O documento fornece recomendações sobre concordância verbal em português, abordando casos como sujeito simples e composto, nomes que só se usam no plural, orações com verbos como "dar" e "bater" indicando horas, e orações com verbos no índice de indeterminação do sujeito.
2. Recomendações
A regra geral da concordância verbal na
língua portuguesa é que o verbo ajuste-se ao
sujeito em pessoa e número.
Entretanto, há uma série de casos em que a
aplicação dessa regra geral é dificultada
pela posição dos termos sintáticos na frase.
Há, também algumas exceções à regra, que
ocorrem em casos específicos e limitados. Por
isso, convém observar as recomendações
que seguem.
3. Sujeito simples
Adiante, veremos os casos de
concordância verbal relacionados ao
sujeito simples, isto é, ao sujeito que possui
apenas um núcleo.
Exemplo:
Pedro arremessou a pedra. (sujeito
simples; núcleo: Pedro)
Pedro e João arremessaram pedras.
(sujeito composto; núcleos: Pedro e João)
4. Nomes que só se usam no
plural
Quando o sujeito da frase é um nome que só
se usa no plural, como nomes de localidade,
é importante verificar a presença do artigo.
Se não há artigo, o verbo fica no singular,
porque se trata de um plural aparente.
Se há artigo, o verbo vai para o número em
que está o artigo.
Assim:
Minas Gerais produz muito leite. / As Minas
Gerais produzem muito leite.
Férias faz bem. / As férias fazem bem.
5. O sujeito da oração é o
pronome relativo que, ou
quem
Quando o sujeito da oração é o pronome
relativo que, o verbo concorda com o
antecedente do pronome relativo, ou seja,
com a palavra a que o pronome relativo se
refere.
Exemplos:
Fui eu que falei. / Foste tu que falaste. / Foi o
menino que falou. / Fomos nós que falamos.
Eu conheço o homem de barbas brancas e
cabelo liso que vendeu o apartamento.
6. No caso de esse antecedente ser a expressão um
dos (ou uma das), o verbo pode ir para o singular
ou o plural. O primeiro caso destaca o sujeito do
grupo, enquanto o segundo destaca seu
pertencimento a esse grupo.
Exemplos:
A baronesa era uma das pessoas que mais
desconfiavam de nós.
Foi um dos poucos de seu tempo que
reconheceu a originalidade e importância da
literatura brasileira.
7. Quando o sujeito da oração é o
pronome relativo quem, o verbo
geralmente vai para o singular.
Exemplos:
Sou eu quem o diz.
Não foi ele quem fez isso.
8. Orações que usam verbos como dar,
bater e soar indicando horas, sem
indicação de quem realiza a ação
Quando há indicação de horas sem que
apareça quem realiza a ação de dar,
bater ou soar, o sujeito passa a ser o
número de horas indicado, com o qual o
verbo deverá concordar.
Exemplo:
Deu uma hora no relógio da torre. /
Deram duas horas no relógio da torre.
9. Orações que empregam
verbos com índice de
indeterminação do sujeito
Quando o verbo vier acompanhado do
índice de indeterminação do sujeito -se,
ficará obrigatoriamente no singular.
Exemplos:
Precisa-se de digitadores. / Acredita-se em
seres extraterrestre. / Trabalha-se em lugares
poluídos. / Vive-se bem aqui.
E como saber se o -se está sendo usando
como índice de indeterminação do sujeito?
Basta observar se está ligado a um verbo
transitivo indireto.
10. E o que é um verbo transitivo indireto?
É um verbo que exige uma preposição para
se associar a seu objeto.
Exemplo:
Eu preciso de dinheiro. (Para associar-se a
dinheiro, o verbo precisar exige a preposição
de. Portanto, é verbo transitivo indireto)
Eu quero dinheiro. (Para associar-se a
dinheiro, o verbo querer não exige
preposição. Portanto, é verbo transitivo
direto)
11. Orações que empregam
verbos com partícula
apassivadora
Nas orações em que aparecem verbos com partícula
apassivadora, o sujeito da frase aparece geralmente
posposto (colocado depois do verbo). É preciso estar
atento a isso para aplicar a concordância conforme a
regra geral.
Exemplos:
Vende-se uma casa de veraneio. (O sujeito da frase é uma
casa de veraneio.)
Vendem-se casas de veraneio. (O sujeito da frase é casas
de veraneio.)
Em caso de dificuldade para identificar se a partícula –se
funciona como apassivadora, observar: a) se o verbo é
transitivo direto; b) se é possível passar a oração para a
voz passiva sem prejuízo de sentido (ex.: casas de veraneio
são vendidas).
12. Orações que empregam os
verbos haver e fazer como
impessoais
O verbo haver (no sentido de existir, ou indicando
tempo transcorrido) e o verbo fazer (indicando
tempo transcorrido) são impessoais, isto é, não
possuem sujeito. Devem, portanto, ficar na
terceira pessoa do singular.
Exemplos:
Havia vários desejos em seu coração. / Fazia dez
anos que ele não vinha a São Paulo. / Deve haver
vários desejos em seu coração. / Vai fazer dez
anos que ele não vem a São Paulo.
Os dois últimos exemplos citados mostram que,
quando um verbo auxiliar se junta a um verbo
impessoal, ele também fica no singular.
13. Orações que envolvem
predicativos do sujeito No caso de orações construídas com sujeito e
predicativo do sujeito (do tipo A é B), a concordância
não se faz obrigatoriamente com o sujeito. Ela pode ser
realizada com o predicativo nos seguintes casos:
a) quando o sujeito for pronome interrogativo, como
quem ou que;
b) quando o verbo de ligação indicar tempo, data ou
distância;
c) quando o predicativo for constituído de pronome
pessoal ou nome de pessoa;
d) quando o sujeito for pronome demonstrativo isto, isso,
aquilo, o, ou pronome indefinido tudo;
e) quando forem utilizadas expressões como é muito, é
pouco ou é suficiente.
14. Quem são as três testemunhas? (caso a)
São doze horas. (caso b)
Os funcionários mais aplicados somos nós. (caso
c)
As minhas maiores aflições era Juliana. (caso c)
Isso são ossos duros de roer. (caso d)
Eram tudo falcatruas de profissional
incompetente. (caso d)
Cem metros é muito. (caso e)
Doze reais é pouco. (caso e)
15. Sujeito coletivo e expressões
partitivas
Se o sujeito for um coletivo, o verbo
permanece sempre no singular.
Exemplos:
O povo queria eleições diretas.
O exército se mobilizou.
Se o sujeito for um coletivo do singular
seguido de um complemento no plural, o
verbo pode ir para o singular ou para o
plural.
A série de notas fiscais está rasurada.
Um grupo de notas fiscais estão rasuradas.
16. Quando se trata de expressão partitiva
(parte de, uma porção de, o grosso de, o
resto de, metade de), o verbo pode ir
para o singular ou o plural.
Exemplos:
Estão surgindo uma porção de razões
contra mim.
A maioria das pessoas não entende o
que você diz.
17. Oração tem sujeito formado por
expressão que denota quantidade
aproximada
Quando o sujeito, indicador de quantidade
aproximada, é formado de um número plural
precedido das expressões cerca de, mais de,
menos de e similares, o verbo vai
normalmente para o plural.
Exemplos:
Cerca de vinte eram os companheiros de
classe.
Menos de duzentas pessoas estavam no
comício.
18. O sujeito da oração é a
expressão “mais de um” ou
“mais de dois”
Quando o sujeito da oração é formado pelas
expressões mais de um ou mais de dois, o verbo
concorda em número com o numeral dessas
expressões.
Exemplo:
Mais de um aluno faltou. / Mais de dois alunos
faltaram.
Em dois casos, isso não acontece.
Quando as expressões vierem repetidas, formando
sujeito composto, como em: Mais de um aluno e
mais de um professor fizeram greve.
Quando o verbo indicar reciprocidade, como em:
Mais de um atleta cumprimentaram-se.
19. Oração tem como sujeito pronome
interrogativo ou indefinido plural,
seguido de de nós, de vós, dentre nós
ou dentre vós
Quando o sujeito da oração é formado por expressão desse tipo,
e o pronome interrogativo ou indefinido está no singular, o verbo
permanece no singular, concordando com o pronome em pessoa
e número.
Exemplo:
Qual de nós vai ser a Rainha?
Nenhum de nós chegará aos cem anos.
Quando o sujeito da oração é formado por expressão desse tipo e
o pronome interrogativo ou indefinido está no plural, o verbo pode
ficar na terceira pessoa do plural ou concordar em pessoa com o
pronome.
Exemplos:
Quais de vós virão conosco?
Quais de vós vireis conosco?
Quantos de nós chegarão aos cem anos?
Quantos de nós chegaremos aos cem anos?
20. Sujeito composto
O sujeito é composto quando possui mais
de um núcleo.
Exemplo:
Luís, Maria e José foram à feira.
(núcleos: Luís, Maria e José)
21. Quando o sujeito é composto, o verbo deve
ir para o plural.
Entretanto, quando o sujeito composto vem
depois do verbo, a concordância poderá ser
feita com o núcleo mais próximo. A isso
denomina-se concordância atrativa.
Exemplos:
O mapa e o dicionário chegaram. (correto)
*O mapa e o dicionário chegou. (incorreto)
Chegaram o mapa e o dicionário. (correto)
Chegou o mapa e o dicionário (correto).
22. Apenas em três casos o sujeito composto
anteposto ao verbo admite concordância no
singular: a) quando é composto de dois núcleos
sinônimos ou quase sinônimos; b) quando é
composto de núcleos que são dispostos em
gradação; c) quando é composto por núcleos
que são verbos no infinitivo.
Exemplos:
O rancor e o ódio deixou-o transtornado. (caso a)
Uma indignação, uma raiva profunda, um ódio
sem reservas apossou-se dele. (caso b)
Trabalhar e estudar fazia dele um homem feliz.
(caso c)
23. Sujeito composto resumido
por pronome indefinido
Quando o sujeito composto vier resumido por
palavras como tudo, nada, ninguém etc., a
concordância do verbo deverá ser feita
obrigatoriamente com a palavra resumida.
Exemplos:
Alunos, mestre, diretores, ninguém falou.
A casa, os móveis, a roupa, tudo estava fora
do lugar.
Alunos, mestres, funcionários, todos foram ao
casamento.
24. Sujeito composto formado de
pessoas diferentes
Quando o sujeito composto é formado por pessoas
diferentes, a concordância segue a seguinte regra:
a) se a primeira pessoa está presente, o verbo vai
para a primeira pessoa do plural; b) se a primeira
pessoa não está presente, o verbo pode ir para a
segunda ou terceira pessoa. (Para o Português
Brasileiro, é mais recomendável uso da terceira
pessoa)
Exemplos:
Eu, tu e ele resolvemos o exercício. (caso a)
O professor, tu e eu saímos apressados. (caso a)
Tu e teu professor chegastes cedo. (caso b)
Tu e teu professor chegaram cedo. (caso b)
25. Sujeito com núcleos ligados
pela conjunção ou, ou nem
Quando os núcleos do sujeito aparecem ligados pela
conjunção ou, ou nem, há duas possibilidades: a) caso a
ideia envolvida seja a de exclusão, o verbo irá para o
singular; b) caso a ideia envolvida não seja a de exclusão,
o verbo irá para o plural.
Exemplos:
Roma ou Viena será a sede das próximas Olimpíadas.
(uma alternativa exclui a outra)
Nem João nem Raul será nomeado presidente. (uma
alternativa exclui a outra)
Roma ou Viena são excelentes locais para as próximas
Olimpíadas. (uma alternativa não exclui a outra)
Nem ar nem água corrente possuem suspiro igual. (uma
alternativa não exclui a outra)
26. Referências
CUNHA, C. Gramática da Língua Portuguesa.
6ª edição. Rio de Janeiro: FENAME, 1980.
MEDEIROS, J. B. Português Instrumental: para
cursos de contabilidade, economia e
administração. 5ª edição. São Paulo: Atlas,
2005.
NICOLA, J. TERRA, E. Português de olho no
mundo do trabalho: volume único. São Paulo:
Scipione, 2004.