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Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
Dança do
Destino
Power Play
Penny Jordan
Copyright © 1988 by Penny Jordan
Publicado originalmente em 1988 pela Harlequin Books, Toronto, Canadá.
Todos os personagens desta obra, salvo os históricos, são fictícios. Qualquer outra
semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.
Copyright para a língua portuguesa: 1999 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.
Eles haviam manchado o passado de uma mulher. Agora ela os forçaria a
renunciar ao futuro!
Pepper faria quatro homens perder tudo que amava na vida. Depois ela
conseguiria viver em paz?
A mulher rica e sensual que arrebatava o coração dos homens parecia
distante de qualquer sofrimento. No mundo de brilho e sucesso da bela
Pepper Minesse ninguém suspeitaria que o desejo de vingança por uma
violência sexual sofrida no passado conduzia seus passos. Cada um de seus
movimentos sedutores, cada degrau de sua incrível ascensão social, cada
minuto que deixava de amar eram dedicados a um único objetivo: destruir
a vida de quatro homens que haviam abusado de seu corpo, amargurando
uma alma inocente.
Alguns queriam detê-la, nem que para isso precisassem matá-la. Só um
tinha a consciência limpa e o coração cheio de ternura. Com seu amor
esperava sufocar o fogo destruidor que ela estava prestes a lançar sobre
todos!
Projeto Revisoras 1
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
CAPITULO I
Há certas ruas, em qualquer cidade do mundo, que lembram
imediatamente riqueza e poder. Beaufort Terrace, em Londres, é uma
delas: uma graciosa curva onde se sucedem belos e sofisticados edifícios
de três andares, todos com fachadas de pedra no estilo Regência. Negros
balaústres com lanças de ouro ladeiam a escada, também de pedra, que
conduzem à imponente entrada de cada um desses prédios. Os aluguéis
dos escritórios da Beaufort Terrace são considerados os mais caros da
cidade, o que é justificável...
Pepper Minesse conhecia aquela rua melhor do que ninguém. Sua empresa,
a Minesse Management, fora uma das primeiras a se instalar ali, logo que
o trabalho dos restauradores e decoradores terminara. Era seu o prédio
localizado bem no meio do declive curvo. E ainda recebia o aluguel de mais
dois edifícios da mesma rua, enquanto banqueiros e investidores lutavam
por alugar qualquer conjunto de escritórios daquele local.
Naquela manhã, ao se deter por um momento na calçada antes de entrar,
Pepper percebeu que um homem, no outro lado da rua, havia parado de
caminhar para olhar para ela. Não era novidade. Trajando um elegante
conjunto preto marcado por um profundo decote em V, ela sabia a
impressão que causava: a de estar nua sob a roupa. Havia muito,
descobrira como era vantajoso distrair as pessoas com quem negociava.
Ela era uma daquelas mulheres que exalavam ao mesmo tempo
sensualidade e poder e por quem os homens se sentiam sempre
desafiados. Quando convinha, Pepper deixava-os pensar que ela era um
desafio que eles poderiam vencer.
Empreendera uma longa e árdua jornada para chegar onde atualmente se
encontrava. Sabia que não tinha a aparência de uma dirigente de um
império milionário. Para começar, era jovem demais; aproximava-se ainda
de seu vigésimo-oitavo aniversário. Mas não havia detalhe sobre as
complexidades da natureza humana que Pepper Minesse não conhecesse.
Minesse não era seu verdadeiro sobrenome. Adotara-o legalmente.
Tratava-se de um anagrama do nome Nêmesis, deusa da vingança, o que,
para Pepper, tornava-o perfeito para denominar sua empresa.
Ao subir a escada de pedra, o sol fazia brilhar o tom avermelhado de seus
cabelos. A sombra, podia-se acreditar que eles eram negros, mas na
Projeto Revisoras 2
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
realidade sua cor apresentava um ruivo profundamente escuro, raro,
quase tão raro como o denso azul violeta de seus olhos.
Enquanto ela subia os degraus rumo à entrada do prédio, o homem do
outro lado da rua fixava-se cobiçosamente em suas pernas esguias,
cobertas por meias de seda negra e transparente.
Assim que viu Pepper, a recepcionista sorriu nervosamente. Todos os
funcionários nutriam certo temor por ela, que estabelecia padrões muito
rígidos de trabalho, sendo ela mesma uma trabalhadora incansável. Tivera
de adotar tal postura. Construíra do nada aquela agência, que negociava
verbas milionárias de publicidade para astros do esporte.
Quando ela entrou, finalmente, na ante-sala de seu escritório, onde ficava
sua secretária, esta ergueu o rosto, cumprimentando-a. Miranda Hayes
trabalhava na Minesse Management havia cinco anos mas, do sua chefe,
sabia pouquíssimo mais que em seu primeiro dia de trabalho.
Entrou na sua grande sala de executiva e fechou a porta, deixando no
ambiente anterior apenas o seu perfume.
Não havia nada de feminino no escritório. Quando contratara os serviços
do decorador, esclarecera o que desejava: que aquele ambiente emanasse
uma sutil aura de poder.
— Poder? — indagara o decorador. Ela dera um sorriso gentil.
— Sim... você sabe, detalhes que fazem a pessoa sentada atrás da
escrivaninha parecer poderosa.
— Os homens não reagem bem a mulheres poderosas — brincara o
profissional, nervosamente.
Sabendo que o decorador estava certo, Pepper não havia prolongado a
discussão. Entretanto, ainda não nascera o homem com quem ela não
conseguiria lidar. A experiência provara-lhe que, quanto mais poderoso
era um homem, mais vulnerável era seu ego, e tirar vantagem desse fato
fora a primeira lição que aprendera.
Através da porta fechada, podia-se ouvir o som abafado e ritmado da
máquina de escrever da secretária. O sol que entrava pela janela refletiu-
se na delicada corrente de ouro no pulso esquerdo de Pepper. Ela nunca se
separava da jóia. Por um momento, olhou para a pulseira com um cínico
sorriso nos lábios. Em seguida, tirou-a do pulso a fim de usar a chave de
ouro que dela pendia para destrancar uma das gavetas de sua
escrivaninha.
Projeto Revisoras 3
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
Aquela gaveta continha suas pastas secretas. Eram quatro. Quatro
dossiês muito especiais que não se referiam a seus clientes. Aqueles que
pensavam conhecer Pepper diriam que era típico dela levar a chave
daquela gaveta a toda parte consigo, exibindo-a como outras mulheres
ostentariam o presente de um amante.
Pepper se deteve alguns segundos antes de retirar os dossiês da gaveta.
Havia esperado muito por aquele momento. Agora, a informação final
chegava-lhe às mãos e, a partir dela, forjaria o instrumento com o qual
orquestraria sua vingança.
Vingança! Não se tratava de uma palavra para escrupulosos! Nas
escrituras de todas as religiões conhecidas havia advertências contra a
usurpação pelo homem daquele poder pertencente somente aos deuses. E
Pepper sabia por quê. A busca da vingança proporcionava ao espírito
humano um poder perigoso. Por vingança, um ser humano suportaria o que
seria inconcebível sob qualquer outro sentimento.
Não havia nomes identificando os dossiês, ela não precisava disso. Sabia
de cor todos os detalhes. Cada um deles fora compilado com esmero no
decorrer dos anos. As informações foram se acumulando, até que
descobriu o que queria.
Pepper deteve-se mais uma vez, antes de abrir a primeira pasta, sobre a
qual passou a tamborilar suas longas unhas. Não era uma mulher que
costumava hesitar, ao contrário. E as pessoas que tomavam conhecimento
de antemão de sua força e firmeza se surpreendiam ao constatar como
Pepper era pequena, mal alcançando um metro e sessenta de altura, com
uma estrutura óssea quase frágil de tão leve. Logo descobriam que aquela
fragilidade assemelhava-se à do fio de aço.
No entanto, ela nem sempre fora assim. Certa época, fora vulnerável e,
como toda criatura vulnerável... Virou a cabeça e olhou pela janela. Seu
perfil era puro como o das esculturas egípcias, com a pele moldando-se
sedosa à perfeição das formas. Ao baixar levemente o olhar, seu rosto
adquiriu uma aura de misteriosa sedução.
Aquele olhar fixou os dossiês por um longo tempo antes de Pepper trancá-
los de novo na gaveta. Um sorriso iluminou seu rosto. Havia demorado, mas
agora o jogo estava para começar.
O interfone tocou.
— É Leslie Evans — informou a secretária.
Projeto Revisoras 4
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
A jovem estrela de patinação, que se tornara recentemente cliente de
Pepper, era uma promessa de medalha de ouro nos próximos Jogos
Olímpicos. Pepper vira-a atuar um ano antes e instruíra os executivos sob
seu comando a mantê-la sob observação.
Dizia-se, no mundo dos negócios, que Pepper Minesse tinha o dom de
apostar o dinheiro no cavalo certo e, o que era mais importante, naquele
que tinha menos cotação para vencer, o que lhe dava ainda maior
vantagem.
Ela nada fazia para se livrar daquela fama. Era vantajoso deixar que a
transformassem numa espécie de fenômeno pois com isso o mistério que a
cercava se fortalecia. Na realidade, suas decisões se baseavam em fatos
cuidadosamente estudados, além de sua própria intuição, na qual
aprendera a confiar.
À patinadora fora oferecido um contrato para promoção de roupas
esportivas para adolescentes. A empresa envolvida era bem conhecida de
Pepper. Sua diretoria gostava de economizar e prendia os jovens
esportistas que contratava com contratos punitivos, o que explicava o
fato de a Minesse Management estar atuando como intermediária. A
tarde foi toda preenchida com atendimento e telefonemas. Os clientes de
Pepper eram astros dos esportes, da indústria e da publicidade, todos
com egos imensos, e ela estava preparada para massageá-los... até certo
ponto.
Às cinco horas, a secretária bateu na porta e perguntou se podia ir
embora.
— Sim, pode ir... Eu mesma irei daqui a pouco — respondeu Pepper. — A
recepção no Grosvenor começa às sete.
Aguardou até às cinco e quinze antes de destrancar a gaveta de novo.
Dessa vez, não hesitou ao pegar os dossiês e ir para a sala da secretária,
sentando-se diante da máquina de escrever. A funcionária se sentiria
humilhada se visse a rapidez e acuidade com que ela datilografava. Não
havia hesitação! Sabia exatamente o que estava fazendo.
Quatro dossiês. Quatro homens. Quatro cartas os trariam ali, todos
ansiosos para vê-la.
De certa forma, divertia-a o fato de ter herdado o bastante da raça da
mãe para sentir aquela profunda necessidade de vingança de justiça... Não
Projeto Revisoras 5
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
de justiça na forma como as outras pessoas talvez a pensassem. Mas
justiça, de qualquer forma.
Com o passar dos anos, desenvolvera a habilidade de "sair" de si mesma e,
dessa nova posição, à distância, observar e analisar. Quatro homens
haviam lhe tomado algo que ela estimava profundamente, e agora estava
na hora de todos eles perderem o que mais estimavam. Todas as cartas
foram datilografadas com perfeição no papel timbrado da empresa.
Pepper as dobrou com cuidado e as colocou nos envelopes, usando os selos
que comprara especialmente para aquele objetivo. Fazia parte do ritual.
O guarda de segurança lhe sorriu quando ela saiu ainda sob o sol de início
de verão. Embora se tratasse de sua patroa e a respeitasse, ele não
evitou lançar um olhar de admiração a sua figura de belas curvas e pernas
esguias, enquanto ela descia os degraus até a rua.
Havia uma caixa de correio na esquina, onde Pepper colocou as cartas. Seu
carro, um Aston Martin Volante vermelho de placa PSM 1, estava
estacionado diante do prédio. Ela abriu a porta e acomodou-se diante do
volante. O estofamento era de couro creme e a capota podia ser acionada
automaticamente. Ao mesmo tempo que ligava o motor, Pepper pressionou
o botão que a baixaria.
Ela dirigia com segurança e habilidade, como tudo o que fazia. Levou
menos de meia hora para vencer o tráfego até sua casa em Porchester
News.
Enquanto tomava a vitamina, pensou nas cartas que escrevera.
Endereçara-as a quatro homens sobre os quais sabia mais do que eles
mesmos. Num paciente e discreto trabalho de anos, descobrira detalhes
após detalhes de suas vidas até quase poder penetrar em suas mentes.
Olhou o relógio de pulso, com seu finíssimo bracelete de ouro. Ela sempre
evitara o óbvio. Aquele relógio fora desenhado especialmente para ela e
nada devia aos caprichos da moda. Ainda o estaria usando dali a vinte anos
e ele continuaria parecendo bom.
A roupa que usaria naquela noite já estava sobre a cama. Pela manhã,
deixara um recado para a empregada no qual informava do que precisaria.
Prestava às roupas a mesma atenção e o mesmo cuidado que a tudo o mais,
mas, depois que as vestia, tirava-as da cabeça.
Tomou um banho, regalando-se com o jato de água quente sob o qual se
espreguiçou como uma gata selvagem. O calor da água revelou o
Projeto Revisoras 6
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
provocante aroma de seu perfume, "sua marca registrada", o único que
usava.
Saiu do chuveiro e enxugou-se bem antes de hidratar a pele com uma
loção cremosa. Aos vinte e oito anos, seu corpo já poderia estar
envelhecendo, de acordo com as teorias da ciência. Pepper porém sabia,
sem nem mesmo se olhar no espelho, que sua pele se encontrava rija e
excitante, um fascínio a que poucos homens conseguiam resistir.
Ante esse pensamento, Pepper se enrijeceu. Não costumava perder tempo
pensando no sexo masculino e no desejo dos homens.
Empenhara-se durante todos aqueles anos em construir uma imagem
fortemente sensual de si própria. Aquela imagem já se encontrava
estabelecida e ninguém se atreveria a desafiá-la.
Uma minúscula marca na parte inferior de seu corpo chamava sua atenção
e, de cenho franzido, ela a tocou pouco à vontade com o dedo.
Enquanto aguardava que a loção hidratante fosse absorvida pela pele,
Pepper andava a esmo pelo quarto. Ali, sozinha em sua própria casa com as
portas trancadas e as janelas fechadas, sentia-se segura. Mas aquela
segurança estivera durante muito tempo por vir, e ela era inteligente o
bastante para saber que nenhuma mulher que fingisse ser sexualmente
experiente, como ela escolhera aparentar, podia se dar ao luxo de parecer
constrangida com o próprio corpo.
Os homens eram como predadores e possuíam o instinto do predador para
detectar a fraqueza da fêmea. Pepper controlou a onda de arrepio que
ameaçava dominá-la, enrijecendo-se até que apenas os minúsculos pêlos de
sua pele denunciassem seu temor ao se eriçarem sem que ela pudesse
evitar, como se provocados por uma corrente de ar frio. Tentando ignorar
aquela reação, maquilou-se com a rapidez proporcionada pelo hábito e
prendeu os cabelos num belo coque. Ao redor do pescoço, colocou uma fina
corrente de ouro da qual pendia um diamante. A jóia aninhava-se à base
de seu pescoço e brilhava parecendo iluminar a cútis lisa e sedosa.
Raramente expunha o corpo ao sol, que era um perigo para a pele, motivo
pelo qual não sentia entusiasmo por férias de verão. Quanto ao rosto,
jamais o bronzeava.
Quando faltavam quinze minutos para as sete horas, saiu de casa e pegou
o carro. Voltou a erguer a capota. Colocou uma fita cassete no aparelho do
painel e, enquanto dirigia, ouvia o som da própria voz narrando todas as
Projeto Revisoras 7
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
informações que acumulara sobre Cari Viner. Considerava importante
saber o máximo possível sobre seus clientes. Quando entregou o veículo
ao porteiro do Grosvenor, já havia memorizado a biografia do astro do
tênis.
Sobre o modelo Valentino, Pepper jogara uma capa curta de veludo
também negro forrada de visom branco com manchas negras, como
arminho. Fazia parte da imagem que ela apresentava ao mundo e que não
passava de pura encenação. Embora não o demonstrasse, mantinha-se
divertidamente atenta ao modo como as pessoas a olhavam conforme
adentrava o saguão com seu andar indolente.
Um dos recepcionistas a reconheceu e, dali a poucos segundos, ela já era
acompanhada até a suíte onde se desenrolava a festa particular.
O coquetel estava sendo oferecido pelo fabricante dos tênis que o jovem
esportista Cari Viner concordara em promover. Pepper negociara para ele
um adiantamento milionário acrescido de royalties pela transação. Ela
levara dez por cento.
Jeff Stowell, o agente do esportista, encontrava-se bem junto à porta e
segurou o braço de Pepper.
— Onde é que você estava? — desabafou o homem aflito.
— Por quê? São exatamente sete horas, Jeff — disse ela, friamente.
Desvencilhando-se, permitiu que um garçom lhe tirasse a capa.
Notou que o agente transpirava levemente e imaginou qual seria o motivo
de seu nervosismo. Com um temperamento exaltado, Jeff Stowell possuía
a tendência de intimidar aqueles por quem era responsável. Tratava os
clientes como crianças, induzindo-os a dar o melhor de si.
— Olhe, há uma pessoa aqui hoje que quer conhecê-la — declarou o
agente. — É Ted Steiner, o iatista. Está com Mark McCormack, mas quer
mudar de agência. — Notou a expressão contrariada de Pepper. — O que
foi? Pensei que ficaria contente...
— Posso até ficar — replicou ela, sempre fria —, depois de saber por que
ele quer deixar a outra agência. Faz só seis meses que ele ganhou o troféu
Whitbread Challenge e assinou contrato com McCormack. Se está viciado
em drogas e pensando que vou financiá-las, pode tirar o cavalo da chuva.
Ao ver o agente enrubescer, Pepper descobriu que seu palpite estava
certo.
— Escrúpulos morais — desdenhou o homem.
Projeto Revisoras 8
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
— Não. Escrúpulos financeiros... Além de poder se ver às voltas com a
polícia e a imprensa, um esportista viciado em drogas não permanece como
o melhor do mundo em sua modalidade por muito tempo e, sem esse
status, perde o poder de conseguir bons contratos, sem o qual ele deixa
de ter interesse para mim.
Enquanto o agente ainda refletia sobre suas palavras, Pepper se afastou e
olhou ao redor à procura de Cari Viner.
Não era difícil encontrá-lo. Ele gostava de mulheres e as mulheres
gostavam dele. Cerca de meia dúzia delas o cercava naquele momento,
todas belas loiras bronzeadas de longas pernas que, apesar disso,
perderam a atenção do esportista quando este avistou Pepper. Devido à
sua bem merecida fama de playboy, as outras agências tratavam da
contratação de Cari Viner com certa cautela, mas ele era perspicaz o
bastante para saber o que aconteceria se relaxasse demais, de modo que
era opinião pessoal de Pepper que ele era um sério candidato ao próximo
título de Wimbledon.
Diferenciando-se de todos os outros homens presentes, vestidos a rigor,
o esportista trajava um uniforme de tênis branco, cujo short era curto o
bastante para ser considerado indecente. A franja de seus cabelos loiros
caía em cachos desordenados sobre sua testa.
Aos vinte e um anos de idade, jogando tênis desde os doze, mais parecia
uma criança traquinas de um metro e oitenta de altura, com atraentes
olhos azuis e belos músculos. Mas, na realidade, sua mente era como uma
armadilha de aço.
— Pepper!
Ao pronunciar seu nome, a voz de Cari Viner era carinhosa. Devia ser o
tipo de homem que, como amante, gostava de beijar e desdobrar-se em
carícias. Pepper soube, mesmo antes de ele olhar para seu corpo, que ele
apreciava mulheres de seios firmes e cheios.
Uma das loiras que o cercavam não ocultou o desapontamento que a
chegada de Pepper lhe causou. Ignorando-a, Pepper olhou diretamente
para os pés do esportista. Alto e musculoso, ele calçava tênis enormes. Ao
erguer o olhar e encará-lo, encontrou uma expressão de pura lascívia.
— Se quer ver se o ditado confere, ficarei mais que feliz em lhe provar —
insinuou o atleta.
As loiras deram risadinhas. Pepper fitou-o friamente.
Projeto Revisoras 9
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
— Já o fez — declarou ela, em tom seco. — Eu só quis me certificar de
que você estava usando os tênis do seu patrocinador.
Cari Viner enrubesceu como uma criança mimada. Pepper inclinou-se para a
frente e deu palmadinhas em sua bochecha, enterrando as unhas
gentilmente em sua carne lisa.
— Mulheres de verdade sempre preferem o sutil ao óbvio. Até que
aprenda isso, é melhor que continue brincando com suas belas bonecas.
Os produtos da empresa patrocinadora haviam sido lançados
recentemente no mercado de calçados esportivos e sua diretoria desejara
um atleta vigoroso e sofisticado para a promoção. Pepper lera a respeito
numa publicação de negócios e apresentara-se à empresa. O diretor
financeiro, Alen Hart, achara que o fato o deixava em posição de
vantagem sobre Pepper, mas ela logo o desiludira, informando-o de que
sua agência dispunha de vários outros fabricantes de calçados esportivos
com ofertas de patrocínio. Na verdade, Pepper nunca tivera a intenção de
permitir que seu cliente assinasse contrato com qualquer empresa que não
fosse a de Hart. Afinal, além de oferecer a proposta mais substanciosa,
aquela empresa projetara um calçado cuja eficiência e estilo logo
superaria os outros. Mas a autoconfiança e a frieza de Pepper abalaram a
fé que eles tinham em si mesmos, de modo que instruíram seu diretor
financeiro a voltar atrás e aceitar os termos dela.
Alan Hart se encontrava naquele coquetel. Houve uma época em que
pensara que conseguiria levar Pepper para a cama, e seu ego ainda ardia
com a rejeição.
Alan Hart observava Pepper andar graciosamente de um grupo para outro
e também o efeito que ela causava nas pessoas a seu redor. Os homens se
mostravam fascinados por sua figura, e ela sabia como usar em seu favor
a própria sensualidade.
— Fico imaginando como ela é na cama — comentou alguém a seu lado.
Alan se voltou para o homem e, sem sorrir, respondeu:
— Ela é provocante.
— Está falando por experiência própria?
Alan ignorou a pergunta e voltou a acompanhar os movimentos indolentes
de Pepper com o olhar.
Como ela conseguira? Como construíra seu império milionário a partir do
nada? Já seria admirável se um homem conseguisse realizar a mesma
Projeto Revisoras 10
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
façanha até os trinta anos de idade. Mas sendo uma mulher... E uma
mulher que admitia mal ter recebido instrução primária e, obviamente,
nunca ter ido para a universidade...
Alan reconhecia abertamente sua própria sensação de forte res-
sentimento. Mulheres como Pepper Minesse desafiavam demais os
homens. Sua esposa se mostrava bastante satisfeita em desempenhar o
papel de parceira inferior mental e financeiramente. Ele lhe dera dois
filhos e todos os benefícios materiais que uma mulher poderia desejar.
Traía-a com frequência e não dava ao fato mais importância que às suas
camisas. Quando refletia sobre o assunto, concluía que sua mulher, mesmo
que descobrisse que ele lhe era infiel, não o abandonaria. Ela perderia
muito. Não trabalhava, não ganhava seu próprio dinheiro, e ele tomara
todas as providências para que ela nunca tivesse mais que uns tostões
para gastar.
O executivo não sabia, mas sua mulher mantinha um caso com um de seus
amigos mais chegados já havia três anos. Ele não sabia. Mas Pepper, sim.
Ela foi embora depois de conseguir o que fora buscar naquele coquetel —
um potencial patrocinador para um de seus outros clientes, um garoto
corredor da periferia de Liverpool que algum dia ganharia uma medalha de
ouro por sua velocidade.
As discussões preliminares já haviam sido encerradas. Agora, teria início
a barganha. Aquele era um jogo que Pepper conduzia habilmente.
Na central de distribuição do correio em Londres, máquinas eletrônicas
conferiam e despachavam malotes e mais malotes de envelopes de
correspondência. Quatro cartas deslizaram para as áreas referentes a
seus destinos.
Havia sido dada a partida. No tabuleiro de xadrez da vida, as peças
começavam a ser posicionadas.
CAPITULO II
O primeiro a receber sua carta foi Richard Howell, exatamente às nove e
quinze da manhã de sábado.
Embora instituições financeiras não funcionassem aos sábados, Richard
Howell, presidente e diretor administrativo de seu banco, costumava
ceder duas horas de seus fins de semana abrindo a correspondência e
Projeto Revisoras 11
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
tratando de alguns assuntos que deviam ter sido resolvidos durante a
semana.
Ele percorria em meia hora o trajeto que separava o apartamento de
Chelsea, onde morava com a segunda esposa, do estacionamento do banco.
Um porteiro uniformizado abriu-lhe a porta. Poucas pessoas desconheciam
o nome Howell. O banco era famoso pelas meteóricas expansões e
rentabilidade alcançadas sob a administração de Richard, e
frequentemente era citado em publicações financeiras como exemplo para
outras instituições do ramo. E aqueles mesmos jornalistas que, no início,
chamaram Howell de "imprudente" e "homem de sorte", agora o
descreviam como "um empresário com visão financeira diabolicamente
aguçada", além de inovador e ousado. Howell realizara algumas das
maiores conquistas de clientes ocorridas em Londres nos últimos anos, e a
maioria desses clientes lhe era fiel.
Tendo acabado de completar trinta anos de idade, Richard Howell
apresentava a mesma energia e determinação com que entrara pela
primeira vez naquele banco, mas agora trabalhava com mais precaução e
uma certa dose de malícia.
Era comum ver suas fotos nas páginas de negócios e finanças, e, mais
recentemente, também nas colunas sociais. Mas poucas pessoas, mesmo
tendo visto essas fotografias, o reconheceriam na rua. Não havia
reprodução que transmitisse aquela energia que se tornava tão evidente
num encontro cara a cara. Com um metro e setenta e sete centímetros,
ele tinha cabelos lisos castanho-escuros e pele de tom amorenado, sua
herança judia. Várias gerações atrás, os Howell haviam anglicizado seu
nome e renunciado ao judaísmo.
Richard Howell exibia um belo rosto de asceta. Seus olhos, de um azul
intenso, brilhavam com o fogo da ambição que queimava dentro dele. Ele
sabia muito bem de quem herdara aquele desejo de construir e continuar
construindo. Seu pai e seu avô haviam sido homens ambiciosos, cada um a
seu modo. Infelizmente, no caso de seu pai, aquela ambição não o levara ao
sucesso, e sim à morte. Mas Richard já superara o fato.
Sua primeira esposa o acusara de ser viciado em trabalho, mas nunca
concordara com ela. Para ele, os viciados em trabalho eram motivados
puramente pela vulgar necessidade de trabalhar. Richard queria mais.
Projeto Revisoras 12
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
Sempre fora movido por um objetivo pessoal e, agora que o atingira, não
podia parar.
Dentro daquela camisa social listrada e daquele terno Savile Row havia um
homem que era, basicamente, um jogador. Mas ao contrário dos jogadores
que ganhavam e perdiam fortunas nas mesas dos cassinos de todo o
mundo, ele tivera a felicidade de ingressar no mais exclusivo de todos os
círculos de jogos do mundo: o das altas finanças.
Richard Howell pegou a carta e observou o timbre com atenção. Minesse
Management. Conhecia a empresa, naturalmente. Comentava-se na City, o
centro comercial e financeiro de Londres, que aquela agência de
intermediação logo colocaria ações na bolsa de valores, mas ele duvidava
disso. Pepper Minesse jamais dividiria seu império com quem quer que
fosse, não importava o quanto poderia ganhar abrindo o capital da
empresa.
Vira-a certa vez num coquetel. Ele estava com sua segunda esposa, Linda,
que trabalhava numa emissora de televisão independente. Assim como ele,
sua mulher se dedicava à profissão. Pepper Minesse comparecera à festa
com um de seus clientes. Notara algo de familiar nela mas, embora tivesse
se esforçado a noite toda, não conseguira descobrir o que seria. O
incidente o deixara perturbado. Orgulhava-se de ter uma boa memória
para rostos, e o dela era tão belo que não conseguia imaginar como, já o
tendo visto antes, pudera se esquecer da ocasião em que o primeiro
encontro ocorrera. Na verdade, seria capaz de jurar que nunca vira aquela
mulher... Mas algo indistinto em sua memória insistia em que ele já a
conhecia.
Richard Howell não tinha preconceito algum contra mulheres bem-
sucedidas no mundo dos negócios, mas Pepper Minesse o intrigava. Ela
construíra seu império do nada e, ao que parecia, ninguém sabia de onde
ela viera ou o que fazia antes de conseguir seu primeiro cliente, a não ser
que trabalhara com o empresário americano Victor Orlando. Aquela
mulher era hábil em dar a impressão de que sua vida era um livro aberto,
ao mesmo tempo que guardava segredo sobre seu passado e sua vida
particular.
Pensativo, Richard ficou alisando a escrivaninha com o envelope. Não lhe
era incomum receber correspondência de pessoas estranhas, acontecia o
Projeto Revisoras 13
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
tempo todo. O banco de Howell era conhecido pela extrema discrição com
que tratava dos interesses de seus clientes.
Finalmente, abriu a carta e a leu. Em seguida, consultou sua agenda. Não
tinha compromissos importantes marcados para segunda-feira à tarde.
Anotou um lembrete a lápis no espaço em branco. A carta o deixara
intrigado. Pepper Minesse: iria se encontrar com ela e o fato já o deixava
em expectativa. Poderia ser muito... interessante.
Verificou o restante da correspondência e então o telefone tocou.
Atendendo-o, ouviu a voz da esposa. Haviam combinado de passar o fim de
semana com amigos e ela lhe telefonara para lembrá-lo do compromisso.
— Vou estar aí em meia hora — garantiu ele.
Dessa forma, teriam tempo de fazer amor antes de saírem de casa. A
adrenalina já fluía em suas veias devido ao tom de intriga da carta de
Pepper. Era sempre assim, a mais simples sugestão de uma nova transação
ou de um novo jogo excitava-o sexualmente.
Linda era uma esposa perfeita: quando ele queria sexo, ela se mostrava
receptiva e imaginativa; quando ele não queria, ela não o incomodava. No
que se referia a ele, tinham um relacionamento perfeito. Sua primeira
esposa... Richard sentiu um arrepio. Não queria pensar em Jéssica. Linda o
acusara certa vez de fazer de conta que seu primeiro casamento nunca
acontecera. Ele não discutira com ela. Como poderia? Seu casamento com
Jéssica era algo que não podia discutir com ninguém, nem mesmo agora.
Um sentimento de ódio começou a se apossar de seu corpo, ameaçando
subjugar seu desejo físico, e ele tentou aplacá-lo. Jéssica pertencia ao
passado, e era melhor que continuasse lá.
Alex Barnett recebeu sua carta assim que o carteiro a entregou, no meio
da manhã do sábado. Sua esposa, Júlia, pegou-a do carpete do saguão e
atravessou a ensolarada sala de estar rumo aos fundos da casa, onde eles
tomavam café da manhã nos fins de semana.
Assim que a mulher entrou na sala, Alex a olhou rapidamente temendo ver
em seu rosto os sinais da depressão que a dominava agora com tanta
frequência. Naquela manhã, entretanto, não viu nenhum. Ela ainda se
encontrava animada devido à decisão que haviam tomado de adotar uma
criança. Ele e Júlia possuíam tudo o que um casal ambicioso poderia
desejar. Tudo, menos uma coisa...
Projeto Revisoras 14
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
Aos trinta anos de idade, Alex Barnett era conhecido como um dos
homens de maior visão e mais bem-sucedidos em sua área de atuação. A
era da computação ainda engatinhava quando ele assumiu as dívidas da
fábrica de máquinas de costura falida de seu pai. Ao passar de máquinas
de costura para computadores, dera um salto e tanto, mas o fizera de
modo seguro e, embora os grandes fabricantes olhassem de soslaio para
algumas de suas inovações, detinha uma boa fatia do mercado.
Dali a um mês, Alex saberia se o governo aprovara seu orçamento para
instalação de terminais de computação em embaixadas britânicas em todo
o mundo. Dava muito mais importância à conquista daquele contrato do que
demonstrava. As vendas de seus produtos haviam caído nos últimos
tempos, não o bastante para causar preocupação, mas sim para que o
financiamento de novas pesquisas ficasse na dependência de conquistarem
aquele contrato do governo.
Aquela seria a chave para seu sucesso no mundo da computação, um
negócio para homens jovens. Aos trinta anos, já era mais velho que a
maioria dos membros de sua equipe de projetos.
— Alguma carta importante? — indagou ele, quando Júlia mostrou a
correspondência.
Haviam comprado aquela casa quatro anos atrás, quando do primeiro
sucesso empresarial da empresa: passavam o fim de semana em Cotswold
Hills, comemorando ao mesmo tempo seu aniversário de casamento e o
bom desempenho do novo computador, quando haviam visto a casa com a
placa "vende-se". Souberam imediatamente que era aquilo que vinham
procurando.
Sempre planejaram formar uma família. Alex era filho único, assim como
Júlia. Filhos eram importantes para ambos, e aquela casa fora projetada
para abrigar uma família. Tinha um belo jardim, cercado de arbustos, e
uma área grande o bastante para proporcionar liberdade a dois pôneis.
Ficava a dez minutos de carro da cidade mais próxima e, em seus
arredores, havia boas escolas particulares, que seus filhos poderiam
frequentar.
Haviam comprado a casa por um bom preço, e Júlia abriu mão de seu
emprego para se dedicar em tempo integral à tarefa de reformá-la e
mobiliá-la e, naturalmente, engravidar. Mas ela não engravidou e, desde
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Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
que soubera, no mês anterior, que a segunda tentativa de fertilização in
vitro fracassara, vinha se mostrando numa depressão que enervava Alex.
O que era pior, na opinião dela, era o fato de Alex poder ter filhos, mas
não com ela. Ele lhe garantira que ela era mais importante para ele do que
qualquer filho que poderiam ter, mas ela não se tranquilizara. Então,
levantaram novamente a possibilidade de adotar uma criança, a qual tinha
sido discutida e às vezes descartada logo que descobriram que Júlia não
podia conceber. Afinal, já haviam tentado de todas as maneiras, e
nenhuma vingara.
Aqueles últimos anos, marcados por esperanças sempre seguidas de
decepções, deixaram cicatrizes em ambos, mas mais em Júlia. Agora,
finalmente, ela parecia estar começando a se recuperar. Sorrindo,
mostrou a Alex a correspondência.
— Havia uma carta da assistência social — informou ela. — Um assistente
virá nos entrevistar em breve para saber se temos condições de ser pais
adotivos.
Deteve-se ao lado da cadeira dele para ler a carta de novo. O sol se
refletiu em seus cabelos loiros, e Alex ergueu a mão para afastar uma
mecha de seu rosto. Apaixonara-se por ela no momento em que a vira, e
ainda a amava. Sua infelicidade era também dele, e nada havia que ele não
faria para lhe dar o filho que desejava tão desesperadamente.
— Hum... o que é isso? — indagou ela, estendendo um envelope creme.
Alex o pegou, erguendo levemente as sobrancelhas ao ver o timbre.
— Minesse Management... é uma agência que contrata atletas para
promoverem artigos esportivos e coisas assim. E um negócio lucrativo.
— Por que estariam mandando uma carta para você?
— Eu não sei... Talvez estejam organizando algum tipo de campeonato e
queiram que participemos. — Alex abriu a carta, leu-a e entregou-a à
esposa.
— Bem, não estão dizendo muita coisa, não é? — comentou ela.
— Não mesmo.
— Vai até lá?
— Não vejo por que não deveria. Publicidade é sempre útil, embora seja
necessário saber quanto vai custar. Vou telefonar para eles na segunda-
feira de manhã para saber do que se trata.
Projeto Revisoras 16
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
Alex se espreguiçou na cadeira, retesando os músculos, e então riu da
expressão que viu nos olhos da mulher. Eles sempre tiveram uma boa vida
sexual, embora nenhum dos dois tivesse realmente apreciado as vezes que
tiveram de fazer amor de acordo com horários rígidos na esperança de
que Júlia assim engravidaria.
— Você não ia jogar uma partida de golfe? — comentou ela.
— Não seria melhor eu jogar por aqui mesmo? — provocou ele.
Baixou a cabeça quando ela ameaçou atirar o jornal em sua direção e
então tomou-a nos braços. Mesmo sem filhos, eles tinham tanto... Mas
Alex sentia que Júlia nunca desistiria.
E se não fossem considerados aptos para ser pais adotivos? Com um
tremor súbito, Alex olhou a esposa. Mostrava-se mais magra, e finas
linhas de tensão lhe marcavam a pele. Ela tivera tanta esperança no
método de fertilização in vitro; ambos tiveram, e ele temera que ela fosse
ter um colapso nervoso quando a última tentativa fracassou.
Ela se encontrava tão frágil, tão vulnerável. Ele podia sentir-lhe os ossos
através da pele. Uma onda de amor e compaixão o invadiu. Enterrou o
rosto no calor do pescoço da esposa e, roucamente, sugeriu:
— Vamos para a cama.
Subiram a escada de mãos dadas, com Júlia rezando para que Alex não
notasse sua relutância. Desde que sua tentativa final de ter um filho
falhara, perdera todo o interesse por sexo. Para ela, o sexo tinha por
objetivo a procriação, e saber que nunca conceberia a impedia de voltar a
sentir prazer no ato do amor. Não havia mais como voltar àqueles
primeiros tempos do casamento, em que ela atingia um clímax selvagem
toda vez que faziam amor.
A paixão perdera a intensidade com o correr dos anos, mas ela ainda
continuara a apreciar o sexo, a receber com prazer o corpo de Alex
dentro do seu. De repente, entretanto, o ato de fazer amor passou a lhe
parecer sem sentido. Não importava quantas vezes fossem se unir, ela
nunca conceberia o filho de Alex.
No quarto, quando Alex a tomou nos braços, fechou os olhos para que ele
não visse neles sua rejeição.
Simon Herries, membro do Parlamento do Distrito Conservador de
Selwick, na fronteira ao norte entre a Inglaterra e a Escócia, recebeu sua
carta pouco antes das onze horas da manhã do sábado.
Projeto Revisoras 17
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
Uma longa reunião com um pequeno e poderoso grupo de políticos o
mantivera acordado até as três horas daquela madrugada e, em
consequência, a manhã do sábado já terminava quando ele entrou na sala
de breakfast de sua casa aristocrática no bairro londrino de Chesper
Square. Como de hábito, assim que se sentou à mesa, deu uma olhada na
correspondência.
O mordomo trouxera as cartas pouco antes numa bandeja de prata, tendo
o grosso envelope creme com o timbre da Minesse Management chamado a
atenção de Simon no mesmo instante.
Como político, era seu dever conhecer as empresas e instituições que
discretamente sustentavam a máquina do Partido Conservador, e ele
recordava que a Minesse Management lhes fizera uma doação bastante
respeitável, quase um milhão de libras, ao final do último ano financeiro.
Apesar disso, Simon não abriu a carta imediatamente, limitando-se a olhá-
la de modo cauteloso. A cautela era indispensável nos políticos, e, na
política, como em qualquer outra estrutura baseada no poder, os favores
tinham de ser retribuídos.
A chegada inesperada do envelope creme o perturbara. Tratava-se de um
acontecimento imprevisto, e ele se ajustava mal a tudo o que escapava ao
controle restrito com que cercara a própria vida.
Aos trinta e dois anos de idade, vinha sendo discretamente cotado, em
todos os círculos secretos e poderosos que realmente importavam, como o
futuro líder do Partido Conservador. De modo deliberado, ele
menosprezava as próprias chances, dando sorrisos pesarosos e assumindo
o papel de estudante impressionado mas despretensioso diante dos
barões políticos que o haviam tomado sob proteção.
Sabia, desde que saíra de Oxford, que nada além do posto máximo do
poder o satisfaria, embora houvesse aprendido, durante a estada naquela
universidade, a refrear e controlar as ambições. A ambição declarada
ainda era considerada tanto suspeita como descortês pelas classes
dominantes britânicas.
Simon Herries tinha tudo a seu favor. Provinha de uma família do norte do
país com ligações aristocráticas. Sabia-se perfeitamente nos corredores
de Westminster que ninguém podia ser membro do Parlamento sem dispor
de uma fonte adicional de renda — os políticos de esquerda eram
financiados por seu sindicato. Os direitistas que se encontravam no poder
Projeto Revisoras 18
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
obtinham seus fundos de particulares. Eram os bens da esposa que
proporcionavam a Simon a renda que lhe dava um estilo de vida que poucos
de seus colegas conseguiam igualar. Além da casa em que morava, o casal
possuía também cerca de mil acres de terras férteis com uma mansão
elisa-betana como sede perto de Berwick. A residência em Belgrave
Square lhes fora presenteada pelos pais de sua esposa por ocasião do
casamento e era modestamente avaliada em meio milhão de libras.
Simon pegou o The Times e virou a primeira página, mas teve o olhar
novamente atraído pelo envelope creme,
Exatamente às onze horas, o mordomo abriu a porta cortinada que
separava a cozinha do resto da casa e entrou com o desjejum. Suco de
laranja fresco, extraído de frutas da Califórnia, que ele preferia, duas
fatias de pão integral e um pequeno pote de mel proveniente de uma de
suas próprias fazendas, uma xícara de café feito a partir de grãos
comprados frescos diariamente, menos aos domingos, no Harrods Food
Hall, e que ele tomava puro. Simon apreciava aquele estilo de vida
ordenado, quase ritualístico. Quando as pessoas comentavam sobre aquela
sua característica, ele dizia que se tratava do resultado da educação que
obtivera em seletos colégios ingleses.
Simon observava a si mesmo com a mesma atenção que dedicava a tudo o
mais. A imagem era importante; não aquela aparência bem-arrumada
demais dos colegas americanos, naturalmente — os eleitores achariam a
atitude falsa, mas Simon seria um idiota se não tirasse vantagem do fato
de apresentar uma figura invejável, com sua altura de um metro e oitenta
e seu porte atlético e musculoso cultivado nas quadras de esportes das
escolas particulares que frequentara e nas competições de remo de que
participara na universidade.
Seus cabelos eram cheios, loiro-escuros. No verão, o sol lhe acrescentava
realces, e sua pele adquiria um saudável bronzeado. Tinha uma arrogante
aparência aristocrática. As mulheres gostavam dele, dando-lhe seus votos
por ele mesmo e por sua política. Os homens o invejavam e admiravam seu
sucesso. Era conhecido na imprensa popular como o único membro do
Parlamento com sex appeal. Fingia considerar a descrição de mau gosto.
Elizabeth, sua mulher, era uma das poucas pessoas que sabiam o quanto a
fama o agradava, e por quê!
Projeto Revisoras 19
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
No momento, ela visitava a família em Boston. Era uma Calvert, e seus
antepassados estavam entre os colonizadores que chegaram à América no
navio Mayflower. Conheceram-se durante uma temporada que ele passara
em Boston. Os pais dela se impressionaram com ele. Henry Calvert era
sócio do banco da família e não demorou para descobrir que Simon
Herries provinha de uma família quase tão hábil e cautelosa com o
dinheiro quanto a sua própria.
O casamento provocou manchetes em todos os jornais da sociedade —
manchetes discretas, naturalmente. Afinal, a realeza esteve presente. A
madrinha de Simon era membro da família real e concordara
graciosamente em comparecer à cerimônia.
O enlace teve lugar na Igreja St. Margaret, Westminster. A sra. Calvert
se dividira entre o orgulho e a decepção. Teria tido enorme prazer em
oferecer um jantar em Boston para a madrinha de seu futuro genro, mas
Simon se mostrara inflexível; a cerimônia ocorreria na Igreja St.
Margaret.
Havia um artigo elogioso no The Times a respeito da pressão que Simon
vinha exercendo no sentido de alterar a legislação e tornar mais severa a
punição para o crime de abuso de crianças. Sua reputação como bravo
defensor da lei e da ordem e promotor do retorno de um clima de moral
mais rígido se fortalecia. Era citado entre seus colegas, às vezes
sarcasticamente, como "o candidato das donas de casa". Sorriu e releu o
artigo. As donas de casa eram milhares, e todas elas tinham direito ao
voto.
Simon abriu o envelope, rasgando-o cuidadosamente com a faca de cabo
de prata dada a seu avô por um monarca.
A carta era breve e vaga. Simplesmente o convidava para se apresentar
nos escritórios da Minesse Management às três horas da tarde de
segunda-feira para discutir um assunto de interesse mútuo.
O tom da carta não era tão incomum assim, de modo que ele consultou sua
agenda para ver se tinha o horário sugerido livre. Tinha. Então, anotou o
compromisso, acrescentando um lembrete para pedir à secretária que
descobrisse o máximo possível sobre a Minesse Management e sua
fundadora, Pepper Minesse. Nunca a vira, mas ela tinha a reputação de
ser uma mulher bonita e muito astuta.
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Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
Miles French, advogado com chance de se tornar juiz, só recebeu a carta
na manhã de segunda-feira.
Passara o final de semana com sua amante mais recente. Gostava de se
concentrar em uma atividade de cada vez e, quando estava com uma
mulher cuja companhia o agradava, não permitia que nada mais o
distraísse. Ele e Rosemary Bennett já eram amantes havia quase seis
meses, o que significava bastante tempo, no que se referia a ele.
Apreciava mulheres bonitas, mas não dispensava conversas inteligentes,
de modo que sua mente frequentemente se cansava antes de seu corpo.
Rosemary era editora da Vogue e, sempre que desconfiava de que ele
estava saindo da linha, exibia-o a seus colegas do mundo da moda como
punição. Um advogado era mesmo uma ave rara naquele meio profissional.
Os homens ridicularizavam seus ternos Savile Row e suas camisas brancas
de colarinho engomado, enquanto as mulheres o olhavam de soslaio,
despiam-no mentalmente e imaginavam quais seriam suas chances de
roubá-lo de Rosemary Bennett.
Miles tinha um metro e oitenta e sete de altura e um sólido corpo
musculoso. Seus cabelos eram negros e ligeiramente ondulados e seus
olhos apresentavam um tom azul-acinzentado. Rosemary reclamava que
ele, às vezes, a amedrontava, quando lhe lançava aquele olhar de
"tribunal". Eles convinham um ao outro. Ambos conheciam as regras e
sabiam o que podiam e o que não podiam esperar de seu relacionamento.
Miles não dormia com outras mulheres, mas Rosemary sabia que, no
momento em que se tornasse desinteressante, ele a deixaria sem direito a
apelação.
Ele pegou a carta junto com várias outras ao abrir a porta de seu
apartamento, localizado convenientemente próximo a seu escritório de
advocacia. Largou toda a correspondência sobre a escrivaninha da
biblioteca antes de subir ao quarto para tomar um banho e se trocar. Não
tinha compromisso algum para aquele dia. Não gostava de fazer nada às
pressas. Era paciente e meticuloso. Podia se encolerizar também, mas era
difícil provocá-lo a tal ponto.
O telefone tocou, obrigando-o a sair de debaixo do chuveiro. Praguejando,
atendeu ao chamado enquanto a água pingava de seu corpo para o carpete.
Sua estrutura revelava sólidos músculos cultivados em jogos de squash a
que comparecia duas vezes por semana, no clube. Pêlos escuros, finos e
Projeto Revisoras 21
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
sedosos, lhe cobriam as costas, terrivelmente sensuais para o sexo
feminino.
Quem o procurava era um funcionário do escritório. Miles esclareceu-lhe
a dúvida e desligou o aparelho em seguida.
Depois de se vestir, foi para a cozinha e preparou uma xícara de café.
Uma diarista mantinha o apartamento limpo e, às vezes, lhe fazia
compras, mas preferia não depender de ninguém. Nunca conhecera seus
pais. Fora abandonado quando bebê na escadaria do hospital infantil de
Glasgow e terminara num orfanato, onde aprendera a valorizar a
privacidade e a independência.
Foi para a biblioteca levando o café. Era uma sala espaçosa, com paredes
dominadas por estantes, um dos motivos pelos quais comprara aquele
apartamento. Sentou-se à escrivaninha e examinou a correspondência. Ao
ver o envelope da Minesse Management ergueu levemente o lábio inferior,
num movimento habitual do qual raramente se conscientizava, mas que as
mulheres consideravam sexy. O nome da empresa lhe era familiar mas,
pelo que sabia, nunca lidara com ela sob o aspecto legal e, de qualquer
forma, a maioria de suas negociações com clientes se processavam por
intermédio de procuradores.
Miles abriu o envelope e leu a carta com um sorriso. A mensagem era
intrigante, e ele teria adivinhado que fora emitida por uma mulher mesmo
sem saber quem dirigia a Minesse Management. Não recordava se ele e
Pepper Minesse haviam se encontrado alguma vez, embora já tivesse
ouvido falar dela. Cogitou, então, o que ela poderia estar querendo com
ele, imaginando várias possibilidades. Só havia uma maneira de descobrir,
e ele tinha a tarde livre. Pegou o telefone.
Pepper resolveu passar o fim de semana com amigos que moravam nas
proximidades de Oxford. Philip e Mary Simms eram sua família, desde que
tinha dezessete anos e já era órfã. Chegara pouco depois das onze da
manhã de sábado, evitando fazer a viagem no horário de tráfego mais
intenso.
O brilhante sol de início de verão a convencera a baixar a capota de seu
Aston Martin, e seus cabelos, livres do coque, se embaraçaram com o
vento. Trajava um conjunto de linho verde-oliva, composto por uma saia
curta e reta e uma jaqueta que se ajustava aos contornos de seus seios e
cintura. Por baixo, usava uma blusa de seda creme. Ao desligar o carro e
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Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
pular para o chão de cascalho, viu o pequeno Oliver Simms desaparecer na
lateral da casa.
Pepper chamou o garoto, que reapareceu e a esperou. Aos dez anos, ele
tinha olhos sérios e enrubesceu levemente ao vê-la se aproximar. Mas as
boas maneiras transmitidas por seus pais obrigaram-no a esperar até que
ela o alcançasse.
— Oi, Oliver!
De todos os amigos dos pais, Pepper era a favorita do menino. Ela nunca
tentava afagar-lhe os cabelos, nem beijá-lo. No Natal e em seu
aniversário, sempre lhe trazia presentes que eram exatamente o que ele
queria, além de uma pequena quantia em dinheiro para sua caderneta de
poupança. Atualmente, ele economizava para comprar uma bicicleta nova.
Seu aniversário caía em junho, e ele tinha esperança de que seus pais lhe
dessem de presente o dinheiro que faltava para realizar o projeto.
— A mamãe e o papai estão no quintal.
Oliver chegara ao mundo quando sua mãe já tinha mais de quarenta anos e
seu pai, quarenta e oito. Durante aquela curta existência de dez anos,
nunca duvidara do quanto havia sido desejado. Não era uma criança
mimada como aquelas cujos caprichos materiais eram todos atendidos, seu
pai lecionava na escola local e a família vivia confortavelmente, embora
sem luxo, mas nunca deixara de acreditar que era profundamente amado.
De boa índole, Oliver logo aprendera a analisar e julgar fatos logicamente,
de modo que já sabia que muitos de seus amigos que possuíam os mais
modernos microcomputadores e as bicicletas último tipo, que ele às vezes
invejava, tinham pais tão ocupados que lhes eram quase estranhos.
Oliver tinha consciência do sacrifício que seus pais faziam para que ele
pudesse frequentar uma boa escola preparatória mas, por mais incrível
que pudesse parecer, sempre havia dinheiro bastante para, por exemplo, a
compra de um novo uniforme escolar, e até de extravagâncias, como o
feriado de Ano Novo passado numa estação de esqui que tivera poucos
meses antes.
Depois de encaminhar Pepper para o quintal, o garoto pediu licença,
justificando em tom sério:
— Eu já estava indo para o treino de críquete... vou entrar no time júnior
este ano.
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Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
Pepper acompanhou o menino com o olhar até ele desaparecer de vista, só
então indo ao encontro do casal amigo.
— Pepper, minha querida! Você veio rápido...
— O trânsito estava bom, para variar.
Pepper beijou a amiga no rosto e permitiu que ela a abraçasse com força.
Mary Simms era a única pessoa a quem Pepper já permitira contato tão
íntimo. Por instinto, ela sempre se mostrava arredia e distante com as
outras pessoas, mas Mary era diferente.
Sem Mary...
— Você está com ótima aparência, Mary... Vocês dois estão, para falar a
verdade.
Pepper não transmitiu emoção alguma através da voz, e fora da mesma
forma fria que estudara os rostos dos amigos. Ninguém que observasse a
cena poderia imaginar como eram fortes os laços que os uniam.
Mary Simms, que crescera não apenas na companhia dos pais, mas também
de velhos tios e tias, acostumara-se desde a mais tenra idade a
demonstrar afeto aberta e fisicamente. Doía-lhe mais do que conseguiria
expressar o fato de Pepper ter sido privada do amor que ela própria
conhecera em criança e com o qual agora cercava o marido e o filho.
Philip Simms cumprimentou Pepper com sua costumeira serenidade e
distração. Era um professor nato, possuía o dom de despertar nos alunos
o desejo de adquirir conhecimentos. Ensinara-lhe tanto... Ali, naquela casa
pobre em que ela...
— Viu Oliver? — indagou Mary.
Pepper saiu do devaneio e sorriu para a amiga.
— Vi. Ele estava de saída. Comentou algo sobre ter de praticar críquete.
— Exatamente. Ele espera ser escalado para o time júnior da escola —
completou Mary, com os olhos brilhando de amor e orgulho.
Pepper voltou a olhar para Philip, que transplantava com cuidado algumas
plantas novas. O amigo fazia tudo sempre com muita delicadeza e zelo,
infinitamente paciente e compreensivo.
— Vamos entrar, vou fazer um café para nós — sugeriu Mary. A cozinha
mudara muito pouco desde a primeira vez que Pepper a vira. A máquina de
lavar louça, a geladeira, o freezer e o fogão haviam sido trocados, sem
dúvida, mas as largas prateleiras que ladeavam a lareira e a pesada
cômoda de pinho atravessaram os anos incólumes. A porcelana sobre o
Projeto Revisoras 24
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
móvel pertencera a uma das tias de Mary, assim como grande parte da
mobília da casa. O dinheiro nunca fora o mais importante na vida dos
Simms e, para Pepper, voltar à casa deles era como retornar ao ventre
materno.
Enquanto fazia o café, Mary comentou com Pepper que ela e o marido
nunca se cansavam de admirar seu sucesso. O casal tinha tanto orgulho
dela como do filho; sob certos aspectos, até mais. Entretanto, não
conseguiam compreendê-la totalmente. Como poderiam?
Ao sentar-se numa das maltratadas banquetas de fórmica, Pepper
imaginou como a amiga reagiria se tomasse conhecimento do que ela
fizera. Mas logo lembrou que era inútil tentar aplicar o código de ética de
Mary a suas atitudes. Sua vida, suas emoções e suas reações eram tão
complexas que nem Mary, nem Philip jamais compreenderiam o que a
motivava.
O casal ficara desolado quando Pepper decidira ir embora de Oxford, mas
não tentara dissuadi-la da idéia. Morara quase um ano naquela casa,
cuidada, mimada e protegida pelo casal. Eles a abrigaram e lhe deram algo
que nunca havia tido antes. Tratavam-se das únicas pessoas
verdadeiramente boas e cristãs que ela conhecera. Entretanto, conhecia
outras tantas que ridicularizariam a vida simples dos Simms e sua falta de
interesse por riqueza e sucesso.
Voltar periodicamente àquela casa era algo de que Pepper precisava quase
tanto quanto da realização de sua vingança. Fora sempre com muito
esforço que limitara suas visitas: uma vez por mês, no Natal e nos
aniversários...
Pepper e a amiga tomaram o café no tipo de silêncio que só existia entre
pessoas que se conheciam bem e se sentiam completamente à vontade uma
com a outra. Depois, Pepper ajudou a dona da casa a lavar a louça e
preparar o almoço, simples tarefas domésticas que nenhum dos
executivos ou funcionários de sua empresa jamais imaginara que ela fosse
capaz de realizar. Nunca permitira que qualquer pessoa a visse daquele
modo, vulnerável e dependente.
Depois do almoço, Pepper e os amigos foram para o quintal, não para
cochilar sob o sol de início de tarde, mas para atacar as ervas daninhas
que viviam ameaçando dominar os canteiros de flores de Philip. Enquanto
trabalhavam, o dono da casa comentou que estava preocupado com um de
Projeto Revisoras 25
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
seus alunos. Ouvindo-o, Pepper sentiu o coração se encher de amor e
humildade. Sabia que para aquele homem ela sempre seria a pequena
selvagem de dezessete anos, bárbara e inculta, que só conhecia as leis de
sua tribo cigana, raça regida mais pela emoção do que pela lógica.
Pepper foi embora pouco depois das cinco horas do domingo, depois de
tomar chá sobre o gramado, saboreando os bolinhos caseiros de Mary e a
geléia que ela fizera. Oliver e dois amiguinhos seus admiravam o Aston
Martin. Quando Pepper olhou para o trio, Oliver lhe deu um sorriso
conspirador e insinuante que prenunciou o homem que ele seria. Ela já via
no menino o brotar de um grande charme pessoal, além de inteligência e
determinação.
Não importava o lugar para onde fosse, nem o que lhe acontecesse, Oliver
sempre poderia olhar para trás e recordar aqueles anos da infância em
que recebera amor e segurança de seus pais. Ele sempre se beneficiaria
daquelas dádivas, assim como ficava mais forte e resistente a planta que
crescia em terra boa e rica, ao contrário daquela que tinha de lutar para
sobreviver em solo árido.
Todas as carências podiam ser compensadas, mas deixavam cicatrizes,
como qualquer outro ferimento. Oliver chegaria à idade adulta sem
cicatrizes.
Pepper se levantou, inclinando-se em seguida para abraçar e beijar Mary,
e depois Philip. O casal a acompanhou até o carro.
— O ano letivo começa daqui a três semanas — lembrou Philip.
— Vai poder vir desejar bons estudos a Oliver?
Pepper sorriu para o menino, que também sorriu, timidamente.
— Bem, como sou a madrinha dele, acho que vou ter de dar um jeito... —
brincou.
Sabia que se comportara exatamente como devia diante de seu amiguinho.
Os garotos haviam todos atingido a idade em que desaprovavam qualquer
cena emotiva da parte dos adultos.
Pepper se sentou atrás do volante e ligou o motor do carro. A sua frente,
estavam Londres e a manhã de segunda-feira.
Os quatro homens aceitariam a convite? Tinha a impressão de que sim.
Lançara-lhes uma isca a que nenhum deles conseguiria resistir. Todos os
quatro, por motivos diversos, concluiriam que poderiam se beneficiar de
uma ligação com a Minesse Management.
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Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
Pepper tomou o rumo da estrada. Em seu rosto, um leve sorriso, que
demonstrava mais amargura do que alegria.
CAPÍTULO III
Pepper dormiu demais e acordou tarde na manhã de segunda-feira. Ao se
ver ainda mais atrasada devido a um engarrafamento de trânsito na
Knightsbridge, sentiu-se dominar pela tensão.
Encontrava-se no meio daquilo que era o paraíso daqueles que tinham
dinheiro para gastar. Nas ruas comerciais próximas, mulheres elegantes
se detinham diante das vitrines. Foi ali, na Harvey Nichols, que a princesa
de Gales fez suas compras antes de se casar com o herdeiro do trono. Em
quase todos os departamentos da loja, havia moças que se expressavam
do mesmo modo aristocrático da princesa. Turistas americanos e
japoneses atravancavam a entrada principal do magazine Harrods. Notou,
distraidamente, que se viam menos mulheres árabes agora do que
antigamente.
Impaciente, Pepper consultou o relógio do painel do carro. Não tinha
compromissos para aquela manhã, mas detestava se atrasar, porque isso
significava que não tinha a vida sob controle total. Tentou se acalmar. A
impaciência tornava as pessoas descuidadas e as levava a cometer erros.
Erros, a não ser os das outras pessoas, não tinham lugar em sua vida.
Chegando à Minesse Management, Pepper foi direto para sua sala. A
secretária a seguiu.
— Miranda, quatro cavalheiros deverão me procurar hoje às três da
tarde. Vou atender todos juntos. Aqui estão os nomes deles. — Pepper
passou à funcionária uma folha de papel datilografado.
— Está bem... Vai tomar seu café agora?
— Sim, por favor. Ah... Miranda, certifique-se de que o guarda de
segurança estará no prédio durante a visita dos cavalheiros, por favor.
Embora fosse muito eficiente, a secretária não conseguiu recordar em
que outra ocasião Pepper lhe fizera o mesmo pedido.
Ao ler os nomes escritos no pedaço de papel, reconheceu apenas dois
deles: um membro do Parlamento e um empresário. Então, deixou a
curiosidade de lado, sabendo que essa seria satisfeita quando Pepper lhe
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ditasse as conclusões da reunião. Meticulosa, Pepper registrava todas as
conversas que tinha com clientes e potenciais patrocinadores.
Miranda colocou, o pedaço de papel sobre a própria escrivaninha e foi
para a pequena cozinha oculta atrás de sua sala.
Assim que entrou na sala com o café, Pepper a instruiu:
— Se qualquer dos homens daquela lista telefonar, não vou querer falar
com eles. Se algum deles cancelar o compromisso, por favor, me avise.
Miranda não recebeu mais esclarecimentos, e não pediu nenhum. Pepper
fornecia aos funcionários apenas as informações que cada um necessitava
para desempenhar seu papel. O sucesso ou o fracasso da Minesse
Management dependia só dela, e de mais ninguém.
Pepper tomou seu café ao mesmo tempo que estudava recortes de jornais
daquele fim de semana. Fazia parte do trabalho da secretária folhear as
publicações e destacar todo e qualquer artigo referente a clientes ou
patrocinadores da empresa.
— Tenho um compromisso com John Fletcher ao meio-dia, Miranda. Devo
estar de volta lá pelas duas horas, caso alguém me procure.
John Fletcher era um costureiro em fase de ascensão. Pepper vira
algumas de suas criações num artigo da Vogue sobre novos estilistas e lhe
encomendara dois modelos. Ele ainda não era muito conhecido, mas Pepper
pretendia alterar essa situação. Entre os clientes da Minesse
Management havia uma jovem modelo com boas chances de sucesso, e
Pepper tinha em mente ligá-la ao costureiro de uma forma que os
promovesse e lhes atraísse atenção.
Louise Faber, a modelo, havia sido apresentada a Pepper num coquetel.
Com dezoito anos de idade, sabia exatamente o que queria da vida. Sua
mãe fora modelo, de modo que dispunha de contatos para entrar no ramo.
Várias ex-colegas de Rena Faber haviam abandonado a carreira de modelo
para se dedicar a atividade mais lucrativas do mundo da moda, de forma
que ela pudera, aproveitando-se dessas relações, proporcionar à filha um
bom começo de carreira. Mas, ao contrário do que se poderia pensar de
qualquer modelo de dezoito anos, Louise não tinha como ambição máxima
ver o próprio rosto na capa da Vogue americana.
Louise tinha outros planos. Desejava montar e dirigir um restaurante de
luxo mas, para isso, precisava de fundos e de aprender o ofício. Sem
dinheiro e contatos adequados, dificilmente conseguiria sustentar o tipo
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de restaurante onde poderia adquirir a prática para atingir seu objetivo.
Mulheres não eram consideradas capazes de ser chefs, mas apenas
cozinheiras, e ela pretendia provar o contrário.
Os pais de Louise se divorciaram quando ela era pequena e, conforme ela
contara a Pepper, sua família não dispunha do dinheiro necessário para
financiar o tipo de restaurante que ela desejava montar. O oportuno
comentário de uma das amigas de sua mãe, de que ela poderia ser uma
excelente modelo, deu-lhe a idéia de que uma temporária dedicação àquela
carreira poderia lhe proporcionar o dinheiro de que precisava. E a decisão
de ser modelo foi tomada com a determinação de que seria a melhor.
John Fletcher tinha seu ateliê próximo a Beauchamp Place, local que
concentrava casas de alta-costura e butiques finas, na estrada Brompton.
A fim de não se aborrecer com o trânsito da hora do almoço, Pepper não
se utilizou de seu Aston Martin, preferindo tomar um táxi, que a deixou a
vários metros de distância de seu destino. Duas garotas saíram do ateliê
de Bruce Oldfield e pararam para olhar para ela. Nenhuma das duas devia
ter mais de dezenove anos.
— Uau! — exclamou uma delas. — Isso é que é classe!
Não havia ninguém no saguão de entrada do ateliê de John Fletcher, e
Pepper não hesitou em subir a escadaria que levava ao show-room do
estilista. Antes de entrar, bateu levemente na porta.
Dois homens se encontravam próximo a uma janela estudando uma peça de
fazenda escarlate.
— Pepper! — John Fletcher passou a seda a seu assistente e foi
cumprimentá-la. — Vejo que está usando o preto.
Pepper sorriu. Escolhera deliberadamente usar naquele dia o conjunto
preto que o costureiro desenhara para ela. Não era de becas negras que
os juizes se vestiam para pronunciar sentenças de morte? Miles French
apreciaria a sutileza de sua atitude, mesmo que os outros não a
percebessem. Mas, por algum motivo, tinha certeza de que todos os
quatro iriam gostar.
A saia do conjunto fora cortada no novo estilo curto e curvo que lhe
realçava os quadris e a cintura. O assistente de Fletcher ajudou-a a tirar
a jaqueta. Era um dos rapazes mais belos que já vira, musculoso, de pele e
cabelos dourados. Ele lançou a Fletcher um dissimulado olhar indagador,
recebendo dele um breve balanço de cabeça negativo.
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Pepper interpretou o diálogo silencioso, mas aguardou que o rapaz saísse
antes de se manifestar.
— Agiu sabiamente, John. Eu ficaria muito ofendida se me oferecesse os
serviços do seu garanhão domesticado.
— Ele trabalha para mim há pouco tempo e... receio que ainda se mostre
um pouco grosseiro — desculpou-se o costureiro.
— Tem muitas clientes interessadas nesse tipo de serviço? — A voz de
Pepper soou levemente abafada de dentro do cubículo onde ela entrara
para se despir, ficando só de calcinha e sutiã.
— Algumas. Mas... como adivinhou? A maioria das pessoas que entra aqui
olha para ele e pensa...
— Que você é gay? - Pepper saiu do cubículo e deu ao costureiro um
sorriso zombeteiro. — Sei quando um homem gosta de mulheres e quando
não gosta, John, mas... pensei que estivesse lucrando o bastante sem ter
de oferecer a suas clientes esse serviço adicional.
— Oh, mas eu não ofereço! Os acordos que minhas clientes fazem com
Lloyd ficam só entre eles.
— Mas o boato se espalha, e há muitas ricaças entediadas que
prestigiariam um costureiro que fizesse algo mais por seus corpos que
simplesmente vesti-los.
John deu de ombros:
— Esse é meu ofício. Hum... por falar nisso...
Enquanto o costureiro trabalhava, Pepper lhe expunha seu plano de tornar
Louise Faber modelo exclusivo de suas criações.
— Gostei dela. — O costureiro se levantou e estudou o vestido que se
ajustava ao corpo de Pepper.
— Acha que vai conseguir assinar o contrato promocional com a Vogue? —
indagou ela.
— Acho que sim. Já fiz vários contatos com a revista. Alguns dos seus
editores de moda deverão estar no baile beneficente a que você e eu
iremos esta noite. Podemos conversar com eles e se conseguirmos entrar
num acordo, marcar um encontro entre mim e Louise para acertarmos os
detalhes.
Pepper saiu do ateliê meia hora depois e tomou um táxi que a deixou
exatamente na porta de seu restaurante favorito. O estabelecimento
ficava num prédio de três andares, decadente até bem pouco tempo,
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entre vários outros próximos a Sloane Square. Pepper o comprara assim
que percebera que os ricos estavam transferindo sua lealdade, junto com
seus talões de cheques e cartões de crédito, da Bond Street para a
Knightsbridge. Agora, todos os três andares lhe rendiam aluguéis
excelentes, embora não extorsivos. Fora ela quem financiara a instalação
do restaurante, assim como alertara seu gerente de que a nouvelle cuisine
estava no fim e algo mais substancioso estava a caminho.
Não havia nenhum dia da semana em que todas as mesas do
estabelecimento não se mostravam ocupadas. Uma sutil campanha
promocional o tornara o restaurante da moda. Grupos de elegantes
mulheres bem-nascidas beliscavam a comida que não tinham intenção de
consumir — manter a linha era muito mais importante. De qualquer forma,
não iam até lá para se alimentar, iam para verem e serem vistas.
Um artista, também cliente de Pepper, transformara o insípido interior do
prédio com uma pintura afrontosamente erótica. Os mais bem informados
às vezes conseguiam reconhecer nos rostos das ninfas e dos sátiros
travessos traços de muitas personalidades proeminentes. Quando uma
delas perdia a notoriedade, suas características eram apagadas e as de
outra pessoa, recém-surgida e digna de ser promovida, lhe tomavam o
lugar. Não era raro atrizes e até políticos sugerirem discretamente a
esse artista que suas características faciais ficariam bem nas paredes.
O envolvimento de Pepper com o restaurante era um segredo bem
guardado. Os traços de seu rosto não apareciam em nenhuma das ninfas
travessas. Entretanto, quando ela seguiu o maitre através do liso carpete
cinza-escuro, todos os olhares acompanharam seu andar indolente.
Pepper se sentou e fez seu pedido sem consultar o menu. Notou que a
maioria das mulheres que almoçavam juntas tinham ou vinte e poucos anos
ou mais de quarenta, jovens viúvas ou divorciadas entediadas. As outras
mulheres, aquelas dedicadas à profissão e que tinham dinheiro,
aproveitavam a hora do almoço para tratar de negócios com clientes ou
para ampliar seus contatos, no tipo de atividade que seus equivalentes do
sexo realizavam em clubes.
Logo aquelas mulheres precisariam da mesma exclusividade. Ainda havia
muito poucos clubes que atendiam as necessidades daquela nova classe de
mulheres de carreira, locais onde elas podiam entreter seus clientes,
almoçar e passar a noite, se necessário.
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Se fora com a contratação de clientes que Pepper conseguira a maior
parte de sua fortuna, foram os seguros investimentos que ela fizera com
aquele dinheiro que lhe proporcionaram o sólido capital que escorava sua
empresa. Pepper estava sempre disposta a fazer bons investimentos.
Sorrindo, passou a refletir, estimulada pelo desafio das próprias idéias.
Chegou ao escritório às cinco para as duas. A secretária a informou de
que todos os quatro cavalheiros da lista haviam telefonado. Três deles
manifestaram desejo de conversar com ela, mas ao serem informados de
que ela não se encontrava na empresa limitaram-se a confirmar o
compromisso.
— E o quarto?
A secretária consultou a lista.
— Miles French? Oh, ele simplesmente disse que estaria aqui.
Miranda saiu deixando Pepper de pé ao lado de sua escrivaninha, achando-
a com expressão um tanto distraída. Como sempre, não fez perguntas.
Às duas e meia, a secretária aprontou um carrinho para levar o chá que já
sabia que lhe pediriam para servir mais tarde. A fina porcelana era Royal
Duton e, como o jogo de café, fora especialmente fabricado de acordo
com as especificações de Pepper.
Todos os quatro homens chegaram num intervalo de dez minutos, um após
o outro. A recepcionista os encaminhou à sala de espera e então ligou para
Miranda, informando que eles haviam chegado. A secretária consultou o
relógio de pulso: cinco para as três.
Em seu escritório, Pepper resistiu à tentação de examinar os dossiês mais
uma vez. Já se certificara de que sua maquilagem e roupas se mostravam
impecáveis, e lutou contra o impulso nervoso de se mirar no espelho
novamente. As cinco para as três, o interfone tocou, fazendo seu
estômago se contrair. Atendeu o chamado e foi informada pela secretária
de que os quatro homens haviam chegado.
Respirando fundo, instruiu calmamente:
— Por favor, faça-os entrar, Miranda, e sirva-nos um chá. Ao fim do
corredor, na confortável sala de espera, os quatro homens aguardavam.
Eles haviam se reconhecido, cada um ficando surpreso por ver os outros,
mas apreciando o reencontro. Mantinham muito pouco contato entre si
atualmente. De todos, só Miles French se mostrava totalmente relaxado.
"O que ele estaria fazendo ali?", cogitou Simon Herries, fitando-o.
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Estaria de alguma forma relacionado à Minesse Management, talvez como
advogado contratado para tratar de seus assuntos legais?
Uma porta se abriu e uma atraente morena entrou na sala.
— A srta. Minesse os atenderá agora. Façam o favor de me acompanhar.
Quando eles entraram no escritório, Pepper se encontrava de costas para
a porta, fingindo apreciar a vista além da janela.
Aguardou até que a secretária trouxesse o carrinho de chá e saísse
fechando a porta antes de se voltar.
Todos os quatro homens reagiram ao vê-la, mas ela constatou o brilho do
reconhecimento nos olhos de apenas um deles: Miles French.
Pepper deliberadamente adotou uma expressão neutra, ocultando dele o
ódio e a aversão que sentia.
Do outro lado da escrivaninha, Miles a fitava curioso e divertido.
Reconhecera-a imediatamente, embora tivesse demorado alguns segundos
para se lembrar de onde a vira pela primeira vez. Ao olhar para os
companheiros, percebeu que com eles não ocorrera o mesmo. Devido à
perspicácia que desenvolvera como advogado, não demorara a perceber
que a mulher se encontrava tensa. Ela progredira muito desde os tempos
de Oxford, bastante mesmo.
Simon Herries foi o primeiro a se manifestar. Pepper permitiu que ele lhe
apertasse a mão e desse seu sorriso ensaiado, uma mistura discreta de
admiração masculina, sinceridade e seriedade. Ele engordara um pouco
desde a última vez que ela o vira. Agora, parecia ser o que era: um homem
próspero e bem-sucedido. Os outros a cumprimentaram no mesmo estilo.
Miles French foi o único que a olhou diretamente nos olhos, tentando
colocá-la em desvantagem. Ela percebeu a manobra, sentindo o coração se
descompassar ao ver em seu rosto o sorriso do reconhecimento.
A reação de Miles French fora algo que Pepper não previra. Nenhum dos
outros três a haviam reconhecido, mas a possibilidade de que com ele
tivesse ocorrido o contrário a deixava apreensiva.
— Devem estar imaginando por que lhes pedi que viessem aqui. Pepper
sorria de modo profissional e instigante, garantindo que nenhum deles
seria decepcionado em suas expectativas. Já destrancara a gaveta em que
mantinha os dossiês, que pegou com um único movimento ágil.
— Creio que compreenderão mais facilmente se lerem estes documentos.
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Tratava-se de cópias, naturalmente. Seus originais se encontravam
seguros num cofre de banco. Pepper não pretendia ver quase dez anos de
trabalho serem estraçalhados diante de seus olhos.
Então, ela passou a servir o chá, observando os rostos dos convidados
para ver em quanto tempo seus sorrisos confiantes e satisfeitos
desapareceriam.
O de Richard Howell foi o primeiro a se apagar. Ela o viu fechar os olhos e
então largar os papéis que tinha nas mãos para encará-la.
— Leite, sr. Howell? — indagou ela, docemente.
Cada um daqueles dossiês continha segredos que, se tornados públicos,
destruiriam a vida profissional do homem que os guardava. Todos eles
consideravam aqueles fatos tão profundamente enterrados que jamais
seriam descobertos, mas estavam errados!
Richard Howell era agora um banqueiro conhecido e altamente respeitado
mas, certa vez, fora apenas um parente mais jovem e muito mais pobre no
império financeiro dirigido por seu tio David.
Fora difícil a Pepper descobrir como ele conseguira o dinheiro para
comprar secretamente ações do banco, suficientes para reivindicar e
eventualmente arrebatar das mãos do tio o controle do negócio da família.
Depois de meses de trabalho cuidadoso, tinha apurado que ele comprou
seu primeiro lote de ações na época em que trabalhava no departamento
de cofres de segurança do banco.
Para muitas pessoas, cofres de segurança são simplesmente locais onde
podem depositar valores a fim de que não sejam roubados. Há aquelas,
entretanto, que consideram esses cofres excelentes esconderijos para
fundos obtidos de forma pouco ortodoxa ou, com frequência, ilegal:
sonegação de impostos, fraudes e, às vezes, roubo puro e simples.
Richard Howell teve a sorte de topar com um homem que adquirira seus
fundos daquela última forma enquanto era o responsável pelo
departamento de cofres de segurança. O banco possuía cópias das chaves
de todos os cofres, de modo que ele pudera, num momento
cuidadosamente escolhido, abrir o cofre do tal homem e ver o que ele
guardava lá. Tomara aquela atitude logo depois da morte por ataque
cardíaco do cliente, que sempre se identificara como William Law.
O homem sofrera seu ataque cardíaco na rua, a oitocentos metros do
banco. Os jornais publicaram sua fotografia e um parágrafo anunciando
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sua morte, mas o citaram como Frank Prentiss em vez de William Law.
Frank Prentiss certa vez fizera parte de uma quadrilha suspeita de
praticar vários assaltos envolvendo centenas de milhares de libras. Nunca
se conseguiram provas suficientes para levar a julgamento qualquer dos
acusados. Quando se passaram três meses sem que a polícia ou o banco
conectassem Frank Prentiss a William Law, Richard retirou do cofre de
segurança quase todo o dinheiro guardado pelo criminoso, deixando apenas
duzentas libras, por precaução, embora estivesse certo de que ninguém
jamais descobriria o golpe.
Ele não temia ser denunciado pelo próprio dinheiro ao gastá-lo — um
homem inteligente como Frank Prentiss devia ter "lavado" o dinheiro
roubado. Mesmo que a polícia descobrisse que William Law e Frank
Prentiss eram a mesma pessoa e chegasse ao cofre de segurança do
banco, concluiria que o criminoso gastara todo o dinheiro, menos as
duzentas libras que encontrariam ainda guardadas.
Duzentas e quarenta e cinco mil libras foram depositadas na conta
particular de Richard Howell no Lloyds Bank. Quando seu tio questionou
de onde viera tanto dinheiro, já era tarde demais: Richard se tornara o
novo acionista majoritário do banco de Howell. Usara o fundo para
realizar transações perspicazes na Bolsa de Valores, lucrando quantias
muito superiores àquela investida originalmente.
Pepper sorriu gentilmente ao lhe estender a xícara de chá. Foi com
satisfação que viu o pânico em seus olhos. Sem dúvida, ele pensara que
estaria sempre seguro! Agora, sabia que nunca estivera.
E Simon Herries, quem diria! O político promissor, o defensor da decência
e da família, era na verdade um homossexual que obtinha o máximo prazer
relacionando-se com rapazes — e quanto mais jovens, melhor! Em Oxford,
fora o líder de um grupo restrito cujas atividades secretas incluíam até
magia negra.
Pepper sorriu meigamente para o político, cujos olhos azuis lançavam
faíscas do outro lado da escrivaninha.
Alex Barnett pertencera àquele grupo liderado por Simon Herries,
embora por pouco tempo. Mas o simples fato de ter participado de tais
atividades na juventude o impediria de adotar qualquer criança. Pepper
sabia do desesperado desejo de Júlia Barnett de ter um filho e como
Alex amava a esposa.
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Por fim, Miles French. Ele a decepcionara. Sabia-se que ele levava uma
vida sexual bastante ativa, mas ele selecionava muito bem as parceiras e
era fiel a elas enquanto durava o relacionamento. Pepper demorara muito
para descobrir algo condenador em sua conduta mas, finalmente, tivera a
paciência recompensada.
Três meses atrás, a filha de dezoito anos de uma amiga dele pretendera
contrabandear cocaína para o país. A moça deveria ter sido presa. Pepper
obtivera a informação de que ela tomara um avião no Rio de Janeiro com a
droga disfarçada de algum modo na mochila. Ao desembarcar em
Heathrow, entretanto, já não levava a mercadoria.
O avião em que a jovem viajara fizera uma breve escala em Paris. Miles
French se encontrava naquela cidade e retornou com ela a Londres no
mesmo vôo. Pepper estava convencida de que Miles, de alguma forma,
persuadira a jovem a lhe entregar a cocaína, embora não tivesse
conseguido nenhuma prova conclusiva. Mesmo assim, dispunha de
elementos suficientes para destruir irrevogavelmente tanto sua carreira
como sua reputação. Um advogado prestes a se tornar juiz num escândalo
envolvendo drogas.,, Ele seria proibido de exercer a profissão, no mínimo!
Pepper esperou até que todos terminassem de folhear seus dossiês. Só
Miles French continuava sorrindo. Embora reconhecesse que ele possuía
mais autocontrole que os outros, não se sentiu frustrada.
Simon Herries foi o primeiro a se manifestar, atirando sua pasta no chão
e questionando raivosamente:
— Que diabo significa isto? Pepper não se deixou intimidar.
— Todos leram seus dossiês, de modo que já perceberam, tenho certeza,
a situação precária em que se encontram. Disponho de informações que,
se tornadas públicas, poderão afetar negativamente suas reputações e
carreiras.
— Então é isso! — rosnou Herries. — Chantagem! Pepper lançou ao político
um olhar glacial.
— Não, não se trata de chantagem — garantiu, brandamente. — Trata-se
de compensação.
Conseguira chamar a atenção de todos. Eles agora a olhavam confusos,
exceto Miles French, que mantinha no rosto um sorriso.
— Compensação... por que diabo? — indagou Alex Barnett, em tom áspero.
Pepper sorriu e se levantou.
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Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
— Por estupro, cavalheiros. Onze anos atrás, todos vocês, de uma forma
ou de outra, colaboraram para que eu fosse estuprada.
— Ao ver suas expressões se alterarem, completou, sarcástica: — Ah,
parece que se lembraram, finalmente!
— Por que nos chamou aqui... o que vai fazer?
Fora Alex Barnett quem falara, em tom de total incredulidade. Lembrava-
se do incidente, naturalmente. Jamais o esquecera, mas acreditara tê-lo
enterrado para sempre, junto com sua culpa, assim como outros aspectos
desagradáveis de seu passado.
Olhando para Pepper com mais atenção, admirou sua requintada elegância.
Ela passara por uma transformação e tanto. A garota de que se lembrava
era magra, usava roupas baratas e mal conseguia se expressar. Ela os
enfrentara como um animal selvagem, arranhando-lhe o rosto com as
unhas... Com um tremor, fechou os olhos.
— O que vai fazer? — murmurou. Surpreendentemente, ela continuava a
sorrir para eles.
— Nada... a menos que me obriguem, é claro.
Mas, apesar daquela aparente tranquilidade, encontrava-se mais alerta
que nunca.
Estupro. Para Pepper, tratava-se do mais vil crime existente,
principalmente se cometido da forma que lhe fora infligida. Ela jamais
esqueceria o horror que vivera naquela noite, ou melhor, não se permitiria
esquecer. Fora o desejo de vingança que a motivara a trabalhar tão
arduamente durante tanto tempo e que a elevara da miséria para o ponto
em que hoje se encontrava.
— Vocês tomaram de mim algo insubstituível, e cheguei à conclusão de que
é justo que cada um de vocês perca algo de igual valor. O senhor, sr.
Herries — Pepper fitou o político com olhos faiscantes de ódio, irá se
desligar do Partido Conservador. Ouvi dizer que tem boas chances de se
tornar o líder dessa chapa. Entretanto, estou certa de que seus
correligionários não verão seu desligamento como uma grande perda se
virem os documentos desse dossiê, não acha?
Pepper viu o político ficar vermelho de raiva e perplexidade, e então se
voltou para Richard Howell.
— O banco significa muito para o senhor, não, sr. Howell? Mas receio de
que terá de abrir mão dele.
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Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
— Abrir mão?! — O banqueiro parecia incrédulo. Sempre sorrindo, Pepper
se mostrou implacável.
— Acho que sim. Tenho certeza de que seu primo terá enorme prazer em
tomar o seu lugar.
Alex Barnett sabia que era o próximo e também o que ela exigiria dele.
Miles também... Desde que se formara em Oxford, lutara para montar seu
próprio negócio. Investira nele tudo o que possuía, toda sua energia e
quase todo seu tempo. Sentiu um desejo selvagem de agarrar o pescoço
alvo daquela mulher e torcê-lo com as mãos até ver seus lábios silenciados
para sempre.
Ao fitá-lo nos olhos, Pepper soube que ele já adivinhara qual era seu
ultimato. Então, passou a Miles French.
— Já sei... — manifestou-se ele, secamente. — Mas você se esqueceu de
uma coisa, Pepper...
Ela assumiu um ar severo, raivosa por ele a ter chamado pelo nome, de
modo tão informal. Ao contrário dos outros três, Miles parecia mais
divertido que amedrontado.
— "A vingança é minha", disse o Senhor — citou ele, zombeteiro. — Está
trilhando um caminho perigoso, e sabe disso.
Pepper parou de encará-lo.
— Vocês têm um mês para considerar minhas... sugestões. Se, ao final
desse prazo, eu não tiver recebido resposta alguma, esses dossiês serão
entregues a imprensa. Nem seria preciso esclarecer que o que viram são
apenas cópias.
— E que deixou uma carta com seu banco e outra com seu advogado, as
quais serão abertas no caso do seu desaparecimento ou morte — zombou
Miles.
Pepper se irritou com a insistência de Miles em fingir que estava apenas
se divertindo com a situação. Ele tinha tanto a perder quanto os outros.
Fitou-o nos olhos e estremeceu. Fora no quarto dele que acordara naquela
manhã, e fora numa camisa dele que vira envolvo o próprio corpo
machucado. Vira-o de pé, olhando para ela.
— Vai pagar caro por isso! — ameaçou Richard Howell. Miles o tocou no
braço e balançou a cabeça.
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Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
— Você disse um mês, não? — Olhou para Pepper com expressão pensativa
e então se voltou para os companheiros: — Um mês passa rápido,
cavalheiros, portanto, sugiro que não percamos mais nem um minuto.
Usando o interfone, Pepper pediu à secretária que entrasse e
acompanhasse os visitantes até a saída.
— Podem levar seus dossiês — declarou, irônica. Então, deu-lhes as
costas, voltando à janela.
O tão esperado momento chegara e se fora, mas ela se sentia
estranhamente vazia... esgotada. Uma insatisfação não prevista dominou-
lhe o espírito.
Ao ouvir a porta se abrir, soube que os quatro homens se retiravam da
sala.
A secretária retornou cinco minutos depois para levar o chá intocado.
Aguardou durante toda a tarde que Pepper a chamasse para ditar suas
conclusões da reunião. Mas Pepper não a chamou.
Lá fora, na rua, quatro homens olhavam um para o outro.
— Temos de fazer alguma coisa.
— Claro — disse Miles. — Precisamos nos encontrar num lugar reservado
para discutir o assunto.
— E onde aquela mulher não possa nos ouvir — completou Simon Herries,
rosnando de raiva. — Ela pode mandar alguém nos seguir...
— Que tal se fôssemos agora para o meu apartamento? — sugeriu Miles,
consultando o relógio de pulso. — São quatro e meia agora. A noite não vai
ser possível, tenho um encontro. Algum de vocês tem algum compromisso
agora?
Os outros três negaram balançando a cabeça. Todos eles eram, cada um a
seu modo, poderosos e autoritários, mas no momento reagiam como
crianças desnorteadas e dependentes. Analisando-lhes as expressões,
Miles concluiu que nenhum deles havia ainda aceitado o que acontecera. Já
ele encarava a situação de outra forma, porque tivera tempo de se
preparar para o golpe. Ao contrário deles, reconhecera Pepper Minesse e
constatara como ela progredira e, consequentemente, se tornara
poderosa.
— Simplesmente não posso acreditar! — desabafou Alex Barnett,
confirmando a análise de Miles. — Ela passou todos esses anos
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esperando... — Interrompeu-se de repente, parecendo finalmente encarar
a realidade.
Céus, o que diria a Júlia? Se desistissem de adotar uma criança agora, ela
não suportaria o desgosto.
— Precisamos detê-la — concluiu Simon Herries.
— O que tem em mente, Herries? — questionou Miles. — Não está
pensando em assassinato, espero.
— Assassinato?
— De jeito nenhum — opinou Richard Howell.
— Temos de detê-la — Simon Herries repreendeu os companheiros com
um olhar fulminante.
Aquela mulher se divertira humilhando-os, mostrando-lhes o poder que
tinha sobre eles. Ele seria capaz de matá-la só por isso, quanto mais pelas
exigências que ela fizera!
Miles voltou a chamá-los à realidade:
— Se estiverem de acordo, sugiro que paremos de falar no assunto até
chegarmos a um local reservado. Como moro sozinho, creio que meu
apartamento é a escolha mais acertada.
"Céus, como French podia se manter tão calmo?", pensou Simon. Tinha a
impressão de que o advogado estava quase se divertindo com a situação.
Lembrou-se, então, de como confiara pouco nele nos velhos tempos, e
também do prazer que tivera em...
Percebendo que Miles o observava, disfarçou imediatamente o
ressentimento e a hostilidade. Por ora, convinha-lhe acatar as decisões do
grupo.
Foi Miles quem avistou um táxi passando e o chamou com um sinal, dando
seu endereço ao motorista, em tom seco. Como advogado, desenvolvera a
capacidade de pôr as próprias emoções e reações de lado e estudar os
fatos de maneira objetiva, que era o que estava fazendo agora.
Colocando-se no lugar de Pepper Minesse — onde diabo ela arranjara tal
nome? —, passava a considerar até bastante natural seu desejo de
vingança. O que impressionava, entretanto, era a determinação que a
levara a esperar tanto tempo para ver aquela vingança conquistada e a
planejá-la com tanto esmero.
Podia-se sentir a tensão em que se encontravam seus companheiros.
Simon Herries era o mais precipitado, podendo facilmente chegar à
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violência. Em Oxford, o fato de ser jovem e belo lhe trouxe algumas
vantagens. Entretanto, sob aquela aparência sempre houvera algo maligno.
E os outros dois? Alex Barnett se mostrava ainda em estado de choque.
Richard Howell se mantinha sentado na beirada do assento, em visível
tensão nervosa.
Nenhum deles falou até chegarem à biblioteca do apartamento de Miles.
— Aceitam um drinque? — ofereceu ele, recebendo resposta afirmativa
de todos.
Embora os quatro tivessem se visto ocasionalmente no decorrer daqueles
anos, não haviam preservado o mesmo relacionamento que tiveram até sair
de Oxford. Agora, todos notavam as mudanças uns nos outros ao mesmo
tempo que aguardavam que alguém se manifestasse primeiro.
— Ela não vai se sair bem desta! — garantiu Simon Herries, tomando seu
uísque num só gole e batendo o copo na mesa. — E não serei eu a deixar
uma idiota arrogante me dizer o que fazer!
— Estou certo de que suas admiradoras apreciariam esse seu discurso,
Herries — observou Miles, friamente. — Mas parece que esquecemos que
não estamos lidando com uma garçonete semi-analfabeta de dezessete
anos agora. A srta. Minesse é uma mulher extremamente bem-sucedida e
poderosa.
— Ela quer nos destruir! — Alex Barnett tinha a mão trêmula ao colocar
seu copo sobre a mesa. — Não podemos deixar...
— Pelo amor de Deus, todos nós sabemos disso! — impacientou-se Richard
Howell. — Temos é de descobrir a maneira certa de agir.
— Eu tenho uma idéia — declarou Miles, chamando a atenção de todos. —
A meu ver, precisamos colocar a srta. Minesse numa posição em que não
desejará divulgar aquelas informações a nosso respeito, ao mesmo tempo
que irá se abster de exigir sua... compensação novamente.
— Ameaçando-a de algum modo? — sugeriu Alex Barnett, pouco à vontade.
Miles ignorou a interrupção.
— Parece-me que o sucesso da Minesse Management depende totalmente
da sua fundadora — prosseguiu. — Se a srta. Minesse desaparecesse por
algum tempo, creio que a Minesse Management começaria lentamente a
entrar em colapso.
— Se está pensando em raptá-la, não vai dar certo — interrompeu Howell.
— Ouviu o que ela disse que aconteceria se desaparecesse.
Projeto Revisoras 41
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
— Sim, ouvi, e concordo. Ela não pode desaparecer. Mas poderia ir viajar
com seu amante... e se demorar o bastante para que seus clientes
começassem a perder a confiança na empresa. Astros de todas as áreas
têm egos que precisam de atenção constante. Sem a srta. Minesse para
dar essa atenção... — Miles esperou que os demais concluíssem por si só o
pensamento.
— Grande idéia! — rosnou Simon Herries, irônico. — E como vamos
convencer o amante dela a tirá-la do caminho, ou mesmo fazer com que ela
concorde em ir com ele?
— Ora, com um de nós se tornando o amante dela — esclareceu Miles,
brandamente.
O silêncio dominou o ambiente por alguns momentos. Richard Howell foi o
primeiro a se recuperar do susto, mexendo-se na cadeira.
— Pelo amor de Deus, French, isto não é hora para fazer piadas! Sabe
muito bem que ela jamais aceitaria qualquer um de nós como amante...
— Ela não precisa aceitar. Os três encararam Miles.
— É óbvio que ela não concordaria em viajar com nenhum de nós... nem com
qualquer outra pessoa, se tivesse de abandonar seus negócios. Mas se
conseguirmos convencer seus funcionários, e todas as pessoas que lhe são
próximas, de que ela foi viajar de livre e espontânea vontade com o
amante, sua ausência não implicará que ela desapareceu, de modo que as
instruções que ela deixou com seu banco e seu advogado não serão
seguidas. E, depois que a raptarmos, teremos muito tempo para persuadi-
la a revogar os ultimatos que nos fez hoje.
— Só há um problema — interrompeu Richard Howell, sempre irônico. —
Qual de nós vai fazer o papel do suposto amante?
Miles ergueu as sobrancelhas.
— Pensei em desempenhar o papel eu mesmo. — Deu um sorriso. — Sou
solteiro, posso tirar uma licença do escritório sem que minha ausência
chame a atenção de ninguém. — Depois de ver a reação dos companheiros,
completou: — É claro que, se algum de vocês preferir...
Houve um breve período de silêncio após o qual Simon Herries,
desconfiado, questionou:
— Muito nobre, mas por que você faria isso por nós?
— Não estou fazendo isso por vocês — explicou Miles, calmo. — Estou
fazendo isso por mim e, para ser sincero, prefiro contar comigo mesmo do
Projeto Revisoras 42
Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino
que com qualquer outra pessoa. Mas, se algum de vocês tiver idéia
melhor...
— Além de assassinato, não posso pensar em mais nada — confessou
Howell, amargamente. — Céus, ela nos pegou direitinho, e sabe disso.
Ninguém contestou a afirmação.
— Então, estamos de acordo. — Miles se levantou. — Sugiro que nenhum
de nós entre em contato com o outro de agora em diante, até que a
raptemos. É óbvio que ela nos manteve sob vigilância, numa época ou outra,
e pode ainda estar mantendo, caso pense que podemos planejar contra-
atacá-la.
— Será que ela acha que vamos simplesmente acatar os ultimatos que nos
fez? — Alex Barnett parecia ainda confuso, mas também furioso agora.
Encarar a realidade dos fatos o fazia transpirar ligeiramente. Pensara ter
enterrado seu passado com Simon Herries havia muito tempo. Céus, como
fora tolo! Mas se sentira tão lisonjeado com a amizade de Herries...
Richard Howell já mergulhara em seus próprios pensamentos. Como
Pepper Minesse descobrira seu segredo sobre o cofre de segurança? Não
podia abrir mão do controle do banco, lutara demais para consegui-lo. O
plano de French funcionaria? Por enquanto, estavam falando apenas em
sequestro mas, se French não conseguisse manter a mulher escondida, se
seu plano falhasse... Engoliu em seco, nervoso. Que outra alternativa
tinham?
Simon Herries observava Miles. Não confiava nele... nunca confiara, e
Miles não gostava muito dele, tampouco. Em Oxford, Miles não pertencera
a seu grupo. De qualquer forma, conseguiria ele subjugar Pepper Minesse?
Esperava que sim. Afinal, lutara demais e por muito tempo para desistir
de tudo agora. Devia haver outro meio de deter aquela mulher mas,
enquanto não o descobrisse, teria de aceitar o plano de Miles French.
— Bem, cavalheiros, que me dizem? Vamos executar o meu plano ou não?
— Miles os encarou.
— Não vejo outra alternativa. — Alex Barnett parecia quase doente de
tão atormentado.
— Espero que funcione; — Richard começou a andar em círculo, tenso. —
Sim... Sim... Tudo bem, concordo.
— E você, Herries? — indagou Miles.
— Concordo.
Projeto Revisoras 43
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  • 2. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino CAPITULO I Há certas ruas, em qualquer cidade do mundo, que lembram imediatamente riqueza e poder. Beaufort Terrace, em Londres, é uma delas: uma graciosa curva onde se sucedem belos e sofisticados edifícios de três andares, todos com fachadas de pedra no estilo Regência. Negros balaústres com lanças de ouro ladeiam a escada, também de pedra, que conduzem à imponente entrada de cada um desses prédios. Os aluguéis dos escritórios da Beaufort Terrace são considerados os mais caros da cidade, o que é justificável... Pepper Minesse conhecia aquela rua melhor do que ninguém. Sua empresa, a Minesse Management, fora uma das primeiras a se instalar ali, logo que o trabalho dos restauradores e decoradores terminara. Era seu o prédio localizado bem no meio do declive curvo. E ainda recebia o aluguel de mais dois edifícios da mesma rua, enquanto banqueiros e investidores lutavam por alugar qualquer conjunto de escritórios daquele local. Naquela manhã, ao se deter por um momento na calçada antes de entrar, Pepper percebeu que um homem, no outro lado da rua, havia parado de caminhar para olhar para ela. Não era novidade. Trajando um elegante conjunto preto marcado por um profundo decote em V, ela sabia a impressão que causava: a de estar nua sob a roupa. Havia muito, descobrira como era vantajoso distrair as pessoas com quem negociava. Ela era uma daquelas mulheres que exalavam ao mesmo tempo sensualidade e poder e por quem os homens se sentiam sempre desafiados. Quando convinha, Pepper deixava-os pensar que ela era um desafio que eles poderiam vencer. Empreendera uma longa e árdua jornada para chegar onde atualmente se encontrava. Sabia que não tinha a aparência de uma dirigente de um império milionário. Para começar, era jovem demais; aproximava-se ainda de seu vigésimo-oitavo aniversário. Mas não havia detalhe sobre as complexidades da natureza humana que Pepper Minesse não conhecesse. Minesse não era seu verdadeiro sobrenome. Adotara-o legalmente. Tratava-se de um anagrama do nome Nêmesis, deusa da vingança, o que, para Pepper, tornava-o perfeito para denominar sua empresa. Ao subir a escada de pedra, o sol fazia brilhar o tom avermelhado de seus cabelos. A sombra, podia-se acreditar que eles eram negros, mas na Projeto Revisoras 2
  • 3. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino realidade sua cor apresentava um ruivo profundamente escuro, raro, quase tão raro como o denso azul violeta de seus olhos. Enquanto ela subia os degraus rumo à entrada do prédio, o homem do outro lado da rua fixava-se cobiçosamente em suas pernas esguias, cobertas por meias de seda negra e transparente. Assim que viu Pepper, a recepcionista sorriu nervosamente. Todos os funcionários nutriam certo temor por ela, que estabelecia padrões muito rígidos de trabalho, sendo ela mesma uma trabalhadora incansável. Tivera de adotar tal postura. Construíra do nada aquela agência, que negociava verbas milionárias de publicidade para astros do esporte. Quando ela entrou, finalmente, na ante-sala de seu escritório, onde ficava sua secretária, esta ergueu o rosto, cumprimentando-a. Miranda Hayes trabalhava na Minesse Management havia cinco anos mas, do sua chefe, sabia pouquíssimo mais que em seu primeiro dia de trabalho. Entrou na sua grande sala de executiva e fechou a porta, deixando no ambiente anterior apenas o seu perfume. Não havia nada de feminino no escritório. Quando contratara os serviços do decorador, esclarecera o que desejava: que aquele ambiente emanasse uma sutil aura de poder. — Poder? — indagara o decorador. Ela dera um sorriso gentil. — Sim... você sabe, detalhes que fazem a pessoa sentada atrás da escrivaninha parecer poderosa. — Os homens não reagem bem a mulheres poderosas — brincara o profissional, nervosamente. Sabendo que o decorador estava certo, Pepper não havia prolongado a discussão. Entretanto, ainda não nascera o homem com quem ela não conseguiria lidar. A experiência provara-lhe que, quanto mais poderoso era um homem, mais vulnerável era seu ego, e tirar vantagem desse fato fora a primeira lição que aprendera. Através da porta fechada, podia-se ouvir o som abafado e ritmado da máquina de escrever da secretária. O sol que entrava pela janela refletiu- se na delicada corrente de ouro no pulso esquerdo de Pepper. Ela nunca se separava da jóia. Por um momento, olhou para a pulseira com um cínico sorriso nos lábios. Em seguida, tirou-a do pulso a fim de usar a chave de ouro que dela pendia para destrancar uma das gavetas de sua escrivaninha. Projeto Revisoras 3
  • 4. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Aquela gaveta continha suas pastas secretas. Eram quatro. Quatro dossiês muito especiais que não se referiam a seus clientes. Aqueles que pensavam conhecer Pepper diriam que era típico dela levar a chave daquela gaveta a toda parte consigo, exibindo-a como outras mulheres ostentariam o presente de um amante. Pepper se deteve alguns segundos antes de retirar os dossiês da gaveta. Havia esperado muito por aquele momento. Agora, a informação final chegava-lhe às mãos e, a partir dela, forjaria o instrumento com o qual orquestraria sua vingança. Vingança! Não se tratava de uma palavra para escrupulosos! Nas escrituras de todas as religiões conhecidas havia advertências contra a usurpação pelo homem daquele poder pertencente somente aos deuses. E Pepper sabia por quê. A busca da vingança proporcionava ao espírito humano um poder perigoso. Por vingança, um ser humano suportaria o que seria inconcebível sob qualquer outro sentimento. Não havia nomes identificando os dossiês, ela não precisava disso. Sabia de cor todos os detalhes. Cada um deles fora compilado com esmero no decorrer dos anos. As informações foram se acumulando, até que descobriu o que queria. Pepper deteve-se mais uma vez, antes de abrir a primeira pasta, sobre a qual passou a tamborilar suas longas unhas. Não era uma mulher que costumava hesitar, ao contrário. E as pessoas que tomavam conhecimento de antemão de sua força e firmeza se surpreendiam ao constatar como Pepper era pequena, mal alcançando um metro e sessenta de altura, com uma estrutura óssea quase frágil de tão leve. Logo descobriam que aquela fragilidade assemelhava-se à do fio de aço. No entanto, ela nem sempre fora assim. Certa época, fora vulnerável e, como toda criatura vulnerável... Virou a cabeça e olhou pela janela. Seu perfil era puro como o das esculturas egípcias, com a pele moldando-se sedosa à perfeição das formas. Ao baixar levemente o olhar, seu rosto adquiriu uma aura de misteriosa sedução. Aquele olhar fixou os dossiês por um longo tempo antes de Pepper trancá- los de novo na gaveta. Um sorriso iluminou seu rosto. Havia demorado, mas agora o jogo estava para começar. O interfone tocou. — É Leslie Evans — informou a secretária. Projeto Revisoras 4
  • 5. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino A jovem estrela de patinação, que se tornara recentemente cliente de Pepper, era uma promessa de medalha de ouro nos próximos Jogos Olímpicos. Pepper vira-a atuar um ano antes e instruíra os executivos sob seu comando a mantê-la sob observação. Dizia-se, no mundo dos negócios, que Pepper Minesse tinha o dom de apostar o dinheiro no cavalo certo e, o que era mais importante, naquele que tinha menos cotação para vencer, o que lhe dava ainda maior vantagem. Ela nada fazia para se livrar daquela fama. Era vantajoso deixar que a transformassem numa espécie de fenômeno pois com isso o mistério que a cercava se fortalecia. Na realidade, suas decisões se baseavam em fatos cuidadosamente estudados, além de sua própria intuição, na qual aprendera a confiar. À patinadora fora oferecido um contrato para promoção de roupas esportivas para adolescentes. A empresa envolvida era bem conhecida de Pepper. Sua diretoria gostava de economizar e prendia os jovens esportistas que contratava com contratos punitivos, o que explicava o fato de a Minesse Management estar atuando como intermediária. A tarde foi toda preenchida com atendimento e telefonemas. Os clientes de Pepper eram astros dos esportes, da indústria e da publicidade, todos com egos imensos, e ela estava preparada para massageá-los... até certo ponto. Às cinco horas, a secretária bateu na porta e perguntou se podia ir embora. — Sim, pode ir... Eu mesma irei daqui a pouco — respondeu Pepper. — A recepção no Grosvenor começa às sete. Aguardou até às cinco e quinze antes de destrancar a gaveta de novo. Dessa vez, não hesitou ao pegar os dossiês e ir para a sala da secretária, sentando-se diante da máquina de escrever. A funcionária se sentiria humilhada se visse a rapidez e acuidade com que ela datilografava. Não havia hesitação! Sabia exatamente o que estava fazendo. Quatro dossiês. Quatro homens. Quatro cartas os trariam ali, todos ansiosos para vê-la. De certa forma, divertia-a o fato de ter herdado o bastante da raça da mãe para sentir aquela profunda necessidade de vingança de justiça... Não Projeto Revisoras 5
  • 6. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino de justiça na forma como as outras pessoas talvez a pensassem. Mas justiça, de qualquer forma. Com o passar dos anos, desenvolvera a habilidade de "sair" de si mesma e, dessa nova posição, à distância, observar e analisar. Quatro homens haviam lhe tomado algo que ela estimava profundamente, e agora estava na hora de todos eles perderem o que mais estimavam. Todas as cartas foram datilografadas com perfeição no papel timbrado da empresa. Pepper as dobrou com cuidado e as colocou nos envelopes, usando os selos que comprara especialmente para aquele objetivo. Fazia parte do ritual. O guarda de segurança lhe sorriu quando ela saiu ainda sob o sol de início de verão. Embora se tratasse de sua patroa e a respeitasse, ele não evitou lançar um olhar de admiração a sua figura de belas curvas e pernas esguias, enquanto ela descia os degraus até a rua. Havia uma caixa de correio na esquina, onde Pepper colocou as cartas. Seu carro, um Aston Martin Volante vermelho de placa PSM 1, estava estacionado diante do prédio. Ela abriu a porta e acomodou-se diante do volante. O estofamento era de couro creme e a capota podia ser acionada automaticamente. Ao mesmo tempo que ligava o motor, Pepper pressionou o botão que a baixaria. Ela dirigia com segurança e habilidade, como tudo o que fazia. Levou menos de meia hora para vencer o tráfego até sua casa em Porchester News. Enquanto tomava a vitamina, pensou nas cartas que escrevera. Endereçara-as a quatro homens sobre os quais sabia mais do que eles mesmos. Num paciente e discreto trabalho de anos, descobrira detalhes após detalhes de suas vidas até quase poder penetrar em suas mentes. Olhou o relógio de pulso, com seu finíssimo bracelete de ouro. Ela sempre evitara o óbvio. Aquele relógio fora desenhado especialmente para ela e nada devia aos caprichos da moda. Ainda o estaria usando dali a vinte anos e ele continuaria parecendo bom. A roupa que usaria naquela noite já estava sobre a cama. Pela manhã, deixara um recado para a empregada no qual informava do que precisaria. Prestava às roupas a mesma atenção e o mesmo cuidado que a tudo o mais, mas, depois que as vestia, tirava-as da cabeça. Tomou um banho, regalando-se com o jato de água quente sob o qual se espreguiçou como uma gata selvagem. O calor da água revelou o Projeto Revisoras 6
  • 7. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino provocante aroma de seu perfume, "sua marca registrada", o único que usava. Saiu do chuveiro e enxugou-se bem antes de hidratar a pele com uma loção cremosa. Aos vinte e oito anos, seu corpo já poderia estar envelhecendo, de acordo com as teorias da ciência. Pepper porém sabia, sem nem mesmo se olhar no espelho, que sua pele se encontrava rija e excitante, um fascínio a que poucos homens conseguiam resistir. Ante esse pensamento, Pepper se enrijeceu. Não costumava perder tempo pensando no sexo masculino e no desejo dos homens. Empenhara-se durante todos aqueles anos em construir uma imagem fortemente sensual de si própria. Aquela imagem já se encontrava estabelecida e ninguém se atreveria a desafiá-la. Uma minúscula marca na parte inferior de seu corpo chamava sua atenção e, de cenho franzido, ela a tocou pouco à vontade com o dedo. Enquanto aguardava que a loção hidratante fosse absorvida pela pele, Pepper andava a esmo pelo quarto. Ali, sozinha em sua própria casa com as portas trancadas e as janelas fechadas, sentia-se segura. Mas aquela segurança estivera durante muito tempo por vir, e ela era inteligente o bastante para saber que nenhuma mulher que fingisse ser sexualmente experiente, como ela escolhera aparentar, podia se dar ao luxo de parecer constrangida com o próprio corpo. Os homens eram como predadores e possuíam o instinto do predador para detectar a fraqueza da fêmea. Pepper controlou a onda de arrepio que ameaçava dominá-la, enrijecendo-se até que apenas os minúsculos pêlos de sua pele denunciassem seu temor ao se eriçarem sem que ela pudesse evitar, como se provocados por uma corrente de ar frio. Tentando ignorar aquela reação, maquilou-se com a rapidez proporcionada pelo hábito e prendeu os cabelos num belo coque. Ao redor do pescoço, colocou uma fina corrente de ouro da qual pendia um diamante. A jóia aninhava-se à base de seu pescoço e brilhava parecendo iluminar a cútis lisa e sedosa. Raramente expunha o corpo ao sol, que era um perigo para a pele, motivo pelo qual não sentia entusiasmo por férias de verão. Quanto ao rosto, jamais o bronzeava. Quando faltavam quinze minutos para as sete horas, saiu de casa e pegou o carro. Voltou a erguer a capota. Colocou uma fita cassete no aparelho do painel e, enquanto dirigia, ouvia o som da própria voz narrando todas as Projeto Revisoras 7
  • 8. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino informações que acumulara sobre Cari Viner. Considerava importante saber o máximo possível sobre seus clientes. Quando entregou o veículo ao porteiro do Grosvenor, já havia memorizado a biografia do astro do tênis. Sobre o modelo Valentino, Pepper jogara uma capa curta de veludo também negro forrada de visom branco com manchas negras, como arminho. Fazia parte da imagem que ela apresentava ao mundo e que não passava de pura encenação. Embora não o demonstrasse, mantinha-se divertidamente atenta ao modo como as pessoas a olhavam conforme adentrava o saguão com seu andar indolente. Um dos recepcionistas a reconheceu e, dali a poucos segundos, ela já era acompanhada até a suíte onde se desenrolava a festa particular. O coquetel estava sendo oferecido pelo fabricante dos tênis que o jovem esportista Cari Viner concordara em promover. Pepper negociara para ele um adiantamento milionário acrescido de royalties pela transação. Ela levara dez por cento. Jeff Stowell, o agente do esportista, encontrava-se bem junto à porta e segurou o braço de Pepper. — Onde é que você estava? — desabafou o homem aflito. — Por quê? São exatamente sete horas, Jeff — disse ela, friamente. Desvencilhando-se, permitiu que um garçom lhe tirasse a capa. Notou que o agente transpirava levemente e imaginou qual seria o motivo de seu nervosismo. Com um temperamento exaltado, Jeff Stowell possuía a tendência de intimidar aqueles por quem era responsável. Tratava os clientes como crianças, induzindo-os a dar o melhor de si. — Olhe, há uma pessoa aqui hoje que quer conhecê-la — declarou o agente. — É Ted Steiner, o iatista. Está com Mark McCormack, mas quer mudar de agência. — Notou a expressão contrariada de Pepper. — O que foi? Pensei que ficaria contente... — Posso até ficar — replicou ela, sempre fria —, depois de saber por que ele quer deixar a outra agência. Faz só seis meses que ele ganhou o troféu Whitbread Challenge e assinou contrato com McCormack. Se está viciado em drogas e pensando que vou financiá-las, pode tirar o cavalo da chuva. Ao ver o agente enrubescer, Pepper descobriu que seu palpite estava certo. — Escrúpulos morais — desdenhou o homem. Projeto Revisoras 8
  • 9. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino — Não. Escrúpulos financeiros... Além de poder se ver às voltas com a polícia e a imprensa, um esportista viciado em drogas não permanece como o melhor do mundo em sua modalidade por muito tempo e, sem esse status, perde o poder de conseguir bons contratos, sem o qual ele deixa de ter interesse para mim. Enquanto o agente ainda refletia sobre suas palavras, Pepper se afastou e olhou ao redor à procura de Cari Viner. Não era difícil encontrá-lo. Ele gostava de mulheres e as mulheres gostavam dele. Cerca de meia dúzia delas o cercava naquele momento, todas belas loiras bronzeadas de longas pernas que, apesar disso, perderam a atenção do esportista quando este avistou Pepper. Devido à sua bem merecida fama de playboy, as outras agências tratavam da contratação de Cari Viner com certa cautela, mas ele era perspicaz o bastante para saber o que aconteceria se relaxasse demais, de modo que era opinião pessoal de Pepper que ele era um sério candidato ao próximo título de Wimbledon. Diferenciando-se de todos os outros homens presentes, vestidos a rigor, o esportista trajava um uniforme de tênis branco, cujo short era curto o bastante para ser considerado indecente. A franja de seus cabelos loiros caía em cachos desordenados sobre sua testa. Aos vinte e um anos de idade, jogando tênis desde os doze, mais parecia uma criança traquinas de um metro e oitenta de altura, com atraentes olhos azuis e belos músculos. Mas, na realidade, sua mente era como uma armadilha de aço. — Pepper! Ao pronunciar seu nome, a voz de Cari Viner era carinhosa. Devia ser o tipo de homem que, como amante, gostava de beijar e desdobrar-se em carícias. Pepper soube, mesmo antes de ele olhar para seu corpo, que ele apreciava mulheres de seios firmes e cheios. Uma das loiras que o cercavam não ocultou o desapontamento que a chegada de Pepper lhe causou. Ignorando-a, Pepper olhou diretamente para os pés do esportista. Alto e musculoso, ele calçava tênis enormes. Ao erguer o olhar e encará-lo, encontrou uma expressão de pura lascívia. — Se quer ver se o ditado confere, ficarei mais que feliz em lhe provar — insinuou o atleta. As loiras deram risadinhas. Pepper fitou-o friamente. Projeto Revisoras 9
  • 10. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino — Já o fez — declarou ela, em tom seco. — Eu só quis me certificar de que você estava usando os tênis do seu patrocinador. Cari Viner enrubesceu como uma criança mimada. Pepper inclinou-se para a frente e deu palmadinhas em sua bochecha, enterrando as unhas gentilmente em sua carne lisa. — Mulheres de verdade sempre preferem o sutil ao óbvio. Até que aprenda isso, é melhor que continue brincando com suas belas bonecas. Os produtos da empresa patrocinadora haviam sido lançados recentemente no mercado de calçados esportivos e sua diretoria desejara um atleta vigoroso e sofisticado para a promoção. Pepper lera a respeito numa publicação de negócios e apresentara-se à empresa. O diretor financeiro, Alen Hart, achara que o fato o deixava em posição de vantagem sobre Pepper, mas ela logo o desiludira, informando-o de que sua agência dispunha de vários outros fabricantes de calçados esportivos com ofertas de patrocínio. Na verdade, Pepper nunca tivera a intenção de permitir que seu cliente assinasse contrato com qualquer empresa que não fosse a de Hart. Afinal, além de oferecer a proposta mais substanciosa, aquela empresa projetara um calçado cuja eficiência e estilo logo superaria os outros. Mas a autoconfiança e a frieza de Pepper abalaram a fé que eles tinham em si mesmos, de modo que instruíram seu diretor financeiro a voltar atrás e aceitar os termos dela. Alan Hart se encontrava naquele coquetel. Houve uma época em que pensara que conseguiria levar Pepper para a cama, e seu ego ainda ardia com a rejeição. Alan Hart observava Pepper andar graciosamente de um grupo para outro e também o efeito que ela causava nas pessoas a seu redor. Os homens se mostravam fascinados por sua figura, e ela sabia como usar em seu favor a própria sensualidade. — Fico imaginando como ela é na cama — comentou alguém a seu lado. Alan se voltou para o homem e, sem sorrir, respondeu: — Ela é provocante. — Está falando por experiência própria? Alan ignorou a pergunta e voltou a acompanhar os movimentos indolentes de Pepper com o olhar. Como ela conseguira? Como construíra seu império milionário a partir do nada? Já seria admirável se um homem conseguisse realizar a mesma Projeto Revisoras 10
  • 11. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino façanha até os trinta anos de idade. Mas sendo uma mulher... E uma mulher que admitia mal ter recebido instrução primária e, obviamente, nunca ter ido para a universidade... Alan reconhecia abertamente sua própria sensação de forte res- sentimento. Mulheres como Pepper Minesse desafiavam demais os homens. Sua esposa se mostrava bastante satisfeita em desempenhar o papel de parceira inferior mental e financeiramente. Ele lhe dera dois filhos e todos os benefícios materiais que uma mulher poderia desejar. Traía-a com frequência e não dava ao fato mais importância que às suas camisas. Quando refletia sobre o assunto, concluía que sua mulher, mesmo que descobrisse que ele lhe era infiel, não o abandonaria. Ela perderia muito. Não trabalhava, não ganhava seu próprio dinheiro, e ele tomara todas as providências para que ela nunca tivesse mais que uns tostões para gastar. O executivo não sabia, mas sua mulher mantinha um caso com um de seus amigos mais chegados já havia três anos. Ele não sabia. Mas Pepper, sim. Ela foi embora depois de conseguir o que fora buscar naquele coquetel — um potencial patrocinador para um de seus outros clientes, um garoto corredor da periferia de Liverpool que algum dia ganharia uma medalha de ouro por sua velocidade. As discussões preliminares já haviam sido encerradas. Agora, teria início a barganha. Aquele era um jogo que Pepper conduzia habilmente. Na central de distribuição do correio em Londres, máquinas eletrônicas conferiam e despachavam malotes e mais malotes de envelopes de correspondência. Quatro cartas deslizaram para as áreas referentes a seus destinos. Havia sido dada a partida. No tabuleiro de xadrez da vida, as peças começavam a ser posicionadas. CAPITULO II O primeiro a receber sua carta foi Richard Howell, exatamente às nove e quinze da manhã de sábado. Embora instituições financeiras não funcionassem aos sábados, Richard Howell, presidente e diretor administrativo de seu banco, costumava ceder duas horas de seus fins de semana abrindo a correspondência e Projeto Revisoras 11
  • 12. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino tratando de alguns assuntos que deviam ter sido resolvidos durante a semana. Ele percorria em meia hora o trajeto que separava o apartamento de Chelsea, onde morava com a segunda esposa, do estacionamento do banco. Um porteiro uniformizado abriu-lhe a porta. Poucas pessoas desconheciam o nome Howell. O banco era famoso pelas meteóricas expansões e rentabilidade alcançadas sob a administração de Richard, e frequentemente era citado em publicações financeiras como exemplo para outras instituições do ramo. E aqueles mesmos jornalistas que, no início, chamaram Howell de "imprudente" e "homem de sorte", agora o descreviam como "um empresário com visão financeira diabolicamente aguçada", além de inovador e ousado. Howell realizara algumas das maiores conquistas de clientes ocorridas em Londres nos últimos anos, e a maioria desses clientes lhe era fiel. Tendo acabado de completar trinta anos de idade, Richard Howell apresentava a mesma energia e determinação com que entrara pela primeira vez naquele banco, mas agora trabalhava com mais precaução e uma certa dose de malícia. Era comum ver suas fotos nas páginas de negócios e finanças, e, mais recentemente, também nas colunas sociais. Mas poucas pessoas, mesmo tendo visto essas fotografias, o reconheceriam na rua. Não havia reprodução que transmitisse aquela energia que se tornava tão evidente num encontro cara a cara. Com um metro e setenta e sete centímetros, ele tinha cabelos lisos castanho-escuros e pele de tom amorenado, sua herança judia. Várias gerações atrás, os Howell haviam anglicizado seu nome e renunciado ao judaísmo. Richard Howell exibia um belo rosto de asceta. Seus olhos, de um azul intenso, brilhavam com o fogo da ambição que queimava dentro dele. Ele sabia muito bem de quem herdara aquele desejo de construir e continuar construindo. Seu pai e seu avô haviam sido homens ambiciosos, cada um a seu modo. Infelizmente, no caso de seu pai, aquela ambição não o levara ao sucesso, e sim à morte. Mas Richard já superara o fato. Sua primeira esposa o acusara de ser viciado em trabalho, mas nunca concordara com ela. Para ele, os viciados em trabalho eram motivados puramente pela vulgar necessidade de trabalhar. Richard queria mais. Projeto Revisoras 12
  • 13. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Sempre fora movido por um objetivo pessoal e, agora que o atingira, não podia parar. Dentro daquela camisa social listrada e daquele terno Savile Row havia um homem que era, basicamente, um jogador. Mas ao contrário dos jogadores que ganhavam e perdiam fortunas nas mesas dos cassinos de todo o mundo, ele tivera a felicidade de ingressar no mais exclusivo de todos os círculos de jogos do mundo: o das altas finanças. Richard Howell pegou a carta e observou o timbre com atenção. Minesse Management. Conhecia a empresa, naturalmente. Comentava-se na City, o centro comercial e financeiro de Londres, que aquela agência de intermediação logo colocaria ações na bolsa de valores, mas ele duvidava disso. Pepper Minesse jamais dividiria seu império com quem quer que fosse, não importava o quanto poderia ganhar abrindo o capital da empresa. Vira-a certa vez num coquetel. Ele estava com sua segunda esposa, Linda, que trabalhava numa emissora de televisão independente. Assim como ele, sua mulher se dedicava à profissão. Pepper Minesse comparecera à festa com um de seus clientes. Notara algo de familiar nela mas, embora tivesse se esforçado a noite toda, não conseguira descobrir o que seria. O incidente o deixara perturbado. Orgulhava-se de ter uma boa memória para rostos, e o dela era tão belo que não conseguia imaginar como, já o tendo visto antes, pudera se esquecer da ocasião em que o primeiro encontro ocorrera. Na verdade, seria capaz de jurar que nunca vira aquela mulher... Mas algo indistinto em sua memória insistia em que ele já a conhecia. Richard Howell não tinha preconceito algum contra mulheres bem- sucedidas no mundo dos negócios, mas Pepper Minesse o intrigava. Ela construíra seu império do nada e, ao que parecia, ninguém sabia de onde ela viera ou o que fazia antes de conseguir seu primeiro cliente, a não ser que trabalhara com o empresário americano Victor Orlando. Aquela mulher era hábil em dar a impressão de que sua vida era um livro aberto, ao mesmo tempo que guardava segredo sobre seu passado e sua vida particular. Pensativo, Richard ficou alisando a escrivaninha com o envelope. Não lhe era incomum receber correspondência de pessoas estranhas, acontecia o Projeto Revisoras 13
  • 14. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino tempo todo. O banco de Howell era conhecido pela extrema discrição com que tratava dos interesses de seus clientes. Finalmente, abriu a carta e a leu. Em seguida, consultou sua agenda. Não tinha compromissos importantes marcados para segunda-feira à tarde. Anotou um lembrete a lápis no espaço em branco. A carta o deixara intrigado. Pepper Minesse: iria se encontrar com ela e o fato já o deixava em expectativa. Poderia ser muito... interessante. Verificou o restante da correspondência e então o telefone tocou. Atendendo-o, ouviu a voz da esposa. Haviam combinado de passar o fim de semana com amigos e ela lhe telefonara para lembrá-lo do compromisso. — Vou estar aí em meia hora — garantiu ele. Dessa forma, teriam tempo de fazer amor antes de saírem de casa. A adrenalina já fluía em suas veias devido ao tom de intriga da carta de Pepper. Era sempre assim, a mais simples sugestão de uma nova transação ou de um novo jogo excitava-o sexualmente. Linda era uma esposa perfeita: quando ele queria sexo, ela se mostrava receptiva e imaginativa; quando ele não queria, ela não o incomodava. No que se referia a ele, tinham um relacionamento perfeito. Sua primeira esposa... Richard sentiu um arrepio. Não queria pensar em Jéssica. Linda o acusara certa vez de fazer de conta que seu primeiro casamento nunca acontecera. Ele não discutira com ela. Como poderia? Seu casamento com Jéssica era algo que não podia discutir com ninguém, nem mesmo agora. Um sentimento de ódio começou a se apossar de seu corpo, ameaçando subjugar seu desejo físico, e ele tentou aplacá-lo. Jéssica pertencia ao passado, e era melhor que continuasse lá. Alex Barnett recebeu sua carta assim que o carteiro a entregou, no meio da manhã do sábado. Sua esposa, Júlia, pegou-a do carpete do saguão e atravessou a ensolarada sala de estar rumo aos fundos da casa, onde eles tomavam café da manhã nos fins de semana. Assim que a mulher entrou na sala, Alex a olhou rapidamente temendo ver em seu rosto os sinais da depressão que a dominava agora com tanta frequência. Naquela manhã, entretanto, não viu nenhum. Ela ainda se encontrava animada devido à decisão que haviam tomado de adotar uma criança. Ele e Júlia possuíam tudo o que um casal ambicioso poderia desejar. Tudo, menos uma coisa... Projeto Revisoras 14
  • 15. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Aos trinta anos de idade, Alex Barnett era conhecido como um dos homens de maior visão e mais bem-sucedidos em sua área de atuação. A era da computação ainda engatinhava quando ele assumiu as dívidas da fábrica de máquinas de costura falida de seu pai. Ao passar de máquinas de costura para computadores, dera um salto e tanto, mas o fizera de modo seguro e, embora os grandes fabricantes olhassem de soslaio para algumas de suas inovações, detinha uma boa fatia do mercado. Dali a um mês, Alex saberia se o governo aprovara seu orçamento para instalação de terminais de computação em embaixadas britânicas em todo o mundo. Dava muito mais importância à conquista daquele contrato do que demonstrava. As vendas de seus produtos haviam caído nos últimos tempos, não o bastante para causar preocupação, mas sim para que o financiamento de novas pesquisas ficasse na dependência de conquistarem aquele contrato do governo. Aquela seria a chave para seu sucesso no mundo da computação, um negócio para homens jovens. Aos trinta anos, já era mais velho que a maioria dos membros de sua equipe de projetos. — Alguma carta importante? — indagou ele, quando Júlia mostrou a correspondência. Haviam comprado aquela casa quatro anos atrás, quando do primeiro sucesso empresarial da empresa: passavam o fim de semana em Cotswold Hills, comemorando ao mesmo tempo seu aniversário de casamento e o bom desempenho do novo computador, quando haviam visto a casa com a placa "vende-se". Souberam imediatamente que era aquilo que vinham procurando. Sempre planejaram formar uma família. Alex era filho único, assim como Júlia. Filhos eram importantes para ambos, e aquela casa fora projetada para abrigar uma família. Tinha um belo jardim, cercado de arbustos, e uma área grande o bastante para proporcionar liberdade a dois pôneis. Ficava a dez minutos de carro da cidade mais próxima e, em seus arredores, havia boas escolas particulares, que seus filhos poderiam frequentar. Haviam comprado a casa por um bom preço, e Júlia abriu mão de seu emprego para se dedicar em tempo integral à tarefa de reformá-la e mobiliá-la e, naturalmente, engravidar. Mas ela não engravidou e, desde Projeto Revisoras 15
  • 16. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino que soubera, no mês anterior, que a segunda tentativa de fertilização in vitro fracassara, vinha se mostrando numa depressão que enervava Alex. O que era pior, na opinião dela, era o fato de Alex poder ter filhos, mas não com ela. Ele lhe garantira que ela era mais importante para ele do que qualquer filho que poderiam ter, mas ela não se tranquilizara. Então, levantaram novamente a possibilidade de adotar uma criança, a qual tinha sido discutida e às vezes descartada logo que descobriram que Júlia não podia conceber. Afinal, já haviam tentado de todas as maneiras, e nenhuma vingara. Aqueles últimos anos, marcados por esperanças sempre seguidas de decepções, deixaram cicatrizes em ambos, mas mais em Júlia. Agora, finalmente, ela parecia estar começando a se recuperar. Sorrindo, mostrou a Alex a correspondência. — Havia uma carta da assistência social — informou ela. — Um assistente virá nos entrevistar em breve para saber se temos condições de ser pais adotivos. Deteve-se ao lado da cadeira dele para ler a carta de novo. O sol se refletiu em seus cabelos loiros, e Alex ergueu a mão para afastar uma mecha de seu rosto. Apaixonara-se por ela no momento em que a vira, e ainda a amava. Sua infelicidade era também dele, e nada havia que ele não faria para lhe dar o filho que desejava tão desesperadamente. — Hum... o que é isso? — indagou ela, estendendo um envelope creme. Alex o pegou, erguendo levemente as sobrancelhas ao ver o timbre. — Minesse Management... é uma agência que contrata atletas para promoverem artigos esportivos e coisas assim. E um negócio lucrativo. — Por que estariam mandando uma carta para você? — Eu não sei... Talvez estejam organizando algum tipo de campeonato e queiram que participemos. — Alex abriu a carta, leu-a e entregou-a à esposa. — Bem, não estão dizendo muita coisa, não é? — comentou ela. — Não mesmo. — Vai até lá? — Não vejo por que não deveria. Publicidade é sempre útil, embora seja necessário saber quanto vai custar. Vou telefonar para eles na segunda- feira de manhã para saber do que se trata. Projeto Revisoras 16
  • 17. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Alex se espreguiçou na cadeira, retesando os músculos, e então riu da expressão que viu nos olhos da mulher. Eles sempre tiveram uma boa vida sexual, embora nenhum dos dois tivesse realmente apreciado as vezes que tiveram de fazer amor de acordo com horários rígidos na esperança de que Júlia assim engravidaria. — Você não ia jogar uma partida de golfe? — comentou ela. — Não seria melhor eu jogar por aqui mesmo? — provocou ele. Baixou a cabeça quando ela ameaçou atirar o jornal em sua direção e então tomou-a nos braços. Mesmo sem filhos, eles tinham tanto... Mas Alex sentia que Júlia nunca desistiria. E se não fossem considerados aptos para ser pais adotivos? Com um tremor súbito, Alex olhou a esposa. Mostrava-se mais magra, e finas linhas de tensão lhe marcavam a pele. Ela tivera tanta esperança no método de fertilização in vitro; ambos tiveram, e ele temera que ela fosse ter um colapso nervoso quando a última tentativa fracassou. Ela se encontrava tão frágil, tão vulnerável. Ele podia sentir-lhe os ossos através da pele. Uma onda de amor e compaixão o invadiu. Enterrou o rosto no calor do pescoço da esposa e, roucamente, sugeriu: — Vamos para a cama. Subiram a escada de mãos dadas, com Júlia rezando para que Alex não notasse sua relutância. Desde que sua tentativa final de ter um filho falhara, perdera todo o interesse por sexo. Para ela, o sexo tinha por objetivo a procriação, e saber que nunca conceberia a impedia de voltar a sentir prazer no ato do amor. Não havia mais como voltar àqueles primeiros tempos do casamento, em que ela atingia um clímax selvagem toda vez que faziam amor. A paixão perdera a intensidade com o correr dos anos, mas ela ainda continuara a apreciar o sexo, a receber com prazer o corpo de Alex dentro do seu. De repente, entretanto, o ato de fazer amor passou a lhe parecer sem sentido. Não importava quantas vezes fossem se unir, ela nunca conceberia o filho de Alex. No quarto, quando Alex a tomou nos braços, fechou os olhos para que ele não visse neles sua rejeição. Simon Herries, membro do Parlamento do Distrito Conservador de Selwick, na fronteira ao norte entre a Inglaterra e a Escócia, recebeu sua carta pouco antes das onze horas da manhã do sábado. Projeto Revisoras 17
  • 18. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Uma longa reunião com um pequeno e poderoso grupo de políticos o mantivera acordado até as três horas daquela madrugada e, em consequência, a manhã do sábado já terminava quando ele entrou na sala de breakfast de sua casa aristocrática no bairro londrino de Chesper Square. Como de hábito, assim que se sentou à mesa, deu uma olhada na correspondência. O mordomo trouxera as cartas pouco antes numa bandeja de prata, tendo o grosso envelope creme com o timbre da Minesse Management chamado a atenção de Simon no mesmo instante. Como político, era seu dever conhecer as empresas e instituições que discretamente sustentavam a máquina do Partido Conservador, e ele recordava que a Minesse Management lhes fizera uma doação bastante respeitável, quase um milhão de libras, ao final do último ano financeiro. Apesar disso, Simon não abriu a carta imediatamente, limitando-se a olhá- la de modo cauteloso. A cautela era indispensável nos políticos, e, na política, como em qualquer outra estrutura baseada no poder, os favores tinham de ser retribuídos. A chegada inesperada do envelope creme o perturbara. Tratava-se de um acontecimento imprevisto, e ele se ajustava mal a tudo o que escapava ao controle restrito com que cercara a própria vida. Aos trinta e dois anos de idade, vinha sendo discretamente cotado, em todos os círculos secretos e poderosos que realmente importavam, como o futuro líder do Partido Conservador. De modo deliberado, ele menosprezava as próprias chances, dando sorrisos pesarosos e assumindo o papel de estudante impressionado mas despretensioso diante dos barões políticos que o haviam tomado sob proteção. Sabia, desde que saíra de Oxford, que nada além do posto máximo do poder o satisfaria, embora houvesse aprendido, durante a estada naquela universidade, a refrear e controlar as ambições. A ambição declarada ainda era considerada tanto suspeita como descortês pelas classes dominantes britânicas. Simon Herries tinha tudo a seu favor. Provinha de uma família do norte do país com ligações aristocráticas. Sabia-se perfeitamente nos corredores de Westminster que ninguém podia ser membro do Parlamento sem dispor de uma fonte adicional de renda — os políticos de esquerda eram financiados por seu sindicato. Os direitistas que se encontravam no poder Projeto Revisoras 18
  • 19. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino obtinham seus fundos de particulares. Eram os bens da esposa que proporcionavam a Simon a renda que lhe dava um estilo de vida que poucos de seus colegas conseguiam igualar. Além da casa em que morava, o casal possuía também cerca de mil acres de terras férteis com uma mansão elisa-betana como sede perto de Berwick. A residência em Belgrave Square lhes fora presenteada pelos pais de sua esposa por ocasião do casamento e era modestamente avaliada em meio milhão de libras. Simon pegou o The Times e virou a primeira página, mas teve o olhar novamente atraído pelo envelope creme, Exatamente às onze horas, o mordomo abriu a porta cortinada que separava a cozinha do resto da casa e entrou com o desjejum. Suco de laranja fresco, extraído de frutas da Califórnia, que ele preferia, duas fatias de pão integral e um pequeno pote de mel proveniente de uma de suas próprias fazendas, uma xícara de café feito a partir de grãos comprados frescos diariamente, menos aos domingos, no Harrods Food Hall, e que ele tomava puro. Simon apreciava aquele estilo de vida ordenado, quase ritualístico. Quando as pessoas comentavam sobre aquela sua característica, ele dizia que se tratava do resultado da educação que obtivera em seletos colégios ingleses. Simon observava a si mesmo com a mesma atenção que dedicava a tudo o mais. A imagem era importante; não aquela aparência bem-arrumada demais dos colegas americanos, naturalmente — os eleitores achariam a atitude falsa, mas Simon seria um idiota se não tirasse vantagem do fato de apresentar uma figura invejável, com sua altura de um metro e oitenta e seu porte atlético e musculoso cultivado nas quadras de esportes das escolas particulares que frequentara e nas competições de remo de que participara na universidade. Seus cabelos eram cheios, loiro-escuros. No verão, o sol lhe acrescentava realces, e sua pele adquiria um saudável bronzeado. Tinha uma arrogante aparência aristocrática. As mulheres gostavam dele, dando-lhe seus votos por ele mesmo e por sua política. Os homens o invejavam e admiravam seu sucesso. Era conhecido na imprensa popular como o único membro do Parlamento com sex appeal. Fingia considerar a descrição de mau gosto. Elizabeth, sua mulher, era uma das poucas pessoas que sabiam o quanto a fama o agradava, e por quê! Projeto Revisoras 19
  • 20. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino No momento, ela visitava a família em Boston. Era uma Calvert, e seus antepassados estavam entre os colonizadores que chegaram à América no navio Mayflower. Conheceram-se durante uma temporada que ele passara em Boston. Os pais dela se impressionaram com ele. Henry Calvert era sócio do banco da família e não demorou para descobrir que Simon Herries provinha de uma família quase tão hábil e cautelosa com o dinheiro quanto a sua própria. O casamento provocou manchetes em todos os jornais da sociedade — manchetes discretas, naturalmente. Afinal, a realeza esteve presente. A madrinha de Simon era membro da família real e concordara graciosamente em comparecer à cerimônia. O enlace teve lugar na Igreja St. Margaret, Westminster. A sra. Calvert se dividira entre o orgulho e a decepção. Teria tido enorme prazer em oferecer um jantar em Boston para a madrinha de seu futuro genro, mas Simon se mostrara inflexível; a cerimônia ocorreria na Igreja St. Margaret. Havia um artigo elogioso no The Times a respeito da pressão que Simon vinha exercendo no sentido de alterar a legislação e tornar mais severa a punição para o crime de abuso de crianças. Sua reputação como bravo defensor da lei e da ordem e promotor do retorno de um clima de moral mais rígido se fortalecia. Era citado entre seus colegas, às vezes sarcasticamente, como "o candidato das donas de casa". Sorriu e releu o artigo. As donas de casa eram milhares, e todas elas tinham direito ao voto. Simon abriu o envelope, rasgando-o cuidadosamente com a faca de cabo de prata dada a seu avô por um monarca. A carta era breve e vaga. Simplesmente o convidava para se apresentar nos escritórios da Minesse Management às três horas da tarde de segunda-feira para discutir um assunto de interesse mútuo. O tom da carta não era tão incomum assim, de modo que ele consultou sua agenda para ver se tinha o horário sugerido livre. Tinha. Então, anotou o compromisso, acrescentando um lembrete para pedir à secretária que descobrisse o máximo possível sobre a Minesse Management e sua fundadora, Pepper Minesse. Nunca a vira, mas ela tinha a reputação de ser uma mulher bonita e muito astuta. Projeto Revisoras 20
  • 21. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Miles French, advogado com chance de se tornar juiz, só recebeu a carta na manhã de segunda-feira. Passara o final de semana com sua amante mais recente. Gostava de se concentrar em uma atividade de cada vez e, quando estava com uma mulher cuja companhia o agradava, não permitia que nada mais o distraísse. Ele e Rosemary Bennett já eram amantes havia quase seis meses, o que significava bastante tempo, no que se referia a ele. Apreciava mulheres bonitas, mas não dispensava conversas inteligentes, de modo que sua mente frequentemente se cansava antes de seu corpo. Rosemary era editora da Vogue e, sempre que desconfiava de que ele estava saindo da linha, exibia-o a seus colegas do mundo da moda como punição. Um advogado era mesmo uma ave rara naquele meio profissional. Os homens ridicularizavam seus ternos Savile Row e suas camisas brancas de colarinho engomado, enquanto as mulheres o olhavam de soslaio, despiam-no mentalmente e imaginavam quais seriam suas chances de roubá-lo de Rosemary Bennett. Miles tinha um metro e oitenta e sete de altura e um sólido corpo musculoso. Seus cabelos eram negros e ligeiramente ondulados e seus olhos apresentavam um tom azul-acinzentado. Rosemary reclamava que ele, às vezes, a amedrontava, quando lhe lançava aquele olhar de "tribunal". Eles convinham um ao outro. Ambos conheciam as regras e sabiam o que podiam e o que não podiam esperar de seu relacionamento. Miles não dormia com outras mulheres, mas Rosemary sabia que, no momento em que se tornasse desinteressante, ele a deixaria sem direito a apelação. Ele pegou a carta junto com várias outras ao abrir a porta de seu apartamento, localizado convenientemente próximo a seu escritório de advocacia. Largou toda a correspondência sobre a escrivaninha da biblioteca antes de subir ao quarto para tomar um banho e se trocar. Não tinha compromisso algum para aquele dia. Não gostava de fazer nada às pressas. Era paciente e meticuloso. Podia se encolerizar também, mas era difícil provocá-lo a tal ponto. O telefone tocou, obrigando-o a sair de debaixo do chuveiro. Praguejando, atendeu ao chamado enquanto a água pingava de seu corpo para o carpete. Sua estrutura revelava sólidos músculos cultivados em jogos de squash a que comparecia duas vezes por semana, no clube. Pêlos escuros, finos e Projeto Revisoras 21
  • 22. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino sedosos, lhe cobriam as costas, terrivelmente sensuais para o sexo feminino. Quem o procurava era um funcionário do escritório. Miles esclareceu-lhe a dúvida e desligou o aparelho em seguida. Depois de se vestir, foi para a cozinha e preparou uma xícara de café. Uma diarista mantinha o apartamento limpo e, às vezes, lhe fazia compras, mas preferia não depender de ninguém. Nunca conhecera seus pais. Fora abandonado quando bebê na escadaria do hospital infantil de Glasgow e terminara num orfanato, onde aprendera a valorizar a privacidade e a independência. Foi para a biblioteca levando o café. Era uma sala espaçosa, com paredes dominadas por estantes, um dos motivos pelos quais comprara aquele apartamento. Sentou-se à escrivaninha e examinou a correspondência. Ao ver o envelope da Minesse Management ergueu levemente o lábio inferior, num movimento habitual do qual raramente se conscientizava, mas que as mulheres consideravam sexy. O nome da empresa lhe era familiar mas, pelo que sabia, nunca lidara com ela sob o aspecto legal e, de qualquer forma, a maioria de suas negociações com clientes se processavam por intermédio de procuradores. Miles abriu o envelope e leu a carta com um sorriso. A mensagem era intrigante, e ele teria adivinhado que fora emitida por uma mulher mesmo sem saber quem dirigia a Minesse Management. Não recordava se ele e Pepper Minesse haviam se encontrado alguma vez, embora já tivesse ouvido falar dela. Cogitou, então, o que ela poderia estar querendo com ele, imaginando várias possibilidades. Só havia uma maneira de descobrir, e ele tinha a tarde livre. Pegou o telefone. Pepper resolveu passar o fim de semana com amigos que moravam nas proximidades de Oxford. Philip e Mary Simms eram sua família, desde que tinha dezessete anos e já era órfã. Chegara pouco depois das onze da manhã de sábado, evitando fazer a viagem no horário de tráfego mais intenso. O brilhante sol de início de verão a convencera a baixar a capota de seu Aston Martin, e seus cabelos, livres do coque, se embaraçaram com o vento. Trajava um conjunto de linho verde-oliva, composto por uma saia curta e reta e uma jaqueta que se ajustava aos contornos de seus seios e cintura. Por baixo, usava uma blusa de seda creme. Ao desligar o carro e Projeto Revisoras 22
  • 23. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino pular para o chão de cascalho, viu o pequeno Oliver Simms desaparecer na lateral da casa. Pepper chamou o garoto, que reapareceu e a esperou. Aos dez anos, ele tinha olhos sérios e enrubesceu levemente ao vê-la se aproximar. Mas as boas maneiras transmitidas por seus pais obrigaram-no a esperar até que ela o alcançasse. — Oi, Oliver! De todos os amigos dos pais, Pepper era a favorita do menino. Ela nunca tentava afagar-lhe os cabelos, nem beijá-lo. No Natal e em seu aniversário, sempre lhe trazia presentes que eram exatamente o que ele queria, além de uma pequena quantia em dinheiro para sua caderneta de poupança. Atualmente, ele economizava para comprar uma bicicleta nova. Seu aniversário caía em junho, e ele tinha esperança de que seus pais lhe dessem de presente o dinheiro que faltava para realizar o projeto. — A mamãe e o papai estão no quintal. Oliver chegara ao mundo quando sua mãe já tinha mais de quarenta anos e seu pai, quarenta e oito. Durante aquela curta existência de dez anos, nunca duvidara do quanto havia sido desejado. Não era uma criança mimada como aquelas cujos caprichos materiais eram todos atendidos, seu pai lecionava na escola local e a família vivia confortavelmente, embora sem luxo, mas nunca deixara de acreditar que era profundamente amado. De boa índole, Oliver logo aprendera a analisar e julgar fatos logicamente, de modo que já sabia que muitos de seus amigos que possuíam os mais modernos microcomputadores e as bicicletas último tipo, que ele às vezes invejava, tinham pais tão ocupados que lhes eram quase estranhos. Oliver tinha consciência do sacrifício que seus pais faziam para que ele pudesse frequentar uma boa escola preparatória mas, por mais incrível que pudesse parecer, sempre havia dinheiro bastante para, por exemplo, a compra de um novo uniforme escolar, e até de extravagâncias, como o feriado de Ano Novo passado numa estação de esqui que tivera poucos meses antes. Depois de encaminhar Pepper para o quintal, o garoto pediu licença, justificando em tom sério: — Eu já estava indo para o treino de críquete... vou entrar no time júnior este ano. Projeto Revisoras 23
  • 24. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Pepper acompanhou o menino com o olhar até ele desaparecer de vista, só então indo ao encontro do casal amigo. — Pepper, minha querida! Você veio rápido... — O trânsito estava bom, para variar. Pepper beijou a amiga no rosto e permitiu que ela a abraçasse com força. Mary Simms era a única pessoa a quem Pepper já permitira contato tão íntimo. Por instinto, ela sempre se mostrava arredia e distante com as outras pessoas, mas Mary era diferente. Sem Mary... — Você está com ótima aparência, Mary... Vocês dois estão, para falar a verdade. Pepper não transmitiu emoção alguma através da voz, e fora da mesma forma fria que estudara os rostos dos amigos. Ninguém que observasse a cena poderia imaginar como eram fortes os laços que os uniam. Mary Simms, que crescera não apenas na companhia dos pais, mas também de velhos tios e tias, acostumara-se desde a mais tenra idade a demonstrar afeto aberta e fisicamente. Doía-lhe mais do que conseguiria expressar o fato de Pepper ter sido privada do amor que ela própria conhecera em criança e com o qual agora cercava o marido e o filho. Philip Simms cumprimentou Pepper com sua costumeira serenidade e distração. Era um professor nato, possuía o dom de despertar nos alunos o desejo de adquirir conhecimentos. Ensinara-lhe tanto... Ali, naquela casa pobre em que ela... — Viu Oliver? — indagou Mary. Pepper saiu do devaneio e sorriu para a amiga. — Vi. Ele estava de saída. Comentou algo sobre ter de praticar críquete. — Exatamente. Ele espera ser escalado para o time júnior da escola — completou Mary, com os olhos brilhando de amor e orgulho. Pepper voltou a olhar para Philip, que transplantava com cuidado algumas plantas novas. O amigo fazia tudo sempre com muita delicadeza e zelo, infinitamente paciente e compreensivo. — Vamos entrar, vou fazer um café para nós — sugeriu Mary. A cozinha mudara muito pouco desde a primeira vez que Pepper a vira. A máquina de lavar louça, a geladeira, o freezer e o fogão haviam sido trocados, sem dúvida, mas as largas prateleiras que ladeavam a lareira e a pesada cômoda de pinho atravessaram os anos incólumes. A porcelana sobre o Projeto Revisoras 24
  • 25. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino móvel pertencera a uma das tias de Mary, assim como grande parte da mobília da casa. O dinheiro nunca fora o mais importante na vida dos Simms e, para Pepper, voltar à casa deles era como retornar ao ventre materno. Enquanto fazia o café, Mary comentou com Pepper que ela e o marido nunca se cansavam de admirar seu sucesso. O casal tinha tanto orgulho dela como do filho; sob certos aspectos, até mais. Entretanto, não conseguiam compreendê-la totalmente. Como poderiam? Ao sentar-se numa das maltratadas banquetas de fórmica, Pepper imaginou como a amiga reagiria se tomasse conhecimento do que ela fizera. Mas logo lembrou que era inútil tentar aplicar o código de ética de Mary a suas atitudes. Sua vida, suas emoções e suas reações eram tão complexas que nem Mary, nem Philip jamais compreenderiam o que a motivava. O casal ficara desolado quando Pepper decidira ir embora de Oxford, mas não tentara dissuadi-la da idéia. Morara quase um ano naquela casa, cuidada, mimada e protegida pelo casal. Eles a abrigaram e lhe deram algo que nunca havia tido antes. Tratavam-se das únicas pessoas verdadeiramente boas e cristãs que ela conhecera. Entretanto, conhecia outras tantas que ridicularizariam a vida simples dos Simms e sua falta de interesse por riqueza e sucesso. Voltar periodicamente àquela casa era algo de que Pepper precisava quase tanto quanto da realização de sua vingança. Fora sempre com muito esforço que limitara suas visitas: uma vez por mês, no Natal e nos aniversários... Pepper e a amiga tomaram o café no tipo de silêncio que só existia entre pessoas que se conheciam bem e se sentiam completamente à vontade uma com a outra. Depois, Pepper ajudou a dona da casa a lavar a louça e preparar o almoço, simples tarefas domésticas que nenhum dos executivos ou funcionários de sua empresa jamais imaginara que ela fosse capaz de realizar. Nunca permitira que qualquer pessoa a visse daquele modo, vulnerável e dependente. Depois do almoço, Pepper e os amigos foram para o quintal, não para cochilar sob o sol de início de tarde, mas para atacar as ervas daninhas que viviam ameaçando dominar os canteiros de flores de Philip. Enquanto trabalhavam, o dono da casa comentou que estava preocupado com um de Projeto Revisoras 25
  • 26. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino seus alunos. Ouvindo-o, Pepper sentiu o coração se encher de amor e humildade. Sabia que para aquele homem ela sempre seria a pequena selvagem de dezessete anos, bárbara e inculta, que só conhecia as leis de sua tribo cigana, raça regida mais pela emoção do que pela lógica. Pepper foi embora pouco depois das cinco horas do domingo, depois de tomar chá sobre o gramado, saboreando os bolinhos caseiros de Mary e a geléia que ela fizera. Oliver e dois amiguinhos seus admiravam o Aston Martin. Quando Pepper olhou para o trio, Oliver lhe deu um sorriso conspirador e insinuante que prenunciou o homem que ele seria. Ela já via no menino o brotar de um grande charme pessoal, além de inteligência e determinação. Não importava o lugar para onde fosse, nem o que lhe acontecesse, Oliver sempre poderia olhar para trás e recordar aqueles anos da infância em que recebera amor e segurança de seus pais. Ele sempre se beneficiaria daquelas dádivas, assim como ficava mais forte e resistente a planta que crescia em terra boa e rica, ao contrário daquela que tinha de lutar para sobreviver em solo árido. Todas as carências podiam ser compensadas, mas deixavam cicatrizes, como qualquer outro ferimento. Oliver chegaria à idade adulta sem cicatrizes. Pepper se levantou, inclinando-se em seguida para abraçar e beijar Mary, e depois Philip. O casal a acompanhou até o carro. — O ano letivo começa daqui a três semanas — lembrou Philip. — Vai poder vir desejar bons estudos a Oliver? Pepper sorriu para o menino, que também sorriu, timidamente. — Bem, como sou a madrinha dele, acho que vou ter de dar um jeito... — brincou. Sabia que se comportara exatamente como devia diante de seu amiguinho. Os garotos haviam todos atingido a idade em que desaprovavam qualquer cena emotiva da parte dos adultos. Pepper se sentou atrás do volante e ligou o motor do carro. A sua frente, estavam Londres e a manhã de segunda-feira. Os quatro homens aceitariam a convite? Tinha a impressão de que sim. Lançara-lhes uma isca a que nenhum deles conseguiria resistir. Todos os quatro, por motivos diversos, concluiriam que poderiam se beneficiar de uma ligação com a Minesse Management. Projeto Revisoras 26
  • 27. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Pepper tomou o rumo da estrada. Em seu rosto, um leve sorriso, que demonstrava mais amargura do que alegria. CAPÍTULO III Pepper dormiu demais e acordou tarde na manhã de segunda-feira. Ao se ver ainda mais atrasada devido a um engarrafamento de trânsito na Knightsbridge, sentiu-se dominar pela tensão. Encontrava-se no meio daquilo que era o paraíso daqueles que tinham dinheiro para gastar. Nas ruas comerciais próximas, mulheres elegantes se detinham diante das vitrines. Foi ali, na Harvey Nichols, que a princesa de Gales fez suas compras antes de se casar com o herdeiro do trono. Em quase todos os departamentos da loja, havia moças que se expressavam do mesmo modo aristocrático da princesa. Turistas americanos e japoneses atravancavam a entrada principal do magazine Harrods. Notou, distraidamente, que se viam menos mulheres árabes agora do que antigamente. Impaciente, Pepper consultou o relógio do painel do carro. Não tinha compromissos para aquela manhã, mas detestava se atrasar, porque isso significava que não tinha a vida sob controle total. Tentou se acalmar. A impaciência tornava as pessoas descuidadas e as levava a cometer erros. Erros, a não ser os das outras pessoas, não tinham lugar em sua vida. Chegando à Minesse Management, Pepper foi direto para sua sala. A secretária a seguiu. — Miranda, quatro cavalheiros deverão me procurar hoje às três da tarde. Vou atender todos juntos. Aqui estão os nomes deles. — Pepper passou à funcionária uma folha de papel datilografado. — Está bem... Vai tomar seu café agora? — Sim, por favor. Ah... Miranda, certifique-se de que o guarda de segurança estará no prédio durante a visita dos cavalheiros, por favor. Embora fosse muito eficiente, a secretária não conseguiu recordar em que outra ocasião Pepper lhe fizera o mesmo pedido. Ao ler os nomes escritos no pedaço de papel, reconheceu apenas dois deles: um membro do Parlamento e um empresário. Então, deixou a curiosidade de lado, sabendo que essa seria satisfeita quando Pepper lhe Projeto Revisoras 27
  • 28. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino ditasse as conclusões da reunião. Meticulosa, Pepper registrava todas as conversas que tinha com clientes e potenciais patrocinadores. Miranda colocou, o pedaço de papel sobre a própria escrivaninha e foi para a pequena cozinha oculta atrás de sua sala. Assim que entrou na sala com o café, Pepper a instruiu: — Se qualquer dos homens daquela lista telefonar, não vou querer falar com eles. Se algum deles cancelar o compromisso, por favor, me avise. Miranda não recebeu mais esclarecimentos, e não pediu nenhum. Pepper fornecia aos funcionários apenas as informações que cada um necessitava para desempenhar seu papel. O sucesso ou o fracasso da Minesse Management dependia só dela, e de mais ninguém. Pepper tomou seu café ao mesmo tempo que estudava recortes de jornais daquele fim de semana. Fazia parte do trabalho da secretária folhear as publicações e destacar todo e qualquer artigo referente a clientes ou patrocinadores da empresa. — Tenho um compromisso com John Fletcher ao meio-dia, Miranda. Devo estar de volta lá pelas duas horas, caso alguém me procure. John Fletcher era um costureiro em fase de ascensão. Pepper vira algumas de suas criações num artigo da Vogue sobre novos estilistas e lhe encomendara dois modelos. Ele ainda não era muito conhecido, mas Pepper pretendia alterar essa situação. Entre os clientes da Minesse Management havia uma jovem modelo com boas chances de sucesso, e Pepper tinha em mente ligá-la ao costureiro de uma forma que os promovesse e lhes atraísse atenção. Louise Faber, a modelo, havia sido apresentada a Pepper num coquetel. Com dezoito anos de idade, sabia exatamente o que queria da vida. Sua mãe fora modelo, de modo que dispunha de contatos para entrar no ramo. Várias ex-colegas de Rena Faber haviam abandonado a carreira de modelo para se dedicar a atividade mais lucrativas do mundo da moda, de forma que ela pudera, aproveitando-se dessas relações, proporcionar à filha um bom começo de carreira. Mas, ao contrário do que se poderia pensar de qualquer modelo de dezoito anos, Louise não tinha como ambição máxima ver o próprio rosto na capa da Vogue americana. Louise tinha outros planos. Desejava montar e dirigir um restaurante de luxo mas, para isso, precisava de fundos e de aprender o ofício. Sem dinheiro e contatos adequados, dificilmente conseguiria sustentar o tipo Projeto Revisoras 28
  • 29. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino de restaurante onde poderia adquirir a prática para atingir seu objetivo. Mulheres não eram consideradas capazes de ser chefs, mas apenas cozinheiras, e ela pretendia provar o contrário. Os pais de Louise se divorciaram quando ela era pequena e, conforme ela contara a Pepper, sua família não dispunha do dinheiro necessário para financiar o tipo de restaurante que ela desejava montar. O oportuno comentário de uma das amigas de sua mãe, de que ela poderia ser uma excelente modelo, deu-lhe a idéia de que uma temporária dedicação àquela carreira poderia lhe proporcionar o dinheiro de que precisava. E a decisão de ser modelo foi tomada com a determinação de que seria a melhor. John Fletcher tinha seu ateliê próximo a Beauchamp Place, local que concentrava casas de alta-costura e butiques finas, na estrada Brompton. A fim de não se aborrecer com o trânsito da hora do almoço, Pepper não se utilizou de seu Aston Martin, preferindo tomar um táxi, que a deixou a vários metros de distância de seu destino. Duas garotas saíram do ateliê de Bruce Oldfield e pararam para olhar para ela. Nenhuma das duas devia ter mais de dezenove anos. — Uau! — exclamou uma delas. — Isso é que é classe! Não havia ninguém no saguão de entrada do ateliê de John Fletcher, e Pepper não hesitou em subir a escadaria que levava ao show-room do estilista. Antes de entrar, bateu levemente na porta. Dois homens se encontravam próximo a uma janela estudando uma peça de fazenda escarlate. — Pepper! — John Fletcher passou a seda a seu assistente e foi cumprimentá-la. — Vejo que está usando o preto. Pepper sorriu. Escolhera deliberadamente usar naquele dia o conjunto preto que o costureiro desenhara para ela. Não era de becas negras que os juizes se vestiam para pronunciar sentenças de morte? Miles French apreciaria a sutileza de sua atitude, mesmo que os outros não a percebessem. Mas, por algum motivo, tinha certeza de que todos os quatro iriam gostar. A saia do conjunto fora cortada no novo estilo curto e curvo que lhe realçava os quadris e a cintura. O assistente de Fletcher ajudou-a a tirar a jaqueta. Era um dos rapazes mais belos que já vira, musculoso, de pele e cabelos dourados. Ele lançou a Fletcher um dissimulado olhar indagador, recebendo dele um breve balanço de cabeça negativo. Projeto Revisoras 29
  • 30. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Pepper interpretou o diálogo silencioso, mas aguardou que o rapaz saísse antes de se manifestar. — Agiu sabiamente, John. Eu ficaria muito ofendida se me oferecesse os serviços do seu garanhão domesticado. — Ele trabalha para mim há pouco tempo e... receio que ainda se mostre um pouco grosseiro — desculpou-se o costureiro. — Tem muitas clientes interessadas nesse tipo de serviço? — A voz de Pepper soou levemente abafada de dentro do cubículo onde ela entrara para se despir, ficando só de calcinha e sutiã. — Algumas. Mas... como adivinhou? A maioria das pessoas que entra aqui olha para ele e pensa... — Que você é gay? - Pepper saiu do cubículo e deu ao costureiro um sorriso zombeteiro. — Sei quando um homem gosta de mulheres e quando não gosta, John, mas... pensei que estivesse lucrando o bastante sem ter de oferecer a suas clientes esse serviço adicional. — Oh, mas eu não ofereço! Os acordos que minhas clientes fazem com Lloyd ficam só entre eles. — Mas o boato se espalha, e há muitas ricaças entediadas que prestigiariam um costureiro que fizesse algo mais por seus corpos que simplesmente vesti-los. John deu de ombros: — Esse é meu ofício. Hum... por falar nisso... Enquanto o costureiro trabalhava, Pepper lhe expunha seu plano de tornar Louise Faber modelo exclusivo de suas criações. — Gostei dela. — O costureiro se levantou e estudou o vestido que se ajustava ao corpo de Pepper. — Acha que vai conseguir assinar o contrato promocional com a Vogue? — indagou ela. — Acho que sim. Já fiz vários contatos com a revista. Alguns dos seus editores de moda deverão estar no baile beneficente a que você e eu iremos esta noite. Podemos conversar com eles e se conseguirmos entrar num acordo, marcar um encontro entre mim e Louise para acertarmos os detalhes. Pepper saiu do ateliê meia hora depois e tomou um táxi que a deixou exatamente na porta de seu restaurante favorito. O estabelecimento ficava num prédio de três andares, decadente até bem pouco tempo, Projeto Revisoras 30
  • 31. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino entre vários outros próximos a Sloane Square. Pepper o comprara assim que percebera que os ricos estavam transferindo sua lealdade, junto com seus talões de cheques e cartões de crédito, da Bond Street para a Knightsbridge. Agora, todos os três andares lhe rendiam aluguéis excelentes, embora não extorsivos. Fora ela quem financiara a instalação do restaurante, assim como alertara seu gerente de que a nouvelle cuisine estava no fim e algo mais substancioso estava a caminho. Não havia nenhum dia da semana em que todas as mesas do estabelecimento não se mostravam ocupadas. Uma sutil campanha promocional o tornara o restaurante da moda. Grupos de elegantes mulheres bem-nascidas beliscavam a comida que não tinham intenção de consumir — manter a linha era muito mais importante. De qualquer forma, não iam até lá para se alimentar, iam para verem e serem vistas. Um artista, também cliente de Pepper, transformara o insípido interior do prédio com uma pintura afrontosamente erótica. Os mais bem informados às vezes conseguiam reconhecer nos rostos das ninfas e dos sátiros travessos traços de muitas personalidades proeminentes. Quando uma delas perdia a notoriedade, suas características eram apagadas e as de outra pessoa, recém-surgida e digna de ser promovida, lhe tomavam o lugar. Não era raro atrizes e até políticos sugerirem discretamente a esse artista que suas características faciais ficariam bem nas paredes. O envolvimento de Pepper com o restaurante era um segredo bem guardado. Os traços de seu rosto não apareciam em nenhuma das ninfas travessas. Entretanto, quando ela seguiu o maitre através do liso carpete cinza-escuro, todos os olhares acompanharam seu andar indolente. Pepper se sentou e fez seu pedido sem consultar o menu. Notou que a maioria das mulheres que almoçavam juntas tinham ou vinte e poucos anos ou mais de quarenta, jovens viúvas ou divorciadas entediadas. As outras mulheres, aquelas dedicadas à profissão e que tinham dinheiro, aproveitavam a hora do almoço para tratar de negócios com clientes ou para ampliar seus contatos, no tipo de atividade que seus equivalentes do sexo realizavam em clubes. Logo aquelas mulheres precisariam da mesma exclusividade. Ainda havia muito poucos clubes que atendiam as necessidades daquela nova classe de mulheres de carreira, locais onde elas podiam entreter seus clientes, almoçar e passar a noite, se necessário. Projeto Revisoras 31
  • 32. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Se fora com a contratação de clientes que Pepper conseguira a maior parte de sua fortuna, foram os seguros investimentos que ela fizera com aquele dinheiro que lhe proporcionaram o sólido capital que escorava sua empresa. Pepper estava sempre disposta a fazer bons investimentos. Sorrindo, passou a refletir, estimulada pelo desafio das próprias idéias. Chegou ao escritório às cinco para as duas. A secretária a informou de que todos os quatro cavalheiros da lista haviam telefonado. Três deles manifestaram desejo de conversar com ela, mas ao serem informados de que ela não se encontrava na empresa limitaram-se a confirmar o compromisso. — E o quarto? A secretária consultou a lista. — Miles French? Oh, ele simplesmente disse que estaria aqui. Miranda saiu deixando Pepper de pé ao lado de sua escrivaninha, achando- a com expressão um tanto distraída. Como sempre, não fez perguntas. Às duas e meia, a secretária aprontou um carrinho para levar o chá que já sabia que lhe pediriam para servir mais tarde. A fina porcelana era Royal Duton e, como o jogo de café, fora especialmente fabricado de acordo com as especificações de Pepper. Todos os quatro homens chegaram num intervalo de dez minutos, um após o outro. A recepcionista os encaminhou à sala de espera e então ligou para Miranda, informando que eles haviam chegado. A secretária consultou o relógio de pulso: cinco para as três. Em seu escritório, Pepper resistiu à tentação de examinar os dossiês mais uma vez. Já se certificara de que sua maquilagem e roupas se mostravam impecáveis, e lutou contra o impulso nervoso de se mirar no espelho novamente. As cinco para as três, o interfone tocou, fazendo seu estômago se contrair. Atendeu o chamado e foi informada pela secretária de que os quatro homens haviam chegado. Respirando fundo, instruiu calmamente: — Por favor, faça-os entrar, Miranda, e sirva-nos um chá. Ao fim do corredor, na confortável sala de espera, os quatro homens aguardavam. Eles haviam se reconhecido, cada um ficando surpreso por ver os outros, mas apreciando o reencontro. Mantinham muito pouco contato entre si atualmente. De todos, só Miles French se mostrava totalmente relaxado. "O que ele estaria fazendo ali?", cogitou Simon Herries, fitando-o. Projeto Revisoras 32
  • 33. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Estaria de alguma forma relacionado à Minesse Management, talvez como advogado contratado para tratar de seus assuntos legais? Uma porta se abriu e uma atraente morena entrou na sala. — A srta. Minesse os atenderá agora. Façam o favor de me acompanhar. Quando eles entraram no escritório, Pepper se encontrava de costas para a porta, fingindo apreciar a vista além da janela. Aguardou até que a secretária trouxesse o carrinho de chá e saísse fechando a porta antes de se voltar. Todos os quatro homens reagiram ao vê-la, mas ela constatou o brilho do reconhecimento nos olhos de apenas um deles: Miles French. Pepper deliberadamente adotou uma expressão neutra, ocultando dele o ódio e a aversão que sentia. Do outro lado da escrivaninha, Miles a fitava curioso e divertido. Reconhecera-a imediatamente, embora tivesse demorado alguns segundos para se lembrar de onde a vira pela primeira vez. Ao olhar para os companheiros, percebeu que com eles não ocorrera o mesmo. Devido à perspicácia que desenvolvera como advogado, não demorara a perceber que a mulher se encontrava tensa. Ela progredira muito desde os tempos de Oxford, bastante mesmo. Simon Herries foi o primeiro a se manifestar. Pepper permitiu que ele lhe apertasse a mão e desse seu sorriso ensaiado, uma mistura discreta de admiração masculina, sinceridade e seriedade. Ele engordara um pouco desde a última vez que ela o vira. Agora, parecia ser o que era: um homem próspero e bem-sucedido. Os outros a cumprimentaram no mesmo estilo. Miles French foi o único que a olhou diretamente nos olhos, tentando colocá-la em desvantagem. Ela percebeu a manobra, sentindo o coração se descompassar ao ver em seu rosto o sorriso do reconhecimento. A reação de Miles French fora algo que Pepper não previra. Nenhum dos outros três a haviam reconhecido, mas a possibilidade de que com ele tivesse ocorrido o contrário a deixava apreensiva. — Devem estar imaginando por que lhes pedi que viessem aqui. Pepper sorria de modo profissional e instigante, garantindo que nenhum deles seria decepcionado em suas expectativas. Já destrancara a gaveta em que mantinha os dossiês, que pegou com um único movimento ágil. — Creio que compreenderão mais facilmente se lerem estes documentos. Projeto Revisoras 33
  • 34. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Tratava-se de cópias, naturalmente. Seus originais se encontravam seguros num cofre de banco. Pepper não pretendia ver quase dez anos de trabalho serem estraçalhados diante de seus olhos. Então, ela passou a servir o chá, observando os rostos dos convidados para ver em quanto tempo seus sorrisos confiantes e satisfeitos desapareceriam. O de Richard Howell foi o primeiro a se apagar. Ela o viu fechar os olhos e então largar os papéis que tinha nas mãos para encará-la. — Leite, sr. Howell? — indagou ela, docemente. Cada um daqueles dossiês continha segredos que, se tornados públicos, destruiriam a vida profissional do homem que os guardava. Todos eles consideravam aqueles fatos tão profundamente enterrados que jamais seriam descobertos, mas estavam errados! Richard Howell era agora um banqueiro conhecido e altamente respeitado mas, certa vez, fora apenas um parente mais jovem e muito mais pobre no império financeiro dirigido por seu tio David. Fora difícil a Pepper descobrir como ele conseguira o dinheiro para comprar secretamente ações do banco, suficientes para reivindicar e eventualmente arrebatar das mãos do tio o controle do negócio da família. Depois de meses de trabalho cuidadoso, tinha apurado que ele comprou seu primeiro lote de ações na época em que trabalhava no departamento de cofres de segurança do banco. Para muitas pessoas, cofres de segurança são simplesmente locais onde podem depositar valores a fim de que não sejam roubados. Há aquelas, entretanto, que consideram esses cofres excelentes esconderijos para fundos obtidos de forma pouco ortodoxa ou, com frequência, ilegal: sonegação de impostos, fraudes e, às vezes, roubo puro e simples. Richard Howell teve a sorte de topar com um homem que adquirira seus fundos daquela última forma enquanto era o responsável pelo departamento de cofres de segurança. O banco possuía cópias das chaves de todos os cofres, de modo que ele pudera, num momento cuidadosamente escolhido, abrir o cofre do tal homem e ver o que ele guardava lá. Tomara aquela atitude logo depois da morte por ataque cardíaco do cliente, que sempre se identificara como William Law. O homem sofrera seu ataque cardíaco na rua, a oitocentos metros do banco. Os jornais publicaram sua fotografia e um parágrafo anunciando Projeto Revisoras 34
  • 35. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino sua morte, mas o citaram como Frank Prentiss em vez de William Law. Frank Prentiss certa vez fizera parte de uma quadrilha suspeita de praticar vários assaltos envolvendo centenas de milhares de libras. Nunca se conseguiram provas suficientes para levar a julgamento qualquer dos acusados. Quando se passaram três meses sem que a polícia ou o banco conectassem Frank Prentiss a William Law, Richard retirou do cofre de segurança quase todo o dinheiro guardado pelo criminoso, deixando apenas duzentas libras, por precaução, embora estivesse certo de que ninguém jamais descobriria o golpe. Ele não temia ser denunciado pelo próprio dinheiro ao gastá-lo — um homem inteligente como Frank Prentiss devia ter "lavado" o dinheiro roubado. Mesmo que a polícia descobrisse que William Law e Frank Prentiss eram a mesma pessoa e chegasse ao cofre de segurança do banco, concluiria que o criminoso gastara todo o dinheiro, menos as duzentas libras que encontrariam ainda guardadas. Duzentas e quarenta e cinco mil libras foram depositadas na conta particular de Richard Howell no Lloyds Bank. Quando seu tio questionou de onde viera tanto dinheiro, já era tarde demais: Richard se tornara o novo acionista majoritário do banco de Howell. Usara o fundo para realizar transações perspicazes na Bolsa de Valores, lucrando quantias muito superiores àquela investida originalmente. Pepper sorriu gentilmente ao lhe estender a xícara de chá. Foi com satisfação que viu o pânico em seus olhos. Sem dúvida, ele pensara que estaria sempre seguro! Agora, sabia que nunca estivera. E Simon Herries, quem diria! O político promissor, o defensor da decência e da família, era na verdade um homossexual que obtinha o máximo prazer relacionando-se com rapazes — e quanto mais jovens, melhor! Em Oxford, fora o líder de um grupo restrito cujas atividades secretas incluíam até magia negra. Pepper sorriu meigamente para o político, cujos olhos azuis lançavam faíscas do outro lado da escrivaninha. Alex Barnett pertencera àquele grupo liderado por Simon Herries, embora por pouco tempo. Mas o simples fato de ter participado de tais atividades na juventude o impediria de adotar qualquer criança. Pepper sabia do desesperado desejo de Júlia Barnett de ter um filho e como Alex amava a esposa. Projeto Revisoras 35
  • 36. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino Por fim, Miles French. Ele a decepcionara. Sabia-se que ele levava uma vida sexual bastante ativa, mas ele selecionava muito bem as parceiras e era fiel a elas enquanto durava o relacionamento. Pepper demorara muito para descobrir algo condenador em sua conduta mas, finalmente, tivera a paciência recompensada. Três meses atrás, a filha de dezoito anos de uma amiga dele pretendera contrabandear cocaína para o país. A moça deveria ter sido presa. Pepper obtivera a informação de que ela tomara um avião no Rio de Janeiro com a droga disfarçada de algum modo na mochila. Ao desembarcar em Heathrow, entretanto, já não levava a mercadoria. O avião em que a jovem viajara fizera uma breve escala em Paris. Miles French se encontrava naquela cidade e retornou com ela a Londres no mesmo vôo. Pepper estava convencida de que Miles, de alguma forma, persuadira a jovem a lhe entregar a cocaína, embora não tivesse conseguido nenhuma prova conclusiva. Mesmo assim, dispunha de elementos suficientes para destruir irrevogavelmente tanto sua carreira como sua reputação. Um advogado prestes a se tornar juiz num escândalo envolvendo drogas.,, Ele seria proibido de exercer a profissão, no mínimo! Pepper esperou até que todos terminassem de folhear seus dossiês. Só Miles French continuava sorrindo. Embora reconhecesse que ele possuía mais autocontrole que os outros, não se sentiu frustrada. Simon Herries foi o primeiro a se manifestar, atirando sua pasta no chão e questionando raivosamente: — Que diabo significa isto? Pepper não se deixou intimidar. — Todos leram seus dossiês, de modo que já perceberam, tenho certeza, a situação precária em que se encontram. Disponho de informações que, se tornadas públicas, poderão afetar negativamente suas reputações e carreiras. — Então é isso! — rosnou Herries. — Chantagem! Pepper lançou ao político um olhar glacial. — Não, não se trata de chantagem — garantiu, brandamente. — Trata-se de compensação. Conseguira chamar a atenção de todos. Eles agora a olhavam confusos, exceto Miles French, que mantinha no rosto um sorriso. — Compensação... por que diabo? — indagou Alex Barnett, em tom áspero. Pepper sorriu e se levantou. Projeto Revisoras 36
  • 37. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino — Por estupro, cavalheiros. Onze anos atrás, todos vocês, de uma forma ou de outra, colaboraram para que eu fosse estuprada. — Ao ver suas expressões se alterarem, completou, sarcástica: — Ah, parece que se lembraram, finalmente! — Por que nos chamou aqui... o que vai fazer? Fora Alex Barnett quem falara, em tom de total incredulidade. Lembrava- se do incidente, naturalmente. Jamais o esquecera, mas acreditara tê-lo enterrado para sempre, junto com sua culpa, assim como outros aspectos desagradáveis de seu passado. Olhando para Pepper com mais atenção, admirou sua requintada elegância. Ela passara por uma transformação e tanto. A garota de que se lembrava era magra, usava roupas baratas e mal conseguia se expressar. Ela os enfrentara como um animal selvagem, arranhando-lhe o rosto com as unhas... Com um tremor, fechou os olhos. — O que vai fazer? — murmurou. Surpreendentemente, ela continuava a sorrir para eles. — Nada... a menos que me obriguem, é claro. Mas, apesar daquela aparente tranquilidade, encontrava-se mais alerta que nunca. Estupro. Para Pepper, tratava-se do mais vil crime existente, principalmente se cometido da forma que lhe fora infligida. Ela jamais esqueceria o horror que vivera naquela noite, ou melhor, não se permitiria esquecer. Fora o desejo de vingança que a motivara a trabalhar tão arduamente durante tanto tempo e que a elevara da miséria para o ponto em que hoje se encontrava. — Vocês tomaram de mim algo insubstituível, e cheguei à conclusão de que é justo que cada um de vocês perca algo de igual valor. O senhor, sr. Herries — Pepper fitou o político com olhos faiscantes de ódio, irá se desligar do Partido Conservador. Ouvi dizer que tem boas chances de se tornar o líder dessa chapa. Entretanto, estou certa de que seus correligionários não verão seu desligamento como uma grande perda se virem os documentos desse dossiê, não acha? Pepper viu o político ficar vermelho de raiva e perplexidade, e então se voltou para Richard Howell. — O banco significa muito para o senhor, não, sr. Howell? Mas receio de que terá de abrir mão dele. Projeto Revisoras 37
  • 38. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino — Abrir mão?! — O banqueiro parecia incrédulo. Sempre sorrindo, Pepper se mostrou implacável. — Acho que sim. Tenho certeza de que seu primo terá enorme prazer em tomar o seu lugar. Alex Barnett sabia que era o próximo e também o que ela exigiria dele. Miles também... Desde que se formara em Oxford, lutara para montar seu próprio negócio. Investira nele tudo o que possuía, toda sua energia e quase todo seu tempo. Sentiu um desejo selvagem de agarrar o pescoço alvo daquela mulher e torcê-lo com as mãos até ver seus lábios silenciados para sempre. Ao fitá-lo nos olhos, Pepper soube que ele já adivinhara qual era seu ultimato. Então, passou a Miles French. — Já sei... — manifestou-se ele, secamente. — Mas você se esqueceu de uma coisa, Pepper... Ela assumiu um ar severo, raivosa por ele a ter chamado pelo nome, de modo tão informal. Ao contrário dos outros três, Miles parecia mais divertido que amedrontado. — "A vingança é minha", disse o Senhor — citou ele, zombeteiro. — Está trilhando um caminho perigoso, e sabe disso. Pepper parou de encará-lo. — Vocês têm um mês para considerar minhas... sugestões. Se, ao final desse prazo, eu não tiver recebido resposta alguma, esses dossiês serão entregues a imprensa. Nem seria preciso esclarecer que o que viram são apenas cópias. — E que deixou uma carta com seu banco e outra com seu advogado, as quais serão abertas no caso do seu desaparecimento ou morte — zombou Miles. Pepper se irritou com a insistência de Miles em fingir que estava apenas se divertindo com a situação. Ele tinha tanto a perder quanto os outros. Fitou-o nos olhos e estremeceu. Fora no quarto dele que acordara naquela manhã, e fora numa camisa dele que vira envolvo o próprio corpo machucado. Vira-o de pé, olhando para ela. — Vai pagar caro por isso! — ameaçou Richard Howell. Miles o tocou no braço e balançou a cabeça. Projeto Revisoras 38
  • 39. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino — Você disse um mês, não? — Olhou para Pepper com expressão pensativa e então se voltou para os companheiros: — Um mês passa rápido, cavalheiros, portanto, sugiro que não percamos mais nem um minuto. Usando o interfone, Pepper pediu à secretária que entrasse e acompanhasse os visitantes até a saída. — Podem levar seus dossiês — declarou, irônica. Então, deu-lhes as costas, voltando à janela. O tão esperado momento chegara e se fora, mas ela se sentia estranhamente vazia... esgotada. Uma insatisfação não prevista dominou- lhe o espírito. Ao ouvir a porta se abrir, soube que os quatro homens se retiravam da sala. A secretária retornou cinco minutos depois para levar o chá intocado. Aguardou durante toda a tarde que Pepper a chamasse para ditar suas conclusões da reunião. Mas Pepper não a chamou. Lá fora, na rua, quatro homens olhavam um para o outro. — Temos de fazer alguma coisa. — Claro — disse Miles. — Precisamos nos encontrar num lugar reservado para discutir o assunto. — E onde aquela mulher não possa nos ouvir — completou Simon Herries, rosnando de raiva. — Ela pode mandar alguém nos seguir... — Que tal se fôssemos agora para o meu apartamento? — sugeriu Miles, consultando o relógio de pulso. — São quatro e meia agora. A noite não vai ser possível, tenho um encontro. Algum de vocês tem algum compromisso agora? Os outros três negaram balançando a cabeça. Todos eles eram, cada um a seu modo, poderosos e autoritários, mas no momento reagiam como crianças desnorteadas e dependentes. Analisando-lhes as expressões, Miles concluiu que nenhum deles havia ainda aceitado o que acontecera. Já ele encarava a situação de outra forma, porque tivera tempo de se preparar para o golpe. Ao contrário deles, reconhecera Pepper Minesse e constatara como ela progredira e, consequentemente, se tornara poderosa. — Simplesmente não posso acreditar! — desabafou Alex Barnett, confirmando a análise de Miles. — Ela passou todos esses anos Projeto Revisoras 39
  • 40. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino esperando... — Interrompeu-se de repente, parecendo finalmente encarar a realidade. Céus, o que diria a Júlia? Se desistissem de adotar uma criança agora, ela não suportaria o desgosto. — Precisamos detê-la — concluiu Simon Herries. — O que tem em mente, Herries? — questionou Miles. — Não está pensando em assassinato, espero. — Assassinato? — De jeito nenhum — opinou Richard Howell. — Temos de detê-la — Simon Herries repreendeu os companheiros com um olhar fulminante. Aquela mulher se divertira humilhando-os, mostrando-lhes o poder que tinha sobre eles. Ele seria capaz de matá-la só por isso, quanto mais pelas exigências que ela fizera! Miles voltou a chamá-los à realidade: — Se estiverem de acordo, sugiro que paremos de falar no assunto até chegarmos a um local reservado. Como moro sozinho, creio que meu apartamento é a escolha mais acertada. "Céus, como French podia se manter tão calmo?", pensou Simon. Tinha a impressão de que o advogado estava quase se divertindo com a situação. Lembrou-se, então, de como confiara pouco nele nos velhos tempos, e também do prazer que tivera em... Percebendo que Miles o observava, disfarçou imediatamente o ressentimento e a hostilidade. Por ora, convinha-lhe acatar as decisões do grupo. Foi Miles quem avistou um táxi passando e o chamou com um sinal, dando seu endereço ao motorista, em tom seco. Como advogado, desenvolvera a capacidade de pôr as próprias emoções e reações de lado e estudar os fatos de maneira objetiva, que era o que estava fazendo agora. Colocando-se no lugar de Pepper Minesse — onde diabo ela arranjara tal nome? —, passava a considerar até bastante natural seu desejo de vingança. O que impressionava, entretanto, era a determinação que a levara a esperar tanto tempo para ver aquela vingança conquistada e a planejá-la com tanto esmero. Podia-se sentir a tensão em que se encontravam seus companheiros. Simon Herries era o mais precipitado, podendo facilmente chegar à Projeto Revisoras 40
  • 41. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino violência. Em Oxford, o fato de ser jovem e belo lhe trouxe algumas vantagens. Entretanto, sob aquela aparência sempre houvera algo maligno. E os outros dois? Alex Barnett se mostrava ainda em estado de choque. Richard Howell se mantinha sentado na beirada do assento, em visível tensão nervosa. Nenhum deles falou até chegarem à biblioteca do apartamento de Miles. — Aceitam um drinque? — ofereceu ele, recebendo resposta afirmativa de todos. Embora os quatro tivessem se visto ocasionalmente no decorrer daqueles anos, não haviam preservado o mesmo relacionamento que tiveram até sair de Oxford. Agora, todos notavam as mudanças uns nos outros ao mesmo tempo que aguardavam que alguém se manifestasse primeiro. — Ela não vai se sair bem desta! — garantiu Simon Herries, tomando seu uísque num só gole e batendo o copo na mesa. — E não serei eu a deixar uma idiota arrogante me dizer o que fazer! — Estou certo de que suas admiradoras apreciariam esse seu discurso, Herries — observou Miles, friamente. — Mas parece que esquecemos que não estamos lidando com uma garçonete semi-analfabeta de dezessete anos agora. A srta. Minesse é uma mulher extremamente bem-sucedida e poderosa. — Ela quer nos destruir! — Alex Barnett tinha a mão trêmula ao colocar seu copo sobre a mesa. — Não podemos deixar... — Pelo amor de Deus, todos nós sabemos disso! — impacientou-se Richard Howell. — Temos é de descobrir a maneira certa de agir. — Eu tenho uma idéia — declarou Miles, chamando a atenção de todos. — A meu ver, precisamos colocar a srta. Minesse numa posição em que não desejará divulgar aquelas informações a nosso respeito, ao mesmo tempo que irá se abster de exigir sua... compensação novamente. — Ameaçando-a de algum modo? — sugeriu Alex Barnett, pouco à vontade. Miles ignorou a interrupção. — Parece-me que o sucesso da Minesse Management depende totalmente da sua fundadora — prosseguiu. — Se a srta. Minesse desaparecesse por algum tempo, creio que a Minesse Management começaria lentamente a entrar em colapso. — Se está pensando em raptá-la, não vai dar certo — interrompeu Howell. — Ouviu o que ela disse que aconteceria se desaparecesse. Projeto Revisoras 41
  • 42. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino — Sim, ouvi, e concordo. Ela não pode desaparecer. Mas poderia ir viajar com seu amante... e se demorar o bastante para que seus clientes começassem a perder a confiança na empresa. Astros de todas as áreas têm egos que precisam de atenção constante. Sem a srta. Minesse para dar essa atenção... — Miles esperou que os demais concluíssem por si só o pensamento. — Grande idéia! — rosnou Simon Herries, irônico. — E como vamos convencer o amante dela a tirá-la do caminho, ou mesmo fazer com que ela concorde em ir com ele? — Ora, com um de nós se tornando o amante dela — esclareceu Miles, brandamente. O silêncio dominou o ambiente por alguns momentos. Richard Howell foi o primeiro a se recuperar do susto, mexendo-se na cadeira. — Pelo amor de Deus, French, isto não é hora para fazer piadas! Sabe muito bem que ela jamais aceitaria qualquer um de nós como amante... — Ela não precisa aceitar. Os três encararam Miles. — É óbvio que ela não concordaria em viajar com nenhum de nós... nem com qualquer outra pessoa, se tivesse de abandonar seus negócios. Mas se conseguirmos convencer seus funcionários, e todas as pessoas que lhe são próximas, de que ela foi viajar de livre e espontânea vontade com o amante, sua ausência não implicará que ela desapareceu, de modo que as instruções que ela deixou com seu banco e seu advogado não serão seguidas. E, depois que a raptarmos, teremos muito tempo para persuadi- la a revogar os ultimatos que nos fez hoje. — Só há um problema — interrompeu Richard Howell, sempre irônico. — Qual de nós vai fazer o papel do suposto amante? Miles ergueu as sobrancelhas. — Pensei em desempenhar o papel eu mesmo. — Deu um sorriso. — Sou solteiro, posso tirar uma licença do escritório sem que minha ausência chame a atenção de ninguém. — Depois de ver a reação dos companheiros, completou: — É claro que, se algum de vocês preferir... Houve um breve período de silêncio após o qual Simon Herries, desconfiado, questionou: — Muito nobre, mas por que você faria isso por nós? — Não estou fazendo isso por vocês — explicou Miles, calmo. — Estou fazendo isso por mim e, para ser sincero, prefiro contar comigo mesmo do Projeto Revisoras 42
  • 43. Clássicos históricos – Reedição 10 Penny Jordan – Dança do Destino que com qualquer outra pessoa. Mas, se algum de vocês tiver idéia melhor... — Além de assassinato, não posso pensar em mais nada — confessou Howell, amargamente. — Céus, ela nos pegou direitinho, e sabe disso. Ninguém contestou a afirmação. — Então, estamos de acordo. — Miles se levantou. — Sugiro que nenhum de nós entre em contato com o outro de agora em diante, até que a raptemos. É óbvio que ela nos manteve sob vigilância, numa época ou outra, e pode ainda estar mantendo, caso pense que podemos planejar contra- atacá-la. — Será que ela acha que vamos simplesmente acatar os ultimatos que nos fez? — Alex Barnett parecia ainda confuso, mas também furioso agora. Encarar a realidade dos fatos o fazia transpirar ligeiramente. Pensara ter enterrado seu passado com Simon Herries havia muito tempo. Céus, como fora tolo! Mas se sentira tão lisonjeado com a amizade de Herries... Richard Howell já mergulhara em seus próprios pensamentos. Como Pepper Minesse descobrira seu segredo sobre o cofre de segurança? Não podia abrir mão do controle do banco, lutara demais para consegui-lo. O plano de French funcionaria? Por enquanto, estavam falando apenas em sequestro mas, se French não conseguisse manter a mulher escondida, se seu plano falhasse... Engoliu em seco, nervoso. Que outra alternativa tinham? Simon Herries observava Miles. Não confiava nele... nunca confiara, e Miles não gostava muito dele, tampouco. Em Oxford, Miles não pertencera a seu grupo. De qualquer forma, conseguiria ele subjugar Pepper Minesse? Esperava que sim. Afinal, lutara demais e por muito tempo para desistir de tudo agora. Devia haver outro meio de deter aquela mulher mas, enquanto não o descobrisse, teria de aceitar o plano de Miles French. — Bem, cavalheiros, que me dizem? Vamos executar o meu plano ou não? — Miles os encarou. — Não vejo outra alternativa. — Alex Barnett parecia quase doente de tão atormentado. — Espero que funcione; — Richard começou a andar em círculo, tenso. — Sim... Sim... Tudo bem, concordo. — E você, Herries? — indagou Miles. — Concordo. Projeto Revisoras 43