Este documento apresenta o livro "Fundamentos da Medicina Tibetana" de acordo com o tratado médico tibetano rGyud-bzi. O livro descreve a dificuldade em estudar a medicina tibetana devido à falta de conhecimento da terminologia médica tibetana e a necessidade de orientação de médicos tibetanos. Também discute a importância do rGyud-bzi como a principal fonte para o estudo da medicina tibetana.
2. FUNDAMENTOS
DA
MEDICINA
TIBETANA
de acordo com a obra rGyud-bzi
Volume I
Elizabeth Finckh
Traduzido por:
Williams Ribeiro de Farias
e Dra. Yeda Ribeiro de Farias
Editora Chakpori
2
4. ÍNDICE
PREFÁCIO 5
AGRADECIMENTOS DA AUTORA 7
CAPÍTULO UM - O ESTUDO DA MEDICINA TIBETANA 8
CAPÍTULO DOIS - NOTAS HISTÓRICAS 17
CAPÍTULO TRÊS - OS AUTORES 25
CAPÍTULO QUATRO - TRABALHOS MÉDICOS 32
CAPÍTULO CINCO - CONTEÚDO DO RGYUD BZI 39
CAPÍTULO SEIS - O SISTEMA DA MEDICINA TIBETANA 53
CAPÍTULO SETE - ORGANISMO SAUDÁVEL E DOENTE 71
CAPÍTULO OITO - PESQUISA NA MEDICINA TIBETANA 103
TRANSLITERAÇÃO 109
TÍTULOS DOS TRABALHOS 110
BIBLIOGRAFIA 113
NOTAS 126
4
5. PREFÁCIO
Durante toda sua história o Ocidente tem mostrado
uma saudável curiosidade e um vivo interesse na
sabedoria e na filosofia do Oriente. O Tibete foi,
especialmente, objeto de intensa especulação e sua
posição extremamente isolada, aliada à sua política de
desencorajamento aos estrangeiros, seduziu imensamente
à imaginação e ao romantismo.
Mas foram também as pessoas no Ocidente,
estudantes, cientistas, escritores, historiadores e médicos
quem manifestaram uma qualidade admirável de
seriedade em suas tentativas de compreender o mundo
asiático. Estes esforços pioneiros para descobrir,
interpretar e avaliar o tesouro cultural do Tibete têm
crescido enormemente desde 1959, quando o país foi
invadido e ocupado pela China.
É no campo da medicina tibetana que os cientistas
Ocidentais têm realizado, recentemente, numerosos
projetos, envolvendo a tradução e a interpretação dos
textos e tratados médicos. Esta iniciativa deu origem à
maiores possibilidades de contato e comunicação do que o
existente anteriormente no Tibete. Foi causado também
por um desejo de conservar e preservar a medicina
tibetana como parte de uma rica herança cultural que está
sendo atualmente influenciada e destruída pela China.
A Dra. Finckh é talvez a primeira médica Ocidental a
traduzir e interpretar os principais textos da medicina
tibetana para uma língua Ocidental. Ela tem o mérito de
5
6. haver estudado na Tibetan Medical School em
Dharamsala sob a experiente orientação de médicos
tibetanos em 1962. Foi com o auxílio destes médicos que
os principais textos foram traduzidos e explicados.
A medicina tibetana hoje goza de um rápido e
crescente interesse e reputação entre os médicos
Ocidentais. A ciência da medicina tibetana e sua
praticabilidade está agora sendo reconhecida.
Congratulo a autora pelos seus esforços diligentes e
louváveis para propagar a medicina tibetana e desejo-lhe
todo sucesso e bem-aventurança em seu nobre
empreendimento.
DALAI LAMA
6 de Março de 1972
6
7. AGRADECIMENTOS DA AUTORA
À Sua Santidade Dalai Lama ao apoiar e promover
inicialmente meus esforços para estudar a medicina
tibetana. Minha primeira palavra de agradecimento deve,
portanto, ser dirigida à Sua Santidade.
A seguir desejo mencionar o Dr. Yeshe Donden,
Diretor da Escola de Medicina em Dharamsala e médico
pessoal do Dalai Lama. Sem a orientação deste experiente
médico a medicina tibetana jamais se tornaria inteligível
para mim. Sou imensamente agradecida ao Dr. Yeshe
Donden e também ao sábio tradutor Sr. Gyatsho Tshering.
Muitos estudiosos tibetanos auxiliaram-me na
preparação deste material: nos Himalaias, Chogyam
Trungpa, entre outros, e num estágio posterior, eruditos
tibetanos que estavam conferenciando em universidades
alemãs. Devo fazer uma menção especial ao Geshe
Gedun Lodroe, revisor no Seminário para História e
Cultura Indiana na Universidade de Hamburgo, que estava
sempre pronto a auxiliar-me com quaisquer explicações
que eu necessitasse. Agradeço a todos estes estudiosos;
de fato, a pesquisa com a medicina tibetana é possível
apenas com o auxílio dos Tibetologistas.
Finalmente, gostaria de agradecer aos professores
Ronald Eric Emmerick (de Hamburgo), Klaus Sagaster (de
Bonn) e Claus Vogel (Bonn), por lerem meu trabalho,
corrigindo-o e fazendo sugestões úteis.
7
8. O ESTUDO DA MEDICINA TIBETANA
Pouco da medicina tibetana é conhecido no Ocidente
até hoje. Na “terra proibida”, visitada por poucos
ocidentais, a medicina era ensinada em escolas de
medicina especiais e praticada principalmente por monges,
os quais precisavam submeter-se a um longo treinamento.
Estas escolas de medicina sempre foram fechadas aos
visitantes ocidentais, ainda que na virada do século um
grupo de estudiosos russos tenha desenvolvido um
trabalho sobre os tratados médicos tibetanos.
Sem a instrução oral transmitida por médicos
tibetanos competentes, esta área pouco familiar da
medicina permanece até nossos dias inacessível. Era
costume no Tibete que o estudante fosse iniciado
oralmente pelo professor, e ainda é verdade que sem tal
explicação um médico Ocidental simplesmente não
consegue assimilar a matéria.
O absoluto segredo que envolvia a medicina tibetana
no passado tem sido relaxado atualmente por fatores
políticos. Em 1959, o Dalai Lama foi forçado a deixar seu
país. Cerca de oito mil tibetanos juntaram-se a ele na
retirada, entre eles doze médicos com os quais podemos
agora fazer contato nos países em que estão asilados.
Quando o centro de operações do Dalai Lama foi
transferido para o norte dos Himalaias indiano (para
Dharamsala, um pequeno vilarejo no Estado de Himachal
8
9. Pradesh), uma escola de medicina foi ali estabelecida;
pela primeira vez foi possível encontrar médicos tibetanos,
e eu aproveitei a oportunidade.
Minha especialidade é clínica geral, treinada também
em neurologia, psiquiatria e medicina tropical. Em 1951,
por intermédio da homeopatia e naturopatia, cheguei à
acupuntura. Desde então tenho utilizado apenas este
método de tratamento em minha prática médica. À
princípio, eu possuía algumas dúvidas se estes métodos
de cura estrangeiros poderiam ser satisfatoriamente
aplicados em nosso clima e em europeus, mas a
experiência logo as dispersou: contanto que as indicações
sejam adequadamente avaliadas, a acupuntura pode ser
empregada em europeus.
Meu efetivo interesse no Tibete e particularmente em
sua iconografia remonta a vinte e cinco anos. Pareceu-me
portanto, natural estudar a arte de curar do Tibete, a qual
até o momento permanecia desconhecida. Em 1962
passei três meses nos Himalaias. No Nepal, aprendi que
os melhores médicos tibetanos estavam “na corte do Dalai
Lama”.
Através de uma carta de recomendação, obtive uma
audiência privada com Sua Santidade o Dalai Lama.
Surpreendentemente, foi-me dada permissão para estudar
na escola de medicina. Recebi total apoio do Dalai Lama,
que indicou seu médico pessoal, Dr. Yeshe Donden,
diretor da escola de medicina, para explicar-me tudo. Além
do mais, hábeis intérpretes foram colocados à minha
disposição. A pesquisa em si provou-se muito árdua,
porque era extremamente difícil encontrar a definição dos
termos. Ao mesmo tempo, tornou-se evidente que meu
conhecimento da língua tibetana era infelizmente
9
10. inadequado. Um relacionamento amigável foi logo
estabelecido entre mim e os extremamente cordiais
médicos tibetanos. Um constante intercâmbio de cartas
durante os cinco anos que se seguiram serviu para ampliar
e complementar o campo de trabalho.
Em 1967 fiz minha segunda viagem de estudos e
visitei não apenas a escola de medicina mas também os
vales dos Himalaias, onde pude observar o trabalho
itinerante dos médicos tibetanos e coletar importante
material para pesquisa. Durante audiência com Sua
Santidade o Dalai Lama, obtive maiores informações sobre
seu desejo de que todo material coletado fosse publicado
em um livro sobre medicina tibetana: finalmente, seria um
trabalho desenvolvido em colaboração com médicos
tibetanos e baseado em suas fontes.
A terminologia médica, sem a qual não podemos
investigar a medicina tibetana, foi nossa principal
preocupação. W. A Unkrig, estudioso nas línguas tibetana
e mongól, escreveu: “A medicina lamaísta como um todo
permanece um território inexplorado para nós; portanto, o
médico, o botânico e o filologista ao explorá-lo, enfrentam
tarefas específicas; nesta área é pouco provável que seja
breve a substituição destes especialistas por um único
estudioso com todas as habilidades necessárias”. i Unkrig
mostra a dificuldade na definição acurada dos termos, uma
vez que os dicionários em sua maioria não fornecem mais
do que definições gerais. Os termos em tibetano e em
mongól permanecem demasiadamente vagos para que
possamos estabelecer seus numerosos equivalentes.
Surgem ainda dificuldades especiais na definição das
substâncias medicinais, das quais a grande maioria é
proveniente do reino vegetal. A forma mais promissora
10
11. para definir os termos com precisão é a comparação de
textos em tibetano e em sânscrito. Nosso conhecimento da
medicina indiana antiga, na qual se fundamenta a
medicina lamaísta, é adequada, pelo menos como esboço
para que possamos arriscar alguns passos em direção à
medicina tibetana.
Porém, “tal tentativa ainda não foi feita” – escreveu
Unkrig em 1936. Entretanto, como será comprovado, C.
Vogel fez esta tentativa.
O primeiro passo, portanto, diz respeito à grande
dificuldade com a terminologia médica;
conseqüentemente, este árido tópico é o objeto do
presente estudo. Seria presunção tentar uma definição dos
conceitos sem o conselho e o auxílio de Tibetologistas. Por
outro lado, alguns dos conceitos foram esclarecidos
somente com explicações orais dos médicos tibetanos.
Ambos têm contribuído na resolução das definições.
A terminologia médica deve ser feita a partir das
fontes. Os médicos tibetanos possuem um trabalho
padronizado no qual o sistema e as regras de sua
medicina estão assentadas. Este livro, que é o coração da
medicina tibetana, é o ponto de partida deste estudo.
O livro a que nos referimos recebe o título: “bdud rtsi
snying po yan lag brgyad pa gsang ba man ngag gi rgyud”.
O título será traduzido posteriormente, e no momento será
utilizado o título abreviado “rGyud bzi”, o qual é
freqüentemente denominado “Tratado das Quatro Raízes”
ou “Os Quatro Tantras”, mas mais significantemente como
“Quatro Tratados”. Trabalhei sobre partes desse livro
juntamente com médicos tibetanos. Os textos não contém
quaisquer especulações filosóficas, e nada seria mais
errôneo do que promover tais reflexões. Apesar da
11
12. medicina tibetana estar intimamente relacionada com o
budismo, o caráter budista do livro mostra-se
principalmente quando o Buda da Medicina transmite seus
conhecimentos na forma de um Sutra, através do profeta
Rig pai ye she. Os números que aparecem no texto e no
sistema são indicações dos ensinamentos budistas ao
estudioso.
No passado, o estudioso podia supor com mais
precisão a origem e a autoria do livro rGyu bzi. O que
podemos afirmar com certeza é que o estudo da medicina
tibetana deve começar com este livro. Uma vez que todos
os Tibetologistas enfatizam este ponto, deixemos que
tenham aqui a palavra inicial.
C. Vogel nos oferece um importante volume. O
famoso médico indiano Vagbhata escreveu um dos mais
importantes tratados de medicina, o Astanga-
hrdayasamhita. Este livro tem um papel especial no estudo
da medicina tibetana. O Astangahrdayasamhita foi
traduzido para a língua tibetana pelo estudioso tibetano
Rin chen bzan po em colaboração com o sábio indiano
Jarandhara (entre 1013 e 1055) e posteriormente
incorporado ao Tan jur [bsTan „gyur = tradução tibetana da
literatura comentada Indo-Budista] C. Vogel começou a
comparar palavra por palavra da versão em sânscrito de
Vagbhata com a versão tibetana incorporada ao Tan jur e
traduziu ambas as versões para o inglês.ii Este trabalho é
de excepcional valor para o estudo da medicina tibetana.
C. Vogel escreve no prefácio: “Mesmo sendo este um
ponto de partida adequado para qualquer pesquisa na
área, há ainda um objetivo a alcançar: a tradução e a
edição completa do rGyud bzi, o livro padrão da medicina
tibetana, o qual supõe-se que tenha sido adaptado de um
12
13. atualmente desaparecido original em sânscrito, escrito
pelo médico do Kashmir Candranandana por volta do
século 8 D.C., e sobre o qual afirma-se que tenha sido
escrito por nenhum outro que não Kumarajivaka, o famoso
contemporâneo do Buda Sakyamuni. iii A condição
indispensável, entretanto, para uma adequada
compreensão do rGyud bzi é um íntimo conhecimento da
terminologia médica tibetana, a qual por sua vez pode ser
adquirido apenas através da minuciosa comparação de um
texto médico de alguma extensão existente em sânscrito
com a sua contraparte em tibetano. Nenhum trabalho
parece condizer melhor do que o Astangahrdayasamhita
de Vagbhata, a única descrição representativa da medicina
indiana incorporada no cânone lamaísta.”
Sobre o livro rGyud bzi, Unkrig escreve: iv “Pode-se
supor, na verdade, que o lamaísmo, com compreensível
reverência com que amplia sua literatura canônica, esta
tendo suas raízes na Índia, teria utilizado como compêndio
padrão o maior e mais compreensível dos trabalhos
contidos no Tan jur, ou seja, o Astangahrdayasamhita (no
volume 118), e seus comentários (nos volumes 119-122),
no treinamento de seus médicos e na prática. Realmente,
este não é o caso; a posição que o precedente devesse
por direito pertencer ao tratado de Vagbhata tem sido
ocupado por outro tratado e tem se mantido inalterada
desde então. Esta posição pertence ao rGyud bzi. No
entanto, este tratado, naturalmente suficiente, não foi
incorporado ao cânone da literatura lamaísta e tampouco
sabe-se sobre um hipotético original em sânscrito, o qual
presume-se que esteja perdido. O fato de que na estrutura,
pensamento e conteúdo ele seja inteiramente indiano de
modo algum contradiz a suposição de que o rGyud bzi
13
14. tenha sido escrito originalmente em tibetano. É fato
marcante que de todos os livros apenas o rGyud bzi não
foi incluído no Tan jur, mostrando que lhe asseguram uma
posição de autoridade prática e teórica no corpo da
literatura médica tibetana e forma a base toda a literatura
restante de relevância, se de fato eles remontam à um
original em sânscrito e devem ser, portanto, de idade
considerável. Além disso, as várias edições em tibetano e
em mongól não possuem o título em sânscrito transliterado
o que é habitual que aconteça. Eu me deparei com um
título em sânscrito apenas uma única vez em uma edição
tibetana... Concluir deste exemplov que o trabalho possui
um original em sânscrito, penso eu, é temerário. Que os
Lamas atribuem uma idade considerável ao rGyud bzi não
altera de forma alguma o fato de que, apesar de baseada
praticamente em sua posição de autoridade face à
literatura médica no Tan jur, eles não o incluíram neste
último. Onde um devoto e uma tradição puramente
orientada para a religião traçam a estrutura de idéias no
rGyud bzi para o Buda em si, um outro denomina
honestamente o autor como Kumarajivaka (em tibetano:
„Ts‟o byed gzon nu), o famoso médico e contemporâneo
do Buda Sakyamuni.”
Neste estudo no qual pretende-se auxiliar em direção
à compreensão da medicina tibetana, dois capítulos do
valioso livro rGyud bzi. Que consiste de 15 capítulos,
foram analisados, denominados capítulo 3 e capítulo 6 do
Livro Um. A partir destes dois capítulos o sistema de
medicina e as primeiras duas seções da ciência médica, o
estudo dos organismos saudáveis e doentes, com suas
terminologias, puderam ser expostos. O caráter específico
da medicina tibetana não se tornará inteiramente
14
15. transparente mesmo após a tradução completa do livro
rGyud bzi. Ele se tornaria mais claro se houvesse mais
descrições, ou seja, as denominadas influências que
tiveram um efeito sobre a medicina tibetana: a) influências
pré-budistas; b) budismo tibetano, c) medicina indiana
antiga, d) medicina chinesa antiga.
Concluindo a exposição sobre o estudo da medicina
tibetana com algumas anotações sobre aplicabilidade, nós
não devemos abandonar a intenção real de nosso
trabalho. A medicina tibetana não apresenta apenas um
elevado interesse teórico, mas, assim como a acupuntura,
é aplicável no Ocidente.
Como médica, eu encontro naturalmente mais
facilidade para lidar com métodos de diagnósticos e
terapêutica do que com a difícil terminologia médica,
especialmente quanto ao material que está disponível para
aplicação prática: pranchas de anatomia e tais pranchas
são importantes para o diagnóstico e a terapia. Os
tibetanos possuem muitos métodos típicos de tratamento
que seria mais simples relacionar as características de sua
medicina pelas descrições do método do que traçá-los a
partir da terminologia médica.
A tarefa mais difícil será o tratamento a partir das
famosas preparações herbáceas tibetanas, uma vez que a
definição exata das ervas é extremamente complicada. Ao
lado disso o uso de preparações herbáceas tibetanas
absolutamente puras será, por diversas razões, muito
difícil. É por isso que métodos tibetanos típicos tais como a
“sangria” e o moxabustão (cauterização) são tão valiosos,
pois nos tornam independentes de medicamentos. Ambos
os métodos são conhecidos por nós através da medicina
chinesa, mas os métodos de aplicação acima citados têm
15
16. sido magistralmente desenvolvido pelos tibetanos. Além
disso, o moxabustão em certos pontos influencia
favoravelmente o processo de meditação. Por experiência
própria, podemos estabelecer que para certas doenças o
método tibetano é superior aos demais. No momento,
devemos resistir à tentação de comentar as aplicações da
medicina tibetana para fazê-lo posteriormente. Os métodos
de cura dos tibetanos serão descritos inteiramente em um
trabalho adicional. Será fornecida, entre outras coisas,
uma descrição detalhada destes procedimentos
terapêuticos, os quais influenciam todas as meditações
importantes.
16
17. NOTAS HISTÓRICAS
Na época do legendário rei gNya‟ khri btsan po
conta-se que dois médicos notáveis fizeram uma viagem
da Índia para o Tibete. Lá permaneceram por dez anos e
introduziram a medicina indiana aos tibetanos. Um desses
médicos casou-se com uma garota tibetana e seu filho
tornou-se um famoso médico que foi encarregado de
ensinar e disseminar a arte médica. A lenda conta como a
hierarquia deste primeiro médico tibetano foi preservada
em linha direta até o século 18. Os tibetanos pretendiam
mostrar a continuidade de sua tradição médica. vi Em um
período mais remoto, o conhecimento da medicina era
transmitido oralmente pelo professor para o aluno; os
tibetanos aprenderam a arte de escrever posteriormente.
Sob o reinado do rei Srong btsan sgam po, de 620 a 640
D.C., o Tibete ganhou seu lugar na história como um
estado independente. O budismo começou a se difundir e
os tibetanos criaram sua escrita: o estudioso Thon mi
Sambhota, enviado pelo rei ao Kashmir, desenvolveu a
escrita tibetana a partir da indiana.
O período seguinte, no qual os reis Khri srong lde
btsan (reinou de 755 a 797) e Khri gtsug lde btsan (reinou
de 815 a 838) tiveram um papel especial, foi marcado pelo
relacionamento tibetano com a Índia e a China.
Posteriormente, vários fatores levaram à divergência:
o reinado começou a desintegrar-se culturalmente e
17
18. religiosamente, o budismo sofreu um declínio e o último rei
desta dinastia, Glang dar ma, foi assassinado em 842. O
reinado do Tibete foi dividido em numerosos principados.
Após a desintegração política e o declínio do
budismo seguiu-se a segunda propagação do budismo,
marcado sobretudo com o convite tibetano ao grande
mestre indiano Atisha (982-1054). Professores vieram da
Índia e do Nepal, e peregrinos tibetanos viajaram para os
países vizinhos; desenvolveu-se uma vigorosa atividade
de tradução, incrementando a literatura médica também.
Nesta época viveu no Tibete o grande mestre da
meditação Mi la res pa (1040-1123), um poeta de elevada
reputação. Seu trabalho “Hundred-Thousand Songs” deve
ser mencionado com relação à medicina: nestes versos
surge uma clássica descrição da causa e do tratamento de
uma doença de acordo com as idéias da religião Bon. vii
A medicina obviamente atingiu seu auge no apogeu
máximo do poder político. Sob o reinado de Khri srong lde
btsan, afirmamos, houve três fatos de importância histórica
para a medicina:
1. O debate de bSam yas (794)viii
Sob a orientação do mais famoso médico da época, gYu
thog pa Yon tan mgon po rnying ma, ocorreu um grande
debate, no qual compareceram delegações de médicos
dos seguintes países: Índia, China, Pérsia, Nepal,
Sinkiang, Kashmir e Afeganistão. No debate que durou
muitos dias os delegados deveriam definir a teoria e a
prática de seus sistemas médicos. O tema da discussão
era comparar o conteúdo e a teoria da medicina tibetana
com os sistemas de outros países. De acordo com a
história oral, o médico tibetano foi proclamado vitorioso
no final do debate.
18
19. 2. Os “Quatro Votos”ix
O rei Khri srong lde btsan decretou os “Quatro Votos” que
deveriam ser colocados em prática.
3. As “Treze Leis”x
O rei Khri srong lde btsan decretou as “Treze Leis” que
foram colocadas em prática.
Como mencionado, é particularmente importante
para a história médica o debate de bSam yas: durante a
idade de ouro da arte da cura houve um intenso
intercâmbio na área da medicina. Os sistemas médicos
dos países mencionados tiveram influência sobre a
medicina tibetana além de deixarem sua marca na
literatura daquela época. Certamente o livro rGyud bzi já
formara o ponto focal da medicina. Os estudos médicos
daquela época foram baseados neste trabalho padrão. E
mais, a tradição foi assimilada de modo que o
ensinamento pelo livro não era suficiente e apenas a
instrução oral transmitida pelo professor poderia tornar a
medicina inteligível. Mesmo a rotina médica, conservada
por todos os médicos, era transmitida ao estudante.
O monastério de Sa skya foi fundado em 1073,
e seus Grandes Lamas logo governaram o país. O sábio
Sa skya (1182-1251) já reinava como sacerdote-rei. Neste
ínterim, sob o comando de Gengis Khan, os mongóis
tornaram-se bastante poderosos, subjugando não só a
China, mas também o Tibete: em 1207 a soberania da
Mongólia havia sido reconhecida. „Phags pa, sobrinho do
sábio Sa skya, deu início à nomeação dos Grandes Lamas
de Sa skya como vice-regentes no Tibete. Após os
mongóis terem se convertido ao budismo, a medicina
tibetana ganhou cada vez mais espaço na Mongólia:
19
20. Lamas-médicos do Tibete eram convocados para serem
médicos da corte dos príncipes mongóis. A medicina tinha
um poder político real, pois “a primeira conversão dos
mongóis ao budismo não foi profunda, sendo
fundamentada, ao lado da necessidade de estabelecer
uma doutrinação e aconselhamento político, na influência
da medicina tibetana praticada por monges tibetanos”. xi
Nesta época, durante a qual os tibetanos levaram
seu conhecimento para os mongóis, a medicina deve ter
adquirido algumas características extremamente não
usuais. Ao mesmo tempo, a medicina tibetana foi por sua
vez influenciada pelas “Quatro grandes escolas de
medicina do período mongól”, xii que foram de alguma
importância na China durante os períodos Chin e Yüan.
Na diversidade da história do Tibete, a qual não
podemos acompanhar mais profundamente, o grande
reformador Tson kha pa (1357-1419) representou um
papel importante. Foi introduzida novamente uma severa
disciplina monástica, que fez do celibato uma regra. Tson
kha pa fundou a seita dos Ge lugs pa. Após a fundação
dos monastérios dGa‟ ldan (1409), „Bras spuns (1416) e
Se ra (1419), todos localizados nos arredores da capital
Lhasa, foram estabelecidos na mesma área as famosas
escolas de medicina Chak po ri xiii e sMan rtsi khanxiv, os
baluartes da medicina.
Sob o governo do quinto Dalai Lama Ngag bdang blo
rgya mtsho (1617-1682), o desenvolvimento do Tibete
como uma teocracia atingiu seu auge. Após a morte do
quinto Dalai Lama, Sans rgyas rgya mcho assumiu a
regência. Este regente, que morreu em 1705, foi um
estudioso extremamente versátil, interessava-se também
pela medicina e escreveu muitos trabalhos médicos que
20
21. estão entre os mais importantes na área. Os reinados que
se seguiram foram marcados pelas grandes inquietações
políticas e por desavenças com o sempre crescente poder
dos chineses. Sob o reinado do décimo-terceiro Dalai
Lama, Nag dban thub ldan rgya mcho (1876-1933), o
Tibete envolveu-se em mais conflitos, mas tornou-se
independente politicamente em 1912, através da abolição
da monarquia chinesa. Desta época em diante o Tibete
isolou-se dos países vizinhos. O acesso às escolas de
medicina tornou-se impossível aos visitantes estrangeiros.
O décimo-quarto Dalai Lama, Ngag dbang blo bzang
bstan „dzin rgya mtsho, nascido em 1935, precisou fugir do
Tibete em 1949, após nove anos de ocupação chinesa.
Cerca de 80.000 tibetanos conseguiram escapar. Eles
encontraram asilo na Índia, no Nepal, Butão, Sikkim,
Suécia e Inglaterra. Em 1960 o Dalai Lama transferiu a
sede de seu governo no exílio para Dharamsala. Nos
primeiros anos que se seguiram à fuga, a saúde dos
tibetanos estava extremamente deteriorada: aqueles que
vieram pelas montanhas foram acometidos pela
tuberculose, e as crianças, particularmente, pelas doenças
infecciosas. Este é também um aspecto da história
médica, embora um tanto triste: a falta de resistência em
um povo das montanhas às doenças da infância,
obviamente desconhecidas para eles em tal proporção, e
sua reação a estas e outras doenças próprias de áreas
tropicais às quais eles não estavam habituados.
O Dalai Lama ordenou que uma solução fosse
encontrada; e então em 1961 foi fundada a “Tibetan
Medical School” introduzindo a Residência médica.
Deveriam ser realizadas as seguintes tarefas:
21
22. 1. Os refugiados tibetanos deveriam receber tratamento
médico.xv
2. A tradição da medicina tibetana deveria ser preservada.
3. Os poucos médicos tibetanos que haviam fugido
deveriam ser reunidos para ensinarem estudantes e
assim assegurar uma futura geração de médicos.
4. Os trabalhos médicos retirados do Tibete pelos médicos
quando fugiram deveriam ser coletados e reunidos em
uma biblioteca e relacionados.
O doutor Yeshe Donden, o mais talentoso dos
médicos, foi encarregado pelo Dalai Lama para a tarefa de
dirigir a escola de medicina. Apesar da falta de meios
adequados ele começou esta difícil tarefa juntamente com
outros médicos tibetanos. Posteriormente ele foi designado
médico pessoal do Dalai Lama.
Após a fuga dos tibetanos o acesso à medicina
tibetana tornou-se possível. O Dalai Lama reconheceu que
o momento de divulgar e transmitir o conhecimento da
medicina tibetana havia chegado, uma vez que
permanecera até então cuidadosamente guardado.
A atual situação da medicina tibetana.
Os dados a este respeito foram baseados nas
seguintes fontes:
1. Artigo do “Tibetan Bulletin”, dezembro 1968 (Vol. 4, nº
11 e 12, págs. 15-17), editor: Gyatso Tsering.
2. Duas visitas feitas pela autora: 1962 e 1967.
a) A Clínica
A primeira clínica era muito pequena e primitiva, sendo
então ampliada. Em 10 de outubro de 1968 os prédios
ampliados foram entregues pelo Dalai Lama para o
22
23. funcionamento da clínica. Aqui, quatro a cinco médicos
tratam cem a cento e cinqüenta pacientes diariamente.
Os médicos tibetanos possuem boa reputação na Índia;
não apenas tibetanos, mas também indianos de todas
as partes do país chegam para receber tratamento.
b) A Farmácia
Foi primeiramente instalada em uma pequena cabana, e
agora está instalada na clínica. Muitas das plantas
necessárias para a fabricação dos medicamentos são
encontradas apenas nos locais mais altos dos
Himalaias: as plantas são coletadas pelos próprios
médicos em exaustivas expedições que duram
eventualmente muitas semanas.
c) O Hospital
Assim como a clínica há também um hospital com doze
leitos que estão sempre ocupados, uma vez que os
tibetanos são pouco inclinados a se internarem em
hospitais indianos.
d) O Treinamento
De 2 de janeiro de 1969 em diante os estudantes, todos
necessariamente com educação secundária completa,
passaram a receber o seguinte treinamento:
Um período de estudos de nove anos complementado por
dois anos de treinamento prático. O fundamento do
estudo é – assim como anteriormente – o livro rGyud-
bzi.
Atualmente, vinte estudantes estão sendo treinados, os
quais passarão por um exame oral e escrito, e
23
24. naturalmente devem dar demonstração prática de seus
conhecimentos.
e) A Biblioteca de Obras e Arquivos Tibetanos
Após os livros tibetanos serem reunidos por algum tempo
no Sikkim (Gangtok), no Namgyal Institute of Tibetology,
o mesmo instituto foi fundado em Dharamsala em
novembro de 1971, sob ordens do Dalai Lama, para
exercer várias funções. Na Biblioteca existem agora
20.000 livros e manuscritos tibetanos, dos quais 3.000
são particularmente valiosos. A seção sobre medicina
contém uma coleção de cinqüenta volumes; Yeshe
Donden possui oitenta trabalhos sobre medicina. A
Biblioteca de Obras e Arquivos Tibetanos está sob a
direção de meu primeiro intérprete, Gyatso Tsering. A
utilização das obras tibetanas, portanto, está muito mais
fácil do que na época de minha visita quando não existia
a Biblioteca.
24
25. OS AUTORES
A lista de autores (médicos, tradutores, estudiosos)
fornecida pelos médicos tibetanos contém trinta e dois
nomes. A escolha foi difícil e muitos médicos famosos não
foram mencionados. Os autores mais importantes e
aquelas personalidades que foram de grande significado
para a medicina tibetana foram classificados em ordem
cronológica. Segue-se um relato da carreira de Yeshe
Donden, não apenas porque foi médico pessoal do Dalai
Lama, Diretor do Tibetan Medical School e professor de
outros autores, mas também para apresentar uma breve
descrição do treinamento de um médico tibetano,
mostrando que o rGyud bzi foi a base do estudo da
medicina.
1) Vairocanaraksita
Afirma-se que este famoso tradutor, que viveu na época do
rei Khri srong lde btsan, traduziu o rGyud bzi para a
língua tibetana. (Livro 1)
2) Candranandana (Tib.: Zla ba la dga‟ ba)
Veio do Kashmir. Foi um médico e afirma-se que auxiliou
Vairocanaraksita na tradução do rGyud bzi. C.Vogel
xvi
chama nossa atenção ao fato de que o nome foi
incorretamente descrito na literatura como
“Candrananda”: Huth assim como W.A.Unkrig
25
26. (Introdução a “Die Tibetische Medizinphilosophie” de
Korvin-Krasinski) não forneceram a correta transcrição
do nome, apesar de Cordier já ter corrigido este erro há
muito tempo. C. Vogel mostra posteriormente xvii que não
há certeza de que este médico seja Candrabhinandana
(Tib.: Zla ba [la] mngos dga‟) ou um outro
Candranandana que afirma-se tenha vivido no século
11. (Livro 2)
3) gYu thog pa Yon tan mgon po rnying ma (o mais
velho)
Também viveu na época do rei Khri srong lde btsan e pode
certamente ser considerado o mais famoso médico
daquela época. Ele estudou na Índia durante três
estadias neste país e escreveu muitos trabalhos sobre
medicina. (Livro 3)
4) gYu thog pa Yon tam mgon po rnying ma (o mais
jovem)
Viveu no século 11. Este médico também visitou a Índia e
a Pérsia. Afirma-se que tenha escrito vinte tratados
sobre medicina e que tenha fundado uma escola. Ele
elaborou uma revisão do rGyud bzi e é geralmente
conhecido por ser o autor da atual versão do rGyud bzi.
W.A.Unkrig escrevexviii que o ensinamento sobre o
diagnóstico pelo pulso e a palpação é uma inovação
atribuída a este médico. Yeshe Donden afirma que livros
sobre o exame pelo pulso já haviam sido escritos por
gYu thog pa Yon tan mgon po, o mais velho. Estas
incertezas devem ser eliminadas, pois é de crucial
importância conhecer a data exata da introdução do
26
27. exame pelo pulso no Tibete, que remonta à influência
chinesa. (Livro 4)
5) Rin chen bzan po (958-1055)
Este estudioso, juntamente com o sábio indiano
Jarandhara, traduziu, entre outros o trabalho do médico
indiano Vagbhata, o “Astanga-hrdayasamhita”, para a
língua tibetana. Na verdade este trabalho foi realizado
em uma data relativamente posterior, fixada entre os
anos de 1013 e 1055xix. Esta obra foi incorporada ao
bsTan „gyur.
6) Bu ston (1290-1364)
Organizou toda a literatura dogmática e litúrgica em uma
seqüência lógica e deu ao bKa‟ „gyur [tradução tibetana
dos ensinamentos orais de Buda] e ao bsTan „gyur
[tradução tibetana da literatura comentada indo-budista]
a sua forma atual. Bu ston foi um dos maiores
historiadores tibetanos e escreveu muitos livros. Um
breve resumo dos escritos médicos contidos no bsTan
„gyur pode ser encontrado em seu livro “History of
Buddhism” (Chos „byung).xx
7) Chos kyi ‘od zer
No início do século 14 este Lama erudito traduziu o rGyud
bzi para a língua mongól. Quanto a este aspecto W. A.
Unkrig observa que a tradução do rGyud bzi para esta
língua ocorreu na época em que os mongóis foram
introduzidos ao Lamaísmo. O fato desta tradução ser
desenvolvida e completada logo no início prova que o
rGyud bzi era altamente considerado.
8) Blo bzan ‘prin las
27
28. Logo após a invenção da escrita da Mongólia Ocidental –
1648 – o rGyud bzi foi traduzido por este estudioso (W.
A. Unkrig).
9) Blo gros rgyal po
Assim como o autor citado a seguir, viveu na Mongólia no
século 17. (Livro 5)
10)Blo bzan chos grags
Escreveu dois livros valiosos e freqüentemente
consultados. (Livros 6 e 7)
11)Ja rud dge slon Chos kyi rgya mtsho
Traduziu a obra Glang thabs da língua tibetana para a
mongól.xxi
12)Güüsi Mi ‘gyur chos rje
Traduziu o rGyud bzi da língua tibetana para a mongól. xxii
13)Sangs rgyas rgya mtsho (1620-1705)
Autor de importantes trabalhos médicos; ambos os livros
mencionados são reconhecidos como os comentários
mais importantes do rGyud bzi. (Livros 8 e 9a -d)
14)bsTan ‘jin phun chogs
Viveu por volta de 1800 e escreveu diversos trabalhos
médicos altamente respeitados que são também
particularmente valiosos pois foram impressos no
Monastério de sDe dge (Tibete Oriental), (os blocos de
impressão deste monastério são considerados por
serem fidedignos). (Livros 10 e 11)
15)‘Jam dpal rdo rje
28
29. Foi um médico mongól que exerceu a medicina no início
do século 19. Não se sabe se este autor foi muito
conhecido em sua época, mas como o Professor Lokesh
Chandra reproduziu um trabalho do autor (ver no
Apêndice “Títulos de Trabalhos”), um livro contendo
valiosas explicações está à nossa disposição. (Livro 12)
16)mKhyen rab nor bu (1882-1962)
Foi professor de Yeshe Donden. Este famoso médico
fundou a Escola de Medicina sMan rtsis khan e é autor
de diversos livros. mKhyen rab nor bu tinha ótima
reputação, um grande número de estudantes e parece
ter sido bem conhecido. (Livros 13, 14 e 15)
17)Yeshe Donden (Tib.: Ye shes don ldan)
Nasceu em 1927, no Tibete Central em uma pequena vila
próximo ao Lago Yar „brog. Desde a infância esteve em
contato com a medicina através de seu avó, o qual
gozava de ótima reputação como médico. Com 6 anos
foi aceito como aluno no Monastério de „Bras spuns.
Durante os primeiros sete anos foram estudados
principalmente textos sagrados budistas. Quando Yeshe
Donden tinha treze anos, foi aceito na famosa escola de
medicina sMan rtsis khan.
Permaneceu em sMan rtsis khan até a idade de vinte
e três anos e estudou sob a experiência e orientação de
professores como mKhyen rab nor bu e mKhyen rab „od
zer, posicionados entre os mais famosos médicos de seu
tempo.
Após o término dos exames na Escola de Medicina
Central, Yeshe Donden retornou à sua cidade natal e
colocou em prática o conhecimento médico adquirido.
29
30. Posteriormente, tornou-se médico itinerante, ou seja, ele
praticava medicina em todas as regiões do Tibete, estava
freqüentemente em viagem e desta maneira veio a tomar
conhecimento de todas as doenças que ocorriam naquele
vasto país.
De fato, é comum que muitos médicos tibetanos
passem grande parte de seu tempo viajando; há também
médicos que nunca tiveram residência fixa.
Durante os anos em que esteve viajando, Yeshe
Donden nunca rompeu suas ligações com seus
professores. Ele visitava a capital Lhasa com freqüência
para continuar sua educação e trocar experiências com
seus colegas; sob a permanente orientação de seus
professores seu conhecimento foi continuamente
expandido.
As Escolas de Medicina sMan rtsis khan e Chak po
ri, ambas localizadas nos arredores da capital Lhasa,
sempre foram consideradas os mais ilustres
estabelecimentos de ensino médico e, apesar de existirem
boas escolas de medicina em outras regiões do país, por
exemplo, em Amdo, sKu „bum e sDe dge, era objetivo de
todos os estudantes de medicina freqüentar uma ou outra
das duas escolas mais famosas.
Estudavam em sMan rtsis khan de quatrocentos a
quinhentos estudantes, assessorados por cerca de trinta
professores.
A base do estudo era o livro rGyud bzi, cujo roteiro
era o seguinte:
Primeiro ano Parte 1
Segundo e terceiro anos Parte 2
30
31. Quarto, quinto e sexto anos Parte 3
Sétimo, oitavo e nono anos Parte 4
Além deste livro era exigido que os comentários
escritos pelos mais eminentes médicos tibetanos fossem
estudados e memorizados; estes comentários eram
geralmente baseados no próprio rGyud bzi.
Antes e durante o período de estudos, os estudantes
precisam aprender filosofia, astrologia e budismo. Os
médicos tibetanos – assim como outros estudiosos
tibetanos – conservam os livros mais importantes “em suas
cabeças”.
O trabalho prático era acrescentado nos últimos
anos. Um estudante de medicina, portanto, tinha que
estudar pelo menos dez a doze anos. Os tibetanos não
possuem o conceito de especialização como é costume no
Ocidente.
A partir deste resumo da carreira de Yeshe Donden,
é possível observar que este médico recebeu uma boa
educação científica. Ele escreveu também alguns
trabalhos médicos.
31
32. TRABALHOS MÉDICOS
O Tibete é a “Terra dos Livros”. Os médicos
tibetanos possuem centenas de trabalhos médicos, mas
até hoje não foi feita qualquer classificação sistemática dos
mesmos no Ocidente. Nós também enfrentamos grandes
dificuldades em nosso trabalho por causa de muitos
aspectos pelos quais os livros podem ser descritos, por
exemplo, classificação quanto à qualidade, quanto aos
autores; classificação quanto ao grau de importância do
trabalho médico; classificação cronológica.
Minha segunda estadia nos Himalaias (1967), acima
de tudo, destinou-se a trazer esclarecimentos sobre este
ponto também. Ao nos defrontar com esta difícil escolha,
chegamos à seguinte conclusão: quando saíram de seu
país, os tibetanos puderam levar consigo apenas os livros
mais importantes. Uma inspeção na biblioteca de Yeshe
Donden em Dharamsala e um interrogatório detalhado
sobre este assunto em especial confirmou nossa suspeita:
a biblioteca continha, de fato, os mais valiosos tesouros e
havia, portanto, uma certa garantia de que os livros mais
importantes seriam encontrados entre eles. Os títulos
foram fotografados, os livros examinados e o tamanho dos
trabalhos anotados. Visitei as bibliotecas pessoais dos
médicos itinerantes nos muitos vales dos Himalaias, mas
não havia nada tão variado. Todos os médicos possuíam o
32
33. rGyud bzi e afirmaram ser este o mais importante trabalho
médico.
O catálogo fornecido por Yeshe Donden continha 71
títulos. Aqueles considerados os mais importantes pelos
médicos tibetanos estão descritos aqui. Estão compilados
em ordem cronológica. A tradução dos títulos fornecida
não nos dá indício do conteúdo. O resumo do conteúdo é
mais informativo que a tradução dos títulos: nestes
sumários estão explicações dadas por Yeshe Donden.
As livros são descritos como segue: título, conteúdo,
autor. Há informações adicionais para a maioria dos livros
mais importantes: título abreviado, tradução do título
abreviado, extensão.
Livro 1
bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa gsang ba man
ngag gi rgyud
-Tradução do título:xxiii Tratado Secreto das Instruções
sobre os Oito Ramos da Essência da Imortalidade
-Título abreviado: rGyud bzi
-Tradução do título abreviado: Quatro Tratados
-Conteúdo: Ver Capítulo Cinco
-Extensão: 396 fólios (frente e verso)
Os tibetanos atribuem o livro rGyud bzi ao Buda, assim
como alguns outros trabalhos, por exemplo, “gYu thog
snying thig byin rlabs bla sgrub las kha byang”. Estes
trabalhos, que datam de época muito remota, e incluem
ainda “klu sgrub kyi sbyor ba brgyad pa‟i mchan”, atribuído
a Nagarjuna, podem ser encontrados em Dharamsala.
Livro 2
rtsa dpyad rig pa rab gsal sde tshan lnga pa lag len
pod chung
33
34. -Conteúdo: Descrição exata do diagnóstico pelo pulso
-Autor: gYu thogg pa yon tan mgon po rnin ma ( o mais
velho). Este autor escreveu outros livros sobre o
diagnóstico pelo pulso
-Título: mnon ses gnad kyi hphrul hkhar. É digno de nota
que este autor tenha escrito dois livros sobre o
diagnóstico pelo pulso.
Livro 3
slob ma’i don du zong mchan
-Conteúdo: Instruções práticas sobre o significado dos
quatro tratados básicos sobre medicina.
-Autor: gYu thog pa Yon tan mgon po rnin ma (o mais
antigo)
Livro 4
cha lag bco brgyad
-Conteúdo: retirado dos títulos dos capítulos
Capítulos 2 e 5: Comentário sobre o rGyud bzi (parte 2)
Capítulo 16: Sumário do rGyud bzi
-Autor: gYu thog pa Yon tan mgon po gsar pa (o mais
novo)
Livro 5
mes po tzal lung
-Conteúdo: Medicina geral (um trabalho muito importante)
-Autor: Blo gros rgyal po
Livro 6
sman ngag bka’ rgya ma
-Conteúdo: Comentário sobre o rGyud bzi (parte 3)
-Autor: Blo bzang chos grags
Livro 7
phyi ma’i rgyud kyi dka’ gnad rdo rje bdud ‘dul
-Conteúdo: Comentário sobre o rGyud bzi (parte 4)
-Autor: Blo bzang chos grags
34
35. Livro 8
bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa gsang ba man
ngag yon tan rgyud kyi lhan thabs zug rngu’i cha
gdun sel ba’i katpura dus min ‘chi tzags gcod pa’i ral
ri xxiv
-Título abreviado: lHan thabs (Glang thabs)
-Tradução do título abreviado: Apêndice (suplemento,
métodos de tratamento)
-Conteúdo: Comentário sobre o rGyud bzi (parte 3)
-Extensão: 288 fólios
-Autor: Sans rgyas rgya mtsho
Livro 9
Este livro consiste de quatro partes:
I. gso ba rig pa’i bstan bcos sman bla’i dgons rgyan
rgyud bzi’i gsal byed bai dur sngon po’i malli ka
-Título abreviado: Bai du rya sngon po
-Tradução do título abreviado: Berilo azul xxv
-Conteúdo: Comentário sobre o rGyud bzi (Parte 1)
-Extensão: 40 fólios
-Autor: Sans rgyas rgya mtsho
W. A. Unkrig observa (Introdução) que o autor deve ter
escrito o livro com idade bastante avançada, e cita
Varlakov, que data o texto entre 1745 e 1750. É fato,
entretanto, que Sans rgyas rgya mtsho foi assassinado
em 1705; portanto, o texto deve ter sido completado em
uma data anterior (provavelmente 1687-1688).
II. gso ba rig pa’i bstan bcos sman bla’i dgons rgyan
rgyud bzi’i gsal byed bai dur sngon po’i phreng ba
las dum bu gnyis pa bshad pa’i rgyud kyi rnam
bshad
-Conteúdo: Comentário sobre o rGyud bzi (Parte 2)
-Extensão: 283 fólios
35
36. -Autor: Sans rgyas rgya mtsho
III.gso ba rig pa’i bstan bcos sman bla’i dgons rgyan
rgyud bzi’i gsal byed bai dur sngon po’i phreng ba
las dum bu gsum pa man ngag yon tan rgyud kyi
rnam bshad
-Conteúdo: 563 fólios
-Autor: Sans rgyas rgya mtsho
O autor já fez um comentário detalhado sobre o rGyud
bzi no livro “lhan thabs” (288 fólios). A parte 3 parece ser
também particularmente importante ou particularmente
difícil. Trabalharemos com a função principal desta
terceira posteriormente.
IV.gso ba rig pa’i bstan bcos sman bla’i dgons rgyan
rgyud bzi’i gsal byed bai dur sngon po’i phreng ba
las dum bu bzi pa phyi ma rgyud kyi rnam btsad
-Conteúdo: Comentário sobre o rGyud bzi (parte 4)
-Extensão: 251 fólios
-Autor: Sans rgyas rgya mcho
Livro 10
bdud nad gzhom pa’i gnyen po rtsi sman gyi nus pa
rkyang btsad gtsal ston dri med tsel gong
-Conteúdo: Descrição de plantas medicinais
-Autor: bsTan „dzin phun tshogs
Livro 11
bdud rtsi sman gyi nus min rnam par btsad pa dri med
sel phreng
-Conteúdo: Descrição de plantas medicinais
-Autor: bsTan „dzin phun tshogs xxvi
Livro 12
gso byed bdud rtsi’i ‘krul med nos ‘dzin bzo rig me
long du rnam par tsar pa ‘jes tschar mig rgyan zhes
bya ba btzugs so
36
37. -Conteúdo: Apresentação do sistema de medicina,
descrição de plantas medicinais. Anatomia, cirurgia.
(Ilustrado)
-Autor: „Jam dpal rdo rje
Livro 13
nad sman sprod pa’i nyams yig
-Conteúdo: Descrição de plantas medicinais
-Autor: mKhyen rab nor bu
Livro 14
lag len nyer mkho’i sman gyi sbyor dpe bdud rtsi pa’i
bum bzang
-Conteúdo: Tratado sobre a preparação de plantas
medicinais
-Autor: mKhyen rab nor bu
Livro 15
lag len gces rigs bsdus pa sman kun bcud du bsgrub
pa’i las kyi cho ga kun gsal snang mdzod
-Conteúdo: Descrição de métodos para extrair as toxinas
das substâncias medicinais
-Autor: mKhyen rab nor bu
Evidentemente, algumas obras importantes não
foram mencionadas nesta lista. Aqueles livros apontados
pelos médicos tibetanos como os mais importantes são
fornecidos abaixo:
1. rGyud bzi: Quatro Tratados (Livro 1)
2. Bai du rya sngon po: Berilo azul (Livro 9 a-d)
3. lHan thabs: Apêndice (suplemento, métodos de
tratamento) (Livro 8)
Uma descrição precisa destes trabalhos médicos é
fornecida no Apêndice “Títulos dos Livros”. Resumindo,
devemos mencionar que os trabalhos mais importantes
37
38. são comentários sobre o rGyud bzi; esta é a opinião dos
médicos tibetanos também.
38
39. CONTEÚDO DO RGYUD BZI
O livro rGyud bzi é considerado o coração da
medicina tibetana. Este trabalho clássico é a base para o
treinamento de médicos tibetanos e o ponto a partir do
qual resulta toda a literatura relevante posterior, como
descrito anteriormente. Para elucidar a estrutura do livro,
seu conteúdo será delineado resumidamente como a
seguir. As fontes para a descrição do conteúdo são:
Informação dada por Yeshe Donden.
A. Csoma de Köros: “Analysis of a Tibetan Medical
Work”.
P. A. Badmaev: O principal livro-texto para as ciências
médicas do Tibete, o rGyud bzi, em uma nova tradução
por P. A. Badmaev, com introdução na qual o autor explica
os fundamentos da ciência médica tibetana (Parte 1 e 2 do
rGyud bzi).
Tem se tornado regra a utilização dos títulos
abreviados para descrever as quatro partes do livro, as
quais são usadas nas páginas seguintes. O livro está
dividido em quatro partes.
A tabela seguinte mostra os títulos abreviados, a
extensão e as em seções e capítulos.
39
40. Extensão Seções Capítulos
Parte 1 11 Fólios 9 6
rtsa ba‟i rgyud
Tratado Raiz
Parte 2 43 Fólios 11 31
bshad pa‟i rgyud
Tratado Explicativo
Parte 3 275 Fólios 15 92
man ngag gi rgyud
Tratado da Instrução
Parte 4 67 Fólios 4 27
phyi ma‟i rgyud
Tratado Final
396 Fólios 39 156
Parte 1
bdud rtsi snin po yan lag brgyad pa gsang ba man nag
gi rgyud las dum bu dan po rtsa ba’i rgyud
-Tradução: Primeira Parte do Tratado Secreto das
Instruções sobre os Oito Ramos da Essência da
Imortalidade, Tratado Raiz.
-Título abreviado: rtsa ba‟i rgyud
-Tradução do título abreviado: Tratado Raiz
-Extensão: 11 fólios. 9 seções, 6 capítulos.
40
41. Capítulo 1
A “Cidade da ciência médica”, cujos tesouros curam as
404 doenças do corpo, é descrita: os quatro lados das
montanhas com suas ervas medicinais especificamente
efetivas. Ao ser questionado pelo sábio Yid las skyes, o
sábio Rig pa‟i ye shes explica-lhe a ciência da medicina
como descrita por sMan pa‟i rgyal po, o Buda da Medicina.
Capítulo 2
As bases fundamentais da ciência médica é o livro rGyud
bzi. O médico deve estudar as quatro partes deste
trabalho: 1. Tratado Raiz, 2. Tratado Explicativo, 3. Tratado
da Instrução, 4. Tratado Final.
O médico deve estudar as oito partes da ciência: 1.
Doenças do corpo (adulto), 2. Doenças das crianças, 3.
Doenças das mulheres, 4. Doenças nervosas, 5.
Ferimentos (cirurgia), 6. Envenenamento, 7. Doenças dos
idosos, 8. Afrodisíacos.xxvii
Capítulo 3
Descrição dos organismos doentes e dos organismos
saudáveis.
Capítulo 4
Descrição dos três métodos de exame = diagnóstico: 1.
Observação, 2. Palpação, 3. Questionamento (anamnese).
Capítulo 5
Descrição dos quatro métodos de cura = terapia: 1.
Nutrição, 2. Comportamento, 3. Medicamentos, 4.
Tratamentos (externos).
Capítulo 6
41
42. Descrição do sistema de medicina: das três raízes brotam
nove troncos, quarenta e sete ramos e duzentas e vinte e
quatro folhas.
Parte 2
bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa gsang ba man
nag gi rgyud las dum bu gnyis pa bshad pa’i rgyud
-Tradução: Segunda parte do Tratado Secreto das
Instruções sobre os Oito Ramos da Essência da
Imortalidade, Tratado Explicativo.
-Título abreviado: bshad pa‟i rgyud.
-Tradução do título abreviado: Tratado Explicativo.
-Extensão: 43 fólios. 11 seções, 31 capítulos.
11 Seções
1.Introdução, análise 1 Capítulo
2.Embriologia, anatomia, fisiologia 5 Capítulos
3.Organismos doentes 6 Capítulos
4.Comportamento 3 Capítulos
5.Nutrição 3 Capítulos
6.Medicamentos 3 Capítulos
7.Métodos de cura, incluindo cirurgia 1 Capítulo
8.Existência livre de doenças 1 Capítulo
9.Diagnóstico dos organismos doentes e saudáveis 4 Capítulos
10.Métodos de cura 3 Capítulos
11.Ética, qualificação dos médicos 1 Capítulo
31 Capítulos
Seção 1 Introdução, análise 1 Capítulo
42
43. (7) Cap. 1 Análise
Seção 2 Embriologia, anatomia, fisiologia 5 Capítulos
(8) Cap. 2 Embriologia
(9) Cap. 3 Anatomia
(10) Cap. 4 Fisiologia
(11) Cap. 5 A natureza dos três processos vitais
(12) Cap. 6 Tipos de corpo (constituição) e suas funções
Seção 3 Organismos doentes 6 Capítulos
(13) Cap. 7 Condições insalubres, sinais de morte, sonhos
(14) Cap. 8 Causas das doenças
(15) Cap. 9 Condições para doenças, sintomas
concomitantes
(16) Cap. 10 Localização das doenças (sítios)
(17) Cap. 11 Natureza das doenças, sintomas
(18) Cap. 12 Divisão das doenças em 101 e 404 tipos
Seção 4 Comportamento 3 Capítulos
(19) Cap. 13 Comportamento diário
(20) Cap. 14 Comportamento quanto ao clima e estações
(21) Cap. 15 Conduta geral, hábitos, bom senso
Seção 5 Nutrição 3 Capítulos
(22) Cap. 16 Líquidos e sólidos
(23) Cap. 17 Regras dietéticas. Erro na combinação
de alimentos, i.e. leite e peixe, leite e
frutas do tipo morango, ovo e peixe,
mel e óleos vegetais.
(24) Cap. 18 Hábitos alimentares regulares, corretos
(quantidades)
Seção 6 Medicamentos 3 Capítulos
(25) Cap. 19 Preparação de medicamentos, sabor
(26) Cap. 20 Eficácia dos medicamentos, descrição
detalhada
(27) Cap. 21 Farmacologia
43
44. Seção 7 Métodos de cura, inclusive cirurgia 1 Capítulo
(28) Cap. 22 Descrição dos tratamentos e
instrumentos cirúrgicos
Seção 8 Existência livre de doenças 1 Capítulo
(29) Cap. 23 Observação das regras gerais para
manutenção da saúde
Seção 9 Diagnóstico de organismos doentes 4 Capítulos
e saudáveis
(30) Cap. 24 Diagnóstico geral, sintomas das doenças
(31) Cap. 25 Diagnóstico de doenças específicas,
anamnese
(32) Cap. 26 Médico e paciente. Diagnóstico preciso de
doenças curáveis e incuráveis
(33) Cap. 27 Regras no tratamento
Seção 10 Métodos de tratamento 3 Capítulos
(34) Cap. 28 Descrição detalhada de tratamentos e
medicamentos
(35) Cap. 29 Dieta. Cura da obesidade e desnutrição
(36) Cap. 30 Procedimentos gerais nos tratamentos
Seção 11 Ética médica 1 Capítulo
(37) Cap. 31 Qualificação dos médicos
44
45. Parte 3
bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa gsang ba man
ngag gi rgyud las dum bu gsum pa man ngag rgyud
-Tradução: Terceira parte do Tratado Secreto das
Instruções sobre os Oito Ramos da Essência da
Imortalidade, Tratado da Instrução
-Título abreviado: Man ngag gi rgyud
-Tradução do título abreviado: Tratado da Instrução
-Extensão: 275 fólios. 15 seções, 92 capítulos.
15 Seções
Introdução 1 Capítulo
1. Tratamento de doenças de rlung, mkhris pa e bad 4 Capítulos
kan
2. Doenças internas 6 Capítulos
3. Febre, infecções 16 Capítulos
4. Órgãos sensoriais 6 Capítulos
5. Órgãos sólidos e ocos 8 Capítulos
6. Sistema urogenital 2 Capítulos
7. Doenças diversas 19 Capítulos
8. Epidemias e úlceras 8 Capítulos
9. Doenças da infância 3 Capítulos
10.Doenças das mulheres 3 Capítulos
11. Doenças neurológicas 5 Capítulos
12. Ferimentos 5 Capítulos
13. Intoxicações 3 Capítulos
14. Doenças senis 1 Capítulo
15. Afrodisíacos 2 Capítulos
92 Capítulos
xxviii
45
46. (38) Cap. 1 Introdução
Saudação ao professor. O pedido é
feito para gerar uma instrução oral e
dissertativa sobre o tratamento das
doenças. São feitas cinco
diferenciações em todas as
doenças:
1. Causa, 2. Causas secundárias, 3.
Classificação, 4. Sintomas, 5.
Tratamento
Seção 1 Tratamento das doenças de rlung, 4 Capítulos
mkris pa e bad kan
(39) Cap. 2 Doenças de rlung
(40) Cap. 3 Doenças de mkhris pa
(41) Cap. 4 Doenças de bad kan
(42) Cap. 5 Doenças combinadas de rlung,
mkhris pa e bad kan
Seção 2 Doenças internas 6 Capítulos
(43-48) Cap. 6-11
Seção 3 Febre, infecções 16 Capítulos
(49) Cap. 12 Febre comum
(50) Cap. 13 Febre no calor ou no frio
(51) Cap. 14 Febre alta
(52) Cap. 15 Início da febre
(53) Cap. 16 Elevação da febre
(54) Cap. 17 Febre latente
(55) Cap. 18 Febre oculta
(56) Cap. 19 Febre persistente
(57) Cap. 20 Febre mista
(58) Cap. 21 Febre difusa
(59) Cap. 22 Febre flutuante
(60) Cap. 23 Infecções
(61) Cap. 24 Infecções
46
47. (62) Cap. 25 Infecções
(63) Cap. 26 Infecções
(64) Cap. 27 Infecções
Seção 4 Órgãos sensoriais 6 Capítulos
(65) Cap. 28 Doenças da cabeça
(66) Cap. 29 Doenças dos olhos
(67) Cap. 30 Doenças do ouvido
(68) Cap. 31 Doenças do nariz
(69) Cap. 32 Doenças da boca
(70) Cap. 33 Doenças da garganta e bócio
Seção 5 Doenças dos órgãos sólidos e 8 Capítulos
ocos
(71) Cap. 34 Doenças do coração
(72) Cap. 35 Doenças dos pulmões
(73) Cap. 36 Doenças do fígado
(74) Cap. 37 Doenças do baço
(75) Cap. 38 Doenças dos rins
(76) Cap. 39 Doenças do estômago
(77) Cap. 40 Doenças do intestino delgado
(78) Cap. 41 Doenças do intestino grosso
Seção 6 Sistema urogenital 2 Capítulos
(79) Cap. 42 Doenças do sistema urogenital masculino
(80) Cap. 43 Doenças do sistema urogenital feminino
Seção 7 Doenças diversas 19 Capítulos
(81-99) Cap. 44-62
i.e. rouquidão, anorexia, sede, soluços,
dispnéia, cólicas, infecções, vômitos,
diarréia, constipação, retenção urinária,
micção freqüente, “diarréia indiana”
(diarréia com febre; muito perigosa para
tibetanos que visitam a Índia), gota,
doenças reumáticas, doenças linfáticas,
“veia branca”, doenças da pele, “doenças
47
48. diversas” (encurtamento dos tendões,
ferimentos causados por perfurações e
flechas, corpos estranhos alojados na
garganta, ingestão de aranhas e
escorpiões, congelamento, rigidez na
nuca)
Seção 8 Epidemias, úlceras 8 Capítulos
(100-107) Cap. 63-70
Seção 9 Doenças das crianças 3 Capítulos
(108) Cap. 71 Doenças dos bebês
(109) Cap. 72 Doenças comuns na infância
(110) Cap. 73 Doenças neurológicas nas crianças
(causadas por energias prejudiciais)
Seção 10 Doenças das mulheres 3 Capítulos
(111) Cap. 74 Doenças gerais das mulheres
(112) Cap. 75 Doenças específicas das mulheres
(113) Cap. 76 Doenças freqüentes nas mulheres
Seção 11 Doenças neurológicas 5 Capítulos
(114) Cap. 77 Doenças neurológicas causadas por
energias prejudiciais
(115) Cap. 78 Doenças mentais, insanidade
(116) Cap. 79 Perda da memória
(117) Cap. 80 Paralisias
(118) Cap. 81 Emagrecimento nas doenças mentais
crônicas
Seção 12 Ferimentos 5 Capítulos
(119) Cap. 82 Lesões por armas e ferramentas de
trabalho
(120) Cap. 83 Lesões na cabeça
(121) Cap. 84 Lesões na região do pescoço
(122) Cap. 85 Ferimentos no tronco
(123) Cap. 86 Ferimentos nas extremidades superiores
48
49. e inferiores
Seção 13 Intoxicações 3 Capítulos
(124) Cap. 87 Venenos preparados artificialmente
(125) Cap. 88 Envenenamentos simples (acidental)
(126) Cap. 89 Envenenamentos genuínos
Seção 14 Doenças senis 1 Capítulo
(127) Cap. 90 Debilidade senil
Seção 15 Afrodisíacos 2 Capítulos
(128) Cap. 91 Suporte à pessoa idosa
(129) Cap. 92 Fortalecimento do organismo em
processo de envelhecimento
Parte 4
bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa gsang ba man
ngag gi rgyud las dum bu bzi pa phyi ma’i rgyud
-Tradução: Quarta parte do Tratado Secreto das
Instruções sobre os Oito Ramos da Essência da
Imortalidade, Tratado Final.
-Título abreviado: Phyi ma‟i rgyud
-Tradução do título abreviado: Tratado Final
-Extensão: 67 fólios. 4 seções, 27 capítulos.
4 Seções
1. Exame do pulso e da urina 2 Capítulos
2. Sedativos 10 Capítulos
3. Tratamentos radicalmente efetivos 7 Capítulos
4. Tratamentos externos 6 Capítulos
25 Capítulos
Conclusão 2 Capítulos
27 Capítulos
49
50. Seção 1 Exame do pulso e da urina 2 Capítulos
(130) Cap. 1 Exame do pulso
(131) Cap. 2 Exame da urina
Seção 2 Sedativos 10 Capítulos
(132) Cap. 3 Tratamento com fluidos
(133) Cap. 4 Pós
(134) Cap. 5 Pílulas
(135) Cap. 6 Pastas
(136) Cap. 7 Manteiga medicinal
(137) Cap. 8 Cinzas medicinais
(138) Cap. 9 Xaropes, caldos
(139) Cap. 10 Vinho medicinal
(140) Cap. 11 Tratamentos com minerais
produzidos com pedras preciosos
(141) Cap. 12 Certas plantas que produzem o mesmo
efeito
Seção 3 Tratamentos radicalmente 7 Capítulos
efetivos
(142) Cap. 13 Purgantes em geral
(143) Cap. 14 Purgantes com efeitos ascendentes
(suaves, moderados, fortes)
(144) Cap. 15 Eméticos
(145) Cap. 16 Substâncias para limpeza nasal
(146) Cap. 17 Elixires para purgação
(147) Cap. 18 Clisters
(148) Cap. 19 Misturas para limpeza dos vasos
Seção 4 Tratamentos externos 6 Capítulos
(149) Cap. 20 Sangrias
(150) Cap. 21 Moxabustão
(151) Cap. 22 Compressas
(152) Cap. 23 Banhos
50
52. Saudação ao leitor.
Ficou claro com o resumo xxix do conteúdo que no Tratado
Raiz (Parte 1 do livro rGyud bzi) certos conceitos
fundamentais foram descritos:
Capítulo 1 Introdução
Capítulo 2 Descrição das quatro partes do livro rGyud bzi
Descrição da ciência em oito partes
Capítulo 3 1. Organismos saudáveis
2. Organismos doentes
Capítulo 4 3. Observação
4. Palpação
5. Questionamento
Capítulo 5 6. Nutrição
7. Comportamento
8. Medicamentos
9. Métodos de tratamento (externo)
Capítulo 6 Apresentação do sistema de medicina
A terminologia médica deve em primeiro lugar derivar seu
sistema a partir do texto; portanto, voltaremos agora ao
Capítulo 6 (Parte 1) do livro rGyud bzi.
52
53. O SISTEMA DA MEDICINA TIBETANA
Este Capítulo 6 da Parte 1 do livro rGyud bzi está
descrito como segue:
A) Blocos de impressão (fólios 9b, 10a, 10b do meu bloco
de impressão)
B) Transliteração do texto
C) Tradução do texto
D) Apresentação do sistema
A) (Bloco de impressão): Os livros tibetanos são
apresentados como blocos de impressão (folhas soltas
impressas de ambos os lados). Estes blocos de
impressão são difíceis de serem adquiridos. Meu
exemplar – um presente de meu professor Yeshe
Donden – é muito confiável e valioso.
B) (Transliteração): O livro rGyud bzi consiste
principalmente de estrofes de quatro linhas, métricas. Há
nove sílabas em cada verso. Os textos no livro rGyud bzi
completo mostram, no entanto, que nem todos os
capítulos são divididos em estrofes de quatro linhas. Os
parênteses incluídos na transliteração referem-se aos
fólios, páginas e linhas nos blocos de impressão. Os
números entre colchetes [ ] correspondem aos mesmos
na tradução, ou seja, na
C) (Tradução) os números são incluídos no texto [5] -[30]
desta forma de modo que o termo correspondente pode
ser encontrado sem dificuldade.
53
54. A) Blocos de impressão
rGyud bzi, Parte 1
Capítulo 6
Fólio 9b
54
56. B) Transliteração do texto
de nas yang drang sron Rig pa‟i ye shes kyis „di skad ces gsungs so
kye drang srong chen po ngon cig
gnas lugs ngos „dzin gso ba‟i rtsa ba la [1]
rnam gyur ma (9b6) gyur blta reg dri ba dang [2]
zas spyod sman dpyad sdong po dgu ru „dril [3]
yal ga lus la nad zungs dri ma gsum [4]
nad la rgyu rkyen „dzug sgo gnas dang lam [5]
ldang dus „bras bu ldog rgyu mdo don dgu [6]
blta ba (10a1) lce chu reg pa rtsa la gsum [7]
dri ba slong rkyen na lugs goms pa gsum [8]
zas la zas skom drug ste spyod lam gsum [9]
sman la ro dang nus pa gnyis gnyis drug [10]
sbyar thabs zhi byed (10a2) drug dang sbyong byed gsum [11]
dpyad gsum bzi bcu rtsa bdun gyes pa yin [12]
rgyas pa‟i lo „dab dang po nyi shu lnga [13]
nad kyi zin tig drug cu rtsa gsum dang [14]
blta ba drug dang reg pa‟i rtsa rgyud gsum [15]
dri ba nyer (10a3) dgu rlung zas bzi dang [16]
56
57. C) Tradução do texto
Então o grande sábio Rig pa‟i ye ses expressou-se
novamente da seguinte maneira: “ Oh grande sábio, ouça-
me!
Nas raízes da organização (das partes do corpo) (A),
do diagnóstico (B) (e) da terapia (C) desenvolvem-se (os
seguintes) nove troncos: (organismo) alterado, (organismo
(inalterado), observação, palpação, questionamento e
nutrição, comportamento, medicamentos (e) métodos de
tratamento (externos) (I-IX).
Seus ramos no corpo (saudável) são (os seguintes):
(fundamento) da doença (1), constituintes do corpo (2) (e)
impurezas (excreções) (3) – três.
[5] No (corpo) doente: causas (causas primárias) (4),
causas desencadeantes (causas secundárias) (5), modos
de entrada (6), locais de permanência (7) e caminhos (8),
época de surgimento (de uma doença) (9), frutos
(resultados) (10), causas contrárias (a cada uma) (11) e
princípios (12) – nove.
Na observação: língua e água (urina) (13, 14), no
diagnóstico pelo pulso – três (15, 16, 17). No
questionamento: causas produtoras (18), condições da
doença (19), hábitos (20) – três.
Na nutrição: alimentos (e) bebidas – seis (21-26). No
comportamento – três (27, 28, 29). [10] Nos medicamentos
– seis (diversos): dois (= metade de acordo com o) sabor
(30, 31, 32) e dois (- metade de acordo com a) potência
(33, 34, 35). Na combinação de medicamentos: sedativos
– seis (36-41) e eliminativos – três (42, 43, 44). Nos
57
58. tratamentos (externos) – três (45, 46, 47). (No total)
quarenta e sete (ramos) subdividem-se destes troncos.
No primeiro (tronco) (desenvolvem-se) vinte e cinco
folhas (1-25). Na condição doentia (condição natural da
doença) – sessenta e três (26-88) e na [15] observação –
seis (89-94) e no diagnóstico pelo pulso – três (95-97). No
questionamento – vinte e nove (98-126). Nutrição (em)
(doenças) de rlung – quatorze (127-140).
58
59. Mkhris zas bcu gnys bad kan zas dgu [17]
spyod lam drug dang sman gyi ro nus dgu [18]
khu ba gsum dang sman mar rnam pa lnga [19]
thang phye bzi ril bu rnam pa gnyis [20]
(10a4) tres sam lnga dang mi „da‟i bcos thabs dgu [21]
dpyad ste bdun te nad gzhi brgyad cu brgyad [22]
sum cu rtsa brgyad ngos bzung brtag pa ste [23]
bcos pa‟i thabs la dgu bcu rtsa brgyad do [24]
spyir sdoms nyis brgya rtsa (10a5) bzir rgyas pa yin [25]
me tog nad med she ring gsal ba la [26]
„bras bu chos nor bde ba gsum du smin [27]
dpe dang sbyar te rnam grangs bkod pa yi [28]
snying po lta bur bsdus pa‟i rtsa rgyud „di [29]
shes rab blo ldan „ga‟ (10a6) yi spyod yul las [30]
blo rmongs skye bo rnams kyis rtogs mi „gyur [31]
spros dga‟ rgya chen gzhung du blta bar gyis [32]
zhes gsungs nas drang srong Rig pa‟i ye shes de Sman pa‟i rgyal
po‟i thugs kar thim par (10b1) gyur to / bdud rtsi snying po yan lag
brgyad pa gsang ba man ngag gi rgyud las dpe don gyi rnam grangs
rnam par bkod pa‟i le‟u ste drug pa‟o /
bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa gsang ba man ngag gi rgyud
(10b2) las rtsa ba‟i rgyud ces bya ba rdzogs so //
59
60. A nutrição (nas) (doenças) de mkhris pa (bile) – doze
(141-152), alimentos e bebidas (nas) (doenças) de bad kan
(fleuma) – nove (153-161). No comportamento – seis (162-
167) e no sabor e na potência (dos medicamentos) – nove
(em cada) (168-185). Nas sopas – três (186-188) e na
manteiga medicinal – cinco tipos (189-193). [20] Nas
decocções e nos pós – quatro (em cada) (194-197), (198-
201), nas pílulas – dois tipos (202-203). Nas pastas – cinco
(204-208) e nos medicamentos (eliminativos) – nove (209-
217). Nos tratamentos (externos) – sete (218-224).
Bases das doença: desenvolvem-se oitenta e oito
(folhas). Há trinta e oito (folhas) para os métodos
diagnósticos. Para os métodos terapêuticos há noventa e
oito (folhas).
[25] No total desenvolvem-se duzentas e vinte e
quatro (folhas).
As (duas) flores desabrocham com a longevidade e
na ausência de doença (saúde), (e) desenvolvem-se como
três frutos: religião, prosperidade e felicidade.
Com a listagem do número (de raízes, troncos, etc.)
juntamente com a comparação (com a Árvore da Vida)
este Tratado Raiz é delineado (resumidamente) (de tal
forma) (como se fosse) o coração (a essência) ( dos três
tratados seguintes). [30] Como (este Tratado Raiz) é a
esfera de atividade somente das pessoas com um pouco
de sabedoria e inteligência, aquelas pessoas menos
inteligentes não o compreenderão, (no entanto, se elas)
60
61. desejam trabalhar, permitam-nas consultar trabalhos mais
detalhados.”
Assim ele se pronunciou.
Então o sábio Rig pa‟i ye ses emergiu do coração do Rei
dos Médicos. O sexto capítulo sobre uma apresentação
completa do número (lista) de comparações (com a Árvore
da Vida) a partir do Tratado Secreto da Instrução sobre os
Oito Ramos da Essência da Imortalidade.
Aqui termina o assim-chamado Tratado Raiz do
Tratado Secreto da Instrução sobre os Oito Ramos da
Essência da Imortalidade.
61
62. D) Apresentação do sistema
O sistema deve ser derivado do texto. A identificação
de todos os termos (raízes, troncos, ramos e folhas) foi
possível apenas com as explicações seguintes, os
comentários e diagramas:
1) Explicações orais de Yeshe Donden que elucidou cada
termo.
2) Comentários e diagramas feitos a partir das
reproduções dos blocos de impressão.
a- cha lag bco brgyad (Detalhes, ver no apêndice
“Títulos dos Trabalhos”).
b- gso byed bdud rtsi‟i „khrul med ngos „dzin bzo rig me
long du rnam par shar pa mdzes mtshar mig rgyan zhes
bya ba bzhugs so (Detalhes, ver no apêndice “Títulos
dos Trabalhos”). O Sistema é descrito nas primeiras oito
páginas.
Na apresentação do Sistema os termos no texto
traduzido são apresentados com letras e números (Raízes
A-C, Troncos I-IX, Ramos 1-47, Folhas 1-224).
Antes da apresentação, no entanto, alguns dos
termos devem ser explicados:
[2] rnam gyur xxx = alterado. Este termo é o primeiro a
aparecer no texto; no entanto ele se aplica ao Tronco II =
organismo doente.
[2] ma gyur = não alterado. Este termo aparece em
segundo lugar no texto (provavelmente devido à métrica);
no entanto, aplica-se ao Tronco I = organismo saudável,
que deve vir em primeiro lugar no texto.
62
63. O Sistema de medicina tibetana é representado sob
a forma de uma árvore a qual possui três raízes:
Raiz A = Organização (das partes do corpo)
Raiz B = Diagnóstico
Raiz C = Terapêutica
Destas três raízes brotam nove troncos:
Raiz A
Raiz da Organização (das partes do corpo) gnas lugs rtsa ba
Tronco I
Não alterado (i.e. organismo saudável) rnam par ma gyur pa
Tronco II
alterado (i. e. organismo doente) rnam par gyur pa
Raiz B
Raiz do Diagnóstico (exame) ngos „dzin rtsa ba
Tronco III
Observação blta ba
Tronco IV
Palpação reg pa
Tronco V
Questionamento dri ba
Raiz C
Raiz da Terapêutica (métodos de tratamento) gso ba‟i rtsa ba
Tronco VI
Nutrição (dieta) zas
Tronco VII
Comportamento spyod pa (spyod lam)
Tronco VIII
Medicamentos sman
Tronco IX
(externo) Métodos de tratamento dpyad pa
9 Troncos
63
64. Estes nove troncos correspondem às nove partes da
ciência médica:
Tronco I = Organismo saudável
Tronco II = Organismo doente
Tronco III = Observação
Tronco IV = Palpação
Tronco V = Questionamento
Tronco VI = Nutrição
Tronco VII = Comportamento
Tronco VIII = Medicamentos
Tronco IX = Métodos de tratamento
Destes nove troncos crescem quarenta e sete ramos:
Raiz A
Tronco I Organismo saudável
não alterado rnam par ma gyur pa
(Bases da) doença (1) nad
Constituintes do corpo (2) lus zungs
Impurezas (3) dri ma
3 ramos
Tronco II Organismo doente
alterado rnam par gyur pa
Causas (causas primárias) (4) rgyu
Causas desencadeantes
(secundárias) (5) rkyen
Modos de entrada (6) „jug sgo
64
65. Sítios de localização (7) gnas
Trajetórias (8) lam
Época de aparecimento (9) ldang dus
Frutos (conseqüências) (10) „bras bu
Causas opostas (umas às
outras) (11) ldog rgyu
Princípios (12) mdo don
9 ramos
Raiz B
Tronco III Observação blta ba
Língua (13) lce
Água (urina) (14) chu
2 ramos
Tronco IV Palpação reg pa
Diagnóstico pelo pulso (nas reg pa‟i rtsa rgyud
doenças de rlung, mkhris pa e
bad kan) (15, 16, 17)
3 ramos
Tronco V Questionamento dri ba
Causas produtoras (18) slong rkyen
Condições das doenças (19) na lugs
Hábitos (20) goms
3 ramos
Raiz C
Tronco VI Nutrição zas
Alimentos (para rlung, mkhris zas
65
66. pa e bad kan) (21-23)
3 ramos
Bebidas (para rlung, mkhris pa skom
e Bad kan) (24-26)
3 ramos
Tronco VII Comportamento spyod pa (spyod lam)
(para rlung, mkhris pa e Bad
kan) (27-29)
3 ramos
Tronco VIII Medicamentos sman
Sabor (para rlung, mkhris pa e ro
bad kan) (30-32)
3 ramos
Potências (para rlung, mkhris nus pa
pa e bad kan) (33-35)
3 ramos
Sedativos (para rlung, mkhris zhi byed
pa e bad kan) (36-41)
6 ramos
Medicamentos eliminatórios sbyong byed
(para rlung, mkhris pa e Bad
kan) (42-44)
3 ramos
Tronco IX Métodos de tratamento dpyad pa
(externo)
(para rlung, mkhris pa e Bad
kan) (45-47)
3 ramos
66
67. Sumário
Tronco I 3 Ramos Raiz A - 12 Ramos
Tronco II 9 Ramos
Tronco III 2 Ramos
Tronco IV 3 Ramos Raiz B - 8 Ramos
Tronco V 3 Ramos
Tronco VI 6 Ramos
Tronco VII 3 Ramos
Tronco VIII 15 Ramos Raiz C - 27 Ramos
Tronco IX 3 Ramos
47 Ramos
Estes quarenta e sete ramos correspondem aos detalhes
gerais dos Troncos I-IX.
Destes quarenta e sete ramos brotam duzentas e vinte e
quatro folhas:
Raiz A
Tronco I (1-25) 25
Tronco II (26-88) 63
67
68. Raiz B
Tronco III (89-94) 6
Tronco IV (95-97) 3
Tronco V (98-126) 29
Raiz C
Tronco VI (127-161)
Nutrição nas doenças de rlung rlung zas 14
(127-140)
Nutrição nas doenças de mkhris pa mkhris pa zas 12
(141-152)
Nutrição nas doenças de Bad kan bad kan zas skom 9
(153-161)
Tronco VII (162-167) 6
Tronco VIII (168-217)
Sabor ro 9
(168-176)
Potência nus pa 9
(177-185)
Sopas (rlung) khu ba 3
(186-188)
Manteiga medicinal (rlung) sman mar 5
(189-193)
Decocções (mkhris pa) thang 4
(194-197)
Pós (mkhris pa) phye 4
(198-201)
Pílulas (Bad kan) ril bu 2
(202-208)
Pastas (Bad kan) tres sam 5
(204-208)
68
69. Medicamentos para limpeza mi „da‟i bcos thabs 9
(209-217)
Tronco IX (218-224) 7
224 folhas
Sumário
Tronco I 25 folhas Raiz A - 88 folhas
Tronco II 63 folhas
Tronco III 6 folhas Raiz B - 38 folhas
Tronco IV 3 folhas
Tronco V 29 folhas
Tronco VI 35 folhas Raiz C - 98 folhas
Tronco VII 6 folhas
Tronco VIII 50 folhas
Tronco IX 7 folhas
224 folhas
Estas 224 folhas correspondem aos detalhes específicos
dos Troncos I-IX.
Há (duas) flores (nad med pa = saúde e tshe ring =
longevidade), que geram três frutos (chos = religião, nor =
prosperidade e bde = felicidade).
As flores e os frutos estão classificados no Tronco I,
“Organismo saudável”.
69
70. O Sistema da Medicina Tibetana:
3 Raízes 9 Troncos 47 Ramos 224 Folhas
9 áreas da ciência 47 224 detalhes
médica detalhes específicos
gerais
Raiz A I Organismo saudável 3 25
Organização II Organismo doente 9 63
12 88
Descrito no livro rGyud bzi, Parte 1, Capítulo 3
Raiz B III Observação 2 6
Diagnóstico IV Palpação 3 3
V Questionamento 3 29
8 38
Descrito no livro rGyud bzi, Parte 1, Capítulo 4
Raiz C VI Nutrição 6 35
Terapia VII Comportamento 3 6
VIII Medicamentos 15 50
IX Métodos de
tratamento (externo) 3 7
27 98
Descrito no livro rGyud bzi, Parte 1, Capítulo 5
70
71. ORGANISMO SAUDÁVEL E DOENTE
No capítulo anterior o Sistema da medicina tibetana
foi extraído do texto e apresentado. O próximo passo é
descrever as nove áreas da ciência médica.
Da primeira raiz saem dois troncos que
correspondem às duas primeiras áreas da ciência médica
denominadas: Tronco I = organismo saudável e Tronco II =
organismo doente. Estes dois troncos são descritos no
Capítulo 3 (Parte 1) do livro rGyud bzi. Devemos, portanto,
dedicarmos ao Capítulo 3 agora, o qual será exposto da
mesma maneira que o capítulo anterior:
A) Blocos de impressão (fólios 6b, 7a, 7b, 8a de meus
blocos de impressão
B) Transliteração do texto
C) Tradução do texto
D) Apresentação
C) (Tradução): a tradução deste capítulo apresentou
grandes problemas. Ainda que a tradução de Yeshe
Donden, acompanhada com suas explicações orais
tenham possibilitado a identificação das oitenta e oito
folhas, minha tradução foi bastante imprecisa. A
tradução do sétimo ramo foi particularmente difícil.
Entretanto, recorri ao Professor Emmerick para auxiliar-
me, e foi ele quem traduziu estas passagens e
finalmente produziu uma tradução em inglês de todo o
capítulo. Esta primeira tradução em inglês, para a qual
os tradutores tiveram acesso aos meus blocos de
71
72. impressão, foi gentilmente colocada à minha disposição.
O Professor Emmerick havia dado início à tradução do
livro rGyud bzi; um número considerável de capítulos já
pode ser utilizado. É importante mencionar aqui que os
comentários tibetanos (por exemplo, “Bai du rya sngon
po”) foram extensamente utilizados. O capítulo em
questão foi revisado e expandido. xxxi Felizmente uma
tradução deste importante livro está sendo realizada
afinal por um especialista.
72
73. A) Bloco de impressão
rGyud bzi, Parte 1
Capítulo 3
Fólio 6b
Fólio 7a
73
75. B) Transliteração do texto
de nas drang srong Yid las skyes kyis drang sron Rig pa‟i ye shes „di
skad ces gsol to
kye ston pa drang sron Rig (6b5) pa‟i ye shes lags
gso ba rig pa‟i rgyud sde rnam bzi las
rtsa ba‟i rgyud la ji ltar bslab par bgyi
„tsho mdzad sman pa‟i rgyal pos btsad du gsol
zhes zhus pa las / thugs kyi sprul (6b6) pa drang sron Rig pa‟i ye
shes kyis „di skad ces gsungs so
kye drang sron chen po Yid las skyes
dan po rtsa rgyud mdo yi gnas bstan pa [1]
rtsa ba gsum la „dril ba‟i sdong po dgu [2]
(7a5) gyes pa‟i yal ga bzi bcu rtsa bdun te [3]
lo „dab nyis brgya rtsa bzhir rgyas pa yin [4]
gsal ba‟i me tog „bras bu lnga ru smin [5]
„di dag rtsa ba‟i rgyud kyi sdoms su bshad [6]
de nyid rgyas par bkrol na „di lta ste [7]
nad dang lus zungs dri (7a6) ma rnam pa gsum [8]
rnam par ma gyur pa dang gyur pa las [9]
75
76. C) Tradução do texto
Então, pronunciou-se o sábio Yid las skyes ao sábio
Rig pa‟i ye shes:
“Oh professor, sábio Rig pa‟i ye ses! Como o Tratado
Raiz dos Quatro Tratados sobre a ciência médica pode ser
aprendido? Permita que ele seja exposto pelo Médico, o
Rei da Medicina.”
Sendo formulada a questão, o sábio Rig pa‟i ye shes,
a Emanação do Coração (de Buda), falou como segue:
“Oh grande sábio Yid las skyes! Primeiro, deve ser
ensinado o tópico contendo um resumo (do ensinamento)
do Tratado Raiz. Nas três raízes há nove troncos que
crescem (delas). (Destes), emergem quarenta e sete
ramos, e brotam duzentas e vinte e quatro folhas. [5]
(Duas) flores reluzentes (e seus três) frutos se
desenvolvem. Estes (aspectos) são explicados neste
resumo do Tratado Raiz.
Se estas verdades forem explicadas, seus detalhes
serão como segue:
De acordo, se os três fatores a seguir: as (bases das)
doenças, os constituintes corporais e as excreções
estiverem inalteradas ou se estiverem alteradas,
76
77. lus ni gnas dang „joms par byed pa yin [10]
nad ni rlung dang mkhris pa bad kan gsum [11]
srog „jin gyen rgyu khyab byed me thur sel [12]
„ju byed mdangs sgyur sgrub (7b1) mthong mdog gsal lnga [13]
rten myag myong tshin „byor byed bco lnga‟o [14]
dangs ma khrag sha tshil rus rkang khu ba [15]
lus zungs bdun yin dri ma bshang gci rngul [16]
de ltar rnam grangs nyi shu lnga po [17]
ro dang nus pa spyod lam rnam (7b2) gsum po [18]
thams cad mnyam par gnas pas „phel „gyur zhing [19]
de las ldog pa gnod par „gyur ba yin [20]
nad ni skyed par byed pa‟i rgyu gsum ste [21]
de la lhan cig bskyed pa‟i rkyen bzi yis [22]
„jug sgo rnam pa drug tu (7b3) zhugs nas ni [23]
lus kyi stod smad bar du gnas bcas shing [24]
rgyu bar byed pa‟i lam ni bco lnga ru [25]
na so yul dus dgu ru „phel byed de [26]
„bras bu srog gcod pa yi nad dgur smin [27]
ldog pa‟i rgyu ni bcu dang gnyis su „gyur [28]
(7b4) mdo don dril bas tsha grang gnyis su „dus [29]
77
78. [10] eles fazem com que o corpo permaneça saudável ou o
destróem.
As (bases das) doenças são três: rlung (vento),
mkhris pa (bile) e bad kan (fleuma) (I).
Os cinco (tipos de rlung são: aquele que) sustenta a
vida (1), (aquele que) produz claridade (do quilo) (7),
(aquele que) satisfaz (os desejos) (8), (aquele que produz)
visão (9), (e aquele que torna) clara a cor (da pele) (10).
(Os cinco tipos de mkhris pa são: aquele que) apóia
(11), (aquele que causa) decomposição (12), (aquele que
produz) sabor (13), (aquele que causa) satisfação (14) (e
aquele que) faz (com que as articulações) se curvem (15).
(Estes grupos – cinco de cada – perfazem) quinze.
[15] Quilo (16), sangue (17), carne (18), gordura (19),
osso (20), medula óssea (21), (e) sêmen (22) são os sete
constituintes do corpo (II).
As excreções (impurezas) são fezes (23), urina (24)
(e) sudorese (25).
Portanto, o total é vinte e cinco.
Se o sabor, a potência (do alimento) e o
comportamento, (estes) três fatores (e) todos (os vinte e
cinco itens acima mencionados) permanecem equilibrados,
(o vigor do corpo) se elevará, [20] mas, se tais fatores se
desviarem deste (estado de equilíbrio), eles prejudicarão
(o corpo).
78
79. Dependendo das doenças, há três causas primárias
que as produzem (IV), (acompanhadas) por quatro causas
secundárias, que as desenvolvem em conjunção com cada
(caso) (V). Quando (estas doenças) entrarem (no corpo)
através das seis maneiras de entrar (VI), elas se localizam
em seus sítios de residência (VII), nas (partes) superior,
média e inferior do corpo [25] mas nas quinze trajetórias
de circulação (VIII), nas quais (aquelas causas) fazem as
doenças circularem, são a idade, a região e as estações
(IX) que fazem com que se desenvolvam de nove
(maneiras). Quando seus frutos (resultados) (X) estiverem
amadurecidos em nove doenças que interrompem a vida,
como causas desencadeantes (primárias) que são opostas
(entre si), elas tornam-se doze (XI). (Todas estas doenças)
podem ser condensadas em dois princípios (XII): quente e
frio.
79
80. De ltar drug cu rtsa gsum gso bya‟i nad [30]
de la „dod chags zhe sdang gti mug gsum [31]
rlung mkhris bad kan rim pas skyed pa‟i rgyu [32]
de la dus gdon zas dang spyod lam bzhiz [33]
de dag (7b5) „phel dang zad par gyur nas ni [34]
pags la gram zhing sha la rgyas pa dang [35]
rtsa ru rgyu zhing rus la zhen pa dang [36]
don la „bab cing snod du lhung bar „gyur [37]
bad kan klad pa la brten stod na gnas [38]
mkhris pa mchin dri la brten bar na (7b6) gnas [39]
rlung ni dpyi rke la brten smad na gnas [40]
rus pa rna ba reg bya snying srog long [41]
khrag rngul mig dang mchin mkhris rgyu ma dang [42]
dvangs ma tsha tshil rkang khu btsang gci dang [43]
sna lce glo mcher pho mkhal lgang pa rnams [44]
lus (8a1) zungs dri ma dbang po don snod lnga [45]
rlung mkhris bad kan rgyu ba‟i lam du btsad [46]
rgas pa rlung mi dar ma mkhris pa‟i mi [47]
byis pa bad kan mi yin na sos gnyan [48]
ngad can grang ba rlung gi yul yin te [49]
80
81. [30] Há portanto sessenta e três tipos de doenças (a
maioria das) quais podem ser curadas.
Dentre estas existem três (denominadas) desejo
(26), aversão (27), ilusão (28) que são as (três) causas
desencadeantes (primárias) da elevação de rlung (vento),
mkhris pa (bile) e bad kan (fleuma) respectivamente.
Quando estes (três) conectados elevam-se ou reduzem-se
através das quatro (causas secundárias, denominadas)
época (29), energias prejudiciais (demônios) (30), nutrição
(31) e comportamento (32), (penetram o corpo através das
seis formas de entrada, ou seja) [35] espalham-se pela
pele (33), expandem-se na carne (34), circulam nas veias
(35), estabelecem-se nos ossos (36), descem para os
órgãos sólidos (37) e penetram nos órgãos ocos (38).
Bad kan, mantido no cérebro, tem como sítio a região
superior (39) (do corpo). Mkhris pa, mantido no diafragma,
tem como sítio a região mediana (40) (do corpo). [40]
rlung, mantido nos quadris e coxas tem como sítio a região
inferior (41) (do corpo).
Ossos (42), audição (44), tato (44), coração (45),
(canais) vitais (45) e intestino grosso (46); sangue (47),
sudorese (48), olhos (49), fígado (50), vesícula biliar (51) e
intestino delgado (51); quilo (52), carne (52), gordura (52),
medula óssea (52), sêmen (52), fezes (53), urina (53),
nariz (54), língua (54), pulmões (55), baço (55), estômago
(56), rins (55) e bexiga urinária (56); [45] afirma-se que
(cada uma das) cinco (categorias): constituintes corporais,
excreções, órgãos sensoriais, órgãos sólidos e ocos são
81
82. trajetórias de circulação de rlung (vento), mkhris pa (bile) e
bad kan (fleuma).
Uma pessoa idosa (57), (de acordo com sua
natureza,) está (sob a influência de) rlung; uma pessoa
jovem (58), (de acordo com sua natureza,) está (sob a
influência de) mkhris pa; uma criança (59) (de acordo com
sua natureza,) está (sob a influência de) bad kan, (ou
seja), a doença (é determinada) pela fase da vida.
(Uma região) fria (e) com brisas perfumadas (60) é
uma região na qual ocorre (aumento de) rlung.
82
83. (8a2) skam sa tsha gdung che ba mkhris pa‟i yul [50]
rlan can snum pa bad kan yul du btsad [51]
rlung nad dbyar dus dgongs dang tho rangs ldang [52]
mkhris pa ston dus nyin dgung mshan dgung ldang [53]
bad kan dpyid dus srod dang snga (8a3) dro ldan [54]
„tsho ba gsum zad „du ba gshed du babs [55]
sbyor ba mshungs dang gnad du babs pa dang [56]
dus „das rlung nad srog rten chad pa dang [57]
tsha ba la „das grang ba gting „khar ba [58]
zungs kyis mi thub rnam par „tshe ba (8a4) rnams [59]
„bras bu srog gcod nad dgu zhes su btsad [60]
rlung mkhris bad kan tzi dang ma tzi ba [61]
gnyis gnyis bzi ru ldog pas bcu gnyis so [62]
rlung dang bad kan grang ba chu yin te [63]
khrag dang mkhris pa cha ba me ru „dod [64]
(8a5) srin dang chu ser cha grang thun mong gnas [65]
de ltar rnam grangs brgyad cu rtsa brgyad kyis [66]
nad gzhi‟i rnam pa ma lus shes par „gyur [67]
tzes gsungs so
bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa gsang ba man ngag gi rgyud
las (8a6) lugs nad gzhi‟i le‟u ste gsum pa‟o
83
84. [50] (Uma região de) terra seca (e) quente (61), e
onde, conseqüentemente, prevalece a miséria, é uma
região onde ocorre (elevação de) mkhris pa (bile), (e uma
região) úmida e oleosa (62) é uma região onde ocorre
(elevação de) bad kan.
As doenças de rlung emergem na estação chuvosa
(verão), no final da tarde e ao amanhecer (63), as doenças
de mkhris pa emergem no outono, ao anoitecer e à meia-
noite (64). As doenças de bad kan emergem na primavera,
ao anoitecer e pela manhã (65).
[55] Os três fatores que sustentam a vida
completaram-se (esgotaram-se) (66). A combinação (de
frio e quente oculta o tratamento necessário, desta forma,
o paciente) cai nas mãos do algoz (67). Mistura (de
medicamentos) semelhantes (68) (à doença sendo ela
quente ou fria). Um ponto vital é atacado (69) (por armas).
A sustentação da vida é interrompida, (porque) o tempo no
qual era possível o (tratamento) da doença causada por
rlung terminou (70). (O momento certo) (para o tratamento
de uma doença) quente foi ultrapassado (71). Ser
acometido por frio intenso (72), (porque o momento certo
para o tratamento de uma doença fria passou). Os
constituintes (corporais) não são capazes de suportar
(tratamentos médicos) (73). Perseguição aguda (74) (por
energias prejudiciais): [60] estas nove doenças que
encurtam a vida são conhecidas como fruto (o resultado).
rlung, mkhris pa e bad kan – estando equilibrados ou
não equilibrados – combinados de dois em dois – tornam-
se opostos um ao outro – de quatro (formas), resultando
em doze (causas opostas umas às outras) (75-86).
84