Este documento resume a vida e obra do poeta renascentista português Luís de Camões. Contém informações sobre sua biografia, sua produção literária nos gêneros teatro, poesia e épica, e analisa aspectos e temas recorrentes em sua obra, como o neoplatonismo e a idealização da mulher. Destaca a influência clássica na sua épica mais famosa, "Os Lusíadas", que narra a epopeia dos descobrimentos portugueses.
Camões: vida, obra e influência do poeta renascentista
1. Imagem : capa do Dicionário de Luís de Camões, Ed. LeYa Brasil
2. Luís Vaz de Camões
O sonetista lusitano tem sua
história pessoal descrita por incertezas,
mas historiadores acreditam que ele tenha
nascido em Lisboa em 1524 ou 1525 e
falecido em 1580 ( teria vivido, portanto,
cerca de 55 anos).
4. O teatro camoniano
Camões compôs três peças
teatrais,
no estilo AUTO.
Dessas três, duas são segundo
o modelo vicentino e uma
segundo
o modelo clássico
Auto de Filodemo
El-rei Seleuco
Anfitriões
Modelo vicentino
Modelo clássico
5. a poesia
*A obra lírica de Camões foi publicada
postumamente, em 1595, sob o título
Rimas.
A poesia de Camões marca a
transição da
medida velha
(redondilha
usada na tradição medieval)
para a
medida nova
(soneto).
Luís Vaz de Camões é
considerado o maior poeta
renascentista português e uma
das mais expressivas vozes de
nossa língua.
6. Cantiga
A este mote alheio:
Menina dos olhos verdes,
por que me não vedes?
Eles verdes são,
e têm por usança
na cor, esperança e
nas obras, não.
Vossa condição
não é d’olhos verdes,
porque me não vedes.
Haviam de ser,
por que possa vê-los
que uns olhos tão belos
não se hão de esconder;
mas fazeis-me crer
que já não são verdes,
porque me não vedes.
Verdes não o são
no que alcanço deles;
verdes são aqueles
que esperança dão,
Se na condição está serem verdes
Por que não me vedes?
Nem sempre os
poemas em medida
velha desenvolvem
temas ingênuos e
graciosos, como o da
―menina dos olhos
verdes‖.
Há também poesias
sobre temas mais
dramáticos e do
cotidiano.
*medida velha - redondilha
7. *medida nova : sonetoBusque Amor novas artes, novo engenho
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n’alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei por quê.
4 versos
4 versos
3 versos
3 versos
8. Os temas de Camões
Observando a
poesia de Camões,
é possível dividi-la
nesses dois temas.
Reflexão
Filosófica
Neoplatonismo
Amoroso
9. Ao desconcerto do mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.
Reflexão Filosófica em
Medida velha (redondilha)
10. Platão + Camões
Amor, no ideal platônico, não se
fundamenta num interesse
material, mas na virtude.
Platão defendia que o verdadeiro
Amor nunca deveria ser
concretizado, pois quando se ama
tende-se a cultuar a pessoa amada
com as virtudes do que é perfeito.
Quando esse amor é concretizado,
aparecem os defeitos
de caráter da pessoa amada.
11. Neoplatonismo
Camões cultivou o ideal platônico
(de Platão): o Amor -com
maiúscula- é um ideal superior,
único e perfeito, o Bem supremo
pelo qual ansiamos.
Mas, seres decaídos e imperfeitos,
somos incapazes de atingir esse
ideal. Resta-nos o amor (com
minúscula), físico, simples imitação
do Amor ideal.
A constante tensão entre esses dois
pólos gera toda a angústia e
insatisfação da alma humana.
Amor x amor
Superior
Perfeito
Divino
Físico
Superficial
humano
12. Neste soneto, Camões contrapõe :
a perfeição do mundo das ideias
(neoplatonismo)
X
às imperfeições do mundo terreno.
Essa oposição conduz o raciocínio
a uma visão pessimista da vida,
à angústia.
Reflexão Filosófica
13. A interpretação da mulher em Camões
Camões idealiza a mulher,
transforma-a em objeto do seu
desejo espiritual.
Portanto, vista através das ideias
platônicas , Camões canta a
mulher com as características
divinas, ideais, perfeitas:
mulher ideal.
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está ligada.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assim como a alma minha se conforma,
está no pensamento como ideia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
14. Ana Júlia
Quem te vê passar assim por mim
Não sabe o que é sofrer.
Ter que ver você assim sempre tão linda.
Contemplar o sol do teu olhar,
perder você no ar
Na certeza de um amor
me achar um nada,
Pois sem ter teu carinho
eu me sinto sozinho
eu me afogo em solidão...
Oh Anna Juliaaaaa (2x)
Nunca acreditei na ilusão
de ter você pra mim.
Me atormenta a previsão
do nosso destino.
Eu passando o dia a te esperar,
você sem me notar.
Quando tudo tiver fim,
você vai estar com um cara,
Um alguém sem carinho.
Será sempre um espinho
dentro do meu coração.
Oh Anna Juliaaaaa (2x)
Sei que você já não quer
o meu amor,
Sei que você já não gosta
de mim,
Eu sei que eu não sou quem
você sempre sonhou,
Mas vou reconquistar o seu
amor todo pra mim.
Oh Anna Juliaaaaa (3x)
Oh Anna Julia, Julia, Julia
ouououou!
Los Hermanos
Observe que o ideal platônico poetizado por
Camões sobrevive até nossos dias
15. Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
16. Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
Este soneto tem sido frequentemente interpretado como um soneto
autobiográfico, dedicado a Dinamene, a namorada chinesa de Camões,
morta em um naufrágio.
17. Neste soneto Camões canta a
história bíblica (Gênesis 29,15) do
amor de Jacob por Raquel.
O que se evidencia neste soneto é a
capacidade de servidão do sujeito
que ama pelo prêmio de ser amado
pela mulher escolhida.
Junta-se a isso a negação do tempo
quando o amor é o ideal maior.
Ou seja: o amor vence o tempo e o
amor vence a servidão.
18. Monte Castelo
Ainda que eu falasse a língua do homens.
E falasse a língua do anjos,
sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem todos
dormem todos dormem.
Agora vejo em parte,
mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos, sem amor..
eu nada seria...
Adapt. "I Coríntios 13" e soneto de Luís de Camões
20. Os Lusíadas
A obra segue a seguinte estrutura:
dez cantos
1102 estrofes em oitavas (8 versos)
versos decassílabos
esquema de rima fixo: AB AB AB CC
publicado em 1572, em pleno
Renascimento na Europa
21. Canto IX.
1 Nesta frescura tal desembarcavam A
2 Já das naus os segundos Argonautas*, B
3 Onde pela floresta se deixavam A
4 Andar as belas Deusas, como incautas. B
5 Algumas doces cítaras tocavam, A
6 Algumas harpas e sonoras flautas, B
7 Outras com os arcos de ouro se fingiam C
8 Seguir os animais, que não seguiam. C
*Argonautas ( mitologia grega) são tripulantes da nau Argos.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
10 sílabas poéticas
em cada verso
22. O tema central de Os Lusíadas é a descoberta da rota marítima para a Índia por
Vasco da Gama. Com este pretexto, Camões descreve episódios da história de
Portugal, enaltecendo essas conquistas e a coragem do povo português.
23. Visão geral dos cantos/ episódios
Canto I Início da narrativa: a frota já está no Canal de Moçambique
Canto II
A frota escapa de uma armadilha em Mombaça . Depois são
recebidos em Melinde.
Cantos III e IV Vasco da Gama conta a história de Portugal ao rei de Melinde .
Canto V
O narrador conta ao rei de Melinde os perigos enfrentados na
viagem desde que saíram de Lisboa. Conta como ultrapassaram o
cabo das Tormentas.
Canto VI A frota continua viagem até Calecute.
Cantos VII, VIII Calecute
Canto IX Ilha dos Amores
Canto X
Vasco da Gama encontra a deusa Tétis, que lhe desvenda o
destino glorioso do povo português.
24. O Modelo
Clássico Camões se baseia nas epopeias clássicas
como modelo:
Ilíada e Odisseia / Eneida
(Homero) ( Virgílio)
As 5 divisões da epopeia clássica,
aparecem também em Os Lusíadas:
Proposição: Canto I
Invocação: Canto I
Dedicatória: Canto I
Narração: Canto I a Canto X
Epílogo: Canto X, estrofes 145 a 156
Afinal, é Classicismo
25. Os argonautas
O barco, meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração, o porto, não
Navegar é preciso, viver não é preciso (2x)
O barco, noite no céu tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco, da madrugada
O porto, nada
Navegar é preciso, viver não é preciso (2x)
O barco, o automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto silêncio
Navegar é preciso, viver não é preciso (2x)
Caetano Veloso
26. Os episódios célebres
Inês de
Castro
Concílio
dos deuses
Velho do
Restelo
Gigante
Adamastor
Máquina
do
Mundo
Ilha dos
Amores
―Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas
E navegar nos longos mares ousas (...)‖
Canto V
27. O Concílio dos Deuses
O concílio dos deuses é um episódio mitológico (simbólico). Camões associa deuses gregos ao
sucesso e aos perigos que viveram no mar. Júpiter, Vênus e Marte são favoráveis aos
portugueses, e Baco é contra e convence Netuno a impedir o sucesso dos navegadores.
Quando os Deuses no Olimpo luminoso,
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em concílio glorioso
Sobre as cousas futuras do Oriente.
(...)
Sustentava contra ele Vênus bela,
Afeiçoada à gente Lusitana,
Por quantas qualidades via nela
Da antiga tão amada sua Romana;
Nos fortes corações, na grande estrela,
Que mostraram na terra Tingitana,
E na língua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê que é a Latina.
(Canto I)
28. Inês de Castro
Inês de Castro foi uma nobre galega, amante e talvez esposa do futuro Pedro I de Portugal, tendo sido
executada às ordens do pai deste, Afonso IV. Este episódio é histórico, e símbolo da força de um
amor que venceu a morte.
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
(canto III)
29. Velho do Restelo
O "Velho do Restelo" um episódio simbólico, em que a personificação da prudência (o
velho) condena as expedições, acusando os navegadores de abandonarem seu país e
suas famílias em nome da fama, da vaidade e da cobiça.
—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
(Canto IV)
30. O Gigante Adamastor
O Gigante Adamastor é um episódio mitológico (simbólico) O Gigante representa
os perigos, as tempestades enfrentados no mar. Na viagem, o Gigante é a
personificação do Cabo das Tormentas, onde inúmeras embarcações naufragaram.
Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
"Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?
(...)
Eu sou aquele oculto e grande Cabo
A quem chamais vós outros Tormentório
(...)
(Canto V)
31. Ilha dos Amores
É outro episódio mitológico (simbólico) em que Camões coloca os portugueses em
uma espécie de paraíso, onde são recebidos por ninfas e muita festa. Camões afirma
que o prêmio pelas conquistas é a imortalidade do povo português.
De longe a Ilha viram, fresca e bela,
Que Vénus pelas ondas lha levava
(Bem como o vento leva branca vela)
Pera onde a forte armada se enxergava;
Que, por que não passassem, sem que nela
Tomassem porto, como desejava,
Pera onde as naus navegam a movia
A Acidália, que tudo, enfim, podia.
(...)
Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando
O prémio lá no fim, bem merecido,
Com fama grande e nome alto e subido.
(Canto IX)
32. A Máquina do Mundo
Tomando-o pela mão, o leva e guia
Pera o cume dum monte alto e divino,
No qual ua rica fábrica se erguia,
De cristal toda e de ouro puro e fino.
(Canto IX)
(...)
Uniforme, perfeito, em si sustido,
Qual, enfim, o Arquetipo que o criou.
Vendo o Gama este globo, comovido
De espanto e de desejo ali ficou.
Diz-lhe a Deusa: "O trasunto, reduzido
Em pequeno volume, aqui te dou
Do Mundo aos olhos teus, pera que vejas
Por onde vás e irás e o que desejas.
(Canto X)
Essa passagem está compreendida no episódio Ilha dos Amores, e nela Tétis profetiza outras
descobertas no futuro dos portugueses,
33. Quem descobriu o Brasil?
Vedes a grande terra que continua
Vai de Calisto ao seu contrário Pólo,
Que soberba a fará a luzente mina
Do metal que a cor tem do louro Apolo.
Castela, vossa amiga, será digna
De lançar-lhe o colar ao rudo colo.
Várias províncias tem de várias gentes,
Em ritos e costumes, diferentes.
Mas cá onde mais se alarga, ali tereis
Parte também, co pau vermelho nota;
De Santa Cruz o nome lhe poreis;
Descobri-la-á a primeira vossa frota.
Ao longo desta costa, que tereis,
Irá buscando a parte mais remota
O Magalhães, no feito, com verdade,
Português, porém não na lealdade.
(Canto X)
No canto X, Camões coloca nas palavras de Tétis a ―profecia‖ da descoberta do Brasil, o que comprova que o território já
era de conhecimento dos navegantes antes da chegada de Cabral, afinal, o poema trata da viagem de Vasco da Gama, que
se iniciara em 1497, e durou 2 anos, um mês e 21 dias (até retornar da partida rumo à Índia) .
34. O destino de Camões
Túmulo de Camões,
Mosteiro dos Jerónimos
―Dono de um estilo de vida
boêmio, foi frequentador da Corte,
viajou para o Oriente, esteve preso,
passou por um naufrágio, foi
processado e terminou em miséria.
Seus últimos anos de vida foram na
mais completa pobreza.
A bagagem literária deixada pelo
escritor é de inestimável valor.
Faleceu em Lisboa, Portugal, no
ano de 1580. Seus livros vendem
milhares de exemplares e foram
traduzidos para diversos idiomas.‖
(suapesquisa.com)