Fotografia Digital
1. A técnica fotográfica e o sentido
A origem da palavra fotografia vem do grego (foto=luz/grafia=escrita) que
significa escrever com a luz. Se ela é um tipo de escrita, então podemos pensar que
isso demanda o conhecimento de um código para podermos entender a mensagem.
Esse código é a linguagem fotográfica. Para Ivan Lima (1988, p. 19): “É um grande erro
achar que a linguagem da fotografia é universal. Não existe nem uma foto que possa
ser interpretada da mesma forma por um brasileiro, um francês e um chinês, por uma
moça de 18 anos e um homem de 80”.
A linguagem fotográfica pode ser compreendida através do estudo dos
componentes de ordem material e imaterial que são utilizadas conforme a
intencionalidade do autor da foto, na tentativa de alcançar um entendimento por
parte do leitor. Os de ordem material são as escolhas técnicas como: câmeras, lentes,
velocidade do obturador, abertura do diafragma, quantidade de luz, uso ou não do
flash, etc. Já os de ordem imaterial ou mentais são as escolhas de ordem mais
subjetiva como: contraste, foco, enquadramento, composição, etc. A soma de todos
componentes escolhidos terá como produto final a fotografia com a subjetividade e
ideologia do produtor, o que veremos a partir de agora.
1.1. Componentes de ordem material
Desde o lançamento da Kodak e da Brownie, ainda no final do século XIX, o senso
comum diz que qualquer um pode “tirar” uma foto. As grandes dificuldades técnicas,
os pesados equipamentos, os processos de revelação química foram todos suplantados
por George Eastmann com seu “You Press The Button and We Do The Rest". O que
dizer então das minúsculas máquinas digitais de hoje, constantes inclusive em boa
parte dos telefones celulares, nas quais é possível visualizar a imagem pronta no
instante seguinte ao da captura da cena e permitem que se faça um milhão de
tentativas “sem custo” se o sujeito tiver tempo e paciência? Todavia, a fotografia
profissional exigem um pouco mais que “apontar para uma cena e apertar um botão”.
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Os fotojornalistas precisam conhecer a linguagem fotográfica e aplicá-la nas escolhas
técnicas para chegar ao resultado almejado. Veremos a seguir os principais
componentes materiais que interferem na produção de sentido.
1.1.1. Luz
Ao nosso entendimento, a luz é a “matéria prima da fotografia” enquanto o
objecto (referente) dá a sua forma. Para o fotógrafo, o domínio da luz, pode ser
comparado ao domínio do barro ao oleiro. Segundo Weston (apud Busselle, 1977, p.
22): “Enquanto houver luz, o fotógrafo tem condições de trabalhar, pois seu ofício —
sua aventura — é uma redescoberta do mundo em termos de luz.”
Existem, na linguagem fotográfica, códigos razoavelmente convencionados para
o uso da iluminação, conforme as intencionalidades do fotojornalista. A escolha de um
tipo específico de luz para uma cena vai determinar a sensação que o fotógrafo quer
transmitir. Há muitos conceitos e conhecimentos sobre luz que são úteis para a prática
fotográfica, principalmente em estúdios. Todavia, para efeito de simplificação,
abordaremos duas situações de luz com as quais se depara o fotógrafo e que farão a
diferença no processo de significação: luz direta ou “dura” e luz difusa ou “suave”.
A luz direta é aquela em que não há obstáculo entre a fonte de luz e o objecto
fotografado, proporcionando sombras duras e contrastes altos, como nas fotografias
tiradas ao ar livre, no sol do meio-dia ou sob lâmpadas sem difusor. Os manuais de
fotografia consideram que esse tipo de luz traz sensação de desconforto e
dramaticidade.
“A luz dura, (...), cria sombras fortes que resultam em fotos nada bonitas (Guia
Completo de Fotografia - National Geographic, 2008, p. 99).”
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Exemplo de luz direta Exemplo de luz difusa
Já a luz difusa é conseguida, basicamente, de duas formas: (a) a luz passa por
um meio translúcido antes de atingir o objeto, como uma cortina ou papel vegetal
colocado em frente à uma lâmpada; (b) a luz é rebatida por uma superfície clara que
reflete os raios luminosos, incidindo no objeto à sombra, como por exemplo, alguém
perto de uma janela. Esse tipo de luz dispersa os raios luminosos, criando uma
iluminação uniforme e suave. O efeito pretendido é uma luz diluída, criando sombras
pouco pronunciadas e proporcionando sensação de conforto.
1.1.2. Obturador
É um dispositivo localizado na câmera, responsável pelo tempo de exposição do
material foto-sensível à luz (filme ou sensor nas câmeras digitais). Quanto maior for o
tempo de abertura do obturador, maior será a quantidade de luz que atingi rá o
material foto-sensível. A escolha da velocidade do obturador para a exposição
desejada estará sujeita à combinação com a luz disponível no ambiente a ser
fotografado e com a abertura do diafragma, que serão dadas pela leitura do
fotômetro1. As velocidades mais comuns são: B, 1, 1/2, 1/4, 1/8, 1/15, 1/30, 1/60,
1/125, 1/250, 1/500, 1/1000, 1/2000, 1/4000, (...) 1/200002.
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1 Dispositivo destinado a medir a luz com exatidão, disponível na maioria das câmeras.
2 As velocidades do obturador são dadas em frações de segundo, sendo que o número 1 representa um
segundo e o denominador representa o número de vezes em que este segundo foi dividido. Em algumas
câmeras o numerador 1 não é representado para economia de espaço.
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Botão de regulagem do obturador de
uma câmera analógica.
Geralmente, em uma exposição considerada “correta”, o ajuste da velocidade normal
do obturador serve como parâmetro para a escolha da abertura do diafragma,
conforme a luz disponível como, por exemplo, em um retrato formal. Porém há dois
efeitos interessantes que podem ser conseguidos alterando-se a velocidade do
obturador:
(a) o movimento borrado é conseguido quando um objeto ou pessoa passa em frente à
câmera com o obturador de velocidade baixa, como um carro de corrida que deixa um
rastro na foto, por exemplo; (b) o movimento congelado é obtido quando um objeto
ou pessoa em movimento passa em frente à câmera com obturador de velocidade alta
como, por exemplo, em fotos de esportes onde os atletas são congelados em plena
ação.
1.1.3. Diafragma
“Cortina do obturador”, visível quando o compartimento do filme
está aberto.
Movimento congelado, alta velocidade do
obturador.
Movimento congelado, baixa velocidade do
obturador.
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É um dispositivo constituído de lâminas semicirculares justapostas que podem ser
ajustadas alterando o diâmetro do orifício pelo qual passa a luz que atinge o material
fotosensível. É localizado na objetiva, portanto sua escala vai depender da lente que o
fotógrafo estiver usando. Quanto maior for o diâmetro da abertura, maior será a
quantidade de luz que atinge o material foto-sensível. Quanto menor o diâmetro do
diafragma, menor a quantidade de luz que atinge o material foto-sensível.
A representação do diafragma é dada pela letra f seguida do número
Há, contudo, uma consequência direta da abertura do diafragma com a profundidade
de campo3 (extensão da zona nítida da foto), que é inversamente proporcional à
entrada de luz, ou seja, quanto mais aberto o diafragma, menos profundidade de
campo; quanto mais fechado o diafragma, maior será a profundidade de campo. Isso
significa que o fotógrafo pode optar por menos profundidade de campo quando quer
chamar atenção para uma área específica da fotografia, média profundidade
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3 A profundidade de campo na prática é a extensão da zona nítida disponível quando se tira uma
fotografia e está subordinada à distância de focalização, ao tamanho da abertur a e à distância focal da
objectiva utilizada.
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de campo quando quer alguns elementos na zona nítida da foto e maior profundidade
de campo quando quer que todos os elementos apareçam nítidos na imagem.
As escalas numerais dos diafragmas nas lentes são inversas, ou seja, quanto
maior o número do diafragma menor será seu diâmetro e vice-versa. As escalas mais
comuns de diafragmas são: 1.8, 2.0, 2.8, 3.5, 4.5, 5.6, 8.0 (menor profundidade de
campo) e 11, 16, 22, 32, 64, (maior profundidade de campo).
Menor profundidade de campo f/2 - somente b
Posição do fotógrafo em relação a a, b e c.
Profundidade de Campo
está em foco.
Maior profundidade de campo f/16 - a, b e c
estão em foco
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O que é panning?
Quem já viu aquelas fotos de corridas, onde somente o carro está em foco e o fundo parece
estar em movimento, e ficou imaginando como a foto foi feita? A técnica é chamada
Panning, é mais simples do que você imagina.
Panning é a técnica mais usada quando falamos de fotografia em movimento. A ideia básica
por trás da técnica é a de que o fotógrafo siga o objeto em movimento e ao disparar, no
momento certo, o objeto ficará em foco e o fundo borrado, dando a sensação de movimento
ao assunto da fotografia.
Como fazer o panning?
Posicione-se em um local seguro, com uma boa visão da cena;
Coloque a câmera em prioridade de velocidade (modo Tv na Canon e S na Nikon) e
selecione uma velocidade de disparo relativamente lenta, comece com 1/40 e vá
experimentando até achar a velocidade ideal. Qualquer coisa entre 1/8 e 1/60 deve
funcionar, mais lento que isso e a foto provavelmente ficará tremida demais, mais
rápido e o fundo ficara muito nítido e sem o efeito de movimento.
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Quando o objeto começar a se aproximar, siga-o na mesma velocidade com a sua
câmera, mas evitando mover a câmera para cima ou para baixo. Dispare várias vezes,
mesmo antes e depois que o objeto passe pelo local desejado, e continue seguindo-o do
começo ao fim para garantir que ele fique em foco. Para facilitar, tente usar um tripé,
monopé ou uma lente teleobjetiva.
Caso a sua câmera não consiga focar muito bem objetos em movimento ou se você
estiver tendo dificuldades, tente prever onde o objeto estará no momento da foto e
regule o foco manual para focar exatamente naquela área (lembre-se de não se
deslocar muito após o foco estar regulado).
Seja muito paciente e não desista!
Se essa é a primeira vez que você esta tentado técnica de panning, não desista logo no
começo. Essa é uma técnica relativamente fácil de se aprender mas leva um pouquinho de
tempo e prática para começar a ter bons resultados. Um ótimo lugar para praticar é em frente
à sua casa com os carros que passam, lembre-se de afastar-se um pouco do objeto a ser
fotografado, quanto mais longe, mais lentamente você terá que acompanhar o objeto.
Tire muitas fotos! Com essa técnica você vai perceber que serão poucas as fotografias que vão
estar realmente em foco. Isso é normal até para fotógrafos mais experientes. Algumas vezes
deixar o objeto um pouco borrado aumenta a sensação de movimento na foto.
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Modo de Prioridade à velocidade
(S ou TV)
Este modo de prioridade à velocidade é muito parecido com o modo de prioridade à abertura.
Vamos controlar a velocidade do obturador e a máquina vai decidir automaticamente todas as
outras variáveis.
É uma boa opção para quando se está a fotografar objectos que estão em movimento rápido,
tais como desportos, ou outros em que se quer ter uma velocidade elevada para congelar o
motivo da nossa fotografia.
Caso contrário se pretender fazer uma fotografia, por exemplo de uma cascata, com a água a
ficar com um aspecto de névoa, ou aquela típica fotografia de uma estrada à noite em que não
se vêm os carros mas apenas as suas luzes, ou se simplesmente estiver numa situação de
pouca luz, poderá escolher uma velocidade baixa.
Exemplos de Velocidade
Velocidade Alta Velocidade lenta
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Regra dos terços
Consiste em dividir mentalmente o quadro da fotografia em nove partes iguais como
se fosse um “jogo da velha” e situar o objeto fotografado em uma das quatro interseções
das linhas. Essas quatro interseções são conhecidas como seções áureas, consideradas
regiões de maior dinamismo em uma imagem, nas quais o elemento vital é mais
enfatizado e também onde existe a convergência natural dos olhos do observador para dar
início ou finalizar a leitura.
Essa regra de composição foi criada no Renascimento e utilizada por grandes mestres
da pintura, como Da Vinci, Giotto e Michelângelo. Todavia, não existe técnica mais
intuitiva que a regra dos terços quando se trata de contextualizar a informação ou de
privilegiar algum elemento na imagem.
Exemplo do uso da regra dos terços