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Sumário

     Resumo do Encontro


           Programa


Cadastro de participante e afins


Resumos dos temas apresentados


    Críticas de Nilza Cantoni


             Fotos


     Repercussão na mídia
ENCONTRO DE PESQUISADORES DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO
  CAMINHO NOVO DA ESTRADA REAL – BARBACENA – 24 e 25 DE
                            SETEMBRO DE 2010
       No dia 24, sexta, quando chegamos na sala de entrada da Associa-
ção Médica de Barbacena, o Chico Oliveira vestia o papel de secretário,
fazendo inscrições e distribuindo pastas, e o Cláudio Quarup já dispunha
de duas mesas para espalhar mais de uma centena de livros sobre a te-
mática do evento.
       Logo arrumei um crachá e fui me apresentando. Ora dava as boas
vindas a quem chegava, ora ajudava informalmente em alguma tarefa.
       Querendo começar na hora (9h), solicitei ao Chico Oliveira que
compusesse a mesa comigo como os dois representantes das entidades
promotoras – ele pela ACAHMPAS e eu pelo Centro de Memória Belisário
Pena. Pedimos a todos que se apresentassem livremente. Tal se verificou
e todos falaram a vontade sobre si e suas expectativas.
       Quando íamos finalmente começar os trabalhos da manhã, surgi-
ram algumas incompatibilidades entre o ―pendrive‖ do Chico Oliveira e o
computador. Esta tecnicalidade atrasou o início por meia hora fazendo-
nos antecipar a palestra do Francisco Eduardo de Andrade.
       Francisco Andrade (Universidade Federal de Ouro Preto) ambientou
sua fala no começo da formação de Minas Gerais, ou seja, no século
XVIII, citando muitos ―bandeiristas‖, em especial o Garcia Rodrigues
Pais. Segundo Andrade, Garcia traçou o Caminho Novo em trilhas indíge-
nas pré-existentes e soube, como poucos, ganhar favores e sesmarias da
Coroa Portuguesa.
       Uma pausa para o café e uma oportunidade para todos apreciarem
a bela paisagem oferecida pelo salão de festas da Associação Médica de
Barbacena.
       Veio minha vez de falar (―O Caminho Novo em Santos Dumont‖).
Trabalhando com mapas, mostrei os vestígios do caminho pelo município,
na direção sul – norte, partindo de Chapéu D‘Uvas (Juiz de Fora) e termi-
nando em Sá Fortes (Barbacena).
       Fez-se a pausa para o almoço (12h às 14h) e logo já estávamos a
postos para a jornada vespertina.
       A primeira comunicação foi a do Chico Oliveira (―O Caminho Novo
na Borda do Campo‖). Mostrou-nos um interessante roteiro do caminho
pelos municípios de Antônio Carlos, Barbacena, Vasconcelos, Ressaqui-
nha e parte de Carandaí. Disse Oliveira que só agora estamos arranhan-
do o dito caminho e que ainda muito há de se pesquisar.
       O médico e pesquisador Geraldo Barroso de Carvalho falou sobre
―Medicina e Caminho Novo‖, enfatizando os cuidados médicos utilizados
pelos tropeiros no percurso do dito caminho.
       O publicitário e ex-acadêmico de História, Edson Brandão, apresen-
tou a inédita comunicação sobre Ernst Hasenclever e sua passagem pelo
Brasil, em especial por Minas, e sobre um projeto para tornar esta visão
germânica num futuro livro.
Mais um pausa para o café.
       O reinício foi com a mesa redonda sobre os arquivos públicos muni-
cipais, com representantes de Barbacena (Edna Resende), Juiz de Fora
(Galba Di Mambro), Santos Dumont (Marisa Fontes), São João Del Rei
(Jairo Machado) e Ouro Preto (João Paulo Lima). Com algumas variações,
eles apresentaram os respectivos acervos, e falaram sobre a possibilida-
de de uma integração das bases de dados para facilitar a vida os pesqui-
sadores em geral.
       O professor Ângelo Carrara (Universidade Federal de Juiz de Fora)
abordou o tema ―O Caminho Novo e o comércio das Minas, 1700-1818‖,
colocando, metaforicamente, algumas afirmativas polêmicas. Filosofou
sobre as minas e seus caminhos e a concentração de renda diferencial
entre a Zona da Mata e as Vertentes.
       Para encerrar os trabalhos do dia, assistimos a comunicação
―Ocupação do Caminho Novo‖ pela professora Edna Resende, que, com
muita clareza, revelou-nos a ocupação da região de Barbacena por algu-
mas famílias que se fixaram ao longo do Caminho Novo no século XVIII.
       Registra-se, ainda, a presença de uma stand de livros sobre o tema
discutido, organizado por Cláudio, proprietário da Livraria Quarup (de li-
vros usados) de Juiz de Fora. Lamentou-se a ausência, por motivos justi-
ficados, dos palestrantes Roney Fabiano Alves (Matias Barbosa) e Antônio
Henrique Duarte Lacerda (Juiz de Fora).
       A noite veio com um jantar de confraternização na Choperia
―Donna Mãe‖, com boa e barata comida, além de papos intermináveis.
       No dia seguinte (25) foi cumprido a contento a excursão pelos re-
manescentes do Caminho Novo na região.
       O passeio contou com o seguinte itinerário: Igreja Matriz Nossa Se-
nhora da Piedade, Arquivo Público Municipal, Alto do Cangalheiro (Santo
Antônio), Alfredo Vasconcelos, almoço em Barbacena, Fazenda do Regis-
tro Velho (em estado precário), Fazenda da Borda do Campo (bem pre-
servada) e, finalmente, uma magnífica recepção na Casa de Cultura de
Antônio Carlos, promovida pela prefeita Cristina e sua secretária de Cul-
tura. Os visitantes foram recebidos pelo Coral da Antônio Carlos (por se-
nhoras da terceira idade) e um sortido café com as guloseimas da zona
rural.
       O encontro, como se esperava, serviu para reunir estudiosos de
história e geografia regionais (cerca de 40 participantes), e já produziu
três efeitos: 1) o encaminhamento ao IPHAN de um pedido de ajuda para
o salvamento da Fazenda do Registro Velho (tombado pela citada institui-
ção); 2) a provável realização do segundo encontro (2011) em São João
Del Rei; e 3) a criação de um ―blog‖ para manter os estudiosos informa-
dos e em constante contato.


                    Luiz Mauro Andrade da Fonseca
           (Centro de Memória ―Belisário Pena‖ - Barbacena)
CADASTRO DOS PARTICIPANTES E AFINS


ACAHMPAS – Associação Cultural do Arquivo Histórico Municipal Professor
Altair José Savassi – e-mail: acahmpas-barbacena@hotmail.com – blog:
www.acahmpas.blogspot.com

Ana Maria Marques Dias - marquesdias2004@ig.com.br - (32) 3251-5126
– História - Arquivo Público e Patrimônio Cultural de Santos Dumont

Ângelo Alves Carrara – angelo.carrara@ufjf.edu.br - (32) 3236-1085
Professor de História - Universidade Federal de Juiz de Fora

Antônio Henrique Duarte Lacerda – (32) – 3690-7220 (Arquivo Histórico
de Juiz de Fora) – arqhist@powerline.com.br – História e Arquivologia

Centro de Memória ―Belisário Pena‖ – Rua Heider Pereira Teixeira, 125 –
Bairro do Campo – Barbacena - CEP: 36200-500 – e-mail: cmbpe-
na@gmail.com

Cerise Malachias Paes Ferreira Lopes - ceriselopes@oi.com.br - (32) 3331
-6479—Profissão: Fisioterapeuta - Barbacena

Cláudio Luiz da Silva - Claudio.guarup@yahoo.com.br - (32) 3241-
1385—Profissão: Livreiro – Livraria Quarup – Juiz de Fora

Delliane R. de Azevedo Coutinho—delliane@barbacenense.com.br

Edna Maria Resende – Arquivo Público de Barbacena (3333-4074 / 8855
-4075) – História e Arquivologia - ednamresende@hotmail.com

Edson Carlo Brandão Silva - E-mail: edsonbranao@edsonbrandao.com.br
- edsonbrandaobq@yahoo.com.br - História e Publicidade

Erlaine Januario - erlainejanuario@hotmail.com - (32) 8817-6149
História e Arquivologia – Arquivo Público Municipal de Barbacena

Francisco Eduardo de Andrade - franciscodea@hotmail.com
Professor de História – Universidade Federal de Ouro Preto

Francisco Fernandes Ladeira - - franciscoladeira@bol.com.br - (32) 3332-
4958 – Professor, Barbacena, MG.

Francisco José Lima de Barros - fjlbarros@ig.com.br - (21) 3392-1648
Profissão: Administrador, Rio de Janeiro.

Francisco Rodrigues de Oliveira - chicoteoria@gmail.com - (32) 3333-
4138—Professor e Memorialista
Galba Ribeiro Di Mambro di.mambro@ufjf.edu.br - (32) 3231-1248—
Professor de Arquivologia - Universidade Federal de Juiz de Fora

Geraldo Barroso de Carvalho – gbarroso@uol.com.br - (32) 3331-3614 –
Médico e memorialista – Professor de História da Medicina.

Geraldo Dácio de Souza - Belo Horizonte - gdacio@bol.com.br - (32)
3295-2070, 3486-1541, 99711541 - Profissão: Advogado

Izabel Grigolli - Rio de Janeiro - degrigolli@msn.com - (21) 2513-0457-
Profissão: restauradora – conservadora

Jairo Braga Machado - São João Del Rei - Jairo_atl@yahoo.com.br,
Jairo13sr@iphm.gov.br (32)3371-2115 - Profissão: Historiador – IPHAN

João Paulo Martins - joaopaulo13@yahoo.com.br - (31) 9205-1316—
Profissão: Historiador - Arquivo Público Municipal de Ouro Preto

João Jabur Abdalla—jabur.abdalla@gamil.com

José Luis Mendonça de Jesus – Barbacena - ceriselopes@oi.com.br - (32)
3331-6479—Profissão: administrador

José Silvério Ribeiro – Barbacena - j.silverio.ribeiro@uol.com.br - (32)
9981-9846—Profissão: Professor Administração

Luisa Saldanha Barcelos Andrade – Belo Horizonte - (31) 3441-2840
lubarcelos1@hotmail.com—- Profissão: Estudante de História (UFMG

Luiz Henrique Alves Donato – henrique175donato@hotmail.com—(32)
8417-0164 - Professor de História e Pesquisador—Barbacena

Luiz Mauro Andrade da Fonseca – Barbacena - lmkultur@hotmail.com
Tel.: (32) 3331-7590 – Médico, professor – História da Medicina

Marcelo Garcez de Carvalho – Barbacena - mgarcezbq@gmail.com
Tel.: (32) 3331-3388 - Profissão: Farmacêutico, psicólogo

Maria Terezinha Barcelos - Belo Horizonte - lubarcelos1@hotmail.com
Tel.: (31) 3441-2840 - Profissão: Médica

Marisa Aparecida Barbosa Fontes - marisafontes@hotmail.com—(32)3251
-4538 – História e Arquivologia - Arquivo Público Santos Dumont

Marta Maria Imbroinise da Fonseca – Barbacena - mmimbroini-
se@hotmail.com— (32) 3331-7590 - Profissão: Médica, turismologa
Marco Antônio Garcia Moreira — geógrafo@acessa.com.br - (32) 3212-
4780 - História e Geografia regionais—Juiz de Fora

Mauro Cristovão Alvim - Juiz de Fora - ostradeirosreaismotogroup (blog)
Profissão: Artista, historiador, escultor

Nilza Maria Almeida Santos (Nilza Cantoni) – Petrópolis -            Nil-
za.conatoni@gmail.com - (24) 2243-1236 - genealogista, jornalista

Otávio Soares Dulci — Sociologia e História de Minas Gerais — Belo Hori-
zonte— osdulci@terra.com.br

Paulo Cezar Ribeiro Luz - Rio de Janeiro - paulorluz@ig.com.br      -(21)
2513-0457 - Profissão: Militar da reserva

Renato Alves da Silva – Barbacena - Renato.med50@gmail.com (32)
3331-6866 - Acadêmico de Medicina em Barbacena

Roberto Garizo – Barbacena - rgarizo@globo.com (32) 3331-3903, 8402-
7906 - Aposentado do Banco do Brasil

Roney Fabiano Alves—Matias Barbosa— rfabianoalves@hotmail.com—
9965-2552— Historiador de Simão Pereira e Matias Barbosa

Sheldon   Augusto   Soares    Carvalho—Barbacena—      sheldonaugus-
to@hotmail.com Tel.: (32) 3331-3877— Professor e historiador

Sérgio Vitor Gonçalves – Barbacena - talus055@gamil.com      (32) 8861-
2279 – Professor - Conselho Patrimônio de Barroso

Silvia Regina Boussada – Barbacena -       silviaboussada@yahoo.com.br
(32) 8861-2411 - Turismologa, secretária

Silvia  Valéria da     Silva Araújo   –    Barbacena       -      Silvi-
a_varaujo13@hotmail.com—(32) 8822-5919 - servidora pública

Vanderlei   Tomás   —   História   de Juiz de Fora e do Caminho Novo
vanderleitomaz@uol.com.br

Vinícius Leal— Rio Pomba—(32) 3571-4927 / Instituto Federal de
viniciusleal@ymail.com—História da Zona da Mata

Wilton Souza Ferreira – Barbacena - wsouzaferreira@yahoo.com.br—(32)
3367-2199 – História, Patrimônio e Arquivologia
PALESTRA DE ABERTURA

                            Resumo do Autor

           ―GARCIA RODRIGUES PAIS E O CAMINHO NOVO‖
     A rota do Rio de Janeiro e a territorialidade das Minas do ouro

                                          Francisco Eduardo de Andrade
                              Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
                                              franciscodea@hotmail.com

       Abordaremos a constituição do espaço das Minas através da rota de
junção com a capitania do Rio de Janeiro. Pretendemos, ainda, avaliar a
significação política e econômica (mercantil) da novidade do caminho a-
través, sobretudo, das relações do famoso bandeirista Garcia Rodrigues
Pais, no início do século XVIII. Concluiremos a pesquisa propondo, ao
contrário de uma pressuposta demarcação do espaço agrominerário, uma
instituição fundamentalmente dinâmica, em que as rotas (caminhos e pi-
cadas) não funcionam simplesmente como ligações sociais, políticas e e-
conômicas entre distintos lugares (ou regiões), mas são a razão de ser
da territorialidade do interior brazílico.


         “GARCIA RODRIGUES PAIS E O CAMINHO NOVO”
                                                  Crítica de Nilza Cantoni
      Na primeira comunicação do encontro, Francisco Eduardo de An-
drade buscou relacionar o espaço e o tempo, abordando a rota do Rio de
Janeiro e as minas do ouro. Falando sobre Garcia Rodrigues Paes, consi-
derado o ‗abridor‘ do Caminho Novo, Andrade informou que ele ‗investiu
nas promessas régias sobre os descobrimentos das minas de ouro e ale-
gou ter sido o descobridor‘, requerendo títulos, privilégios e honrarias.
Além disso, atrelou as investidas de seu pai Fernão Dias Paes Leme ao
descobrimento das minas, dizendo que eles ‗foram a causa primária‘ do
enriquecimento da Fazenda Real e responsáveis pela abertura de cami-
nhos para as minas. Ou seja, ele, Garcia Paes, dizia-se a pessoa adequa-
da para abrir nova rota ligando o Rio de Janeiro à região de mineração.
      Andrade discorreu sobre várias atitudes de Garcia Paes, como o
pedido que fez ao Rei de Portugal para abrir um caminho ―junto ao rio
Paraíba do Sul‖ e o pedido de privilégios sobre um determinado território,
em recompensa aos serviços prestados. Tal espaço estaria limitado de
um lado pela Serra dos Órgãos e de outro pela saída para os ‗Campos
Gerais‖ com dez léguas de testada.
Ao Longo da negociação, Garcia Paes obteve o Guarda-Mor Geral
das Minas. Entretanto, ―o que Garcia era aproveitar as amplas oportuni-
dades advindas do trânsito comercial em volta do Rio de Janeiro, ou seja
do interior do Rio‖. Naquele momento valorizava-se mais o acesso aos
campos de criação de gado bovino, que depois se tornaram conhecidos
como Campos Gerais, do que as minas de aluvião. Francisco Andrade
lembrou, também, que mais de 90 anos antes da descoberta do ouro, o
Governador do Rio de Janeiro já mencionara a intenção de abrir o cami-
nho para os Campos Gerais. E que Pedro Taques de Almeida citou tenta-
tivas dos moradores do Rio de fazer a obra, abrindo nova fronteira para a
criação de gado.
       Andrade faz questão de frisar que Caminho Novo significa um cami-
nho recente, não uma novidade, mas um caminho mais moderno em re-
lação ao Caminho Velho que saía de São Paulo. Em seus estudos o autor
observou que já existiam ‗picadas‘ na Serra dos Órgãos, abertas pelos
índios. Portanto, o Caminho Novo, no sentido de uma nova forma de a-
tingir o sertão desconhecido, é uma ilusão.
       Na última década do século XVIII, ―havia um verdadeiro confronto
de topônimos‖, os quais garantiriam a primazia da entrada, através da
associação dos nomes dados aos locais, disse o palestrante. Frisando que
já existia a intenção de abrir uma outra via, em substituição ao ‗Caminho
Velho‘ para daí auferir lucros com o trânsito comercial pelo local, Andrade
mencionou outros bandeiristas que haviam solicitado autorização da Co-
roa para abrir Caminho que levasse ao sertão dos Campos Gerais, mas
apenas a Garcia teria sido permitido tal empreitada. Entre as recompen-
sas que todos pediam, estava a concessão de ―vila na altura do Paraíba‖.
Obtida a concessão, ―Garcia Rodrigues Paes transferiu sua família para o
Paraíba e montou uma grande fazenda para abastecer os viajantes que
se dirigiam para as minas. Embora tivesse obtido o cargo de Guarda-Mor
Geral das Minas, nomeou um substituto para o seu lugar‖. Estaria, por-
tanto, muito mais interessado no ‗negócio de ocasião‘ que era o Caminho
Novo. A prática de nomear substituto tornou-se comum posteriormente.
       Nesta primeira comunicação do Encontro, o professor Francisco An-
drade nos mostrou que ‗caminhar é a oportunidade de descobrir o que a
terra esconde‘ e que a descoberta das minas foi uma decorrência do
trânsito e não que o ‗descobrimento do ouro teria produzido o caminho.
Pelo contrário, as minas é que são resultados dos caminhos‘. O Caminho
Novo representou muito mais do que uma via de acesso às minas, com
destaque para a formação de roças para produção dos gêneros vendidos
aos caminhantes que por ali passavam.
       Resta-nos a indicação do livro:
ANDRADE, Francisco Eduardo de. A Invenção de Minas Gerais. Belo Hori-
zonte: Autêntica, 2008.
Fonte:          Bl og      de      Nil za      Cantoni          http://
coloniaconstansa.blogspot.com/2010/09/garcia-rodrigues-paes-e-o-
caminho-novo.html
O CAMINHO NOVO EM SANTOS DUMONT

                                         Luiz Mauro Andrade da Fonseca
                                       Centro de Memória Belisário Pena
                                                 lmkultur@hotmail.com

       O Caminho Novo passando pela cidade de Santos Dumont foi assi-
nalado por vários viajantes estrangeiros, como Tavares de Brito (1732),
Costa Matoso (1749), o governador Luís Diogo Lobo da Silva (1763-69),
John Mawe (1808), Von Eschwege (1809), Saint-Hilaire (1816), John Lu-
cock (1818), Pohl (1818), Cunha Matos (1823), Langsdorf (1824), Walsh
(1829), Castelnau (1845), Burmeister (1850), Richard Burton (1867),
Richard Burton (1867) e Canstatt (1871).
       De acordo com seus relatos, o Caminho Novo entrava por Pedro Al-
ves (Francesa), seguindo, rumo norte, até o Bairro João Gomes Velho, a
princípio por fora da cidade com um traçado semelhante ao da BR-O40, e
depois com uma variante entrando na cidade pela atual Rua 15 de feve-
reiro (Rocinha de João Gomes), subindo a Rua Afonso Pena e chegando a
João Gomes Velho (Fazenda de João Gomes).
       De João Gomes Velho (Bairro Santo Antônio) o trecho atravessava
o Rio das Posses (citado como Córrego), subia o morro atrás do Seminá-
rio Seráfico, atingindo o sítio da Cabeça Branca (no atual Bairro da Gló-
ria) e continuava, rumo norte, em direção a Pinho Velho, Soledade, Pinho
Novo, Fazenda da Mantiqueira, para transpor a Serra da Mantiqueira pelo
trecho da antiga União e Indústria, até atingir a Fazenda da Borda do
Campos (em Antônio Carlos) e depois a Fazenda do Registro Velho (em
Sá Fortes).
       O trajeto básico Pedro Alves – João Gomes – Pinho tem sua toponí-
mia derivada dos sesmeiros Pedro Alves de Oliveira, João Gomes Martins
e Agostinho Pinho e Silva, primitivos moradores do Caminho Novo na re-
gião.

BIBLIOGRAFIA

BRANCO, Oswaldo Henrique Castello. Uma cidade à beira do Caminho
Novo. Petrópolis: Vozes, 1988.

O PASSINHO. Informativo dos Pesquisadores Independentes de Santos
Dumont. (1993-1997).
O CAMINHO NOVO EM SANTOS DUMONT
                                                  Crítica de Nilza Cantoni
       A partir de um conjunto de slides, Luiz Mauro Andrade da Fonseca
apresentou diversos mapas que nos ajudaram a localizar a região objeto
de seus estudos. Iniciou mostrando o percurso do Caminho Velho, pas-
sando pelo Sul de Minas, indo para São João del Rei e seguindo para Ou-
ro Preto. Em seguida reiterou, conforme dissera Francisco Eduardo de
Andrade, que foram diversos os ‗abridores‘ do Caminho Novo, os quais se
utilizaram de picadas abertas pelos índios e remodelaram o percurso do
Rio de Janeiro a Ouro Preto, ‗encurtando consideravelmente a viagem‘.
Para percorrer o Caminho Velho, de Parati a Ouro Preto, eram necessá-
rios entre 75 e 90 dias.
       Fonseca explicou que a temática do encontro seria analisar o trecho
do Caminho Novo de Simão Pereira a Alfredo Vasconcelos, passando pela
Zona da Mata mineira e adentrando a Zona das Vertentes. Destacou, no
mapa, as localidades de Simão Pereira, Matias Barbosa, Juiz de Fora, Ew-
banck da Câmara, Santos Dumont, Antônio Carlos, Barbacena e Alfredo
Vasconcelos.
       Lembrou que o Programa Estrada Real, do Governo de Minas Ge-
rais, tem por objetivo incentivar especialmente a indústria do turismo,
deixando lacunas significativas no que concerne aos estudos históricos e
geográficos que permitiriam um conhecimento mais amplo do que seja a
Estrada Real.
       ‗Os índios foram os autores dos caminhos, tanto o velho como o
novo, aproveitados pelos bandeiristas‘ em suas incursões pela terra mi-
neira que inicialmente foram motivadas pelas tentativas de captura dos
povos nativos, declarou Fonseca. Numa cartografia de 1777, indicou o
Caminho Velho e a seguir dedicou-se ao trecho do Caminho Novo que a-
travessa o atual município de Santos Dumont, mencionando as consultas
realizadas a estudiosos do assunto e suas visitas aos locais, fazendo di-
versas fotografias.
       Segundo o professor Fonseca, a melhor descrição que encontrou
daquele percurso foi a de Costa Matoso, autor que menciona o Sítio de
Luiz Ferreira, atualmente Ewbanck da Câmara, o Sítio de Pedro Alves, lo-
cal atualmente conhecido por Francesa, a Rocinha e Sítio de João Gomes,
o Sítio de Pinho Velho, Pinho Novo e o Sítio da Mantiqueira. Estas locali-
dades foram indicadas no mapa.
       Um dos pontos altos da comunicação de Luiz Mauro da Fonseca foi
a apresentação de um Mapa Temático, de 1991, cujo autor nasceu em
Santos Dumont (Eng° Ronaldo Couri de Castro). Este trabalho apresenta
a região a partir de Chapéu d‘Uvas, atualmente unido a Paula Lima, dis-
trito de Juiz de Fora.
Nas diversas fotografias, Fonseca chamou a atenção para a
multiplicidade de ‗trilhas‘ que certamente pertenceram ao Caminho Novo,
desmistificando a impressão de que seria um único percurso e demons-
trando que existiam muitas variantes. Ressaltou que é praticamente im-
possível, atualmente, identificar a rota original, uma vez que alternativas
foram sendo abertas no decorrer do tempo. Importante, pois, mostrar a
direção pela qual o Caminho seguia. No caso, a direção de Ewbanck da
Câmara para Santos Dumont e depois para Barbacena.
       Indicar a Estrada de Ferro Central do Brasil foi um facilitador, uma
vez que a ferrovia tem um traçado bem próximo ao do Caminho Novo,
ladeando-o quase sempre. Foram apresentadas, também, fotografias de
antigas fazendas da região citadas pelos viajantes estrangeiros. Algumas
estão preservadas, outras nem tanto. Numa das imagens pudemos ver
um marco da Estrada Real e bem ao lado uma das trilhas que compuse-
ram o Caminho Novo.
       Quando chegou à área urbana de Santos Dumont, Fonseca apre-
sentou antigas fotografias da cidade com seus casarões imponentes, al-
guns tombados pelo Patrimônio Municipal durante sua gestão à frente
daquele órgão.
       As fotografias da Fazenda Mantiqueira demonstraram o excelente
estado de conservação em que se encontra. A propriedade pertenceu ao
inconfidente José Aires Gomes.
       Depois da Mantiqueira, sobe-se a serra para chegar à Fazenda do
Registro, que se encontra abandonada e precisando de socorro. Deste
trecho foi apresentada uma fotografia com partes do calçamento que ali
existiu, além de imagens panorâmicas da Zona da Mata, com araucárias,
vistas já a meio caminho para a região denominada ‗Campo‘, de onde
veio o topônimo Borda do Campo. Também foi possível ver o que resta
de chafarizes, incluindo o denominado D. Pedro II. Uma das imagens
mais significativas, entretanto, mostra a transição entre a mata e o cam-
po, numa paisagem realmente muito bonita.
       Luiz Mauro Andrade da Fonseca, além de médico e professor, é
membro do Centro de Memória ―Belisário Pena‖ de Barbacena, uma das
entidades promotoras deste primeiro Encontro de Pesquisadores de His-
tória e Geografia do Caminho Novo da Estrada Real. É, ainda, autor de
uma obra sobre a história de Padre Correia de Almeida.
      Fonte: Blog de Nilza Cantoni http://
coloniaconstansa.blogspot.com/2010/09/garcia-rodrigues-paes-e-o-
caminho-novo.html
O CAMINHO NOVO NA BORDA DO CAMPO


                                          Francisco Rodrigues de Oliveira
                                                              ACAHMPAS
                                                  chicoteoria@gmail.com


     Vindo da Zona da Mata, o Caminho Novo chegava à Fazenda da Bor-
da do Campo seguindo em direção norte até a histórica Fazenda do Re-
gistro.
      Daí alcançava o arraial da Igreja Nova (Barbacena), seguindo até o
alto do Cangalheiro (Bairro Santo Antônio), dirigindo-se finalmente para
o Ribeirão Alberto Dias (Alfredo Vasconcelos). Em direção norte, o trajeto
passava por inicialmente por Ressaca, depois em Ressaquinha até atingir
Carandaí.

BIBLIOGRAFIA
•GUIMARÃES, Geraldo. Considerações sobre as origens de Barbacena.
Revista do I.H.G. de São João del Rei. 1988. p. 112.
•FERREIRA, J. C. Soares. Notas históricas sobre Barbacena, III. O Serici-
cultor, 8 de junho de 1918. Barbacena; IV. O Sericicultor, 17 de agosto
de 1918. Barbacena.
ROMEIRO, A. e BOTELHO, A. V. Dicionário Histórico das Minas Gerais,
Período colonial. Belho Horizonte: Ed. Autêntica, 2003, p. 63 e 108.
O CAMINHO NOVO NA BORDA DO CAMPO
                                                  Crítica de Nilza Cantoni
       Francisco Rodrigues de Oliveira descreveu o Caminho Novo na
‗Zona do Campo‘, iniciando pela explicação de que Barbacena representa
o limite entre o campo e a mata. A Zona da Mata estende-se até o sopé
da serra, começando aí a rarear na medida em que aumenta a altitude.
Este limite natural entre os dois espaços não corresponde rigorosamente
à divisão oficial entre os atuais municípios da região.
       Oliveira lembrou que, para os viajantes estrangeiros, o ‗campo re-
presenta um refresco‘ após a penosa travessia da mata fechada, geral-
mente durante o dia inteiro. Quando os viajantes começavam a sair da
Mata Atlântica e viam o campo descortinar-se à frente, sentiam-se mais
animados com a perspectiva de um ambiente menos inóspito, com tem-
peratura mais fria. A viagem, a partir daí, rendia mais.
       O professor chamou a atenção para alguns aspectos da história de
Barbacena. Além de ter descrito rapidamente o período que vai de sua
fundação até a elevação à categoria de Vila, em 1791, lembrou que a en-
tão localidade denominada Borda do Campo nasceu do Caminho Novo, ou
seja, foi a reorganização desta rota de acesso para a zona da mineração
que criou as condições para o desenvolvimento do povoado.
       A Fazenda do Registro foi citada como pólo de desenvolvimento ini-
cial, uma vez que ali foram sendo agregados os equipamentos necessá-
rios aos viajantes, quer seja no sentido de reabastecimento para prosse-
guirem viagem, quer seja na obrigatoriedade de pararem para cumpri-
mento das obrigações fiscais. O local, hoje conhecido como Registro Ve-
lho, deixou de funcionar como posto de fiscalização por volta de 1790.
       E aqui entra uma conversa paralela, ocorrida no momento em que
Oliveira falou do Registro Velho. Trata-se da definição do período em que
a fiscalização teria sido transferida para o ‗Registro do Caminho Novo‘,
então localizado em Matias Barbosa. Um dos ouvintes informou que o no-
vo registro teria começado a funcionar em 1790, data compatível com in-
formação obtida oralmente na Biblioteca Nacional, por ocasião de pesqui-
sa realizada naquela instituição em conjunto de documentos denominado
Abecedário do Caminho Novo.
       Infelizmente o Encontro de Pesquisadores de História e Geografia
do Caminho Novo da Estrada Real não contou com a presença de Roney
Fabiano Alves, de Matias Barbosa, profundo conhecedor da história local,
com destaque para o funcionamento do Registro dito Novo. Alves falaria
sobre O Caminho Novo em Simão Pereira, abordando o trecho que da
margem esquerda do Paraíba do Sul inicia a trajetória pela terra mineira,
indo até o território onde mais tarde nasceria o povoado de Santo Antô-
nio do Paraibuna, hoje o município de Juiz de Fora. Infelizmente, tam-
bém, Antônio Henrique Lacerda, que falaria sobre o trecho entre Juiz de
Fora e Ewbanck da Câmara, não pode comparecer em função de compro-
missos de última hora.
Voltando a Oliveira, sua comunicação abordou as características to-
pográficas da Borda do Campo que representam um divisor em relação à
mata, com o terreno tornando-se mais plano. Ressaltou que, diferente-
mente da região anterior, no campo os núcleos habitados ficavam mais
distantes uns dos outros. Outra característica destacada foi a possibilida-
de de desenvolver plantações na área do campo, bem como obter pasta-
gens para a criação de gado. Este aspecto também mereceu comentário
na platéia, no sentido de que a agricultura teria sido um atrativo a fixar
moradores no local, reiterando o que havia sido dito mais cedo por Fran-
cisco Andrade a respeito do movimento comercial ter sido o grande pro-
pulsor para a ocupação das margens do Caminho Novo.
      Oliveira informou que, em consequência da topografia diferente da
mata, no campo era mais fácil promover deslocamentos do caminho para
terreno mais favorável, quando a trilha conhecida se tornasse inviável
por fenômenos naturais ou desgaste pelo uso. A seguir apresentou tre-
chos de um mapa do final do século XIX, executado já com recursos tec-
nológicos mais adequados ao objetivo de registrar as características físi-
cas de uma região. Através do slide, os presentes puderam visualizar a
Serra da Mantiqueira, os cursos d‘água correndo para oeste e noroeste e
parte da bacia Rio Paraibuna.
      Foram destacados os diversos caminhos então existentes, chaman-
do a atenção para a Estrada de Ferro que seguiu uma das variantes do
Caminho Novo para transpor a serra. Outra ‗subida‘ era a que foi utiliza-
da no prolongamento da Estrada União Indústria, no século seguinte. A-
tualmente a BR 040 representa uma terceira via de passagem por aquele
trecho.
      O Professor Francisco abordou, também, as alternativas utilizadas
para superar os obstáculos naturais, com destaque para os cursos
d‘água. Lembrou que geralmente existe uma ‗garganta‘ próximo aos pi-
cos de morros e estas áreas de depressão eram procuradas como alter-
nativa de passagem, especialmente no entorno das nascentes de rios,
por permitirem transposição mais fácil.
      Francisco Rodrigues de Oliveira atuou como professor na Universi-
dade Federal de Viçosa e na UNIPAC, em Barbacena. É presidente da As-
sociação Cultural do Arquivo Histórico Municipal Professor Altair José Sa-
vassi – ACAHMPAS, entidade que se uniu ao Centro de Memória Belisário
Pena para a promoção do Encontro. Na década de 1990, quando percorri-
a arquivos públicos e privados de Barbacena, realizou levantamentos que
lhe permitiram escrever alguns trabalhos. Entre eles, o perfil biográfico
de seu pai, Godofredo Rodrigues de Oliveira. Outro trabalho é o livro His-
tória da Construção da Estrada de Barbacena a Ibertioga publicado em
2002.


Fonte: Blog de Nilza Cantoni http://
coloniaconstansa.blogspot.com/2010/09/garcia-rodrigues-paes-e-o-
caminho-novo.html
O CAMINHO NOVO DA ESTRADA REAL NOS LIMITES
                           DE JUIZ DE FORA
                                                          Vanderlei Tomaz
      O Caminho Novo era a estrada aberta pelo bandeirante Garcia Ro-
drigues Paes, no final do século XVII e início do XVIII, com a finalidade
de facilitar o transporte do ouro e de pedras preciosas de Minas Gerais
para o Rio de Janeiro. O caminho mais curto entre a produção de rique-
zas e o litoral, de onde elas partiriam para Portugal. Uma alternativa
mais rápida e segura ao Caminho Velho, a estrada real mais antiga que,
partindo do Rio, passava por São Paulo e pelo sul de Minas.
      Por essa estrada passaram bandeirantes, índios, escravos, tropei-
ros, cientistas europeus, ilustradores da nossa fauna e flora, e outros ar-
tistas, inconfidentes mineiros, o Tiradentes como o guarda do caminho e
propagandista do movimento de libertação, o corpo esquartejado do
mártir mineiro, D.Pedro I em 1831, o então Barão de Caxias durante a
Revolução Liberal de 1842, e tantos outros que ajudaram a escrever a
história de Minas e do Brasil.
      Para promover a ocupação das margens da estrada, a Coroa Portu-
guesa distribuiu concessões de sesmarias ao longo do caminho.
      Sesmarias eram terrenos que chegavam a ter 30 quilômetros qua-
drados.
      Aprovada a concessão da área, o sesmeiro (proprietário do terre-
no), acompanhado dos agrimensores (que faziam a medição da área, e
também chamados de ―piloto‖ e ―louvado‖) fincavam uma pedra com
quatro cruzes (uma em cada face) na margem da estrada. A partir desta
pedra (também chamada de ―pião de pedra‖ ou ―marco de sesmaria‖) e-
ram feitas mais quatro medições: a sudoeste da pedra, a noroeste, a
nordeste e a sudeste. Ao final de cada medição, uma outra pedra era co-
locada (menor que a principal e com uma cruz escavada). Assim, era for-
mada a quadra de sesmaria.
      Como conseqüência dessa distribuição de terras, surgiram fazen-
das, inúmeros ranchos para pousadas dos tropeiros e igrejas. O comércio
às margens da estrada foi florescendo e, assim, povoados iam se for-
mando ao longo do Caminho Novo, dando origem às atuais cidades de
Simão Pereira, Matias Barbosa, JUIZ DE FORA, Ewbank da Câmara, San-
tos Dumont, Antônio Carlos, Barbacena, e outras.
                  O CAMINHO NOVO EM JUIZ DE FORA
     Juiz de Fora é cortada por cerca de 50 km do Caminho Novo da Es-
trada Real, entre os municípios de Matias Barbosa e Ewbank da Câmara,
sempre na margem esquerda do Rio Paraibuna, nunca o atravessando.
    Importante lembrar que, em alguns trechos, especialmente na região
urbana, o percurso foi modificado devido aos parcelamentos das áreas,
novos arruamentos e retificações. Outros trechos da estrada estão impe-
didos por estarem em terrenos particulares ou área militar.
A definição desse trajeto foi possível estudando velhos mapas, pes-
quisando os relatos dos viajantes, onde estes fazem referências às locali-
dades citadas, e a localização dos marcos de sesmarias de quatro cruzes
que eram colocados na margem do caminho. Fundamental foi ouvir os
relatos de moradores idosos nascidos nesses lugares, onde puderam indi-
car quais eram os mais antigos caminhos do lugar, com informações her-
dadas de pais e avós.
       O Caminho Novo foi a primeira via pública aberta na região, com o
propósito de encurtar a distância entre o Rio de Janeiro e os lugares de
onde se extraía a nossa riqueza mineral, além de permitir a ocupação do
território por meio da distribuição de sesmarias.
       Em parte do trajeto foram aproveitadas trilhas abertas pelos ín-
dios.
       Para conhecer o traçado da estrada que deu origem à nossa cida-
de, sugerimos acompanhar o itinerário que apresentamos a seguir. Pro-
curamos dividir a cidade em quatro partes para que a visita aconteça em
quatro dias.
       Com isso, permite-se visitar os monumentos mais antigos que di-
zem respeito à história de Juiz de Fora. O Caminho Novo transforma-se,
assim, em um patrimônio cultural de 300 anos. Na maior parte do traje-
to, o passeio pode ser feito a pé, a cavalo, de bicicleta, moto ou automó-
vel.

     Leia atentamente e um bom passeio ao túnel do tempo pelo Cami-
nho Novo da Estrada Real em Juiz de Fora.


1º DIA – Partindo da Ponte do Zamba sobre o Rio Paraibuna, na divisa
dos municípios de Juiz de Fora e Matias Barbosa, deverá ser tomada a
estrada do Joasal, entre o rio e a ferrovia. No final da estrada, atravessar
a ferrovia e continuar seguindo passando pelo Marmelo, acesso ao Retiro,
Niterói e túnel da ferrovia, indo em direção à região do bairro Santo An-
tônio (Tigüera). Percorrer toda a extensão da Rua José Francisco Garcia
(Tigüera), até atingir a Rua Nossa Senhora de Lourdes. Seguir pela Rua
Nossa Senhora de Lourdes, Rua Costa Carvalho e Avenida Sete de Se-
tembro, até atingir a Avenida Garibaldi Campinhos (lugar onde existiu a
Fazenda do Juiz de Fora, no bairro Santos Anjos).
Nomes antigos do trecho citado: Morro dos Arrependidos, Cruz das Al-
mas, Medeiros, Morro do Marmelo, Marmelo, Fazenda do Marmelo, Santo
Antônio da Boiada, Boiada, Morro da Boiada, Fazenda do Juiz de Fora.
Observação: Do final da estrada do Joasal até o Tigüera, o trecho está
impedido. Sendo assim, a alternativa mais próxima seria o caminho para
Caeté, atingindo o Jardim Esperança, Retiro, Alameda Ilva Mello Reis e
Bairro Santo Antônio.
2º DIA – Contornar a Praça Teotônio Vilela (Vitorino Braga), percorrer a
Rua Henrique Vaz, Rua 31 de Maio, Avenida Surerus, Avenida Maria Per-
pétua, Avenida Brasil, Avenida Rui Barbosa e Avenida Alencar Tristão.
Passar pela casa do Alcaide-Mor (casarão próximo ao cemitério Parque da
Saudade), seguir pela Rua Paracatu até atingir a Avenida Juiz de Fora.
Seguir por esta via até a altura do SEST/SENAT. Tomar a estrada não pa-
vimentada à esquerda, margeando o córrego Ribeirão das Rosas, seguin-
do em direção ao Campo de Instruções do Exército. Passar pela Fazenda
Ribeirão das Rosas, atravessar o córrego, e seguir pela estrada de terra à
direita, em direção à estrada da Remonta. Na estrada da Remonta
(asfaltada), seguir à direita, passando em frente à sede campestre do
Círculo Militar, até chegar ao Camping Clube de Juiz de Fora.
Nomes antigos do trecho citado: Fazenda do Juiz de Fora, Alcaide-Mor,
Alcaidemoria, Tapera, Rancho da Tapera, Ribeirão das Rosas e Ribeirão.
Observação: O Caminho Novo, a partir da Avenida Brasil, seguia por toda
a extensão da Avenida Rui Barbosa, atravessando a ponte do córrego da
Tapera (conhecida como Ponte Vermelha), e encontrando com a Rua Pa-
racatu. Na Avenida Alencar Tristão existia uma porteira que dava acesso
à casa do Alcaide-Mor, que pertenceu à família Tristão. O trecho da es-
trada entre o SEST/SENAT e a Remonta está em área militar. É necessá-
ria autorização para percorre-lo.

3º DIA – Seguir em direção à barragem da Represa João Penido. Conti-
nuar pela estrada em direção ao Campo Grande. Na altura do sítio da fa-
mília Possali, continuar pela estrada velha da represa até atingir a Aveni-
da JK, na Barreira do Triunfo.
Nomes antigos do trecho citado: Monte Belo, Cachoeira, Entre Morros,
Cabral, Antônio Moreira, Rancho do Queiroz, Queiroz e Contendas.
Observação: Com o granjeamento, parte da estrada original (hoje, em
áreas particulares) foi desprezada, mas ainda pode ser vista na região do
Campo Grande. É possível observar a calha do Caminho Novo e um mar-
co de sesmaria no sítio dos Possali. Nos fundos das casas, à direita, que
margeiam a Avenida JK, em Barreira do Triunfo, pode ser visto um trecho
do Caminho Novo no corte do morro. Nessa região, o caminho original
cortava a horta dos Possali e o clube Thermas, alcançando a praça da
Barreira.

4º DIA – Seguir pela Avenida JK até a BR040. Continuar pela rodovia até
atingir a estrada do Tinguá, à esquerda após o restaurante Fartura no Fo-
gão. Saindo da BR040, seguir pela estrada do Tinguá, atravessando o
córrego da Estiva. Continuar por toda a extensão da estrada até atingir a
Rua Vicente Gávio (asfaltada), em Paula Lima. Ao aproximar-se da estra-
da para a fazenda Vileta (última porteira à esquerda), seguir por essa es-
trada, passando por duas porteiras e continuar avançando em direção à
Ewbank da Câmara.
Nomes antigos do trecho citado: Rancho do Queiroz, Queiroz, Contendas,
Estiva, Azevedo, Coqueiros, Sobradinho, Luiz Antônio, Engenho do Mato,
Engenho, Nossa Senhora da Assunção do Engenho do Mato, Rocinha do
Engenho, Fazenda da Rocinha, Rocinha e Chapéu D‘Uvas.
Observação: Próximo ao Restaurante Sílvio’s, na BR040, do lado direito,
podem ser vistas ruínas de capelinha do Rancho do Queiroz. O nome
Paula Lima para o lugar surgiu em 1891. Até então, o nome era Chapéu
D‘Uvas. O Caminho Novo seguia paralelo à estrada do Tinguá. Na fazen-
da dos herdeiros de Agnelo Lopes (lugar que era chamado de Azevedo),
pode ser vista uma grande extensão do trecho original do Caminho Novo.
Na Rua Vicente Gávio, o visitante vai encontrar um casarão que perten-
ceu à família Teixeira de Carvalho, onde teria pernoitado D.Pedro I em
1831. A Igreja de N.S. da Assunção, em Paula Lima, surgiu em meados
do século XVIII no mesmo local. Ela já passou por diversas reformas. Na
estrada para a fazenda Vileta, à direita, o visitante encontrará um marco
de sesmaria. Seguindo por esta estrada, mais adiante, irá deparar-se
com as ruínas de um antigo casarão.




       Marco de Sesmaria em Paula Lima (antiga Chapéu D‘Uvas),
           na Fazenda Vileta, às margens do Caminho Novo.


      Observação: O Caminho Novo em Juiz de Fora, de Vanderlei Tomaz
não foi apresentado no Encontro, mas foi permitida a sua publicação nes-
tes anais pelo autor.
CAMINHO NOVO E MEDICINA


                                            Geraldo Barroso de Carvalho
                                        Centro de Memória Belisário Pena
                                                   gbarroso@uol.com.br

      Depois que um desbravador descobriu pepitas de ouro no Córrego
Tripuí, no sopé da Serra do Itacolomi, a notícia da descoberta alastrou-se
e teve início, então, uma migração maciça de pessoas de todos os lados,
em busca das grandes reservas de ouro. Teve de ser aumentada a im-
portação de escravos, para o trabalho nas lavras, para somar-se ao aflu-
xo dos portugueses e aventureiros, formando uma superpopulação poli-
morfa em áreas insalubres. À insalubridade, aliou-se a promiscuidade,
propiciando a entrada de doenças novas em vasta região desprovida de
estradas e de médicos.
      Tornou-se necessária a abertura de um caminho e a aquisição de
animais de carga e de tração, para o transporte de géneros e alimentos,
para as lavras auríferas. De caminhos colaterais, tropeiros atingiam o ca-
minho novo e estabeleciam pontos de paradas, As viagens no interior de
Minas, em térreos acidentados, eram cansativas, morosas e extenuantes.
As provisões eram levadas por escravos, mas muitos sucumbiam na tare-
fa.   Fez-se   imperativo     trazer do    sul    mulas     para   tarefas
de carga e gado para alimento e como força de tração. No sul, muares
selvagens e gado bovino proliferaram abandonados pelos primeiros ex-
ploradores, na vastidão dos Pampas.
      Usando esses animais, transitavam, pelo Caminho Novo, benzedo-
res, curandeiros e dentistas itinerantes. Alguns curandeiros especializa-
vam-se no uso de ervasencontradiças na Mata Atlântica; outros, na arte
de ―encanar‖ membros fraturados, na abertura de abscessos, na retirada
de espinhos, bichos-de-pé e corpos estranhos (feijão, milho) de narinas e
ouvidos. Frequentemente, as crianças introduziam esses grãos nas nari-
nas e nos ouvidos, principalmente nas épocas de colheitas.
      Assim, os curandeiros e afins entraram em ação. O mais famoso
deles foi Tiradentes, que, além de curador, era dentista e boticário, pro-
prietário de uma botica em Ouro Preto. Tiradentes exerceu suas ativida-
des extra-policiais em Vila Rica, no Rio e nas estradas de Minas.
A botica de Tiradentes era bem sortida de folhas, cascas e raízes,
para preparar chás, xaropes, pós e ungüentos diversos, remédios tam-
bém usados pelos tropeiros e curandeiros nas paradas às margens do
Caminho Novo. Entre outros remédios, dispunha de figueira silvestre, i-
peca ou poaia, erva-de-santa-maria, feto macho, sassafrás, salsaparrilha,
sene,    cipó   de    carijó,   óleo   de   rícino,  maná,     congonha,
picão, unha de anta, ruibarbo e muitas outras drogas, à base de vege-
tais. Outras práticas curativas usadas por curandeiros e tropeiros incluí-
am: Aplicação, sobre feridas, de folhas de vegetais, borra de café, barro
argiloso e esterco fresco; teia de aranha como hemostático; talas de
bambu e cipó para imobilização de membro fraturado; lanceta para abrir
abscessos e aplicar sangrias; aplicação de toucinho sobre bernes; aplica-
ção de fumo para contornar lesões da pele; uso de chás de cipós para pi-
cadas de cobra e do próprio cipó, como torniquete.
      Usavam-se beberagens, benzeduras, rezas e simpatias como: ca-
chaça com cipó-guiné na sexta-feira da paixão, para fechar o corpo
(escravos); cachaça com jurubeba contra picadas de urutu, jararaca e ja-
raracuçu; infusão da raiz da catuaba como afrodisíaco (índios tupis);
benzeção      para     soltar     placenta    retida;     rezas     aos
santos protetores e simpatias diversas.
      A farmácia dos tropeiros era formada por ervas, raízes, frutos sil-
vestres e cascas de vegetais, usados em chás, infusões, banhos e outras
aplicações. Eis alguns exemplos:
Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia). Para os males da pele e do estô-
mago.
Ipê-roxo (Fabebuia leptaphylla). Banho de ipê-roxo curava sarna, ecze-
mas, "impinges" e corrimentos. O chá era usado em muitas enfermidades
Douradinha (Waltheria douradinha): Males do pulmão, úlceras idosas e
tumores Tanchagem (Plantago major). Em chá ou em banho: para dores
e cicatrização de queimaduras, além de efeito diurético, depurativo e
adstringente.
Picão (Bidens pilosus): reumatismo, cálculo renal e vesical, má digestão,
doenças hepáticas e febres. Principal indicação: icterícias.
Unha-de-gato (Uncaria tormentosa). Banho de casca desse cipó era indi-
cado para "espinhas", reumatismos, diabetes, hemorróidas e câncer.
Quebra-pedra (Phttlanthus niruri), Marmelinho Tournefortia paniculata) e
Chapeu-de-couro (Echinodorus grandiflorus): Cálculos renais, afecções
dos rins e do fígado Erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioidis):
contra verminoses Feto-macho ou broto de samambaia (Polipodium filix-
mas): contra solitária Taiuiá (Cayaponia tayuya), também conhecido co-
mo abobrinha-do-mato ou melão-desão-caetano era usado no reumatis-
mo, como analgésico. Estudos recentes comprovam que é uni anti-
oxidante, sequestrante de radicais livres. Jurubeba {Solanium panicula-
tum).    Dela    utilizavam-se    os    frutos   e   as   raízes,  como
depurativo, cicatrizante, digestivo, diurético, na "desobstrução do fíga-
do". Uma das indicações da jurubeba era no tratamento da picada de co-
bra. Cachaça com jurubeba era bebida em grandes doses, nas mordidas
de cobras. Mamona (Ricinus communis): O óleo da semente era usado
como purgativo (óleo de rícino). O óleo era também usado como combu-
rente, na iluminação.
     REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
O1LIAM, José. Tiradentes. Ed. Itatiaia. Belo Horizonte: 1985
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. Ed. Itatiaia. Belo
Horizonte:l982
HESPANHOL, Maria de Fátima L. (Tina). Caminho Novo: uma história de
lutas e emoções. Gráfica e Ed. Cidade de Barbacena. Barbacena: 2008

ANASTASIA - Carla M. J.. Geografia do Crime. Ed, UFMG. Belo Horizonte:
2005

SPIX E MARTÍUS. Viagem ao Brasil. Ed. Itatiaia. Belo Horizonte: 1981
CAMINHO NOVO E MEDICINA
                                                    Crítica de Nilza Cantoni
       Apresentando-se como um ‗curioso‘ a respeito da história da medi-
cina e seus labirintos, o médico dermatologista Geraldo Barroso de Car-
valho, professor da Faculdade de Medicina de Barbacna, informou que fa-
laria sobre a Medicina no Caminho Novo de forma muito simples.
       Iniciou discorrendo sobre o panorama da época, ressaltando que
uma grande quantidade de pessoas buscou o local das minas a partir da
descoberta do ouro no sopé da Serra do Itacolomi. Foi também necessá-
rio aumentar a importação de escravos para suprir a necessidade de mão
de obra. ‗Esse afluxo imenso de pessoas, de todos os lados, criou uma
superpopulação numa área extremamente insalubre‘, propiciando a en-
trada de muitas doenças novas na região, disse Barroso. Doenças endê-
micas na África e no sul do Brasil, por exemplo. De certa forma, a região
tornou-se uma espécie de Serra Pelada, conforme indicava a fotografia
no slide.
       Por esta época ‗apareceu em Ouro Preto um cidadão chamado Luiz
Gomes Ferreira, português‘, que ouvira notícias da descoberta e inicial-
mente se dirigira para Sabará. Depois de 5 anos, em 1716, estabeleceu-
se entre Ouro Preto e Mariana e ali passou a ser procurado pelas pessoas
que buscavam tratamento para suas doenças. Teria sido o primeiro
‗médico‘       a    deixar     notícia   na     história    da      região.
       Barroso acrescentou que, além das pessoas, houve um aumento
significativo do plantel de animais de carga, adquiridos no sul, para onde
os espanhóis tinham levando muitos muares com o objetivo de fazer o
transporte da prata do Peru para Buenos Aires. Muitos desses animais
haviam se perdido pelas pradarias do sul onde se misturaram e se multi-
plicaram, resultando em grande quantidade de animais de carga e gado
bovino, sobretudo na região de Viamão, no Rio Grande do Sul. O pessoal
de Minas se viu, então, na necessidade de ir buscar animais que auxilias-
sem no transporte de cargas, serviço até então feito pelos escravos. Um
burro carregava cerca de 18 a 20 vezes o peso transportado por um es-
cravo.
       O centro onde iam buscar estes animais era a Feira de Sorocaba.
No local encontravam-se profissionais variados, como seleiros, cangalhei-
ros, ferradores, ferreiros, peões e os vendedores dos animais que eram
comprados e trazidos para formar as tropas de mulas. Cerca de 10.000
mulas saíam anualmente de Sorocaba, quase todas destinadas à região
das minas. Por esta razão, Minas chegou a ter mais do que o dobro da
tropa       de     mulas      existente    no     resto      do      Brasil.
       No percurso de ida e volta até Sorocaba, os tropeiros faziam para-
das em propriedades que lhes alugavam o pasto e forneciam milho para
os animais. Entretanto, tinham que carregar sua própria alimentação e
demais produtos necessários à sobrevivência, incluindo medicamentos.
Havia curandeiros e dentistas itinerantes mas também aqueles que fazi-
am parte das tropas maiores ou se estabeleciam no percurso. Os curan-
deiros tratavam diversos males com as ervas encontradiças na Mata A-
tlântica e alguns eram também cirurgiões que abriam abscessos e retira-
vam corpos estranhos.
       Segundo Barroso, um dos primeiros medicamentos quimioterápicos
de que se tem notícia provinha de determinadas plantas, entre elas a I-
peca, ou Poaia, encontrada nas matas do Chopotó. Sendo um dos gran-
des medicamentos da época, fazia parte da bagagem daqueles tropeiros
ou era obtido com os curandeiros do caminho. Além disso, a malária, que
na época causava numerosas mortes e ainda hoje tem alta incidência em
várias partes do mundo, era também tratada com ervas.
       Prosseguindo, foram mencionados muitos produtos da medicina de
então, sendo que alguns ainda hoje encontram aplicação em determina-
das circunstâncias. Neste ponto, Barroso mencionou os que viu serem a-
plicados em sua época de médico recém-formado. ‗Na segunda metade
do século XX nós ainda usávamos a erva de santa maria‘, declarou. Outra
citação foi ao ‗feto macho‘ que é retirado do broto da samambaia e era o
único medicamento para eliminar a solitária. A semente de abóbora foi
mencionada para explicar a chamada ‗teoria das assinaturas‘, segundo a
qual Deus teria criado objetos que apresentavam sinais de suas virtudes.
Neste caso a semente de abóbora tinha um formato semelhante ao útero
da solitária carregada de ovos.
       Foram mencionados vários outros medicamentos que faziam parte
da farmacopéia da época áurea do Caminho Novo e que entravam na ba-
gagem do tropeiro como cascas, sementes e demais insumos semelhan-
tes. Pela ‗teoria das assinaturas‘, relatou, determinado cipó seria eficaz
como antiofídico por ter o formato de cobra. Também a planta denomina-
da quebra-pedras, uma gramínea que se desenvolve entre as fendas das
pedras, seria solução contra os cálculos renais.
       A mamona, em função da prática de se considerar que o purgativo
seria o melhor remédio contra qualquer doença, era produto de grande
utilidade. O hábito de se cobrir feridas com determinada folhagem encon-
tra justificativa no fato de que servia de cobertura, impedindo que a
mosca varejeira ali depositasse seus ovos. Para as fraturas e contusões,
usavam-se talas de bambu numa prática que, embora extremamente ru-
de, ajudava a solucionar problemas imediatos. Colocar um pedaço de
toucinho sobre os berne resolvia o problema porque, diferentemente da
crença de que o berne gosta de toucinho, na verdade esta prática impe-
dia a respiração do intruso, matando-o.
       E assim ouvimos o médico e historiador mencionar muitas curiosi-
dades como o uso do fumo em torno de micoses impedindo que a área
afetada se ampliasse. Além das beberagens, ferveduras, cachaça com um
determinado tipo de cipó na Sexta-feira da Paixão e cachaça com jurube-
ba. No item rezas e simpatias não foi esquecida a oração a São Guido pa-
ra tratar de males das articulações porque a doença era chamada de
Dança de São Guido ou Coréia, palavra que significa dança.
       E se o problema era guardar um segredo, melhor rezar para São
João Nepomuceno. Ele teria sido confessor de uma rainha e certa feita o
rei foi-lhe ao encalço para saber o que a rainha lhe contara. Pela recusa
em atender ao pedido do rei, sua imagem teria sido associada ao hábito
de colocar o dedo indicador sobre os lábios e dado origem aos pedidos
fervorosos de ajuda quando não se consegue manter um segredo.
       Geraldo Barroso de Carvalho é membro do Centro de Memória Beli-
sário Pena. E autor do livro Doenças e Mistérios de Aleijadinho, publica-
ção da Lemos Editorial que já está indo para a terceira edição.


Fonte: Blog de Nilza Cantoni http://
coloniaconstansa.blogspot.com/2010/09/garcia-rodrigues-paes-e-o-
caminho-novo.html
Os CAMINHOS DE ERNST HASENCLEVER EM MINAS
                                                           Edson Brandão
                                               Pesquisador independente
                                    edsonbrandao@edsonbrandao.com.br
                                                          Setembro/2010
       Um desenho cujo título era ―Vista de Barbacena, 1839‖ é uma ilus-
tração que aparece no livro Barbacena, 200 anos,volume 1, do memori-
alista barbacenense Prof. Altair José Savassi ,1991 e sempre nos suscitou
a pergunta: Quem era o autor do desenho e onde fora publicado origi-
nalmente? A resposta chegou ao acaso , quando nos deparamos como o
catálogo ―Hasenclever & Cia, Rio de Janeiro, 1830-1930‖ (autores e edi-
tora desconhecidos), onde o desenho era atribuido a Ernst Hasenclever
(1814-1869), um jovem alemão comerciante alemão que percorreu o
Brasil nos anos de 1837 e 38 e que registrou suas andanças em um diá-
rio com anotações e desenhos das localidades visitadas. Ernst era des-
cendente de Joh. Bernhard Friedrich Hasenclever (1731-1806), fundador
da firma Joh. Bernhard Friedrich Hasenclever & Söhnen, em Remscheid,
1786, Alemanha, uma firma que ganhou força no seu pais de origem e
em diversos das Américas do Sul, Central e Norte. A cidade de Rems-
cheid sempre foi um centro industrial e de cutelaria. De suas forjas, e da
cidade vizinha Solingen    saiam ferramentas pequenas como: foices, ga-
danhas, serras, machados e limas, além de tesouras, facas, espadas e
sabres... As ferramentas eram vendidas para Espanha, França, Itália e o
Novo Mundo. Para dominar este promissor novo mercado, Johann Gottfri-
ed Hasenclever (1806-1865) chegou ao Rio de Janeiro em 28 de setem-
bro de 1830, onde abriu a primeira filial da empresa em terras brasilei-
ras. Anos mais tarde, com a firma bastante movimentada, foi solicitada a
ajuda de Ernst Hasenclever, jovem sobrinho que partiu do Porto de Bre-
mem rumo ao Brasil em 28 de julho de 1837. Desde a viagem marítima,
até suas incursões em cidades brasileiras das províncias do rio de Janei-
ro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, tudo foi anotado em
diários que não foram feitos com a intenção de serem publicados. Todos
os textos foram escritos em Kurrentschrift (antiga forma de escrita ta-
quigráfica alemã). Isso fez com que os textos ficassem desconhecidos até
mesmo pelos descendentes de Ernst. Somente uma bisneta do viajante
foi capaz de ler o texto e possibilitar sua transcrição para o alemão con-
temporâneo.
Tempos depois, a Sra. Harlfinger, descendente direta de Ernst apresen-
tou este material escrito e mais cerca de 100 desenhos, à Dra. Debora
Bendochi Alves, professora de História Íbero-Americana da Universidade
de Colônia, hoje a maior conhecedora da história dos diários. Tais diários
são compostos de 100 desenhos feitos junto aos textos em cerca de10
cadernos e descrevem a viagem ( de 28 de julho a 7 de outubro de
1837), descrevem sua passagem por cada Província brasileira e seu re-
torno à Alemanha ( via América do Norte). Atualmente, este material es-
tá sendo organizado e preparado para publicação pela Professora Debora,
com projeto gráfico e produção de Edson Brandão.




                           Ernst Hasenclever
O CAMINHO NOVO E O COMÉRCIO DAS MINAS, 1700-1818

                                                   Angelo Alves Carrara
                                    Universidade Federal de Juiz de Fora
                                             angelo.carrara@ufjf.edu.br




      Esta comunicação tem por objetivo apresentar o Caminho Novo co-
mo a rota por onde entrou a quase totalidade das mercadorias importa-
das por Minas Gerais, bem como saiu suas mercadorias mais importantes
- ouro e diamantes, ao longo do século XVIII.
      Esta característica original marcou profundamente as áreas ocupa-
das às margens do Caminho, em especial o caráter fortemente concen-
trador da propriedade fundiária. É sintomático que em 1750, no auge da
produção mineradora, apenas 19 propriedades respondiam pela totalida-
de da produção agrícola que abastecia os viandantes do caminho, entre a
fronteira com o Rio de Janeiro e os arredores da atual cidade de Barbace-
na.
Referência: CARRARA, Angelo Alves. Minas e currais; produção rural e
mercado interno de Minas Gerais, 1674-1807. Juiz de Fora: Editora da
UFJF, 2007.
O CAMINHO NOVO E O COMÉRCIO DAS MINAS, 1700-1818

                                                   Crítica de Nilza Cantoni


      O professor Ângelo Carrara iniciou agradecendo o convite e decla-
rou que "este tipo de reunião, que ocorre fora dos meios acadêmicos,
tem a faculdade de produzir mais efeitos concretos e objetivos a curto
prazo do que as que acontecem no meio acadêmico. Nós fazemos nossos
eventos acadêmicos mas em termos práticos... quando isso que nós dis-
semos vai chegar ao aluno?‖
 Informou que este foi o segundo evento do tipo do qual participou este
ano e percebeu que todos ali estavam envolvidos de forma sincera, inte-
ressada. Assim, após ouvir as comunicações que ocorreram ao longo do
dia, decidiu modificá-la.

A seguir, trechos do que falou Carrara.

      "O Caminho Novo é um caminho. Se eu for abordar o tema de co-
mércio, eu não vou sair disso: 85% de toda a importação de mercadoria
passou pelo Caminho, da mesma forma que 98% do ouro produzido em
Minas Gerais. E pronto!
      Só que esse Caminho Novo é tratado como caminho, como rota. E
o que está em volta do caminho? Pessoas circulavam pelo Caminho Novo.
E é essa a ideia! É nisso que eu mudei! Ao invés de tratar o caminho co-
mo ... mercadorias e ouro, quero chamar a atenção para o entorno dele.
E para a personalidade histórica dele. Então, eu não preciso trazer aqui
números.
      [...] Nós estamos num lugar muito especial. Minas é muito especi-
al! O mineiro tem um profundo orgulho de ter nascido aqui. É o melhor
estado do mundo!
      [...] Eu posso afirmar que não havia Império. [Naquele momento]
o que há é um império de rotas comerciais dominadas por portugueses.
Mas o império no sentido territorial... Então eu pergunto: o que é o Brasil
até 1696?
       O Brasil é um punhado de gente vivendo em pontos da costa brasi-
leira. A estatística que nós tínhamos até muito recentemente nos dava
um total de 300 mil pessoas isto é um absurdo! Por que?
     Este ano, conversando com um colega que está trabalhando com
demografia, descobrimos que este cálculo é fruto de um palpite, de um
despautério sem fim. Quantos habitantes tinha Salvador em 1681?
Três mil pessoas! Era a capital do Brasil e tinha 50% da população
brasileira. E 50% da economia brasileira estava concentrada em Salvador
e seu recôncavo. Então, por aí vocês tiram as conclusões.
     O Brasil é um conjunto de pontos. O ouro detona o processo de mi-
gração maciça, de Portugal, do Brasil todo, num movimento demográfico
que não consegue ser estancado. Enquanto os países europeus perdiam
população ano após ano.
      E para onde ia essa gente? Para Minas Gerais. Eles não estão indo
para Salvador, para Pernambuco, não! Eles estão vindo prá cá.
      [...] O ponto nevrálgico desse ‘agora’ no Império Português é uma
questão de território. É Minas, é Mato Grosso, é Goiás. Isso é território! O
vale do São Francisco...
      [...] A razão principal do ouro é entrar em circulação. De 1724 a
1735 nós tivemos uma casa da moeda em Ouro Preto. Esta casa da moe-
da, durante seus 10 anos de vida, cunhou três vezes mais moeda do que
suas equivalentes de Lisboa e Rio de Janeiro juntas. Então, imaginem.
Enquanto a rotina da Casa da Moeda em Lisboa era uma, em Minas a
produção era muito maior. Claro que os melhores servidores da Coroa
estavam onde estava a riqueza. Em Minas Gerais! Porque aqui estava a
galinha dos ovos de ouro.
      O grande desafio nosso, na minha perspectiva, é fugir dessa histó-
ria que enaltece determinados indivíduos.

      A pergunta que eu faço é o que esta história tem de utilidade para
as pessoas comuns?

       O fato é que essa movimentação toda de gente pelo Caminho No-
vo... As pessoas se levantam e perguntam: o que eu faço agora? Me ali-
mento como? Como é o dia-a-dia? Não é a história de grandes persona-
gens, de fatos heróicos, mas a nossa história. Mas não é uma história da
vida privada [como perguntou alguém da platéia]. É uma história de to-
dos, pública. É o dia-a-dia.
       A pergunta que devemos fazer é: o que é viver aqui? O que foi vi-
ver no século XVIII e no século XIX aqui? Devemos perguntar que tipo de
esforço estes indivíduos faziam para poder manter suas vidas. Porque
não se pode esquecer que essa gente trabalha.
       Dá-se a impressão de que o passado era um brilho só. Na realida-
de, o que talvez tenha mais impacto sobre as pessoas [seja]... há 300
anos, quando eu me sentava à mesa, o que eu tinha?

      Percebem o desafio que temos à frente?
[...] Já avançamos muito. Em 10 anos, eu sou testemunha disso,
crescemos absurdamente no campo da preservação da documentação.
Nós temos acervos monumentais, um acervo que precisa ser preservado.
Um outro desafio, diretamente relacionado, é a propagação da educação
patrimonial, que é fundamental. Aquilo que as secretarias de educação
incorporam nos seus currículos, uma disciplina de educação patrimonial
que não vai tratar de enaltecer grandes nomes. Ao contrário, é cuidar de
um patrimônio que muitas vezes é imaterial. Os queijos, a cultura minei-
ra...
      Este é um desafio para o historiador de ofício. Escrever esta histó-
ria de Minas. Esta reunião está acontecendo em Barbacena. O que nos
deve interessar é a história de Barbacena.
       Existe uma coisa que eu chamo de personalidade histórica. Vou ex-
plicar. O meu objetivo aqui é dar serviço [risos]
As identidades originais de Minas Gerais... Exemplo: nos centros minera-
dores, o que existiu ali é diferente de uma outra sociedade que é vizinha
[mas que tem uma] identidade curraleira.
       Em Minas temos quatro [identidades]. Saindo de Ouro Preto até I-
tabirito, é a do ouro. Pitangui não foi uma região mineradora importante.
Pitangui... tinha a segunda maior produção de gado de todo o século
XVIII.
       Outras identidades, ao longo do século XVIII, vão se formando. A
zona curraleira... margem esquerda do São Francisco... no extremo noro-
este de Minas Gerais que não conversa com Minas Gerais. Eles não pro-
duziram gado ali para vender em Minas. É uma identidade particular de
Minas Gerais.
      Outra identidade é do vale dos rios Verde e Verde Grande. Produ-
ção agrícola que conversa com Minas Novas ou Itacambira. É outra for-
mação.
      Eu estou falando da identidade que se forma por vínculos familia-
res, por parentesco, por pessoas circulando diariamente, semanalmen-
te...
     O mesmo se dá em Diamantina, que não pode ser entendida só co-
mo Distrito Diamantino. Diamantina é ao mesmo tempo Diamantina e
Curvelo. Porque o gado que abastece Diamantina é o gado de Curvelo.
Ou seja, Diamantina é muito curraleira apesar da produção de diaman-
tes.
     Percebem-se as diferenças no sotaque. O historiador tem que ter
parâmetros para saber ouvir o sotaque. O de Diamantina é o mesmo de
Curvelo ... é só ir para a rodoviária e identificar as linhas de ônibus mais
comuns.
Então, na região das minas, eu acho que fica claro que há um qua-
drilátero muito facilmente identificado por todos, formado por Ouro Pre-
to, Mariana, Caeté e Sabará.
[...] A alimentação na área curraleira é diferente da área mineradora.
       Essa região aqui, de Barbacena, que hoje se chama de Vertentes,
mas que no período colonial se chamava O Campo, por isso que aqui é a
Borda do Campo, termina lá nas Congonhas do Campo. O Campo é Cam-
po por quê? Porque isso aqui é uma região diferente das demais, a mais
fértil de todas, com uma rede hidrográfica fantástica e é isso que explica
o vigor da agricultura nessa região.
      Só que a identidade de Barbacena, de Santana do Garambéu, de
Prados que, apesar de ser área de mineração comunga muito com a i-
dentidade de Barbacena, Entre Rio de Minas, Carijós, até Congonhas,
guarda uma homogeneidade muito forte.
     Primeiro o estilo de fazenda. As descrições rudimentares que eu
vou encontrar, do século XVIII, vão dizer que o perfil preferencial é uma
concentração de terras, [uma concentração] fundiária, de propriedades
médias, de produção média. Toda essa região do Campo, antes de cair
no espinhaço em direção a Ouro Preto, fechando essa região aqui nas
Congonhas, tem uma concentração de terras distinta da região do Cami-
nho Novo indo para Juiz de Fora. O padrão aqui é menos concentrador do
que em Juiz de Fora. A produção agrícola aqui é baseada em proprieda-
des médias e não em grandes.
      Se eu for para Juiz de Fora? 1750 – quantas pessoas produzem ali-
mentos? Dezenove. De Paraíba do Sul no Rio de Janeiro, até o pé da ser-
ra aqui em Santos Dumont. Dessas 19, 10 produzem 85% do total. Isso
é concentração!
      Concentração fundiária é o melhor identificador da ‘personalidade’
de uma região. Quanto mais concentrada a propriedade rural, mais con-
centração de renda. Quanto melhor distribuída a propriedade da terra,
melhor o padrão dessa sociedade.
      As pessoas que vivem na roça... a forma como elas acessam o
principal meio de vida é fundamental... Numa região em que o padrão de
concentração      é   mais    equilibrado,  a  sociedade é   diferente.
      Então, esse Caminho Novo não é uma identidade. Na verdade nós
temos que ultrapassar isso. O Caminho Novo é uma rota. O que importa
é verificar a região. Esse é o grande desafio.
       Fontes para isso? Um problema que nós não temos em Minas Ge-
rais. Todos os outros estados tem problemas com fontes. Nosso proble-
ma é o inverso. Nós temos excesso de fontes. Nós temos que ir a um ar-
quivo rezando para não encontrar documentos. Experiência própria. Ali
abre um livro e surge mais um questionamento.
Existe uma fonte que é um verdadeiro cadastro em Minas Gerais.
Ela me dá o nome, a propriedade rural, o endereço, a produção agrícola.
Isso desde 1750. Eu tenho como fazer uma história dessa propriedade
rural, história da produção econômica, desde 1750 até 1835. É um tipo
de registro muito particular, todo organizado. A partir desse período eu
consigo rastrear, com a documentação que ainda não conhecemos e da
qual ainda não temos inventário. Mas que em breve teremos. É a nossa
caixa preta da História do Brasil. É a Coleção Casa dos Contos de Ouro
Preto, com duzentos e tantos mil itens. Sabemos que tem coisas precio-
sas mas... não tem inventário. No momento em que tivermos inventário,
poderemos fazer a história que quisermos. Quer fazer História da Medici-
na? Pode. Quer acompanhar o receituário? Tem. Porque lá estão os regis-
tros dos hospitais militares. Para cada doença tem o medicamento que foi
adotado.
       Tem ali documentação que vocês não podem imaginar. Documen-
tação sobre todas as obras artísticas.... Aleijadinho foi um. Há dezenas
de outros artistas. O altar da Igreja, como é que foi feito...
       O que na verdade eu gostaria de chamar a atenção é para a neces-
sidade que nós temos, é a responsabilidade que a academia tem de pro-
duzir esse tipo de investigação. Uma responsabilidade que ela tem como
instituição pública.
       Uma outra responsabilidade que a Prefeitura tem, dentro das suas
possibilidades, é de produzir material didático capaz de sensibilizar a so-
ciedade, atingir a sociedade. Fazer isso é elevar o nível de cidadania, a-
qui entendido como a capacidade de entender direitos e deveres. É ter
consciência das transformações...
       Diferentemente de outras áreas de conhecimento, o objeto da his-
tória não está dado. É complicadíssimo. Nós não lidamos com um único
indivíduo. Nós lidamos com todos. E o que é mais complicado: o ser hu-
mano muda. E o historiador tem que encontrar o padrão da mudança.
Porque as coisas não são colocadas [e] nós não vivemos no caos. Nos vi-
vemos dentro de uma visão de como o mundo funciona. Existe um pa-
drão de mudança que precisamos identificar.
       Então, nos aproximarmos desse tipo de história que tem a capaci-
dade de nos informar, com maior segurança, os padrões que essa socie-
dade adquire ao longo do tempo, é o grande desafio. É isso que me cha-
mou a atenção para este evento. É o primeiro e precisa se repetir. Barba-
cena tem uma responsabilidade enorme por conta do equipamento urba-
no que tem, diante de outros municípios. Barbacena tem um fator de li-
derança diante de outros municípios.
A responsabilidade é das prefeituras de mobilizar seus professores
em torno dessa ideia de construção de material didático. O impacto disso
no médio prazo é profundamente transformador.
      Meu papel aqui foi mais dizer o que fazer. Material a academia tem.
Mas há uma necessidade cada vez maior de aproximação entre a univer-
sidade e as necessidades efetivas da sociedade. Produção histórica que
tenha um impacto mais imediato sobre a sociedade. "
      Ângelo Carrara, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora,
encerrou sua participação dizendo que seu papel foi o de saudar esse tipo
de iniciativa e chamar a atenção daqueles que têm alguma responsabili-
dade sobre esse tipo de projeto.




               Rio das Mortes, Fazenda do Registro Velho
POVOADORES DO CAMINHO NOVO: estratégias de ocupação dos
primeiros habitantes da região da Borda do Campo no século XVI-
                                  II.

                                                   Edna Maria Resende

                                           ednamresende@hotmail.com

Doutora em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG);
Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG);
Pós-graduada em História de Minas no século XIX pela Universidade Fe-
deral de São João del-Rei (UFSJ); Graduada em Filosofia pela Fundação
de Ensino Superior de São João del-Rei (FUNREI); Coordenadora do Ar-
quivo Histórico Municipal de Barbacena.




  OS SENHORES DO CAMINHO NOVO: notas sobre a ocupação da
                  Borda do Campo no século XVIII.

Resumo

A ocupação da Borda do Campo esteve inextricavelmente ligada ao cir-

cuito mercantil do Caminho Novo. Os pioneiros moradores da Borda do

Campo enraizaram-se na região, concentrando terras e controlando as

rotas comerciais do mercado interno. Os primeiros proprietários dedica-

ram-se à agricultura e à pecuária, estabeleceram ranchos para suprimen-

to dos viajantes, lançaram-se ao comércio e ao transporte de tropas. Ao

ocuparem e cultivarem as terras e integrarem-se à ―malha mercante‖ do

Caminho Novo, transformaram-se em ―senhores do Caminho‖ e promo-

veram o desenvolvimento da região de Barbacena.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA



Artigo adaptado do primeiro capítulo de RESENDE, Edna Maria. Ecos do
liberalismo: ideários e vivências das elites regionais no processo de cons-
trução do Estado imperial, Barbacena (1831-1840). 2008. Tese
(Doutorado em História). FAFICH/UFMG, Belo Horizonte, 2008.
ARQUIVO HISTÓRICO DO ESCRITÓRIO TÉCNICO DO INSTITUTO
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE SÃO JOÃO DEL REI
                                        Jairo Braga Machado

                                                   IPHAN/ São João del Rei

        Não é nenhum exagero afirmar que obrigatoriamente uma parte
significativa da historia de Minas Gerais passa pela documentação que
está sob a guarda do Arquivo Histórico do Escritório Técnico do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de São João del-Rei.Ela é
composta de documentação       cartorária, eleitoral, coletoria estadual e u-
ma coleção de jornais e revistas datadas do final do século e principio do
século XX. Grande parte dessa documentação teve transito na antiga co-
marca do Rio das Mortes, cuja sede era a vila de São João del Rei. Todos
os historiadores que trabalham com historia econômica, social, cultural,
política e religiosa são unânimes em afirmar a importância da comarca
mineira como principal pólo de abastecimento não só da antiga capitania,
mas como também a principal vila abastecedora da corte no Rio de Janei-
ro que instalou a partir de 1808 fugindo das invasões napoleônicas. São
mais de 115 títulos de series documentais cujas datas limites são: 1711-
1986.

        São inventários, (12000processos), Testamentos (2842 processos),
sesmarias (1300 processos), processos crimes (3217 processos). Uma
biblioteca composta de mais de 10000 volumes e 31 títulos, documenta-
ção eleitoral com cerca de 80.000 canhotos de títulos eleitorais onde ca-
da documento traz fotografia três por quatro com endereço domiciliar,
filiação partidária, quando é o caso, além do local e data do nascimento
com respectiva filiação. Sem nenhuma dúvida, esta documentação é uma
inesgotável fonte para os diversos campos não só da historia, como da
sociologia e antropologia.Compõe ainda este precioso acervo os livros de
Décima Urbana (1826-1836) que são verdadeiras relíquias que muito a-
judam a recompor a malha urbana da velha São João del –Rei. Uma lei-
tura detalhada não só nos permite recompor a estrutura da urbe são joa-
nense, como também podemos compreender a formação de outros nú-
cleos mineiros que faziam parte da comarca do Rio das mortes que surgi-
ram através das antigas fazendas, sítios entroncamentos de velhos cami-
nhos, pousos de tropeiros, antigas lavras minerais e roças de mantimen-
tos. Tudo isto a partir de uma leitura cuidadosa e sistemática da docu-
mentação sob a guarda do arquivo do IPHAN. Uma leitura cuidadosa a
partir das cartas de sesmarias também nos ajudará a entender o proces-
so de expansão agrária de todo o vale da região do Rio das Mortes. Nos
inventários e testamentos as descrições dos imóveis aparecem com u-
ma riqueza de detalhes muito grande como exemplo é o inventario do
comendador João Antonio da Silva Mourão rico comerciante São Joanen-
se onde podemos ler o seguinte: ―... uma morada de casas de dois an-
dares sitas na praça do Tamandaré e frente para a rua do comercio toda
envidraçada com armações par negócio toda assoalhada forrada avaliada
por três contos e quinhentos mil reis...‖ Inventário de João Antonio da
Silva Mourão caixa 170, seção de Inventários, do Arquivo Histórico do Es-
critório Técnico do IPHAN. Este casarão foi tombado pelo IPHAN em 1946
sendo um marco espetacular da presença deste instituto como uma insti-
tuição responsável pela preservação da memória não só regional como
nacional.Além do mais esta documentação nos permite estudar a forma-
ção arquitetônica dos vários templos religiosos, tombados pelo IPHAN as-
sim como estudar a vida de vários arquitetos de projeção nacional na his-
toria da arte colonial mineira tais como: Francisco de Lima Cerqueira o
grande arquiteto responsável pela construção do fantástico templo da Or-
dem Terceira de São Francisco de Assis e o Templo da Ordem Terceira de
Nossa Senhora do Carmo, Inventario de Francisco de Lima Cerqueira –
1814 –caixa 362 e testamento caixa 024.Aniceto de Souza Lopes impor-
tante mestre canteiro que tem seu nome gravado em vários monumentos
da antiga vila.
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Minas Gerais. O gran-
de fundidor de sinos de São João del –Rei Francisco Bernardes de Souza,
1852 deixou em seu inventário post morti um precioso documento à res-
peito de sua profissão de fundidor de sinos. Esta referência coloca a cida-
de mineira como importante pólo do patrimônio imaterial brasileiro.

     Nomes de vários artistas, escultores, pintores, como Venâncio José
do Espírito Santo, Joaquim José da Natividade, o grande compositor e
maestro Martiniano Ribeiro Basto, o compositor sacro padre José Maria
Xavier, podem ser estudados também a partir da documentação já des-
crita. Portanto, também não é nenhum exagero afirmar que a trajetória
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na cidade passa
obrigatoriamente pelos jornais do arquivo já citado. São mais de 190 vo-
lumes encadernados com mais de 60 títulos. Neles podemos acompanhar
a brilhante atuação do antigo SPHAN na preservação do nosso rico lega-
do cultural da cidade de São João del –Rei ,legado este fundamental para
a formação da identidade nacional.

     Bibliografia

ALVARENGA, Luíz de Melo. Igrejas de São João del-Rei, 1963, Editora Vo-
zes Ltda, Petrópolis: Rio de Janeiro.

BELLOTTO, Heloisa Liberali. Arquivos permanentes:       Tratamento docu-
mental Rio de Janeiro,Editora FGV, 2006.

BOSCHI, Carlos C. Os leigos e o poder; irmandades leigas e política colo-
nizadora em Minas Gerais. São Paulo: Ática, 1986.

CAMPOS, Adalgisa A. Cultura barroca e manifestações do rococó nas Ge-
rais. Ouro Preto: FAOP/BID, 1998.

CARRARA, Angelo Alves. Minas e Currais: Produção Rural e Mercado In-
terno de Minas Gerais 1674-1807. Juiz de Fora, Ed. UFJF, 2007.
CINTRA, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João Del-Rei. Vol 2,
Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1982
CUNHA, Alexandre M; MONTE-MÓR, Roberto L. A tríade urbana: constru-
ção coletiva do espaço, cultura e economia na passagem do século XVIII
para o XIX em Minas Gerais. IX Seminário sobre a Economia Mineira,
2000. Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br/seminarios/seminario
_diamantina /2000/CUNHA.pdf. Acesso em 28 de maio de 2007.

CUNHA,Murilo Bastos da e CAVALCANTI, Cordélia Robalinho de Oliveira.
Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia. Brasília. DF Briquet de Le-
mos livros,2008

GRAÇA FILHO, Afonso Alencastro. A princesa do oeste e o mito da deca-
dência de Minas Gerais. São João del Rei (1831-1888). São Paulo: Anna-
blume, 2002

MARTINS, Judith. Dicionário de artistas e artífices dos séculos XVIII e XIX
em Minas Gerais. Vol. 1, Rio de Janeiro: Publicações do Instituto do Patri-
 mônio Histórico e Artístico Nacional, nº 27, 1974, p. 364-379; 394-395.

OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. A arquitetura e as artes plásticas
no século XVIII brasileiro. In: O Universo Mágico do Barroco Brasileiro,
São Paulo, Fiesp, 1998a, p. 77-83.




                      Cidade de São João Del Rei
O CAMINHO NOVO NO ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE OURO
                    PRETO (APMOP)
                                                        João Paulo Martins
                                  Arquivo Público Municipal de Ouro Preto
                                     arquivopublico@ouropreto.mg.gov.br




                                  O Arquivo Público Municipal de Ouro
Preto, criado em 1991, é responsável pela documentação da administra-
ção pública municipal ainda presente em Ouro Preto. A proposta da co-
municação é apresentar as principais características desse acervo e suas
potencialidades para pesquisas referentes à História e Geografia do Ca-
minho Novo. Sendo Ouro Preto o ponto de encontro entre os Caminhos
Novo e Velho, possuindo várias vias e trechos que dão acesso a essas
importantes estradas para a história mineira e brasileira.
       O Arquivo Público Mineiro foi criado na cidade de Ouro Preto em 11
de julho de 1895, pela lei nº 126, com o objetivo de receber e conservar
os documentos concernentes ao direito público, legislação, administra-
ção, história, geografia e manifestações do movimento científico, literário
e artístico do Estado de Minas Gerais. Inicialmente, o arquivo foi instala-
do na casa de seu idealizador e primeiro diretor, José Pedro Xavier da
Veiga.
      Após a mudança da capital, em 1897, houve a transferência do Ar-
quivo Público Mineiro de Ouro Preto para Belo Horizonte. Entretanto, nem
todos os documentos administrativos e camarários do século XVIII e XIX
foram recolhidos, permanecendo sob guarda da Câmara Municipal de Ou-
ro Preto.
       Em 1990, com o objetivo de preservar e resgatar a memória da ci-
dade, foi criado o Arquivo Público Municipal de Ouro Preto, tendo por ob-
jetivo reunir, preservar, e pôr à disposição do público os documentos,
textos, publicações e todo tipo de material referente à memória do muni-
cípio. Desde então, o acervo sob guarda da Câmara de Ouro Preto pas-
sou para a responsabilidade do Arquivo Público Municipal.
      O acervo é composto ainda por vasta documentação administrativa
e legislativa produzida pela Câmara e Prefeitura de Ouro Preto, posterio-
res à mudança da capital. Os livros e documentos avulsos do Arquivo Pú-
blico Municipal de Ouro Preto são divididos, então em fundos de acordo
com a instituição produtora dos mesmos: Câmara Municipal de Ouro Pre-
to (Fundo CMOP), e pela Prefeitura Municipal de Ouro Preto (Fundo
PMOP).
Os documentos do fundo CMOP dividem-se em duas coleções em função
das atribuições da câmara. Até o ano de 1931, a câmara acumulava as
funções legislativa e executiva, uma continuidade das atribuições das câ-
maras coloniais, o CMOP 1. O arquivo possui ainda livros produzidos pela
CMOP de 1931 até a década de 1970, o CMOP 2. Além dos documentos
administrativos da PMOP de 1931 até a década de 1980.
      O acervo abriga os seguintes tipos documentais: acórdãos de vere-
ança, livros de tombos, foros, despesas e registros de expostos, matrícu-
las de escravos, loterias, lançamento e cobrança de impostos, contratos e
arrematações, eleições da guarda nacional, registro de patentes, provi-
sões, requerimentos, ofícios e despachos da câmara, licenças para aber-
tura e baixa de negócios, registros de leis mineiras, imperiais e munici-
pais, correspondências, certidões, atas, indicações, portarias, pareceres,
documentos eleitorais, jornais, documentação cartográfica, entre outros.
São 1076 livros e 180 metros lineares de documentos avulsos com datas
limites entre 1728 e 1980, que cobrem principalmente a segunda metade
do século XIX e o século XX.
      Dentro desse panorama da documentação, podemos elencar como
principais fontes de pesquisa para o Caminho Novo, os itens do fundo
CMOP 1, anterior a 1931, que é a documentação que, neste momento,
está passando por um processo de catalogação, tendo já, um arranjo do-
cumental pronto.
       Nesse recorte, podemos citar a documentação referente a obras de
aberturas de trechos e conservações de pontes e estradas do Caminho
Novo, presentes nas séries de ―Obras Públicas‖; nas correspondências
solicitando reparos nas estradas, rica documentação em que, além da so-
licitação do reparo, é comum constarem relatos das necessidades e im-
portância dos caminhos nas várias localidades; informações concernentes
ao comércio nos livros de ―Receita e Despesa‖, nas legislações, normas e
taxações de barreiras em passagens de produtos e tropas. Deve-se lem-
brar que nos livros de ―Ofícios, ordens e portarias‖, constam o registro
das determinações provinciais referentes às estradas e trechos de res-
ponsabilidade da Província, mas há ainda vasta documentação referente
aos trechos de jurisdição da Câmara, como as interdistritais e da capital
para esses pontos.
      Por essa breve descrição do acervo e exemplificação de tipos docu-
mentais referentes ao Caminho Novo, presentes no APMOP, pode-ser
perceber as grandes potencialidades de pesquisas sobre o tema. Deve-se
ressaltar ainda que, sendo Ouro Preto, até 1897, a capital da Província,
os trechos e vias do Caminho Novo e Velho que por aqui passavam ti-
nham fundamental importância no trânsito de informações, pessoas e
produtos. Finalizando, cabe notar a pouca quantidade de pesquisas sobre
o tema no período cuja documentação do APMOP é mais rica.
ARQUIVO HISTÓRICO DA UFJF:
     PERSPECTIVAS DE PESQUISA SOBRE O CAMINHO NOVO



                                                         Galba Di Mambro
                                                  di.mambro@ufjf.edu.br
                                              Diretor do Arquivo Histórico
                                                  da Universidade Federal
                                                    de Juiz de Fora- UFJF
                                                           ah@ufjf.edu.br



RESUMO: Juiz de Fora constituiu-se como cidade em 1853. Suas origens
remontam ao século XVIII com o povoamento em torno do Caminho No-
vo, principal rota entre a região mineradora e o Rio de Janeiro. A presen-
te comunicação tem por objetivos apresentar brevemente o Arquivo His-
tórico da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF e analisar as possi-
bilidades de pesquisa sobre o Caminho Novo no acervo da instituição. Os
inventários e testamentos do século XIX são as principais fontes existen-
tes no Arquivo apropriadas para estudo da cultura, sociedade e economia
da região por onde passou o Caminho Novo.




                     Arquivo Histórico de Juiz de Fora
HISTÓRICO DO ARQUIVO PÚBLICO DE SANTOS DUMONT




                                                            Marisa Fontes
                                Diretora do Arquivo Público de Santos Du-
                                                                    mont



       Desde a criação da vila, passando elo nascimento da cidade, até os
dias atuais, o acero público documental, que compõe majoritariamente o
Arquivo Público Municipal, tem sido reservado por muitos homens públi-
cos e historiadores.
       Desde os primórdios, muitos cidadãos se empenharam nesta tare-
fa, consciente ou inconscientemente, guardando documentos, fotografias,
filmes e objetos diversos. São pessoas distintas, como jornalistas, histori-
adores, colecionadores e religiosos. Alguns merecem destaque.
       O acervo público documental foi organizado até mais ou menos
1930 pelo Secretário Geral da Prefeitura, Jacinto Augusto Dias dos San-
tos (1855-1941), e, posteriormente pelo substituto, o jornalista e histori-
ador Oswaldo Henrique Castello Branco(1906-1997). Na história do ar-
quivo paroquial e organização do Livro do Tombo são figuras de realce os
padres Adalberto Dobber (1888-1936) e Francisco Maximiano de oliveia
(1906-1936)
       Em 1980, a cidade viu nascer a Associação Cultural de Santos Du-
mont, instituição criada com a finalidade principal de estudar e preservar
a historia local.Através dela, ocorreram vários eventos culturais e a for-
mação de um grande acero fotográfico, coordenado principalmente, pelo
fotógrafo Gilberto Germano da Silva, que hoje integra o Arquivo Munici-
pal.
Em 1988, o lançamento do livro ―Uma cidade à beira do Caminho
Novo‖(Petrópolis, Vozes, 1988), de autoria de Oswaldo H. Castello Bran-
co, uma abordagem sobre a história da cidade, inspirou fortemente um
grupo de historiadores informais que, a partir de 1990, constituíram um
grupo de pesquisadores e sob a coordenação de Luiz Mauro Andrade da
Fonseca, deram prosseguimento ao trabalho do ilustre historiador. O gru-
po, autodenominado ―Pesquisadores Independentes de Santos Dumont‖,
começou de forma metódica, a coletar documentos, filmes, fotos, obje-
tos, e a participar da organização e restauração de muitas instituições.
      Já antevendo o destino de seu acero em formação, o grupo adotou,
como principal meta a criação do Arquivo Público Municipal, passando a
lutar pela concretização desse projeto.
      Em maio de 1992, com o empenho do vereador Walter Raymundo
Amorim, os Pesquisadores Independentes conseguiram ter acesso ao a-
cervo de documentos antigos da Prefeitura, para restauração e cataloga-
ção dos mesmos. Um trabalho reconhecido, que culminou na criação do
Arquivo Público de Santos Dumont, através da lei municipal de nº 2513
de 23/12/92, na gestão do então prefeito Dr. Pacífico Estites Rodrigues.
      Os Pesquisadores Independentes, fizeram um penoso trabalho de
salvamento do acervo da Prefeitura, contando com o apoio do Colégio Pio
X (Gilberto Germano da Silva) e do Seminário Seráfico Santo Antônio
(Frei José Belizário da Silva).
      Em fevereiro de 1997, os pesquisadores Luiz Mauro Andrade da
Fonseca e Alexandre Mansur Barata acompanharam a então Secretária
de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Andréa Borges Griese, à cidade de
Juiz de Fora, para conhecerem as sedes do Arquivo Publico de Juiz de Fo-
ra e do Arquivo Histórico da UFJ. Tão logo, a secretária Andréa iniciou o
trabalho de instalação do Arquivo, fixando como local provisório, a escola
CAIC, no Bairro Córrego do Ouro. Foi delimitada a área necessária para o
arquivo, compreendendo a recepção, sala de palestras, sala de recupera-
ção e tratamento do acervo e biblioteca.
Em 1998, a professora de História, Marisa Aparecida Barbosa Fon-
tes, a convite da administração assumiu a coordenação do Arquivo Publi-
co de Santos Dumont, fazendo os necessários estágios de aprendizado no
Arquivo Público de Juiz de Fora, Arquivo Público Mineiro e Arquivo Publico
de Belo Horizonte. Durante o período de 98 e 99, participou de vários
cursos relativos à organização e direção de arquivos em Belo Horizonte.
Além do arquivo público, foi estruturado dentro da Prefeitura o sistema
de arquivos.
      Segue o trabalho em âmbito municipal, de divulgação e conscienti-
zação da importância de se arquivar, para preservar a memória de nossa
história.
      O acervo publico, sob a guarda do grupo Pesquisadores Indepen-
dentes, albergado no Seminário Seráfico Santo Antônio, foi então devol-
vido integralmente à Prefeitura, constituindo o corpo principal do Arquivo
Público l de Santos Dumont.
      O trabalho de instalação, recebimento de doações de novos docu-
mentos públicos e particulares, higienização, restauração e catalogação,
seguindo um sonho, transformando-o, paulatinamente em realidade. O
apoio da comunidade e de instituições locais, muito tem contribuído para
a realização deste trabalho.
      Paralelo a implantação do arquivo, o decreto nº 1403 de 19-
/01/1998, constituiu o Conselho Deliberativo Municipal de Patrimônio
Cultural de Santos Dumont. Um projeto que se concretizou para a efetiva
preservação de nossa memória. Através dele, o acero do Arquivo Público
foi tombado pelo decreto nº 1434 de 28/12/98.
                                     ACERVO
      Ao Arquivo Público de Santo Dumont são recolhidos os acervos acu-
mulados e produzidos pelos diversos órgãos da administração pública,
entidades e instituições privadas, incluindo documentos remanescentes
de empresas ou órgãos extintos.
      Esse acervo está composto por documentos textuais, plantas, ma-
pas, projetos arquitetônicos, fotografias, livros, etc.
ARQUIVOS HISTÓRICOS REGIONAIS

                                                  Crítica de Nilza Cantoni

      Este momento do Encontro de Pesquisadores de História e Geogra-
fia do Caminho Novo da Estrada Real contou com a participação de re-
presentantes das seguintes instituições:
1 – Arquivo Público Municipal de Ouro Preto – APMOP, com João Paulo
Martins;
2 – Escritório Técnico do IPHAN de São João del Rei, com Jairo Machado;
3 – Arquivo Histórico da Universidade Federal de Juiz de Fora – AHJF,
com Galba di Mambro;
4 – Arquivo Público Municipal de Santos Dumont – APMSD, com Marisa
Fontes;
5 – Arquivo Público Municipal de Barbacena – APMB, com Edna Resende.

      Não só através das comunicações dos responsáveis, mas também
por conversas que fluíram durante todo o dia, chama a atenção a neces-
sidade de atuação de associações de amigos dos arquivos públicos para
buscar alternativas diversas. Isto porque, no âmbito de sua atuação, nem
sempre os diretores ou responsáveis conseguem equipamentos, melhori-
as, estagiários e um sem número de providências necessárias.

1 - APMOP
      João Paulo Martins informou que o acervo abrange o período 1728
a 1931, com volume maior para o século XIX. É composto por documen-
tação produzida pela Câmara e pela Prefeitura. Em sua breve apresenta-
ção, mencionou curiosidades. Uma delas: as pontes existentes entre Ou-
ro Preto e Barbacena não são antigas como normalmente se divulga, mas
construídas no século XIX.

2 – IPHAN
      Este arquivo conta com material produzido a partir de 1711. ―O ci-
dadão tem direito a sua memória, a suas raízes, a dialogar com seus an-
tepassados‖, disse Jairo Machado. Falou sobre a mudança da instituição
que antes utilizava um pequeno espaço dentro do Museu Regional de São
João del Rei e agora conta com sede própria. E ressaltou que
‗obrigatoriamente a história de Minas Gerais passa por São João del Rei‘,
a principal vila abastecedora da Corte do Rio de Janeiro.
Além de informar que o Escritório Técnico do IPHAN conta com uma Bibli-
oteca de mais de mil volumes, Machado fez diversas considerações sobre
a função do arquivo e encerrou afirmando: ‗o mais importante: é um ar-
quivo público‘.
3 – AHJF
       O professor Galba di Mambro denominou sua apresentação como
‗Arquivo Histórico da UFJF: perspectivas de pesquisa sobre o Caminho
Novo‘. Destacou que o acervo relativo ao tema é pequeno, só um fundo
que, entretanto, conta com 30.000 processos de 1830 a 1960, proveni-
entes do Forum Benjamin Colucci.
       Um dos destaques da apresentação, além do roteiro didaticamente
apresentado em slides, foi a explicação de que a instituição não é o Ar-
quivo Permanente da Universidade, mas um Centro de Memória Social.
Informou que está sendo providenciada a mudança do nome para melhor
identificá-lo dentro do Sistema de Arquivos da UFJF.
Site do Arquivo

4 – APMSD
       Marisa Fontes lembrou que um dos organizadores do Encontro, Luiz
Mauro Andrade da Fonseca, é um dos fundadores do arquivo e incentiva-
dor de seu trabalho na instituição. ‗A sensibilidade de guardar a memória
da cidade‘, disse Fontes, nasceu pelas mãos de vários entusiastas. Desta-
cou, entre outros, Oswaldo Castelo Branco, historiador e um dos funda-
dores da Casa de Cabangu, e o grupo Pesquisadores Independentes do
qual Luiz Mauro faz parte.
       Na direção desde 1997, Marisa Fontes mostrou-se uma entusiasta
da preservação da memória local que muitas vezes sofre concorrência da
imagem popular que liga o município exclusivamente ao aviador Alberto
Santos Dumont. Entretanto, trata-se de um município importante para a
história da Estrada Real, da Ferrovia e da indústria de laticínios, entre
outras.
       Descreveu ligeiramente o acervo que hoje se encontra no antigo
prédio da Estação Ferroviária e informou que, além de subsidiar projetos
de Educação Patrimonial, o arquivo municipal preocupa-se não só com o
armazenamento mas com catalogação, microfilmagem e digitalização do
acervo. Divulgar, é a chave de sua atuação, disse Fontes. ‗As crianças se
encantam‘, complementou, especialmente com o que se refere à ferrovia
que é a alma do município.
       Em seguida, Luiz Mauro Andrade da Fonseca comentou que a obra
de Alberto Santos Dumont é sobejamente estudada e conhecida e que a
cidade tem outros focos, como a industrialização. ‗A coisa ruim das nos-
sas cidades‘, disse Fonseca, é que as escolas continuam estudando In-
confidência Mineira, Tiradentes e Aleijadinho e não incluem a história lo-
cal em seus programas de ensino.
Encontro de pesquisadores do Caminho Novo da Estrada Real em Barbacena
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Revista Mujimbo vol1 n1
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Trabalho de t.c.c prof. raimundo gonçalves da silva 2015
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à Flor da terra cemiterio dos pretos novos no rio de janeiro
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RSÍNDIO
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Encontro de pesquisadores do Caminho Novo da Estrada Real em Barbacena

  • 1.
  • 2. Sumário Resumo do Encontro Programa Cadastro de participante e afins Resumos dos temas apresentados Críticas de Nilza Cantoni Fotos Repercussão na mídia
  • 3. ENCONTRO DE PESQUISADORES DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO CAMINHO NOVO DA ESTRADA REAL – BARBACENA – 24 e 25 DE SETEMBRO DE 2010 No dia 24, sexta, quando chegamos na sala de entrada da Associa- ção Médica de Barbacena, o Chico Oliveira vestia o papel de secretário, fazendo inscrições e distribuindo pastas, e o Cláudio Quarup já dispunha de duas mesas para espalhar mais de uma centena de livros sobre a te- mática do evento. Logo arrumei um crachá e fui me apresentando. Ora dava as boas vindas a quem chegava, ora ajudava informalmente em alguma tarefa. Querendo começar na hora (9h), solicitei ao Chico Oliveira que compusesse a mesa comigo como os dois representantes das entidades promotoras – ele pela ACAHMPAS e eu pelo Centro de Memória Belisário Pena. Pedimos a todos que se apresentassem livremente. Tal se verificou e todos falaram a vontade sobre si e suas expectativas. Quando íamos finalmente começar os trabalhos da manhã, surgi- ram algumas incompatibilidades entre o ―pendrive‖ do Chico Oliveira e o computador. Esta tecnicalidade atrasou o início por meia hora fazendo- nos antecipar a palestra do Francisco Eduardo de Andrade. Francisco Andrade (Universidade Federal de Ouro Preto) ambientou sua fala no começo da formação de Minas Gerais, ou seja, no século XVIII, citando muitos ―bandeiristas‖, em especial o Garcia Rodrigues Pais. Segundo Andrade, Garcia traçou o Caminho Novo em trilhas indíge- nas pré-existentes e soube, como poucos, ganhar favores e sesmarias da Coroa Portuguesa. Uma pausa para o café e uma oportunidade para todos apreciarem a bela paisagem oferecida pelo salão de festas da Associação Médica de Barbacena. Veio minha vez de falar (―O Caminho Novo em Santos Dumont‖). Trabalhando com mapas, mostrei os vestígios do caminho pelo município, na direção sul – norte, partindo de Chapéu D‘Uvas (Juiz de Fora) e termi- nando em Sá Fortes (Barbacena). Fez-se a pausa para o almoço (12h às 14h) e logo já estávamos a postos para a jornada vespertina. A primeira comunicação foi a do Chico Oliveira (―O Caminho Novo na Borda do Campo‖). Mostrou-nos um interessante roteiro do caminho pelos municípios de Antônio Carlos, Barbacena, Vasconcelos, Ressaqui- nha e parte de Carandaí. Disse Oliveira que só agora estamos arranhan- do o dito caminho e que ainda muito há de se pesquisar. O médico e pesquisador Geraldo Barroso de Carvalho falou sobre ―Medicina e Caminho Novo‖, enfatizando os cuidados médicos utilizados pelos tropeiros no percurso do dito caminho. O publicitário e ex-acadêmico de História, Edson Brandão, apresen- tou a inédita comunicação sobre Ernst Hasenclever e sua passagem pelo Brasil, em especial por Minas, e sobre um projeto para tornar esta visão germânica num futuro livro.
  • 4. Mais um pausa para o café. O reinício foi com a mesa redonda sobre os arquivos públicos muni- cipais, com representantes de Barbacena (Edna Resende), Juiz de Fora (Galba Di Mambro), Santos Dumont (Marisa Fontes), São João Del Rei (Jairo Machado) e Ouro Preto (João Paulo Lima). Com algumas variações, eles apresentaram os respectivos acervos, e falaram sobre a possibilida- de de uma integração das bases de dados para facilitar a vida os pesqui- sadores em geral. O professor Ângelo Carrara (Universidade Federal de Juiz de Fora) abordou o tema ―O Caminho Novo e o comércio das Minas, 1700-1818‖, colocando, metaforicamente, algumas afirmativas polêmicas. Filosofou sobre as minas e seus caminhos e a concentração de renda diferencial entre a Zona da Mata e as Vertentes. Para encerrar os trabalhos do dia, assistimos a comunicação ―Ocupação do Caminho Novo‖ pela professora Edna Resende, que, com muita clareza, revelou-nos a ocupação da região de Barbacena por algu- mas famílias que se fixaram ao longo do Caminho Novo no século XVIII. Registra-se, ainda, a presença de uma stand de livros sobre o tema discutido, organizado por Cláudio, proprietário da Livraria Quarup (de li- vros usados) de Juiz de Fora. Lamentou-se a ausência, por motivos justi- ficados, dos palestrantes Roney Fabiano Alves (Matias Barbosa) e Antônio Henrique Duarte Lacerda (Juiz de Fora). A noite veio com um jantar de confraternização na Choperia ―Donna Mãe‖, com boa e barata comida, além de papos intermináveis. No dia seguinte (25) foi cumprido a contento a excursão pelos re- manescentes do Caminho Novo na região. O passeio contou com o seguinte itinerário: Igreja Matriz Nossa Se- nhora da Piedade, Arquivo Público Municipal, Alto do Cangalheiro (Santo Antônio), Alfredo Vasconcelos, almoço em Barbacena, Fazenda do Regis- tro Velho (em estado precário), Fazenda da Borda do Campo (bem pre- servada) e, finalmente, uma magnífica recepção na Casa de Cultura de Antônio Carlos, promovida pela prefeita Cristina e sua secretária de Cul- tura. Os visitantes foram recebidos pelo Coral da Antônio Carlos (por se- nhoras da terceira idade) e um sortido café com as guloseimas da zona rural. O encontro, como se esperava, serviu para reunir estudiosos de história e geografia regionais (cerca de 40 participantes), e já produziu três efeitos: 1) o encaminhamento ao IPHAN de um pedido de ajuda para o salvamento da Fazenda do Registro Velho (tombado pela citada institui- ção); 2) a provável realização do segundo encontro (2011) em São João Del Rei; e 3) a criação de um ―blog‖ para manter os estudiosos informa- dos e em constante contato. Luiz Mauro Andrade da Fonseca (Centro de Memória ―Belisário Pena‖ - Barbacena)
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  • 6.
  • 7. CADASTRO DOS PARTICIPANTES E AFINS ACAHMPAS – Associação Cultural do Arquivo Histórico Municipal Professor Altair José Savassi – e-mail: acahmpas-barbacena@hotmail.com – blog: www.acahmpas.blogspot.com Ana Maria Marques Dias - marquesdias2004@ig.com.br - (32) 3251-5126 – História - Arquivo Público e Patrimônio Cultural de Santos Dumont Ângelo Alves Carrara – angelo.carrara@ufjf.edu.br - (32) 3236-1085 Professor de História - Universidade Federal de Juiz de Fora Antônio Henrique Duarte Lacerda – (32) – 3690-7220 (Arquivo Histórico de Juiz de Fora) – arqhist@powerline.com.br – História e Arquivologia Centro de Memória ―Belisário Pena‖ – Rua Heider Pereira Teixeira, 125 – Bairro do Campo – Barbacena - CEP: 36200-500 – e-mail: cmbpe- na@gmail.com Cerise Malachias Paes Ferreira Lopes - ceriselopes@oi.com.br - (32) 3331 -6479—Profissão: Fisioterapeuta - Barbacena Cláudio Luiz da Silva - Claudio.guarup@yahoo.com.br - (32) 3241- 1385—Profissão: Livreiro – Livraria Quarup – Juiz de Fora Delliane R. de Azevedo Coutinho—delliane@barbacenense.com.br Edna Maria Resende – Arquivo Público de Barbacena (3333-4074 / 8855 -4075) – História e Arquivologia - ednamresende@hotmail.com Edson Carlo Brandão Silva - E-mail: edsonbranao@edsonbrandao.com.br - edsonbrandaobq@yahoo.com.br - História e Publicidade Erlaine Januario - erlainejanuario@hotmail.com - (32) 8817-6149 História e Arquivologia – Arquivo Público Municipal de Barbacena Francisco Eduardo de Andrade - franciscodea@hotmail.com Professor de História – Universidade Federal de Ouro Preto Francisco Fernandes Ladeira - - franciscoladeira@bol.com.br - (32) 3332- 4958 – Professor, Barbacena, MG. Francisco José Lima de Barros - fjlbarros@ig.com.br - (21) 3392-1648 Profissão: Administrador, Rio de Janeiro. Francisco Rodrigues de Oliveira - chicoteoria@gmail.com - (32) 3333- 4138—Professor e Memorialista
  • 8. Galba Ribeiro Di Mambro di.mambro@ufjf.edu.br - (32) 3231-1248— Professor de Arquivologia - Universidade Federal de Juiz de Fora Geraldo Barroso de Carvalho – gbarroso@uol.com.br - (32) 3331-3614 – Médico e memorialista – Professor de História da Medicina. Geraldo Dácio de Souza - Belo Horizonte - gdacio@bol.com.br - (32) 3295-2070, 3486-1541, 99711541 - Profissão: Advogado Izabel Grigolli - Rio de Janeiro - degrigolli@msn.com - (21) 2513-0457- Profissão: restauradora – conservadora Jairo Braga Machado - São João Del Rei - Jairo_atl@yahoo.com.br, Jairo13sr@iphm.gov.br (32)3371-2115 - Profissão: Historiador – IPHAN João Paulo Martins - joaopaulo13@yahoo.com.br - (31) 9205-1316— Profissão: Historiador - Arquivo Público Municipal de Ouro Preto João Jabur Abdalla—jabur.abdalla@gamil.com José Luis Mendonça de Jesus – Barbacena - ceriselopes@oi.com.br - (32) 3331-6479—Profissão: administrador José Silvério Ribeiro – Barbacena - j.silverio.ribeiro@uol.com.br - (32) 9981-9846—Profissão: Professor Administração Luisa Saldanha Barcelos Andrade – Belo Horizonte - (31) 3441-2840 lubarcelos1@hotmail.com—- Profissão: Estudante de História (UFMG Luiz Henrique Alves Donato – henrique175donato@hotmail.com—(32) 8417-0164 - Professor de História e Pesquisador—Barbacena Luiz Mauro Andrade da Fonseca – Barbacena - lmkultur@hotmail.com Tel.: (32) 3331-7590 – Médico, professor – História da Medicina Marcelo Garcez de Carvalho – Barbacena - mgarcezbq@gmail.com Tel.: (32) 3331-3388 - Profissão: Farmacêutico, psicólogo Maria Terezinha Barcelos - Belo Horizonte - lubarcelos1@hotmail.com Tel.: (31) 3441-2840 - Profissão: Médica Marisa Aparecida Barbosa Fontes - marisafontes@hotmail.com—(32)3251 -4538 – História e Arquivologia - Arquivo Público Santos Dumont Marta Maria Imbroinise da Fonseca – Barbacena - mmimbroini- se@hotmail.com— (32) 3331-7590 - Profissão: Médica, turismologa
  • 9. Marco Antônio Garcia Moreira — geógrafo@acessa.com.br - (32) 3212- 4780 - História e Geografia regionais—Juiz de Fora Mauro Cristovão Alvim - Juiz de Fora - ostradeirosreaismotogroup (blog) Profissão: Artista, historiador, escultor Nilza Maria Almeida Santos (Nilza Cantoni) – Petrópolis - Nil- za.conatoni@gmail.com - (24) 2243-1236 - genealogista, jornalista Otávio Soares Dulci — Sociologia e História de Minas Gerais — Belo Hori- zonte— osdulci@terra.com.br Paulo Cezar Ribeiro Luz - Rio de Janeiro - paulorluz@ig.com.br -(21) 2513-0457 - Profissão: Militar da reserva Renato Alves da Silva – Barbacena - Renato.med50@gmail.com (32) 3331-6866 - Acadêmico de Medicina em Barbacena Roberto Garizo – Barbacena - rgarizo@globo.com (32) 3331-3903, 8402- 7906 - Aposentado do Banco do Brasil Roney Fabiano Alves—Matias Barbosa— rfabianoalves@hotmail.com— 9965-2552— Historiador de Simão Pereira e Matias Barbosa Sheldon Augusto Soares Carvalho—Barbacena— sheldonaugus- to@hotmail.com Tel.: (32) 3331-3877— Professor e historiador Sérgio Vitor Gonçalves – Barbacena - talus055@gamil.com (32) 8861- 2279 – Professor - Conselho Patrimônio de Barroso Silvia Regina Boussada – Barbacena - silviaboussada@yahoo.com.br (32) 8861-2411 - Turismologa, secretária Silvia Valéria da Silva Araújo – Barbacena - Silvi- a_varaujo13@hotmail.com—(32) 8822-5919 - servidora pública Vanderlei Tomás — História de Juiz de Fora e do Caminho Novo vanderleitomaz@uol.com.br Vinícius Leal— Rio Pomba—(32) 3571-4927 / Instituto Federal de viniciusleal@ymail.com—História da Zona da Mata Wilton Souza Ferreira – Barbacena - wsouzaferreira@yahoo.com.br—(32) 3367-2199 – História, Patrimônio e Arquivologia
  • 10. PALESTRA DE ABERTURA Resumo do Autor ―GARCIA RODRIGUES PAIS E O CAMINHO NOVO‖ A rota do Rio de Janeiro e a territorialidade das Minas do ouro Francisco Eduardo de Andrade Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) franciscodea@hotmail.com Abordaremos a constituição do espaço das Minas através da rota de junção com a capitania do Rio de Janeiro. Pretendemos, ainda, avaliar a significação política e econômica (mercantil) da novidade do caminho a- través, sobretudo, das relações do famoso bandeirista Garcia Rodrigues Pais, no início do século XVIII. Concluiremos a pesquisa propondo, ao contrário de uma pressuposta demarcação do espaço agrominerário, uma instituição fundamentalmente dinâmica, em que as rotas (caminhos e pi- cadas) não funcionam simplesmente como ligações sociais, políticas e e- conômicas entre distintos lugares (ou regiões), mas são a razão de ser da territorialidade do interior brazílico. “GARCIA RODRIGUES PAIS E O CAMINHO NOVO” Crítica de Nilza Cantoni Na primeira comunicação do encontro, Francisco Eduardo de An- drade buscou relacionar o espaço e o tempo, abordando a rota do Rio de Janeiro e as minas do ouro. Falando sobre Garcia Rodrigues Paes, consi- derado o ‗abridor‘ do Caminho Novo, Andrade informou que ele ‗investiu nas promessas régias sobre os descobrimentos das minas de ouro e ale- gou ter sido o descobridor‘, requerendo títulos, privilégios e honrarias. Além disso, atrelou as investidas de seu pai Fernão Dias Paes Leme ao descobrimento das minas, dizendo que eles ‗foram a causa primária‘ do enriquecimento da Fazenda Real e responsáveis pela abertura de cami- nhos para as minas. Ou seja, ele, Garcia Paes, dizia-se a pessoa adequa- da para abrir nova rota ligando o Rio de Janeiro à região de mineração. Andrade discorreu sobre várias atitudes de Garcia Paes, como o pedido que fez ao Rei de Portugal para abrir um caminho ―junto ao rio Paraíba do Sul‖ e o pedido de privilégios sobre um determinado território, em recompensa aos serviços prestados. Tal espaço estaria limitado de um lado pela Serra dos Órgãos e de outro pela saída para os ‗Campos Gerais‖ com dez léguas de testada.
  • 11. Ao Longo da negociação, Garcia Paes obteve o Guarda-Mor Geral das Minas. Entretanto, ―o que Garcia era aproveitar as amplas oportuni- dades advindas do trânsito comercial em volta do Rio de Janeiro, ou seja do interior do Rio‖. Naquele momento valorizava-se mais o acesso aos campos de criação de gado bovino, que depois se tornaram conhecidos como Campos Gerais, do que as minas de aluvião. Francisco Andrade lembrou, também, que mais de 90 anos antes da descoberta do ouro, o Governador do Rio de Janeiro já mencionara a intenção de abrir o cami- nho para os Campos Gerais. E que Pedro Taques de Almeida citou tenta- tivas dos moradores do Rio de fazer a obra, abrindo nova fronteira para a criação de gado. Andrade faz questão de frisar que Caminho Novo significa um cami- nho recente, não uma novidade, mas um caminho mais moderno em re- lação ao Caminho Velho que saía de São Paulo. Em seus estudos o autor observou que já existiam ‗picadas‘ na Serra dos Órgãos, abertas pelos índios. Portanto, o Caminho Novo, no sentido de uma nova forma de a- tingir o sertão desconhecido, é uma ilusão. Na última década do século XVIII, ―havia um verdadeiro confronto de topônimos‖, os quais garantiriam a primazia da entrada, através da associação dos nomes dados aos locais, disse o palestrante. Frisando que já existia a intenção de abrir uma outra via, em substituição ao ‗Caminho Velho‘ para daí auferir lucros com o trânsito comercial pelo local, Andrade mencionou outros bandeiristas que haviam solicitado autorização da Co- roa para abrir Caminho que levasse ao sertão dos Campos Gerais, mas apenas a Garcia teria sido permitido tal empreitada. Entre as recompen- sas que todos pediam, estava a concessão de ―vila na altura do Paraíba‖. Obtida a concessão, ―Garcia Rodrigues Paes transferiu sua família para o Paraíba e montou uma grande fazenda para abastecer os viajantes que se dirigiam para as minas. Embora tivesse obtido o cargo de Guarda-Mor Geral das Minas, nomeou um substituto para o seu lugar‖. Estaria, por- tanto, muito mais interessado no ‗negócio de ocasião‘ que era o Caminho Novo. A prática de nomear substituto tornou-se comum posteriormente. Nesta primeira comunicação do Encontro, o professor Francisco An- drade nos mostrou que ‗caminhar é a oportunidade de descobrir o que a terra esconde‘ e que a descoberta das minas foi uma decorrência do trânsito e não que o ‗descobrimento do ouro teria produzido o caminho. Pelo contrário, as minas é que são resultados dos caminhos‘. O Caminho Novo representou muito mais do que uma via de acesso às minas, com destaque para a formação de roças para produção dos gêneros vendidos aos caminhantes que por ali passavam. Resta-nos a indicação do livro: ANDRADE, Francisco Eduardo de. A Invenção de Minas Gerais. Belo Hori- zonte: Autêntica, 2008. Fonte: Bl og de Nil za Cantoni http:// coloniaconstansa.blogspot.com/2010/09/garcia-rodrigues-paes-e-o- caminho-novo.html
  • 12. O CAMINHO NOVO EM SANTOS DUMONT Luiz Mauro Andrade da Fonseca Centro de Memória Belisário Pena lmkultur@hotmail.com O Caminho Novo passando pela cidade de Santos Dumont foi assi- nalado por vários viajantes estrangeiros, como Tavares de Brito (1732), Costa Matoso (1749), o governador Luís Diogo Lobo da Silva (1763-69), John Mawe (1808), Von Eschwege (1809), Saint-Hilaire (1816), John Lu- cock (1818), Pohl (1818), Cunha Matos (1823), Langsdorf (1824), Walsh (1829), Castelnau (1845), Burmeister (1850), Richard Burton (1867), Richard Burton (1867) e Canstatt (1871). De acordo com seus relatos, o Caminho Novo entrava por Pedro Al- ves (Francesa), seguindo, rumo norte, até o Bairro João Gomes Velho, a princípio por fora da cidade com um traçado semelhante ao da BR-O40, e depois com uma variante entrando na cidade pela atual Rua 15 de feve- reiro (Rocinha de João Gomes), subindo a Rua Afonso Pena e chegando a João Gomes Velho (Fazenda de João Gomes). De João Gomes Velho (Bairro Santo Antônio) o trecho atravessava o Rio das Posses (citado como Córrego), subia o morro atrás do Seminá- rio Seráfico, atingindo o sítio da Cabeça Branca (no atual Bairro da Gló- ria) e continuava, rumo norte, em direção a Pinho Velho, Soledade, Pinho Novo, Fazenda da Mantiqueira, para transpor a Serra da Mantiqueira pelo trecho da antiga União e Indústria, até atingir a Fazenda da Borda do Campos (em Antônio Carlos) e depois a Fazenda do Registro Velho (em Sá Fortes). O trajeto básico Pedro Alves – João Gomes – Pinho tem sua toponí- mia derivada dos sesmeiros Pedro Alves de Oliveira, João Gomes Martins e Agostinho Pinho e Silva, primitivos moradores do Caminho Novo na re- gião. BIBLIOGRAFIA BRANCO, Oswaldo Henrique Castello. Uma cidade à beira do Caminho Novo. Petrópolis: Vozes, 1988. O PASSINHO. Informativo dos Pesquisadores Independentes de Santos Dumont. (1993-1997).
  • 13. O CAMINHO NOVO EM SANTOS DUMONT Crítica de Nilza Cantoni A partir de um conjunto de slides, Luiz Mauro Andrade da Fonseca apresentou diversos mapas que nos ajudaram a localizar a região objeto de seus estudos. Iniciou mostrando o percurso do Caminho Velho, pas- sando pelo Sul de Minas, indo para São João del Rei e seguindo para Ou- ro Preto. Em seguida reiterou, conforme dissera Francisco Eduardo de Andrade, que foram diversos os ‗abridores‘ do Caminho Novo, os quais se utilizaram de picadas abertas pelos índios e remodelaram o percurso do Rio de Janeiro a Ouro Preto, ‗encurtando consideravelmente a viagem‘. Para percorrer o Caminho Velho, de Parati a Ouro Preto, eram necessá- rios entre 75 e 90 dias. Fonseca explicou que a temática do encontro seria analisar o trecho do Caminho Novo de Simão Pereira a Alfredo Vasconcelos, passando pela Zona da Mata mineira e adentrando a Zona das Vertentes. Destacou, no mapa, as localidades de Simão Pereira, Matias Barbosa, Juiz de Fora, Ew- banck da Câmara, Santos Dumont, Antônio Carlos, Barbacena e Alfredo Vasconcelos. Lembrou que o Programa Estrada Real, do Governo de Minas Ge- rais, tem por objetivo incentivar especialmente a indústria do turismo, deixando lacunas significativas no que concerne aos estudos históricos e geográficos que permitiriam um conhecimento mais amplo do que seja a Estrada Real. ‗Os índios foram os autores dos caminhos, tanto o velho como o novo, aproveitados pelos bandeiristas‘ em suas incursões pela terra mi- neira que inicialmente foram motivadas pelas tentativas de captura dos povos nativos, declarou Fonseca. Numa cartografia de 1777, indicou o Caminho Velho e a seguir dedicou-se ao trecho do Caminho Novo que a- travessa o atual município de Santos Dumont, mencionando as consultas realizadas a estudiosos do assunto e suas visitas aos locais, fazendo di- versas fotografias. Segundo o professor Fonseca, a melhor descrição que encontrou daquele percurso foi a de Costa Matoso, autor que menciona o Sítio de Luiz Ferreira, atualmente Ewbanck da Câmara, o Sítio de Pedro Alves, lo- cal atualmente conhecido por Francesa, a Rocinha e Sítio de João Gomes, o Sítio de Pinho Velho, Pinho Novo e o Sítio da Mantiqueira. Estas locali- dades foram indicadas no mapa. Um dos pontos altos da comunicação de Luiz Mauro da Fonseca foi a apresentação de um Mapa Temático, de 1991, cujo autor nasceu em Santos Dumont (Eng° Ronaldo Couri de Castro). Este trabalho apresenta a região a partir de Chapéu d‘Uvas, atualmente unido a Paula Lima, dis- trito de Juiz de Fora.
  • 14. Nas diversas fotografias, Fonseca chamou a atenção para a multiplicidade de ‗trilhas‘ que certamente pertenceram ao Caminho Novo, desmistificando a impressão de que seria um único percurso e demons- trando que existiam muitas variantes. Ressaltou que é praticamente im- possível, atualmente, identificar a rota original, uma vez que alternativas foram sendo abertas no decorrer do tempo. Importante, pois, mostrar a direção pela qual o Caminho seguia. No caso, a direção de Ewbanck da Câmara para Santos Dumont e depois para Barbacena. Indicar a Estrada de Ferro Central do Brasil foi um facilitador, uma vez que a ferrovia tem um traçado bem próximo ao do Caminho Novo, ladeando-o quase sempre. Foram apresentadas, também, fotografias de antigas fazendas da região citadas pelos viajantes estrangeiros. Algumas estão preservadas, outras nem tanto. Numa das imagens pudemos ver um marco da Estrada Real e bem ao lado uma das trilhas que compuse- ram o Caminho Novo. Quando chegou à área urbana de Santos Dumont, Fonseca apre- sentou antigas fotografias da cidade com seus casarões imponentes, al- guns tombados pelo Patrimônio Municipal durante sua gestão à frente daquele órgão. As fotografias da Fazenda Mantiqueira demonstraram o excelente estado de conservação em que se encontra. A propriedade pertenceu ao inconfidente José Aires Gomes. Depois da Mantiqueira, sobe-se a serra para chegar à Fazenda do Registro, que se encontra abandonada e precisando de socorro. Deste trecho foi apresentada uma fotografia com partes do calçamento que ali existiu, além de imagens panorâmicas da Zona da Mata, com araucárias, vistas já a meio caminho para a região denominada ‗Campo‘, de onde veio o topônimo Borda do Campo. Também foi possível ver o que resta de chafarizes, incluindo o denominado D. Pedro II. Uma das imagens mais significativas, entretanto, mostra a transição entre a mata e o cam- po, numa paisagem realmente muito bonita. Luiz Mauro Andrade da Fonseca, além de médico e professor, é membro do Centro de Memória ―Belisário Pena‖ de Barbacena, uma das entidades promotoras deste primeiro Encontro de Pesquisadores de His- tória e Geografia do Caminho Novo da Estrada Real. É, ainda, autor de uma obra sobre a história de Padre Correia de Almeida. Fonte: Blog de Nilza Cantoni http:// coloniaconstansa.blogspot.com/2010/09/garcia-rodrigues-paes-e-o- caminho-novo.html
  • 15. O CAMINHO NOVO NA BORDA DO CAMPO Francisco Rodrigues de Oliveira ACAHMPAS chicoteoria@gmail.com Vindo da Zona da Mata, o Caminho Novo chegava à Fazenda da Bor- da do Campo seguindo em direção norte até a histórica Fazenda do Re- gistro. Daí alcançava o arraial da Igreja Nova (Barbacena), seguindo até o alto do Cangalheiro (Bairro Santo Antônio), dirigindo-se finalmente para o Ribeirão Alberto Dias (Alfredo Vasconcelos). Em direção norte, o trajeto passava por inicialmente por Ressaca, depois em Ressaquinha até atingir Carandaí. BIBLIOGRAFIA •GUIMARÃES, Geraldo. Considerações sobre as origens de Barbacena. Revista do I.H.G. de São João del Rei. 1988. p. 112. •FERREIRA, J. C. Soares. Notas históricas sobre Barbacena, III. O Serici- cultor, 8 de junho de 1918. Barbacena; IV. O Sericicultor, 17 de agosto de 1918. Barbacena. ROMEIRO, A. e BOTELHO, A. V. Dicionário Histórico das Minas Gerais, Período colonial. Belho Horizonte: Ed. Autêntica, 2003, p. 63 e 108.
  • 16. O CAMINHO NOVO NA BORDA DO CAMPO Crítica de Nilza Cantoni Francisco Rodrigues de Oliveira descreveu o Caminho Novo na ‗Zona do Campo‘, iniciando pela explicação de que Barbacena representa o limite entre o campo e a mata. A Zona da Mata estende-se até o sopé da serra, começando aí a rarear na medida em que aumenta a altitude. Este limite natural entre os dois espaços não corresponde rigorosamente à divisão oficial entre os atuais municípios da região. Oliveira lembrou que, para os viajantes estrangeiros, o ‗campo re- presenta um refresco‘ após a penosa travessia da mata fechada, geral- mente durante o dia inteiro. Quando os viajantes começavam a sair da Mata Atlântica e viam o campo descortinar-se à frente, sentiam-se mais animados com a perspectiva de um ambiente menos inóspito, com tem- peratura mais fria. A viagem, a partir daí, rendia mais. O professor chamou a atenção para alguns aspectos da história de Barbacena. Além de ter descrito rapidamente o período que vai de sua fundação até a elevação à categoria de Vila, em 1791, lembrou que a en- tão localidade denominada Borda do Campo nasceu do Caminho Novo, ou seja, foi a reorganização desta rota de acesso para a zona da mineração que criou as condições para o desenvolvimento do povoado. A Fazenda do Registro foi citada como pólo de desenvolvimento ini- cial, uma vez que ali foram sendo agregados os equipamentos necessá- rios aos viajantes, quer seja no sentido de reabastecimento para prosse- guirem viagem, quer seja na obrigatoriedade de pararem para cumpri- mento das obrigações fiscais. O local, hoje conhecido como Registro Ve- lho, deixou de funcionar como posto de fiscalização por volta de 1790. E aqui entra uma conversa paralela, ocorrida no momento em que Oliveira falou do Registro Velho. Trata-se da definição do período em que a fiscalização teria sido transferida para o ‗Registro do Caminho Novo‘, então localizado em Matias Barbosa. Um dos ouvintes informou que o no- vo registro teria começado a funcionar em 1790, data compatível com in- formação obtida oralmente na Biblioteca Nacional, por ocasião de pesqui- sa realizada naquela instituição em conjunto de documentos denominado Abecedário do Caminho Novo. Infelizmente o Encontro de Pesquisadores de História e Geografia do Caminho Novo da Estrada Real não contou com a presença de Roney Fabiano Alves, de Matias Barbosa, profundo conhecedor da história local, com destaque para o funcionamento do Registro dito Novo. Alves falaria sobre O Caminho Novo em Simão Pereira, abordando o trecho que da margem esquerda do Paraíba do Sul inicia a trajetória pela terra mineira, indo até o território onde mais tarde nasceria o povoado de Santo Antô- nio do Paraibuna, hoje o município de Juiz de Fora. Infelizmente, tam- bém, Antônio Henrique Lacerda, que falaria sobre o trecho entre Juiz de Fora e Ewbanck da Câmara, não pode comparecer em função de compro- missos de última hora.
  • 17. Voltando a Oliveira, sua comunicação abordou as características to- pográficas da Borda do Campo que representam um divisor em relação à mata, com o terreno tornando-se mais plano. Ressaltou que, diferente- mente da região anterior, no campo os núcleos habitados ficavam mais distantes uns dos outros. Outra característica destacada foi a possibilida- de de desenvolver plantações na área do campo, bem como obter pasta- gens para a criação de gado. Este aspecto também mereceu comentário na platéia, no sentido de que a agricultura teria sido um atrativo a fixar moradores no local, reiterando o que havia sido dito mais cedo por Fran- cisco Andrade a respeito do movimento comercial ter sido o grande pro- pulsor para a ocupação das margens do Caminho Novo. Oliveira informou que, em consequência da topografia diferente da mata, no campo era mais fácil promover deslocamentos do caminho para terreno mais favorável, quando a trilha conhecida se tornasse inviável por fenômenos naturais ou desgaste pelo uso. A seguir apresentou tre- chos de um mapa do final do século XIX, executado já com recursos tec- nológicos mais adequados ao objetivo de registrar as características físi- cas de uma região. Através do slide, os presentes puderam visualizar a Serra da Mantiqueira, os cursos d‘água correndo para oeste e noroeste e parte da bacia Rio Paraibuna. Foram destacados os diversos caminhos então existentes, chaman- do a atenção para a Estrada de Ferro que seguiu uma das variantes do Caminho Novo para transpor a serra. Outra ‗subida‘ era a que foi utiliza- da no prolongamento da Estrada União Indústria, no século seguinte. A- tualmente a BR 040 representa uma terceira via de passagem por aquele trecho. O Professor Francisco abordou, também, as alternativas utilizadas para superar os obstáculos naturais, com destaque para os cursos d‘água. Lembrou que geralmente existe uma ‗garganta‘ próximo aos pi- cos de morros e estas áreas de depressão eram procuradas como alter- nativa de passagem, especialmente no entorno das nascentes de rios, por permitirem transposição mais fácil. Francisco Rodrigues de Oliveira atuou como professor na Universi- dade Federal de Viçosa e na UNIPAC, em Barbacena. É presidente da As- sociação Cultural do Arquivo Histórico Municipal Professor Altair José Sa- vassi – ACAHMPAS, entidade que se uniu ao Centro de Memória Belisário Pena para a promoção do Encontro. Na década de 1990, quando percorri- a arquivos públicos e privados de Barbacena, realizou levantamentos que lhe permitiram escrever alguns trabalhos. Entre eles, o perfil biográfico de seu pai, Godofredo Rodrigues de Oliveira. Outro trabalho é o livro His- tória da Construção da Estrada de Barbacena a Ibertioga publicado em 2002. Fonte: Blog de Nilza Cantoni http:// coloniaconstansa.blogspot.com/2010/09/garcia-rodrigues-paes-e-o- caminho-novo.html
  • 18. O CAMINHO NOVO DA ESTRADA REAL NOS LIMITES DE JUIZ DE FORA Vanderlei Tomaz O Caminho Novo era a estrada aberta pelo bandeirante Garcia Ro- drigues Paes, no final do século XVII e início do XVIII, com a finalidade de facilitar o transporte do ouro e de pedras preciosas de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. O caminho mais curto entre a produção de rique- zas e o litoral, de onde elas partiriam para Portugal. Uma alternativa mais rápida e segura ao Caminho Velho, a estrada real mais antiga que, partindo do Rio, passava por São Paulo e pelo sul de Minas. Por essa estrada passaram bandeirantes, índios, escravos, tropei- ros, cientistas europeus, ilustradores da nossa fauna e flora, e outros ar- tistas, inconfidentes mineiros, o Tiradentes como o guarda do caminho e propagandista do movimento de libertação, o corpo esquartejado do mártir mineiro, D.Pedro I em 1831, o então Barão de Caxias durante a Revolução Liberal de 1842, e tantos outros que ajudaram a escrever a história de Minas e do Brasil. Para promover a ocupação das margens da estrada, a Coroa Portu- guesa distribuiu concessões de sesmarias ao longo do caminho. Sesmarias eram terrenos que chegavam a ter 30 quilômetros qua- drados. Aprovada a concessão da área, o sesmeiro (proprietário do terre- no), acompanhado dos agrimensores (que faziam a medição da área, e também chamados de ―piloto‖ e ―louvado‖) fincavam uma pedra com quatro cruzes (uma em cada face) na margem da estrada. A partir desta pedra (também chamada de ―pião de pedra‖ ou ―marco de sesmaria‖) e- ram feitas mais quatro medições: a sudoeste da pedra, a noroeste, a nordeste e a sudeste. Ao final de cada medição, uma outra pedra era co- locada (menor que a principal e com uma cruz escavada). Assim, era for- mada a quadra de sesmaria. Como conseqüência dessa distribuição de terras, surgiram fazen- das, inúmeros ranchos para pousadas dos tropeiros e igrejas. O comércio às margens da estrada foi florescendo e, assim, povoados iam se for- mando ao longo do Caminho Novo, dando origem às atuais cidades de Simão Pereira, Matias Barbosa, JUIZ DE FORA, Ewbank da Câmara, San- tos Dumont, Antônio Carlos, Barbacena, e outras. O CAMINHO NOVO EM JUIZ DE FORA Juiz de Fora é cortada por cerca de 50 km do Caminho Novo da Es- trada Real, entre os municípios de Matias Barbosa e Ewbank da Câmara, sempre na margem esquerda do Rio Paraibuna, nunca o atravessando. Importante lembrar que, em alguns trechos, especialmente na região urbana, o percurso foi modificado devido aos parcelamentos das áreas, novos arruamentos e retificações. Outros trechos da estrada estão impe- didos por estarem em terrenos particulares ou área militar.
  • 19. A definição desse trajeto foi possível estudando velhos mapas, pes- quisando os relatos dos viajantes, onde estes fazem referências às locali- dades citadas, e a localização dos marcos de sesmarias de quatro cruzes que eram colocados na margem do caminho. Fundamental foi ouvir os relatos de moradores idosos nascidos nesses lugares, onde puderam indi- car quais eram os mais antigos caminhos do lugar, com informações her- dadas de pais e avós. O Caminho Novo foi a primeira via pública aberta na região, com o propósito de encurtar a distância entre o Rio de Janeiro e os lugares de onde se extraía a nossa riqueza mineral, além de permitir a ocupação do território por meio da distribuição de sesmarias. Em parte do trajeto foram aproveitadas trilhas abertas pelos ín- dios. Para conhecer o traçado da estrada que deu origem à nossa cida- de, sugerimos acompanhar o itinerário que apresentamos a seguir. Pro- curamos dividir a cidade em quatro partes para que a visita aconteça em quatro dias. Com isso, permite-se visitar os monumentos mais antigos que di- zem respeito à história de Juiz de Fora. O Caminho Novo transforma-se, assim, em um patrimônio cultural de 300 anos. Na maior parte do traje- to, o passeio pode ser feito a pé, a cavalo, de bicicleta, moto ou automó- vel. Leia atentamente e um bom passeio ao túnel do tempo pelo Cami- nho Novo da Estrada Real em Juiz de Fora. 1º DIA – Partindo da Ponte do Zamba sobre o Rio Paraibuna, na divisa dos municípios de Juiz de Fora e Matias Barbosa, deverá ser tomada a estrada do Joasal, entre o rio e a ferrovia. No final da estrada, atravessar a ferrovia e continuar seguindo passando pelo Marmelo, acesso ao Retiro, Niterói e túnel da ferrovia, indo em direção à região do bairro Santo An- tônio (Tigüera). Percorrer toda a extensão da Rua José Francisco Garcia (Tigüera), até atingir a Rua Nossa Senhora de Lourdes. Seguir pela Rua Nossa Senhora de Lourdes, Rua Costa Carvalho e Avenida Sete de Se- tembro, até atingir a Avenida Garibaldi Campinhos (lugar onde existiu a Fazenda do Juiz de Fora, no bairro Santos Anjos). Nomes antigos do trecho citado: Morro dos Arrependidos, Cruz das Al- mas, Medeiros, Morro do Marmelo, Marmelo, Fazenda do Marmelo, Santo Antônio da Boiada, Boiada, Morro da Boiada, Fazenda do Juiz de Fora. Observação: Do final da estrada do Joasal até o Tigüera, o trecho está impedido. Sendo assim, a alternativa mais próxima seria o caminho para Caeté, atingindo o Jardim Esperança, Retiro, Alameda Ilva Mello Reis e Bairro Santo Antônio.
  • 20. 2º DIA – Contornar a Praça Teotônio Vilela (Vitorino Braga), percorrer a Rua Henrique Vaz, Rua 31 de Maio, Avenida Surerus, Avenida Maria Per- pétua, Avenida Brasil, Avenida Rui Barbosa e Avenida Alencar Tristão. Passar pela casa do Alcaide-Mor (casarão próximo ao cemitério Parque da Saudade), seguir pela Rua Paracatu até atingir a Avenida Juiz de Fora. Seguir por esta via até a altura do SEST/SENAT. Tomar a estrada não pa- vimentada à esquerda, margeando o córrego Ribeirão das Rosas, seguin- do em direção ao Campo de Instruções do Exército. Passar pela Fazenda Ribeirão das Rosas, atravessar o córrego, e seguir pela estrada de terra à direita, em direção à estrada da Remonta. Na estrada da Remonta (asfaltada), seguir à direita, passando em frente à sede campestre do Círculo Militar, até chegar ao Camping Clube de Juiz de Fora. Nomes antigos do trecho citado: Fazenda do Juiz de Fora, Alcaide-Mor, Alcaidemoria, Tapera, Rancho da Tapera, Ribeirão das Rosas e Ribeirão. Observação: O Caminho Novo, a partir da Avenida Brasil, seguia por toda a extensão da Avenida Rui Barbosa, atravessando a ponte do córrego da Tapera (conhecida como Ponte Vermelha), e encontrando com a Rua Pa- racatu. Na Avenida Alencar Tristão existia uma porteira que dava acesso à casa do Alcaide-Mor, que pertenceu à família Tristão. O trecho da es- trada entre o SEST/SENAT e a Remonta está em área militar. É necessá- ria autorização para percorre-lo. 3º DIA – Seguir em direção à barragem da Represa João Penido. Conti- nuar pela estrada em direção ao Campo Grande. Na altura do sítio da fa- mília Possali, continuar pela estrada velha da represa até atingir a Aveni- da JK, na Barreira do Triunfo. Nomes antigos do trecho citado: Monte Belo, Cachoeira, Entre Morros, Cabral, Antônio Moreira, Rancho do Queiroz, Queiroz e Contendas. Observação: Com o granjeamento, parte da estrada original (hoje, em áreas particulares) foi desprezada, mas ainda pode ser vista na região do Campo Grande. É possível observar a calha do Caminho Novo e um mar- co de sesmaria no sítio dos Possali. Nos fundos das casas, à direita, que margeiam a Avenida JK, em Barreira do Triunfo, pode ser visto um trecho do Caminho Novo no corte do morro. Nessa região, o caminho original cortava a horta dos Possali e o clube Thermas, alcançando a praça da Barreira. 4º DIA – Seguir pela Avenida JK até a BR040. Continuar pela rodovia até atingir a estrada do Tinguá, à esquerda após o restaurante Fartura no Fo- gão. Saindo da BR040, seguir pela estrada do Tinguá, atravessando o córrego da Estiva. Continuar por toda a extensão da estrada até atingir a Rua Vicente Gávio (asfaltada), em Paula Lima. Ao aproximar-se da estra- da para a fazenda Vileta (última porteira à esquerda), seguir por essa es- trada, passando por duas porteiras e continuar avançando em direção à Ewbank da Câmara.
  • 21. Nomes antigos do trecho citado: Rancho do Queiroz, Queiroz, Contendas, Estiva, Azevedo, Coqueiros, Sobradinho, Luiz Antônio, Engenho do Mato, Engenho, Nossa Senhora da Assunção do Engenho do Mato, Rocinha do Engenho, Fazenda da Rocinha, Rocinha e Chapéu D‘Uvas. Observação: Próximo ao Restaurante Sílvio’s, na BR040, do lado direito, podem ser vistas ruínas de capelinha do Rancho do Queiroz. O nome Paula Lima para o lugar surgiu em 1891. Até então, o nome era Chapéu D‘Uvas. O Caminho Novo seguia paralelo à estrada do Tinguá. Na fazen- da dos herdeiros de Agnelo Lopes (lugar que era chamado de Azevedo), pode ser vista uma grande extensão do trecho original do Caminho Novo. Na Rua Vicente Gávio, o visitante vai encontrar um casarão que perten- ceu à família Teixeira de Carvalho, onde teria pernoitado D.Pedro I em 1831. A Igreja de N.S. da Assunção, em Paula Lima, surgiu em meados do século XVIII no mesmo local. Ela já passou por diversas reformas. Na estrada para a fazenda Vileta, à direita, o visitante encontrará um marco de sesmaria. Seguindo por esta estrada, mais adiante, irá deparar-se com as ruínas de um antigo casarão. Marco de Sesmaria em Paula Lima (antiga Chapéu D‘Uvas), na Fazenda Vileta, às margens do Caminho Novo. Observação: O Caminho Novo em Juiz de Fora, de Vanderlei Tomaz não foi apresentado no Encontro, mas foi permitida a sua publicação nes- tes anais pelo autor.
  • 22. CAMINHO NOVO E MEDICINA Geraldo Barroso de Carvalho Centro de Memória Belisário Pena gbarroso@uol.com.br Depois que um desbravador descobriu pepitas de ouro no Córrego Tripuí, no sopé da Serra do Itacolomi, a notícia da descoberta alastrou-se e teve início, então, uma migração maciça de pessoas de todos os lados, em busca das grandes reservas de ouro. Teve de ser aumentada a im- portação de escravos, para o trabalho nas lavras, para somar-se ao aflu- xo dos portugueses e aventureiros, formando uma superpopulação poli- morfa em áreas insalubres. À insalubridade, aliou-se a promiscuidade, propiciando a entrada de doenças novas em vasta região desprovida de estradas e de médicos. Tornou-se necessária a abertura de um caminho e a aquisição de animais de carga e de tração, para o transporte de géneros e alimentos, para as lavras auríferas. De caminhos colaterais, tropeiros atingiam o ca- minho novo e estabeleciam pontos de paradas, As viagens no interior de Minas, em térreos acidentados, eram cansativas, morosas e extenuantes. As provisões eram levadas por escravos, mas muitos sucumbiam na tare- fa. Fez-se imperativo trazer do sul mulas para tarefas de carga e gado para alimento e como força de tração. No sul, muares selvagens e gado bovino proliferaram abandonados pelos primeiros ex- ploradores, na vastidão dos Pampas. Usando esses animais, transitavam, pelo Caminho Novo, benzedo- res, curandeiros e dentistas itinerantes. Alguns curandeiros especializa- vam-se no uso de ervasencontradiças na Mata Atlântica; outros, na arte de ―encanar‖ membros fraturados, na abertura de abscessos, na retirada de espinhos, bichos-de-pé e corpos estranhos (feijão, milho) de narinas e ouvidos. Frequentemente, as crianças introduziam esses grãos nas nari- nas e nos ouvidos, principalmente nas épocas de colheitas. Assim, os curandeiros e afins entraram em ação. O mais famoso deles foi Tiradentes, que, além de curador, era dentista e boticário, pro- prietário de uma botica em Ouro Preto. Tiradentes exerceu suas ativida- des extra-policiais em Vila Rica, no Rio e nas estradas de Minas.
  • 23. A botica de Tiradentes era bem sortida de folhas, cascas e raízes, para preparar chás, xaropes, pós e ungüentos diversos, remédios tam- bém usados pelos tropeiros e curandeiros nas paradas às margens do Caminho Novo. Entre outros remédios, dispunha de figueira silvestre, i- peca ou poaia, erva-de-santa-maria, feto macho, sassafrás, salsaparrilha, sene, cipó de carijó, óleo de rícino, maná, congonha, picão, unha de anta, ruibarbo e muitas outras drogas, à base de vege- tais. Outras práticas curativas usadas por curandeiros e tropeiros incluí- am: Aplicação, sobre feridas, de folhas de vegetais, borra de café, barro argiloso e esterco fresco; teia de aranha como hemostático; talas de bambu e cipó para imobilização de membro fraturado; lanceta para abrir abscessos e aplicar sangrias; aplicação de toucinho sobre bernes; aplica- ção de fumo para contornar lesões da pele; uso de chás de cipós para pi- cadas de cobra e do próprio cipó, como torniquete. Usavam-se beberagens, benzeduras, rezas e simpatias como: ca- chaça com cipó-guiné na sexta-feira da paixão, para fechar o corpo (escravos); cachaça com jurubeba contra picadas de urutu, jararaca e ja- raracuçu; infusão da raiz da catuaba como afrodisíaco (índios tupis); benzeção para soltar placenta retida; rezas aos santos protetores e simpatias diversas. A farmácia dos tropeiros era formada por ervas, raízes, frutos sil- vestres e cascas de vegetais, usados em chás, infusões, banhos e outras aplicações. Eis alguns exemplos: Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia). Para os males da pele e do estô- mago. Ipê-roxo (Fabebuia leptaphylla). Banho de ipê-roxo curava sarna, ecze- mas, "impinges" e corrimentos. O chá era usado em muitas enfermidades Douradinha (Waltheria douradinha): Males do pulmão, úlceras idosas e tumores Tanchagem (Plantago major). Em chá ou em banho: para dores e cicatrização de queimaduras, além de efeito diurético, depurativo e adstringente. Picão (Bidens pilosus): reumatismo, cálculo renal e vesical, má digestão, doenças hepáticas e febres. Principal indicação: icterícias. Unha-de-gato (Uncaria tormentosa). Banho de casca desse cipó era indi- cado para "espinhas", reumatismos, diabetes, hemorróidas e câncer.
  • 24. Quebra-pedra (Phttlanthus niruri), Marmelinho Tournefortia paniculata) e Chapeu-de-couro (Echinodorus grandiflorus): Cálculos renais, afecções dos rins e do fígado Erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioidis): contra verminoses Feto-macho ou broto de samambaia (Polipodium filix- mas): contra solitária Taiuiá (Cayaponia tayuya), também conhecido co- mo abobrinha-do-mato ou melão-desão-caetano era usado no reumatis- mo, como analgésico. Estudos recentes comprovam que é uni anti- oxidante, sequestrante de radicais livres. Jurubeba {Solanium panicula- tum). Dela utilizavam-se os frutos e as raízes, como depurativo, cicatrizante, digestivo, diurético, na "desobstrução do fíga- do". Uma das indicações da jurubeba era no tratamento da picada de co- bra. Cachaça com jurubeba era bebida em grandes doses, nas mordidas de cobras. Mamona (Ricinus communis): O óleo da semente era usado como purgativo (óleo de rícino). O óleo era também usado como combu- rente, na iluminação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: O1LIAM, José. Tiradentes. Ed. Itatiaia. Belo Horizonte: 1985 ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. Ed. Itatiaia. Belo Horizonte:l982 HESPANHOL, Maria de Fátima L. (Tina). Caminho Novo: uma história de lutas e emoções. Gráfica e Ed. Cidade de Barbacena. Barbacena: 2008 ANASTASIA - Carla M. J.. Geografia do Crime. Ed, UFMG. Belo Horizonte: 2005 SPIX E MARTÍUS. Viagem ao Brasil. Ed. Itatiaia. Belo Horizonte: 1981
  • 25. CAMINHO NOVO E MEDICINA Crítica de Nilza Cantoni Apresentando-se como um ‗curioso‘ a respeito da história da medi- cina e seus labirintos, o médico dermatologista Geraldo Barroso de Car- valho, professor da Faculdade de Medicina de Barbacna, informou que fa- laria sobre a Medicina no Caminho Novo de forma muito simples. Iniciou discorrendo sobre o panorama da época, ressaltando que uma grande quantidade de pessoas buscou o local das minas a partir da descoberta do ouro no sopé da Serra do Itacolomi. Foi também necessá- rio aumentar a importação de escravos para suprir a necessidade de mão de obra. ‗Esse afluxo imenso de pessoas, de todos os lados, criou uma superpopulação numa área extremamente insalubre‘, propiciando a en- trada de muitas doenças novas na região, disse Barroso. Doenças endê- micas na África e no sul do Brasil, por exemplo. De certa forma, a região tornou-se uma espécie de Serra Pelada, conforme indicava a fotografia no slide. Por esta época ‗apareceu em Ouro Preto um cidadão chamado Luiz Gomes Ferreira, português‘, que ouvira notícias da descoberta e inicial- mente se dirigira para Sabará. Depois de 5 anos, em 1716, estabeleceu- se entre Ouro Preto e Mariana e ali passou a ser procurado pelas pessoas que buscavam tratamento para suas doenças. Teria sido o primeiro ‗médico‘ a deixar notícia na história da região. Barroso acrescentou que, além das pessoas, houve um aumento significativo do plantel de animais de carga, adquiridos no sul, para onde os espanhóis tinham levando muitos muares com o objetivo de fazer o transporte da prata do Peru para Buenos Aires. Muitos desses animais haviam se perdido pelas pradarias do sul onde se misturaram e se multi- plicaram, resultando em grande quantidade de animais de carga e gado bovino, sobretudo na região de Viamão, no Rio Grande do Sul. O pessoal de Minas se viu, então, na necessidade de ir buscar animais que auxilias- sem no transporte de cargas, serviço até então feito pelos escravos. Um burro carregava cerca de 18 a 20 vezes o peso transportado por um es- cravo. O centro onde iam buscar estes animais era a Feira de Sorocaba. No local encontravam-se profissionais variados, como seleiros, cangalhei- ros, ferradores, ferreiros, peões e os vendedores dos animais que eram comprados e trazidos para formar as tropas de mulas. Cerca de 10.000 mulas saíam anualmente de Sorocaba, quase todas destinadas à região das minas. Por esta razão, Minas chegou a ter mais do que o dobro da tropa de mulas existente no resto do Brasil. No percurso de ida e volta até Sorocaba, os tropeiros faziam para- das em propriedades que lhes alugavam o pasto e forneciam milho para os animais. Entretanto, tinham que carregar sua própria alimentação e demais produtos necessários à sobrevivência, incluindo medicamentos. Havia curandeiros e dentistas itinerantes mas também aqueles que fazi- am parte das tropas maiores ou se estabeleciam no percurso. Os curan-
  • 26. deiros tratavam diversos males com as ervas encontradiças na Mata A- tlântica e alguns eram também cirurgiões que abriam abscessos e retira- vam corpos estranhos. Segundo Barroso, um dos primeiros medicamentos quimioterápicos de que se tem notícia provinha de determinadas plantas, entre elas a I- peca, ou Poaia, encontrada nas matas do Chopotó. Sendo um dos gran- des medicamentos da época, fazia parte da bagagem daqueles tropeiros ou era obtido com os curandeiros do caminho. Além disso, a malária, que na época causava numerosas mortes e ainda hoje tem alta incidência em várias partes do mundo, era também tratada com ervas. Prosseguindo, foram mencionados muitos produtos da medicina de então, sendo que alguns ainda hoje encontram aplicação em determina- das circunstâncias. Neste ponto, Barroso mencionou os que viu serem a- plicados em sua época de médico recém-formado. ‗Na segunda metade do século XX nós ainda usávamos a erva de santa maria‘, declarou. Outra citação foi ao ‗feto macho‘ que é retirado do broto da samambaia e era o único medicamento para eliminar a solitária. A semente de abóbora foi mencionada para explicar a chamada ‗teoria das assinaturas‘, segundo a qual Deus teria criado objetos que apresentavam sinais de suas virtudes. Neste caso a semente de abóbora tinha um formato semelhante ao útero da solitária carregada de ovos. Foram mencionados vários outros medicamentos que faziam parte da farmacopéia da época áurea do Caminho Novo e que entravam na ba- gagem do tropeiro como cascas, sementes e demais insumos semelhan- tes. Pela ‗teoria das assinaturas‘, relatou, determinado cipó seria eficaz como antiofídico por ter o formato de cobra. Também a planta denomina- da quebra-pedras, uma gramínea que se desenvolve entre as fendas das pedras, seria solução contra os cálculos renais. A mamona, em função da prática de se considerar que o purgativo seria o melhor remédio contra qualquer doença, era produto de grande utilidade. O hábito de se cobrir feridas com determinada folhagem encon- tra justificativa no fato de que servia de cobertura, impedindo que a mosca varejeira ali depositasse seus ovos. Para as fraturas e contusões, usavam-se talas de bambu numa prática que, embora extremamente ru- de, ajudava a solucionar problemas imediatos. Colocar um pedaço de toucinho sobre os berne resolvia o problema porque, diferentemente da crença de que o berne gosta de toucinho, na verdade esta prática impe- dia a respiração do intruso, matando-o. E assim ouvimos o médico e historiador mencionar muitas curiosi- dades como o uso do fumo em torno de micoses impedindo que a área afetada se ampliasse. Além das beberagens, ferveduras, cachaça com um determinado tipo de cipó na Sexta-feira da Paixão e cachaça com jurube- ba. No item rezas e simpatias não foi esquecida a oração a São Guido pa- ra tratar de males das articulações porque a doença era chamada de Dança de São Guido ou Coréia, palavra que significa dança. E se o problema era guardar um segredo, melhor rezar para São João Nepomuceno. Ele teria sido confessor de uma rainha e certa feita o
  • 27. rei foi-lhe ao encalço para saber o que a rainha lhe contara. Pela recusa em atender ao pedido do rei, sua imagem teria sido associada ao hábito de colocar o dedo indicador sobre os lábios e dado origem aos pedidos fervorosos de ajuda quando não se consegue manter um segredo. Geraldo Barroso de Carvalho é membro do Centro de Memória Beli- sário Pena. E autor do livro Doenças e Mistérios de Aleijadinho, publica- ção da Lemos Editorial que já está indo para a terceira edição. Fonte: Blog de Nilza Cantoni http:// coloniaconstansa.blogspot.com/2010/09/garcia-rodrigues-paes-e-o- caminho-novo.html
  • 28. Os CAMINHOS DE ERNST HASENCLEVER EM MINAS Edson Brandão Pesquisador independente edsonbrandao@edsonbrandao.com.br Setembro/2010 Um desenho cujo título era ―Vista de Barbacena, 1839‖ é uma ilus- tração que aparece no livro Barbacena, 200 anos,volume 1, do memori- alista barbacenense Prof. Altair José Savassi ,1991 e sempre nos suscitou a pergunta: Quem era o autor do desenho e onde fora publicado origi- nalmente? A resposta chegou ao acaso , quando nos deparamos como o catálogo ―Hasenclever & Cia, Rio de Janeiro, 1830-1930‖ (autores e edi- tora desconhecidos), onde o desenho era atribuido a Ernst Hasenclever (1814-1869), um jovem alemão comerciante alemão que percorreu o Brasil nos anos de 1837 e 38 e que registrou suas andanças em um diá- rio com anotações e desenhos das localidades visitadas. Ernst era des- cendente de Joh. Bernhard Friedrich Hasenclever (1731-1806), fundador da firma Joh. Bernhard Friedrich Hasenclever & Söhnen, em Remscheid, 1786, Alemanha, uma firma que ganhou força no seu pais de origem e em diversos das Américas do Sul, Central e Norte. A cidade de Rems- cheid sempre foi um centro industrial e de cutelaria. De suas forjas, e da cidade vizinha Solingen saiam ferramentas pequenas como: foices, ga- danhas, serras, machados e limas, além de tesouras, facas, espadas e sabres... As ferramentas eram vendidas para Espanha, França, Itália e o Novo Mundo. Para dominar este promissor novo mercado, Johann Gottfri- ed Hasenclever (1806-1865) chegou ao Rio de Janeiro em 28 de setem- bro de 1830, onde abriu a primeira filial da empresa em terras brasilei- ras. Anos mais tarde, com a firma bastante movimentada, foi solicitada a ajuda de Ernst Hasenclever, jovem sobrinho que partiu do Porto de Bre- mem rumo ao Brasil em 28 de julho de 1837. Desde a viagem marítima, até suas incursões em cidades brasileiras das províncias do rio de Janei- ro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, tudo foi anotado em diários que não foram feitos com a intenção de serem publicados. Todos os textos foram escritos em Kurrentschrift (antiga forma de escrita ta- quigráfica alemã). Isso fez com que os textos ficassem desconhecidos até mesmo pelos descendentes de Ernst. Somente uma bisneta do viajante foi capaz de ler o texto e possibilitar sua transcrição para o alemão con- temporâneo.
  • 29. Tempos depois, a Sra. Harlfinger, descendente direta de Ernst apresen- tou este material escrito e mais cerca de 100 desenhos, à Dra. Debora Bendochi Alves, professora de História Íbero-Americana da Universidade de Colônia, hoje a maior conhecedora da história dos diários. Tais diários são compostos de 100 desenhos feitos junto aos textos em cerca de10 cadernos e descrevem a viagem ( de 28 de julho a 7 de outubro de 1837), descrevem sua passagem por cada Província brasileira e seu re- torno à Alemanha ( via América do Norte). Atualmente, este material es- tá sendo organizado e preparado para publicação pela Professora Debora, com projeto gráfico e produção de Edson Brandão. Ernst Hasenclever
  • 30. O CAMINHO NOVO E O COMÉRCIO DAS MINAS, 1700-1818 Angelo Alves Carrara Universidade Federal de Juiz de Fora angelo.carrara@ufjf.edu.br Esta comunicação tem por objetivo apresentar o Caminho Novo co- mo a rota por onde entrou a quase totalidade das mercadorias importa- das por Minas Gerais, bem como saiu suas mercadorias mais importantes - ouro e diamantes, ao longo do século XVIII. Esta característica original marcou profundamente as áreas ocupa- das às margens do Caminho, em especial o caráter fortemente concen- trador da propriedade fundiária. É sintomático que em 1750, no auge da produção mineradora, apenas 19 propriedades respondiam pela totalida- de da produção agrícola que abastecia os viandantes do caminho, entre a fronteira com o Rio de Janeiro e os arredores da atual cidade de Barbace- na. Referência: CARRARA, Angelo Alves. Minas e currais; produção rural e mercado interno de Minas Gerais, 1674-1807. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2007.
  • 31. O CAMINHO NOVO E O COMÉRCIO DAS MINAS, 1700-1818 Crítica de Nilza Cantoni O professor Ângelo Carrara iniciou agradecendo o convite e decla- rou que "este tipo de reunião, que ocorre fora dos meios acadêmicos, tem a faculdade de produzir mais efeitos concretos e objetivos a curto prazo do que as que acontecem no meio acadêmico. Nós fazemos nossos eventos acadêmicos mas em termos práticos... quando isso que nós dis- semos vai chegar ao aluno?‖ Informou que este foi o segundo evento do tipo do qual participou este ano e percebeu que todos ali estavam envolvidos de forma sincera, inte- ressada. Assim, após ouvir as comunicações que ocorreram ao longo do dia, decidiu modificá-la. A seguir, trechos do que falou Carrara. "O Caminho Novo é um caminho. Se eu for abordar o tema de co- mércio, eu não vou sair disso: 85% de toda a importação de mercadoria passou pelo Caminho, da mesma forma que 98% do ouro produzido em Minas Gerais. E pronto! Só que esse Caminho Novo é tratado como caminho, como rota. E o que está em volta do caminho? Pessoas circulavam pelo Caminho Novo. E é essa a ideia! É nisso que eu mudei! Ao invés de tratar o caminho co- mo ... mercadorias e ouro, quero chamar a atenção para o entorno dele. E para a personalidade histórica dele. Então, eu não preciso trazer aqui números. [...] Nós estamos num lugar muito especial. Minas é muito especi- al! O mineiro tem um profundo orgulho de ter nascido aqui. É o melhor estado do mundo! [...] Eu posso afirmar que não havia Império. [Naquele momento] o que há é um império de rotas comerciais dominadas por portugueses. Mas o império no sentido territorial... Então eu pergunto: o que é o Brasil até 1696? O Brasil é um punhado de gente vivendo em pontos da costa brasi- leira. A estatística que nós tínhamos até muito recentemente nos dava um total de 300 mil pessoas isto é um absurdo! Por que? Este ano, conversando com um colega que está trabalhando com demografia, descobrimos que este cálculo é fruto de um palpite, de um despautério sem fim. Quantos habitantes tinha Salvador em 1681?
  • 32. Três mil pessoas! Era a capital do Brasil e tinha 50% da população brasileira. E 50% da economia brasileira estava concentrada em Salvador e seu recôncavo. Então, por aí vocês tiram as conclusões. O Brasil é um conjunto de pontos. O ouro detona o processo de mi- gração maciça, de Portugal, do Brasil todo, num movimento demográfico que não consegue ser estancado. Enquanto os países europeus perdiam população ano após ano. E para onde ia essa gente? Para Minas Gerais. Eles não estão indo para Salvador, para Pernambuco, não! Eles estão vindo prá cá. [...] O ponto nevrálgico desse ‘agora’ no Império Português é uma questão de território. É Minas, é Mato Grosso, é Goiás. Isso é território! O vale do São Francisco... [...] A razão principal do ouro é entrar em circulação. De 1724 a 1735 nós tivemos uma casa da moeda em Ouro Preto. Esta casa da moe- da, durante seus 10 anos de vida, cunhou três vezes mais moeda do que suas equivalentes de Lisboa e Rio de Janeiro juntas. Então, imaginem. Enquanto a rotina da Casa da Moeda em Lisboa era uma, em Minas a produção era muito maior. Claro que os melhores servidores da Coroa estavam onde estava a riqueza. Em Minas Gerais! Porque aqui estava a galinha dos ovos de ouro. O grande desafio nosso, na minha perspectiva, é fugir dessa histó- ria que enaltece determinados indivíduos. A pergunta que eu faço é o que esta história tem de utilidade para as pessoas comuns? O fato é que essa movimentação toda de gente pelo Caminho No- vo... As pessoas se levantam e perguntam: o que eu faço agora? Me ali- mento como? Como é o dia-a-dia? Não é a história de grandes persona- gens, de fatos heróicos, mas a nossa história. Mas não é uma história da vida privada [como perguntou alguém da platéia]. É uma história de to- dos, pública. É o dia-a-dia. A pergunta que devemos fazer é: o que é viver aqui? O que foi vi- ver no século XVIII e no século XIX aqui? Devemos perguntar que tipo de esforço estes indivíduos faziam para poder manter suas vidas. Porque não se pode esquecer que essa gente trabalha. Dá-se a impressão de que o passado era um brilho só. Na realida- de, o que talvez tenha mais impacto sobre as pessoas [seja]... há 300 anos, quando eu me sentava à mesa, o que eu tinha? Percebem o desafio que temos à frente?
  • 33. [...] Já avançamos muito. Em 10 anos, eu sou testemunha disso, crescemos absurdamente no campo da preservação da documentação. Nós temos acervos monumentais, um acervo que precisa ser preservado. Um outro desafio, diretamente relacionado, é a propagação da educação patrimonial, que é fundamental. Aquilo que as secretarias de educação incorporam nos seus currículos, uma disciplina de educação patrimonial que não vai tratar de enaltecer grandes nomes. Ao contrário, é cuidar de um patrimônio que muitas vezes é imaterial. Os queijos, a cultura minei- ra... Este é um desafio para o historiador de ofício. Escrever esta histó- ria de Minas. Esta reunião está acontecendo em Barbacena. O que nos deve interessar é a história de Barbacena. Existe uma coisa que eu chamo de personalidade histórica. Vou ex- plicar. O meu objetivo aqui é dar serviço [risos] As identidades originais de Minas Gerais... Exemplo: nos centros minera- dores, o que existiu ali é diferente de uma outra sociedade que é vizinha [mas que tem uma] identidade curraleira. Em Minas temos quatro [identidades]. Saindo de Ouro Preto até I- tabirito, é a do ouro. Pitangui não foi uma região mineradora importante. Pitangui... tinha a segunda maior produção de gado de todo o século XVIII. Outras identidades, ao longo do século XVIII, vão se formando. A zona curraleira... margem esquerda do São Francisco... no extremo noro- este de Minas Gerais que não conversa com Minas Gerais. Eles não pro- duziram gado ali para vender em Minas. É uma identidade particular de Minas Gerais. Outra identidade é do vale dos rios Verde e Verde Grande. Produ- ção agrícola que conversa com Minas Novas ou Itacambira. É outra for- mação. Eu estou falando da identidade que se forma por vínculos familia- res, por parentesco, por pessoas circulando diariamente, semanalmen- te... O mesmo se dá em Diamantina, que não pode ser entendida só co- mo Distrito Diamantino. Diamantina é ao mesmo tempo Diamantina e Curvelo. Porque o gado que abastece Diamantina é o gado de Curvelo. Ou seja, Diamantina é muito curraleira apesar da produção de diaman- tes. Percebem-se as diferenças no sotaque. O historiador tem que ter parâmetros para saber ouvir o sotaque. O de Diamantina é o mesmo de Curvelo ... é só ir para a rodoviária e identificar as linhas de ônibus mais comuns.
  • 34. Então, na região das minas, eu acho que fica claro que há um qua- drilátero muito facilmente identificado por todos, formado por Ouro Pre- to, Mariana, Caeté e Sabará. [...] A alimentação na área curraleira é diferente da área mineradora. Essa região aqui, de Barbacena, que hoje se chama de Vertentes, mas que no período colonial se chamava O Campo, por isso que aqui é a Borda do Campo, termina lá nas Congonhas do Campo. O Campo é Cam- po por quê? Porque isso aqui é uma região diferente das demais, a mais fértil de todas, com uma rede hidrográfica fantástica e é isso que explica o vigor da agricultura nessa região. Só que a identidade de Barbacena, de Santana do Garambéu, de Prados que, apesar de ser área de mineração comunga muito com a i- dentidade de Barbacena, Entre Rio de Minas, Carijós, até Congonhas, guarda uma homogeneidade muito forte. Primeiro o estilo de fazenda. As descrições rudimentares que eu vou encontrar, do século XVIII, vão dizer que o perfil preferencial é uma concentração de terras, [uma concentração] fundiária, de propriedades médias, de produção média. Toda essa região do Campo, antes de cair no espinhaço em direção a Ouro Preto, fechando essa região aqui nas Congonhas, tem uma concentração de terras distinta da região do Cami- nho Novo indo para Juiz de Fora. O padrão aqui é menos concentrador do que em Juiz de Fora. A produção agrícola aqui é baseada em proprieda- des médias e não em grandes. Se eu for para Juiz de Fora? 1750 – quantas pessoas produzem ali- mentos? Dezenove. De Paraíba do Sul no Rio de Janeiro, até o pé da ser- ra aqui em Santos Dumont. Dessas 19, 10 produzem 85% do total. Isso é concentração! Concentração fundiária é o melhor identificador da ‘personalidade’ de uma região. Quanto mais concentrada a propriedade rural, mais con- centração de renda. Quanto melhor distribuída a propriedade da terra, melhor o padrão dessa sociedade. As pessoas que vivem na roça... a forma como elas acessam o principal meio de vida é fundamental... Numa região em que o padrão de concentração é mais equilibrado, a sociedade é diferente. Então, esse Caminho Novo não é uma identidade. Na verdade nós temos que ultrapassar isso. O Caminho Novo é uma rota. O que importa é verificar a região. Esse é o grande desafio. Fontes para isso? Um problema que nós não temos em Minas Ge- rais. Todos os outros estados tem problemas com fontes. Nosso proble- ma é o inverso. Nós temos excesso de fontes. Nós temos que ir a um ar- quivo rezando para não encontrar documentos. Experiência própria. Ali abre um livro e surge mais um questionamento.
  • 35. Existe uma fonte que é um verdadeiro cadastro em Minas Gerais. Ela me dá o nome, a propriedade rural, o endereço, a produção agrícola. Isso desde 1750. Eu tenho como fazer uma história dessa propriedade rural, história da produção econômica, desde 1750 até 1835. É um tipo de registro muito particular, todo organizado. A partir desse período eu consigo rastrear, com a documentação que ainda não conhecemos e da qual ainda não temos inventário. Mas que em breve teremos. É a nossa caixa preta da História do Brasil. É a Coleção Casa dos Contos de Ouro Preto, com duzentos e tantos mil itens. Sabemos que tem coisas precio- sas mas... não tem inventário. No momento em que tivermos inventário, poderemos fazer a história que quisermos. Quer fazer História da Medici- na? Pode. Quer acompanhar o receituário? Tem. Porque lá estão os regis- tros dos hospitais militares. Para cada doença tem o medicamento que foi adotado. Tem ali documentação que vocês não podem imaginar. Documen- tação sobre todas as obras artísticas.... Aleijadinho foi um. Há dezenas de outros artistas. O altar da Igreja, como é que foi feito... O que na verdade eu gostaria de chamar a atenção é para a neces- sidade que nós temos, é a responsabilidade que a academia tem de pro- duzir esse tipo de investigação. Uma responsabilidade que ela tem como instituição pública. Uma outra responsabilidade que a Prefeitura tem, dentro das suas possibilidades, é de produzir material didático capaz de sensibilizar a so- ciedade, atingir a sociedade. Fazer isso é elevar o nível de cidadania, a- qui entendido como a capacidade de entender direitos e deveres. É ter consciência das transformações... Diferentemente de outras áreas de conhecimento, o objeto da his- tória não está dado. É complicadíssimo. Nós não lidamos com um único indivíduo. Nós lidamos com todos. E o que é mais complicado: o ser hu- mano muda. E o historiador tem que encontrar o padrão da mudança. Porque as coisas não são colocadas [e] nós não vivemos no caos. Nos vi- vemos dentro de uma visão de como o mundo funciona. Existe um pa- drão de mudança que precisamos identificar. Então, nos aproximarmos desse tipo de história que tem a capaci- dade de nos informar, com maior segurança, os padrões que essa socie- dade adquire ao longo do tempo, é o grande desafio. É isso que me cha- mou a atenção para este evento. É o primeiro e precisa se repetir. Barba- cena tem uma responsabilidade enorme por conta do equipamento urba- no que tem, diante de outros municípios. Barbacena tem um fator de li- derança diante de outros municípios.
  • 36. A responsabilidade é das prefeituras de mobilizar seus professores em torno dessa ideia de construção de material didático. O impacto disso no médio prazo é profundamente transformador. Meu papel aqui foi mais dizer o que fazer. Material a academia tem. Mas há uma necessidade cada vez maior de aproximação entre a univer- sidade e as necessidades efetivas da sociedade. Produção histórica que tenha um impacto mais imediato sobre a sociedade. " Ângelo Carrara, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, encerrou sua participação dizendo que seu papel foi o de saudar esse tipo de iniciativa e chamar a atenção daqueles que têm alguma responsabili- dade sobre esse tipo de projeto. Rio das Mortes, Fazenda do Registro Velho
  • 37. POVOADORES DO CAMINHO NOVO: estratégias de ocupação dos primeiros habitantes da região da Borda do Campo no século XVI- II. Edna Maria Resende ednamresende@hotmail.com Doutora em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Pós-graduada em História de Minas no século XIX pela Universidade Fe- deral de São João del-Rei (UFSJ); Graduada em Filosofia pela Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei (FUNREI); Coordenadora do Ar- quivo Histórico Municipal de Barbacena. OS SENHORES DO CAMINHO NOVO: notas sobre a ocupação da Borda do Campo no século XVIII. Resumo A ocupação da Borda do Campo esteve inextricavelmente ligada ao cir- cuito mercantil do Caminho Novo. Os pioneiros moradores da Borda do Campo enraizaram-se na região, concentrando terras e controlando as rotas comerciais do mercado interno. Os primeiros proprietários dedica- ram-se à agricultura e à pecuária, estabeleceram ranchos para suprimen- to dos viajantes, lançaram-se ao comércio e ao transporte de tropas. Ao ocuparem e cultivarem as terras e integrarem-se à ―malha mercante‖ do Caminho Novo, transformaram-se em ―senhores do Caminho‖ e promo- veram o desenvolvimento da região de Barbacena.
  • 38. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Artigo adaptado do primeiro capítulo de RESENDE, Edna Maria. Ecos do liberalismo: ideários e vivências das elites regionais no processo de cons- trução do Estado imperial, Barbacena (1831-1840). 2008. Tese (Doutorado em História). FAFICH/UFMG, Belo Horizonte, 2008.
  • 39. ARQUIVO HISTÓRICO DO ESCRITÓRIO TÉCNICO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE SÃO JOÃO DEL REI Jairo Braga Machado IPHAN/ São João del Rei Não é nenhum exagero afirmar que obrigatoriamente uma parte significativa da historia de Minas Gerais passa pela documentação que está sob a guarda do Arquivo Histórico do Escritório Técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de São João del-Rei.Ela é composta de documentação cartorária, eleitoral, coletoria estadual e u- ma coleção de jornais e revistas datadas do final do século e principio do século XX. Grande parte dessa documentação teve transito na antiga co- marca do Rio das Mortes, cuja sede era a vila de São João del Rei. Todos os historiadores que trabalham com historia econômica, social, cultural, política e religiosa são unânimes em afirmar a importância da comarca mineira como principal pólo de abastecimento não só da antiga capitania, mas como também a principal vila abastecedora da corte no Rio de Janei- ro que instalou a partir de 1808 fugindo das invasões napoleônicas. São mais de 115 títulos de series documentais cujas datas limites são: 1711- 1986. São inventários, (12000processos), Testamentos (2842 processos), sesmarias (1300 processos), processos crimes (3217 processos). Uma biblioteca composta de mais de 10000 volumes e 31 títulos, documenta- ção eleitoral com cerca de 80.000 canhotos de títulos eleitorais onde ca- da documento traz fotografia três por quatro com endereço domiciliar, filiação partidária, quando é o caso, além do local e data do nascimento com respectiva filiação. Sem nenhuma dúvida, esta documentação é uma inesgotável fonte para os diversos campos não só da historia, como da sociologia e antropologia.Compõe ainda este precioso acervo os livros de Décima Urbana (1826-1836) que são verdadeiras relíquias que muito a- judam a recompor a malha urbana da velha São João del –Rei. Uma lei- tura detalhada não só nos permite recompor a estrutura da urbe são joa-
  • 40. nense, como também podemos compreender a formação de outros nú- cleos mineiros que faziam parte da comarca do Rio das mortes que surgi- ram através das antigas fazendas, sítios entroncamentos de velhos cami- nhos, pousos de tropeiros, antigas lavras minerais e roças de mantimen- tos. Tudo isto a partir de uma leitura cuidadosa e sistemática da docu- mentação sob a guarda do arquivo do IPHAN. Uma leitura cuidadosa a partir das cartas de sesmarias também nos ajudará a entender o proces- so de expansão agrária de todo o vale da região do Rio das Mortes. Nos inventários e testamentos as descrições dos imóveis aparecem com u- ma riqueza de detalhes muito grande como exemplo é o inventario do comendador João Antonio da Silva Mourão rico comerciante São Joanen- se onde podemos ler o seguinte: ―... uma morada de casas de dois an- dares sitas na praça do Tamandaré e frente para a rua do comercio toda envidraçada com armações par negócio toda assoalhada forrada avaliada por três contos e quinhentos mil reis...‖ Inventário de João Antonio da Silva Mourão caixa 170, seção de Inventários, do Arquivo Histórico do Es- critório Técnico do IPHAN. Este casarão foi tombado pelo IPHAN em 1946 sendo um marco espetacular da presença deste instituto como uma insti- tuição responsável pela preservação da memória não só regional como nacional.Além do mais esta documentação nos permite estudar a forma- ção arquitetônica dos vários templos religiosos, tombados pelo IPHAN as- sim como estudar a vida de vários arquitetos de projeção nacional na his- toria da arte colonial mineira tais como: Francisco de Lima Cerqueira o grande arquiteto responsável pela construção do fantástico templo da Or- dem Terceira de São Francisco de Assis e o Templo da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, Inventario de Francisco de Lima Cerqueira – 1814 –caixa 362 e testamento caixa 024.Aniceto de Souza Lopes impor- tante mestre canteiro que tem seu nome gravado em vários monumentos da antiga vila.
  • 41. Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Minas Gerais. O gran- de fundidor de sinos de São João del –Rei Francisco Bernardes de Souza, 1852 deixou em seu inventário post morti um precioso documento à res- peito de sua profissão de fundidor de sinos. Esta referência coloca a cida- de mineira como importante pólo do patrimônio imaterial brasileiro. Nomes de vários artistas, escultores, pintores, como Venâncio José do Espírito Santo, Joaquim José da Natividade, o grande compositor e maestro Martiniano Ribeiro Basto, o compositor sacro padre José Maria Xavier, podem ser estudados também a partir da documentação já des- crita. Portanto, também não é nenhum exagero afirmar que a trajetória do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na cidade passa obrigatoriamente pelos jornais do arquivo já citado. São mais de 190 vo- lumes encadernados com mais de 60 títulos. Neles podemos acompanhar a brilhante atuação do antigo SPHAN na preservação do nosso rico lega- do cultural da cidade de São João del –Rei ,legado este fundamental para a formação da identidade nacional. Bibliografia ALVARENGA, Luíz de Melo. Igrejas de São João del-Rei, 1963, Editora Vo- zes Ltda, Petrópolis: Rio de Janeiro. BELLOTTO, Heloisa Liberali. Arquivos permanentes: Tratamento docu- mental Rio de Janeiro,Editora FGV, 2006. BOSCHI, Carlos C. Os leigos e o poder; irmandades leigas e política colo- nizadora em Minas Gerais. São Paulo: Ática, 1986. CAMPOS, Adalgisa A. Cultura barroca e manifestações do rococó nas Ge- rais. Ouro Preto: FAOP/BID, 1998. CARRARA, Angelo Alves. Minas e Currais: Produção Rural e Mercado In- terno de Minas Gerais 1674-1807. Juiz de Fora, Ed. UFJF, 2007. CINTRA, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João Del-Rei. Vol 2, Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1982
  • 42. CUNHA, Alexandre M; MONTE-MÓR, Roberto L. A tríade urbana: constru- ção coletiva do espaço, cultura e economia na passagem do século XVIII para o XIX em Minas Gerais. IX Seminário sobre a Economia Mineira, 2000. Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br/seminarios/seminario _diamantina /2000/CUNHA.pdf. Acesso em 28 de maio de 2007. CUNHA,Murilo Bastos da e CAVALCANTI, Cordélia Robalinho de Oliveira. Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia. Brasília. DF Briquet de Le- mos livros,2008 GRAÇA FILHO, Afonso Alencastro. A princesa do oeste e o mito da deca- dência de Minas Gerais. São João del Rei (1831-1888). São Paulo: Anna- blume, 2002 MARTINS, Judith. Dicionário de artistas e artífices dos séculos XVIII e XIX em Minas Gerais. Vol. 1, Rio de Janeiro: Publicações do Instituto do Patri- mônio Histórico e Artístico Nacional, nº 27, 1974, p. 364-379; 394-395. OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. A arquitetura e as artes plásticas no século XVIII brasileiro. In: O Universo Mágico do Barroco Brasileiro, São Paulo, Fiesp, 1998a, p. 77-83. Cidade de São João Del Rei
  • 43. O CAMINHO NOVO NO ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE OURO PRETO (APMOP) João Paulo Martins Arquivo Público Municipal de Ouro Preto arquivopublico@ouropreto.mg.gov.br O Arquivo Público Municipal de Ouro Preto, criado em 1991, é responsável pela documentação da administra- ção pública municipal ainda presente em Ouro Preto. A proposta da co- municação é apresentar as principais características desse acervo e suas potencialidades para pesquisas referentes à História e Geografia do Ca- minho Novo. Sendo Ouro Preto o ponto de encontro entre os Caminhos Novo e Velho, possuindo várias vias e trechos que dão acesso a essas importantes estradas para a história mineira e brasileira. O Arquivo Público Mineiro foi criado na cidade de Ouro Preto em 11 de julho de 1895, pela lei nº 126, com o objetivo de receber e conservar os documentos concernentes ao direito público, legislação, administra- ção, história, geografia e manifestações do movimento científico, literário e artístico do Estado de Minas Gerais. Inicialmente, o arquivo foi instala- do na casa de seu idealizador e primeiro diretor, José Pedro Xavier da Veiga. Após a mudança da capital, em 1897, houve a transferência do Ar- quivo Público Mineiro de Ouro Preto para Belo Horizonte. Entretanto, nem todos os documentos administrativos e camarários do século XVIII e XIX foram recolhidos, permanecendo sob guarda da Câmara Municipal de Ou- ro Preto. Em 1990, com o objetivo de preservar e resgatar a memória da ci- dade, foi criado o Arquivo Público Municipal de Ouro Preto, tendo por ob- jetivo reunir, preservar, e pôr à disposição do público os documentos, textos, publicações e todo tipo de material referente à memória do muni- cípio. Desde então, o acervo sob guarda da Câmara de Ouro Preto pas- sou para a responsabilidade do Arquivo Público Municipal. O acervo é composto ainda por vasta documentação administrativa e legislativa produzida pela Câmara e Prefeitura de Ouro Preto, posterio- res à mudança da capital. Os livros e documentos avulsos do Arquivo Pú- blico Municipal de Ouro Preto são divididos, então em fundos de acordo com a instituição produtora dos mesmos: Câmara Municipal de Ouro Pre- to (Fundo CMOP), e pela Prefeitura Municipal de Ouro Preto (Fundo PMOP).
  • 44. Os documentos do fundo CMOP dividem-se em duas coleções em função das atribuições da câmara. Até o ano de 1931, a câmara acumulava as funções legislativa e executiva, uma continuidade das atribuições das câ- maras coloniais, o CMOP 1. O arquivo possui ainda livros produzidos pela CMOP de 1931 até a década de 1970, o CMOP 2. Além dos documentos administrativos da PMOP de 1931 até a década de 1980. O acervo abriga os seguintes tipos documentais: acórdãos de vere- ança, livros de tombos, foros, despesas e registros de expostos, matrícu- las de escravos, loterias, lançamento e cobrança de impostos, contratos e arrematações, eleições da guarda nacional, registro de patentes, provi- sões, requerimentos, ofícios e despachos da câmara, licenças para aber- tura e baixa de negócios, registros de leis mineiras, imperiais e munici- pais, correspondências, certidões, atas, indicações, portarias, pareceres, documentos eleitorais, jornais, documentação cartográfica, entre outros. São 1076 livros e 180 metros lineares de documentos avulsos com datas limites entre 1728 e 1980, que cobrem principalmente a segunda metade do século XIX e o século XX. Dentro desse panorama da documentação, podemos elencar como principais fontes de pesquisa para o Caminho Novo, os itens do fundo CMOP 1, anterior a 1931, que é a documentação que, neste momento, está passando por um processo de catalogação, tendo já, um arranjo do- cumental pronto. Nesse recorte, podemos citar a documentação referente a obras de aberturas de trechos e conservações de pontes e estradas do Caminho Novo, presentes nas séries de ―Obras Públicas‖; nas correspondências solicitando reparos nas estradas, rica documentação em que, além da so- licitação do reparo, é comum constarem relatos das necessidades e im- portância dos caminhos nas várias localidades; informações concernentes ao comércio nos livros de ―Receita e Despesa‖, nas legislações, normas e taxações de barreiras em passagens de produtos e tropas. Deve-se lem- brar que nos livros de ―Ofícios, ordens e portarias‖, constam o registro das determinações provinciais referentes às estradas e trechos de res- ponsabilidade da Província, mas há ainda vasta documentação referente aos trechos de jurisdição da Câmara, como as interdistritais e da capital para esses pontos. Por essa breve descrição do acervo e exemplificação de tipos docu- mentais referentes ao Caminho Novo, presentes no APMOP, pode-ser perceber as grandes potencialidades de pesquisas sobre o tema. Deve-se ressaltar ainda que, sendo Ouro Preto, até 1897, a capital da Província, os trechos e vias do Caminho Novo e Velho que por aqui passavam ti- nham fundamental importância no trânsito de informações, pessoas e produtos. Finalizando, cabe notar a pouca quantidade de pesquisas sobre o tema no período cuja documentação do APMOP é mais rica.
  • 45. ARQUIVO HISTÓRICO DA UFJF: PERSPECTIVAS DE PESQUISA SOBRE O CAMINHO NOVO Galba Di Mambro di.mambro@ufjf.edu.br Diretor do Arquivo Histórico da Universidade Federal de Juiz de Fora- UFJF ah@ufjf.edu.br RESUMO: Juiz de Fora constituiu-se como cidade em 1853. Suas origens remontam ao século XVIII com o povoamento em torno do Caminho No- vo, principal rota entre a região mineradora e o Rio de Janeiro. A presen- te comunicação tem por objetivos apresentar brevemente o Arquivo His- tórico da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF e analisar as possi- bilidades de pesquisa sobre o Caminho Novo no acervo da instituição. Os inventários e testamentos do século XIX são as principais fontes existen- tes no Arquivo apropriadas para estudo da cultura, sociedade e economia da região por onde passou o Caminho Novo. Arquivo Histórico de Juiz de Fora
  • 46. HISTÓRICO DO ARQUIVO PÚBLICO DE SANTOS DUMONT Marisa Fontes Diretora do Arquivo Público de Santos Du- mont Desde a criação da vila, passando elo nascimento da cidade, até os dias atuais, o acero público documental, que compõe majoritariamente o Arquivo Público Municipal, tem sido reservado por muitos homens públi- cos e historiadores. Desde os primórdios, muitos cidadãos se empenharam nesta tare- fa, consciente ou inconscientemente, guardando documentos, fotografias, filmes e objetos diversos. São pessoas distintas, como jornalistas, histori- adores, colecionadores e religiosos. Alguns merecem destaque. O acervo público documental foi organizado até mais ou menos 1930 pelo Secretário Geral da Prefeitura, Jacinto Augusto Dias dos San- tos (1855-1941), e, posteriormente pelo substituto, o jornalista e histori- ador Oswaldo Henrique Castello Branco(1906-1997). Na história do ar- quivo paroquial e organização do Livro do Tombo são figuras de realce os padres Adalberto Dobber (1888-1936) e Francisco Maximiano de oliveia (1906-1936) Em 1980, a cidade viu nascer a Associação Cultural de Santos Du- mont, instituição criada com a finalidade principal de estudar e preservar a historia local.Através dela, ocorreram vários eventos culturais e a for- mação de um grande acero fotográfico, coordenado principalmente, pelo fotógrafo Gilberto Germano da Silva, que hoje integra o Arquivo Munici- pal.
  • 47. Em 1988, o lançamento do livro ―Uma cidade à beira do Caminho Novo‖(Petrópolis, Vozes, 1988), de autoria de Oswaldo H. Castello Bran- co, uma abordagem sobre a história da cidade, inspirou fortemente um grupo de historiadores informais que, a partir de 1990, constituíram um grupo de pesquisadores e sob a coordenação de Luiz Mauro Andrade da Fonseca, deram prosseguimento ao trabalho do ilustre historiador. O gru- po, autodenominado ―Pesquisadores Independentes de Santos Dumont‖, começou de forma metódica, a coletar documentos, filmes, fotos, obje- tos, e a participar da organização e restauração de muitas instituições. Já antevendo o destino de seu acero em formação, o grupo adotou, como principal meta a criação do Arquivo Público Municipal, passando a lutar pela concretização desse projeto. Em maio de 1992, com o empenho do vereador Walter Raymundo Amorim, os Pesquisadores Independentes conseguiram ter acesso ao a- cervo de documentos antigos da Prefeitura, para restauração e cataloga- ção dos mesmos. Um trabalho reconhecido, que culminou na criação do Arquivo Público de Santos Dumont, através da lei municipal de nº 2513 de 23/12/92, na gestão do então prefeito Dr. Pacífico Estites Rodrigues. Os Pesquisadores Independentes, fizeram um penoso trabalho de salvamento do acervo da Prefeitura, contando com o apoio do Colégio Pio X (Gilberto Germano da Silva) e do Seminário Seráfico Santo Antônio (Frei José Belizário da Silva). Em fevereiro de 1997, os pesquisadores Luiz Mauro Andrade da Fonseca e Alexandre Mansur Barata acompanharam a então Secretária de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Andréa Borges Griese, à cidade de Juiz de Fora, para conhecerem as sedes do Arquivo Publico de Juiz de Fo- ra e do Arquivo Histórico da UFJ. Tão logo, a secretária Andréa iniciou o trabalho de instalação do Arquivo, fixando como local provisório, a escola CAIC, no Bairro Córrego do Ouro. Foi delimitada a área necessária para o arquivo, compreendendo a recepção, sala de palestras, sala de recupera- ção e tratamento do acervo e biblioteca.
  • 48. Em 1998, a professora de História, Marisa Aparecida Barbosa Fon- tes, a convite da administração assumiu a coordenação do Arquivo Publi- co de Santos Dumont, fazendo os necessários estágios de aprendizado no Arquivo Público de Juiz de Fora, Arquivo Público Mineiro e Arquivo Publico de Belo Horizonte. Durante o período de 98 e 99, participou de vários cursos relativos à organização e direção de arquivos em Belo Horizonte. Além do arquivo público, foi estruturado dentro da Prefeitura o sistema de arquivos. Segue o trabalho em âmbito municipal, de divulgação e conscienti- zação da importância de se arquivar, para preservar a memória de nossa história. O acervo publico, sob a guarda do grupo Pesquisadores Indepen- dentes, albergado no Seminário Seráfico Santo Antônio, foi então devol- vido integralmente à Prefeitura, constituindo o corpo principal do Arquivo Público l de Santos Dumont. O trabalho de instalação, recebimento de doações de novos docu- mentos públicos e particulares, higienização, restauração e catalogação, seguindo um sonho, transformando-o, paulatinamente em realidade. O apoio da comunidade e de instituições locais, muito tem contribuído para a realização deste trabalho. Paralelo a implantação do arquivo, o decreto nº 1403 de 19- /01/1998, constituiu o Conselho Deliberativo Municipal de Patrimônio Cultural de Santos Dumont. Um projeto que se concretizou para a efetiva preservação de nossa memória. Através dele, o acero do Arquivo Público foi tombado pelo decreto nº 1434 de 28/12/98. ACERVO Ao Arquivo Público de Santo Dumont são recolhidos os acervos acu- mulados e produzidos pelos diversos órgãos da administração pública, entidades e instituições privadas, incluindo documentos remanescentes de empresas ou órgãos extintos. Esse acervo está composto por documentos textuais, plantas, ma- pas, projetos arquitetônicos, fotografias, livros, etc.
  • 49. ARQUIVOS HISTÓRICOS REGIONAIS Crítica de Nilza Cantoni Este momento do Encontro de Pesquisadores de História e Geogra- fia do Caminho Novo da Estrada Real contou com a participação de re- presentantes das seguintes instituições: 1 – Arquivo Público Municipal de Ouro Preto – APMOP, com João Paulo Martins; 2 – Escritório Técnico do IPHAN de São João del Rei, com Jairo Machado; 3 – Arquivo Histórico da Universidade Federal de Juiz de Fora – AHJF, com Galba di Mambro; 4 – Arquivo Público Municipal de Santos Dumont – APMSD, com Marisa Fontes; 5 – Arquivo Público Municipal de Barbacena – APMB, com Edna Resende. Não só através das comunicações dos responsáveis, mas também por conversas que fluíram durante todo o dia, chama a atenção a neces- sidade de atuação de associações de amigos dos arquivos públicos para buscar alternativas diversas. Isto porque, no âmbito de sua atuação, nem sempre os diretores ou responsáveis conseguem equipamentos, melhori- as, estagiários e um sem número de providências necessárias. 1 - APMOP João Paulo Martins informou que o acervo abrange o período 1728 a 1931, com volume maior para o século XIX. É composto por documen- tação produzida pela Câmara e pela Prefeitura. Em sua breve apresenta- ção, mencionou curiosidades. Uma delas: as pontes existentes entre Ou- ro Preto e Barbacena não são antigas como normalmente se divulga, mas construídas no século XIX. 2 – IPHAN Este arquivo conta com material produzido a partir de 1711. ―O ci- dadão tem direito a sua memória, a suas raízes, a dialogar com seus an- tepassados‖, disse Jairo Machado. Falou sobre a mudança da instituição que antes utilizava um pequeno espaço dentro do Museu Regional de São João del Rei e agora conta com sede própria. E ressaltou que ‗obrigatoriamente a história de Minas Gerais passa por São João del Rei‘, a principal vila abastecedora da Corte do Rio de Janeiro. Além de informar que o Escritório Técnico do IPHAN conta com uma Bibli- oteca de mais de mil volumes, Machado fez diversas considerações sobre a função do arquivo e encerrou afirmando: ‗o mais importante: é um ar- quivo público‘.
  • 50. 3 – AHJF O professor Galba di Mambro denominou sua apresentação como ‗Arquivo Histórico da UFJF: perspectivas de pesquisa sobre o Caminho Novo‘. Destacou que o acervo relativo ao tema é pequeno, só um fundo que, entretanto, conta com 30.000 processos de 1830 a 1960, proveni- entes do Forum Benjamin Colucci. Um dos destaques da apresentação, além do roteiro didaticamente apresentado em slides, foi a explicação de que a instituição não é o Ar- quivo Permanente da Universidade, mas um Centro de Memória Social. Informou que está sendo providenciada a mudança do nome para melhor identificá-lo dentro do Sistema de Arquivos da UFJF. Site do Arquivo 4 – APMSD Marisa Fontes lembrou que um dos organizadores do Encontro, Luiz Mauro Andrade da Fonseca, é um dos fundadores do arquivo e incentiva- dor de seu trabalho na instituição. ‗A sensibilidade de guardar a memória da cidade‘, disse Fontes, nasceu pelas mãos de vários entusiastas. Desta- cou, entre outros, Oswaldo Castelo Branco, historiador e um dos funda- dores da Casa de Cabangu, e o grupo Pesquisadores Independentes do qual Luiz Mauro faz parte. Na direção desde 1997, Marisa Fontes mostrou-se uma entusiasta da preservação da memória local que muitas vezes sofre concorrência da imagem popular que liga o município exclusivamente ao aviador Alberto Santos Dumont. Entretanto, trata-se de um município importante para a história da Estrada Real, da Ferrovia e da indústria de laticínios, entre outras. Descreveu ligeiramente o acervo que hoje se encontra no antigo prédio da Estação Ferroviária e informou que, além de subsidiar projetos de Educação Patrimonial, o arquivo municipal preocupa-se não só com o armazenamento mas com catalogação, microfilmagem e digitalização do acervo. Divulgar, é a chave de sua atuação, disse Fontes. ‗As crianças se encantam‘, complementou, especialmente com o que se refere à ferrovia que é a alma do município. Em seguida, Luiz Mauro Andrade da Fonseca comentou que a obra de Alberto Santos Dumont é sobejamente estudada e conhecida e que a cidade tem outros focos, como a industrialização. ‗A coisa ruim das nos- sas cidades‘, disse Fonseca, é que as escolas continuam estudando In- confidência Mineira, Tiradentes e Aleijadinho e não incluem a história lo- cal em seus programas de ensino.