O documento discute o papel do maravilhoso na obra Os Lusíadas de Camões. Apresenta tópicos sobre como o maravilhoso transfigura os heróis portugueses, dá unidade à ação e reconhece a supremacia do povo português. Também discute como Camões mostra que os deuses são ficções e que os navegantes são heróis dignos de mitificação no final da obra.
Os Lusíadas e Mensagem - Questões para desenvolver
1. Questões para desenvolver
1. O papel que o maravilhoso pagão tem nesta obra.
Tópicos de resposta:
O maravilhoso n’Os Lusíadas:
- transfiguração mítica do povo e dos heróis portugueses;
- unidade de acção;
- enriquecimento simbólico da narrativa (Vénus, Baco…)
- reconhecimento da supremacia do povo português;
- elemento que marca, por contraste, a supremacia dos Portugueses face aos
povos anteriores;
- regra do género (epopeia);
- regra da época literária (Renascimento).
-…
No fim d’Os Lusíadas, Camões mostra-nos que os deuses são efabulações e
que os navegantes, que chegaram ao Oriente, são heróis que merecem a
mitificação.
2. A intenção do épico ao conceber a Ilha dos Amores.
Tópicos de resposta:
Ilha dos Amores n’Os Lusíadas:
- Exaltação dos navegadores como heróis, capazes da ascensão à divinização.
A Ilha como símbolo da:
- recompensa pela heroicidade, pelas conquistas;
- satisfação dos sentidos;
- posse do conhecimento;
- harmonia do universo.
3. “Os Lusíadas são ao mesmo tempo um poema e um museu. São
um monumento duplamente nacional, erigido pelo génio do Poeta para
glorificar a Pátria, com materiais buscados principalmente em obras
portuguesas.” José Maria Rodrigues, prefácio a Os Lusíadas, Biblioteca Nacional, 1921
Tópicos de resposta:
Esta obra-prima do ideal renascentista e humanista (construída para glorificar a
Pátria) constitui, de facto, um poema e um museu:
- como poema, pelo tom sublime, pela variedade dos recursos estético-
estilísticos, pela riqueza e expressividade da linguagem, pela nitidez, precisão,
ritmo e harmonia da frase, pelas formas lapidares, pela musicalidade do
verso…
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2. - como museu, porque gravou em caracteres de ouro os factos, as
personalidades, os acontecimentos da nossa História: a luta pela Fé, pela
Liberdade, pela Conquista, pela Descoberta de novos mundos.
Para descrever o povo português destacando as suas qualidades de soldado
(em luta pela Fé, pela Liberdade, pela Independência), de marinheiro e de
aventureiro destemido, de cavalheiro e de sentimental, Camões utilizou
“materiais buscados principalmente em obras portuguesas” (fontes históricas):
Fernão Lopes (dados relativos a D. Pedro, D. Fernando e D. João I), Gomes
Eanes de Zurara (feitos do Infante D. Henrique), Rui de Pina (reis da 1ª dinastia
até D. Pedro), João de Barros e Fernão Lopes de Castanheda (dados relativos
à viagem para a Índia), História Trágico-Marítima, Novelas de Cavalaria…
4. A Mensagem poderá ser vista como uma epopeia, porque parte de
um núcleo histórico, mas a sua formulação, sendo simbólica e mítica,
do relato histórico, não possuirá continuidade.
Tópicos de resposta:
Epopeia – os heróis da história:
- navegantes que percorrem os mares e se imortalizaram;
- antepassados que fundaram o Império;
- mães que foram “seio vigilante” e “ventre do Império;
- profetas da nova era.
Estrutura tripartida da Mensagem: Brasão (a heráldica com a história dos que
formaram o Império), Mar Português (a aventura marítima), O Encoberto (os
sinais proféticos).
O fim do ciclo em Alcácer Quibir – o fracasso e a sua força renovadora.
A história da pátria apresenta-se mítica com o nascimento, a vida e a morte;
mas o mito enquanto tal desprende-se do tempo histórico. (O mito apresenta-
se como uma operação ideológica que transforma um conjunto de factos reais
e possíveis num sistema “coerente e totalizados de representações”.)
5. A poesia da Mensagem é uma poesia épica sui generis, melhor
diríamos epo-lírica, não só pela forma fragmentária como pela atitude
introspectiva, de contemplação no espelho da alma e pelo tom menor
adequado. (Jacinto do Prado Coelho)
Tópicos de resposta:
Noção clara de poesia épica.
Noção clara de poesia epo-lírica.
Especificidade da Mensagem:
(hipotética comparação com Os Lusíadas)
Estruturas:
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3. - da obra;
- dos poemas.
História de Portugal:
- visão subjectiva;
- simbologia;
- sebastianismo;
- Quinto Império;
-…
Valorizar as referências explícitas a poemas.
6. O relato histórico presente em Os Lusíadas, de Camões, é substituído,
na Mensagem, de Fernando Pessoa, pela visão subjectiva e introspectiva
dos acontecimentos onde descobre valores míticos e simbólicos.
A Mensagem estrutura-se dentro da concepção simbólica do círculo
perfeito. É una numa organização tripartida. Brasão, Mar Português e O
Encoberto.
Tópicos de resposta:
- Camões, em Os Lusíadas, canta o império real, faz o relato da História de
Portugal, da expansão marítima e do alargamento da Fé.
- Fernando Pessoa, na Mensagem, procura anunciar um novo império
civilizacional. O “intenso sofrimento patriótico” leva-o a antever um império que
se encontra para além do material.
- A Mensagem é mítica e simbólica.
7. Evocando a sua experiência de leitura, indique um tema que considere
significativo na Mensagem. Fundamente a sua opinião, fazendo referência
a poemas lidos, num texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras.
Tópicos de resposta:
Algumas sugestões para desenvolvimento:
A. Estrutura tripartida da Mensagem:
• Nascimento;
• Vida;
• Morte/renascimento.
Primeira parte – Brasão:
- os construtores do Império.
Segunda parte – Mar Português:
- o sonho marítimo e a obra das descobertas.
Terceira parte – O Encoberto:
- a imagem do império moribundo;
- a fé de que a morte contenha em si o gérmen da ressurreição;
- a semente do império espiritual, moral e civilizacional na diáspora lusíada.
B. A esperança do Quinto Império
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4. A História da pátria apresenta-se mítica com o nascimento, a vida e a
morte; mas o mito enquanto tal desprende-se do tempo histórico. (O
mito apresenta-se como uma operação ideológica que transforma um
conjunto de factos reais e possíveis num sistema “coerente e totalizador
de representações”.)
C. O Ocultismo
- três espaços:
• O histórico;
• O mítico;;
• O místico;
- “a ordem espiritual no homem, no universo e em Deus”;
- poder, inteligência e amor na figura de D. Sebastião.
8. Fernando Pessoa fez a leitura de Os Lusíadas à luz do seu tempo.
Como Camões, glorifica os heróis que construíram o Império, mas
selecciona o que melhor exprime a alma lusa à beira-mágoa, esperando
que Portugal se cumpra.
Tópicos de resposta:
Fernando Pessoa, como Camões, procura realçar o heroísmo de todos
aqueles que construíram e alargaram o Império Português.
Camões enumera todos os reis de Portugal, enfatizando as façanhas
bélicas; Pessoa selecciona algumas figuras, nomeadamente as representadas
pelas quinas.
Fernando Pessoa recolhe na epopeia camoniana o mito do Adamastor,
as figuras simbólicas de D. Sebastião, O Desejado, do Quinto Império e das
Ilhas Afortunadas, alguns dos construtores do Império desde o lendário Viriato
a D. Afonso Henriques ou D. Dinis, D. Henrique e D. Fernando ou ainda dos
argonautas Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e Bartolomeu Dias.
N’ Os Lusíadas, há uma visão heróica, com destaque para os homens
que deram novos mundos ao mundo.
Em Mensagem, há o relembrar de um passado de heroísmo ao mesmo
tempo que traduz a ânsia de um futuro renascido para nova grandeza.
Em Mensagem, uma voz lírica exprime a visão e as emoções do “Eu”,
face ao acontecer histórico. Esta voz aparece marcada pelo sentimento de
mágoa, de perda e de saudade.
Se Camões canta o povo intrépido das descobertas, Pessoa propõe uma
interpretação de sonhos, símbolos e mitos, tentando despertar o povo para a
crença de que o Encoberto está a chegar.
In Preparação para o Exame Nacional de Português 12º ano, Porto Editora
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