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A

ARTE DA URINÁLISE

            NA

MEDICINA TIBETANA


uma técnica para o auto-exame




                                5
A ARTE DA URINÁLISE
        NA MEDICINA
         TIBETANA
     uma técnica para auto-exame


        Dr. Lobsang Rapgay
            Psicologia Médica Tibetana




                  Traduzido por:
            Williams Ribeiro de Farias
            Dra. Yeda Ribeiro de Farias



             EDITORA CHAKPORI




6
© Dr. Lobsang Rapgay




                         1995
Direitos para edição em línguas portuguesa e espanhola
                     adquiridos por
                EDITORA CHAKPORI




                                                         7
AGRADECIMENTOS À PRESENTE EDIÇÃO



       Agradeço ao Sr. Lhasang Tsering, ao Venerável Dagom
Rimpoche e seu assistente Lama Tsultrim Dorge, ao Sr. Lobsang
Samten, à Srta. Nyingma Sherpa, ao Sr. Tsewang Jigme Tsarong,
Diretor do Centro Médico Tibetano em Dharamsala, à Maria do
Carmo Chagas Ribeiro e ao Sr. Sérgio Fanelli, que ajudaram a tornar
possível a edição destes livros sobre Medicina Tibetana.



                                                           O Editor
                                         Williams Ribeiro de Farias




8
PREFÁCIO


      O contínuo interesse na medicina tibetana e na
psicoterapia budista encorajou-nos a iniciar o Tibetan
Holistic Center, em Nova Delhi e expandir suas
atividades na Europa e nos E.U.A. nos próximos
poucos anos. Nossa experiência orientou-nos pela
necessidade por tal instituição, cujo objetivo primário
fosse promover a medicina tibetana no Ocidente.
Atualmente, desconsiderando as visitas ocasionais de
médicos tibetanos, não existe qualquer facilidade para
um ocidental interessado em estudar a medicina
tibetana. De fato, não há publicações compreensíveis
sobre medicina tibetana, escritas por médicos
tibetanos.
      Nosso plano inicial é promover a literatura sobre
os vários aspectos desta medicina, geralmente
práticos, e que possam ser aprendidos sem a
presença do professor. Este trabalho é o segundo
nesta série. A segunda parte de nosso programa é
organizar estágios anuais de verão, associados a
outras instituições na Europa e nos E.U.A.


1 de maio de 1986
Dr. Lobsang Rapgay




                                                     9
ÍNDICE




1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................13
1.1. IMPORTÂNCIA DO EXAME DA URINA: ...............................................................14
1.2. O QUE É URINA? ............................................................................................16
1.3. A HISTÓRIA DA URINÁLISE: .............................................................................19
2. URINÁLISE COMO TÉCNICA DIAGNÓSTICA...........................................21
2.1. COM RELAÇÃO À HISTÓRIA, AO EXAME FÍSICO E À ANÁLISE DO PULSO: ............21
2.2. EXIGÊNCIAS A SEREM OBSERVADAS:..............................................................23
3. PREPARAÇÃO .............................................................................................25
3.1. COLETA DA URINA: ........................................................................................25
3.2. RECIPIENTE:..................................................................................................26
3.3. VARINHAS PARA AGITAÇÃO: ...........................................................................26
3.4. HORÁRIO DE COLETA DA URINA:.....................................................................26
3.5. MOMENTO DO EXAME: ...................................................................................27
4. URINÁLISE BÁSICA .....................................................................................29
4.1. EXAME FÍSICO: ..............................................................................................30
  4.1.1. Coloração: ............................................................................................30
  4.1.2. Odor ......................................................................................................34
  4.1.3. Vapor ....................................................................................................35
  4.1.4. Bolhas ...................................................................................................37
  4.1.5. Turvação ..............................................................................................40
4.2. DEPÓSITOS ...................................................................................................41
  4.2.1. Albumina e outros sedimentos ............................................................41
  4.2.2. Mucina ..................................................................................................43
4.3. EXAME DA URINA APÓS TRANSFORMAÇÃO:.....................................................44
  4.3.1. Momento em que ocorre a transformação .........................................45
  4.3.2. A maneira como ocorre a transformação ...........................................45

10
4.3.3. Características clínicas pós-transformação .......................................47
5. URINA NORMAL E ANORMAL ...................................................................50
5.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA URINA NORMAL ...............................................50
5.2. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE DOENÇAS QUENTES
OU INFLAMATÓRIAS ...............................................................................................51
5.3. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE DOENÇAS FRIAS
OU NÃO-INFLAMATÓRIAS .......................................................................................52
5.4. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE RLUNG ..........................................52
5.5. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE MKRIS-PA......................................55
5.6. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE BAD-KAN .......................................56
5.7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ...........................................................................58
6. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE DOENÇAS
ESPECÍFICAS ...................................................................................................66
6.1. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE RLUNG/BAD-KAN ...........................66
6.2. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE BAD-KAN/RLUNG ...........................67
6.3.CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE BAD-KAN/MKRIS-PA .......................67
6.4. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA NO DISTÚRBIO
COMPLEXO DE BAD-KAN .......................................................................................67
6.5. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA NA GRIPE OU NO
RESFRIADO COMUM ..............................................................................................68
6.6. CÓLICA INTESTINAL .......................................................................................69
6.7. FRAQUEZA DIGESTIVA....................................................................................69
6.8. DISPEPSIA .....................................................................................................70
6.9. FLATULÊNCIA ................................................................................................70
6.10. ENTERITE ....................................................................................................70
6.11. HEPATITE ....................................................................................................70
6.12. DOENÇAS RESPIRATÓRIAS ..........................................................................71
6.13. HIPERTENSÃO .............................................................................................71
6.14. TUMORES MALIGNOS E BENIGNOS ...............................................................71
7. MÉTODO DE APRENDIZAGEM PARA INICIANTES.................................73
7.1. PRIMEIRO PASSO ...........................................................................................74
7.2. SEGUNDO PASSO ..........................................................................................74
7.3. TERCEIRO PASSO ..........................................................................................75
7.4. QUARTO PASSO.............................................................................................79
7.5. QUINTO PASSO ..............................................................................................80
7.6. SEXTO PASSO ...............................................................................................80

                                                                                                                 11
8. TESTES DA URINA ......................................................................................82
8.1. COM DROGAS PARA DETERMINAR O TRATAMENTO .........................................82
8.2. PARA DETERMINAR UM ENVENENAMENTO ......................................................82
8.3. SOM DA URINA PARA PROPÓSITOS DIAGNÓSTICOS .........................................83
8.4. SENSAÇÃO TÁTIL DA URINA PARA PROPÓSITOS DIAGNÓSTICOS ......................83
9. ESTUDO DE CASOS ....................................................................................85

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................89




12
1. INTRODUÇÃO


      A tradição médica tibetana talvez seja o menos
conhecido e o único sistema documentado de
medicina a desfrutar de uma ininterrupta continuidade
de mais de 2500 anos. De acordo com a histórica e
confiável obra, “Survey of the History of Tibetan
Medicine”, por Desi Sangye Gyatso, uma medicina
popular já era praticada no Tibete, antes que os
médicos indianos difundissem a medicina Ayurvédica.
Cerca de 200 D.C., dois médicos indianos, um casal,
Bibyi Gyadbyed e sua esposa Belha Gyad mDzema,
viajaram ao Tibete para promover a medicina
Ayurvédica, a qual tornou-se fortemente estabelecida e
popular neste país nos 400 anos que se seguiram. Do
século 7 em diante, entretanto, o Estado, que havia se
tornado muito poderoso, começou a usar sua
influência para promover o aprendizado sobre o
conhecimento médico dos países vizinhos. Os três
Dharamarajas, os reis Tsong-tsen Gompo (620-640
D.C.), Trisong Detsen (755-797 D.C.) e Tri Ralpachen,
convidaram médicos e estudiosos da Índia, China,
Mongólia, Grécia (Roma), Turquia, Pérsia, Nepal e
Kashmir para o intercâmbio de conhecimento com os
melhores médicos tibetanos. O resultado foi um
processo de integração das melhores técnicas e
práticas, de outros sistemas tradicionais, com o
sistema indiano de medicina praticado então no Tibete.


                                                    13
O processo de aprendizado e integração ocorreu
até o século 10. Após esta fase, médicos e estudiosos
tibetanos começaram a simplificar, organizar e
reinterpretar a informação médica, alinhada com o
pensamento e a filosofia budista.
       Muitas das técnicas derivadas dos outros
sistemas de medicina, por exemplo, o moxabustão que
os tibetanos assimilaram dos mongóis, foram
simplificadas para se adaptarem às suas necessidades
e foram adicionados conceitos espirituais budistas
para complementar a prática destas técnicas na
clínica.
       A medicina tibetana, portanto, emergiu como um
sistema desenvolvido, vibrante e holístico de cuidados
com a saúde até épocas bem recentes. Hoje, o
sistema é praticado de uma forma mais limitada e o
tratamento é geralmente confinado às fórmulas à base
de ervas e muitas modalidades de tratamento, tais
como a hidroterapia, massagem, fomentação,
moxabustão e outras, estão relegadas a um segundo
plano, sendo freqüentemente omitidas. Com o
crescente interesse do Ocidente pela medicina
tibetana, a oportunidade de reviver muitas destas
complexas tradições relacionadas à prática clínica está
se tornando uma realidade e o objetivo desta série
sobre medicina tibetana é um dos muitos esforços de
nossa clínica na promoção da medicina tibetana.
1.1. Importância do exame da urina:
      A urinálise é um dos quatro principais
procedimentos diagnósticos utilizados pelos tibetanos.
A técnica é originária da Grécia e Pérsia e hoje é um
dos instrumentos diagnósticos mais importantes
considerado pelo médico na clínica.

14
A urina é um fluido fisiológico de composição
muito variável produzida continuamente pelos rins, a
partir do sangue, sob condições normais. Entretanto,
uma grande quantidade de fatores, tais como dieta
inadequada, comportamento, influências sazonais,
stress e tensão, podem afetar a função dos rins na
produção da urina. Qualquer distúrbio na formação e
eliminação da urina pode levar a um mal
funcionamento dos três processos fisiológicos ou
“humores” (rLung, mKris-pa e Bad-kan) os quais, se
não corrigidos pelos mecanismos de defesa do próprio
corpo ou através de dieta e comportamentos
adequados, podem ocasionar uma patologia orgânica.
Uma vez que a urina não é composta apenas de água,
uréia e cloreto de sódio, mas também de muitas
substâncias nela dissolvidas, os médicos tibetanos
formularam técnicas diagnósticas para interpretar suas
características físicas como sinais de um estado de
saúde ou de doença.
       A urinálise é utilizada pelo médico tibetano tanto
para detectar um estado de saúde como qualquer
desvio do mesmo. É usado rotineiramente em
associação com outros procedimentos diagnósticos,
não apenas para obter informações clínicas sobre a
saúde do paciente, mas também para determinar a
natureza da doença, sua gravidade e prognóstico,
através de técnicas inteiramente diferentes do exame
de urina ocidental. Apesar de existir uma extensa
teoria para ser estudada, se praticada com cuidadosa
observação, a repetida experimentação com amostras
de urina de algumas pessoas em um período de um ou
dois meses tornará possível para o iniciante adquirir
uma idéia razoavelmente boa do mecanismo da
urinálise tibetana.

                                                      15
Fatores que enfatizam a importância da urina:
 A urina é uma das três principais matérias
  excretadas pelo corpo e seu funcionamento normal
  é fundamental para assegurar a regulação dos
  sistemas      corporais    (circulatório, respiratório,
  digestivo, etc.) que podem afetar o equilíbrio dos três
  processos fisiológicos ou “humores”.
 O corpo elimina mais sólidos pela urina do que por
  qualquer outra via, mas este é o principal meio de
  excreção de água.
 A urina pode ser conservada para diagnosticar uma
  grande variedade de distúrbios e também para
  propósitos diagnósticos utilizando uma teoria e uma
  prática clínica diferente da moderna.
 A urina é facilmente afetada pelos hábitos
  comportamentais e dietéticos, assim como pelas
  influências sazonais, por exemplo, se o indivíduo
  ingere café ou chá em excesso antes de dormir,
  particularmente se ele não o faz normalmente
  àquela hora, a urina pela manhã estará aquosa e, ao
  agitá-la, grandes bolhas do tamanho de bolas de
  gude serão formadas.
1.2. O que é urina?
      A urina é um fluido fisiológico formado pelos rins.
Após a digestão dos alimentos e bebidas, sólidos e
líquidos são separados nos intestinos. O sangue
transporta-os para diferentes partes do corpo e os
fluidos que serão eliminados são retirados pelos rins e
armazenados na bexiga para excreção. Uma vez que a
urina contém resíduos provenientes de todos os
principais órgãos e partes do corpo, os médicos
tibetanos estudam e observam cuidadosamente nove
características clínicas para relacionar a estrutura e a

16
composição de uma amostra em particular com uma
doença específica. Além disso, os depósitos que este
fluido transporta são identificados como sendo
produzidos por certos órgãos e a quantidade menor ou
maior de um determinado depósito indica condições
patológicas do órgão em particular. Por exemplo, a
presença de albumina, produzida pela bile, ajuda o
médico a determinar a situação da vesícula biliar e do
fígado. Uma quantidade excessiva de albumina na
urina indica em geral uma condição patológica de
mKris-pa e mais especificamente pode indicar um
distúrbio, funcional ou não, da vesícula biliar ou do
fígado.
       Ao mesmo tempo, a urina é um fluido em
constante transformação. Durante o decorrer de um
único dia, sua composição sofre contínuas mudanças.
Isto ocorre principalmente porque esta é a principal via
de eliminação para material residual solúvel
proveniente do metabolismo corporal. A aparência da
urina, particularmente sua coloração, turvação e
presença de mucina, por sua grande importância
clínica, deve ser considerada em termos da variação
da composição. O iniciante deve estar consciente do
fato de que a explicação teórica sobre a aparência da
urina pode ser difícilmente observada na clínica. Por
esta razão, é da maior importância que comece
examinando suas próprias amostras de urina. A idéia é
ensinar a comparar estas amostras para quem está
iniciando, e familiarizá-lo com suas muitas
características para demonstrar como a dieta, o
comportamento, as estações do ano e o stress afetam
sua composição durante um dia. Quando o iniciante
adquirir uma certa familiaridade e habilidade para
observar as diferenças visuais entre as amostras, deve

                                                     17
começar a examinar a urina de outras pessoas e
compará-las com as suas amostras. Uma vez
adquirindo habilidade para distingüir entre a urina de
uma e de outra pessoa, o iniciante pode voltar-se
realmente para o estudo da urinálise.
       A coloração da urina é resultante da presença de
pigmentos que surgem do metabolismo da bile e
provenientes da dieta. Além disso, certos vegetais,
como a beterraba, possuem pigmentos que são
absorvidos pelo intestino e excretados na urina.
Conseqüentemente, não é surpresa que as amostras
de urina possuam tal variedade de cores e
características visuais.
       Uma amostra com coloração e turvação escuras
está associada a processos inflamatórios ou quentes e
a ausência de um mínimo de pigmentos na urina, por
outro lado, indica uma doença não-inflamatória ou fria.
Fatores relacionados com a composição da urina:
 Dieta, comportamento, influências sazonais e
  medicamentos afetam a composição da urina.
 Normalmente, a coloração da urina torna-se mais
  escura com o repouso por causa da oxidação do
  urobilinogênio em urobilina.
 Em certos casos, entretanto, a urina permanece
  diluída mesmo com o repouso e isso indica
  normalmente uma doença não-inflamatória ou fria.
 Nem todas as amostras escuras de urina contém
  bilirrubina, o que significa que nem todas as
  amostras       com      tal    coloração      indicam
  necessariamente uma doença inflamatória ou
  quente.
 A amostra de urina velha contendo bilirrubina pode
  ser verde em decorrência da oxidação desta para
  biliverdina.

18
1.3. A história da urinálise:
       Desde o princípio dos tempos, o homem
manteve-se consciente de que as alterações da urina
estavam associadas com certos tipos de doenças. De
fato, as civilizações mais antigas e remanescentes
possuem alguma forma de registro demonstrando que
as pessoas estavam conscientes do seu papel na
compreensão do estado de saúde. Os babilônios,
sumerianos e indianos escreveram sobre as
características da urina e como ela poderia ser usada
no reconhecimento das doenças. De acordo com a
literatura médica tibetana, a civilização grega foi a
primeira a utilizar a urinálise baseada em uma teoria e
em um modelo médico. Os médicos Galenos e
Champashila, ambos gregos, residiram no Tibete e
ensinaram o sistema médico grego. De fato, Galenos
revolucionou a medicina tibetana quando aceitou
estudantes das classes mais baixas da sociedade, o
que não era anteriormente permitido no Tibete. Além
disso, o juramento de um médico tibetano é idêntico ao
de Hipócrates. A obra “Survey of the History of Tibetan
Medicine”, de Desi Sangye Gyatso, famoso erudito e
historiador da medicina e primeiro-ministro do Quinto
Dalai Lama, registra estas informações com detalhes
consideráveis. Além disso, outro texto, o “Manjushri
Root Sutra” menciona que enquanto os chineses
especializaram-se na acupuntura e os indianos na
herbologia, os gregos aperfeiçoaram a arte da
urinálise.
       Muito da literatura tibetana sobre o assunto pode
ter sua origem na literatura Ayurvédica. Entretanto, a
seção tibetana sobre o assunto difere bastante
daquela disponível no sistema indiano. Foram
incorporados não apenas os conceitos e as palavras

                                                     19
chinesas, a teoria elementar mãe-filho e amigo-
inimigo, mas também o uso para propósitos
diagnósticos, práticas ritualísticas e religiosas budistas.
      Muitos textos sobre urinálise foram escritos pelos
médicos tibetanos nos séculos 17 e 19, não tão bem
conhecidos como a seção do “Último Tantra” e seu
comentário, por Desi Sangye Gyatso. Há alguns
trabalhos excepcionalmente bons sobre o assunto, em
particular a obra de Zukhar Knamnyed Dorjee e
Khenrab Norbu.




20
2. URINÁLISE COMO TÉCNICA DIAGNÓSTICA



2.1. Com relação à história, ao exame físico e à
análise do pulso:
      A prática da medicina é uma arte muito pessoal –
um intenso encontro das mentes para resolver um
problema físico e emocional. Mesmo que a literatura
médica tibetana contenha uma enorme quantidade de
informações, bem organizadas e prontas para fácil
referência, para resolver os problemas clínicos
rotineiros, o profissional médico deve lidar de forma
inovadora com diagnósticos intrincados e crises
emocionais incomuns. Apesar da consulta médica ser
rigidamente estruturada, resultado final de séculos de
tentativas e erros pelos médicos, eventualmente torna-
se igualmente importante a habilidade e a perícia para
reconhecer uma doença e avaliá-la em termos das
necessidades imediatas do paciente. O resultado disso
é que, ao invés do estudante aprender a arte do
diagnóstico de uma forma rígida e organizada, os
procedimentos diagnósticos tibetanos são estruturados
de uma maneira definida e simplificada, para fácil
aplicação, sem dificultar o estudante com detalhes
sem fim. Por exemplo, diferente do exame da língua
pelo método chinês, onde dúzias de diferentes
descrições patológicas precisam ser estudadas, os
tibetanos     simplesmente      identificam   algumas
características patológicas neste órgão. Na clínica, é

                                                    21
virtualmente impossível distinguir estas inúmeras
características, considerando que a coloração da urina
é tão facilmente afetada pela alimentação, pelas
bebidas ou pelo exercício físico realizado pelo
indivíduo.
       O procedimento requerido para o diagnóstico
consiste de três partes principais. A primeira fase é o
exame do corpo através da palpação, auscultação,
exame dos olhos, nariz, ouvidos, língua, tórax, face,
catarro, fezes, vômitos, sangue e o mais importante, o
exame da urina. A segunda parte consiste do exame
do pulso e o terceiro procedimento diagnóstico é a
história e o questionamento.
       A urinálise é um procedimento normalmente
utilizado em associação com os demais métodos
diagnósticos, sendo também empregado com
finalidades prognósticas. É usado efetivamente para
confirmar um diagnóstico diferencial que tenha surgido
pela evidência conflitante do exame do pulso e o
exame superficial da língua, dos olhos, etc. Nestes
casos, é empregado para confirmar o diagnóstico
correto. Muito freqüentemente, quando o pulso não é
claro ou não pode ser lido, a urina fornece o
diagnóstico principal. Além disso, sua análise auxilia
na      determinação    da   linha    de    tratamento,
particularmente quando há complicações secundárias
que podem dificultar o médico na sua prescrição.
       Como no diagnóstico pelo pulso, as habilidades
no exame da urina podem ser adquiridas de outra
maneira que não o processo normal. Há práticas
ritualísticas especiais que exigem que o aspirante
entre em refúgio e que se submeta à prática da
meditação em uma divindade particular que o
capacitará a obter habilidades na arte da urinálise

22
espontaneamente. Tais habilidades podem ser
praticadas particularmente quando a urina é utilizada
para propósitos astrológicos e adivinhatórios, uma
característica que deixou de ser praticada pelos
médicos tibetanos de hoje.
2.2. Exigências a serem observadas:
       A concentração da urina, sua aparência e
composição variam constantemente durante o dia
dependendo parcialmente da dieta ingerida pelo
paciente e suas atividades físicas. Por exemplo, beber
chá forte, submeter-se a intenso stress e tensão
afetam a urina e impõem-lhe uma característica clínica
de rLung. A atividade física anormal pode causar
proteinúria, que é identificada pelo médico tibetano
como depósitos de mKris-pa, enquanto que, após uma
refeição pesada, a urina pode conter glicose,
identificada como depósitos de Bad-kan. Dependendo
do fluido ingerido, as subs-tâncias normalmente retidas
ou excretadas em pequenas quantidades podem
aparecer na urina em grandes quantidades e outras
normalmente excretadas podem ser retidas. A
temperatura e o clima também afetam a quantidade de
urina eliminada e a sudorese profusa reduz sua
quantidade. A ingestão de diuréticos, certas bebidas
como café, chá e álcool, assim como prurido,
nervosismo e ansiedade resultam em aumento na
excreção de urina. A produção de urina é
significantemente reduzida com a diminuição da
ingestão de líquidos e com o aumento de alimentos
salgados e azedos.
       Para    prevenir   que     fatores  secundários
influenciem na aparência e na composição da urina,
um conjunto de exigências são recomendadas para

                                                    23
serem seguidas pelo menos um dia antes do exame.
Normalmente, deveriam ser observadas três dias
antes do exame, mas pelo menos um dia é exigido
aqui. Quando o temperamento constitucional estiver
sendo diagnosticado, estas exigências devem ser
observadas por duas semanas antes da urina ser
examinada.
      As exigências principais são as seguintes:
-evitar dieta pobre em proteínas, chás fortes e vegetais
verdes leves
-evitar alimento oleoso ou excessivamente rico em
proteínas
-evitar ingestão excessiva de carboidratos simples,
como açúcar
-evitar ingestão excessiva de fluidos
-evitar relações sexuais
-evitar padrões irregulares de sono
-evitar atividades físicas estenuantes
-evitar stress e tensão
      No caso do paciente estar habituado com
quaisquer das dietas a serem evitadas, a exigência
acima não se aplica. A idéia atrás das mesmas é evitar
qualquer mudança anormal ou irregular na dieta e nos
padrões comportamentais habituais. Para observá-las,
deve-se buscar a orientação de um médico pelo
menos um dia antes da urina ser examinada.




24
3. PREPARAÇÃO


3.1. Coleta da urina:
      É extremamente importante que a urina seja
coletada em recipientes limpos. Resíduos de
conteúdos anteriores, produtos de limpeza e
desinfetantes podem contribuir para a obtenção de
dados incorretos. A grande maioria das amostras de
urina utilizadas no exame são simplesmente
eliminadas ou colhidas ao acaso. O doador é instruído
simplesmente        para     eliminá-la.      Entretanto,
tecnicamente, requisita-se que o indivíduo jejue, não
se alimentando excessivamente na noite anterior ao
exame e coletando a amostra antes do café da manhã.
Quando a atenção a tal exigência não for possível,
deve ser fornecida pelo menos uma amostra em jejum,
ou seja, colhida quatro ou mais horas após a ingestão
dos alimentos.
      Em todos os casos, deve ser coletado o jato
médio da urina. Um recipiente de coleta limpo deve
estar disponível. A primeira emissão deve ser
desprezada e quando aproximadamente metade da
urina for eliminada, sem interromper o processo da
micção, coleta-se uma porção no recipiente e o
restante do jato deve ser novamente desprezado.
Deve ser coletada pelo menos meia xícara de chá de
urina. A coleta inadequada pode invalidar os achados,
principalmente se o recipiente não estiver limpo.


                                                      25
3.2. Recipiente:
      Os recipientes utilizados são específicos e
devem estar completamente limpos e secos antes da
amostra ser coletada. Não são adequados os
recipientes que não sejam cerâmica, porcelana
chinesa ou aço polido, ou seja, são inadequados os
recipientes de barro, cobre ou ferro. A coloração do
recipiente deve ser branca, de maneira que a cor da
urina possa ser observada (tabela 1).
Tabela 1
Recipiente adequado         Recipientes inadequados
-branco                     -com perfume
-não muito profundo         -boca estreita
-limpo                      -profundo
-sem produtos de limpeza    -que     sirva   para outros
                            propósitos
-de porcelana ou cerâmica   -madeira, barro, etc.
-com boca larga             -coloridos


3.3. Varinhas para agitação:
       São utilizadas, tradicionalmente, três varinhas
retiradas das fibras usadas no fabrico da vassoura
“piaçaba” com cerca de 30 cm. de comprimento. Um
fio é amarrado firmemente a cerca de 2,5 cm. de uma
extremidade para segurar as três varinhas juntas. Na
outra extremidade as varinhas são separadas de forma
a auxiliar efetivamente na agitação da urina. Quaisquer
varinhas de madeira podem ser empregadas e pode-
se achatar as extremidades das varinhas que ficam
mais soltas para obter melhores resultados.
3.4. Horário de coleta da urina:
      Com freqüência as amostras examinadas pelo
médico são coletadas em horários inadequados, uma

26
vez que, tecnicamente, deve ser coletada a primeira
micção a partir das 4 horas da madrugada até o
horário do café da manhã. Este horário é assim
especificado porque qualquer amostra colhida antes
das 4 horas ou após a refeição, provavelmente,
conterá excreções metabólicas e renais em grandes
proporções para o volume total de urina. Além disso se
a genitália não estiver limpa, a urina pode transportar
bactérias e resíduos da área para dentro do recipiente,
o que pode causar erros na leitura. No caso de
infecções do trato gênito-urinário, recomenda-se que o
paciente lave a genitália utilizando algum tipo de
solução antisséptica.
3.5. Momento do exame:
       A urina deve ser examinada tão logo quanto
possível e, preferivelmente, no horário mais próximo
de sua eliminação. Como isto não é possível na
maioria dos casos, deve ser examinada a qualquer
momento durante o dia, de preferência pela manhã,
pois eventualmente 10 horas após a eliminação
começa a ocorrer a decomposição.
       A urina deve ser sempre examinada à luz do dia
e nunca sob luz elétrica, uma vez que a coloração da
amostra pode ser de difícil identificação sob luz
elétrica. Quando examinar a amostra dentro de uma
sala, procure fazê-lo próximo a uma janela ou porta
através da qual a luz solar penetre. Normalmente, na
Índia e no Tibete, a urina é sempre examinada do lado
de fora, na luz do dia e nunca dentro de uma sala, por
causa da falta de uma boa iluminação entre quatro
paredes.
Fatos importantes sobre a preparação para a urinálise:



                                                    27
 Certifique-se de que o paciente observou as
  exigências básicas para obter uma correta leitura da
  urina – questione-o sobre sua dieta e
  comportamento no dia anterior e observe se ele
  realizou qualquer padrão anormal.
 Certifique-se de que há urina suficiente – cerca de
  uma xícara de chá – e se o recipiente no qual o
  paciente coletou a urina estava limpo.
 Certifique-se de que foi coletado o jato médio, antes
  de uma refeição principal e de que o paciente não
  apresenta infecção no trato gênito-urinário,
  especialmente se a urina é turva e contém
  depósitos.
 Certifique-se de que as varinhas para agitação
  estejam preparadas de maneira que possam gerar,
  efetivamente, uma máxima produção de bolhas, as
  quais representam uma importante característica
  clínica a ser observada.




28
4. URINÁLISE BÁSICA


       Nove características clínicas da urina são
estudadas para formar um diagnóstico. Estes nove
itens devem ser analisados conforme a temperatura da
amostra. A urina é um fluido inconstante e tende a se
decompor rapidamente. Estas características fazem
com que o médico tibetano a analise de acordo com
sua natureza variável. As primeiras quatro
características clínicas, que são a coloração, o odor, a
turvação e as bolhas, são observadas quando a urina
está fresca. Isto porque, com a redução da
temperatura da amostra, sua coloração, por exemplo,
torna-se naturalmente mais escura por causa da
oxidação. Além do mais, a urina normal tende a
desenvolver turvação, ao permanecer em repouso na
temperatura ambiente ou sob refrigeração.
       Quando a urina está morna, as duas próximas
características clínicas, depósitos e muco, são
analisadas. Isto se deve, em parte, porque ocorre a
formação destas características apenas quando a
queda da temperatura da amostra assim permite.
Quando a urina permanece em repouso por um
momento, ela esfria e se torna morna. Então, os
depósitos se formam e se localizam em seus sítios
patológicos no recipiente onde está a amostra, e isto é
clinicamente importante para o diagnóstico correto.
Quando a temperatura da urina está reduzida, ou seja,
fria, as últimas três características clínicas são

                                                     29
analisadas. São elas: o momento em que ocorre a
mudança de coloração e turvação na urina, a maneira
como ocorre a mudança e, finalmente, as
características clínicas após tais mudanças terem
ocorrido.
4.1. Exame físico:
      Envolve o exame da aparência da urina ainda
fresca ou recente. Quando não é possível obter uma
amostra de urina fresca, recomenda-se que a mesma
seja aquecida por um minuto ou mais, dependendo do
calor aplicado, até que atinja sua temperatura
aproximadamente normal.
4.1.1. Coloração:
      Esta é a característica física mais visível da
urina. Normalmente, sua cor é amarela ou âmbar,
principalmente por causa da presença de um pigmento
amarelo, o urocromo. Durante uma patologia, a
coloração da urina sofre mudanças consideráveis,
como conseqüência da ausência de pigmentos. Os
pigmentos biliares podem gerar uma urina de
coloração marrom-amarelada ou mesmo esverdeada.
Geralmente, a amostra que permanece em repouso e
contém bile tende a tornar-se verde por causa da
oxidação de bilirrubina em biliverdina. A hemoglobina
fornece uma coloração marrom-avermelhada. A
hematúria grosseira pode ser detectada pelo exame
visual da amostra de urina. Aparece como um
pigmento vermelho ou marrom ou então a urina pode
apresentar uma aparência enfumaçada.
      A idade do paciente e as influências sazonais
afetam a coloração da urina, particularmente em casos
extremos quando, por exemplo, uma pessoa que vive
em clima úmido e morno é exposta a um clima seco e

30
quente ou úmido e frio. Normalmente, de acordo com a
literatura médica tibetana, a aparência e a composição
da urina, mesmo para uma pessoa saudável, muda
durante as estações e com a idade.
       Como é a característica mais facilmente
observável,     com      freqüência   seu    exame     é
extremamente conclusivo para se fazer um diagnóstico
geral ou confirmar um diagnóstico diferencial. Exceto
para      determinar    certas    doenças    específicas
associadas com a aparência, o iniciante não deve se
concentrar em demasia na coloração de todas as
amostras.
       Geralmente, uma urina amarela ou vermelho-
escura significa um distúrbio inflamatório ou quente,
enquanto uma urina branca ou diluída indica uma
doença fria ou não-inflamatória. Como a coloração é
freqüentemente omitida, particularmente quando há
complicações secundárias ou quando o paciente está
tomando vitaminas com corantes, é uma característica
raramente considerada para propósitos diagnósticos.
Exceto em casos definitivos tais como hematúria,
icterícia, doenças renais e outros, a coloração da urina
deveria ser estudada em termos de suas
características clínicas, combinada com outras
características físicas tais como turvação e bolhas.
Características clínicas da coloração:
 Doenças de rLung: urina de coloração pálida,
    azulada e aquosa.
 Doenças de mKris-pa em geral e virtualmente todos
    os tipos de doenças intestinais leves: urina de
    coloração amarela, como a casca de uma bérberis
    na água.



                                                     31
 Doenças de Bad-kan ou indigestão: urina de
  coloração leitosa ou semelhante a uma pasta
  calcárea.
 Hematúria e outras doenças sangüíneas incluindo
  aquelas relacionadas ao fígado: urina de coloração
  avermelhada.
 Doenças linfáticas: coloração rosa.
 Doenças de Bad-kan marrom (processo inflamatório
  abdominal incluindo ulcerações): urina de coloração
  marrom com aparência esfumaçada.
 Doenças de rLung/mKris-pa: urina de coloração
  azulada e amarelada.
 Doenças de rLung/Bad-kan: urina de coloração
  branca e azulada.
 Doenças de mKris-pa/Bad-kan: urina de coloração
  branca e amarelada.
 Doenças      de    rLung/sangue     (por   exemplo,
  hipertensão grave): coloração vermelha e azulada.
 Doenças de mKris-pa/sangue: coloração amarela e
  avermelhada
 Doenças de Bad-kan/sangue: coloração vermelho-
  esbranquiçada.
 Doenças complexas (rLung/mKris-pa/Bad-kan): urina
  amarela e azulada associada com urina de
  coloração esbranquiçada no fundo do recipiente.
 Processos infecciosos, doenças hepáticas: urina de
  coloração semelhante ao óleo de gergelim ou à
  manteiga escura.
 Febre, resfriado: urina diluída e amarelo-
  avermelhada.
 Doenças tóxicas: urina escura com as cores do
  arco-íris.
Fatores relacionados com a coloração da urina:

32
A literatura médica sobre a coloração da urina
contém cores específicas para a maioria das doenças.
Entretanto, para o iniciante é vital ser absolutamente
específico quanto à cor. Se a coloração da urina
parece pouco clara ou mesmo contrária às queixas do
paciente, ou às outras características clínicas da urina,
tais como bolhas ou turvação, descarte a coloração.
       Aprenda a reconhecer primeiramente com o que
se parece a coloração da urina, depois aprenda a
reconhecer como é a aparência geral de uma urina
anormal, comparando uma amostra normal com outra
anormal, obtendo uma idéia das diferenças entre as
duas. O próximo passo é examinar sua própria urina –
uma amostra colhida pela manhã e outra colhida à
tarde – e verifique se você é capaz de perceber
qualquer diferença na coloração. Faça isto rigidamente
durante uma semana. Então, quando estiver doente,
com uma gripe, indigestão, etc., tente examinar sua
urina e compare-a com a sua própria, normal.
       Uma vez adquirindo uma idéia grosseira de
como se parecem uma urina normal e uma anormal,
treine primeiro para distingüir entre uma amostra
proveniente de uma pessoa com uma doença fria e
outra de uma doença quente e, depois, as colorações
das urinas de distúrbios de rLung, mKris-pa, Bad-kan
em geral. Memorize as características clínicas de
colorações de urina de doenças frias, quentes, de
rLung, mKris-pa e Bad-kan e tente reconhecer estas
colorações apenas em termos de quente ou frio ou dos
três processos humorais.
       Aprenda a distingüir as diferentes colorações da
urina para doenças específicas como hematúria,
icterícia, diabetes e processos inflamatórios renais.


                                                      33
Posteriormente, aprenda como interpretar a
coloração da urina em termos de outras características
clínicas da urina, tais como odor, turvação, bolhas,
depósitos e fatores pós-transformação.
4.1.2. Odor
       Esta característica é geralmente afetada por uma
grande variedade de doenças e fatores, tais como as
diferentes dietas. A urina de um paciente diabético tem
um cheiro agradável causado pela presença de
acetona e naquele com uma infecção do trato urinário,
o odor parece podre por causa dos agentes
infecciosos. Certos alimentos podem gerar um odor
característico que precisa ser diferenciado do cheiro de
alimentos não digeridos em geral.
       Como no caso da coloração, há muitos odores
descritos para determinadas doenças nos textos
médicos tibetanos. Entretanto, o iniciante deve
concentrar-se apenas em alguns, como aqueles
característicos de doenças quentes e frias e de certas
doenças acima descritas, nas quais o odor é uma
característica. O odor para doenças quentes é forte e
penetrante enquanto nas doenças frias o cheiro está
ausente ou é mínimo.
Características clínicas do odor:
 Nas doenças inflamatórias quentes, é penetrante,
   forte e desagradável.
 Nas doenças frias ou não-inflamatórias, o odor é
   ausente ou mínimo.
 Na indigestão, o odor é o mesmo do alimento, como
   carne, vinho, trigo, etc.
 Nas lesões purulentas, a urina possui odor
   semelhante ao das secreções purulentas.


34
 Nas doenças de rLung, o odor assemelha-se a
  mofo.
 Nas doenças de mKris-pa, a urina possui cheiro de
  queimado, defumado.
 Nas doenças de Bad-kan, o odor é semelhante a
  uma infestação por piolhos (seria o odor exalado
  pelas excreções dos parasitas, após a ingestão de
  sangue).
 Nas doenças complexas, há cheiro de gordura.
 Na hematúria e outras doenças sangüíneas, o odor
  é semelhante ao do sangue.
 Nas doenças que cursam com retenção de fluidos,
  ou seja, com edema, o odor é semelhante ao das
  folhas de rabanete.
4.1.3. Vapor
       Para a observação do vapor exalado pela urina
quando está sendo eliminada ou na urina
recentemente colhida, as características mais
importantes são: a quantidade exalada e sua
velocidade de desaparecimento. Vapor em grande
quantidade indica doença inflamatória ou quente,
enquanto a moderada evaporação indica um distúrbio
inflamatório ou quente no segundo estágio. A exalação
de um mínimo de vapor indica uma doença quente
leve. O modo de determinar a quantidade é
observando quão intensamente o vapor impede a
visibilidade da coloração da urina no recipiente. Se o
vapor cobre totalmente ou quase toda a visibilidade da
urina, é considerado profuso. Se apenas uma pequena
porção da urina apresenta-se encoberta, é
considerado moderado, finalmente, se não impede a
visibilidade, é considerado suave ou não indica
qualquer patologia.

                                                    35
A velocidade de desaparecimento do vapor é o
segundo critério que serve basicamente como auxiliar
do primeiro. Se o vapor desaparece lentamente,
significa uma doença quente, enquanto que
desaparecendo em velocidade média, indica que o
distúrbio inflamatório quente está no segundo estágio.
Se o vapor desaparece rapidamente, a doença quente
é leve ou não está presente.
       Para    se    determinar    a velocidade de
desaparecimento, deve-se observar quanto tempo
permanece o vapor após a urina ter sido eliminada. Se
demorar mais do que 20 a 30 segundos após a
eliminação – tradicionalmente, isto é determinado
observando a presença de vapor quando a urina
começa a sofrer uma mudança em sua turvação – a
velocidade é considerada lenta (condição inflamatória
ou quente grave). Se o vapor desaparece após 10 a 15
segundos, significa um segundo estágio ou uma
doença      quente      moderada.    Se   desaparecer
instantaneamente, ou logo após ter sido eliminada, isto
significa que não há doença ou que o processo
inflamatório é leve.
- Características clínicas do vapor:
 Doenças inflamatórias ou muito quentes: vapor
   profuso que permanece.
 Doença inflamatória ou quente no segundo estágio:
   vapor moderado.
 Doença inflamatória levemente quente ou urina
   normal: vapor mínimo.
 Doença fria ou não-inflamatória: quantidade de
   vapor não considerável, o mínimo presente não
   permanece, desaparecendo instantaneamente após
   a eliminação da urina.


36
 Doença inflamatória oculta (refere-se ao processo
  inflamatório de um órgão frio) ou processo
  inflamatório crônico: quantidade moderada de vapor
  que permanece por 20 a 30 segundos após a urina
  ter sido eliminada.
 Distúrbio combinado quente e frio: quantidade
  variável de vapor (pode apresentar-se profuso ou
  mínimo durante a mesma micção).
4.1.4. Bolhas
        O tamanho das bolhas, sua coloração,
quantidade e a maneira como aparecem, permanecem
e desaparecem são as principais características a
serem observadas. Para realizar uma observação
clínica, é absolutamente necessário produzir a máxima
quantidade de bolhas. Isto é feito efetivamente através
de      varinhas   apropriadas,      como    detalhadas
anteriormente. Os estudantes com freqüência
negligenciam a necessidade da máxima produção de
bolhas e o resultado é uma leitura incorreta das
características da urina. Certifique-se de que as
varinhas sejam compridas, distribuídas de forma a
facilitar a agitação e, acima de tudo, agite
vigorosamente durante 15 segundos, cada vez que as
bolhas forem examinadas. O exame das bolhas pela
agitação deveria ser realizado pelo menos três vezes
para conseguir uma boa leitura visual.
        As bolhas são a característica clínica mais
confiável e, para o iniciante, a mais importante por
causa de sua fácil visibilidade. É da maior importância
concentrar-se nas bolhas, particularmente o iniciante,
para progredir na arte da urinálise.
        O primeiro passo é analisar o tamanho das
bolhas, para depois avaliar a quantidade, a coloração

                                                    37
e, finalmente, a velocidade de desaparecimento das
bolhas.
       Quanto ao tamanho, as bolhas de rLung
assemelham-se a grandes bolas de gude ou aos olhos
de um boi; as bolhas de mKris-pa são do tamanho de
uma cabeça de alfinete e as de Bad-kan, menores que
a cabeça de alfinete. A forma de diferenciar as bolhas
de mKris-pa e as de Bad-kan é a natureza congesta
das últimas, que formam mais de duas camadas sob
agitação, sendo mais profusas e produtivas; as bolhas
de mKris-pa são mais separadas, apesar de mais
uniformes e sob agitação não formam mais que uma
ou duas camadas sobre a superfície. As bolhas de
rLung não são profusas e normalmente não cobrem
toda a superfície da urina. Tendem a aparecer mais
erraticamente, podem desaparecer imediatamente ou
permanecer, dependendo de outras patologias
secundárias. Já as bolhas de mKris-pa são mais
profusas, não formam mais que uma única camada
sob agitação, possuem estrutura mais consistente e
uniforme e cobrem toda a superfície da urina. As
bolhas de Bad-kan são ainda mais profusas e
congestas, mas menos uniformes na formação do que
as de mKris-pa.
       Ao observar a coloração das bolhas, agite
vigorosamente a amostra para que se formem
profusamente. Incline o recipiente de forma que as
mesmas possam ser observadas contra a luz. Um
ponto importante a ser lembrado é que a análise da
coloração da urina é, freqüentemente, enganadora.
Apesar de parecer amarelo-avermelhada, a coloração
real pode não ser esta. Nestes casos, há duas
maneiras de fazer uma análise mais correta. A
primeira é inclinar o recipiente e analisar a coloração

38
da amostra em sua margem, contra as paredes do
recipiente (diagrama 1). Outra maneira é estudar a
coloração das bolhas formadas. Na maioria dos casos,
através da coloração das bolhas não é possível
determinar que exista uma patologia fria, ou seja, não-
inflamatória, ou mesmo uma complicação fria a nível
secundário. Para identificar qual a coloração das
bolhas, recorra à seção correspondente já descrita. As
descrições da coloração da urina lá mencionadas
aplicam-se igualmente à coloração das bolhas.
       A permanência das bolhas são indicativas de
patologia e esta característica deve ser observada
cuidadosamente. As bolhas em uma amostra de
distúrbio de mKris-pa tendem a desaparecer
instantaneamente após a interrupção da agitação e
desaparecem de maneira uniforme, enquanto as
bolhas de Bad-kan permanecem muitos minutos após
haver cessado a agitação. No caso das bolhas de
rLung, as menores tendem a permanecer, mas as
grandes desaparecem rapidamente. Quando as
pequenas e as grandes bolhas permanecem por algum
tempo, podem indicar uma patologia de rLung com
característica de uma doença fria, quando comparadas
com uma doença de rLung, quente, na qual as bolhas
grandes e pequenas desaparecem rapidamente após a
agitação.
-Características clínicas das bolhas:
 Doenças de rLung: bolhas azuladas, grandes, do
   tamanho de bolas de gude, que aparecem, após
   agitação, entre pequenas bolhas, sem uniformidade
   e que permanecem por um momento.
 Doenças de mKris-pa: bolhas transparentes,
   amarelas ou vermelhas, do tamanho de cabeças de
   alfinetes, que cobrem a superfície da amostra

                                                    39
uniformemente, com não mais que uma única
     camada, e desaparecem rapidamente de maneira
     uniforme após a agitação.
    Doenças de Bad-kan: menores do que a cabeça de
     um alfinete, espessas e aquosas, congestas,
     formam muitas camadas sobre a superfície após
     agitação e permanecem por longo tempo.
    Distúrbio de Bad-kan nos pulmões: pequenas bolhas
     azuladas.
    Flatulência e patologias de baço: bolhas brancas,
     grandes e arredondadas.
    Hematúria ou qualquer outra doença sangüínea:
     bolhas de coloração avermelhada.
    Envenenamento: bolhas coloridas como arco-íris.
    Doença fria ou quente difusa de natureza
     psicossomática: bolhas de formação errática que
     desaparecem sem uniformidade, em todas as
     direções.
    Retenção de fluidos como edema, anemia e
     anasarca: aumento progressivo das bolhas sob
     agitação que cobrem todo o recipiente, encobrindo a
     urina.
4.1.5. Turvação
      Apesar de não ser mencionada separadamente
das demais aparências da urina, a turvação é uma
importante característica clínica para determinar a
natureza de um distúrbio. Uma urina concentrada,
turva, indica uma doença inflamatória ou quente,
enquanto uma amostra diluída, aquosa, indica uma
doença não-inflamatória ou fria. Quando há um conflito
entre a análise da coloração e das bolhas, por
exemplo, observe a turvação da urina para determinar
qual das duas é correta (diagrama 2). Para utilizar

40
quaisquer das características clínicas e determinar as
que são contraditórias, é importante checar se o
paciente seguiu as exigências, se coletou a urina de
maneira apropriada e se o fez no horário indicado.
4.2. Depósitos
      A urina contém incontáveis substâncias
dissolvidas e, no caso de condições patológicas, pode
reter muitas delas, excretá-las normalmente ou
também eliminar aquelas que normalmente tende a
reter. Como os tibetanos consideram-na como
ferramenta no diagnóstico, podem relatar apenas
aquelas substâncias que são visíveis a olho nu. Os
depósitos na urina são classificados em dois amplos
grupos: albumina e demais sedimentos relacionados e
a viscosidade formada na superfície da urina.
4.2.1. Albumina e outros sedimentos
       As características principais a serem observadas
são a estrutura dos sedimentos, sua quantidade, área
de formação sobre a superfície da urina e sua
transformação após o resfriamento da amostra
(quando o vapor desaparece). Normalmente, quando a
albumina ou o sedimento é espesso, concentrado,
profuso, geralmente encobrindo o fundo do recipiente,
distribuindo-se no centro do recipiente de maneira
unida e não desenvolvendo qualquer mudança na
composição, após a urina ter esfriado, está indicando
uma patologia inflamatória ou quente. Por outro lado,
quando os sedimentos são delgados, desunidos,
mínimos e diminuem quando a urina esfria, estão
indicando uma doença não-inflamatória ou fria
(diagrama 3).
-Características clínicas dos sedimentos:


                                                    41
 Doenças de rLung: sedimentos finos como cabelos,
  difusos na urina.
 Doenças de mKris-pa: sedimentos profusos,
  espessos, como nuvem, localizados no centro do
  recipiente como um chumaço de algodão
  obscurecendo o fundo do mesmo.
 Doenças de Bad-kan: grânulos pequenos, pouco
  visíveis a olho nu, difusos por toda superfície da
  urina.
 Patologia quente ou inflamatória dos pulmões:
  sedimentos branco azulados que se assemelham a
  nuvens e que flutuam na superfície da urina.
 Processo purulento no corpo: depósitos purulentos.
 Doenças renais: grânulos azul-esbranquiçados,
  como areia no fundo do recipiente.
 Dependendo do local onde se formam, pode-se
  identificar a localização do distúrbio. Se os
  sedimentos formam-se próximos à superfície da
  urina, o distúrbio localiza-se na região superior do
  corpo, órgãos e partes do corpo acima do diafragma,
  tais como coração e pulmões. Se os sedimentos
  aparecem na região média do recipiente, as
  doenças envolvem órgãos da região intermediária
  do corpo, tais como, estômago, intestinos, baço,
  vesícula biliar e fígado, enquanto que os sedimentos
  que aparecem mais inferiormente ou no fundo do
  recipiente representam distúrbios da região inferior
  do corpo como trato urinário, rins e extremidades
  inferiores.
      Deve-se ter em mente o seguinte para obter um
diagnóstico diferencial:




42
-Quando os sedimentos possuem a mesma forma, e
tendem a se difundir uniformemente na urina, indicam
uma saúde boa ou normal.
-Sedimentos semelhantes a iogurte fermentado na
água, que se espalham em pedaços sobre toda a
amostra de urina, indicam um desequilíbrio de rLung
causado por doença quente ou fria – os sintomas
podem indicar uma doença quente com complicações
frias secundárias e o desequilíbrio de rLung é a causa
raiz.
-Em casos onde surgem tanto complicações quentes
quanto frias e os sedimentos parecem ser inicialmente
espessos, localizados no centro, indicando um
possível distúrbio quente, aguarde e observe o
sedimento depois do resfriamento. Se os sedimentos
diluem e desintegram, a doença é de natureza fria. Por
outro lado, se os sedimentos aparecem difusos e
delgados, quando a urina está morna ou fresca, mas
quando esfria tornam-se espessos e concentrados no
centro da urina, a doença é quente.
-Quanto à coloração dos sedimentos, eles são
determinados pela coloração da urina. Por exemplo, se
a coloração é vermelha, os sedimentos parecem desta
cor. Por exemplo, se a coloração da urina e os
sedimentos são vermelhos também, o distúrbio em
questão é quente ou inflamatório.
4.2.2. Mucina
      Tanto os sedimentos como a mucina são
observados quando a urina está morna. Esta
denominação “mucina” está descrita nos textos
médicos como “creme”, como a nata que se forma na
superfície do leite fervido. Se a formação viscosa é
espessa e localizada no centro da superfície da urina,

                                                    43
isto indica a presença de doenças inflamatórias ou
quentes; se for delgada e difusa, indica distúrbio frio ou
não-inflamatório.
-Características clínicas da mucina:
 Infecção ou febre severa: mucina espessa, profusa,
   que não pode ser removida com um coador ou com
   a ponta de uma faca.
 Saúde normal: quando a mucina apresenta cheiro
   de queimado quando aquecida.
 Deficiência de nutrientes corporais (tal deficiência
   pode ser corrigida com a ingestão de Acorus
   calamus, salamin indiano, a fruta da Terminalia
   chebula e resina mineral): quando não há cheiro de
   queimado ao ser aquecida.
 Tumores tanto malignos quanto benignos: a mucina
   se espalha na superfície da urina em pequenos
   pedaços.
 Em uma amostra de urina cuja aparência indica um
   distúrbio frio e que não sofre alteração após o
   resfriamento, adicione noz-moscada em pó,
   cardamomo, Strychnos nux-vomica, pimenta e dente
   de leão e aqueça-a até sua temperatura normal.
   Deixe que a amostra esfrie e então observe a
   presença de mucina.
 Em uma amostra de urina cuja aparência indica um
   distúrbio quente e que não sofre alteração com o
   resfriamento, adicione porções iguais de cânfora,
   sândalo, genciana e ferva a amostra. Deixe esfriar e
   observe a mucina.
4.3. Exame da urina após transformação:
       Este exame é conduzido quando a urina torna-se
fria. A forma de determinar a alteração é através da
observação do total desaparecimento do vapor e calor

44
da urina. Há três características clínicas a serem
observadas após o esfriamento da amostra: o
momento em que tais mudanças ocorrem, a maneira
como ocorrem e, finalmente, as características clínicas
da urina após as alterações.
       A maioria das traduções de textos tibetanos
sobre urinálise escritos no passado, identifica
incorretamente as alterações na coloração da urina
quando esta esfria. As mudanças não se referem à
coloração da urina e sim à turvação durante a
passagem do estágio quente para o frio. Mesmo a
urina normal tende a desenvolver uma turvação ou sob
refrigeração ou simplesmente ao permanecer à
temperatura ambiente. Por outro lado, certas urinas
patológicas tendem a perder sua turvação inicial e
tornam-se diluídas.
4.3.1. Momento em que ocorre a transformação
      O momento em que ocorre a mudança na
composição da urina é determinado antes ou depois
do desaparecimento do vapor. Se a urina muda antes
que o vapor desapareça, quando a amostra ainda está
quente, a doença é um processo inflamatório ou
quente. Se a urina muda após o desaparecimento do
vapor, quando a amostra esfria, é um distúrbio não-
inflamatório ou frio. Se a mudança ocorre quando o
vapor já desapareceu e a urina já esfriou, indica um
distúrbio combinado frio e quente.
4.3.2. A maneira como ocorre a transformação
      A mudança na turvação da urina é determinada
pela observação do local de início e de término na
mudança na superfície da urina. Quando ocorre em
qualquer parte da superfície, que parece mais diluída
que as demais, e caminha progressivamente para a

                                                    45
parte mais turva da urina, isto indica uma doença fria
ou não-inflamatória. Quando a mudança ocorre,
progressivamente, da região mais inferior do recipiente
para a superior, indica uma doença inflamatória no
primeiro estágio. Estas são as alterações que ocorrem
na urina de doenças quentes, normalmente. Quando a
alteração ocorre rapidamente das bordas do recipiente
para o centro, como quando uma agulha fina ou uma
varinha é mergulhada no centro da amostra, isto indica
uma infecção ou uma febre crônica.
-Características clínicas importantes:
 Quando a albumina ou outros sedimentos mudam
   sua composição no momento em que desaparece o
   vapor e a urina esfria, antes que ocorram mudanças
   na turvação da urina, isto é indicativo de uma
   doença combinada, fria e quente.
 Em certos casos, a turvação da urina não se altera.
   Nas      doenças      inflamatórias   ou    quentes
   disseminadas, apesar da aparência e outras
   características clínicas da urina indicarem um
   distúrbio quente, a turvação não sofre alterações.
   Nas doenças crônicas não-inflamatórias ou frias ou
   nos casos de diarréia crônica, de causa não-
   inflamatória ou fria, apesar das características
   clínicas gerais da urina indicarem um distúrbio frio,
   não há alteração da turvação. Quando houve
   excesso de relações sexuais na noite anterior ao
   exame, a turvação não se altera. O mesmo ocorre
   nas doenças inflamatórias ou quentes que
   acometem o sistema linfático. No caso de uma
   pessoa saudável cuja urina normalmente não se
   altera, a mudança indica uma condição patológica.



46
4.3.3. Características clínicas pós-transformação
       Tais características devem ser observadas
depois que a urina esfriou. Devem ser observadas as
seguintes características:
-coloração
-odor
-bolhas
-turvação
-depósitos (albumina e outros sedimentos e a mucina)
       Entretanto,     nenhuma         destas      quatro
características      deveriam       ser     interpretadas
isoladamente. Melhor do que interpretar apenas uma
delas, faça-o em combinação com a turvação ou com
outras características clínicas da urina.
-Importantes características clínicas:
 Doenças inflamatórias ou quentes: independente da
   coloração, a urina pós-transformação é turva.
 Doenças não-inflamatórias ou frias: se a urina pós-
   transformação é diluída e aquosa.
 Doença inflamatória ou quente grave: quando a
   urina se torna excessivamente turva ao esfriar.
 Doença não-inflamatória ou fria: quando a urina se
   torna excessivamente diluída ou aquosa ao esfriar.
 Urina saudável: normalmente uma amostra diluída
   de coloração amarelada ou âmbar claro.
 Urina de lactente: turva e leitosa.
 Doenças renais: urina turva e repleta de bactérias.




                                                      47
Diagrama 1: Incline o recipiente para observar a
                  coloração real




              Diagrama 2: Turvação


48
Diagrama 3

             49
5. URINA NORMAL E ANORMAL


 5.1. Características gerais da urina normal
-Coloração âmbar ou amarelada clara.
-Odor pútrido ou sem qualquer sensação penetrante.
-Vapor não excessivamente profuso nem mínimo, que
não permanece durante muito tempo nem desaparece
instantaneamente após a urina ter sido eliminada.
-Bolhas nem muito grandes, como as de rLung, nem
pequenas, como no caso de Bad-kan – são de
tamanho moderado, como uma ervilha, em quantidade
moderada sob agitação, não produzindo mais que uma
camada, espalhadas uniformemente sobre toda a
superfície     da     urina.    Não       desaparecem
instantaneamente nem permanecem totalmente após a
agitação.
-Albumina e outros sedimentos: Quando a urina está
morna, a coloração torna-se levemente azulada e
amarela e os sedimentos são de tamanho uniforme,
em quantidade moderada e espalhados sobre toda a
superfície da amostra.
-Mucina: Uma fina camada de mucina espalha-se
sobre a superfície da urina.
-Momento em que ocorre a mudança: Quando o vapor
desaparece e a urina esfria, começa a ocorrer uma
alteração na turvação da mesma.
-Maneira como ocorre a mudança: Da periferia para o
centro do recipiente.


50
-Características pós-transformação: A coloração é
esbranquiçada (aquosa) e levemente tingida de
amarelo. Quanto à turvação, a urina é clara e diluída.
-Características clínicas importantes:
 Nas gestantes, a urina que apresenta coloração
  azulada, como a de um oceano, associada a outras
  características normais, é considerada normal.
 Lembre-se que a urina de um indivíduo
  constitucionalmente rLung é levemente azulada; a
  de um indivíduo mKris-pa é levemente amarelada e
  a de um indivíduo constitucionalmente Bad-kan é
  levemente esbranquiçada em seu estado normal.

     Uma urina anormal pode ser melhor explicada
em termos de suas características quentes ou frias e
de seus três tipos humorais.

5.2. Características clínicas da urina de doenças
quentes ou inflamatórias
-Coloração: vermelha ou amarela.
-Odor: malcheirosa, forte e penetrante.
-Vapor: intenso e permanece muito tempo depois que
a urina foi eliminada.
-Bolhas: pequenas, finas e transparentes, amareladas,
em quantidade excessiva, que desaparecem
instantaneamente após a urina ter sido eliminada ou
agitada.
-Turvação: concentrada e espessa, encobre o fundo
do recipiente.
-Albumina e outros depósitos: espessa e concentrada
no centro da amostra.
-Mucina: espessa e concentrada no centro da amostra,
em grupos separados.


                                                    51
-Momento da transformação: a urina sofre alteração
em sua turvação antes que o vapor desapareça e
esfrie.
-Maneira como ocorre a transformação: da parte
inferior do recipiente para cima, para a superfície.
-Características        pós-transformação:       torna-se
escurecida (marrom) e turva e no fundo do recipiente
pode haver uma formação lodosa.
5.3. Características clínicas da urina de doenças
frias ou não-inflamatórias
-Coloração: branca ou azulada.
-Odor: ausente ou mínimo.
-Vapor: quantidade moderada ou pequena, que
desaparece após a urina ter sido eliminada.
-Bolhas: de tamanho pequeno e grande que
permanecem bastante tempo após a agitação.
-Turvação: diluída e aquosa
-Albumina e outros sedimentos: ralo e mínimo.
-Mucina: rala e mínima.
-Momento da tranformação: ocorre depois que a urina
esfria.
-Maneira como ocorre: de qualquer parte da superfície
da urina, em direção à região onde é mais turva.
-Características pós-transformação: azulada e diluída.
5.4. Características clínicas da urina de rLung
-Coloração: azulada, aquosa.
-Odor: leve ou ausente.
-Vapor: moderado e desaparece após a urina ter sido
eliminada.
-Bolhas: tão grandes como os olhos de um boi,
permanecem por algum tempo, após a urina esfriar ou
ser agitada e depois desaparecem, enquanto as


52
bolhas de tamanho moderado podem permanecer por
um longo período (diagrama 4).
-Sedimentos: semelhantes a fios de cabelo espalhados
por toda a urina.
-Mucina: ausente.
       Além das características clínicas acima, observe
as bolhas, depois a turvação e a coloração como as
mais importantes na determinação do diagnóstico.
Apesar das bolhas de rLung serem descritas como
grandes, não significa que todas sejam assim. Na
verdade, a maioria das bolhas são de tamanho
moderado (como ervilhas) e ao agitar, formam-se
algumas bolhas grandes entre as demais.
Normalmente, as grandes bolhas de rLung surgem
apenas durante a agitação e tendem a aumentar nas
próximas agitações. Quando apenas duas ou três
bolhas grandes surgirem sob agitação e não
aumentarem nas posteriores, isto pode indicar que o
distúrbio de rLung existe em um nível secundário.
       Normalmente, a urina de rLung é azulada, clara e
grandes bolhas aparecem à agitação e, então, ou
desaparecem ou permanecem por um longo tempo.
Geralmente, a urina de rLung, que é classificada como
fria, torna-se mais diluída quando permanece em
repouso e as bolhas também permanecem por um
momento, antes de estourarem. Entretanto, quando a
urina não é azulada e clara e as bolhas de rLung não
permanecem e desaparecem instantaneamente após a
agitação, isto indica que o distúrbio de rLung é
secundário a uma doença quente ou inflamatória.
Outra forma de fazer tal distinção é através da
observação da transparência das bolhas. Se as bolhas
de rLung são claras e transparentes, significa que o
distúrbio está associado a uma doença quente ou

                                                    53
inflamatória e se forem espessas e opacas, indica uma
doença não-inflamatória ou fria. No último caso, tente
clarear a formação de bolhas densas com as varinhas
para agitação. As bolhas permanecerão e impedirão a
visibilidade da urina.
       Com freqüência, a coloração da urina de rLung
será contrária às outras características clínicas
próprias de rLung. As bolhas e a turvação podem
indicar uma patologia de rLung, mas a coloração pode
ser amarelada. Em tais casos, como rLung é o
principal distúrbio envolvido, está claro que há um
componente inflamatório ou quente ou o envolvimento
de um órgão quente como o fígado – neste caso, o
diagnóstico seria um distúrbio relacionado com c’hi ou
rLung localizado no fígado – ou uma possível infecção.
Quando todas as outras características forem
semelhantes às já citadas, se a coloração da urina for
levemente amarelada, considere a possibilidade de
uma hipoglicemia.
       As influências sazonais e dietéticas podem
causar, com freqüência, erros de leitura. No verão,
mesmo a urina fria pode adquirir uma coloração
levemente tingida em conseqüência das influências
externas da temperatura sobre o corpo e, igualmente,
no inverno, a urina quente pode adquirir uma tendência
a se tornar mais aquosa. De maneira semelhante,
exercícios excessivos e ingestão de alimentos
picantes, aos quais o indivíduo não esteja habituado,
podem fazer com que uma urina fria adquira coloração
amarelada. Da mesma forma, uma pessoa ativa que
não se exercita como o habitual e se alimenta com
uma dieta pouco nutritiva, por exemplo, constituída de
carboidratos simples, produzirá uma urina aquosa.


54
5.5. Características clínicas da urina de mKris-pa
-Coloração: vermelha ou amarela, chocolate ou
oleosa.
-Odor: forte, penetrante e freqüentemente malcheiroso.
-Vapor: profuso e permanece por longo tempo.
-Bolhas: profusas, pequenas (do tamanho de uma
cabeça de alfinete ou menor), não congestas como as
bolhas de Bad-kan (não formam muitas camadas) e
desaparecem instantaneamente após a agitação
(diagrama 5).
-Albumina e outros sedimentos: espessa, abundante,
em formações únicas e escuras e ocultas na parte
central da superfície da urina.
-Mucina: formação cremosa única, muito visíveis e
localizadas na parte central da superfície da urina.
-Momento em que ocorre a transformação: antes da
urina esfriar e do vapor desaparecer completamente.
-Maneira como ocorre: da parte inferior da urina em
direção à superfície.
-Características pós-transformação: urina com aspecto
turvo, amarelo-avermelhada, com pequenas bolhas
que desaparecem instantaneamente após a agitação.
-Características clínicas importantes:
 Enquanto a coloração em certas doenças gerais e
   específicas é conclusiva, no caso dos distúrbios de
   mKris-pa, a turvação, o vapor e as bolhas são as
   características clínicas mais significativas. A
   coloração, por outro lado, é enganosa e, com
   freqüência, possui valor clínico apenas quando
   combinada com outras características, em particular
   a turvação.
 A maneira de medir a turvação da urina é através de
   um treinamento de observação para comparar a


                                                    55
limpidez do fundo do recipiente em diversas
  amostras de urina. Normalmente, quanto maior a
  turvação, mais obscuro é o fundo do recipiente. Esta
  habilidade para a observação é adquirida utilizando
  cinco espécimes diferentes de urina e observando a
  falta de clareza no fundo do recipiente em cada
  amostra e depois comparando-as, treinando os
  olhos a fazer tais distinções por um processo de
  observação repetida de várias amostras de urina.
 Se a urina apresentar-se clara, e o fundo do
  recipiente puder ser claramente observado, de
  maneira semelhante à água, a doença é do tipo frio
  ou não-inflamatório.
 Com freqüência, a urina amarelada ou mesmo
  avermelhada pode ser enganosa. Para determinar a
  coloração, incline o recipiente levemente e observe
  a coloração da borda da urina sobre o lado inclinado.
  Se estiver aquosa e clara, apesar da urina em geral
  possuir uma coloração amarelada ou avermelhada,
  a doença pode ser considerada fria ou não-
  inflamatória, ou deve-se à existência de uma
  complicação fria primária ou secundária.
5.6. Características clínicas da urina de Bad-kan
-Coloração: branca como leite, mas freqüentemente
pode parecer água.
-Odor: mínimo ou ausente, no caso de indigestão,
pode apresentar o odor do alimento.
-Vapor: mínimo.
-Bolhas: pequenas, congestas, abundantes que
permanecem por longo tempo e aumentam com a
agitação (diagrama 6).
-Albumina e outros sedimentos: mínimos ou ausentes,
mas grânulos de areia podem estar presentes no fundo

56
do recipiente nas doenças renais e metabólicas por
Bad-kan.
-Mucina: geralmente ausente.
-Momento em que ocorre a transformação: após o
desaparecimento do vapor e quando a urina torna-se
fria.
-Maneira como ocorre: da periferia para o centro.
-Características       pós-transformação:       branca,
geralmente clara, congesta e as bolhas aumentam e
permanecem.
-Características clínicas importantes:
 As bolhas são a principal característica a ser
   observada na urina de Bad-kan. São diferentes
   daquelas de mKris-pa apesar de apresentarem
   quase o mesmo tamanho. As bolhas de Bad-kan
   formam ilhas como unidades de bolhas congestas
   que tendem a aumentar com a agitação.
 Quando a urina apresenta bolhas congestas que
   aparecem sem agitação, que aumentam rapida e
   progressivamente, cobrindo toda a superfície da
   urina com várias camadas de bolhas, está indicando
   um distúrbio de Bad-kan envolvendo seu
   componente água. Isto significa que a quantidade de
   fluidos corporais está excessiva, resultando em
   edema (retenção).
 Não são todos os casos em que as bolhas de Bad-
   kan se apresentarão profusas e crescentes. Por
   exemplo, nas úlceras abdominais (distúrbio de Bad-
   kan marrom), enquanto o tamanho e sua natureza
   congestionada (descritas como espuma na água)
   são características de Bad-kan, a quantidade de
   bolhas não aumenta necessáriamente com a
   agitação. Além disso, a coloração da urina nestes
   casos será amarelo-escura e amarelo-avermelhada,

                                                    57
o que indica a presença de processo inflamatório ou
     uma patologia quente.
5.7. Diagnóstico diferencial
       Uma vez que a urina é um fluido instável,
facilmente influenciado por dieta, calor, corantes e
medicamentos, a parte mais importante da urinálise,
após a trabalhosa obtenção do conhecimento sobre as
doenças quentes e frias nos distúrbios de rLung,
mKris-pa e Bad-kan, devem ser observadas as
características diferenciais da amostra e deve-se
aprender como distingüi-las. Com freqüência, o
iniciante enfrentará muitas dificuldades. Ele deverá
observar as fases e, novamente, a inconstância entre
as várias características clínicas da urina, tornando
extremamente difícil para ele formar uma opinião sobre
as condições da patologia do paciente. O tempo e a
experiência, garantem muitos médicos experientes,
são importantes para dominar esta dificuldade.
Entretanto, partindo de minha experiência pessoal, a
urinálise também é uma habilidade que pode ser
adquirida muito facilmente quando as técnicas e os
métodos são explicados claramente e demonstrados
passo a passo. Infelizmente, existe muito misticismo
em torno dos procedimentos diagnósticos, assim como
da medicina tibetana em geral. O ponto importante a
ser lembrado é que a arte da urinálise é de origem
grega e, portanto, possui o conceito ocidental do
reducionismo integrado à sua prática.
-Diagnóstico diferencial pela coloração:
       A urina esbranquiçada, azulada e aquosa, com
albumina e outros sedimentos em abundância indica a
presença de processo inflamatório ou quente. Observe
que, apesar da coloração ser característica de uma

58
patologia fria ou não-inflamatória, a presença de
albumina e outros depósitos (espessos e profusos)
indicam um processo primário quente ou inflamatório.
       A coloração amarelo avermelhada com odor
mínimo, ou ausente, com particularmente nenhuma
albumina ou outros sedimentos indicam doença fria ou
não-inflamatória. Apesar da cor ser característica de
distúrbio quente, a ausência de albumina e de odor
indicam a presença de um processo frio ou não-
inflamatório.
       Tenha sempre em mente as influências sazonais
e dietéticas sobre a coloração. É crucial obter
informações da história e do questionamento para uma
análise adequada da urina.
-Diagnóstico diferencial pelas bolhas:
       A urina que apresenta a maioria das
características clínicas de um processo inflamatório ou
quente, mas não produz bolhas com a agitação, indica
um distúrbio quente oculto (doença inflamatória
localizada profundamente, sem quaisquer sintomas).
       A amostra de urina branca ou azulada, com a
maioria das características clínicas de um processo
não-inflamatório, mas que não forma bolhas com a
agitação, indica uma doença fria crônica ou diarréia
crônica.
-Diagnóstico diferencial do momento em que ocorre a
transformação da urina:
       A urina amarelo-avermelhada, que apresenta a
maioria das características clínicas próprias de um
distúrbio quente ou inflamatório, na qual a
transformação ocorre após o desaparecimento do
vapor e o esfriamento, indica doença inflamatória ou
quente oculta (refere-se à doença inflamatória que não
se manifesta com sinais e sintomas).

                                                    59
A urina branca azulada com características
clínicas de um processo frio ou não-inflamatório, na
qual a transformação ocorre antes que o vapor
desapareça e antes do esfriamento, indica um
distúrbio quente ou inflamatório oculto (patologia
quente ou inflamatória ocultada por um distúrbio frio ou
não-inflamatório,    por    exemplo,     uma      doença
inflamatória em um órgão constitucionalmente frio
como os rins).
-Diagnóstico diferencial da mucina:
       A amostra que apresenta todas as características
de uma urina quente, particularmente com mucina
espessa e abundante indica uma deficiência
nutricional.
       A amostra com todas as características de uma
urina fria exceto pela formação abundante de mucina
indica indigestão.
-Diagnóstico diferencial das doenças:
       No caso de patologias pós-febris ou pós-
infecciosas e distúrbios do sangue, como a hematúria,
a coloração da urina é vermelha. Nas doenças do
sangue, além de ser vermelha, a amostra será turva
com depósitos e mucina no centro do recipiente e com
pequenas bolhas que desaparecem. No caso de um
distúrbio pós-febril ou pós-infecciosa, apesar de
avermelhada, é diluída, aquosa e com bolhas grandes.
       Nos distúrbios de Bad-kan marrom (doenças
ulcerativas da região gastro-intestinal) e de linfa negra
(infecção e inflamação do sistema linfático) a
coloração é marrom ou amarelo-escuro. Na urina de
Bad-kan marrom, o odor é forte e freqüentemente
malcheiroso e a amostra é turva. Na urina de linfa
negra a coloração é diluída e apresenta uma tintura
rósea.

60
Nas doenças renais, hepáticas e esplênicas a
urina é avermelhada. Nas doenças renais, apresenta-
se turva e avermelhada com sedimentos localizados
no fundo do recipiente. No caso das doenças
hepáticas, a urina é vermelho-escura, com sedimentos
espalhados por toda a amostra, além de ser clara e
menos turva que aquela das doenças renais. No caso
da urina de distúrbios esplênicos, a coloração
apresenta-se avermelhada, com um matiz esverdeado
ou pode ser avermelhada, mas clara, diluída e com
sedimentos localizados na parte média do recipiente.
       Na febre oculta ou em um processo infeccioso,
nas doenças de rLung/Bad-kan e nos distúrbios frios a
urina apresenta-se com coloração azulada. Na febre
oculta ou infecciosa (refere-se à infecção de um órgão
frio como rins ou baço, ou refere-se à febre durante as
estações frias) a urina apresenta coloração azulada
com bolhas pequenas, finas e claras, que
desaparecem rapidamente, além de albumina ou
sedimentos ralos. Nos distúrbios de rLung/Bad-kan, a
urina é azulada com bolhas de tamanho grande, que
permanecem, além de sedimentos ausentes ou
mínimos.
       Resumindo, qualquer que seja a coloração da
urina, como característica isolada, é inconclusiva.
Mesmo que apresente coloração avermelhada ou
amarelada, com odor forte, se não houver sedimentos
a amostra pode indicar um distúrbio frio. A maneira de
avaliar estes casos requer um método simples, a
seguir:
-Obtenha uma amostra de urina que seja avermelhada
ou amarelada, com odor forte e grandes bolhas.



                                                    61
-Para confirmar a verdadeira natureza do distúrbio,
pingue uma gota desta urina sobre a superfície limpa
da unha do polegar.
-Se a gota não permanece sobre a unha e escorre de
sua superfície central plana, significa que apesar das
características indicarem um distúrbio quente, a real
natureza da doença é fria.
-Da mesma forma, se a urina é azulada ou
esbranquiçada, com albumina ou sedimentos
espessos, com odor e sabor fortes e bolhas que
desaparecem rapidamente, pingue uma gota sobre a
superfície plana da unha do polegar.
-Se a gota permanece sobre a unha sem escorrer, isto
significa que apesar de apresentar características
clínicas que indicam um distúrbio frio, a real natureza
da doença é quente (diagrama 7).
       Uma outra forma de determinar um distúrbio é
através da análise do som emitido pelas bolhas ao
desaparecerem após a agitação. Se, após a agitação,
as bolhas produzem um som crepitante quando
desaparecem, compassadamente, isto indica uma
doença quente ou inflamatória. Se não houver som
quando a urina desaparece, a urina é de um distúrbio
frio.
-Quanto à urina de distúrbios fatais:
 Urina fatal de doença quente: A coloração da urina é
   semelhante à do sangue, com odor pútrido
   semelhante ao de couro em putrefação. Se após o
   tratamento a coloração, o odor e a composição da
   urina não desenvolvem qualquer alteração, as
   características indicam uma doença fatal.
 Urina fatal de doença fria: Se a coloração da urina é
   fria quando eliminada, azulada, com odor, bolhas,
   sedimentos e vapor mínimos ou moderados e após

62
o tratamento estas características não sofrem
alterações, as características indicam que a doença
é fatal.




         Diagrama 4: Bolhas de rLung




                                                 63
Diagrama 5: Bolhas de mKris-pa




     Diagrama 6: Bolhas de Bad-kan




64
Diagrama 7: Teste para diagnóstico diferencial de
            doenças quentes e frias.




                                                65
6. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE
DOENÇAS ESPECÍFICAS


     A literatura médica tibetana considera as
características específicas da urina em termos dos três
“humores” e das doenças.
6.1. Características clínicas da urina de rLung/Bad-
kan
-coloração: amarelada e clara
-odor: moderado e levemente pungente
-vapor: duração e quantidade moderadas
-bolhas: pequenas ou moderadas, com algumas de
tamanho grande que aparecem após a agitação e
desaparecem instantaneamente
-sedimentos: levemente concentrados no centro, mas
a urina é geralmente clara
-mucina: mínima
      Este tipo de urina é observada no caso de
sinusite, gripes, febre do feno e enterite. No caso da
sinusite, a coloração e a concentração são levemente
mais turvas do que no caso da gripe. Quando há tosse
como sintoma, as bolhas são mais abundantes e
formam algumas camadas após a agitação. No caso
da enterite, a urina não é turva, mas apresenta uma
coloração mais amarelada com bolhas pequenas e
grandes que desaparecem imediatamente.




66
6.2. Características clínicas da urina de Bad-
kan/rLung
-coloração: aquosa e clara
-odor: mínimo ou ausente
-vapor: mínimo e desaparece antes que a urina sofra
transformações
-bolhas: pequenas, congestas, com algumas bolhas de
tamanho grande que aparecem com a agitação e
permanecem por algum tempo
-sedimentos: geralmente mínimos, exceto em casos de
indigestão
-mucina: ausente
6.3.Características clínicas da urina de Bad-
kan/mKris-pa
-coloração: amarelo-avermelhada, escura como óleo
-odor: forte e penetrante
-vapor: abundante, mas de duração moderada
-bolhas: espessas, pequenas a moderadas que
permanecem após a agitação
-sedimentos: podem estar presentes sedimentos em
forma de poeira ou grânulos
-mucina: moderada
      Esta urina é típica em casos de distúrbios
hepáticos ou da vesícula biliar com envolvimento
hepático. Entretanto, no caso de cálculos biliares que
não afetem as vias hepáticas, a urina pode apresentar-
se menos turva e as bolhas mais transparentes.
6.4. Características clínicas da urina no distúrbio
complexo de Bad-kan
-coloração: marrom-amarelada ou amarelo-escura
-odor: fétido e forte



                                                      67
-vapor: moderado a profuso, dependendo da presença
de febre
-sedimentos:      moderados       a     concentrados
principalmente no centro; a borda do recipiente pode
apresentar-se clara
-mucina: moderada em casos de doenças
inflamatórias complexas.
       A doença complexa de Bad-kan é uma condição
patológica que envolve todos os três processos
fisiológicos ou “humores”, principalmente na região
abdominal. A doença é descrita em três estágios: o
primeiro estágio ou inflamatório, que consiste no
processo inflamatório que atinge um órgão (gastrite), o
segundo estágio, que é a progressão para uma
ulceração e o terceiro, quando ocorre a perfuração da
úlcera. Em cada caso, as características da urina são
distintas. No primeiro estágio, a urina é amarelada,
com pequenas bolhas que desaparecem rapidamente
com um som crepitante. No segundo estágio a urina
apresenta tanto características quentes como frias e
durante o terceiro estágio, a urina contém células
sangüíneas e pequenas bolhas.
6.5. Características clínicas da urina na gripe ou no
resfriado comum
-coloração: amarelo-clara e concentrada no centro
-odor: forte, particularmente se houver febre
-bolhas: difusas, cobrem a superfície com uma ou
duas camadas de bolhas não abundantes, de tamanho
moderado, que desaparecem erraticamente com um
som crepitante após a agitação
      A urina do resfriado comum ou gripe pode ser
facilmente confundida com uma variedade de outras
doenças, tais como a febre do feno, sinusite e enterite.

68
No caso do resfriado comum, a principal característica
clínica é a albumina levemente turva ou os sedimentos
que se formam no centro do recipiente, enquanto a
periferia é clara. No caso da enterite, a urina é clara e
mais amarelada.
6.6. Cólica intestinal
-coloração: amarelada e clara
-odor: moderado
-bolhas: pequenas a moderadas, podem estar
espalhadas e desaparecer rapidamente com um som
crepitante
-sedimentos: mínimo ou ausente
      Na maioria dos casos de processo inflamatório
em um órgão, a presença de febre alterará
consideravelmente as características da urina. Com a
febre, a urina estará mais turva, mais escura e com um
odor mais forte. Quando ausente, a urina apresentará
alterações na composição dependendo do órgão
envolvido. No caso de órgãos constitucionalmente
quentes, como fígado e vesícula biliar, a urina será
escura e turva. Mas, se o órgão inflamado for de
constituição fria, a urina será mais transparente e
diluída.
6.7. Fraqueza digestiva
-coloração: esbranquiçada e levemente espessa
-odor: moderado, com freqüência apresenta o odor do
alimento não digerido
-bolhas: pequenas, congestas, com bolhas de rLung
ocasionais que permanecem
-sedimentos: podem estar presentes produtos finais do
metabolismo, dando um aparência leitosa à urina.



                                                      69
6.8. Dispepsia
-coloração: amarelo-avermelhada ou branco-leitosa
-odor: o mesmo do alimento ingerido
-bolhas: pequenas, espalhadas e permanecem algum
momento após a agitação
-sedimentos: podem estar presentes os produtos finais
do metabolismo
      Geralmente, a dispepsia causada pela ingestão
de alimentos insalubres ou ingestão excessiva de
alimentos ásperos e especiarias rompem o processo
digestivo. Se não corrigido, podem resultar em
doenças abdominais muito sérias.
6.9. Flatulência
-coloração: aquosa ou diluída
-odor: mínimo
-bolhas: grandes, entre abundantes bolhas de tamanho
moderado, que podem permanecer por algum tempo
-sedimentos: não são visíveis apesar de serem
observados quando há processo inflamatório
6.10. Enterite
-coloração: amarelo-avermelhada e basicamente clara
-odor: penetrante
-bolhas: pequenas, com bolhas grandes, ocasionais e
espalhadas que desaparecem rapidamente
-sedimentos: geralmente ausentes, mas algumas
vezes podem ser observados grânulos
6.11. Hepatite
-coloração: oleosa ou escura
-odor: penetrante e fétido
-vapor: abundante, persiste por algum tempo
-bolhas: amarelo-escuras, pequenas a moderadas e
permanecem por longo tempo

70
-sedimentos: concentrados e escurecem o centro do
recipiente
-mucina: concentrada no centro
6.12. Doenças respiratórias
-coloração: levemente amarelada e turva
-odor: moderado
-vapor: moderado e persistente
-bolhas: pequenas a moderadas, claras, abundantes e
permanecem por algum tempo
-sedimentos: levemente concentrados
       Nas doenças respiratórias, a urina geralmente é
amarela com um matiz levemente avermelhado.
Quando a tosse é o sintoma principal, as bolhas são
abundantes, soltas e localizam-se umas sobre as
outras. Geralmente as bolhas são moderadas e
tendem a desaparecer lentamente com um som
sibilante.
6.13. Hipertensão
-coloração: vermelho-amarelada
-odor: mínimo ou ausente
-bolhas: de tamanho moderado, entremeadas por
algumas grandes e finas, em quantidade pouco mais
que moderada, as quais permanecem por algum
tempo
-sedimentos: mínimos ou ausentes
-turvação: geralmente diluída, o centro pode ser
levemente mais escuro que a periferia
6.14. Tumores malignos e benignos
-coloração: amarelo-clara ou vermelho-escura
-odor: penetrante ou moderado




                                                    71
-bolhas: levemente congestas e tendem a permanecer
no caso de tumores benignos. Nos tumores malignos,
as bolhas são esparsas e desaparecem erraticamente.
-sedimentos: concentrados no centro da superfície; ao
bater na superfície da urina com as varinhas de agitar,
pequenas estrelas oleosas como bolhas são lançadas
ou atiradas para o lado oposto do recipiente
-mucina: normalmente a mucina adquire uma
formação única sobre a superfície da urina, entretanto,
neste caso, ela se fragmenta em pequenas unidades
do tamanho de ovos de rã sobre a superfície.




72
7. MÉTODO DE APRENDIZAGEM PARA INICIANTES


       O método através do qual os estudantes
tibetanos aprendem a urinálise pode não ser o melhor
para ensinar a técnica, pois consome muito tempo e,
com freqüência, os estudantes têm pouca assistência,
recebendo pouco ensinamento prático. Portanto, seria
necessário que o aprendizado desta arte durasse
alguns anos, enquanto que os fundamentos poderiam
ser aprendidos em poucos meses, se métodos de
ensino envolvendo organização e demonstrações
práticas fossem integrados. O propósito deste trabalho
é dar início a tal abordagem e apresentar outros
trabalhos no futuro que expliquem as técnicas
diagnósticas de uma maneira simples que facilite sua
rápida aprendizagem. Muitas das habilidades
diagnósticas místicas dos médicos tibetanos podem
ser facilmente adquiridas em cerca de um a dois
meses se as técnicas forem explicadas assim como
seus objetivos. Isto não significa reduzir a importância
da tradição tibetana nos diagnósticos, mas encorajar
seu estudo para que pessoas mais profissionais
tomem consciência destas habilidades e aumentar a
oportunidade para um progresso posterior em sua
utilização e desenvolvimento.
       Estabeleci 6 etapas, para auxiliar um iniciante a
aprender a arte da urinálise, baseadas em meus
próprios anos de experiência. A clínica espera oferecer
trabalhos melhores e mais claros sobre a urinálise e

                                                     73
outros procedimentos diagnósticos no futuro.
Entretanto, o estudo dos livros isoladamente não
resultará em habilidades instantâneas. O aprendizado
com um médico tibetano e a observação da
demonstração de cada uma das características
clínicas da urina é da maior importância.
7.1. Primeiro passo
       Antes de qualquer amostra de urina ser
examinada, a primeira atitude é verificar se o paciente
observou as exigências básicas, ou questioná-lo se
ingeriu alguma dieta fora da rotina ou se realizou
atividades que possam afetar a composição de sua
urina. As noites anteriores, a falta de sono ou
exercícios cansativos que possam não ser normais,
afetariam a composição da urina. Além disso,
questione se a urina foi coletada no momento correto,
em um recipiente limpo e de maneira adequada. É
importante assegurar-se de que não foi ingerido nada
sólido antes da coleta da urina e de que o jato médio
foi coletado.
7.2. Segundo passo
       Tenha certeza de que a literatura sobre urinálise
foi inteiramente estudada, em seus aspectos gerais.
Em particular, assegure-se de que cada detalhe da
urina normal foi memorizado. Depois memorize os
detalhes dos três distúrbios fisiológicos ou humorais.
Compare as características da urina normal com a
urina anormal (fria ou quente) e aprenda a distingüi-
las. Depois, aprenda a definir as características frias e
quentes de um lado e dos três distúrbios fisiológicos
de outro. Por exemplo, aprenda a comparar uma urina
de mKris-pa com uma amostra quente, uma urina de


74
Bad-kan com uma amostra fria e a identificar a urina
de rLung.
7.3. Terceiro passo
      Para o iniciante que gostaria de iniciar sua
prática imediatamente após terminar de ler este livro,
há maneiras de fazê-lo sem um professor. Durante
uma semana, colete o jato médio de uma amostra de
urina normal eliminada durante o dia. Para começar,
tente coletar a urina antes do café da manhã, à tarde –
pelo menos três horas após o almoço – e à noite,
novamente, pelo menos duas a três horas após o
jantar. A idéia de examinar a urina normal durante
diferentes horários do dia não serve apenas para
adquirir uma impressão sobre o exame da urina em
geral, mas principalmente para ensinar as alterações
da urina normal no decorrer do dia. Isto dá uma idéia
de como a dieta, as atividades físicas, o stress e o
esforço podem afetar a composição da urina. Atente
particularmente       para      qualquer      alimento,
comportamento e preocupação anormal de forma a
notar como a urina se altera. Observe também como o
excesso ou a deficiência na ingestão de líquidos influi
na composição da urina. O exame de amostras diárias
pode ser feito durante três dias a uma semana.
Quando estiver mais seguro na observação de sua
urina, tente coletar amostras (a primeira micção da
manhã) de seus vizinhos ou amigos, inclusive a sua
própria. Agora compare as duas amostras e observe
que diferenças são visíveis nas duas amostras
normais. A idéia é dar a você uma prova visual de
como a urina normal dos pacientes pode variar em sua
composição. Servirá também para que você treine a
observar como certas características clínicas são

                                                    75
consistentes e como outras, como a coloração e a
turvação, podem variar.
      O próximo passo é começar a coletar amostras
de urina patológicas, particularmente de pessoas com
sintomas auto-limitados, tais como gripe, sinusite,
indigestão, flatulência e outros. Pegue uma destas
amostras. Observe as características clínicas pós-
transformação, tais como coloração, turvação, bolhas
e depósitos. Estude cada uma destas quatro
características. Siga as instruções de como estudá-las.
Pesquise na seção sobre as características clínicas, se
necessário. Depois, descreva suas deduções pessoais
em um bloco de diagnósticos. Estude o que escreveu
e verifique se estão de acordo. Se não estiverem,
escolha o critério mais importante mencionado no texto
para determinar o diagnóstico. Observe a presença ou
ausência de albumina e mucina em excesso. Se este
achado é sustentado posteriormente pelo achado das
bolhas ou da turvação, faça o diagnóstico baseado
nestes dados. Depois, avalie o diagnóstico real do
paciente. Se o diagnóstico estiver incorreto ou
parcialmente correto, questione cuidadosamente o
paciente, primeiro sobre seus hábitos dietéticos e
padrões comportamentais para assegurar-se de que
sua urina não está afetada por estes fatores.
Questione-o      sobre     quaisquer     medicamentos.
Vitaminas, por exemplo, afetam a coloração da urina.
      Para facilitar o processo de aprendizado, outra
técnica que pode ser praticada em associação com a
anterior é a avaliação de amostras de urina cujo
diagnóstico você já conhece de antemão. Descreva o
diagnóstico em um papel, avalie quais as
características clínicas mais prováveis que a urina de
tal patologia poderia apresentar, recorra ao texto se

76
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Rapgay urinalise

  • 1. A ARTE DA URINÁLISE NA MEDICINA TIBETANA uma técnica para o auto-exame 5
  • 2. A ARTE DA URINÁLISE NA MEDICINA TIBETANA uma técnica para auto-exame Dr. Lobsang Rapgay Psicologia Médica Tibetana Traduzido por: Williams Ribeiro de Farias Dra. Yeda Ribeiro de Farias EDITORA CHAKPORI 6
  • 3. © Dr. Lobsang Rapgay 1995 Direitos para edição em línguas portuguesa e espanhola adquiridos por EDITORA CHAKPORI 7
  • 4. AGRADECIMENTOS À PRESENTE EDIÇÃO Agradeço ao Sr. Lhasang Tsering, ao Venerável Dagom Rimpoche e seu assistente Lama Tsultrim Dorge, ao Sr. Lobsang Samten, à Srta. Nyingma Sherpa, ao Sr. Tsewang Jigme Tsarong, Diretor do Centro Médico Tibetano em Dharamsala, à Maria do Carmo Chagas Ribeiro e ao Sr. Sérgio Fanelli, que ajudaram a tornar possível a edição destes livros sobre Medicina Tibetana. O Editor Williams Ribeiro de Farias 8
  • 5. PREFÁCIO O contínuo interesse na medicina tibetana e na psicoterapia budista encorajou-nos a iniciar o Tibetan Holistic Center, em Nova Delhi e expandir suas atividades na Europa e nos E.U.A. nos próximos poucos anos. Nossa experiência orientou-nos pela necessidade por tal instituição, cujo objetivo primário fosse promover a medicina tibetana no Ocidente. Atualmente, desconsiderando as visitas ocasionais de médicos tibetanos, não existe qualquer facilidade para um ocidental interessado em estudar a medicina tibetana. De fato, não há publicações compreensíveis sobre medicina tibetana, escritas por médicos tibetanos. Nosso plano inicial é promover a literatura sobre os vários aspectos desta medicina, geralmente práticos, e que possam ser aprendidos sem a presença do professor. Este trabalho é o segundo nesta série. A segunda parte de nosso programa é organizar estágios anuais de verão, associados a outras instituições na Europa e nos E.U.A. 1 de maio de 1986 Dr. Lobsang Rapgay 9
  • 6. ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................13 1.1. IMPORTÂNCIA DO EXAME DA URINA: ...............................................................14 1.2. O QUE É URINA? ............................................................................................16 1.3. A HISTÓRIA DA URINÁLISE: .............................................................................19 2. URINÁLISE COMO TÉCNICA DIAGNÓSTICA...........................................21 2.1. COM RELAÇÃO À HISTÓRIA, AO EXAME FÍSICO E À ANÁLISE DO PULSO: ............21 2.2. EXIGÊNCIAS A SEREM OBSERVADAS:..............................................................23 3. PREPARAÇÃO .............................................................................................25 3.1. COLETA DA URINA: ........................................................................................25 3.2. RECIPIENTE:..................................................................................................26 3.3. VARINHAS PARA AGITAÇÃO: ...........................................................................26 3.4. HORÁRIO DE COLETA DA URINA:.....................................................................26 3.5. MOMENTO DO EXAME: ...................................................................................27 4. URINÁLISE BÁSICA .....................................................................................29 4.1. EXAME FÍSICO: ..............................................................................................30 4.1.1. Coloração: ............................................................................................30 4.1.2. Odor ......................................................................................................34 4.1.3. Vapor ....................................................................................................35 4.1.4. Bolhas ...................................................................................................37 4.1.5. Turvação ..............................................................................................40 4.2. DEPÓSITOS ...................................................................................................41 4.2.1. Albumina e outros sedimentos ............................................................41 4.2.2. Mucina ..................................................................................................43 4.3. EXAME DA URINA APÓS TRANSFORMAÇÃO:.....................................................44 4.3.1. Momento em que ocorre a transformação .........................................45 4.3.2. A maneira como ocorre a transformação ...........................................45 10
  • 7. 4.3.3. Características clínicas pós-transformação .......................................47 5. URINA NORMAL E ANORMAL ...................................................................50 5.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA URINA NORMAL ...............................................50 5.2. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE DOENÇAS QUENTES OU INFLAMATÓRIAS ...............................................................................................51 5.3. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE DOENÇAS FRIAS OU NÃO-INFLAMATÓRIAS .......................................................................................52 5.4. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE RLUNG ..........................................52 5.5. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE MKRIS-PA......................................55 5.6. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE BAD-KAN .......................................56 5.7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ...........................................................................58 6. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE DOENÇAS ESPECÍFICAS ...................................................................................................66 6.1. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE RLUNG/BAD-KAN ...........................66 6.2. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE BAD-KAN/RLUNG ...........................67 6.3.CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE BAD-KAN/MKRIS-PA .......................67 6.4. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA NO DISTÚRBIO COMPLEXO DE BAD-KAN .......................................................................................67 6.5. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA NA GRIPE OU NO RESFRIADO COMUM ..............................................................................................68 6.6. CÓLICA INTESTINAL .......................................................................................69 6.7. FRAQUEZA DIGESTIVA....................................................................................69 6.8. DISPEPSIA .....................................................................................................70 6.9. FLATULÊNCIA ................................................................................................70 6.10. ENTERITE ....................................................................................................70 6.11. HEPATITE ....................................................................................................70 6.12. DOENÇAS RESPIRATÓRIAS ..........................................................................71 6.13. HIPERTENSÃO .............................................................................................71 6.14. TUMORES MALIGNOS E BENIGNOS ...............................................................71 7. MÉTODO DE APRENDIZAGEM PARA INICIANTES.................................73 7.1. PRIMEIRO PASSO ...........................................................................................74 7.2. SEGUNDO PASSO ..........................................................................................74 7.3. TERCEIRO PASSO ..........................................................................................75 7.4. QUARTO PASSO.............................................................................................79 7.5. QUINTO PASSO ..............................................................................................80 7.6. SEXTO PASSO ...............................................................................................80 11
  • 8. 8. TESTES DA URINA ......................................................................................82 8.1. COM DROGAS PARA DETERMINAR O TRATAMENTO .........................................82 8.2. PARA DETERMINAR UM ENVENENAMENTO ......................................................82 8.3. SOM DA URINA PARA PROPÓSITOS DIAGNÓSTICOS .........................................83 8.4. SENSAÇÃO TÁTIL DA URINA PARA PROPÓSITOS DIAGNÓSTICOS ......................83 9. ESTUDO DE CASOS ....................................................................................85 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................89 12
  • 9. 1. INTRODUÇÃO A tradição médica tibetana talvez seja o menos conhecido e o único sistema documentado de medicina a desfrutar de uma ininterrupta continuidade de mais de 2500 anos. De acordo com a histórica e confiável obra, “Survey of the History of Tibetan Medicine”, por Desi Sangye Gyatso, uma medicina popular já era praticada no Tibete, antes que os médicos indianos difundissem a medicina Ayurvédica. Cerca de 200 D.C., dois médicos indianos, um casal, Bibyi Gyadbyed e sua esposa Belha Gyad mDzema, viajaram ao Tibete para promover a medicina Ayurvédica, a qual tornou-se fortemente estabelecida e popular neste país nos 400 anos que se seguiram. Do século 7 em diante, entretanto, o Estado, que havia se tornado muito poderoso, começou a usar sua influência para promover o aprendizado sobre o conhecimento médico dos países vizinhos. Os três Dharamarajas, os reis Tsong-tsen Gompo (620-640 D.C.), Trisong Detsen (755-797 D.C.) e Tri Ralpachen, convidaram médicos e estudiosos da Índia, China, Mongólia, Grécia (Roma), Turquia, Pérsia, Nepal e Kashmir para o intercâmbio de conhecimento com os melhores médicos tibetanos. O resultado foi um processo de integração das melhores técnicas e práticas, de outros sistemas tradicionais, com o sistema indiano de medicina praticado então no Tibete. 13
  • 10. O processo de aprendizado e integração ocorreu até o século 10. Após esta fase, médicos e estudiosos tibetanos começaram a simplificar, organizar e reinterpretar a informação médica, alinhada com o pensamento e a filosofia budista. Muitas das técnicas derivadas dos outros sistemas de medicina, por exemplo, o moxabustão que os tibetanos assimilaram dos mongóis, foram simplificadas para se adaptarem às suas necessidades e foram adicionados conceitos espirituais budistas para complementar a prática destas técnicas na clínica. A medicina tibetana, portanto, emergiu como um sistema desenvolvido, vibrante e holístico de cuidados com a saúde até épocas bem recentes. Hoje, o sistema é praticado de uma forma mais limitada e o tratamento é geralmente confinado às fórmulas à base de ervas e muitas modalidades de tratamento, tais como a hidroterapia, massagem, fomentação, moxabustão e outras, estão relegadas a um segundo plano, sendo freqüentemente omitidas. Com o crescente interesse do Ocidente pela medicina tibetana, a oportunidade de reviver muitas destas complexas tradições relacionadas à prática clínica está se tornando uma realidade e o objetivo desta série sobre medicina tibetana é um dos muitos esforços de nossa clínica na promoção da medicina tibetana. 1.1. Importância do exame da urina: A urinálise é um dos quatro principais procedimentos diagnósticos utilizados pelos tibetanos. A técnica é originária da Grécia e Pérsia e hoje é um dos instrumentos diagnósticos mais importantes considerado pelo médico na clínica. 14
  • 11. A urina é um fluido fisiológico de composição muito variável produzida continuamente pelos rins, a partir do sangue, sob condições normais. Entretanto, uma grande quantidade de fatores, tais como dieta inadequada, comportamento, influências sazonais, stress e tensão, podem afetar a função dos rins na produção da urina. Qualquer distúrbio na formação e eliminação da urina pode levar a um mal funcionamento dos três processos fisiológicos ou “humores” (rLung, mKris-pa e Bad-kan) os quais, se não corrigidos pelos mecanismos de defesa do próprio corpo ou através de dieta e comportamentos adequados, podem ocasionar uma patologia orgânica. Uma vez que a urina não é composta apenas de água, uréia e cloreto de sódio, mas também de muitas substâncias nela dissolvidas, os médicos tibetanos formularam técnicas diagnósticas para interpretar suas características físicas como sinais de um estado de saúde ou de doença. A urinálise é utilizada pelo médico tibetano tanto para detectar um estado de saúde como qualquer desvio do mesmo. É usado rotineiramente em associação com outros procedimentos diagnósticos, não apenas para obter informações clínicas sobre a saúde do paciente, mas também para determinar a natureza da doença, sua gravidade e prognóstico, através de técnicas inteiramente diferentes do exame de urina ocidental. Apesar de existir uma extensa teoria para ser estudada, se praticada com cuidadosa observação, a repetida experimentação com amostras de urina de algumas pessoas em um período de um ou dois meses tornará possível para o iniciante adquirir uma idéia razoavelmente boa do mecanismo da urinálise tibetana. 15
  • 12. Fatores que enfatizam a importância da urina:  A urina é uma das três principais matérias excretadas pelo corpo e seu funcionamento normal é fundamental para assegurar a regulação dos sistemas corporais (circulatório, respiratório, digestivo, etc.) que podem afetar o equilíbrio dos três processos fisiológicos ou “humores”.  O corpo elimina mais sólidos pela urina do que por qualquer outra via, mas este é o principal meio de excreção de água.  A urina pode ser conservada para diagnosticar uma grande variedade de distúrbios e também para propósitos diagnósticos utilizando uma teoria e uma prática clínica diferente da moderna.  A urina é facilmente afetada pelos hábitos comportamentais e dietéticos, assim como pelas influências sazonais, por exemplo, se o indivíduo ingere café ou chá em excesso antes de dormir, particularmente se ele não o faz normalmente àquela hora, a urina pela manhã estará aquosa e, ao agitá-la, grandes bolhas do tamanho de bolas de gude serão formadas. 1.2. O que é urina? A urina é um fluido fisiológico formado pelos rins. Após a digestão dos alimentos e bebidas, sólidos e líquidos são separados nos intestinos. O sangue transporta-os para diferentes partes do corpo e os fluidos que serão eliminados são retirados pelos rins e armazenados na bexiga para excreção. Uma vez que a urina contém resíduos provenientes de todos os principais órgãos e partes do corpo, os médicos tibetanos estudam e observam cuidadosamente nove características clínicas para relacionar a estrutura e a 16
  • 13. composição de uma amostra em particular com uma doença específica. Além disso, os depósitos que este fluido transporta são identificados como sendo produzidos por certos órgãos e a quantidade menor ou maior de um determinado depósito indica condições patológicas do órgão em particular. Por exemplo, a presença de albumina, produzida pela bile, ajuda o médico a determinar a situação da vesícula biliar e do fígado. Uma quantidade excessiva de albumina na urina indica em geral uma condição patológica de mKris-pa e mais especificamente pode indicar um distúrbio, funcional ou não, da vesícula biliar ou do fígado. Ao mesmo tempo, a urina é um fluido em constante transformação. Durante o decorrer de um único dia, sua composição sofre contínuas mudanças. Isto ocorre principalmente porque esta é a principal via de eliminação para material residual solúvel proveniente do metabolismo corporal. A aparência da urina, particularmente sua coloração, turvação e presença de mucina, por sua grande importância clínica, deve ser considerada em termos da variação da composição. O iniciante deve estar consciente do fato de que a explicação teórica sobre a aparência da urina pode ser difícilmente observada na clínica. Por esta razão, é da maior importância que comece examinando suas próprias amostras de urina. A idéia é ensinar a comparar estas amostras para quem está iniciando, e familiarizá-lo com suas muitas características para demonstrar como a dieta, o comportamento, as estações do ano e o stress afetam sua composição durante um dia. Quando o iniciante adquirir uma certa familiaridade e habilidade para observar as diferenças visuais entre as amostras, deve 17
  • 14. começar a examinar a urina de outras pessoas e compará-las com as suas amostras. Uma vez adquirindo habilidade para distingüir entre a urina de uma e de outra pessoa, o iniciante pode voltar-se realmente para o estudo da urinálise. A coloração da urina é resultante da presença de pigmentos que surgem do metabolismo da bile e provenientes da dieta. Além disso, certos vegetais, como a beterraba, possuem pigmentos que são absorvidos pelo intestino e excretados na urina. Conseqüentemente, não é surpresa que as amostras de urina possuam tal variedade de cores e características visuais. Uma amostra com coloração e turvação escuras está associada a processos inflamatórios ou quentes e a ausência de um mínimo de pigmentos na urina, por outro lado, indica uma doença não-inflamatória ou fria. Fatores relacionados com a composição da urina:  Dieta, comportamento, influências sazonais e medicamentos afetam a composição da urina.  Normalmente, a coloração da urina torna-se mais escura com o repouso por causa da oxidação do urobilinogênio em urobilina.  Em certos casos, entretanto, a urina permanece diluída mesmo com o repouso e isso indica normalmente uma doença não-inflamatória ou fria.  Nem todas as amostras escuras de urina contém bilirrubina, o que significa que nem todas as amostras com tal coloração indicam necessariamente uma doença inflamatória ou quente.  A amostra de urina velha contendo bilirrubina pode ser verde em decorrência da oxidação desta para biliverdina. 18
  • 15. 1.3. A história da urinálise: Desde o princípio dos tempos, o homem manteve-se consciente de que as alterações da urina estavam associadas com certos tipos de doenças. De fato, as civilizações mais antigas e remanescentes possuem alguma forma de registro demonstrando que as pessoas estavam conscientes do seu papel na compreensão do estado de saúde. Os babilônios, sumerianos e indianos escreveram sobre as características da urina e como ela poderia ser usada no reconhecimento das doenças. De acordo com a literatura médica tibetana, a civilização grega foi a primeira a utilizar a urinálise baseada em uma teoria e em um modelo médico. Os médicos Galenos e Champashila, ambos gregos, residiram no Tibete e ensinaram o sistema médico grego. De fato, Galenos revolucionou a medicina tibetana quando aceitou estudantes das classes mais baixas da sociedade, o que não era anteriormente permitido no Tibete. Além disso, o juramento de um médico tibetano é idêntico ao de Hipócrates. A obra “Survey of the History of Tibetan Medicine”, de Desi Sangye Gyatso, famoso erudito e historiador da medicina e primeiro-ministro do Quinto Dalai Lama, registra estas informações com detalhes consideráveis. Além disso, outro texto, o “Manjushri Root Sutra” menciona que enquanto os chineses especializaram-se na acupuntura e os indianos na herbologia, os gregos aperfeiçoaram a arte da urinálise. Muito da literatura tibetana sobre o assunto pode ter sua origem na literatura Ayurvédica. Entretanto, a seção tibetana sobre o assunto difere bastante daquela disponível no sistema indiano. Foram incorporados não apenas os conceitos e as palavras 19
  • 16. chinesas, a teoria elementar mãe-filho e amigo- inimigo, mas também o uso para propósitos diagnósticos, práticas ritualísticas e religiosas budistas. Muitos textos sobre urinálise foram escritos pelos médicos tibetanos nos séculos 17 e 19, não tão bem conhecidos como a seção do “Último Tantra” e seu comentário, por Desi Sangye Gyatso. Há alguns trabalhos excepcionalmente bons sobre o assunto, em particular a obra de Zukhar Knamnyed Dorjee e Khenrab Norbu. 20
  • 17. 2. URINÁLISE COMO TÉCNICA DIAGNÓSTICA 2.1. Com relação à história, ao exame físico e à análise do pulso: A prática da medicina é uma arte muito pessoal – um intenso encontro das mentes para resolver um problema físico e emocional. Mesmo que a literatura médica tibetana contenha uma enorme quantidade de informações, bem organizadas e prontas para fácil referência, para resolver os problemas clínicos rotineiros, o profissional médico deve lidar de forma inovadora com diagnósticos intrincados e crises emocionais incomuns. Apesar da consulta médica ser rigidamente estruturada, resultado final de séculos de tentativas e erros pelos médicos, eventualmente torna- se igualmente importante a habilidade e a perícia para reconhecer uma doença e avaliá-la em termos das necessidades imediatas do paciente. O resultado disso é que, ao invés do estudante aprender a arte do diagnóstico de uma forma rígida e organizada, os procedimentos diagnósticos tibetanos são estruturados de uma maneira definida e simplificada, para fácil aplicação, sem dificultar o estudante com detalhes sem fim. Por exemplo, diferente do exame da língua pelo método chinês, onde dúzias de diferentes descrições patológicas precisam ser estudadas, os tibetanos simplesmente identificam algumas características patológicas neste órgão. Na clínica, é 21
  • 18. virtualmente impossível distinguir estas inúmeras características, considerando que a coloração da urina é tão facilmente afetada pela alimentação, pelas bebidas ou pelo exercício físico realizado pelo indivíduo. O procedimento requerido para o diagnóstico consiste de três partes principais. A primeira fase é o exame do corpo através da palpação, auscultação, exame dos olhos, nariz, ouvidos, língua, tórax, face, catarro, fezes, vômitos, sangue e o mais importante, o exame da urina. A segunda parte consiste do exame do pulso e o terceiro procedimento diagnóstico é a história e o questionamento. A urinálise é um procedimento normalmente utilizado em associação com os demais métodos diagnósticos, sendo também empregado com finalidades prognósticas. É usado efetivamente para confirmar um diagnóstico diferencial que tenha surgido pela evidência conflitante do exame do pulso e o exame superficial da língua, dos olhos, etc. Nestes casos, é empregado para confirmar o diagnóstico correto. Muito freqüentemente, quando o pulso não é claro ou não pode ser lido, a urina fornece o diagnóstico principal. Além disso, sua análise auxilia na determinação da linha de tratamento, particularmente quando há complicações secundárias que podem dificultar o médico na sua prescrição. Como no diagnóstico pelo pulso, as habilidades no exame da urina podem ser adquiridas de outra maneira que não o processo normal. Há práticas ritualísticas especiais que exigem que o aspirante entre em refúgio e que se submeta à prática da meditação em uma divindade particular que o capacitará a obter habilidades na arte da urinálise 22
  • 19. espontaneamente. Tais habilidades podem ser praticadas particularmente quando a urina é utilizada para propósitos astrológicos e adivinhatórios, uma característica que deixou de ser praticada pelos médicos tibetanos de hoje. 2.2. Exigências a serem observadas: A concentração da urina, sua aparência e composição variam constantemente durante o dia dependendo parcialmente da dieta ingerida pelo paciente e suas atividades físicas. Por exemplo, beber chá forte, submeter-se a intenso stress e tensão afetam a urina e impõem-lhe uma característica clínica de rLung. A atividade física anormal pode causar proteinúria, que é identificada pelo médico tibetano como depósitos de mKris-pa, enquanto que, após uma refeição pesada, a urina pode conter glicose, identificada como depósitos de Bad-kan. Dependendo do fluido ingerido, as subs-tâncias normalmente retidas ou excretadas em pequenas quantidades podem aparecer na urina em grandes quantidades e outras normalmente excretadas podem ser retidas. A temperatura e o clima também afetam a quantidade de urina eliminada e a sudorese profusa reduz sua quantidade. A ingestão de diuréticos, certas bebidas como café, chá e álcool, assim como prurido, nervosismo e ansiedade resultam em aumento na excreção de urina. A produção de urina é significantemente reduzida com a diminuição da ingestão de líquidos e com o aumento de alimentos salgados e azedos. Para prevenir que fatores secundários influenciem na aparência e na composição da urina, um conjunto de exigências são recomendadas para 23
  • 20. serem seguidas pelo menos um dia antes do exame. Normalmente, deveriam ser observadas três dias antes do exame, mas pelo menos um dia é exigido aqui. Quando o temperamento constitucional estiver sendo diagnosticado, estas exigências devem ser observadas por duas semanas antes da urina ser examinada. As exigências principais são as seguintes: -evitar dieta pobre em proteínas, chás fortes e vegetais verdes leves -evitar alimento oleoso ou excessivamente rico em proteínas -evitar ingestão excessiva de carboidratos simples, como açúcar -evitar ingestão excessiva de fluidos -evitar relações sexuais -evitar padrões irregulares de sono -evitar atividades físicas estenuantes -evitar stress e tensão No caso do paciente estar habituado com quaisquer das dietas a serem evitadas, a exigência acima não se aplica. A idéia atrás das mesmas é evitar qualquer mudança anormal ou irregular na dieta e nos padrões comportamentais habituais. Para observá-las, deve-se buscar a orientação de um médico pelo menos um dia antes da urina ser examinada. 24
  • 21. 3. PREPARAÇÃO 3.1. Coleta da urina: É extremamente importante que a urina seja coletada em recipientes limpos. Resíduos de conteúdos anteriores, produtos de limpeza e desinfetantes podem contribuir para a obtenção de dados incorretos. A grande maioria das amostras de urina utilizadas no exame são simplesmente eliminadas ou colhidas ao acaso. O doador é instruído simplesmente para eliminá-la. Entretanto, tecnicamente, requisita-se que o indivíduo jejue, não se alimentando excessivamente na noite anterior ao exame e coletando a amostra antes do café da manhã. Quando a atenção a tal exigência não for possível, deve ser fornecida pelo menos uma amostra em jejum, ou seja, colhida quatro ou mais horas após a ingestão dos alimentos. Em todos os casos, deve ser coletado o jato médio da urina. Um recipiente de coleta limpo deve estar disponível. A primeira emissão deve ser desprezada e quando aproximadamente metade da urina for eliminada, sem interromper o processo da micção, coleta-se uma porção no recipiente e o restante do jato deve ser novamente desprezado. Deve ser coletada pelo menos meia xícara de chá de urina. A coleta inadequada pode invalidar os achados, principalmente se o recipiente não estiver limpo. 25
  • 22. 3.2. Recipiente: Os recipientes utilizados são específicos e devem estar completamente limpos e secos antes da amostra ser coletada. Não são adequados os recipientes que não sejam cerâmica, porcelana chinesa ou aço polido, ou seja, são inadequados os recipientes de barro, cobre ou ferro. A coloração do recipiente deve ser branca, de maneira que a cor da urina possa ser observada (tabela 1). Tabela 1 Recipiente adequado Recipientes inadequados -branco -com perfume -não muito profundo -boca estreita -limpo -profundo -sem produtos de limpeza -que sirva para outros propósitos -de porcelana ou cerâmica -madeira, barro, etc. -com boca larga -coloridos 3.3. Varinhas para agitação: São utilizadas, tradicionalmente, três varinhas retiradas das fibras usadas no fabrico da vassoura “piaçaba” com cerca de 30 cm. de comprimento. Um fio é amarrado firmemente a cerca de 2,5 cm. de uma extremidade para segurar as três varinhas juntas. Na outra extremidade as varinhas são separadas de forma a auxiliar efetivamente na agitação da urina. Quaisquer varinhas de madeira podem ser empregadas e pode- se achatar as extremidades das varinhas que ficam mais soltas para obter melhores resultados. 3.4. Horário de coleta da urina: Com freqüência as amostras examinadas pelo médico são coletadas em horários inadequados, uma 26
  • 23. vez que, tecnicamente, deve ser coletada a primeira micção a partir das 4 horas da madrugada até o horário do café da manhã. Este horário é assim especificado porque qualquer amostra colhida antes das 4 horas ou após a refeição, provavelmente, conterá excreções metabólicas e renais em grandes proporções para o volume total de urina. Além disso se a genitália não estiver limpa, a urina pode transportar bactérias e resíduos da área para dentro do recipiente, o que pode causar erros na leitura. No caso de infecções do trato gênito-urinário, recomenda-se que o paciente lave a genitália utilizando algum tipo de solução antisséptica. 3.5. Momento do exame: A urina deve ser examinada tão logo quanto possível e, preferivelmente, no horário mais próximo de sua eliminação. Como isto não é possível na maioria dos casos, deve ser examinada a qualquer momento durante o dia, de preferência pela manhã, pois eventualmente 10 horas após a eliminação começa a ocorrer a decomposição. A urina deve ser sempre examinada à luz do dia e nunca sob luz elétrica, uma vez que a coloração da amostra pode ser de difícil identificação sob luz elétrica. Quando examinar a amostra dentro de uma sala, procure fazê-lo próximo a uma janela ou porta através da qual a luz solar penetre. Normalmente, na Índia e no Tibete, a urina é sempre examinada do lado de fora, na luz do dia e nunca dentro de uma sala, por causa da falta de uma boa iluminação entre quatro paredes. Fatos importantes sobre a preparação para a urinálise: 27
  • 24.  Certifique-se de que o paciente observou as exigências básicas para obter uma correta leitura da urina – questione-o sobre sua dieta e comportamento no dia anterior e observe se ele realizou qualquer padrão anormal.  Certifique-se de que há urina suficiente – cerca de uma xícara de chá – e se o recipiente no qual o paciente coletou a urina estava limpo.  Certifique-se de que foi coletado o jato médio, antes de uma refeição principal e de que o paciente não apresenta infecção no trato gênito-urinário, especialmente se a urina é turva e contém depósitos.  Certifique-se de que as varinhas para agitação estejam preparadas de maneira que possam gerar, efetivamente, uma máxima produção de bolhas, as quais representam uma importante característica clínica a ser observada. 28
  • 25. 4. URINÁLISE BÁSICA Nove características clínicas da urina são estudadas para formar um diagnóstico. Estes nove itens devem ser analisados conforme a temperatura da amostra. A urina é um fluido inconstante e tende a se decompor rapidamente. Estas características fazem com que o médico tibetano a analise de acordo com sua natureza variável. As primeiras quatro características clínicas, que são a coloração, o odor, a turvação e as bolhas, são observadas quando a urina está fresca. Isto porque, com a redução da temperatura da amostra, sua coloração, por exemplo, torna-se naturalmente mais escura por causa da oxidação. Além do mais, a urina normal tende a desenvolver turvação, ao permanecer em repouso na temperatura ambiente ou sob refrigeração. Quando a urina está morna, as duas próximas características clínicas, depósitos e muco, são analisadas. Isto se deve, em parte, porque ocorre a formação destas características apenas quando a queda da temperatura da amostra assim permite. Quando a urina permanece em repouso por um momento, ela esfria e se torna morna. Então, os depósitos se formam e se localizam em seus sítios patológicos no recipiente onde está a amostra, e isto é clinicamente importante para o diagnóstico correto. Quando a temperatura da urina está reduzida, ou seja, fria, as últimas três características clínicas são 29
  • 26. analisadas. São elas: o momento em que ocorre a mudança de coloração e turvação na urina, a maneira como ocorre a mudança e, finalmente, as características clínicas após tais mudanças terem ocorrido. 4.1. Exame físico: Envolve o exame da aparência da urina ainda fresca ou recente. Quando não é possível obter uma amostra de urina fresca, recomenda-se que a mesma seja aquecida por um minuto ou mais, dependendo do calor aplicado, até que atinja sua temperatura aproximadamente normal. 4.1.1. Coloração: Esta é a característica física mais visível da urina. Normalmente, sua cor é amarela ou âmbar, principalmente por causa da presença de um pigmento amarelo, o urocromo. Durante uma patologia, a coloração da urina sofre mudanças consideráveis, como conseqüência da ausência de pigmentos. Os pigmentos biliares podem gerar uma urina de coloração marrom-amarelada ou mesmo esverdeada. Geralmente, a amostra que permanece em repouso e contém bile tende a tornar-se verde por causa da oxidação de bilirrubina em biliverdina. A hemoglobina fornece uma coloração marrom-avermelhada. A hematúria grosseira pode ser detectada pelo exame visual da amostra de urina. Aparece como um pigmento vermelho ou marrom ou então a urina pode apresentar uma aparência enfumaçada. A idade do paciente e as influências sazonais afetam a coloração da urina, particularmente em casos extremos quando, por exemplo, uma pessoa que vive em clima úmido e morno é exposta a um clima seco e 30
  • 27. quente ou úmido e frio. Normalmente, de acordo com a literatura médica tibetana, a aparência e a composição da urina, mesmo para uma pessoa saudável, muda durante as estações e com a idade. Como é a característica mais facilmente observável, com freqüência seu exame é extremamente conclusivo para se fazer um diagnóstico geral ou confirmar um diagnóstico diferencial. Exceto para determinar certas doenças específicas associadas com a aparência, o iniciante não deve se concentrar em demasia na coloração de todas as amostras. Geralmente, uma urina amarela ou vermelho- escura significa um distúrbio inflamatório ou quente, enquanto uma urina branca ou diluída indica uma doença fria ou não-inflamatória. Como a coloração é freqüentemente omitida, particularmente quando há complicações secundárias ou quando o paciente está tomando vitaminas com corantes, é uma característica raramente considerada para propósitos diagnósticos. Exceto em casos definitivos tais como hematúria, icterícia, doenças renais e outros, a coloração da urina deveria ser estudada em termos de suas características clínicas, combinada com outras características físicas tais como turvação e bolhas. Características clínicas da coloração:  Doenças de rLung: urina de coloração pálida, azulada e aquosa.  Doenças de mKris-pa em geral e virtualmente todos os tipos de doenças intestinais leves: urina de coloração amarela, como a casca de uma bérberis na água. 31
  • 28.  Doenças de Bad-kan ou indigestão: urina de coloração leitosa ou semelhante a uma pasta calcárea.  Hematúria e outras doenças sangüíneas incluindo aquelas relacionadas ao fígado: urina de coloração avermelhada.  Doenças linfáticas: coloração rosa.  Doenças de Bad-kan marrom (processo inflamatório abdominal incluindo ulcerações): urina de coloração marrom com aparência esfumaçada.  Doenças de rLung/mKris-pa: urina de coloração azulada e amarelada.  Doenças de rLung/Bad-kan: urina de coloração branca e azulada.  Doenças de mKris-pa/Bad-kan: urina de coloração branca e amarelada.  Doenças de rLung/sangue (por exemplo, hipertensão grave): coloração vermelha e azulada.  Doenças de mKris-pa/sangue: coloração amarela e avermelhada  Doenças de Bad-kan/sangue: coloração vermelho- esbranquiçada.  Doenças complexas (rLung/mKris-pa/Bad-kan): urina amarela e azulada associada com urina de coloração esbranquiçada no fundo do recipiente.  Processos infecciosos, doenças hepáticas: urina de coloração semelhante ao óleo de gergelim ou à manteiga escura.  Febre, resfriado: urina diluída e amarelo- avermelhada.  Doenças tóxicas: urina escura com as cores do arco-íris. Fatores relacionados com a coloração da urina: 32
  • 29. A literatura médica sobre a coloração da urina contém cores específicas para a maioria das doenças. Entretanto, para o iniciante é vital ser absolutamente específico quanto à cor. Se a coloração da urina parece pouco clara ou mesmo contrária às queixas do paciente, ou às outras características clínicas da urina, tais como bolhas ou turvação, descarte a coloração. Aprenda a reconhecer primeiramente com o que se parece a coloração da urina, depois aprenda a reconhecer como é a aparência geral de uma urina anormal, comparando uma amostra normal com outra anormal, obtendo uma idéia das diferenças entre as duas. O próximo passo é examinar sua própria urina – uma amostra colhida pela manhã e outra colhida à tarde – e verifique se você é capaz de perceber qualquer diferença na coloração. Faça isto rigidamente durante uma semana. Então, quando estiver doente, com uma gripe, indigestão, etc., tente examinar sua urina e compare-a com a sua própria, normal. Uma vez adquirindo uma idéia grosseira de como se parecem uma urina normal e uma anormal, treine primeiro para distingüir entre uma amostra proveniente de uma pessoa com uma doença fria e outra de uma doença quente e, depois, as colorações das urinas de distúrbios de rLung, mKris-pa, Bad-kan em geral. Memorize as características clínicas de colorações de urina de doenças frias, quentes, de rLung, mKris-pa e Bad-kan e tente reconhecer estas colorações apenas em termos de quente ou frio ou dos três processos humorais. Aprenda a distingüir as diferentes colorações da urina para doenças específicas como hematúria, icterícia, diabetes e processos inflamatórios renais. 33
  • 30. Posteriormente, aprenda como interpretar a coloração da urina em termos de outras características clínicas da urina, tais como odor, turvação, bolhas, depósitos e fatores pós-transformação. 4.1.2. Odor Esta característica é geralmente afetada por uma grande variedade de doenças e fatores, tais como as diferentes dietas. A urina de um paciente diabético tem um cheiro agradável causado pela presença de acetona e naquele com uma infecção do trato urinário, o odor parece podre por causa dos agentes infecciosos. Certos alimentos podem gerar um odor característico que precisa ser diferenciado do cheiro de alimentos não digeridos em geral. Como no caso da coloração, há muitos odores descritos para determinadas doenças nos textos médicos tibetanos. Entretanto, o iniciante deve concentrar-se apenas em alguns, como aqueles característicos de doenças quentes e frias e de certas doenças acima descritas, nas quais o odor é uma característica. O odor para doenças quentes é forte e penetrante enquanto nas doenças frias o cheiro está ausente ou é mínimo. Características clínicas do odor:  Nas doenças inflamatórias quentes, é penetrante, forte e desagradável.  Nas doenças frias ou não-inflamatórias, o odor é ausente ou mínimo.  Na indigestão, o odor é o mesmo do alimento, como carne, vinho, trigo, etc.  Nas lesões purulentas, a urina possui odor semelhante ao das secreções purulentas. 34
  • 31.  Nas doenças de rLung, o odor assemelha-se a mofo.  Nas doenças de mKris-pa, a urina possui cheiro de queimado, defumado.  Nas doenças de Bad-kan, o odor é semelhante a uma infestação por piolhos (seria o odor exalado pelas excreções dos parasitas, após a ingestão de sangue).  Nas doenças complexas, há cheiro de gordura.  Na hematúria e outras doenças sangüíneas, o odor é semelhante ao do sangue.  Nas doenças que cursam com retenção de fluidos, ou seja, com edema, o odor é semelhante ao das folhas de rabanete. 4.1.3. Vapor Para a observação do vapor exalado pela urina quando está sendo eliminada ou na urina recentemente colhida, as características mais importantes são: a quantidade exalada e sua velocidade de desaparecimento. Vapor em grande quantidade indica doença inflamatória ou quente, enquanto a moderada evaporação indica um distúrbio inflamatório ou quente no segundo estágio. A exalação de um mínimo de vapor indica uma doença quente leve. O modo de determinar a quantidade é observando quão intensamente o vapor impede a visibilidade da coloração da urina no recipiente. Se o vapor cobre totalmente ou quase toda a visibilidade da urina, é considerado profuso. Se apenas uma pequena porção da urina apresenta-se encoberta, é considerado moderado, finalmente, se não impede a visibilidade, é considerado suave ou não indica qualquer patologia. 35
  • 32. A velocidade de desaparecimento do vapor é o segundo critério que serve basicamente como auxiliar do primeiro. Se o vapor desaparece lentamente, significa uma doença quente, enquanto que desaparecendo em velocidade média, indica que o distúrbio inflamatório quente está no segundo estágio. Se o vapor desaparece rapidamente, a doença quente é leve ou não está presente. Para se determinar a velocidade de desaparecimento, deve-se observar quanto tempo permanece o vapor após a urina ter sido eliminada. Se demorar mais do que 20 a 30 segundos após a eliminação – tradicionalmente, isto é determinado observando a presença de vapor quando a urina começa a sofrer uma mudança em sua turvação – a velocidade é considerada lenta (condição inflamatória ou quente grave). Se o vapor desaparece após 10 a 15 segundos, significa um segundo estágio ou uma doença quente moderada. Se desaparecer instantaneamente, ou logo após ter sido eliminada, isto significa que não há doença ou que o processo inflamatório é leve. - Características clínicas do vapor:  Doenças inflamatórias ou muito quentes: vapor profuso que permanece.  Doença inflamatória ou quente no segundo estágio: vapor moderado.  Doença inflamatória levemente quente ou urina normal: vapor mínimo.  Doença fria ou não-inflamatória: quantidade de vapor não considerável, o mínimo presente não permanece, desaparecendo instantaneamente após a eliminação da urina. 36
  • 33.  Doença inflamatória oculta (refere-se ao processo inflamatório de um órgão frio) ou processo inflamatório crônico: quantidade moderada de vapor que permanece por 20 a 30 segundos após a urina ter sido eliminada.  Distúrbio combinado quente e frio: quantidade variável de vapor (pode apresentar-se profuso ou mínimo durante a mesma micção). 4.1.4. Bolhas O tamanho das bolhas, sua coloração, quantidade e a maneira como aparecem, permanecem e desaparecem são as principais características a serem observadas. Para realizar uma observação clínica, é absolutamente necessário produzir a máxima quantidade de bolhas. Isto é feito efetivamente através de varinhas apropriadas, como detalhadas anteriormente. Os estudantes com freqüência negligenciam a necessidade da máxima produção de bolhas e o resultado é uma leitura incorreta das características da urina. Certifique-se de que as varinhas sejam compridas, distribuídas de forma a facilitar a agitação e, acima de tudo, agite vigorosamente durante 15 segundos, cada vez que as bolhas forem examinadas. O exame das bolhas pela agitação deveria ser realizado pelo menos três vezes para conseguir uma boa leitura visual. As bolhas são a característica clínica mais confiável e, para o iniciante, a mais importante por causa de sua fácil visibilidade. É da maior importância concentrar-se nas bolhas, particularmente o iniciante, para progredir na arte da urinálise. O primeiro passo é analisar o tamanho das bolhas, para depois avaliar a quantidade, a coloração 37
  • 34. e, finalmente, a velocidade de desaparecimento das bolhas. Quanto ao tamanho, as bolhas de rLung assemelham-se a grandes bolas de gude ou aos olhos de um boi; as bolhas de mKris-pa são do tamanho de uma cabeça de alfinete e as de Bad-kan, menores que a cabeça de alfinete. A forma de diferenciar as bolhas de mKris-pa e as de Bad-kan é a natureza congesta das últimas, que formam mais de duas camadas sob agitação, sendo mais profusas e produtivas; as bolhas de mKris-pa são mais separadas, apesar de mais uniformes e sob agitação não formam mais que uma ou duas camadas sobre a superfície. As bolhas de rLung não são profusas e normalmente não cobrem toda a superfície da urina. Tendem a aparecer mais erraticamente, podem desaparecer imediatamente ou permanecer, dependendo de outras patologias secundárias. Já as bolhas de mKris-pa são mais profusas, não formam mais que uma única camada sob agitação, possuem estrutura mais consistente e uniforme e cobrem toda a superfície da urina. As bolhas de Bad-kan são ainda mais profusas e congestas, mas menos uniformes na formação do que as de mKris-pa. Ao observar a coloração das bolhas, agite vigorosamente a amostra para que se formem profusamente. Incline o recipiente de forma que as mesmas possam ser observadas contra a luz. Um ponto importante a ser lembrado é que a análise da coloração da urina é, freqüentemente, enganadora. Apesar de parecer amarelo-avermelhada, a coloração real pode não ser esta. Nestes casos, há duas maneiras de fazer uma análise mais correta. A primeira é inclinar o recipiente e analisar a coloração 38
  • 35. da amostra em sua margem, contra as paredes do recipiente (diagrama 1). Outra maneira é estudar a coloração das bolhas formadas. Na maioria dos casos, através da coloração das bolhas não é possível determinar que exista uma patologia fria, ou seja, não- inflamatória, ou mesmo uma complicação fria a nível secundário. Para identificar qual a coloração das bolhas, recorra à seção correspondente já descrita. As descrições da coloração da urina lá mencionadas aplicam-se igualmente à coloração das bolhas. A permanência das bolhas são indicativas de patologia e esta característica deve ser observada cuidadosamente. As bolhas em uma amostra de distúrbio de mKris-pa tendem a desaparecer instantaneamente após a interrupção da agitação e desaparecem de maneira uniforme, enquanto as bolhas de Bad-kan permanecem muitos minutos após haver cessado a agitação. No caso das bolhas de rLung, as menores tendem a permanecer, mas as grandes desaparecem rapidamente. Quando as pequenas e as grandes bolhas permanecem por algum tempo, podem indicar uma patologia de rLung com característica de uma doença fria, quando comparadas com uma doença de rLung, quente, na qual as bolhas grandes e pequenas desaparecem rapidamente após a agitação. -Características clínicas das bolhas:  Doenças de rLung: bolhas azuladas, grandes, do tamanho de bolas de gude, que aparecem, após agitação, entre pequenas bolhas, sem uniformidade e que permanecem por um momento.  Doenças de mKris-pa: bolhas transparentes, amarelas ou vermelhas, do tamanho de cabeças de alfinetes, que cobrem a superfície da amostra 39
  • 36. uniformemente, com não mais que uma única camada, e desaparecem rapidamente de maneira uniforme após a agitação.  Doenças de Bad-kan: menores do que a cabeça de um alfinete, espessas e aquosas, congestas, formam muitas camadas sobre a superfície após agitação e permanecem por longo tempo.  Distúrbio de Bad-kan nos pulmões: pequenas bolhas azuladas.  Flatulência e patologias de baço: bolhas brancas, grandes e arredondadas.  Hematúria ou qualquer outra doença sangüínea: bolhas de coloração avermelhada.  Envenenamento: bolhas coloridas como arco-íris.  Doença fria ou quente difusa de natureza psicossomática: bolhas de formação errática que desaparecem sem uniformidade, em todas as direções.  Retenção de fluidos como edema, anemia e anasarca: aumento progressivo das bolhas sob agitação que cobrem todo o recipiente, encobrindo a urina. 4.1.5. Turvação Apesar de não ser mencionada separadamente das demais aparências da urina, a turvação é uma importante característica clínica para determinar a natureza de um distúrbio. Uma urina concentrada, turva, indica uma doença inflamatória ou quente, enquanto uma amostra diluída, aquosa, indica uma doença não-inflamatória ou fria. Quando há um conflito entre a análise da coloração e das bolhas, por exemplo, observe a turvação da urina para determinar qual das duas é correta (diagrama 2). Para utilizar 40
  • 37. quaisquer das características clínicas e determinar as que são contraditórias, é importante checar se o paciente seguiu as exigências, se coletou a urina de maneira apropriada e se o fez no horário indicado. 4.2. Depósitos A urina contém incontáveis substâncias dissolvidas e, no caso de condições patológicas, pode reter muitas delas, excretá-las normalmente ou também eliminar aquelas que normalmente tende a reter. Como os tibetanos consideram-na como ferramenta no diagnóstico, podem relatar apenas aquelas substâncias que são visíveis a olho nu. Os depósitos na urina são classificados em dois amplos grupos: albumina e demais sedimentos relacionados e a viscosidade formada na superfície da urina. 4.2.1. Albumina e outros sedimentos As características principais a serem observadas são a estrutura dos sedimentos, sua quantidade, área de formação sobre a superfície da urina e sua transformação após o resfriamento da amostra (quando o vapor desaparece). Normalmente, quando a albumina ou o sedimento é espesso, concentrado, profuso, geralmente encobrindo o fundo do recipiente, distribuindo-se no centro do recipiente de maneira unida e não desenvolvendo qualquer mudança na composição, após a urina ter esfriado, está indicando uma patologia inflamatória ou quente. Por outro lado, quando os sedimentos são delgados, desunidos, mínimos e diminuem quando a urina esfria, estão indicando uma doença não-inflamatória ou fria (diagrama 3). -Características clínicas dos sedimentos: 41
  • 38.  Doenças de rLung: sedimentos finos como cabelos, difusos na urina.  Doenças de mKris-pa: sedimentos profusos, espessos, como nuvem, localizados no centro do recipiente como um chumaço de algodão obscurecendo o fundo do mesmo.  Doenças de Bad-kan: grânulos pequenos, pouco visíveis a olho nu, difusos por toda superfície da urina.  Patologia quente ou inflamatória dos pulmões: sedimentos branco azulados que se assemelham a nuvens e que flutuam na superfície da urina.  Processo purulento no corpo: depósitos purulentos.  Doenças renais: grânulos azul-esbranquiçados, como areia no fundo do recipiente.  Dependendo do local onde se formam, pode-se identificar a localização do distúrbio. Se os sedimentos formam-se próximos à superfície da urina, o distúrbio localiza-se na região superior do corpo, órgãos e partes do corpo acima do diafragma, tais como coração e pulmões. Se os sedimentos aparecem na região média do recipiente, as doenças envolvem órgãos da região intermediária do corpo, tais como, estômago, intestinos, baço, vesícula biliar e fígado, enquanto que os sedimentos que aparecem mais inferiormente ou no fundo do recipiente representam distúrbios da região inferior do corpo como trato urinário, rins e extremidades inferiores. Deve-se ter em mente o seguinte para obter um diagnóstico diferencial: 42
  • 39. -Quando os sedimentos possuem a mesma forma, e tendem a se difundir uniformemente na urina, indicam uma saúde boa ou normal. -Sedimentos semelhantes a iogurte fermentado na água, que se espalham em pedaços sobre toda a amostra de urina, indicam um desequilíbrio de rLung causado por doença quente ou fria – os sintomas podem indicar uma doença quente com complicações frias secundárias e o desequilíbrio de rLung é a causa raiz. -Em casos onde surgem tanto complicações quentes quanto frias e os sedimentos parecem ser inicialmente espessos, localizados no centro, indicando um possível distúrbio quente, aguarde e observe o sedimento depois do resfriamento. Se os sedimentos diluem e desintegram, a doença é de natureza fria. Por outro lado, se os sedimentos aparecem difusos e delgados, quando a urina está morna ou fresca, mas quando esfria tornam-se espessos e concentrados no centro da urina, a doença é quente. -Quanto à coloração dos sedimentos, eles são determinados pela coloração da urina. Por exemplo, se a coloração é vermelha, os sedimentos parecem desta cor. Por exemplo, se a coloração da urina e os sedimentos são vermelhos também, o distúrbio em questão é quente ou inflamatório. 4.2.2. Mucina Tanto os sedimentos como a mucina são observados quando a urina está morna. Esta denominação “mucina” está descrita nos textos médicos como “creme”, como a nata que se forma na superfície do leite fervido. Se a formação viscosa é espessa e localizada no centro da superfície da urina, 43
  • 40. isto indica a presença de doenças inflamatórias ou quentes; se for delgada e difusa, indica distúrbio frio ou não-inflamatório. -Características clínicas da mucina:  Infecção ou febre severa: mucina espessa, profusa, que não pode ser removida com um coador ou com a ponta de uma faca.  Saúde normal: quando a mucina apresenta cheiro de queimado quando aquecida.  Deficiência de nutrientes corporais (tal deficiência pode ser corrigida com a ingestão de Acorus calamus, salamin indiano, a fruta da Terminalia chebula e resina mineral): quando não há cheiro de queimado ao ser aquecida.  Tumores tanto malignos quanto benignos: a mucina se espalha na superfície da urina em pequenos pedaços.  Em uma amostra de urina cuja aparência indica um distúrbio frio e que não sofre alteração após o resfriamento, adicione noz-moscada em pó, cardamomo, Strychnos nux-vomica, pimenta e dente de leão e aqueça-a até sua temperatura normal. Deixe que a amostra esfrie e então observe a presença de mucina.  Em uma amostra de urina cuja aparência indica um distúrbio quente e que não sofre alteração com o resfriamento, adicione porções iguais de cânfora, sândalo, genciana e ferva a amostra. Deixe esfriar e observe a mucina. 4.3. Exame da urina após transformação: Este exame é conduzido quando a urina torna-se fria. A forma de determinar a alteração é através da observação do total desaparecimento do vapor e calor 44
  • 41. da urina. Há três características clínicas a serem observadas após o esfriamento da amostra: o momento em que tais mudanças ocorrem, a maneira como ocorrem e, finalmente, as características clínicas da urina após as alterações. A maioria das traduções de textos tibetanos sobre urinálise escritos no passado, identifica incorretamente as alterações na coloração da urina quando esta esfria. As mudanças não se referem à coloração da urina e sim à turvação durante a passagem do estágio quente para o frio. Mesmo a urina normal tende a desenvolver uma turvação ou sob refrigeração ou simplesmente ao permanecer à temperatura ambiente. Por outro lado, certas urinas patológicas tendem a perder sua turvação inicial e tornam-se diluídas. 4.3.1. Momento em que ocorre a transformação O momento em que ocorre a mudança na composição da urina é determinado antes ou depois do desaparecimento do vapor. Se a urina muda antes que o vapor desapareça, quando a amostra ainda está quente, a doença é um processo inflamatório ou quente. Se a urina muda após o desaparecimento do vapor, quando a amostra esfria, é um distúrbio não- inflamatório ou frio. Se a mudança ocorre quando o vapor já desapareceu e a urina já esfriou, indica um distúrbio combinado frio e quente. 4.3.2. A maneira como ocorre a transformação A mudança na turvação da urina é determinada pela observação do local de início e de término na mudança na superfície da urina. Quando ocorre em qualquer parte da superfície, que parece mais diluída que as demais, e caminha progressivamente para a 45
  • 42. parte mais turva da urina, isto indica uma doença fria ou não-inflamatória. Quando a mudança ocorre, progressivamente, da região mais inferior do recipiente para a superior, indica uma doença inflamatória no primeiro estágio. Estas são as alterações que ocorrem na urina de doenças quentes, normalmente. Quando a alteração ocorre rapidamente das bordas do recipiente para o centro, como quando uma agulha fina ou uma varinha é mergulhada no centro da amostra, isto indica uma infecção ou uma febre crônica. -Características clínicas importantes:  Quando a albumina ou outros sedimentos mudam sua composição no momento em que desaparece o vapor e a urina esfria, antes que ocorram mudanças na turvação da urina, isto é indicativo de uma doença combinada, fria e quente.  Em certos casos, a turvação da urina não se altera. Nas doenças inflamatórias ou quentes disseminadas, apesar da aparência e outras características clínicas da urina indicarem um distúrbio quente, a turvação não sofre alterações. Nas doenças crônicas não-inflamatórias ou frias ou nos casos de diarréia crônica, de causa não- inflamatória ou fria, apesar das características clínicas gerais da urina indicarem um distúrbio frio, não há alteração da turvação. Quando houve excesso de relações sexuais na noite anterior ao exame, a turvação não se altera. O mesmo ocorre nas doenças inflamatórias ou quentes que acometem o sistema linfático. No caso de uma pessoa saudável cuja urina normalmente não se altera, a mudança indica uma condição patológica. 46
  • 43. 4.3.3. Características clínicas pós-transformação Tais características devem ser observadas depois que a urina esfriou. Devem ser observadas as seguintes características: -coloração -odor -bolhas -turvação -depósitos (albumina e outros sedimentos e a mucina) Entretanto, nenhuma destas quatro características deveriam ser interpretadas isoladamente. Melhor do que interpretar apenas uma delas, faça-o em combinação com a turvação ou com outras características clínicas da urina. -Importantes características clínicas:  Doenças inflamatórias ou quentes: independente da coloração, a urina pós-transformação é turva.  Doenças não-inflamatórias ou frias: se a urina pós- transformação é diluída e aquosa.  Doença inflamatória ou quente grave: quando a urina se torna excessivamente turva ao esfriar.  Doença não-inflamatória ou fria: quando a urina se torna excessivamente diluída ou aquosa ao esfriar.  Urina saudável: normalmente uma amostra diluída de coloração amarelada ou âmbar claro.  Urina de lactente: turva e leitosa.  Doenças renais: urina turva e repleta de bactérias. 47
  • 44. Diagrama 1: Incline o recipiente para observar a coloração real Diagrama 2: Turvação 48
  • 46. 5. URINA NORMAL E ANORMAL 5.1. Características gerais da urina normal -Coloração âmbar ou amarelada clara. -Odor pútrido ou sem qualquer sensação penetrante. -Vapor não excessivamente profuso nem mínimo, que não permanece durante muito tempo nem desaparece instantaneamente após a urina ter sido eliminada. -Bolhas nem muito grandes, como as de rLung, nem pequenas, como no caso de Bad-kan – são de tamanho moderado, como uma ervilha, em quantidade moderada sob agitação, não produzindo mais que uma camada, espalhadas uniformemente sobre toda a superfície da urina. Não desaparecem instantaneamente nem permanecem totalmente após a agitação. -Albumina e outros sedimentos: Quando a urina está morna, a coloração torna-se levemente azulada e amarela e os sedimentos são de tamanho uniforme, em quantidade moderada e espalhados sobre toda a superfície da amostra. -Mucina: Uma fina camada de mucina espalha-se sobre a superfície da urina. -Momento em que ocorre a mudança: Quando o vapor desaparece e a urina esfria, começa a ocorrer uma alteração na turvação da mesma. -Maneira como ocorre a mudança: Da periferia para o centro do recipiente. 50
  • 47. -Características pós-transformação: A coloração é esbranquiçada (aquosa) e levemente tingida de amarelo. Quanto à turvação, a urina é clara e diluída. -Características clínicas importantes:  Nas gestantes, a urina que apresenta coloração azulada, como a de um oceano, associada a outras características normais, é considerada normal.  Lembre-se que a urina de um indivíduo constitucionalmente rLung é levemente azulada; a de um indivíduo mKris-pa é levemente amarelada e a de um indivíduo constitucionalmente Bad-kan é levemente esbranquiçada em seu estado normal. Uma urina anormal pode ser melhor explicada em termos de suas características quentes ou frias e de seus três tipos humorais. 5.2. Características clínicas da urina de doenças quentes ou inflamatórias -Coloração: vermelha ou amarela. -Odor: malcheirosa, forte e penetrante. -Vapor: intenso e permanece muito tempo depois que a urina foi eliminada. -Bolhas: pequenas, finas e transparentes, amareladas, em quantidade excessiva, que desaparecem instantaneamente após a urina ter sido eliminada ou agitada. -Turvação: concentrada e espessa, encobre o fundo do recipiente. -Albumina e outros depósitos: espessa e concentrada no centro da amostra. -Mucina: espessa e concentrada no centro da amostra, em grupos separados. 51
  • 48. -Momento da transformação: a urina sofre alteração em sua turvação antes que o vapor desapareça e esfrie. -Maneira como ocorre a transformação: da parte inferior do recipiente para cima, para a superfície. -Características pós-transformação: torna-se escurecida (marrom) e turva e no fundo do recipiente pode haver uma formação lodosa. 5.3. Características clínicas da urina de doenças frias ou não-inflamatórias -Coloração: branca ou azulada. -Odor: ausente ou mínimo. -Vapor: quantidade moderada ou pequena, que desaparece após a urina ter sido eliminada. -Bolhas: de tamanho pequeno e grande que permanecem bastante tempo após a agitação. -Turvação: diluída e aquosa -Albumina e outros sedimentos: ralo e mínimo. -Mucina: rala e mínima. -Momento da tranformação: ocorre depois que a urina esfria. -Maneira como ocorre: de qualquer parte da superfície da urina, em direção à região onde é mais turva. -Características pós-transformação: azulada e diluída. 5.4. Características clínicas da urina de rLung -Coloração: azulada, aquosa. -Odor: leve ou ausente. -Vapor: moderado e desaparece após a urina ter sido eliminada. -Bolhas: tão grandes como os olhos de um boi, permanecem por algum tempo, após a urina esfriar ou ser agitada e depois desaparecem, enquanto as 52
  • 49. bolhas de tamanho moderado podem permanecer por um longo período (diagrama 4). -Sedimentos: semelhantes a fios de cabelo espalhados por toda a urina. -Mucina: ausente. Além das características clínicas acima, observe as bolhas, depois a turvação e a coloração como as mais importantes na determinação do diagnóstico. Apesar das bolhas de rLung serem descritas como grandes, não significa que todas sejam assim. Na verdade, a maioria das bolhas são de tamanho moderado (como ervilhas) e ao agitar, formam-se algumas bolhas grandes entre as demais. Normalmente, as grandes bolhas de rLung surgem apenas durante a agitação e tendem a aumentar nas próximas agitações. Quando apenas duas ou três bolhas grandes surgirem sob agitação e não aumentarem nas posteriores, isto pode indicar que o distúrbio de rLung existe em um nível secundário. Normalmente, a urina de rLung é azulada, clara e grandes bolhas aparecem à agitação e, então, ou desaparecem ou permanecem por um longo tempo. Geralmente, a urina de rLung, que é classificada como fria, torna-se mais diluída quando permanece em repouso e as bolhas também permanecem por um momento, antes de estourarem. Entretanto, quando a urina não é azulada e clara e as bolhas de rLung não permanecem e desaparecem instantaneamente após a agitação, isto indica que o distúrbio de rLung é secundário a uma doença quente ou inflamatória. Outra forma de fazer tal distinção é através da observação da transparência das bolhas. Se as bolhas de rLung são claras e transparentes, significa que o distúrbio está associado a uma doença quente ou 53
  • 50. inflamatória e se forem espessas e opacas, indica uma doença não-inflamatória ou fria. No último caso, tente clarear a formação de bolhas densas com as varinhas para agitação. As bolhas permanecerão e impedirão a visibilidade da urina. Com freqüência, a coloração da urina de rLung será contrária às outras características clínicas próprias de rLung. As bolhas e a turvação podem indicar uma patologia de rLung, mas a coloração pode ser amarelada. Em tais casos, como rLung é o principal distúrbio envolvido, está claro que há um componente inflamatório ou quente ou o envolvimento de um órgão quente como o fígado – neste caso, o diagnóstico seria um distúrbio relacionado com c’hi ou rLung localizado no fígado – ou uma possível infecção. Quando todas as outras características forem semelhantes às já citadas, se a coloração da urina for levemente amarelada, considere a possibilidade de uma hipoglicemia. As influências sazonais e dietéticas podem causar, com freqüência, erros de leitura. No verão, mesmo a urina fria pode adquirir uma coloração levemente tingida em conseqüência das influências externas da temperatura sobre o corpo e, igualmente, no inverno, a urina quente pode adquirir uma tendência a se tornar mais aquosa. De maneira semelhante, exercícios excessivos e ingestão de alimentos picantes, aos quais o indivíduo não esteja habituado, podem fazer com que uma urina fria adquira coloração amarelada. Da mesma forma, uma pessoa ativa que não se exercita como o habitual e se alimenta com uma dieta pouco nutritiva, por exemplo, constituída de carboidratos simples, produzirá uma urina aquosa. 54
  • 51. 5.5. Características clínicas da urina de mKris-pa -Coloração: vermelha ou amarela, chocolate ou oleosa. -Odor: forte, penetrante e freqüentemente malcheiroso. -Vapor: profuso e permanece por longo tempo. -Bolhas: profusas, pequenas (do tamanho de uma cabeça de alfinete ou menor), não congestas como as bolhas de Bad-kan (não formam muitas camadas) e desaparecem instantaneamente após a agitação (diagrama 5). -Albumina e outros sedimentos: espessa, abundante, em formações únicas e escuras e ocultas na parte central da superfície da urina. -Mucina: formação cremosa única, muito visíveis e localizadas na parte central da superfície da urina. -Momento em que ocorre a transformação: antes da urina esfriar e do vapor desaparecer completamente. -Maneira como ocorre: da parte inferior da urina em direção à superfície. -Características pós-transformação: urina com aspecto turvo, amarelo-avermelhada, com pequenas bolhas que desaparecem instantaneamente após a agitação. -Características clínicas importantes:  Enquanto a coloração em certas doenças gerais e específicas é conclusiva, no caso dos distúrbios de mKris-pa, a turvação, o vapor e as bolhas são as características clínicas mais significativas. A coloração, por outro lado, é enganosa e, com freqüência, possui valor clínico apenas quando combinada com outras características, em particular a turvação.  A maneira de medir a turvação da urina é através de um treinamento de observação para comparar a 55
  • 52. limpidez do fundo do recipiente em diversas amostras de urina. Normalmente, quanto maior a turvação, mais obscuro é o fundo do recipiente. Esta habilidade para a observação é adquirida utilizando cinco espécimes diferentes de urina e observando a falta de clareza no fundo do recipiente em cada amostra e depois comparando-as, treinando os olhos a fazer tais distinções por um processo de observação repetida de várias amostras de urina.  Se a urina apresentar-se clara, e o fundo do recipiente puder ser claramente observado, de maneira semelhante à água, a doença é do tipo frio ou não-inflamatório.  Com freqüência, a urina amarelada ou mesmo avermelhada pode ser enganosa. Para determinar a coloração, incline o recipiente levemente e observe a coloração da borda da urina sobre o lado inclinado. Se estiver aquosa e clara, apesar da urina em geral possuir uma coloração amarelada ou avermelhada, a doença pode ser considerada fria ou não- inflamatória, ou deve-se à existência de uma complicação fria primária ou secundária. 5.6. Características clínicas da urina de Bad-kan -Coloração: branca como leite, mas freqüentemente pode parecer água. -Odor: mínimo ou ausente, no caso de indigestão, pode apresentar o odor do alimento. -Vapor: mínimo. -Bolhas: pequenas, congestas, abundantes que permanecem por longo tempo e aumentam com a agitação (diagrama 6). -Albumina e outros sedimentos: mínimos ou ausentes, mas grânulos de areia podem estar presentes no fundo 56
  • 53. do recipiente nas doenças renais e metabólicas por Bad-kan. -Mucina: geralmente ausente. -Momento em que ocorre a transformação: após o desaparecimento do vapor e quando a urina torna-se fria. -Maneira como ocorre: da periferia para o centro. -Características pós-transformação: branca, geralmente clara, congesta e as bolhas aumentam e permanecem. -Características clínicas importantes:  As bolhas são a principal característica a ser observada na urina de Bad-kan. São diferentes daquelas de mKris-pa apesar de apresentarem quase o mesmo tamanho. As bolhas de Bad-kan formam ilhas como unidades de bolhas congestas que tendem a aumentar com a agitação.  Quando a urina apresenta bolhas congestas que aparecem sem agitação, que aumentam rapida e progressivamente, cobrindo toda a superfície da urina com várias camadas de bolhas, está indicando um distúrbio de Bad-kan envolvendo seu componente água. Isto significa que a quantidade de fluidos corporais está excessiva, resultando em edema (retenção).  Não são todos os casos em que as bolhas de Bad- kan se apresentarão profusas e crescentes. Por exemplo, nas úlceras abdominais (distúrbio de Bad- kan marrom), enquanto o tamanho e sua natureza congestionada (descritas como espuma na água) são características de Bad-kan, a quantidade de bolhas não aumenta necessáriamente com a agitação. Além disso, a coloração da urina nestes casos será amarelo-escura e amarelo-avermelhada, 57
  • 54. o que indica a presença de processo inflamatório ou uma patologia quente. 5.7. Diagnóstico diferencial Uma vez que a urina é um fluido instável, facilmente influenciado por dieta, calor, corantes e medicamentos, a parte mais importante da urinálise, após a trabalhosa obtenção do conhecimento sobre as doenças quentes e frias nos distúrbios de rLung, mKris-pa e Bad-kan, devem ser observadas as características diferenciais da amostra e deve-se aprender como distingüi-las. Com freqüência, o iniciante enfrentará muitas dificuldades. Ele deverá observar as fases e, novamente, a inconstância entre as várias características clínicas da urina, tornando extremamente difícil para ele formar uma opinião sobre as condições da patologia do paciente. O tempo e a experiência, garantem muitos médicos experientes, são importantes para dominar esta dificuldade. Entretanto, partindo de minha experiência pessoal, a urinálise também é uma habilidade que pode ser adquirida muito facilmente quando as técnicas e os métodos são explicados claramente e demonstrados passo a passo. Infelizmente, existe muito misticismo em torno dos procedimentos diagnósticos, assim como da medicina tibetana em geral. O ponto importante a ser lembrado é que a arte da urinálise é de origem grega e, portanto, possui o conceito ocidental do reducionismo integrado à sua prática. -Diagnóstico diferencial pela coloração: A urina esbranquiçada, azulada e aquosa, com albumina e outros sedimentos em abundância indica a presença de processo inflamatório ou quente. Observe que, apesar da coloração ser característica de uma 58
  • 55. patologia fria ou não-inflamatória, a presença de albumina e outros depósitos (espessos e profusos) indicam um processo primário quente ou inflamatório. A coloração amarelo avermelhada com odor mínimo, ou ausente, com particularmente nenhuma albumina ou outros sedimentos indicam doença fria ou não-inflamatória. Apesar da cor ser característica de distúrbio quente, a ausência de albumina e de odor indicam a presença de um processo frio ou não- inflamatório. Tenha sempre em mente as influências sazonais e dietéticas sobre a coloração. É crucial obter informações da história e do questionamento para uma análise adequada da urina. -Diagnóstico diferencial pelas bolhas: A urina que apresenta a maioria das características clínicas de um processo inflamatório ou quente, mas não produz bolhas com a agitação, indica um distúrbio quente oculto (doença inflamatória localizada profundamente, sem quaisquer sintomas). A amostra de urina branca ou azulada, com a maioria das características clínicas de um processo não-inflamatório, mas que não forma bolhas com a agitação, indica uma doença fria crônica ou diarréia crônica. -Diagnóstico diferencial do momento em que ocorre a transformação da urina: A urina amarelo-avermelhada, que apresenta a maioria das características clínicas próprias de um distúrbio quente ou inflamatório, na qual a transformação ocorre após o desaparecimento do vapor e o esfriamento, indica doença inflamatória ou quente oculta (refere-se à doença inflamatória que não se manifesta com sinais e sintomas). 59
  • 56. A urina branca azulada com características clínicas de um processo frio ou não-inflamatório, na qual a transformação ocorre antes que o vapor desapareça e antes do esfriamento, indica um distúrbio quente ou inflamatório oculto (patologia quente ou inflamatória ocultada por um distúrbio frio ou não-inflamatório, por exemplo, uma doença inflamatória em um órgão constitucionalmente frio como os rins). -Diagnóstico diferencial da mucina: A amostra que apresenta todas as características de uma urina quente, particularmente com mucina espessa e abundante indica uma deficiência nutricional. A amostra com todas as características de uma urina fria exceto pela formação abundante de mucina indica indigestão. -Diagnóstico diferencial das doenças: No caso de patologias pós-febris ou pós- infecciosas e distúrbios do sangue, como a hematúria, a coloração da urina é vermelha. Nas doenças do sangue, além de ser vermelha, a amostra será turva com depósitos e mucina no centro do recipiente e com pequenas bolhas que desaparecem. No caso de um distúrbio pós-febril ou pós-infecciosa, apesar de avermelhada, é diluída, aquosa e com bolhas grandes. Nos distúrbios de Bad-kan marrom (doenças ulcerativas da região gastro-intestinal) e de linfa negra (infecção e inflamação do sistema linfático) a coloração é marrom ou amarelo-escuro. Na urina de Bad-kan marrom, o odor é forte e freqüentemente malcheiroso e a amostra é turva. Na urina de linfa negra a coloração é diluída e apresenta uma tintura rósea. 60
  • 57. Nas doenças renais, hepáticas e esplênicas a urina é avermelhada. Nas doenças renais, apresenta- se turva e avermelhada com sedimentos localizados no fundo do recipiente. No caso das doenças hepáticas, a urina é vermelho-escura, com sedimentos espalhados por toda a amostra, além de ser clara e menos turva que aquela das doenças renais. No caso da urina de distúrbios esplênicos, a coloração apresenta-se avermelhada, com um matiz esverdeado ou pode ser avermelhada, mas clara, diluída e com sedimentos localizados na parte média do recipiente. Na febre oculta ou em um processo infeccioso, nas doenças de rLung/Bad-kan e nos distúrbios frios a urina apresenta-se com coloração azulada. Na febre oculta ou infecciosa (refere-se à infecção de um órgão frio como rins ou baço, ou refere-se à febre durante as estações frias) a urina apresenta coloração azulada com bolhas pequenas, finas e claras, que desaparecem rapidamente, além de albumina ou sedimentos ralos. Nos distúrbios de rLung/Bad-kan, a urina é azulada com bolhas de tamanho grande, que permanecem, além de sedimentos ausentes ou mínimos. Resumindo, qualquer que seja a coloração da urina, como característica isolada, é inconclusiva. Mesmo que apresente coloração avermelhada ou amarelada, com odor forte, se não houver sedimentos a amostra pode indicar um distúrbio frio. A maneira de avaliar estes casos requer um método simples, a seguir: -Obtenha uma amostra de urina que seja avermelhada ou amarelada, com odor forte e grandes bolhas. 61
  • 58. -Para confirmar a verdadeira natureza do distúrbio, pingue uma gota desta urina sobre a superfície limpa da unha do polegar. -Se a gota não permanece sobre a unha e escorre de sua superfície central plana, significa que apesar das características indicarem um distúrbio quente, a real natureza da doença é fria. -Da mesma forma, se a urina é azulada ou esbranquiçada, com albumina ou sedimentos espessos, com odor e sabor fortes e bolhas que desaparecem rapidamente, pingue uma gota sobre a superfície plana da unha do polegar. -Se a gota permanece sobre a unha sem escorrer, isto significa que apesar de apresentar características clínicas que indicam um distúrbio frio, a real natureza da doença é quente (diagrama 7). Uma outra forma de determinar um distúrbio é através da análise do som emitido pelas bolhas ao desaparecerem após a agitação. Se, após a agitação, as bolhas produzem um som crepitante quando desaparecem, compassadamente, isto indica uma doença quente ou inflamatória. Se não houver som quando a urina desaparece, a urina é de um distúrbio frio. -Quanto à urina de distúrbios fatais:  Urina fatal de doença quente: A coloração da urina é semelhante à do sangue, com odor pútrido semelhante ao de couro em putrefação. Se após o tratamento a coloração, o odor e a composição da urina não desenvolvem qualquer alteração, as características indicam uma doença fatal.  Urina fatal de doença fria: Se a coloração da urina é fria quando eliminada, azulada, com odor, bolhas, sedimentos e vapor mínimos ou moderados e após 62
  • 59. o tratamento estas características não sofrem alterações, as características indicam que a doença é fatal. Diagrama 4: Bolhas de rLung 63
  • 60. Diagrama 5: Bolhas de mKris-pa Diagrama 6: Bolhas de Bad-kan 64
  • 61. Diagrama 7: Teste para diagnóstico diferencial de doenças quentes e frias. 65
  • 62. 6. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA URINA DE DOENÇAS ESPECÍFICAS A literatura médica tibetana considera as características específicas da urina em termos dos três “humores” e das doenças. 6.1. Características clínicas da urina de rLung/Bad- kan -coloração: amarelada e clara -odor: moderado e levemente pungente -vapor: duração e quantidade moderadas -bolhas: pequenas ou moderadas, com algumas de tamanho grande que aparecem após a agitação e desaparecem instantaneamente -sedimentos: levemente concentrados no centro, mas a urina é geralmente clara -mucina: mínima Este tipo de urina é observada no caso de sinusite, gripes, febre do feno e enterite. No caso da sinusite, a coloração e a concentração são levemente mais turvas do que no caso da gripe. Quando há tosse como sintoma, as bolhas são mais abundantes e formam algumas camadas após a agitação. No caso da enterite, a urina não é turva, mas apresenta uma coloração mais amarelada com bolhas pequenas e grandes que desaparecem imediatamente. 66
  • 63. 6.2. Características clínicas da urina de Bad- kan/rLung -coloração: aquosa e clara -odor: mínimo ou ausente -vapor: mínimo e desaparece antes que a urina sofra transformações -bolhas: pequenas, congestas, com algumas bolhas de tamanho grande que aparecem com a agitação e permanecem por algum tempo -sedimentos: geralmente mínimos, exceto em casos de indigestão -mucina: ausente 6.3.Características clínicas da urina de Bad- kan/mKris-pa -coloração: amarelo-avermelhada, escura como óleo -odor: forte e penetrante -vapor: abundante, mas de duração moderada -bolhas: espessas, pequenas a moderadas que permanecem após a agitação -sedimentos: podem estar presentes sedimentos em forma de poeira ou grânulos -mucina: moderada Esta urina é típica em casos de distúrbios hepáticos ou da vesícula biliar com envolvimento hepático. Entretanto, no caso de cálculos biliares que não afetem as vias hepáticas, a urina pode apresentar- se menos turva e as bolhas mais transparentes. 6.4. Características clínicas da urina no distúrbio complexo de Bad-kan -coloração: marrom-amarelada ou amarelo-escura -odor: fétido e forte 67
  • 64. -vapor: moderado a profuso, dependendo da presença de febre -sedimentos: moderados a concentrados principalmente no centro; a borda do recipiente pode apresentar-se clara -mucina: moderada em casos de doenças inflamatórias complexas. A doença complexa de Bad-kan é uma condição patológica que envolve todos os três processos fisiológicos ou “humores”, principalmente na região abdominal. A doença é descrita em três estágios: o primeiro estágio ou inflamatório, que consiste no processo inflamatório que atinge um órgão (gastrite), o segundo estágio, que é a progressão para uma ulceração e o terceiro, quando ocorre a perfuração da úlcera. Em cada caso, as características da urina são distintas. No primeiro estágio, a urina é amarelada, com pequenas bolhas que desaparecem rapidamente com um som crepitante. No segundo estágio a urina apresenta tanto características quentes como frias e durante o terceiro estágio, a urina contém células sangüíneas e pequenas bolhas. 6.5. Características clínicas da urina na gripe ou no resfriado comum -coloração: amarelo-clara e concentrada no centro -odor: forte, particularmente se houver febre -bolhas: difusas, cobrem a superfície com uma ou duas camadas de bolhas não abundantes, de tamanho moderado, que desaparecem erraticamente com um som crepitante após a agitação A urina do resfriado comum ou gripe pode ser facilmente confundida com uma variedade de outras doenças, tais como a febre do feno, sinusite e enterite. 68
  • 65. No caso do resfriado comum, a principal característica clínica é a albumina levemente turva ou os sedimentos que se formam no centro do recipiente, enquanto a periferia é clara. No caso da enterite, a urina é clara e mais amarelada. 6.6. Cólica intestinal -coloração: amarelada e clara -odor: moderado -bolhas: pequenas a moderadas, podem estar espalhadas e desaparecer rapidamente com um som crepitante -sedimentos: mínimo ou ausente Na maioria dos casos de processo inflamatório em um órgão, a presença de febre alterará consideravelmente as características da urina. Com a febre, a urina estará mais turva, mais escura e com um odor mais forte. Quando ausente, a urina apresentará alterações na composição dependendo do órgão envolvido. No caso de órgãos constitucionalmente quentes, como fígado e vesícula biliar, a urina será escura e turva. Mas, se o órgão inflamado for de constituição fria, a urina será mais transparente e diluída. 6.7. Fraqueza digestiva -coloração: esbranquiçada e levemente espessa -odor: moderado, com freqüência apresenta o odor do alimento não digerido -bolhas: pequenas, congestas, com bolhas de rLung ocasionais que permanecem -sedimentos: podem estar presentes produtos finais do metabolismo, dando um aparência leitosa à urina. 69
  • 66. 6.8. Dispepsia -coloração: amarelo-avermelhada ou branco-leitosa -odor: o mesmo do alimento ingerido -bolhas: pequenas, espalhadas e permanecem algum momento após a agitação -sedimentos: podem estar presentes os produtos finais do metabolismo Geralmente, a dispepsia causada pela ingestão de alimentos insalubres ou ingestão excessiva de alimentos ásperos e especiarias rompem o processo digestivo. Se não corrigido, podem resultar em doenças abdominais muito sérias. 6.9. Flatulência -coloração: aquosa ou diluída -odor: mínimo -bolhas: grandes, entre abundantes bolhas de tamanho moderado, que podem permanecer por algum tempo -sedimentos: não são visíveis apesar de serem observados quando há processo inflamatório 6.10. Enterite -coloração: amarelo-avermelhada e basicamente clara -odor: penetrante -bolhas: pequenas, com bolhas grandes, ocasionais e espalhadas que desaparecem rapidamente -sedimentos: geralmente ausentes, mas algumas vezes podem ser observados grânulos 6.11. Hepatite -coloração: oleosa ou escura -odor: penetrante e fétido -vapor: abundante, persiste por algum tempo -bolhas: amarelo-escuras, pequenas a moderadas e permanecem por longo tempo 70
  • 67. -sedimentos: concentrados e escurecem o centro do recipiente -mucina: concentrada no centro 6.12. Doenças respiratórias -coloração: levemente amarelada e turva -odor: moderado -vapor: moderado e persistente -bolhas: pequenas a moderadas, claras, abundantes e permanecem por algum tempo -sedimentos: levemente concentrados Nas doenças respiratórias, a urina geralmente é amarela com um matiz levemente avermelhado. Quando a tosse é o sintoma principal, as bolhas são abundantes, soltas e localizam-se umas sobre as outras. Geralmente as bolhas são moderadas e tendem a desaparecer lentamente com um som sibilante. 6.13. Hipertensão -coloração: vermelho-amarelada -odor: mínimo ou ausente -bolhas: de tamanho moderado, entremeadas por algumas grandes e finas, em quantidade pouco mais que moderada, as quais permanecem por algum tempo -sedimentos: mínimos ou ausentes -turvação: geralmente diluída, o centro pode ser levemente mais escuro que a periferia 6.14. Tumores malignos e benignos -coloração: amarelo-clara ou vermelho-escura -odor: penetrante ou moderado 71
  • 68. -bolhas: levemente congestas e tendem a permanecer no caso de tumores benignos. Nos tumores malignos, as bolhas são esparsas e desaparecem erraticamente. -sedimentos: concentrados no centro da superfície; ao bater na superfície da urina com as varinhas de agitar, pequenas estrelas oleosas como bolhas são lançadas ou atiradas para o lado oposto do recipiente -mucina: normalmente a mucina adquire uma formação única sobre a superfície da urina, entretanto, neste caso, ela se fragmenta em pequenas unidades do tamanho de ovos de rã sobre a superfície. 72
  • 69. 7. MÉTODO DE APRENDIZAGEM PARA INICIANTES O método através do qual os estudantes tibetanos aprendem a urinálise pode não ser o melhor para ensinar a técnica, pois consome muito tempo e, com freqüência, os estudantes têm pouca assistência, recebendo pouco ensinamento prático. Portanto, seria necessário que o aprendizado desta arte durasse alguns anos, enquanto que os fundamentos poderiam ser aprendidos em poucos meses, se métodos de ensino envolvendo organização e demonstrações práticas fossem integrados. O propósito deste trabalho é dar início a tal abordagem e apresentar outros trabalhos no futuro que expliquem as técnicas diagnósticas de uma maneira simples que facilite sua rápida aprendizagem. Muitas das habilidades diagnósticas místicas dos médicos tibetanos podem ser facilmente adquiridas em cerca de um a dois meses se as técnicas forem explicadas assim como seus objetivos. Isto não significa reduzir a importância da tradição tibetana nos diagnósticos, mas encorajar seu estudo para que pessoas mais profissionais tomem consciência destas habilidades e aumentar a oportunidade para um progresso posterior em sua utilização e desenvolvimento. Estabeleci 6 etapas, para auxiliar um iniciante a aprender a arte da urinálise, baseadas em meus próprios anos de experiência. A clínica espera oferecer trabalhos melhores e mais claros sobre a urinálise e 73
  • 70. outros procedimentos diagnósticos no futuro. Entretanto, o estudo dos livros isoladamente não resultará em habilidades instantâneas. O aprendizado com um médico tibetano e a observação da demonstração de cada uma das características clínicas da urina é da maior importância. 7.1. Primeiro passo Antes de qualquer amostra de urina ser examinada, a primeira atitude é verificar se o paciente observou as exigências básicas, ou questioná-lo se ingeriu alguma dieta fora da rotina ou se realizou atividades que possam afetar a composição de sua urina. As noites anteriores, a falta de sono ou exercícios cansativos que possam não ser normais, afetariam a composição da urina. Além disso, questione se a urina foi coletada no momento correto, em um recipiente limpo e de maneira adequada. É importante assegurar-se de que não foi ingerido nada sólido antes da coleta da urina e de que o jato médio foi coletado. 7.2. Segundo passo Tenha certeza de que a literatura sobre urinálise foi inteiramente estudada, em seus aspectos gerais. Em particular, assegure-se de que cada detalhe da urina normal foi memorizado. Depois memorize os detalhes dos três distúrbios fisiológicos ou humorais. Compare as características da urina normal com a urina anormal (fria ou quente) e aprenda a distingüi- las. Depois, aprenda a definir as características frias e quentes de um lado e dos três distúrbios fisiológicos de outro. Por exemplo, aprenda a comparar uma urina de mKris-pa com uma amostra quente, uma urina de 74
  • 71. Bad-kan com uma amostra fria e a identificar a urina de rLung. 7.3. Terceiro passo Para o iniciante que gostaria de iniciar sua prática imediatamente após terminar de ler este livro, há maneiras de fazê-lo sem um professor. Durante uma semana, colete o jato médio de uma amostra de urina normal eliminada durante o dia. Para começar, tente coletar a urina antes do café da manhã, à tarde – pelo menos três horas após o almoço – e à noite, novamente, pelo menos duas a três horas após o jantar. A idéia de examinar a urina normal durante diferentes horários do dia não serve apenas para adquirir uma impressão sobre o exame da urina em geral, mas principalmente para ensinar as alterações da urina normal no decorrer do dia. Isto dá uma idéia de como a dieta, as atividades físicas, o stress e o esforço podem afetar a composição da urina. Atente particularmente para qualquer alimento, comportamento e preocupação anormal de forma a notar como a urina se altera. Observe também como o excesso ou a deficiência na ingestão de líquidos influi na composição da urina. O exame de amostras diárias pode ser feito durante três dias a uma semana. Quando estiver mais seguro na observação de sua urina, tente coletar amostras (a primeira micção da manhã) de seus vizinhos ou amigos, inclusive a sua própria. Agora compare as duas amostras e observe que diferenças são visíveis nas duas amostras normais. A idéia é dar a você uma prova visual de como a urina normal dos pacientes pode variar em sua composição. Servirá também para que você treine a observar como certas características clínicas são 75
  • 72. consistentes e como outras, como a coloração e a turvação, podem variar. O próximo passo é começar a coletar amostras de urina patológicas, particularmente de pessoas com sintomas auto-limitados, tais como gripe, sinusite, indigestão, flatulência e outros. Pegue uma destas amostras. Observe as características clínicas pós- transformação, tais como coloração, turvação, bolhas e depósitos. Estude cada uma destas quatro características. Siga as instruções de como estudá-las. Pesquise na seção sobre as características clínicas, se necessário. Depois, descreva suas deduções pessoais em um bloco de diagnósticos. Estude o que escreveu e verifique se estão de acordo. Se não estiverem, escolha o critério mais importante mencionado no texto para determinar o diagnóstico. Observe a presença ou ausência de albumina e mucina em excesso. Se este achado é sustentado posteriormente pelo achado das bolhas ou da turvação, faça o diagnóstico baseado nestes dados. Depois, avalie o diagnóstico real do paciente. Se o diagnóstico estiver incorreto ou parcialmente correto, questione cuidadosamente o paciente, primeiro sobre seus hábitos dietéticos e padrões comportamentais para assegurar-se de que sua urina não está afetada por estes fatores. Questione-o sobre quaisquer medicamentos. Vitaminas, por exemplo, afetam a coloração da urina. Para facilitar o processo de aprendizado, outra técnica que pode ser praticada em associação com a anterior é a avaliação de amostras de urina cujo diagnóstico você já conhece de antemão. Descreva o diagnóstico em um papel, avalie quais as características clínicas mais prováveis que a urina de tal patologia poderia apresentar, recorra ao texto se 76