                          e de D. Luísa de Gusmão.
                                              Atacado        na        infância       por
                                          doença não identificada, fica
                                          mental             e           fisicamente
                                          diminuído. Com a morte de seu
                                          irmão      D.   Teodósio          e    de   seu
                                          pai, sobe ao trono com treze
                                          anos,      pelo        que    a       regência
                                          ficou entregue           a sua mãe. O
                                          rei foi crescendo, rebelde a
                                          toda       a       acção          educadora,
levando   uma   vida    desregrada    e   manifestando-se              perfeitamente
incapaz para assumir as responsabilidades do governo.
   Um dos seus companheiros, na vida de arruaceiro que levava,
António   Conti,     italiano    de   origem,        insinuou-se-lhe             de   tal
maneira que em breve passou a viver no Paço, a convite de D.
Afonso VI e a ter influência nos negócios do governo do reino.
O escândalo aumentou a um ponto que D. Luísa de Gusmão fez
jurar herdeiro do trono o infante D. Pedro e António Conti foi
preso. Logo a seguir, o conde de Castelo Melhor executa um
golpe de Estado, compelindo D. Luísa a entregar o governo a D.
Afonso VI e forçando-a a retirar-se para um convento.
   Nas boas graças do rei, Castelo Melhor lança-se na sua
curta a brilhante carreira política, terminando vitoriosamente
com a guerra da Restauração e conseguindo casar D. Afonso com
Mademoiselle    de     Aumale.   Em   breve      a    nova       rainha      entra     em
conflito com Castelo Melhor.
   Giza-se nova conspiração no paço, de que resulta a demissão
do conde e a abdicação de D. Afonso VI. D. Pedro toma as
rédeas do poder, casa com a cunhada, depois da anulação do
casamento desta com D. Afonso e este último é desterrado para
Angra do Heroísmo em 1669, donde regressa em 1674, sendo então
encerrado no Palácio de Sintra até à sua morte.


   Ficha genealógica:
   D. Afonso VI nasceu em Lisboa, a 12 de Agosto de 1643 e
morreu   em   Sintra,   a     12   de    Setembro   de    1683,   tendo   sido
sepultado     no   Mosteiro    dos      Jerónimos   e    trasladado   para   o
Mosteiro de S. Vicente de Fora. Casou em 1666 com D. Maria
Francisca Isabel de Sabóia, que nasceu em Paris, a 21 de Junho
de 1646, e morreu em Lisboa, a 27 de Dezembro de 1683, estando
sepultada na igreja do Convento das Francesinhas e trasladada
em 1912, para o Mosteiro de S. Vicente de Fora, filha de
Carlos Amadeu de Sabóia, duque de Nemours, e de Isabel de
Vendôme. Morreu sem descendência.
D. Pedro II

                                                    Último dos sete filhos de
                                                 D. João IV, quarto na ordem de
                                                 sucessão, nascido em 1648, foi
                                                 vigésimo           terceiro        rei      de
                                                 Portugal         e    o    terceiro         da
                                                 Dinastia         de    Bragança,          pelo
                                                 imperativo             duma         solução
                                                 política de emergência na mais
                                                 grave conjuntura das primeiras
                                                 décadas       da      Restauração,         tão
                                                 recente               como               ainda
                                                 periclitante.
                                                    Um       signo      funesto      parecia
pesar sobre os destinos da nascente dinastia. Não desistia o
orgulho da Espanha de eliminá-la radicalmente por guerra de
reconquista. Consumira-se o fundador, exausto na luta, sem ter
podido consolidá-la. Por cúmulo, três anos antes da sua morte,
falecera-lhe em 1653, aos 19 anos de idade, o primogénito,
príncipe    D.    Teodósio,   em          quem   seu     pai      fundava     as    melhores
esperanças. Ficava-lhe por sucessor, ainda menor de 13 anos, o
infante D. Afonso, com os defeitos que o incompatibilizavam
com o exercício da realeza e as consequências políticas da sua
doentia inferioridade, a principal das quais foi o golpe de
estado      que     elevou        à        situação          de       primeiro-ministro,
aparentemente na modesta designação de escrivão da puridade do
monarca,    mas    na    função       efectiva      de    verdadeiro          soberano,       o
conde de Castelo Melhor.
     Entretanto em 1666, para assegurar-lhe a sucessão e o apoio
do   poderoso     Luís     XIV,       o     diligente        ministro         negociara       o
casamento    de    D.     Afonso       VI    com       uma     princesa        de    França,
Mademoiselle d'Aumale, D. Maria Francisca Isabel de Sabóia,
sobrinha de Luís XIV e neta de Henrique IV. E foi esse o único
acto imprudente do sagaz político, tão fatal para a desgraça
do    rei,    como    para        os    seus      próprios       planos           ambiciosos     duma
política       de    engrandecimento               do       Reino.       Realizado         em   1666,
resultou       o     casamento          irreparavelmente             desastroso,             dada      a
incapacidade         física        e     moral         do    rei.    Foi          praticamente        o
detonador da segunda revolução de palácio, em 1667, encabeçada
agora pelo infante D. Pedro, com o apoio de todos os inimigos
de Castelo Melhor, invejosos da sua fortuna política.
      Educada na dissoluta corte de Versalhes, a nova e formosa
rainha        D.    Maria         Francisca,            vexada       por          tal     consórcio,
apaixonou-se pelo brilhante cunhado D. Pedro, de 18 anos. Nos
seus delituosos amores, ambos conluiaram novo golpe político.
Em certa manhã de Novembro de 1667, a rainha abandonava o Paço
e, de concerto com o infante D. Pedro, refugia-se no Convento
da    Esperança,          aonde    logo          ele    acorria      a    seu       favor,      com    o
Conselho de Estado; e, depois de tumultos vários, o rei era
coagido a assinar a sua própria deposição e entrega do governo
do Reino a seu irmão, o qual, em nome da rainha, assumia o
poder    como       príncipe-regente,                  desterrando        para      os     Açores      o
irmão destronado e, depois de rápido e escandaloso divórcio,
casava com a cunhada em Abril de 1668, dela tendo logo em
Janeiro       do    ano    seguinte          a    sua       primeira      e       única    filha,      a
princesa D. Isabel Luísa.
      Consumara-se a dupla usurpação do trono e da mulher.
      Assim    dramaticamente,               com       20    anos    apenas,            começava      D.
Pedro, em 1668, a sua atribulada vida política. Defrontava-se
de entrada com a gravíssima situação económica e financeira do
Portugal restaurado, arruinado por vinte e oito anos de guerra
sem     tréguas,      depois           dos   sessenta           de   estragos           directos       e
indirectos do domínio filipino.
      Resolutamente          se        esforçou         desde    logo         o    usurpador        por
administrar         bem,     com        acerto,         chamando         ao       Conselho,      para
conjurar a crise, um escol de homens notáveis pela cultura e
pelo carácter, como Diogo Rodrigo de Macedo, o 3.º conde da
Ericeira, D. Luís de Meneses, e outros economistas, homens
cultos,      informados         já    pelas       novas        teorias           económicas
fisiocráticas de Colbert, grande ministro das Finanças de Luís
XIV.
      Nada, porém, remediavam de momento as suas tentativas de
reformas drásticas, por inoperantes em país tão devastado pela
guerra, desfalcado de população produtiva, com as lavouras ao
abandono, sem indústrias fabris e inveteradamente viciado no
gozo falaz da ilusória opulência do comércio do Oriente, já
reconhecidamente ruinoso para o Estado e para a Nação desde os
tempos de D. João III e Pêro de Alcáçova Carneiro.
      Restava à Metrópole, como esteio económico, o Brasil, com
sua    próspera      actividade,          agro-industrial           de        plantações      e
engenhos de açúcar, exportação de pau-brasil e outras madeiras
e produtos exóticos, além da intensiva pesquisa de minas de
ouro    e   prata    que   se    presumia       existirem       a   oeste,           como   nos
sertões     do      Peru   e    da    Bolívia,      próximos             em     continental
continuidade. No afã de se acudir por todos os meios à ameaça
duma bancarrota à vista, recorria-se ainda complementarmente à
valorização económica dos domínios de África. Em 1678 tentava-
se    uma   colonização        militar     em   Moçambique,         para        fixação      de
colonos      e      exploração        agrícola,          e      desenvolvia-se               na
fertilíssima        região      da   Zambézia       um       símile       de     capitanias
donatárias, à semelhança das do Brasil, com as concessões de
terras, a que se deu a designação oficial de prazos da Coroa.
Na Guiné, em Cabo Verde, em Angola, que praticamente viviam do
tráfico de escravatura, incrementava-se por meios adequados o
fomento agrícola e comercial, criando companhias de comércio
privilegiadas,        como     as    de    Cacheu   e    Cabo       Verde        e    outras,
disseminando feitorias e povoações comerciais nas zonas mais
populosas de Angola e Moçambique.
      Tudo, porém, pouco mais do que inútil. Progressivamente se
agravavam a penúria e decadência material da Metrópole, sob a
regência de D. Pedro, cujo reinado legítimo só propriamente
começara     em     1683,      por     morte          do     irmão        proscrito,    sem
descendência, na sua prisão-desterro do Paço de Sintra, para
onde viera transferido dos Açores (ilha Terceira), depois de
malograda, pela execução dos cabecilhas, a conjura de 1673,
para o libertar e repor no trono.
     De perto o seguiu no túmulo, ainda nesse ano, a própria
rainha D. Maria Francisca, sua ex-mulher, sem outros herdeiros
além da infanta D. Isabel Luísa. Já rei de facto, proclamado
em Cortes, D. Pedro II casava, em segundas núpcias, com D.
Maria   Sofia     de    Neuburgo,      princesa            bávara    do    Palatinado       do
Reno, que em 1689 lhe assegurava a sucessão da coroa em varão
herdeiro dando à luz o príncipe D. João, depois D. João V,
logo como tal proclamado, em substituição da princesa Isabel
Luísa, das primeiras núpcias, falecida pouco depois, aos 22
anos de idade.
     Nesse   mesmo      ano    de    1690       a    situação       agravava-se       com    o
suicídio do 3.0 conde da Ericeira, seu vedor da Fazenda, numa
crise aguda de neurastenia, exacerbada pela inanidade da sua
sábia administração desde 1675 e de todos os seus planos da
criação de indústrias fabris para ressurgimento da Metrópole
em   sólidas      bases   económicas.           Era     o    sinal    de     alarme    duma
inevitável      ruína     financeira        a       curto    prazo,       que   arrastaria
possivelmente a própria Nação à catástrofe duma desagregação
política, precursora de definitiva absorção por Espanha. De
resto, já mesmo em 1683, ano da proclamação do rei em Cortes,
era tão patente e generalizada a previsão dessa fatalidade que
o próprio D. Pedro II chegara a encarar seriamente o propósito
de renunciar à coroa e retirar para o Brasil, abdicando na
filha   D.     Isabel      e    em    quem          viesse     a     ser     seu   marido.
Dissuadiram-no dessa espécie de deserção o confessor e o seu
conselheiro secreto, sem que por esse facto se desanuviassem
as perspectivas do pessimismo que havia levado ao suicídio o
seu mais ilustre vedor da Fazenda. Em 1685, cedia enfim ao
acto     de      generosidade      de       autorizar         o     regresso         de     Castelo
Melhor, já velho e sem veleidades políticas.
      Nesse      destino      lúgubre       se   teria        talvez         afundado,       com     a
dinastia, a sobrevivência da Nação, se nos fins do século não
tivesse providencialmente chegado à corte a alvoroçada notícia
da    descoberta        de    minas    de    ouro       e    brilhantes         no    Brasil,        a
coroarem de pleno êxito as exaustivas e pertinazes incursões
do bandeirismo paulista nas selvas e sertões a oeste do imenso
e inexplorado estado americano.
      Como o rendimento fiscal da Coroa era desde logo o quinto
da mineração, a primeira remessa de 1699 trazia a D. Pedro,
além de 11000 quilos de ouro amoedado, o valor de sete milhões
de cruzados, na transacção de brilhantes em Amesterdão; e até
final do reinado o quinto devido à Coroa orçaria por cerca de
cinco milhões de cruzados.
      Era        uma     ressurreição            de         desvairantes             esperanças!
Considerados           desnecessários,           e     logo       abandonados,            todos     os
planos de sadia reformação económica por exploração metódica
das    próprias         riquezas      da    Metrópole,         e       por    isso    também        já
despiciendo, por supérfluo, o acordo comercial negociado com
Inglaterra em 1703, conhecido por Tratado de Methuen. Era,
aliás,      de    vantagens      problemáticas              para       a   nossa     economia        a
colocação        dos    nossos     vinhos        em    Inglaterra,           mas     substancial
para esta a colocação entre nós de seus lanifícios. O fortuito
caudal de ouro e pedras preciosas do Brasil tudo viria suprir
e sanar sem mais cuidados para o futuro da dinastia.
      Ter-lhe-ia, pois, terminado em glória o tormentoso reinado
sem a aventura militar em que por fim precipitava o Reino,
acedendo a pressões inglesas para se imiscuir também, como
aliado, no imbróglio inextricável da Guerra de Sucessão de
Espanha,         em     que   rigorosamente             não       se       pleiteavam       vitais
interesses materiais ou políticos para a Nação, nem mesmo a
defesa      do    seu    território         ou    da    honra          nacional,      que,        pelo
contrário, ficavam sob a permanente ameaça das contingências
duma guerra, sempre imprevisíveis.
   Aderindo à tripla aliança anglo-austro-holandesa contra o
bloco    bourbónico         franco-espanhol,               D.    Pedro          obrigava-se,        por
acordo de 1703, a fornecer aos aliados um exército de 28 000
homens    e,    pior    que    tudo,        à    cedência            do       próprio      território
pátrio     para       teatro       de       operações,               como        a    melhor       base
estratégica de invasão da Espanha.
   Favorável de começo a campanha, pelos êxitos efémeros do
exército do marquês das Minas na sua marcha e entrada triunfal
em Madrid (1706), evoluiria em breve desastrosamente para os
aliados, depois da sua decisiva derrota na batalha de Almansa,
em Espanha (1707), a que se seguiu a contra-ofensiva espanhola
sobre      Portugal,           em        cujas             fronteiras,                 forçosamente
desguarnecidas, a batalha do Caia foi outra--derrota para o
exército anglo-português.
   Em    suma,        por    sua    morte,           em    1706,          o    rei,       cognominado
Pacífico, deixava ao sucessor, com várias praças do Alentejo
ocupadas       por    espanhóis,        o       encargo         de    liquidar            uma   guerra
inglória e dispendiosa que, no reinado seguinte, se arrastaria
por mais seis anos e de que a única vantagem positiva para a
Nação, pelo Tratado de Paz de Utreque, ratificado em 1713 com
a França e em 1715 com a Espanha, viria a ser a de se ter
salvo, ao menos, a integridade dos seus domínios do Ultramar.
   Em reinado de tão tumultuária política interna e externa, a
actividade cultural da Nação não sofreu, todavia, o colapso ou
afrouxamento          que     seria         de       esperar,             quer       na     expressão
literária,      em     que    fulgurara          o    talento          dum       António        Vieira,
mestre     e    renovador      da       língua,           quer       nas       artes       plásticas,
pintura religiosa e arquitectura religiosa e civil, em que o
barroquismo          seiscentista,          com       toda       a        sua        sobrecarga     de
decoração ornamental, teve entre nós e no Brasil o seu período
áureo e de carácter tão inconfundivelmente nacional como o
manuelino, no século XVI.
Ficha genealógica:
   D. PEDRO II nasceu em Lisboa, a 26 de Abril de 1648, e
faleceu     em    Lisboa     a    1    de     Dezembro    de    1706;     tendo    sido
sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora. Do seu primeiro
casamento, com a cunhada D. Maria Francisca Isabel de Sabóia,
teve:
   1. D. Isabel Luísa Josefa (n. em Lisboa, a 6 de Janeiro de
1668; f. no palácio de Palhavã, a 21 de Outubro de 1690;
sepultada no Convento das Francesinhas, erigido por sua mãe, e
transladada       para   o   Mosteiro         de   S.    Vicente     de   Fora).    Foi
herdeira    presuntiva       do       Reino    entre     1668   e    1689,   tendo-se
malogrado o projecto de consórcio com Vítor Amadeu de Sabóia.
   Do segundo casamento de D. Pedro II, com D. Maria Sofia de
Neuburg (n. em Brewath, a 6 de Agosto de 1666; f. em Lisboa, a
4 de Agosto de 1699; sepultada no Mosteiro de S. Vicente de
Fora), filha de Filipe Guilherme de Neuburg, eleitor palatino
do Reno, e de sua mulher Isabel Amália, nasceram os seguintes
filhos:
   2. D. João (n. em Lisboa, a 30 de Agosto de 1688; f. em 17
de Setembro seguinte; sepultado em S. Vicente de Fora);
   3. D. João, que herdou o trono;
   4. D. Francisco Xavier José António Bento Urbano (n. em
Lisboa, a 25 de Maio de 1691; f. na quinta das Gaeiras, em
Óbidos, a 21 de Julho de 1742; sepultado no Mosteiro de S.
Vicente de Fora). Foi 7 ° duque de Beja, grão-prior do Crato e
senhor do Infantado. Morreu solteiro e sem descendência;
   5. D. António Francisco Xavier José Bento Teodósio Leopoldo
Henrique (n. em Lisboa, a 15 de Março de 1695; f. em Lisboa, a
20 de Outubro de 1757; sepultado no Mosteiro de S. Vicente de
Fora). Morreu solteiro e sem descendência;
   6. D. Teresa Maria Francisca Xavier Josefa Leonor (n. em
Lisboa, a 24 de Fevereiro de 1696; f. em Lisboa, a 16 de
Fevereiro    de    1704;     sepultada        no   Mosteiro     de   S.   Vicente    de
Fora);
7.     D.       Manuel      José          Francisco      António      Caetano       Estêvão
Bartolomeu (n. em Lisboa, a 3 de Agosto de 1697; f. na quinta
de Belas, em igual dia de 1736; sepultado no Mosteiro de S.
Vicente de Fora). Morreu solteiro e sem descendência;
   8. D. Francisca Josefa (n. em Lisboa, a 30 de Janeiro de
1699; f. na mesma cidade, em 15 de Julho de 1736; sepultada no
Mosteiro de S. Vicente de Fora). Morreu solteira.
   Fora dos dois consórcios, D. Pedro II teve os seguintes
filhos:
   9. D. Luísa (n. em Lisboa, a 9 de Janeiro de 1679; f. em
Évora; a 23 de Dezembro de 1732; sepultada no Convento de S.
João    Evangelista,           dos      cónegos      seculares      da     mesma   cidade),
filha de D. Maria da Cruz Mascarenhas. Foi criada na família
do secretário de estado Francisco Correia de Lacerda, e depois
no Mosteiro de Carnide, junto de sua tia D. Maria (veja-se
supra, 1, 8). Casou com D. Luís e, em seguida, com D. Jaime de
Melo, respectivamente, 2.º e 3.º duques de Cadaval.
   10. D. Miguel (n. em Lisboa, a 15 de Outubro de 1699; f.
afogado       no   Tejo,       a    13       de   Janeiro    de    1724;    sepultado       no
Convento de S. José de Ribamar), filho da francesa Ana Armanda
Du Verger. Foi reconhecido por D. João V como seu irmão e
casou    em    1715      com       D.    Luísa      Casimira       de   Nassau     e    Ligne,
herdeira da casa de Arronches.
   11. D. José (n. em Lisboa, a 6 de Maio de 1703; f. em Ponte
de Lima, a 3 de Junho de 1756; sepultado na sé arquiepiscopal
de Braga), filho de D. Francisca Clara da Silva, foi aluno da
Universidade        de     Évora         e    ali   obteve     o    grau    de   doutor     em
Teologia. Arcebispo de Braga em 1739, foi sagrado em 5 de
Fevereiro de 1741 e entrou naquela sé em 23 de Julho seguinte.

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1 DEzembro de 1640
 

Biografias Reis da União Ibérica ao fim da Guerra da Restauração

  • 1. D. Sebastião Décimo sexto rei de Portugal, filho do príncipe D. João e de D. Joana de Áustria, nasceu em Lisboa a 20 de Janeiro de 1554, e morreu em Alcácer Quibir, a 4 de Agosto de 1578. Sucedeu a seu avô D. João III sendo o seu nascimento esperado com ansiedade, enchendo de júbilo o povo, pois a coroa corria o perigo de vir a ser herdada por outro neto de D. João III, o príncipe D. Carlos, filho de Filipe II de Espanha. De saúde precária, D. Sebastião mostrou desde muito cedo duas grandes paixões: a guerra e o zelo religioso. Cresceu na convicção de que Deus o criara para grandes feitos, e, educado entre dois partidos palacianos de interesses opostos - o de sua avó que pendia para a Espanha, e o do seu tio-avô o cardeal D. Henrique favorável a uma orientação nacional -, D. Sebastião, desde a sua maioridade, afastou-se abertamente dum e doutro, aderindo ao partido dos validos, homens da sua idade, temerários a exaltados, que estavam sempre prontos a seguir as suas determinações. Nunca ouviu conselhos de ninguém, e entregue ao sonho anacrónico de sujeitar a si toda a Berbéria a trazer à sua soberania a veneranda Palestina, nunca se interessou pelo povo, nunca reuniu cortes nem visitou o País, só pensando em recrutar um exército a armá-lo, pedindo auxílio a Estados estrangeiros, contraindo empréstimos a arruinando os cofres do reino, tendo o único fito de ir a África combater os mouros.
  • 2. Chefe de um numeroso exército, na sua maioria aventureiros e miseráveis, parte para a África em Junho de 1578; chega perto de Alcácer Quibir a 3 de Agosto e a 4, o exército português esfomeado a estafado pela marcha e pelo calor, e dirigido por um rei incapaz, foi completamente destroçado, figurando o próprio rei entre os mortos. Ficha genealógica: D. Sebastião, nasceu em Lisboa, a 20 de Janeiro de1554; faleceu em Alcácer Quibir, a 4 de Agosto de 1578; sepultado em 1582 no Mosteiro dos Jerónimos. Morreu solteiro e sem descendência.
  • 3. Cardeal D. Henrique Filho do rei D. Manuel e da segunda mulher deste, D. Maria, foi o quarto na ordem varonil dos filhos daquele rei. A sua educação foi orientada para a vida eclesiástica, recebendo sólida cultura, que lhe foi ministrada por sábios como Pedro Nunes, Nicolau Clenardo e Aires Barbosa. Um cronista do tempo define-o como de sua condição encolhido, e vergonhoso (...) pouco mimoso e severo, continente e temperado nas palavras». A sua carreira eclesiástica iniciou-se aos 14 anos, ao ser investido como prior comendatário de Santa Cruz de Coimbra. Seis anos depois recebeu a administração do arcebispado de Braga. Em 1540 é feito arcebispo de Évora. Nesta cidade cria uma pequena corte de letrados, músicos, cantores a charameleiros, que faziam parte da sua casa episcopal. A protecção que dispensou à cultura até 1562 permite considerá- lo como um príncipe de ideal renascentista. Entretanto fora nomeado, em 1539, inquisidor-geral do reino, em 1545 cardeal e sete anos mais tarde legado apostólico em Portugal. Em 1562 obteve a arquidiocese de Lisboa, mas doze anos depois transferiu-se de novo para Évora. Foi graças aos seus esforços que se criou, em 1559, uma Universidade naquela cidade alentejana, tendo o cardeal ajudado ao desenvolvimento dessa instituição. Como prelado e inquisidor foi defensor extreme de princípios religiosos que concebia de forma altamente conservadora. A sua importância política começa a
  • 4. sobressair durante a menoridade de D. Sebastião, tendo sido regente de 1562 a 1568, opondo-se às pretensões de D. Catarina de Áustria, adepta da ingerência espanhola na política portuguesa. Nos primeiros anos após a maioridade de D. Sebastião, D. Henrique é o seu principal orientador. Mas desentendem-se, e partir de 1572, e o cardeal voltará a Évora onde, em Janeiro de 1578, recusa o seu consentimento à expedição a Marrocos. Subindo ao trono após o desastre de Alcácer Quibir, começa por tentar resolver o problema da sucessão ao trono em termos nacionais, convocando cortes para Almeirim a projectando o seu casamento com a rainha-mãe de França. Mas a influência espanhola cada vez maior em Portugal, as rivalidades entre os vários pretendentes ao trono, a ruína financeira do País a outros factores fizeram da última fase do reinado de D. Henrique um período de indecisão; eximindo-se a nomear um herdeiro da coroa, preferiu deixar o problema em suspenso, escolhendo cinco governadores para o substituírem após a sua morte. Ficha genealógica: D. Henrique, nasceu em Lisboa, a 31 de Janeiro de 1512 e morreu em Almeirim a 31 de Janeiro de 1580. Foi sepultado na capela-mor da igreja do Paço de Almeirim, e transferido em 1582 para o Panteão dos Jerónimos. Cardeal de Portugal, arcebispo de Braga, Lisboa e Évora, morreu sem descendência.
  • 5. D. António prior do Crato Nasceu em Lisboa, filho de uma mulher do povo e do infante D. Luís. Seu pai desejava que ele seguisse a vida eclesiástica e a sua educação processou-se em sucessivos mosteiros e colégios religiosos, tendo tido por mestres o grande humanista Fr. Diogo de Murça, o padre Simão Rodrigues de Azevedo, o teólogo Pedro Margalho a D. Frei Bartolomeu dos Mártires. Com a morte de seu pai decide romper com a carreira que lhe tinha sido imposta. Já prior do Crato e com as ordens de diácono, recusa a ordenação de presbítero e comporta-se como pessoa secular. Por esse motivo, seu tio o cardeal D. Henrique manifesta-lhe um ódio declarado, o que o leva a exilar-se em Castela, em várias ocasiões, durante a menoridade de D. Sebastião. Com a subida ao trono deste monarca e gozando da sua estima, D. António desempenha o cargo de governador de Tânger. Obtém, então, dispensa do papel das ordens de diácono. Toma parte na batalha de Alcácer Quibir e é feito prisioneiro. Resgatado, regressa a Lisboa para chefiar um dos partidos nacionais que se opunham à candidatura de Filipe II ao trono português. O prior do Crato baseava a sua candidatura na situação de filho legitimado do infante D. Luís, segundo filho de D. Manuel, uma vez que não havia descendentes directos de D. João III. Era necessário, todavia, provar o matrimónio secreto de seus pais. Organiza-se um processo a D. António
  • 6. obtém uma sentença favorável, mas a actuação pessoal do cardeal-rei, que contesta aquela decisão, culmina numa nova sentença desfavorável. Com a morte do cardeal, as tropas filipinas entram em Portugal. Os partidários do prior do Crato aclamam-no rei em Santarém; Lisboa e Setúbal recebem-no vibrantemente e, em breve, quase todos os burgos do reino alinham a seu lado. Mas, não dispondo de exército organizado, nem de recursos, é derrotado na batalha de Alcântara pelo exército castelhano. Consegue fugir com dificuldade para o estrangeiro onde, nas cortes de França a de Inglaterra, procura obter auxílio para lutar contra Filipe II. Duas esquadras francesas enviadas à Ilha Terceira são derrotadas sucessivamente pelos castelhanos. A Terceira perde- se, como último bastião de D. António. Vivendo miseravelmente em França, a expensas de Catarina de Médicis resolve passar à corte de Isabel I pedindo novo auxilio. Os ingleses como represália contra o ataque da Invencível Armada, resolvem enviar a Portugal uma esquadra, comandada por Drake. D. António desembarca em Peniche mas sofre novo desaire. Regressa a França e, depois de ter conseguido um novo auxílio de Henrique IV, morre em Paris de uma crise de uremia, sem realizar o projecto por que tanto lutou. Ficha genealógica: D. António nasceu em Lisboa, em 1531, tendo falecido em Paris, a 26 de Agosto de 1595, tendo sido enterrado no Convento de S. Francisco da mesma cidade. Era filho natural ou legitimado do infante D. Luís e de Violante Gomes, mulher plebeia. Foi rei de Portugal desde 19 de Junho de 1580, data da sua aclamação em Santarém, até à derrota de Alcântara, a 25 de Agosto seguinte. Nunca resignou aos seus direitos e, embora exilado em França e na Inglaterra, manteve luta armada contra Filipe II,
  • 7. nos Açores (1582-1583) a em Lisboa (1589). De várias mulheres teve 10 filhos, sendo os mais conhecidos: 1. D. Manuel de Portugal (n. em Lisboa, 1568; f. em Bruxelas, a 22 de Junho de 1638), acompanhando seu pai no exílio e vivendo em França, na Inglaterra a na Flandres. Casou em 1597 com Emília de Nassau, princesa de Orange, dela se separando em 1625 por motivos de ordem religiosa; 2. D. Cristóvão de Portugal (n. em Tânger, em Abril de 1573; f. em Paris, a 3 de Junho de 1638). Viveu também no estrangeiro, sustentando a causa paterna e, após a morte de D. António, manteve vivo o mesmo ideal.
  • 8. Filipe II de Espanha e I de Portugal n. 1527 f. 13 de Setembro de 1598 O Prudente. Nasceu em Valladolid em 1527, faleceu no Escurial a 13 de Setembro de 1598. Era filho de Carlos V, imperador da Alemanha, e da imperatriz D. Isabel, filha de el-rei D. Manuel, de Portugal. Casou em 15 de Novembro de 1543, contando 16 anos de idade, com a infanta D. Maria, que também contava a mesma idade, filha de D. João III e da rainha D.: Catarina, a qual faleceu dois anos depois, a 12 de Julho de 1545. Ficando viúvo aos 18 anos, Filipe assim se conservou até 1551, em que casou com Maria Tudor, rainha de Inglaterra, e foi residir em Londres, mas tornou-se tão pouco simpático aos ingleses, que estes, com o maior prazer o viram partir em 1555 para os Países Baixos, cujo governo Carlos V lhe cedeu, como anteriormente lhe cedera, um ano antes, o governo de Nápoles e da Sicília, e como lhe cedeu mais tarde, em 1556, a coroa de Espanha, quando completamente abdicou para se recolher no mosteiro de S. Justo. Filipe enviuvou também da rainha de Inglaterra, falecida em 1558, e tornou a casar, pela terceira vez, com a princesa de França, Isabel de Valois, filha de Henrique II. Não seguiremos a vida deste monarca, senão depois de se ter apoderado de Portugal em 1530.
  • 9. Depois da morte de el-rei D. Sebastião na funesta batalha de Alcácer Quibir, Filipe pensou na posse do trono português, com as maiores esperanças, por ver aclamado o cardeal D. Henrique, velho decrépito, de quem não se podia recear sucessão. Era, porém, preciso antes da sua morte, assegurar a posse do trono, e para isso empenhou, todos os meios, intrigas e dinheiro para ganhar ao seu partido a corte de Portugal, conseguindo assim chamar para seu lado muitos fidalgos portugueses. Os pretendentes, que eram sete, disputavam entre si a posse do reino, mas; desses sete, contavam-se cinco que baseavam as suas pretensões em fundamentos aceitáveis. Estes cinco eram: Filipe do Espanha, que alegava ser filho de D. Isabel, filha primogénita de D. Manuel, que casara com Carlos V; o duque de Sabóia dizia ser filho da infanta D. Beatriz, filha do referido monarca, que casara com seu pai o duque de Sabóia; D. António, prior: do Crato, alegava ser filho natural do infante D. Luís, igualmente filho de el-rei D. Manuel; o duque de Parma, o ser neto, por sua mãe, do príncipe D. Duarte, filho também de D. Manuel; e a duquesa de Bragança, D. Catarina, alegava ser filha do mesmo príncipe. Os dois, que menos direito mostravam, eram Catarina de Medicis, rainha de França, dizendo-se descendente de D. Afonso III e de sua primeira mulher, a condessa Matilde de Bolonha, e finalmente o papa, que se dizia herdeiro natural dos cardeais, e entendia portanto dever usufruir o reino que um cardeal governava como podia usufruir uma quinta de que fora possuidor. Os cinco primeiros é que apresentavam títulos valiosos, e entre esses só três disputavam seriamente entre si a coroa: Filipe, D. António, prior do Crato, e a duquesa de Bragança. Cem a morte do cardeal D. Henrique ainda mais se acendeu a intriga. Cristóvão de Moura, o português renegado que estava sendo em Portugal o agente infernal do rei de Espanha, conhecido pelo demónio do meio-dia, enleava tudo nas redes da sua diplomacia corruptora, espalhando ouro castelhano, com que comprava as
  • 10. consciências que quisessem vender-se: Filipe II, em Espanha, seguia com ansiedade a marcha dos acontecimentos, e de lá dirigia os planos e auxiliava a politica do seu emissário. O reino ficara, entregue a cinco governadores vendidos a Cristóvão de Moura, os quais, receando do povo que se agitava; hesitavam em reconhecer Filipe como rei de Portugal. Vendo isto, o monarca castelhano dispôs-se a conquistar o reino pela força das armas, empresa fácil, porque os governadores das praças já eram, na maior parte, criaturas de Cristóvão de Moura. D. António, prior do Crato, fizera-se aclamar em Santarém, mas dispunha de poucas tropas. Apesar disso, Filipe reuniu um poderoso exército, cujo comando confiou ao general duque de Alba; confiou ao marquês de Santa Cruz o comando duma esquadra, e conservou-se próximo da fronteira de Badajoz. O duque de Alba marchou sobre Setúbal; conquistando facilmente o Alentejo, atravessou para Cascais na esquadra do marquês de Santa Cruz, marchou sobre Lisboa, derrotou o prior do Crato na batalha de Alcântara, a 4 de Agosto de 1580, perseguiu-o até à província do Minho, e preparou enfim o reino para receber a visita do seu novo soberano. (V. António, D.). Filipe, em 9 de Dezembro, atravessou a fronteira, entrou em Elvas, onde se demorou dois meses recebendo nesta sua visita os cumprimentos dos novos súbditos, sendo um dos primeiros que o veio saudar o duque de Bragança. A 23 de Fevereiro de 1581 saiu de Elvas, atravessou triunfante e demoradamente todo o país, e a 16 de Março entrou em Tomar, para onde convocara cortes, e ali distribuiu as primeiras recompensas, e ordenou os primeiros suplícios e confiscos, e recebeu a notícia de que todas as colónias portuguesas haviam reconhecido a sua soberania, exceptuando a ilha Terceira, onde se arvorara a bandeira do prior do Crato, que fora ali, jurado rei de Portugal a 16 de Abril de 1581. Nessas cortes prometeu Filipe II respeitar os foros e as isenções de Portugal, e nunca lhe dar para governador senão um português ou um membro da família
  • 11. real. Entendendo que devia demorar-se algum tempo no território português, expediu de Lisboa as tropas que subjugaram, depois de porfiada luta, a resistência da ilha Terceira, em que D. António fora auxiliado pela França, e só partiu para Espanha, quando a vitória naval de Vila Franca, em que o marquês de Santa Cruz destroçou a esquadra francesa em 26 de Julho de 1582, lhe garantiu a definitiva submissão da referida ilha. Nomeando para vice-rei de Portugal seu sobrinho, o cardeal-arquiduque Alberto, e depois lhe ter agregado um conselho de governo, e de ter nomeado os membros do conselho de Portugal, que devia funcionar em Madrid, partiu finalmente a 11 de Fevereiro de 1583 para Espanha. A 29 de Agosto conquistava o marquês de Santa Cruz a ilha Terceira. A nova monarquia hispano-lusitana era opulentíssima; abrangia na Europa toda a península ibérica, Nápoles, Sicília, Milão, Sardenha e Bélgica actual; na Ásia as feitorias portuguesas da Índia, da Pérsia, da China, da Indochina, e a da Arábia; na África: Angola, Moçambique, Madeira. Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Canárias, toda a América menos algumas das Antilhas, parte dos actuais Estados Unidos e o Canadá, e urnas porções de terrenos na Guiana; na Oceânia tudo o que então havia conhecido e pertencente aos europeus. Nenhuma outra nação ali fora ainda assentar domínio. As Molucas eram a parte mais importante dessas possessões. A Europa principiou a assustar-se com este poderio colossal, receosa de que por este caminho Filipe chegasse a realizar o sonho ambicioso de monarquia universal. Sucederam se então importantes acontecimentos políticos, em que a Inglaterra aproveitou para se vingar de Filipe, de quem se considerava ofendida. As coisas complicaram-se gravemente porque Isabel, de Inglaterra, mostrou-se disposta a auxiliar as pretensões do prior do Crato, e o almirante Drake, por ordem superior, invadiu as colónias espanholas, que eram também as portuguesas, saqueando Cabo Verde, tomando o castelo
  • 12. do Cabo de S. Vicente, e apresando quantos galeões americanos cruzavam nos mares dos Açores. Foi então que Filipe organizou a célebre Armada Invencível, comandada pelo duque de Medina Sidónia, que uma tempestade aniquilou por completo, em Junho de 1588. (V. Armada Invencível). As ambições de Filipe II foram profundamente ruinosas para as nossas colónias. Em 1589 fechara aos ingleses os Portos portugueses e em 1591 fechou-os também aos holandeses Daí resultou que não podendo nem uns nem outros vir buscar a Portugal os géneros do Oriente, lembraram- se de ir à, fonte desse comércio. Os holandeses começaram a aparecer no seu tempo no Oriente, onde a nossa decadência era sensível, e onde depois da perda da nossa independência só dois capitães ilustres, D. Paulo de Lima Pereira e André Furtado de Mendonça, tinham mantido nobremente a honra da bandeira portuguesa. Os ingleses salteavam as nossas possessões mais próximas, Cabo Verde e os Açores, mas não tardariam também a aparecer no Oriente favorecendo a natural reacção dos indígenas contra o nosso domínio. Em Portugal houve duas tentativas de revolta, promovidas pela aparição de dois homens em quem o povo julgou ver D. Sebastião, e que por isso tiveram a denominação de rei de Penamacor e de rei da Ericeira. O motim promovido por este último tomou proporções gravíssimas, e foi reprimido dum modo sanguinário e violentíssimo. Filipe II, apesar da destruição da Armada Invencível, não desistiu das suas expedições contra a Inglaterra, e ainda em 1596 enviou urna à Irlanda que também os temporais dispersaram, perdendo a Espanha neste desastre 40 navios. Filipe enviuvou pela terceira vez, e casou novamente com uma segunda prima, Ana de Áustria, que faleceu em 1580, quando estava com seu marido em Badajoz, seguindo o progresso das armas castelhanas em Portugal, deixando-o pela quarta vez viúvo. Filipe II teve uma série de primeiros-ministros notáveis: o duque de Alba, que morreu em Lisboa dois anos depois da conquista; o príncipe de Eboli que morreu muito
  • 13. antes do rei; António Peres, que lhe sobreviveu, mas que ele perseguiu implacavelmente; o cardeal de Granville, que depois de ter perdido todo o valimento, o recuperou e foi chamado de Nápoles para ficar como regente do reino em Madrid, enquanto o rei vinha a Portugal; e Cristóvão de Moura, que foi o valido da última hora, o que recebeu o seu derradeiro suspiro e as suas derradeiras confidencias. Pouco tempo antes de morrer, o cardeal-arquiduque Alberto, vice-rei de Portugal, fora nomeado soberano de Flandres, e para o substituir em Portugal nomeou um conselho composto do arcebispo de Lisboa, dos condes de Portalegre, de Sabugal e de Santa Cruz, e de Miguel de Moura. Foi este o último acto importante do seu reinado. Com a Universidade de Coimbra deu-se o seguinte facto, logo no começo do reinado de Filipe. Em Fevereiro de 1580, pouco depois da morte do cardeal rei D. Henrique, apresentou-se ao claustro da Universidade o Dr. João Nogueira, com uma provisão dos governadores do reino, na qual permitiam a todos os lentes, que não fossem desembargadores, dar o seu parecer dentro de oito dias, sobre a sucessão do trono. Quis, porém, a má estrela da Universidade, que D. António, prior do Crato, lhe escrevesse uma carta, datada de Santarém aos 20 de Junho do mesmo ano, dando conta de ter sido aclamado rei em diversos lugares do reino. A Universidade resolveu em claustro que se fizesse uma procissão, em acção de graças, desde a sua capela até Santa Cruz; e no mesmo claustro foram eleitos, para irem dar obediência ao nosso rei, reconhece-lo como tal e fazer-lhe a entrega da protectoria, o reitor Fernão Moniz Mascarenhas e Fr. Luís Sotto-mayor. Em 13 de Dezembro voltou o reitor, disse em claustro que era desnecessário dar conta do desempenho da sua missão, pois de todos era já sabido que o rei de Castela estava reconhecido como rei de Portugal. Em vista desta declaração deliberou-se que o próprio reitor, encarregado havia pouco de cumprimenta o prior do Crato, fosse agora com os lentes da sua escolha, dar obediência a Filipe I. Este acto
  • 14. cerimonial realizou-se em Elvas a 20 de Dezembro de 1580, sendo a Universidade representada por D. Jorge de Ataíde e D. Afonso Castelo Branco. Tornou-se a fazer outra procissão solene, quando o reitor, em voltando, trouxe carta de el-rei, datada de Elvas a 25 de Fevereiro de 1581, na qual significava o contentamento que sentira pela obediência da Universidade, e com o ser declarado seu protector. Mas Filipe não era homem que deixasse sem castigos os sentimentos que a Universidade manifestara ao prior do Crato. Pedro de Alpoim, colegial de S. Pedro e lente do Código, foi degolado em Lisboa; Fr. Luís de Sotto-mayor privado da cadeira grande de Escritura; Fr. Agostinho da Trindade, da de Escoto; Fr. Luís foi depois restituído, mas Fr. Agostinho ausentou-se para França, e foi lente de Teologia na Universidade de Tolosa; João Rodrigues de Vasconcelos, que trouxera a carta do prior do Crato, foi preso e morreu na prisão. Outro facto é também digno de narrar-se; pela provisão de 9 de Março de 1583 foi Manuel de Quadros nomeado visitador e reformador da Universidade; tomou posse do cargo e prestou, juramento a 21 de Março do mesmo ano. O visitador vinha encarregado de construir escolas para a Universidade, mas os seus esforços estacaram afinal pela falta de dinheiro. A Universidade pediu a Filipe I que lhe cedesse os paços reais para neles se assentarem as escolas, que lá estavam havia já 40 anos. O rei respondeu, em 30 de Setembro do referido ano de 1583, que, embora desejasse fazer muitas mercês à Universidade, não era conveniente a seu serviço dar- lhe os seus paços, que aliás, em sendo desocupados pela Universidade, tencionava mandar concertar, para poder em algum tempo ir a eles, como desejava. Filipe nunca realizou o desejo que disse ter de ir aos paços de Coimbra. Anos depois, em 1597, o mesmo monarca vendeu à Universidade esses mesmos paços por 30 mil cruzados. Neste sentido foi expedido um alvará em 17 de Maio de 1597, e se fez a carta de venda, em nome de el- rei, a 16 de Setembro do mesmo ano. No reinado de Filipe I
  • 15. recebeu a Universidade estatutos por duas vezes, uma em 1592, sendo trazidos de Madrid pelo Dr. António Vaz Cabaço, resultantes da reformação operada por Manuel de Quadros; outra, os novos estatutos confirmados em 8 de Junho de 1597, e trazidos de Madrid pelo Dr. Rui Lopes da Veiga. Filipe I, o rei ambicioso e desumano, que todos esmagava com o seu feroz despotismo, faleceu coberto de vermes e de úlceras, depois dum doloroso e demorado sofrimento.
  • 16. Filipe III de Espanha e II de Portugal n. 1578 f. 31 de Março de 1621 O Pio. Nasceu em Madrid em 1578, onde também faleceu em 31 de Março de 1621. Era filho de Filipe II, e de sua quarta mulher, D. Ana de Áustria. Subiu ao trono em 1598, contando 20 anos de idade. Tinha um carácter fraco, apático e irresoluto, e foi completamente dominado pelo seu ministro duque de Lerma, D. Cristóvão de Moura, que fora elevado a marquês de Castelo Rodrigo, e nomeado vice-rei de Portugal, o que muito indignou os portugueses, apesar da sua administração ser das mais hábeis, segundo consta. O duque de Lerma procurava um pouco favorecer Portugal e cimentar a união dos dois reinos da península, adoptando medidas de grande importância. Assim tratou tanto quanto possível do desenvolvimento da marinha, aboliu os Portos secos, as alfândegas, abriu os Portos de Portugal ao comércio inglês, e por algum tempo também os abriu ao comércio holandês, mas essa ultima medida pouco tempo durou, o que prejudicou muito Portugal. Em 1609, vendo que não podia lutar por mais tempo com os estados da Holanda, assinou com eles uma trégua de doze anos, mas tão ineptamente procedeu o marquês de Castelo Rodrigo que, assinando a trégua na Europa, deixou que continuassem as hostilidades nas colónias, onde mais prejudiciais eram ao país. Por essa mesma época publicou
  • 17. Filipe III um edito expulsando definitivamente de Espanha os descendentes dos mouros. Depois da conquista de Granada por Fernando o Católico, esses moiros tinham sido forçados a abraçar o Cristianismo, formavam uma massa de população submissa, industriosa, cultivando admiravelmente a terra e enriquecendo o Estado, mas o fanatismo espanhol não lhes perdoava a sua origem. A sua expulsão foi uma grande fatalidade para a península, que perdeu perto de um milhão doa seus habitantes mais industriosos, e arruinou a sua agricultura e a sua indústria. Desses desgraçados, os que se recusavam a abandonar a pátria, eram perseguidos como feras e assassinados, ficando somente as crianças de menos de 7 anos, que se venderam como escravas, depois de se baptizarem. Esta expulsão dos moiros não foi movida só pelo fanatismo, porque Filipe III tratava ao mesmo tempo com os judeus de Portugal para os proteger contra os rigores da Inquisição, a troco dum subsídio importante. Ao marquês de Castelo Rodrigo sucedera no governo de Portugal o bispo de Coimbra, a este o bispo de Leiria, voltara depois ao marquês, novamente ao bispo de Leiria, ao arcebispo de Braga, ao arcebispo de Lisboa, e finalmente ao marquês de Alenquer, espanhol de origem, e que por conseguinte estava completamente fora das condições estipuladas pelas cortes de Tomar. O descontentamento dos portugueses era geral, e Filipe III, que não o ignorava, empreendeu uma viagem a Portugal, resolução que muito aplaudiu o novo ministro e valido, o duque de Uzeda, filho do duque de Lerma, que descaíra do valimento real, e se havia afastado da corte. A viagem realizou-se em 1619. Dela ficou a interessantíssima narrativa ilustrada de João Baptista Lavanha, e que, embora impressa em Madrid, o foi à custa da cidade de Lisboa. O soberano foi acolhido por toda a parte com o maior entusiasmo, as câmaras e as corporações portuguesas gastaram enormes somas para uma pomposa recepção, esperando grandes proveitos desta viagem, imaginando que o soberano
  • 18. daria providencias contra os danos de que todos se queixavam das arbitrariedades dos governadores. Filipe III, porém, nada fez, nem sequer soube cativar simpatias. Insinuou-se-lhe que fizesse de Lisboa a capital da vasta monarquia espanhola, e Filipe nem se dignou responder; os fidalgos e os jurisconsultos queixaram-se de que nem recebiam mercês, nem eram empregados nos tribunais, nas embaixadas, nas universidades espanholas, e Filipe não fez o mínimo caso destas reclamações. O duque de Uzeda, muito menos hábil que seu pai tratou com aspereza o duque de Bragança, que viera também prestar homenagem à majestade castelhana. Depois de estar alguns mexes em Lisboa, sem fazer mais do que causar grandes despesas aos seus súbditos portugueses, Filipe retirou-se em Outubro do referido ano de 1619, deixando Portugal descontentíssimo, agravando-se ainda mais esse descontentamento, depois da sua saída, com a recondução do marquês de Alenquer no cargo de vice-rei de Portugal. Na Índia, contudo, mantinha-se o nosso domínio, ainda que, a muito custo; os holandeses já tinham tentado tomar-nos as Molucas, Malaca e Moçambique, mas batidos por André Furtado de Mendonça e Estêvão de Ataíde, haviam desistido dessa empresa. Na América também os holandeses ainda não tinham atacado as nossas colónias. Filipe III casou com D. Margarida de Áustria, filha do arquiduque Carlos, no dia 18 de Abril de 1599. Ao sair de Portugal Filipe adoeceu gravemente em Covarrubias, e nunca mais se restabeleceu, falecendo pouco mais dum anuo depois. Diz-se que a sua morte foi devida ao rigor de etiqueta, porque sentindo-se muito incomodado com o calor dum braseiro, teve de o suportar enquanto não apareceu o fidalgo, que pela sua hierarquia, segundo as praxes palacianas, era encarregado de o fazer remover para outro lugar. No Panorama, vol. II da 2.ª série, 1843, a pág. 218, 238 e 253, vem uma narrativa intitulada O Brazeiro, em que se descreve este facto. No seu reinado publicou-se a reforma das Ordenações do
  • 19. reino, que Filipe II tratou logo no começo do seu reinado; apesar de já estar concluída em 1597, só veio a publicar-se em 1603. São as conhecidas ordenações denominadas Filipinas, e que na ordem dos tempos foram precedidas pelas intituladas Afonsinas e Manuelinas.
  • 20. Filipe IV de Espanha e III de Portugal n. 8 de Abril de 1605 f. 7 de Setembro de 1665 O Grande. Nasceu em Madrid a 8 de Abril de 1605, onde também faleceu a 7 de Setembro de 1665. Era filho de Filipe III, de Espanha, e da rainha sua mulher, D. Margarida de Áustria. Em 14 de Julho de 1619 foi jurado príncipe de Portugal, e aos 16 anos de idade, em 1621, sucedeu no trono por morte de seu pai. Logo no começo do seu reinado chamou para junto de si D. Gaspar de Guzman, que fez conde-duque de Olivares, que se tornou o seu ministro e valido homem em que depositava a maior confiança e a quem entregou completamente a administração dos negócios do Estado. O novo valido era mais activo e mais inteligente que os anteriores ministros, os duques de Lerma e de Uzeda, mas pela sua má política, foi mais prejudicial do que eles ao rei e aos países que governava. Julgando conseguir os seus fins adoptando medidas rigorosas, tomou tais providências com relação a Portugal, que provocou a maior resistência. O que os portugueses aceitaram de bom grado, serenando mais os ânimos irrequietos, foi a demissão do marquês de Alenquer, que era o vice-rei de Portugal, substituindo-o por uma junta de três membros, composta do conde de Basto, D. Nuno Alvares Portugal e o bispo de Coimbra. Seria decerto um bom ensejo para se entrar numa politica conciliadora, muito mais, conhecendo-se a
  • 21. irritação que lavrava em Lisboa e nas províncias, mas o conde- duque não viu ou não quis ver a gravidade da situarão, e seguiu um caminho cheio de precipícios. Promulgou, em nome do rei, decretos sobre bens da Coroa, sobre a fiscalização financeira, que feria os interesses do povo, decretos que começaram a suscitar grande indignação; arrancou tributos ao país, a título de subsídios voluntários, publicou fechar outra vez os Portos do reino aos holandeses, medidas que muito contribuíram para a ruína do país, que tivera algumas esperanças de lucrar com a actividade e inteligência do novo ministro e valido. A esta situação pouco tranquilizadora sobrevieram factos que seriamente inquietavam o conde-duque, e que o obrigaram a empregar toda a energia. A trégua com as Províncias Unidas estava concluída, e a luta recomeçava não muito desvantajosa na Europa, onde Spínola mantinha o prestigio das armas espanholas, mas nas colónias, onde o desmoronamento estava sendo completo, principalmente nas colónias portuguesas menos protegidas que as de Espanha, pelo egoísmo inepto do governo de Madrid. Em 1623, Ormuz caiu em poder dos persas auxiliados pelos ingleses; em 1624, os holandeses tomaram Baía; no entretanto, Macau e a Mina foram heroicamente defendidas; repeliram os holandeses, e a Baia foi-lhes reconquistada em 1625, por uma forte esquadra, que o conde-duque de Olivares mandou rapidamente aprestar, com o auxílio do patriotismo português, então vivamente excitado. Contudo, o ministro bem calculava que os holandeses deveriam continuar a inquietá-lo, porque a França aliara-se com os protestantes da Alemanha, com a Dinamarca e a Holanda, sendo um dos planos desses aliados o enfraquecimento da Espanha pelos repetidos assaltos dados ás suas colónias pelas esquadras holandesas. Para resistir àquela aliança, entendeu Olivares que devia ligar fortemente os diferentes reinos que constituíam a monarquia espanhola, quebrando os foros e as isenções que cada um deles guardava com a maior tenacidade.
  • 22. Para realizar esse plano começou por enfraquecer os diversos reinos, exigindo-lhes pesados impostos, especialmente a Portugal, que no plano tributário ocupava o primeiro lugar. O conde-duque de Olivares, de tal forma o oprimiu que o povo se revolucionou, cansado de tantas violências. Não tendo já sobre que lançar impostos, chegou até a tributar as maçarocas, o que amotinou as regateiras do Porto, que correram à pedrada Francisco de Lucena, que fora ali encarregado de distribuir e cobrar o novo imposto. (V. Maçarocas, imposto das). Os governadores do reino, o conde de Basto e D. Afonso Furtado de Mendonça eram os primeiros a protestar contra os inauditos tributos e tão repetidas vexações, ponderando ao governo de Madrid que o povo, já tão oprimido e massacrado, poderia reagir energicamente, mas os seus protestos não foram ouvidos, e o implacável ministro castelhano ainda mais agravou os impostos, recomendando aos agentes fiscais que procedessem com o máximo rigor contra os que não pagassem pontualmente. Era duma sofreguidão insaciável; Olivares empregava mil formas para arrancar dinheiro a Portugal, já alcançando dos cristãos novos milhão e meio de cruzados a troco de um indulto que lhes oferecia, já levantando empréstimos, que eram verdadeiros tributos, já promovendo subscrições, a que dava o nome de voluntárias, a pretexto de socorrer as colónias. As ordens do conde-duque de Olivares tinham hábeis executores em Diogo Soares, secretário do conselho de Portugal em Madrid, e no seu parente, o celebre Miguel de Vasconcelos, nomeado escrivão de fazenda e secretário de Estado de Portugal, quando a duquesa de Mântua, parenta de el-rei, foi nomeada em 1631 vice-rainha de Portugal. Este homem tornou-se justamente odioso aos portugueses pelo modo como desempenhava a sua missão de secretário de Estado. Os impostos eram cada vez mais odiosos. Olivares tivera a ideia de obrigar os portadores de títulos de divida publica a um empréstimo forçado, mandando que os tesoureiros das
  • 23. alfândegas retivessem um trimestre de juros aos portadores, a quem os pagavam. Com esta simplicidade entendia também Miguel de Vasconcelos que se deviam cobrar os tributos. Foi ele quem lembrou que, em vez de se lançarem tributos novos neste ou naquele género, se lançasse ao reino de Portugal uma finta de 500:000 cruzados, finta que as câmaras distribuiriam depois entre os contribuintes como lhes aprouvesse. A paciência popular estava esgotada; de tantos sacrifícios e vexames resultara o povo revolucionar-se. Em Évora romperam os tumultos e com Poda a energia, em que tanto se salientou o celebre Manuelinho de Évora. Contudo, tomaram um carácter exclusivamente democrático, que foi muita prejudicial, porque a nobreza em vez de se aliar à insurreição, viu-se insultada pelo povo, e o mais que pôde fazer, em atenção ao patriotismo, foi apresentar-se como medianeira deixando a revolução entregue ás suas próprias forças, mas o movimento propagou-se com bastante rapidez no Alentejo, Algarve, Porto e em alguns pontos do Minho. Faltava, porém, um chefe, direcção e unidade neste ímpeto revolucionário. Olivares aproveitou-o como pretexto para trazer tropas castelhanas a Portugal, punindo severamente os revoltosos de Évora, e tornando ainda mais despótico e opressor o jugo que fazia pesar sobre Portugal. Esperava que o povo português reagisse de novo, dando-lhe pretexto para poder aniquilar completamente a nossa autonomia. Tomara para isso todas as precauções necessárias. Fora chamando a Espanha pouco a pouco os principais fidalgos portugueses, invocando diferentes pretextos, mas na realidade para tirar à revolução, que esperava, os seus naturais chefes; mandava alistar em Portugal terços que remunerava bem para irem servir em Flandres, apoderava-se de todos os navios portugueses, e dera ordem à, esquadra de D. António de Oquendo que viesse para Lisboa, afim de dar força à proclamação da união definitiva de Portugal com a Espanha.
  • 24. Receando que o duque de Bragança se resolvesse a capitanear uma insurreição, resolveu Olivares enleá-lo de tal modo que, ou se declarasse formalmente em oposição ao governo espanhol, e então seria um pretexto para o obrigar a sair do reino, ou se tornasse cúmplice do domínio espanhol, fazendo-se executor das suas ordens mais odiadas. D. João aceitou o cargo de presidente de uma junta de defesa do reino, e nessa qualidade veio até Almada, onde os fidalgos lhe pediram para tomar a Coroa. D. João recusou, mas se a sua timidez o impedia de se lançar no caminho da revolução, o seu natural bom senso fazia com que se escapasse dos laços de Olivares, e evitasse a posição falsa em que o ministro castelhano o pretendia colocar, procedendo de modo que todos percebessem que ele andava ali forçado e tratando dos interesses do nosso país. Procurando por todas as formas desprestigiar, desmoralizar e enfraquecer Portugal, Olivares não hesitava em recomendar a Miguel de Vasconcelos que promovesse tanto quanto possível a desonra e o descrédito das famílias nobres; fazendo com que se lhes seduzissem as filhas, indicação que pareceria fantasiada, se não estivesse publicada a correspondência sobre este assunto, entre Diogo Soares e Miguel de Vasconcelos. Os planos do conde-duque de Olivares não se realizaram, porque a esquadra do almirante Oquendo foi derrotada pelos holandeses na batalha do Canal, porque a guerra dos Trinta Anos recrudesceu, achando-se a Espanha a braços com todo o poder da França, porque a Catalunha, que via os seus foros já suprimidos violentamente por Olivares, respondeu à opressão com a revolução, e, expulsando o vice-rei e as tropas castelhanas, declarou-se em insurreição aberta. Os acontecimentos das colónias, que estavam cada vez em piores circunstâncias, tendo-nos tomado os holandeses Pernambuco, Paraíba, Maranhão, S. Jorge da Mina e Malaca, indignavam seriamente os portugueses que já tinham reagido com toda a energia contra a imprudência com que o conde-duque de Olivares
  • 25. quisera mandar em socorro do México uma esquadra, equipada à custa do tesouro português e destinada ao Brasil. A notícia da insurreição da Catalunha veio agitar ainda mais a opinião pública. Olivares aproveitou esse acontecimento para arrancar mais tropas a Portugal, e chamar a Madrid quantos fidalgos pôde, sendo o primeiro que chamou o duque de Bragança. Em Lisboa conspirava um grupo de fidalgos de acordo com João Pinto Ribeiro, procurador do duque de Bragança, para lhe darem a Coroa. D. João, vendo que não podia desobedecer ás ordens do governo de Espanha, que o chamava a Madrid, senão pondo-se à frente da revolução, deu o seu consentimento, e o glorioso dia primeiro de Dezembro de 1640 raiou finalmente, em que Portugal readquiriu a sua independência depois de tio anos de ignominiosa opressão sob o domínio de três monarcas castelhanos. Filipe IV de Espanha e III de Portugal, enquanto o seu ministro e valido conde-duque de Olivares governava abertamente, cavando com os seus planos e as suas teorias a ruína de Espanha, empregava o tempo divertindo-se, caçando, escrevendo comédias, namorando actrizes, com especialidade Maria Calderon, de quem teve um filho, que foi depois D. João de Áustria, um dos generais espanhóis de maior nomeada; e fazia-se retratar por Velásquez e Rubens. Apesar da sua indiferença, causou-lhe uma certa sensação a perda de Portugal, e desde então começou a desgostar-se do valido, que não tardou a substituir por D. Luís de Haro. Deram-se em seguida grandes batalhas, como as das Linhas de Elvas, do Ameixial, de Castelo Rodrigo, terminando a campanha da Independência com a de Montes Claros, em 1665. Filipe faleceu pouco depois desta batalha. Tinha casado com D. Isabel de Bourbon, filha de Henrique IV, de França.
  • 26. D. João IV Filho de D. Teodósio, duque de Bragança e de D. Ana Velasco, casou em 1633 com D. Luísa de Gusmão, espanhola da casa de Medina Sidónia. Já em 1638, os conjurados da Revolução de 1640 tinham procurado obter a aceitação de D. João para uma revolta contra Espanha. Mas as hesitações, ou cautelas, do duque fizeram levantar a hipótese de se conseguir o regresso do infante D. Duarte, solução que falhou, tendo-se mesmo encarado a instauração de uma república, nos moldes da das Províncias Unidas. A verdade é, que depois da sua aclamação como rei a 15 de Dezembro de 1640, todas as hesitações desapareceram e D. João IV fez frente às dificuldades com um vigor que muito contribuiu para a efectiva restauração da independência de Portugal. Da actividade global do seu reinado, deveremos destacar o esforço efectuado na reorganização do aparelho militar - reparação das fortalezas das linhas defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições, defesa do Alentejo e Beira e obtenção de material e reforços no estrangeiro; a intensa e inteligente actividade diplomática junto das cortes da Europa, no sentido de obter apoio militar e financeiro, negociar tratados de paz ou de tréguas e conseguir o reconhecimento da Restauração; a acção desenvolvida para a reconquista do império ultramarino, no Brasil e em Africa; a alta visão na escolha dos colaboradores;
  • 27. enfim, o trabalho feito no campo administrativo e legislativo, procurando impor a presença da dinastia nova. Quando morreu, o reino não estava ainda em segurança absoluta, mas D. João IV tinha-lhe construído umas bases suficientemente sólidas para vencer a crise. Sucedeu-lhe D. Afonso VI, seu segundo filho. Ficha genealógica: D. João IV nasceu em Vila Viçosa, a 19 de Março de 1604 e morreu em Lisboa, a 6 de Dezembro de 1656, tendo sido sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora. Era filho de D. Teodósio II, 7 ° duque de Bragança, e de sua mulher, D. Ana de Velasco. Do seu casamento, celebrado em 12 de Janeiro de 1633, com D. Luísa Francisca de Gusmão, que nasceu em San Lucar de Barrameda, a 13 de Outubro de 1613, e morreu em Lisboa a 27 de Outubro de 1666, filha do 8 ° duque de Medina-Sidónia, D. Juan Manuel Pérez de Guzman, e da duquesa D. Joana de Sandoval, nasceram: 1. D. Teodósio, que nasceu em Vila Viçosa a 8 de Fevereiro de 1634 e morreu em Lisboa, a 13 de Maio de 1653. Foi 9 ° duque de Bragança e príncipe do Brasil, em 1645; 2. D. Ana, que nasceu em Vila Viçosa, a 21 de Janeiro de 1635 e morreu no mesmo dia; estando enterrada no Convento das Chagas daquela vila; 3. D. Joana, que nasceu em Vila Viçosa a 18 de Setembro de 1635 e morreu em Lisboa, a 17 de Novembro de 1653; sepultada no Mosteiro dos Jerónimos e mais tarde trasladada para o Mosteiro de S. Vicente de Fora; 4. D. Catarina, que nasceu em Vila Viçosa, a 25 de Novembro de 1638 e morreu em Lisboa, a 31 de Dezembro de 1705. Foi sepultada no Mosteiro dos Jerónimos e mais tarde trasladada para o Mosteiro de S. Vicente de Fora. Foi rainha de Inglaterra pelo seu casamento, em 1661, com o Carlos II, rei de Inglaterra, que morreu em 16 de Fevereiro de 1685;
  • 28. 5. D. Manuel, que nasceu em Vila Viçosa, a 6 de Setembro de 1640 e faleceu no mesmo dia, tendo sido sepultado no Convento de S. Francisco daquela vila; 6. D. Afonso VI, que herdou a coroa; 7. D. Pedro II, que sucedeu ao precedente; Teve D. João IV uma filha ilegítima, de mãe desconhecida: 8. D. Maria, que nasceu em Lisboa, a 30 de Abril de 1644, e morreu em Carnide, a 7 de Fevereiro de 1693, no Convento de S. João dos Carmelitas Descalços. Foi reconhecida pelo progenitor, o qual lhe fez mercê das vilas de Torres Vedras e Colares e dos lugares de Azinhaga e Cartaxo, tendo-se dado à vida religiosa.
  • 29. D. Afonso VI Rei de Portugal. Sexto filho de D. João IV e de D. Luísa de Gusmão. Atacado na infância por doença não identificada, fica mental e fisicamente diminuído. Com a morte de seu irmão D. Teodósio e de seu pai, sobe ao trono com treze anos, pelo que a regência ficou entregue a sua mãe. O rei foi crescendo, rebelde a toda a acção educadora, levando uma vida desregrada e manifestando-se perfeitamente incapaz para assumir as responsabilidades do governo. Um dos seus companheiros, na vida de arruaceiro que levava, António Conti, italiano de origem, insinuou-se-lhe de tal maneira que em breve passou a viver no Paço, a convite de D. Afonso VI e a ter influência nos negócios do governo do reino. O escândalo aumentou a um ponto que D. Luísa de Gusmão fez jurar herdeiro do trono o infante D. Pedro e António Conti foi preso. Logo a seguir, o conde de Castelo Melhor executa um golpe de Estado, compelindo D. Luísa a entregar o governo a D. Afonso VI e forçando-a a retirar-se para um convento. Nas boas graças do rei, Castelo Melhor lança-se na sua curta a brilhante carreira política, terminando vitoriosamente com a guerra da Restauração e conseguindo casar D. Afonso com Mademoiselle de Aumale. Em breve a nova rainha entra em conflito com Castelo Melhor. Giza-se nova conspiração no paço, de que resulta a demissão do conde e a abdicação de D. Afonso VI. D. Pedro toma as rédeas do poder, casa com a cunhada, depois da anulação do
  • 30. casamento desta com D. Afonso e este último é desterrado para Angra do Heroísmo em 1669, donde regressa em 1674, sendo então encerrado no Palácio de Sintra até à sua morte. Ficha genealógica: D. Afonso VI nasceu em Lisboa, a 12 de Agosto de 1643 e morreu em Sintra, a 12 de Setembro de 1683, tendo sido sepultado no Mosteiro dos Jerónimos e trasladado para o Mosteiro de S. Vicente de Fora. Casou em 1666 com D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, que nasceu em Paris, a 21 de Junho de 1646, e morreu em Lisboa, a 27 de Dezembro de 1683, estando sepultada na igreja do Convento das Francesinhas e trasladada em 1912, para o Mosteiro de S. Vicente de Fora, filha de Carlos Amadeu de Sabóia, duque de Nemours, e de Isabel de Vendôme. Morreu sem descendência.
  • 31. D. Pedro II Último dos sete filhos de D. João IV, quarto na ordem de sucessão, nascido em 1648, foi vigésimo terceiro rei de Portugal e o terceiro da Dinastia de Bragança, pelo imperativo duma solução política de emergência na mais grave conjuntura das primeiras décadas da Restauração, tão recente como ainda periclitante. Um signo funesto parecia pesar sobre os destinos da nascente dinastia. Não desistia o orgulho da Espanha de eliminá-la radicalmente por guerra de reconquista. Consumira-se o fundador, exausto na luta, sem ter podido consolidá-la. Por cúmulo, três anos antes da sua morte, falecera-lhe em 1653, aos 19 anos de idade, o primogénito, príncipe D. Teodósio, em quem seu pai fundava as melhores esperanças. Ficava-lhe por sucessor, ainda menor de 13 anos, o infante D. Afonso, com os defeitos que o incompatibilizavam com o exercício da realeza e as consequências políticas da sua doentia inferioridade, a principal das quais foi o golpe de estado que elevou à situação de primeiro-ministro, aparentemente na modesta designação de escrivão da puridade do monarca, mas na função efectiva de verdadeiro soberano, o conde de Castelo Melhor. Entretanto em 1666, para assegurar-lhe a sucessão e o apoio do poderoso Luís XIV, o diligente ministro negociara o casamento de D. Afonso VI com uma princesa de França, Mademoiselle d'Aumale, D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, sobrinha de Luís XIV e neta de Henrique IV. E foi esse o único
  • 32. acto imprudente do sagaz político, tão fatal para a desgraça do rei, como para os seus próprios planos ambiciosos duma política de engrandecimento do Reino. Realizado em 1666, resultou o casamento irreparavelmente desastroso, dada a incapacidade física e moral do rei. Foi praticamente o detonador da segunda revolução de palácio, em 1667, encabeçada agora pelo infante D. Pedro, com o apoio de todos os inimigos de Castelo Melhor, invejosos da sua fortuna política. Educada na dissoluta corte de Versalhes, a nova e formosa rainha D. Maria Francisca, vexada por tal consórcio, apaixonou-se pelo brilhante cunhado D. Pedro, de 18 anos. Nos seus delituosos amores, ambos conluiaram novo golpe político. Em certa manhã de Novembro de 1667, a rainha abandonava o Paço e, de concerto com o infante D. Pedro, refugia-se no Convento da Esperança, aonde logo ele acorria a seu favor, com o Conselho de Estado; e, depois de tumultos vários, o rei era coagido a assinar a sua própria deposição e entrega do governo do Reino a seu irmão, o qual, em nome da rainha, assumia o poder como príncipe-regente, desterrando para os Açores o irmão destronado e, depois de rápido e escandaloso divórcio, casava com a cunhada em Abril de 1668, dela tendo logo em Janeiro do ano seguinte a sua primeira e única filha, a princesa D. Isabel Luísa. Consumara-se a dupla usurpação do trono e da mulher. Assim dramaticamente, com 20 anos apenas, começava D. Pedro, em 1668, a sua atribulada vida política. Defrontava-se de entrada com a gravíssima situação económica e financeira do Portugal restaurado, arruinado por vinte e oito anos de guerra sem tréguas, depois dos sessenta de estragos directos e indirectos do domínio filipino. Resolutamente se esforçou desde logo o usurpador por administrar bem, com acerto, chamando ao Conselho, para conjurar a crise, um escol de homens notáveis pela cultura e pelo carácter, como Diogo Rodrigo de Macedo, o 3.º conde da
  • 33. Ericeira, D. Luís de Meneses, e outros economistas, homens cultos, informados já pelas novas teorias económicas fisiocráticas de Colbert, grande ministro das Finanças de Luís XIV. Nada, porém, remediavam de momento as suas tentativas de reformas drásticas, por inoperantes em país tão devastado pela guerra, desfalcado de população produtiva, com as lavouras ao abandono, sem indústrias fabris e inveteradamente viciado no gozo falaz da ilusória opulência do comércio do Oriente, já reconhecidamente ruinoso para o Estado e para a Nação desde os tempos de D. João III e Pêro de Alcáçova Carneiro. Restava à Metrópole, como esteio económico, o Brasil, com sua próspera actividade, agro-industrial de plantações e engenhos de açúcar, exportação de pau-brasil e outras madeiras e produtos exóticos, além da intensiva pesquisa de minas de ouro e prata que se presumia existirem a oeste, como nos sertões do Peru e da Bolívia, próximos em continental continuidade. No afã de se acudir por todos os meios à ameaça duma bancarrota à vista, recorria-se ainda complementarmente à valorização económica dos domínios de África. Em 1678 tentava- se uma colonização militar em Moçambique, para fixação de colonos e exploração agrícola, e desenvolvia-se na fertilíssima região da Zambézia um símile de capitanias donatárias, à semelhança das do Brasil, com as concessões de terras, a que se deu a designação oficial de prazos da Coroa. Na Guiné, em Cabo Verde, em Angola, que praticamente viviam do tráfico de escravatura, incrementava-se por meios adequados o fomento agrícola e comercial, criando companhias de comércio privilegiadas, como as de Cacheu e Cabo Verde e outras, disseminando feitorias e povoações comerciais nas zonas mais populosas de Angola e Moçambique. Tudo, porém, pouco mais do que inútil. Progressivamente se agravavam a penúria e decadência material da Metrópole, sob a regência de D. Pedro, cujo reinado legítimo só propriamente
  • 34. começara em 1683, por morte do irmão proscrito, sem descendência, na sua prisão-desterro do Paço de Sintra, para onde viera transferido dos Açores (ilha Terceira), depois de malograda, pela execução dos cabecilhas, a conjura de 1673, para o libertar e repor no trono. De perto o seguiu no túmulo, ainda nesse ano, a própria rainha D. Maria Francisca, sua ex-mulher, sem outros herdeiros além da infanta D. Isabel Luísa. Já rei de facto, proclamado em Cortes, D. Pedro II casava, em segundas núpcias, com D. Maria Sofia de Neuburgo, princesa bávara do Palatinado do Reno, que em 1689 lhe assegurava a sucessão da coroa em varão herdeiro dando à luz o príncipe D. João, depois D. João V, logo como tal proclamado, em substituição da princesa Isabel Luísa, das primeiras núpcias, falecida pouco depois, aos 22 anos de idade. Nesse mesmo ano de 1690 a situação agravava-se com o suicídio do 3.0 conde da Ericeira, seu vedor da Fazenda, numa crise aguda de neurastenia, exacerbada pela inanidade da sua sábia administração desde 1675 e de todos os seus planos da criação de indústrias fabris para ressurgimento da Metrópole em sólidas bases económicas. Era o sinal de alarme duma inevitável ruína financeira a curto prazo, que arrastaria possivelmente a própria Nação à catástrofe duma desagregação política, precursora de definitiva absorção por Espanha. De resto, já mesmo em 1683, ano da proclamação do rei em Cortes, era tão patente e generalizada a previsão dessa fatalidade que o próprio D. Pedro II chegara a encarar seriamente o propósito de renunciar à coroa e retirar para o Brasil, abdicando na filha D. Isabel e em quem viesse a ser seu marido. Dissuadiram-no dessa espécie de deserção o confessor e o seu conselheiro secreto, sem que por esse facto se desanuviassem as perspectivas do pessimismo que havia levado ao suicídio o seu mais ilustre vedor da Fazenda. Em 1685, cedia enfim ao
  • 35. acto de generosidade de autorizar o regresso de Castelo Melhor, já velho e sem veleidades políticas. Nesse destino lúgubre se teria talvez afundado, com a dinastia, a sobrevivência da Nação, se nos fins do século não tivesse providencialmente chegado à corte a alvoroçada notícia da descoberta de minas de ouro e brilhantes no Brasil, a coroarem de pleno êxito as exaustivas e pertinazes incursões do bandeirismo paulista nas selvas e sertões a oeste do imenso e inexplorado estado americano. Como o rendimento fiscal da Coroa era desde logo o quinto da mineração, a primeira remessa de 1699 trazia a D. Pedro, além de 11000 quilos de ouro amoedado, o valor de sete milhões de cruzados, na transacção de brilhantes em Amesterdão; e até final do reinado o quinto devido à Coroa orçaria por cerca de cinco milhões de cruzados. Era uma ressurreição de desvairantes esperanças! Considerados desnecessários, e logo abandonados, todos os planos de sadia reformação económica por exploração metódica das próprias riquezas da Metrópole, e por isso também já despiciendo, por supérfluo, o acordo comercial negociado com Inglaterra em 1703, conhecido por Tratado de Methuen. Era, aliás, de vantagens problemáticas para a nossa economia a colocação dos nossos vinhos em Inglaterra, mas substancial para esta a colocação entre nós de seus lanifícios. O fortuito caudal de ouro e pedras preciosas do Brasil tudo viria suprir e sanar sem mais cuidados para o futuro da dinastia. Ter-lhe-ia, pois, terminado em glória o tormentoso reinado sem a aventura militar em que por fim precipitava o Reino, acedendo a pressões inglesas para se imiscuir também, como aliado, no imbróglio inextricável da Guerra de Sucessão de Espanha, em que rigorosamente não se pleiteavam vitais interesses materiais ou políticos para a Nação, nem mesmo a defesa do seu território ou da honra nacional, que, pelo
  • 36. contrário, ficavam sob a permanente ameaça das contingências duma guerra, sempre imprevisíveis. Aderindo à tripla aliança anglo-austro-holandesa contra o bloco bourbónico franco-espanhol, D. Pedro obrigava-se, por acordo de 1703, a fornecer aos aliados um exército de 28 000 homens e, pior que tudo, à cedência do próprio território pátrio para teatro de operações, como a melhor base estratégica de invasão da Espanha. Favorável de começo a campanha, pelos êxitos efémeros do exército do marquês das Minas na sua marcha e entrada triunfal em Madrid (1706), evoluiria em breve desastrosamente para os aliados, depois da sua decisiva derrota na batalha de Almansa, em Espanha (1707), a que se seguiu a contra-ofensiva espanhola sobre Portugal, em cujas fronteiras, forçosamente desguarnecidas, a batalha do Caia foi outra--derrota para o exército anglo-português. Em suma, por sua morte, em 1706, o rei, cognominado Pacífico, deixava ao sucessor, com várias praças do Alentejo ocupadas por espanhóis, o encargo de liquidar uma guerra inglória e dispendiosa que, no reinado seguinte, se arrastaria por mais seis anos e de que a única vantagem positiva para a Nação, pelo Tratado de Paz de Utreque, ratificado em 1713 com a França e em 1715 com a Espanha, viria a ser a de se ter salvo, ao menos, a integridade dos seus domínios do Ultramar. Em reinado de tão tumultuária política interna e externa, a actividade cultural da Nação não sofreu, todavia, o colapso ou afrouxamento que seria de esperar, quer na expressão literária, em que fulgurara o talento dum António Vieira, mestre e renovador da língua, quer nas artes plásticas, pintura religiosa e arquitectura religiosa e civil, em que o barroquismo seiscentista, com toda a sua sobrecarga de decoração ornamental, teve entre nós e no Brasil o seu período áureo e de carácter tão inconfundivelmente nacional como o manuelino, no século XVI.
  • 37. Ficha genealógica: D. PEDRO II nasceu em Lisboa, a 26 de Abril de 1648, e faleceu em Lisboa a 1 de Dezembro de 1706; tendo sido sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora. Do seu primeiro casamento, com a cunhada D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, teve: 1. D. Isabel Luísa Josefa (n. em Lisboa, a 6 de Janeiro de 1668; f. no palácio de Palhavã, a 21 de Outubro de 1690; sepultada no Convento das Francesinhas, erigido por sua mãe, e transladada para o Mosteiro de S. Vicente de Fora). Foi herdeira presuntiva do Reino entre 1668 e 1689, tendo-se malogrado o projecto de consórcio com Vítor Amadeu de Sabóia. Do segundo casamento de D. Pedro II, com D. Maria Sofia de Neuburg (n. em Brewath, a 6 de Agosto de 1666; f. em Lisboa, a 4 de Agosto de 1699; sepultada no Mosteiro de S. Vicente de Fora), filha de Filipe Guilherme de Neuburg, eleitor palatino do Reno, e de sua mulher Isabel Amália, nasceram os seguintes filhos: 2. D. João (n. em Lisboa, a 30 de Agosto de 1688; f. em 17 de Setembro seguinte; sepultado em S. Vicente de Fora); 3. D. João, que herdou o trono; 4. D. Francisco Xavier José António Bento Urbano (n. em Lisboa, a 25 de Maio de 1691; f. na quinta das Gaeiras, em Óbidos, a 21 de Julho de 1742; sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora). Foi 7 ° duque de Beja, grão-prior do Crato e senhor do Infantado. Morreu solteiro e sem descendência; 5. D. António Francisco Xavier José Bento Teodósio Leopoldo Henrique (n. em Lisboa, a 15 de Março de 1695; f. em Lisboa, a 20 de Outubro de 1757; sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora). Morreu solteiro e sem descendência; 6. D. Teresa Maria Francisca Xavier Josefa Leonor (n. em Lisboa, a 24 de Fevereiro de 1696; f. em Lisboa, a 16 de Fevereiro de 1704; sepultada no Mosteiro de S. Vicente de Fora);
  • 38. 7. D. Manuel José Francisco António Caetano Estêvão Bartolomeu (n. em Lisboa, a 3 de Agosto de 1697; f. na quinta de Belas, em igual dia de 1736; sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora). Morreu solteiro e sem descendência; 8. D. Francisca Josefa (n. em Lisboa, a 30 de Janeiro de 1699; f. na mesma cidade, em 15 de Julho de 1736; sepultada no Mosteiro de S. Vicente de Fora). Morreu solteira. Fora dos dois consórcios, D. Pedro II teve os seguintes filhos: 9. D. Luísa (n. em Lisboa, a 9 de Janeiro de 1679; f. em Évora; a 23 de Dezembro de 1732; sepultada no Convento de S. João Evangelista, dos cónegos seculares da mesma cidade), filha de D. Maria da Cruz Mascarenhas. Foi criada na família do secretário de estado Francisco Correia de Lacerda, e depois no Mosteiro de Carnide, junto de sua tia D. Maria (veja-se supra, 1, 8). Casou com D. Luís e, em seguida, com D. Jaime de Melo, respectivamente, 2.º e 3.º duques de Cadaval. 10. D. Miguel (n. em Lisboa, a 15 de Outubro de 1699; f. afogado no Tejo, a 13 de Janeiro de 1724; sepultado no Convento de S. José de Ribamar), filho da francesa Ana Armanda Du Verger. Foi reconhecido por D. João V como seu irmão e casou em 1715 com D. Luísa Casimira de Nassau e Ligne, herdeira da casa de Arronches. 11. D. José (n. em Lisboa, a 6 de Maio de 1703; f. em Ponte de Lima, a 3 de Junho de 1756; sepultado na sé arquiepiscopal de Braga), filho de D. Francisca Clara da Silva, foi aluno da Universidade de Évora e ali obteve o grau de doutor em Teologia. Arcebispo de Braga em 1739, foi sagrado em 5 de Fevereiro de 1741 e entrou naquela sé em 23 de Julho seguinte.