Mais conteúdo relacionado Semelhante a História sexta feira13 (10) História sexta feira131. – Namoro, se eu quiser! – gritava a
Sexta-Feira. – Por que não há-de um
simples dia da semana como eu
apaixonar-se pelo Número Treze?
– Tenta compreender, minha querida!
As sextas-feiras são especiais!
E depois, há aquela tradição...
– explicava pacientemente o seu pai.
– Pois, pois! Já sei! A tradição
antiquada de que sexta-feira que
casa com trezes tem azar durante
Mas Domingos Santos era um meses. Isso é um disparate, pai!
ferrenho conservador da moral
e dos bons costumes e, por isso,
proibia rigorosamente qualquer
relação entre a sua filha mais
nova e números, especialmente
o Número Treze, conhecido pela
sua fama de azarento e
desleixado.
Mas ela estava caídinha de
amores pelo rebelde número.
Conheceram-se numa semana de
Jackpot no Totoloto. Era sexta-
feira, as bancas estavam quase
a fechar e todos os humanos
corriam para registar os seus
jogos.
www.sitiodosmiudos.pt Copyright © Porto Editora, Lda.
2. Sexta-Feira encheu-se de toda a coragem que conseguiu arranjar e
meteu conversa!
– Eu pensava que eras o número do azar! – disse Sexta-Feira com um
ar de espanto.
– Nãaaa! Isso é só para os supersticiosos. Na verdade, o treze é um
número radical, cheio de magia e… sorte, vê lá tu!
– E é verdade ou não? Tu dás mesmo sorte?
– Isso vais ter de descobrir por
ti própria, porque nem eu mesmo
sei, na verdade.
E foi assim que o Treze conseguiu
um motivo para encontrar-se
mais vezes com a Sexta-Feira,
por quem já tinha um ligeiro
fraquinho. Os dois passaram a
encontrar-se, junto ao rio, ao
entardecer, para conversarem
sobre o mundo, sobre a vida e…
sobre poesia. O Treze era afinal
um ingénuo e doce poeta. Sexta-
Feira compreendia-o e admirava
a sua alma de verdadeiro artista.
Os dias passavam depressa para
os dois apaixonados. Mas, depois
de alguém os ter visto, espalhou-
se a má-língua de que o Treze
andava
“a fisgar” a Sexta-Feira.
A gana de Sexta-Feira não se
esmoreceu: quando confrontada
com a fúria do pai, assumiu uma
posição de força e disse-lhe que
ia almoçar com o Número Treze
no dia seguinte. Vendo que não a
vencia, o pai magicou um plano
verdadeiramente malvado...
www.sitiodosmiudos.pt Copyright © Porto Editora, Lda.
3. No dia seguinte, pela manhãzinha, Sexta-Feira acordava com os primeiros
raios de sol. Espreitou à janela e a cidade estava ainda deserta. Chovia
e fazia sol em simultâneo como se uma bruxa se penteasse… E foi
então que viu, a espreitar por baixo da cama, a rama de uma enorme
vassoura.
Calçou os chinelos de pano, que estavam virados ao contrário, e pelo
sim, pelo não, bateu três vezes com eles no chão.
Rodeou o quarto em bicos de pés,
assustada. O soalho rangia e uma
ferradura metálica luzia em cima da
porta. Sexta-Feira ficava cada vez
mais assustada.
Eram coincidências a mais...
Respirou fundo e decidiu não se
inquietar mais com o assunto; tudo
haveria de correr bem! Ainda assim,
não se deixou impressionar e saiu
de casa, a correr, debaixo de vento
e água.
Ao virar da primeira esquina,
fixaram-se em si os olhos de um
animal enorme e voraz, um gato
preto eriçado, de rabo esticado
como uma seta. Sexta-Feira
conseguiu resistir ao medo.
Respirou fundo e passou tranquila.
Depois, veio a vez do Toni, o lavador
de janelas contratado pelo pai
para despejar um grande balde de
água suja na sua cabeça.
Ao ver Sexta-Feira no fundo da rua
cantarolando distraída, gritou:
– Ei, rapazes! É agora!
www.sitiodosmiudos.pt Copyright © Porto Editora, Lda.
4. De repente, a rua encheu-se de
lavadores de janelas e Sexta-Feira
olhava em volta sem perceber a
confusão. À sua frente, uma
grande escada apoiada no prédio
cortava o passeio e indicava
perigo com um sinal vermelho.
– Não posso passar por baixo da
escada, não posso! – queixava-se,
aflita... Resistindo aos apertos,
empurrou um matulão que lhe
pressionava o braço e que foi
bater direitinho na escada.
Sexta-Feira passou, a correr, por baixo do objecto azarento, que caía
rapidamente e deixava Toni e os seus trabalhadores molhadinhos até
aos ossos. Sexta-Feira riu das suas figuras de monstros de espuma
negra.
Finalmente, chegou ao restaurante onde combinara o encontro com
o Treze.
– Bom dia, menina Sexta-
Feira! Está atrasada! O
senhor Treze está à sua
espera já há uma hora! –
exclamou o dono do
restaurante – Ele
reservou o terraço do
restaurante por ser o
local mais romântico que
temos, com vista para a
cidade e para o rio.
www.sitiodosmiudos.pt Copyright © Porto Editora, Lda.
5. Tudo aconteceu então muito
rapidamente como nos filmes
mais românticos de Hollywood:
Sexta-Feira correu para o
terraço onde o Treze a esperava
com um lindo ramo de flores
campestres.
O sorriso de ambos confirmou
o amor que desde há muito
sentiam e espantou a plateia
de invejosos liderada pelo pai
de Sexta-Feira atrás de um
balcão, como espião em guerra.
Um beijo entre o lindo par selou a união de Sexta-Feira e o Treze que
acabavam de dar a toda a gente: o amor não olha a quaisquer diferenças.
E, sobretudo, é caprichoso nas uniões requintadas que prepara: quem
diria que uma sexta-feira e um número treze se poderiam apaixonar
e viver felizes para sempre?!
Todos os anos os dois enamorados comemoram este dia célebre em
que revelaram a todos a força do seu amor, numa data que não é nada
apreciada pela maior parte das pessoas: a sexta-feira treze. Nesse
dia, em honra dos acontecimentos passados, desabam os maiores
azares a quem se atreve a sair de casa… Por isso, na próxima
sexta-feira treze, amigos, pensem bem naquilo que vão fazer…
www.sitiodosmiudos.pt Copyright © Porto Editora, Lda.