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Boas Práticas
                                                                    Docentes no
                                                                    Ensino da
                                                                    Matemática
                                                                    Pesquisa revela o que faz a diferença
                                                                    nas aulas de bons professores da disciplina
EDIÇÃO ESPECIAL Nº 10 JUNHO/2012




                                           PROIBIDA A VENDA




                 UMA PUBLICAÇÃO




                                   1   MÊS 2011 novaescola.org.br
ÍNDICE


                                   APRESENTAÇÃO
                                 O que faz a diferença
                                      em sala de aula                                                     PRÁTICA 1
                                                                                                          Dominar o conteúdo
                                             PRÁTICA 2
                                        Estruturar a aula                                                 PRÁTICA 3
                                                                                                          Contextualizar
                                                                                                          o conteúdo
                                             PRÁTICA 4
                                       Respeitar o tempo
                                        de aprendizagem                                                   PRÁTICA 5
                                                                                                          Usar o erro a favor
                                                                                                          da aprendizagem
                                               PRÁTICA 6
                                            Promover o uso
                                              de estimativa                                               PRÁTICA 7
                                                                                                          Comunicar o
                                                                                                          conteúdo com clareza
                                     PRÁTICA 8
                      Utilizar bem o quadro e os
                            recursos tecnológicos                                                         PRÁTICA 9
                                                                                                          Promover relações entre
                                                                                                          procedimentos matemáticos
                                       PRÁTICA 10
                            Interagir com os alunos                                                       PRÁTICA 11
                                                                                                          Promover a interação entre
                                                                                                          os alunos
                                            PRÁTICA 12
                                         Propor e corrigir
                                           a lição de casa                                                ENTREVISTA
                                                                                                          Carlos Eduardo Mathias




                                                                           EDIÇÃO ESPECIAL “BOAS PRÁTICAS DOCENTES NO ENSINO DA MATEMÁTICA”

                                                                    Diretora de Redação: Maggi Krause         Colaboraram nesta edição: Dagmar Serpa (edição), Rosangela Anzzelotti
                                                                     Redatora-chefe: Denise Pellegrini               (revisão) e Priscila Monteiro (coordenação pedagógica)
                                                                     Diretora de Arte: Manuela Novais
                                                                 Coordenadora Pedagógica: Regina Scarpa
                                                                      Editora de arte: Renata Borges
                                                                                                                Edição especial “Boas Práticas Docentes no Ensino da Matemática”
                                                                           Designer: Victor Malta                  é uma publicação da área de Estudos e Pesquisas da Fundação Victor Civita
                                                                  Gerente de Projetos: Mauro Morellato                                  (estudosepesquisas@fvc.org.br).
                   Fundador: VICTOR CIVITA                                Analista de Planejamento
                          (1907-1990)                             e Controle Operacional: Kátia Gimenes
                                                                                                                       IMPRESSA NA BRASILFORM EDITORA E IND.GRAFICA LTDA.
                                                                    Processos Gráficos: Vitor Nogueira
                     Presidente: Roberto Civita                                                                                Rua Rosalinda Moraes Silva, 71, Cotia, SP
              Diretora Executiva: Angela Dannemann
     Conselheiros: Roberto Civita, Giancarlo Francesco Civita,
      Victor Civita, Roberta Anamaria Civita, Fábio Barbosa,
          Maria Alice Setúbal, Claudio de Moura Castro,                                Apoiadores
      Jorge Gerdau Johannpeter, José Augusto Pinto Moreira,
               Manoel Amorim e Marcos Magalhães

ILUSTRAÇÃO DA CAPA CLAUDIO GIL
APRESENTAÇÃO




          O que faz a
         diferença em
          sala de aula
               Pesquisa revela     Q      ual é a fórmula para ser um bom professor de Ma-
                                          temática? É óbvio que não existe uma pronta e
                                                                                                  tação das expectativas, metas ou conteúdos a serem abor-
                                                                                                  dados e em 86,5% delas os professores ouvem, de fato, o
                                                                                                                                                                maneiras. Em 69,7% das aulas, o docente utilizou as afir-
                                                                                                                                                                mações de um dos jovens para ampliar ou reforçar con-

               as práticas que     aprovada por unanimidade. Mas há pistas claras do que
                                   ela deve conter. Pesquisa da Fundação Victor Civita
                                                                                                  que os alunos estão dizendo e respondem apropriadamen-
                                                                                                  te. Além disso, 39,8% foram baseadas em contextos do
                                                                                                                                                                ceitos para a turma inteira, enquanto em mais da metade
                                                                                                                                                                delas foi pedida a explicação ao estudante sobre o proce-
                                   (FVC), realizada pela Fundação Cesgranrio com o apoio          cotidiano para desenvolver um conceito ou descobrir a         dimento usado para resolver um problema.
                   contribuem      do Banco Itaú BBA e do Instituto Unibanco, levantou as         relação matemática envolvida em determinada situação.            Outro aspecto abordado diz respeito ao modo de lidar
                                   características, atitudes e práticas frequentes entre 63 do-                                                                 com as situações em que alguém não acerta ao responder
               para o aumento      centes da disciplina responsáveis por turmas do 6º ao 9º
                                   ano do Ensino Fundamental e do Médio em escolas pú-
                                                                                                  O melhor caminho para trabalhar
                                                                                                  com conteúdos abstratos
                                                                                                                                                                a uma pergunta ou resolver um problema proposto. “Os
                                                                                                                                                                erros são um campo riquíssimo para quem leciona e,

                  da efi ciência   blicas paulistas. Os docentes observados no estudo Boas
                                   Práticas Docentes no Ensino da Matemática foram esco-
                                                                                                  Para Ledo Vaccaro Machado, um dos consultores da pes-
                                                                                                  quisa, a disciplina tem peculiaridades, em especial o fato
                                                                                                                                                                quando bem explorados, ajudam a comprometer e fideli-
                                                                                                                                                                zar os alunos”, diz Machado. “Deve-se deixar claro para
                                   lhidos entre os que se saíram melhor no Processo de Pro-       de lidar com o abstrato. “Por isso, para introduzir conte-    todos que errar é algo natural e uma parte importante do
                  do professor     moção por Merecimento da rede estadual paulista e que          údos, é interessante começar no específico, ir para o geral   processo de descoberta e construção do conhecimento.”
                                   obtiveram médias altas em pelo menos duas edições do           e retornar para o específico.” Durante a construção do           Uma forma bem positiva de usar os erros em favor da
                de Matemática      Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado
                                   de São Paulo (Saresp) entre 2008 e 2010.
                                                                                                  conhecimento, quanto mais os estudantes participarem,
                                                                                                  melhor para a aprendizagem. Tanto que outro integrante
                                                                                                                                                                aprendizagem é, em vez de dar a resposta certa de ime-
                                                                                                                                                                diato, oferecer a chance de cada um chegar a ela por con-
                                      Dez mestrandos ou doutorandos de Matemática obser-          do grupo de consultores, Carlos Eduardo Mathias, acre-        ta própria, apresentando contraexemplos, retomando uma
                                   varam (e filmaram) o grupo selecionado em ação e res-          dita que o bom professor é capaz de envolver a turma:         regra conhecida ou recorrendo a outros meios que esti-
                                   ponderam a questões sobre as condições da sala, a estru-       “Ele é tão apaixonado pela Matemática que faz tudo para       mulem a pensar mais. Em 63,7% das aulas monitoradas,
                                   tura da aula e o clima em classe. Cinco especialistas com      os outros se apaixonarem também”, diz (leia a entrevista      essa postura foi adotada.
                                   vasta experiência em Matemática e Educação assistiram          na página 18). Não há modo mais garantido de conquis-            No que se refere à lição de casa – hora de estudar sozinho
                                   às gravações de forma que o trabalho de cada docente           tar os alunos do que colocá-los no centro da ação.            e de ampliar o conhecimento trabalhado em sala –, somen-
                                   fosse avaliado por mais de um deles. Todos usaram crité-          O estudo da Cesgranrio constatou que apesar de, no         te em 35,3% das aulas avaliadas ela foi proposta e em
                                   rios idênticos para eleger as aulas mais interessantes do      geral, as aulas serem essencialmente expositivas e com o      17,7% sua execução foi verificada. “Não há como aprender
                                   ponto de vista didático-pedagógico e identificar os me-        predomínio do uso do quadro-negro – em 94,8% delas            Matemática sem exercícios resolvidos individualmente”,
                                   lhores momentos.                                               – registraram-se altos índices de participação de todos em    diz Machado. A baixa frequência dessa rotina nas aulas
                                      A pesquisa, coordenada por Nilma Santos Fontanive e         classe. Somente em um quarto das atuações pesquisadas         observadas foi enfatizada pelos pesquisadores, pois propor
                    CLÁUDIO GIL




                                   Ruben Klein, da Cesgranrio, detectou, por exemplo, que         o professor foi o único protagonista. Nas demais, os es-      e corrigir a lição é uma das 12 boas práticas levantadas
                                   40,5% das aulas observadas são iniciadas com a explici-        tudantes foram incitados a se manifestar de diferentes        pelo estudo, que estão detalhadas nas próximas páginas.
PRÁTICAS



    Dominar                       S    aber os conteúdos da disciplina e as melhores formas
                                       de conectá-los é uma condição básica para o profes-                                                Estruturar
    o conteúdo                                                                                                                            a aula
                                  sor intervir durante as aulas e ajudar a turma a avançar.
                                  Na aula de introdução ao Teorema de Pitágoras para tur-
                                  mas de 8º ano, a professora Daniela Mazoco, da EE Ru-
                                  bens Ferreira Martins e da EMEF Professor Athayr da
                                  Silva Rosa, em Urupês, a 470 quilômetros de São Paulo,
                                  utiliza um software de geometria – Cabri ou Geogebra
    Conhecer profundamente o      – para que todos explorem o famoso enunciado: “Em um                                                    O aluno se engaja se sabe
                                  triângulo-retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual à
    objeto de ensino é condição   soma dos quadrados dos catetos”. E tem funcionado.                                                      o objetivo da atividade
                                      Na atividade, os alunos exploram o Teorema enquanto
    básica para ensinar           ouvem as explicações e discutem observações. Para criá-
                                                                                                                                          e o que se espera dele
                                  la, Daniela percorreu um longo caminho. “Não sabia nem
                                  ligar um computador.” Mas de nada adiantaria mergulhar
                                  na informática se ela já não dominasse os conteúdos es-
                                  pecíficos da disciplina. Só assim foi capaz de converter


                                                                                                                                          U
                                  os novos conhecimentos em propostas didáticas atraentes
                                                                                                                                                 m bom docente sabe que para ensinar com eficiência
                                  e consistentes.
                                                                                                                                                 é básico planejar. Isso inclui determinar o que se es-
                                      Mesmo considerando que teve uma boa graduação, ela
                                                                                                                                          pera que os alunos aprendam e qual a finalidade cada ati-
                                  diz que precisou correr atrás de mais conhecimentos di-
                                                                                                                                          vidade programada. E é essencial pensar em uma progres-
                                  dáticos. Pediu orientações a professores experientes, leu
                                                                                                                                          são lógica dos conceitos. Habituado a essa rotina, Caibar
                                  muito e nunca parou de se aperfeiçoar. Já fez vários cur-
                                                                                                                                          Soares Vital, que leciona no Ensino Médio da EE Professor
                                  sos oferecidos pela rede, uma especialização lato sensu e
                                                                                                                                          Itael de Mattos, em Santa Fé do Sul, a 642 quilômetros de
                                  um mestrado – agora está no segundo. O itinerário trouxe
                                                                                                                                          São Paulo, só faz uma ressalva: “Na prática, nem sempre
                                  uma descoberta: “Até o docente que sabe bem a matéria
                                                                                                                                          tudo acontece como previsto e, por isso, a gente precisa ter
                                  deve ficar atento à evolução dos saberes didáticos e de
                                                                                                                                          a capacidade de se adaptar às necessidades”.
                                  sua área. Definições e certezas mudam com o tempo”.
                                                                                                                                             O professor sempre entra em sala com um objetivo e
                                                                                                                                          o apresenta à turma. Ele toma como ponto de partida uma
                                                                                                                                          situação-problema relacionada à realidade do aluno. A
                                                                                                                                          ideia é levá-lo a tomar para si o desafio de resolvê-la. O
                                                                                                                                          próximo passo é retomar alguns conhecimentos já traba-
                                                                                                                                          lhados que serão primordiais naquela fase. Em uma re-
                                                                                                                                          cente aula de introdução a um conteúdo para o 3º ano, ele
                                                                                                                                          avisou que seria necessário recorrer a um conceito visto
                                                                                                                                          no 2º ano e perguntou à turma quem se lembrava dele.
                                                                                                                                          Quando todos se calaram, Vital decidiu dedicar um tem-
                                                                                                                                          po a essa revisão, redimensionando seu planejamento.
   “Até o docente que                                                                                                                        De acordo com ele, diagnósticos contínuos são essen-
   sabe bem a matéria                                                                                                                     ciais para verificar o que a turma sabe e o que falta para      “Na prática,
    deve ficar atento à                                                                                                                   seguir adiante. Para conferir se os objetivos foram mesmo
                                                                                                                                                                                                          nem sempre tudo
 evolução dos saberes                                                                                                                     atingidos, ele costuma finalizar cada aula ou etapa do
                                                                                              FOTOS HERICK MEM. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL




                                                                                                                                          trabalho com uma avaliação rápida, à base de perguntas          acontece como
    didáticos e de sua                                                                                                                                                                                    previsto e, por isso,
                                                                                                                                          orais. “Não adianta se preocupar apenas em terminar o
     área. Definições e                                                                                                                   livro ou a apostila”, conclui.                                  a gente precisa
      certezas mudam                                                                                                                                                                                      ter a capacidade
         com o tempo”                                                                                                                                                                                     de se adaptar
          DANIELA MAZOCO
                                                                                                                                                                                                          às necessidades”
                                                                                                                                                                                                          CAIBAR SOARES VITAL
PRÁTICAS



  Contextualizar                                                                                                                     Respeitar o tempo
  o conteúdo                                                                                                                         de aprendizagem
  Relacionar a disciplina com o cotidiano                                                                                            A aula deve proporcionar a
  é uma boa estratégia, mas não a única                                                                                              participação e o avanço de todos



  O      diálogo é o ingrediente que Elcie Sanches Eller con-
         sidera essencial para uma boa aula. “Acho importan-
  te promover discussões conjuntas que incentivam a parti-
                                                                                                                                     “S   empre busco atingir a maioria da classe”, afirma Ro-
                                                                                                                                          que Alfredo de Moraes, professor do Ensino Médio
                                                                                                                                     da EE Paulo Virgínio, de Cunha, a 225 quilômetros de São
  cipação de todos”, explica ela, que leciona no Ensino                                                                              Paulo. Ao apresentar um conteúdo, ele começa propondo
  Médio, na EE Coronel João Gomes Martins, em Martinó-                                                                               uma questão para ser resolvida individualmente. “Em mé-
  polis, a 539 quilômetros de São Paulo. Para despertar nos                                                                          dia, utilizo dois quintos da aula para a solução de proble-
  adolescentes maior curiosidade em relação à Matemática,                                                                            mas.” Nessa hora, é essencial reservar um tempo para que
  é bastante comum a professora colocar os conteúdos trata-                                                                          cada aluno reflita sobre o desafio, procure resolvê-lo e até
  dos dentro de contextos relacionados ao dia a dia.
                                                                      “Propor desafios                                               erre. “Peço que se dediquem a pensar, contar aos outros o
     Para trabalhar probabilidades com turmas de 2º ano,           matemáticos, por si                                               que descobriram, ouvir os colegas e comparar seu racio-
  por exemplo, Elcie recorreu ao volante da Mega-Sena,            só, pode despertar a                                               cínio com o deles”, afirma. O papel de Moraes é fomentar
  que informa: quem faz o jogo mínimo de seis números            curiosidade do aluno.                                               as contribuições e o debate, lançando mais questões.
  tem uma chance em mais de 50 milhões de ganhar o maior           Saber de que forma                                                “Conforme todos sugerem soluções, os conceitos mais
  prêmio. “Proponho fazer as contas para descobrir como         uma coisa leva à outra                                               importantes vão surgindo.”
                                                                                                                                                                                                                     “Peço que se
  se chega a essa conclusão”, explica. Logo fica fácil cons-                                                                            No momento das discussões coletivas, o docente lança
  tatar que, quanto mais números a aposta tiver, maiores
                                                                ajuda a dar sentido ao                                               perguntas, chamando um ou outro aluno. Assim, faz a                             dediquem a pensar,
  são as chances de acertar as seis dezenas. A aula prosse-            novo conteúdo”                                                turma inteira analisar cada questão. Ele sabe que, para dar                     contar aos outros
  gue com os jovens testando outras variáveis para entender          ELCIE SANCHES ELLER                                             oportunidade para que todos coloquem em jogo os seus                            o que descobriram,
  por que a probabilidade de alguém se tornar um milioná-                                                                            conhecimentos, deve segurar a ansiedade e não dar logo                          ouvir os colegas e


                                                                                           FOTO ERIC KÉKI. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL
  rio sobe, vertiginosamente, para uma em 10 mil se a pes-                                                                           a resposta certa. Assim, a aula não vira um monólogo.                           comparar seu
  soa puder pagar pela aposta máxima de 15 números.                                                                                     Moraes tem outra preocupação com relação aos estudan-
     Nem sempre é possível planejar o trabalho transportan-                                                                          tes que não se envolvem espontaneamente nas discussões.
                                                                                                                                                                                                                     raciocínio com
  do um conteúdo para a vida real. Nesses momentos, Elcie                                                                            Eles podem não estar conseguindo entender o tema e ne-                          o deles”
  faz conexões com um ou mais conceitos já estudados.                                                                                cessitar que ele seja retomado. Por fim, para que todos te-                     ROQUE ALFREDO DE MORAES
  “Propor desafios matemáticos, por si só, pode despertar a                                                                          nham a oportunidade de progredir, ele propõe desafios com
  curiosidade do aluno. Saber de que forma uma coisa leva                                                                            diferentes graus de dificuldade. “Minha função é cuidar
  à outra ajuda a dar sentido ao novo conteúdo”, conclui.                                                                            para que ninguém desanime de aprender Matemática.”




                                                                                                                                                                                                    FLÁVIO PEREIRA
PRÁTICAS



  Usar o erro                                                                                                                            Promover o uso
  a favor da                                                                                                                             de estimativa
  aprendizagem                                                                                                                           A prática ajuda a antecipar e controlar resultados
                                                                                                                                         necessários à compreensão da disciplina
  Formular as próprias
  hipóteses contribui para
  construir conhecimento
                                                                                                                                         “A     estimativa não é o mesmo que chute: ela é feita com
                                                                                                                                                base em conhecimentos de referência, e não ligados
                                                                                                                                         à sorte”, diz Valter Mandolini, que atua no Ensino Médio
                                                                                                                                         da EE Aparecido Gonçalves Lemos, em Canitar, a 368
                                                                                                                                         quilômetros de São Paulo. A turma precisa aprender que

  R     obson Alves de Oliveira leciona no Ensino Funda-
        mental e no Médio na EE Professora Dinah Lúcia
  Balestrero e na EM Álvaro Callado, em Brotas, a 235 qui-
                                                                                                                                         a Matemática não é feita só de resultados exatos, mas
                                                                                                                                         também da elaboração de argumentos, aproximações,
                                                                                                                                         raciocínios e justificativas.
  lômetros de São Paulo. Em toda aula, tira o máximo pro-                                                                                   Para trabalhar com esse conteúdo o professor desafiou
  veito dos erros dos alunos. “Vejo que muitos ficam retraí-                                                                             os alunos a orçar o custo de uma escola em boas condi-
  dos por acharem que não sabem e, com medo de errar,                                                                                    ções. O foco inicial foi a quadra de esportes. Para desco-
                                                                         “É importante
  perdem o interesse em participar das atividades”, afirma.                                                                              brir quanto havia sido gasto ali, eles, em grupos, deveriam
  E ele está ciente de que, se a turma é encorajada a formular   valorizar as hipóteses                                                  estimar a quantidade de cimento, tinta e tela de arame
  hipóteses e a testar a validade delas, aprende mais. Dessa      de todos, erradas ou                                                   consumidos. Para calcular o volume de material utilizado
  forma, sua estratégia diante de deduções equivocadas é             não. Por isso, dou                                                  os jovens lançaram mão de conhecimentos de geometria
  propor a análise das resoluções. O professor faz isso dando           bastante tempo                                                   e de sistemas de medidas. Por exemplo: se para cercar
  contraexemplos, isto é, sugerindo que os alunos utilizem         para as discussões                                                    um trecho da quadra são necessários dois metros de tela,
  um procedimento para resolver diferentes problemas e                                                                                   quanto seria o total para a quadra toda? Só então pesqui-
  avaliem quando ele funciona e quando não.
                                                                          e suposições                                                   saram os preços e calcularam o valor gasto. A atividade
     Uma aula para introduzir múltiplos e divisores no 6º              dos estudantes”                                                   terminou com um debate sobre as estratégias usadas.
  ano com o mote da Copa do Mundo ilustra o estilo de             ROBSON ALVES DE OLIVEIRA                                                   Em outras ocasiões, Mandolini também recorre a pro-
  Oliveira. “Começo com uma pergunta. Pode ser: teve                                                                                     blemas com antecipações matemáticas, como a quantidade         “A estimativa
  Copa no ano em que eu nasci?” Depois ele fornece infor-                                                                                de água para encher uma piscina. O professor discute parâ-     não é o mesmo
                                                                                             FOTOS CALIL NETO. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL



  mações, como sua idade, o ano do primeiro campeonato                                                                                   metros, como quantos litros cabem em um metro cúbico.          que chute:
  mundial e a periodicidade dele. Então, os alunos elabo-                                                                                Vale rabiscar, desenhar, anotar, testar. Se a resposta vem
  ram suas conjecturas.                                                                                                                  logo, ainda que certa, ele pede que o aluno explique seu
                                                                                                                                                                                                        ela é feita
     Sempre surgem conclusões, como a de que todo ano                                                                                    método e reflita se o valor é plausível. “Ele deve compreen-   com base em
  de Copa é múltiplo de 4. Melhor para o debate. “É im-                                                                                  der por que acertou e justificar a validade da estratégia.”    conhecimentos
  portante valorizar as hipóteses de todos, erradas ou não.                                                                                                                                             de referência, e não
  Por isso, dou bastante tempo para as discussões e supo-                                                                                                                                               ligados à sorte”
  sições dos estudantes.” Ele termina solicitando que cada
                                                                                                                                                                                                        VALTER MANDOLINI
  um escolha três anos de realização do evento e divida-os
  por 4. A proposta é ver que, se é ano de Copa, restará o
  número 2 após a operação.
PRÁTICAS



  Comunicar                       O      ensino da Matemática envolve, entre outros, mo-
                                         mentos de apresentação de problemas e de sistema-                                                     Utilizar bem o quadro e
  o conteúdo                                                                                                                                   os recursos tecnológicos
                                  tização do conteúdo trabalhado. Em ambos, o professor
                                  Paulo Rogério Alves, docente da EE Paulo de Abreu e da
                                  EMEF Professor Sidney Santucci, em Itapevi, município




  com clareza
                                  da Grande São Paulo, procura usar uma linguagem clara
                                  e um tom de voz tranquilo, mas não baixo. Ele se esforça
                                  para não alterar o volume mesmo quando há barulho vin-
                                  do da rua ou dos corredores. “Posso aumentar um pouco
                                  quando há necessidade, mas prefiro parar de falar, já que
                                                                                                                                               O professor deve buscar todos os meios para
                                  não adianta disputar com os ruídos externos.” Além disso,                                                    enriquecer suas aulas e envolver a classe
                                  ele mantém um contato visual constante com os adoles-
  O professor deve ficar          centes, evitando também escrever muito no quadro para
                                  que não se dispersem.
  atento ao tom de voz e             Alves também usa recursos como o DataShow, jogos
                                  e softwares para apoiar suas explanações, por exemplo,
  intercalar sua fala a debates   na hora do fechamento de um conteúdo – depois que a
                                  garotada já resolveu os problemas e discutiu sobre eles.
                                  Suas explicações não ficam monótonas nem na hora de
                                                                                                                                               P    ara Valéria Nogueira, que atua no Ensino Médio da EE
                                                                                                                                                    Coronel Pedro Dias de Campos, em Capela do Alto, a
                                                                                                                                               203 quilômetros de São Paulo, não tem jeito: o professor
                                  abordar temas mais áridos, como as operações com poli-                                                       de Matemática precisa mesmo do quadro-negro. “É uma
                                  nômios da álgebra. “Procuro também não falar por muito                                                       disciplina visual”, afirma. “Não dá para falar de hexágonos
                                  tempo sem interrupções”. Na prática, Alves busca inter-                                                      e ângulos sem pegar o giz e desenhar.” Mas ela procura
                                  calar sua apresentação às discussões em sala. “Uma aula                                                      equilibrar essa necessidade de imagens mesclando a lousa
                                  deve ter muito diálogo, pois o professor precisa ouvir as                                                    a recursos tecnológicos. “A turma fica mais atenta.”
                                  ideias que os alunos apresentam, ajudá-los a expressá-las                                                       Em 2011, Valéria conheceu em um curso o software
                                  e conferir se a turma toda compreendeu.” Depois da re-                                                       Movimentos Complexos, de um portal da Universidade
                                  flexão coletiva, ele retoma a palavra para sistematizar os                                                   Estadual de Campinas (Unicamp) que reúne material
                                  conceitos mais importantes.                                                                                  multimídia (m3.ime.unicamp.br). “É perfeito para abor-
                                                                                                                                               dar números complexos, um conteúdo de difícil contex-
                                                                                                                                               tualização e que pode ser massacrante só com o quadro”,
                                                                                                                                               diz. Ela criou uma atividade para usá-lo e se surpreendeu
                                                                                                                                               com a adesão. “O mais apático dos meus alunos foi o
                                                                                                                                               primeiro a terminar todas as fases do jogo.” Valéria virou
                                                                                                                                               fã da tecnologia em aula. “Com softwares, o professor
                                                       “Uma aula deve                                                                          pode apresentar mais possibilidades para os estudantes,
                                                       ter muito diálogo, pois                                                                 que têm a chance de fazer descobertas sozinhos.”              “Com softwares,
                                                       o professor precisa                                                                        Vídeos e experimentos também entram em suas aulas. E       o professor pode
                                                       ouvir as ideias que                                                                     ela defende um uso maior do PowerPoint, citando uma ati-      apresentar mais
                                                                                                                                               vidade com matrizes. Após pedir que cada aluno construís-     possibilidades para
                                                       os alunos apresentam,                                                                   se sua matriz por meio de sentenças matemáticas e identi-
                                                       ajudá-los a expressá-                                                                   ficasse sequências numéricas nela, ela escaneou algumas
                                                                                                                                                                                                             os estudantes, que
                                                       las e conferir se a                                                                     produções e montou uma apresentação. “Ao projetá-la, as       têm a chance de
                                                                                               FOTOS MARINA PIEDADE. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL




                                                       turma toda                                                                              sequências numéricas saltavam aos olhos de todos.”            fazer descobertas
                                                       compreendeu”                                                                                                                                          sozinhos”
                                                       PAULO ROGÉRIO ALVES                                                                                                                                   VALÉRIA NOGUEIRA
PRÁTICAS



  Promover relações                                                                                                                      Interagir
  entre procedimentos                                                                                                                    com os
  matemáticos                                                                                                                            alunos
  Se entendem que existem                                                                                                                Bom relacionamento e
  conexões, os alunos desenvolvem                                                                                                        expectativas positivas em relação
  habilidades importantes                                                                                                                a todos são pontos-chave



  O     professor Roberto Martins Mendes, que leciona no
        Ensino Médio da EE Pedro Raphael da Rocha, em
  Santa Gertrudes, a 167 quilômetros de São Paulo, sabe
                                                                                                                                         U      m quebra-gelo é o que Ricardo Pessoa dos Santos,
                                                                                                                                                professor do Ensino Fundamental e do Médio na EE
                                                                                                                                         Carolina Lopes de Almeida e na EE Professora Sueli Apa-
                                                                                                                                                                                                                     “Tem de banir
                                                                                                                                                                                                                     da classe essa
  que é fundamental os estudantes utilizarem o que já sa-                                                                                recida Sé Rosa, em Bauru, a 326 quilômetros de São Pau-                     história de ‘não sei’
  bem para construir um novo conhecimento. “Não enten-                                                                                   lo, utiliza no início das aulas. Pode ser o futebol, uma no-                e despertar em
  do como um assunto pode ser visto de uma maneira des-                                                                                  tícia ou algo ocorrido na escola. Conversar com os alunos                   todos a vontade
  continuada. Procuro estabelecer relações com os conteú-                                                                                e estabelecer um pacto com eles contribui para a aprendi-                   e o prazer de
  dos matemáticos já trabalhados e, principalmente, abordar                                                                              zagem”, enfatiza. Sua prática insere os conceitos na reali-                 ver um problema
  as aplicações deles”, diz.                                                                                                             dade, o que ajuda a driblar sentimentos de prevenção con-
     Em suas aulas, nenhum conteúdo é ensinado isolada-                                                                                  tra a disciplina e de incapacidade para aprendê-la.
                                                                                                                                                                                                                     resolvido”
  mente. Dessa maneira, a fórmula de Bháskara para equa-                                                                                    “Tem de banir da classe essa história de ‘não sei’ e                     RICARDO PESSOA DOS SANTOS
  ções do segundo grau não surge do nada. Ele usa a imagem                                                                               despertar em todos a vontade e o prazer de ver um pro-
  de uma caixa caindo de um avião para discutir conceitos e                                                                              blema resolvido.” No dia a dia, o professor diz cultivar a
  mostrar que não existe “mágica” na descoberta. “A fórmu-                                                                               proximidade com todos. Quando dá atividades individu-
                                                              “Procuro estabelecer
  la aparece como uma solução para um problema real.”                                                                                    ais ou em grupo, por exemplo, circula na sala, conversan-
     Outras tantas relações podem ser exploradas. Assim               relações com                                                       do sobre os diferentes modos de pensar. Se necessário,
  como a álgebra é uma facilitadora para a resolução dos              os conteúdos                                                       até se senta para “pensar junto”.
  problemas geométricos, é possível fazer uma interpreta-           matemáticos já                                                          Santos sabe que não adianta ficar só ele falando em
                                                                                        FOTO ANTONIO TRIVELIN. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL




  ção geométrica dos resultados de cálculos algébricos. Até             trabalhados                                                      aula e sempre estimula o debate, mesmo que no começo
  uma abordagem crítica da calculadora entra no pacote.          e, principalmente,                                                      apenas alguns tomem a iniciativa de intervir. “Tenho co-
  “É importante o aluno aprender a olhar para o número                                                                                   mo papel fazer todos participarem.” Comunicar seu pen-
  obtido com a calculadora e pensar se ele é correto.” Tudo
                                                                          abordar as                                                     samento é algo que os alunos precisam aprender e ele
  contribui para desenvolver as capacidades de abstração,        aplicações deles”                                                       alerta que é preciso conhecer bem o perfil de cada um
  de enxergar mais de um caminho para o mesmo problema         ROBERTO MARTINS MENDES                                                    para essa dinâmica funcionar. “Tem de identificar os que
  e de escolher o melhor. Fazem parte do processo as co-                                                                                 são mais retraídos e evitar com eles situações de exposi-
  nexões e as generalizações equivocadas. “Errar não é                                                                                   ção pública”, pondera. Com esses, ele conta que procura
  ruim. Ruim é não tentar.” A matemática é dinâmica e o                                                                                  fazer “uma abordagem individual e mais discreta”, até
  docente precisa de bom repertório.                                                                                                     que eles se sintam encorajados a colaborar nas aulas.




                                                                                                                                                                                                        CALIL NETO
PRÁTICAS



  Promover                                                                                                                         Propor e                                   A      lição de casa desempenha um papel fundamental
                                                                                                                                                                                     na aprendizagem. É o momento de o aluno estudar




  a interação                                                                                                                      corrigir a
                                                                                                                                                                              sozinho. Ao pensar em estratégias e decidir a mais válida
                                                                                                                                                                              sem o apoio do professor e dos colegas, pode verificar se
                                                                                                                                                                              tem dúvidas. Eliane Alves do Vale Oliveira, docente da EE




  entre os alunos                                                                                                                  lição de casa
                                                                                                                                                                              Pio X, em São José do Rio Preto, a 443 de São Paulo, não
                                                                                                                                                                              encerra suas aulas sem propor tarefa. “Acho importante
                                                                                                                                                                              criar o hábito de abrir o caderno de Matemática todo dia.”
                                                                                                                                                                                 As atividades se articulam com os conteúdos que estão
                                                                                                                                                                              sendo trabalhados, mas não se limitam a repetir o que foi
                                                                                                                                                                              feito em classe. Eliane cria desafios que ampliam a visão
                                                                                                                                                                              dos estudantes em relação aos conceitos ensinados. Uma
  A troca traz novos pontos de vista                                                                                               Ensinar a estudar torna                    de suas grandes preocupações é a quantidade. Para não
                                                                                                                                                                              gerar sobrecarga, ela se mantém atenta ao volume de tare-
  e dá parâmetros para cada um                                                                                                     o aluno mais autônomo                      fas pedidas pelos professores de outras disciplinas. Se for
  avaliar as próprias estratégias                                                                                                  e ajuda o professor a avaliar              o caso, passa poucas atividades, mas não abre mão da cons-
                                                                                                                                                                              tância. A professora considera essa ferramenta de grande
                                                                                                                                                                              utilidade para toda a turma e também para ela, já que fun-
                                                                                                                                                                              ciona como um diagnóstico da aprendizagem. “Se muitos
                                                                                                                                                                              estudantes não resolvem o problema ou erram é sinal de
                                                                                                                                                                              que algum conceito precisa ser retomado”, avalia.

  A     professora Inês Regina Silva, que leciona para o
        Ensino Fundamental na EE Hely Lopes Meirelles,
  em Ribeirão Preto, a 313 quilômetros de São Paulo, tem
                                                                                                                                                                                  Eliane trata da tarefa passada logo no início da aula
                                                                                                                                                                              seguinte. Depois de conferir os cadernos, faz a correção
                                                                                                                                                                              coletivamente, escolhendo alguns para contar suas estra-
  consciência de que tão essencial quanto a interação entre                                                                                                                   tégias. “Na correção coletiva, o aluno pode visualizar
  ela e a classe é a troca de ideias entre os alunos. “Esse     “Quando constrói                                                                                              vários caminhos percorridos para resolver um desafio e
  intercâmbio é rico para a aprendizagem.” De fato, a prá-    uma argumentação                                                                                                comparar com o seu.” Assim, ele terá cada vez mais re-
  tica pode ampliar a compreensão do enunciado de um                 e defende seu                                                                                            pertório para estudar sozinho.
  problema ou fornecer parâmetros para o estudante con-        raciocínio em uma
  frontar as respostas que encontrou. Ao entrar no processo      atividade perante
  do outro, consegue se questionar e reelaborar seu pensa-
  mento. Sem falar que a capacidade de fudamentação é
                                                                     um colega ou
  trabalhada. “Quando constrói uma argumentação e defen-         a classe, o aluno
  de seu raciocínio em uma atividade perante um colega ou          aprende muito”
  a classe, o aluno aprende muito.”                                 INÊS REGINA SILVA
     Inês promove essa interação tanto com discussões en-
  volvendo a turma inteira quanto com atividades em gru-
  po. Aí, prefere trabalhar com duplas, juntando alunos com
  conhecimentos diferentes. Quando faz o planejamento,                                                                                                                    “Se muitos
  dosa os debates, os trabalhos coletivos e os individuais,                                                                                                               estudantes
  considerando o perfil das turmas. “Mas é durante a aula                                                                                                                 não resolvem
  que a gente vê a eficiência da estratégia”, diz. Ela cita                                                                                                               o problema
  uma vez em que programou uma tarefa com transforma-
                                                                                        FOTO JOYCE CURY. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL




                                                                                                                                                                          ou erram é sinal
  ção de frações em números decimais para os alunos rea-
  lizarem sozinhos. “Envolvia divisões com vírgulas e vi
                                                                                                                                                                          de que algum
  que muitos não se lembravam como fazia.” A decisão de                                                                                                                   conceito precisa
  emergência foi formar duplas, pois cada um poderia dis-                                                                                                                 ser retomado”
  cutir as dúvidas com um colega. “Não teria rendido tanto                                                                                                                ELIANE ALVES DO VALE OLIVEIRA
  se eu insistisse no trabalho individual.”




                                                                                                                                                             HERICK MEM
ENTREVISTA CARLOS EDUARDO MATHIAS




                                                                                                                                                                                                                 “
                                                                                                 D      á para relacionar Matemática com
                                                                                                        História, Geografia, cinema, música,
                                                                                                 games e tudo o que está no dia a dia das
                                                                                                                                                     em que situações usar essa operação. Se vo-
                                                                                                                                                     cê pergunta quanto é 15 dividido por 3, ela
                                                                                                                                                     acerta. Mas, se apresenta na prova um pro-
                                                                                                 pessoas. Afinal, ela é um meio de se conec-
                                                                                                 tar à vida criado pelo homem, como define
                                                                                                                                                     blema que pode ser resolvido com a mesma
                                                                                                                                                     conta ela não consegue solucionar, justamen-
                                                                                                                                                                                                                       O bom professor é aquele
                                                                                                                                                                                                                que é tão apaixonado pela Matemática



                                                                                                                                                                                                                                                                               ”
                                                                                                 Carlos Eduardo Mathias, do Departamento             te porque não entende o enunciado.
                                                                                                 de Matemática Aplicada e do Laboratório de
                                                                                                 Novas Tecnologias de Ensino (Lante) da              Qual a melhor forma de introduzir um                             que faz tudo para os outros
                                                                                                 Universidade Federal Fluminense (UFF).              conteúdo em sala?                                                  se apaixonarem também
                                                                                                 No entanto, o senso comum encara a disci-           MATHIAS Uma boa prática é se basear em
                                                                                                 plina como um amontoado de técnicas para            contextos do cotidiano. Mas de quem? Do
                                                                                                 fazer cálculos sem ligação com a realidade.         carteiro, do cientista, do bancário, do moto-
                                                                                                 O professor deve ter uma visão mais ampla           rista? Muitos dirão: o do aluno que aquele         tos momentos, haver um ambiente horizontal       rismático, pode aprender a envolver
                                                                                                 da disciplina e divulgá-la entre os alunos          professor tem. E quem é ele? São vários, na        para que a aprendizagem ocorra. Outro pon-       os estudantes no processo?
                                                                                                 para favorecer a aprendizagem. A seguir,            verdade. Por isso digo que o melhor contexto       to importante é buscar um equilíbrio entre       MATHIAS Alguns docentes têm, naturalmen-
                                                                                                 Mathias defende essa e outras medidas para          é a vida. Às vezes, usa-se a Matemática infor-     diferentes propostas. Assim como ele não         te, simpatia e carisma. Mas há os que são sé-
  FOTO FERNANDO FRAZÃO. ILUSTRAÇÃO CLÁUDIO GIL




                                                                                                 melhorar a qualidade do trabalho em sala.           mal do pedreiro, que calcula o material neces-     deve se limitar a aulas expositivas sobre con-   rios e tímidos, falam baixo e tudo. Sim, eles
                                                                                                                                                     sário a uma obra por estimativa, com base na       ceitos matemáticos, também não pode ensinar      podem aprender outras formas de incentivar
                                                                                                 Quais os maiores equívocos no ensi-                 experiência. Em outras, pode-se falar de game,     exclusivamente resolvendo problemas que          a classe a participar que não dependam tanto
                                                                                                 no da Matemática?                                   arte, História, cinema, de muita coisa, pois não   têm a ver com o cotidiano ou trabalhando         de sua personalidade. O bom professor é aque-
                                                                                                 CARLOS EDUARDO MATHIAS O prin-                      é o cotidiano específico de ninguém.               com jogos e softwares. Há momentos em que        le que é tão apaixonado pela Matemática que
                                                                                                 cipal é a visão do que ela é. Muitos profes-                                                           é necessário tratar da Matemática pura, de       faz tudo para os outros se apaixonarem tam-
                                                                                                 sores acreditam que a disciplina se resume a        E as muito usadas questões relacio-                processos técnicos bem específicos e aparen-     bém. Se buscar estratégias dinâmicas, envol-
                                                                                                 procedimentos técnicos e a ensinam de ma-           nadas ao consumo funcionam?                        temente menos atraentes.                         verá a turma e despertará sua curiosidade.
                                                                                                 neira desconectada dos saberes dos alunos,          MATHIAS Os problemas que citam que fu-
                                                                                                 sem mostrar que ela é uma criação humana            lano foi à feira, ao mercado, ao banco não         Em que as novas tecnologias contri-              Esse dinamismo evita aulas maçan-
                                                                                                 para resolver problemas reais.                      servem para tudo. Nenhuma situação desse           buem para o ensino da disciplina?                tes quando se aborda Matemática


                                                 Contra o isolamento                             Isso reforça a rejeição à disciplina?
                                                                                                 MATHIAS Sim. Crianças e jovens entendem
                                                                                                                                                     tipo dará conta de contextualizar as equações
                                                                                                                                                     de segundo grau, por exemplo.
                                                                                                                                                                                                        MATHIAS Quando usadas para que a classe
                                                                                                                                                                                                        teste possibilidades e faça conjecturas, elas
                                                                                                                                                                                                        podem contribuir para a construção de uma
                                                                                                                                                                                                                                                         pura?
                                                                                                                                                                                                                                                         MATHIAS Se o professor tem de falar da
                                                                                                                                                                                                                                                         parte teórica, deve fazer isso sem culpa. É


                                                 da disciplina                                   que aquilo não tem nada a ver com eles e
                                                                                                 nunca vai ter. A disciplina carrega o estigma
                                                                                                 de ser difícil até fora da escola, entre os pais,
                                                                                                                                                     Além de uma visão ampla da discipli-
                                                                                                                                                     na, que fatores contribuem para a qua-
                                                                                                                                                     lidade do ensino da Matemática?
                                                                                                                                                                                                        visão mais clara e ampla do conteúdo. Por si
                                                                                                                                                                                                        só, um software de geometria – algo que tem
                                                                                                                                                                                                        sido muito comentado hoje – não melhora a
                                                                                                                                                                                                                                                         possível envolver a sala também nessas ho-
                                                                                                                                                                                                                                                         ras. Voltando ao exemplo das equações de
                                                                                                                                                                                                                                                         segundo grau, dá para introduzir o conteúdo
                                                                                                 por exemplo. Tanto que muitas pessoas               MATHIAS É necessário dar voz a crianças            aula em nada. O que conta é o bom docente,       com um problema ou um recurso tecnológi-
                                                 Docente da Universidade Federal Fluminense      acham que uma criança só é muito inteligen-         e jovens, porque o aprendizado é um proces-        que sabe explorá-lo em vez de utilizá-lo para    co que incentive todos a fazer e discutir con-
                                                 defende um ensino com base no estabelecimento   te quando é boa em Matemática. Talvez ela           so de construção colaborativo. O professor         algo similar ao que faria no quadro-negro.       jecturas. Assim, irá ampliar a visão da turma
                                                                                                 consiga multiplicar, mas não saiba o que é          não está lá apenas para comunicar o que sabe,                                                       e preparar o terreno para os conceitos mais
                                                 de relações com o que o aluno conhece           multiplicação de um modo mais amplo ou              em uma via de mão única. É preciso, em cer-        Qualquer professor, até o menos ca-              abstratos.
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Boas práticas de matemática

  • 1. Boas Práticas Docentes no Ensino da Matemática Pesquisa revela o que faz a diferença nas aulas de bons professores da disciplina EDIÇÃO ESPECIAL Nº 10 JUNHO/2012 PROIBIDA A VENDA UMA PUBLICAÇÃO 1 MÊS 2011 novaescola.org.br
  • 2. ÍNDICE APRESENTAÇÃO O que faz a diferença em sala de aula PRÁTICA 1 Dominar o conteúdo PRÁTICA 2 Estruturar a aula PRÁTICA 3 Contextualizar o conteúdo PRÁTICA 4 Respeitar o tempo de aprendizagem PRÁTICA 5 Usar o erro a favor da aprendizagem PRÁTICA 6 Promover o uso de estimativa PRÁTICA 7 Comunicar o conteúdo com clareza PRÁTICA 8 Utilizar bem o quadro e os recursos tecnológicos PRÁTICA 9 Promover relações entre procedimentos matemáticos PRÁTICA 10 Interagir com os alunos PRÁTICA 11 Promover a interação entre os alunos PRÁTICA 12 Propor e corrigir a lição de casa ENTREVISTA Carlos Eduardo Mathias EDIÇÃO ESPECIAL “BOAS PRÁTICAS DOCENTES NO ENSINO DA MATEMÁTICA” Diretora de Redação: Maggi Krause Colaboraram nesta edição: Dagmar Serpa (edição), Rosangela Anzzelotti Redatora-chefe: Denise Pellegrini (revisão) e Priscila Monteiro (coordenação pedagógica) Diretora de Arte: Manuela Novais Coordenadora Pedagógica: Regina Scarpa Editora de arte: Renata Borges Edição especial “Boas Práticas Docentes no Ensino da Matemática” Designer: Victor Malta é uma publicação da área de Estudos e Pesquisas da Fundação Victor Civita Gerente de Projetos: Mauro Morellato (estudosepesquisas@fvc.org.br). Fundador: VICTOR CIVITA Analista de Planejamento (1907-1990) e Controle Operacional: Kátia Gimenes IMPRESSA NA BRASILFORM EDITORA E IND.GRAFICA LTDA. Processos Gráficos: Vitor Nogueira Presidente: Roberto Civita Rua Rosalinda Moraes Silva, 71, Cotia, SP Diretora Executiva: Angela Dannemann Conselheiros: Roberto Civita, Giancarlo Francesco Civita, Victor Civita, Roberta Anamaria Civita, Fábio Barbosa, Maria Alice Setúbal, Claudio de Moura Castro, Apoiadores Jorge Gerdau Johannpeter, José Augusto Pinto Moreira, Manoel Amorim e Marcos Magalhães ILUSTRAÇÃO DA CAPA CLAUDIO GIL
  • 3. APRESENTAÇÃO O que faz a diferença em sala de aula Pesquisa revela Q ual é a fórmula para ser um bom professor de Ma- temática? É óbvio que não existe uma pronta e tação das expectativas, metas ou conteúdos a serem abor- dados e em 86,5% delas os professores ouvem, de fato, o maneiras. Em 69,7% das aulas, o docente utilizou as afir- mações de um dos jovens para ampliar ou reforçar con- as práticas que aprovada por unanimidade. Mas há pistas claras do que ela deve conter. Pesquisa da Fundação Victor Civita que os alunos estão dizendo e respondem apropriadamen- te. Além disso, 39,8% foram baseadas em contextos do ceitos para a turma inteira, enquanto em mais da metade delas foi pedida a explicação ao estudante sobre o proce- (FVC), realizada pela Fundação Cesgranrio com o apoio cotidiano para desenvolver um conceito ou descobrir a dimento usado para resolver um problema. contribuem do Banco Itaú BBA e do Instituto Unibanco, levantou as relação matemática envolvida em determinada situação. Outro aspecto abordado diz respeito ao modo de lidar características, atitudes e práticas frequentes entre 63 do- com as situações em que alguém não acerta ao responder para o aumento centes da disciplina responsáveis por turmas do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Médio em escolas pú- O melhor caminho para trabalhar com conteúdos abstratos a uma pergunta ou resolver um problema proposto. “Os erros são um campo riquíssimo para quem leciona e, da efi ciência blicas paulistas. Os docentes observados no estudo Boas Práticas Docentes no Ensino da Matemática foram esco- Para Ledo Vaccaro Machado, um dos consultores da pes- quisa, a disciplina tem peculiaridades, em especial o fato quando bem explorados, ajudam a comprometer e fideli- zar os alunos”, diz Machado. “Deve-se deixar claro para lhidos entre os que se saíram melhor no Processo de Pro- de lidar com o abstrato. “Por isso, para introduzir conte- todos que errar é algo natural e uma parte importante do do professor moção por Merecimento da rede estadual paulista e que údos, é interessante começar no específico, ir para o geral processo de descoberta e construção do conhecimento.” obtiveram médias altas em pelo menos duas edições do e retornar para o específico.” Durante a construção do Uma forma bem positiva de usar os erros em favor da de Matemática Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) entre 2008 e 2010. conhecimento, quanto mais os estudantes participarem, melhor para a aprendizagem. Tanto que outro integrante aprendizagem é, em vez de dar a resposta certa de ime- diato, oferecer a chance de cada um chegar a ela por con- Dez mestrandos ou doutorandos de Matemática obser- do grupo de consultores, Carlos Eduardo Mathias, acre- ta própria, apresentando contraexemplos, retomando uma varam (e filmaram) o grupo selecionado em ação e res- dita que o bom professor é capaz de envolver a turma: regra conhecida ou recorrendo a outros meios que esti- ponderam a questões sobre as condições da sala, a estru- “Ele é tão apaixonado pela Matemática que faz tudo para mulem a pensar mais. Em 63,7% das aulas monitoradas, tura da aula e o clima em classe. Cinco especialistas com os outros se apaixonarem também”, diz (leia a entrevista essa postura foi adotada. vasta experiência em Matemática e Educação assistiram na página 18). Não há modo mais garantido de conquis- No que se refere à lição de casa – hora de estudar sozinho às gravações de forma que o trabalho de cada docente tar os alunos do que colocá-los no centro da ação. e de ampliar o conhecimento trabalhado em sala –, somen- fosse avaliado por mais de um deles. Todos usaram crité- O estudo da Cesgranrio constatou que apesar de, no te em 35,3% das aulas avaliadas ela foi proposta e em rios idênticos para eleger as aulas mais interessantes do geral, as aulas serem essencialmente expositivas e com o 17,7% sua execução foi verificada. “Não há como aprender ponto de vista didático-pedagógico e identificar os me- predomínio do uso do quadro-negro – em 94,8% delas Matemática sem exercícios resolvidos individualmente”, lhores momentos. – registraram-se altos índices de participação de todos em diz Machado. A baixa frequência dessa rotina nas aulas A pesquisa, coordenada por Nilma Santos Fontanive e classe. Somente em um quarto das atuações pesquisadas observadas foi enfatizada pelos pesquisadores, pois propor CLÁUDIO GIL Ruben Klein, da Cesgranrio, detectou, por exemplo, que o professor foi o único protagonista. Nas demais, os es- e corrigir a lição é uma das 12 boas práticas levantadas 40,5% das aulas observadas são iniciadas com a explici- tudantes foram incitados a se manifestar de diferentes pelo estudo, que estão detalhadas nas próximas páginas.
  • 4. PRÁTICAS Dominar S aber os conteúdos da disciplina e as melhores formas de conectá-los é uma condição básica para o profes- Estruturar o conteúdo a aula sor intervir durante as aulas e ajudar a turma a avançar. Na aula de introdução ao Teorema de Pitágoras para tur- mas de 8º ano, a professora Daniela Mazoco, da EE Ru- bens Ferreira Martins e da EMEF Professor Athayr da Silva Rosa, em Urupês, a 470 quilômetros de São Paulo, utiliza um software de geometria – Cabri ou Geogebra Conhecer profundamente o – para que todos explorem o famoso enunciado: “Em um O aluno se engaja se sabe triângulo-retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual à objeto de ensino é condição soma dos quadrados dos catetos”. E tem funcionado. o objetivo da atividade Na atividade, os alunos exploram o Teorema enquanto básica para ensinar ouvem as explicações e discutem observações. Para criá- e o que se espera dele la, Daniela percorreu um longo caminho. “Não sabia nem ligar um computador.” Mas de nada adiantaria mergulhar na informática se ela já não dominasse os conteúdos es- pecíficos da disciplina. Só assim foi capaz de converter U os novos conhecimentos em propostas didáticas atraentes m bom docente sabe que para ensinar com eficiência e consistentes. é básico planejar. Isso inclui determinar o que se es- Mesmo considerando que teve uma boa graduação, ela pera que os alunos aprendam e qual a finalidade cada ati- diz que precisou correr atrás de mais conhecimentos di- vidade programada. E é essencial pensar em uma progres- dáticos. Pediu orientações a professores experientes, leu são lógica dos conceitos. Habituado a essa rotina, Caibar muito e nunca parou de se aperfeiçoar. Já fez vários cur- Soares Vital, que leciona no Ensino Médio da EE Professor sos oferecidos pela rede, uma especialização lato sensu e Itael de Mattos, em Santa Fé do Sul, a 642 quilômetros de um mestrado – agora está no segundo. O itinerário trouxe São Paulo, só faz uma ressalva: “Na prática, nem sempre uma descoberta: “Até o docente que sabe bem a matéria tudo acontece como previsto e, por isso, a gente precisa ter deve ficar atento à evolução dos saberes didáticos e de a capacidade de se adaptar às necessidades”. sua área. Definições e certezas mudam com o tempo”. O professor sempre entra em sala com um objetivo e o apresenta à turma. Ele toma como ponto de partida uma situação-problema relacionada à realidade do aluno. A ideia é levá-lo a tomar para si o desafio de resolvê-la. O próximo passo é retomar alguns conhecimentos já traba- lhados que serão primordiais naquela fase. Em uma re- cente aula de introdução a um conteúdo para o 3º ano, ele avisou que seria necessário recorrer a um conceito visto no 2º ano e perguntou à turma quem se lembrava dele. Quando todos se calaram, Vital decidiu dedicar um tem- po a essa revisão, redimensionando seu planejamento. “Até o docente que De acordo com ele, diagnósticos contínuos são essen- sabe bem a matéria ciais para verificar o que a turma sabe e o que falta para “Na prática, deve ficar atento à seguir adiante. Para conferir se os objetivos foram mesmo nem sempre tudo evolução dos saberes atingidos, ele costuma finalizar cada aula ou etapa do FOTOS HERICK MEM. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL trabalho com uma avaliação rápida, à base de perguntas acontece como didáticos e de sua previsto e, por isso, orais. “Não adianta se preocupar apenas em terminar o área. Definições e livro ou a apostila”, conclui. a gente precisa certezas mudam ter a capacidade com o tempo” de se adaptar DANIELA MAZOCO às necessidades” CAIBAR SOARES VITAL
  • 5. PRÁTICAS Contextualizar Respeitar o tempo o conteúdo de aprendizagem Relacionar a disciplina com o cotidiano A aula deve proporcionar a é uma boa estratégia, mas não a única participação e o avanço de todos O diálogo é o ingrediente que Elcie Sanches Eller con- sidera essencial para uma boa aula. “Acho importan- te promover discussões conjuntas que incentivam a parti- “S empre busco atingir a maioria da classe”, afirma Ro- que Alfredo de Moraes, professor do Ensino Médio da EE Paulo Virgínio, de Cunha, a 225 quilômetros de São cipação de todos”, explica ela, que leciona no Ensino Paulo. Ao apresentar um conteúdo, ele começa propondo Médio, na EE Coronel João Gomes Martins, em Martinó- uma questão para ser resolvida individualmente. “Em mé- polis, a 539 quilômetros de São Paulo. Para despertar nos dia, utilizo dois quintos da aula para a solução de proble- adolescentes maior curiosidade em relação à Matemática, mas.” Nessa hora, é essencial reservar um tempo para que é bastante comum a professora colocar os conteúdos trata- cada aluno reflita sobre o desafio, procure resolvê-lo e até dos dentro de contextos relacionados ao dia a dia. “Propor desafios erre. “Peço que se dediquem a pensar, contar aos outros o Para trabalhar probabilidades com turmas de 2º ano, matemáticos, por si que descobriram, ouvir os colegas e comparar seu racio- por exemplo, Elcie recorreu ao volante da Mega-Sena, só, pode despertar a cínio com o deles”, afirma. O papel de Moraes é fomentar que informa: quem faz o jogo mínimo de seis números curiosidade do aluno. as contribuições e o debate, lançando mais questões. tem uma chance em mais de 50 milhões de ganhar o maior Saber de que forma “Conforme todos sugerem soluções, os conceitos mais prêmio. “Proponho fazer as contas para descobrir como uma coisa leva à outra importantes vão surgindo.” “Peço que se se chega a essa conclusão”, explica. Logo fica fácil cons- No momento das discussões coletivas, o docente lança tatar que, quanto mais números a aposta tiver, maiores ajuda a dar sentido ao perguntas, chamando um ou outro aluno. Assim, faz a dediquem a pensar, são as chances de acertar as seis dezenas. A aula prosse- novo conteúdo” turma inteira analisar cada questão. Ele sabe que, para dar contar aos outros gue com os jovens testando outras variáveis para entender ELCIE SANCHES ELLER oportunidade para que todos coloquem em jogo os seus o que descobriram, por que a probabilidade de alguém se tornar um milioná- conhecimentos, deve segurar a ansiedade e não dar logo ouvir os colegas e FOTO ERIC KÉKI. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL rio sobe, vertiginosamente, para uma em 10 mil se a pes- a resposta certa. Assim, a aula não vira um monólogo. comparar seu soa puder pagar pela aposta máxima de 15 números. Moraes tem outra preocupação com relação aos estudan- Nem sempre é possível planejar o trabalho transportan- tes que não se envolvem espontaneamente nas discussões. raciocínio com do um conteúdo para a vida real. Nesses momentos, Elcie Eles podem não estar conseguindo entender o tema e ne- o deles” faz conexões com um ou mais conceitos já estudados. cessitar que ele seja retomado. Por fim, para que todos te- ROQUE ALFREDO DE MORAES “Propor desafios matemáticos, por si só, pode despertar a nham a oportunidade de progredir, ele propõe desafios com curiosidade do aluno. Saber de que forma uma coisa leva diferentes graus de dificuldade. “Minha função é cuidar à outra ajuda a dar sentido ao novo conteúdo”, conclui. para que ninguém desanime de aprender Matemática.” FLÁVIO PEREIRA
  • 6. PRÁTICAS Usar o erro Promover o uso a favor da de estimativa aprendizagem A prática ajuda a antecipar e controlar resultados necessários à compreensão da disciplina Formular as próprias hipóteses contribui para construir conhecimento “A estimativa não é o mesmo que chute: ela é feita com base em conhecimentos de referência, e não ligados à sorte”, diz Valter Mandolini, que atua no Ensino Médio da EE Aparecido Gonçalves Lemos, em Canitar, a 368 quilômetros de São Paulo. A turma precisa aprender que R obson Alves de Oliveira leciona no Ensino Funda- mental e no Médio na EE Professora Dinah Lúcia Balestrero e na EM Álvaro Callado, em Brotas, a 235 qui- a Matemática não é feita só de resultados exatos, mas também da elaboração de argumentos, aproximações, raciocínios e justificativas. lômetros de São Paulo. Em toda aula, tira o máximo pro- Para trabalhar com esse conteúdo o professor desafiou veito dos erros dos alunos. “Vejo que muitos ficam retraí- os alunos a orçar o custo de uma escola em boas condi- dos por acharem que não sabem e, com medo de errar, ções. O foco inicial foi a quadra de esportes. Para desco- “É importante perdem o interesse em participar das atividades”, afirma. brir quanto havia sido gasto ali, eles, em grupos, deveriam E ele está ciente de que, se a turma é encorajada a formular valorizar as hipóteses estimar a quantidade de cimento, tinta e tela de arame hipóteses e a testar a validade delas, aprende mais. Dessa de todos, erradas ou consumidos. Para calcular o volume de material utilizado forma, sua estratégia diante de deduções equivocadas é não. Por isso, dou os jovens lançaram mão de conhecimentos de geometria propor a análise das resoluções. O professor faz isso dando bastante tempo e de sistemas de medidas. Por exemplo: se para cercar contraexemplos, isto é, sugerindo que os alunos utilizem para as discussões um trecho da quadra são necessários dois metros de tela, um procedimento para resolver diferentes problemas e quanto seria o total para a quadra toda? Só então pesqui- avaliem quando ele funciona e quando não. e suposições saram os preços e calcularam o valor gasto. A atividade Uma aula para introduzir múltiplos e divisores no 6º dos estudantes” terminou com um debate sobre as estratégias usadas. ano com o mote da Copa do Mundo ilustra o estilo de ROBSON ALVES DE OLIVEIRA Em outras ocasiões, Mandolini também recorre a pro- Oliveira. “Começo com uma pergunta. Pode ser: teve blemas com antecipações matemáticas, como a quantidade “A estimativa Copa no ano em que eu nasci?” Depois ele fornece infor- de água para encher uma piscina. O professor discute parâ- não é o mesmo FOTOS CALIL NETO. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL mações, como sua idade, o ano do primeiro campeonato metros, como quantos litros cabem em um metro cúbico. que chute: mundial e a periodicidade dele. Então, os alunos elabo- Vale rabiscar, desenhar, anotar, testar. Se a resposta vem ram suas conjecturas. logo, ainda que certa, ele pede que o aluno explique seu ela é feita Sempre surgem conclusões, como a de que todo ano método e reflita se o valor é plausível. “Ele deve compreen- com base em de Copa é múltiplo de 4. Melhor para o debate. “É im- der por que acertou e justificar a validade da estratégia.” conhecimentos portante valorizar as hipóteses de todos, erradas ou não. de referência, e não Por isso, dou bastante tempo para as discussões e supo- ligados à sorte” sições dos estudantes.” Ele termina solicitando que cada VALTER MANDOLINI um escolha três anos de realização do evento e divida-os por 4. A proposta é ver que, se é ano de Copa, restará o número 2 após a operação.
  • 7. PRÁTICAS Comunicar O ensino da Matemática envolve, entre outros, mo- mentos de apresentação de problemas e de sistema- Utilizar bem o quadro e o conteúdo os recursos tecnológicos tização do conteúdo trabalhado. Em ambos, o professor Paulo Rogério Alves, docente da EE Paulo de Abreu e da EMEF Professor Sidney Santucci, em Itapevi, município com clareza da Grande São Paulo, procura usar uma linguagem clara e um tom de voz tranquilo, mas não baixo. Ele se esforça para não alterar o volume mesmo quando há barulho vin- do da rua ou dos corredores. “Posso aumentar um pouco quando há necessidade, mas prefiro parar de falar, já que O professor deve buscar todos os meios para não adianta disputar com os ruídos externos.” Além disso, enriquecer suas aulas e envolver a classe ele mantém um contato visual constante com os adoles- O professor deve ficar centes, evitando também escrever muito no quadro para que não se dispersem. atento ao tom de voz e Alves também usa recursos como o DataShow, jogos e softwares para apoiar suas explanações, por exemplo, intercalar sua fala a debates na hora do fechamento de um conteúdo – depois que a garotada já resolveu os problemas e discutiu sobre eles. Suas explicações não ficam monótonas nem na hora de P ara Valéria Nogueira, que atua no Ensino Médio da EE Coronel Pedro Dias de Campos, em Capela do Alto, a 203 quilômetros de São Paulo, não tem jeito: o professor abordar temas mais áridos, como as operações com poli- de Matemática precisa mesmo do quadro-negro. “É uma nômios da álgebra. “Procuro também não falar por muito disciplina visual”, afirma. “Não dá para falar de hexágonos tempo sem interrupções”. Na prática, Alves busca inter- e ângulos sem pegar o giz e desenhar.” Mas ela procura calar sua apresentação às discussões em sala. “Uma aula equilibrar essa necessidade de imagens mesclando a lousa deve ter muito diálogo, pois o professor precisa ouvir as a recursos tecnológicos. “A turma fica mais atenta.” ideias que os alunos apresentam, ajudá-los a expressá-las Em 2011, Valéria conheceu em um curso o software e conferir se a turma toda compreendeu.” Depois da re- Movimentos Complexos, de um portal da Universidade flexão coletiva, ele retoma a palavra para sistematizar os Estadual de Campinas (Unicamp) que reúne material conceitos mais importantes. multimídia (m3.ime.unicamp.br). “É perfeito para abor- dar números complexos, um conteúdo de difícil contex- tualização e que pode ser massacrante só com o quadro”, diz. Ela criou uma atividade para usá-lo e se surpreendeu com a adesão. “O mais apático dos meus alunos foi o primeiro a terminar todas as fases do jogo.” Valéria virou fã da tecnologia em aula. “Com softwares, o professor “Uma aula deve pode apresentar mais possibilidades para os estudantes, ter muito diálogo, pois que têm a chance de fazer descobertas sozinhos.” “Com softwares, o professor precisa Vídeos e experimentos também entram em suas aulas. E o professor pode ouvir as ideias que ela defende um uso maior do PowerPoint, citando uma ati- apresentar mais vidade com matrizes. Após pedir que cada aluno construís- possibilidades para os alunos apresentam, se sua matriz por meio de sentenças matemáticas e identi- ajudá-los a expressá- ficasse sequências numéricas nela, ela escaneou algumas os estudantes, que las e conferir se a produções e montou uma apresentação. “Ao projetá-la, as têm a chance de FOTOS MARINA PIEDADE. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL turma toda sequências numéricas saltavam aos olhos de todos.” fazer descobertas compreendeu” sozinhos” PAULO ROGÉRIO ALVES VALÉRIA NOGUEIRA
  • 8. PRÁTICAS Promover relações Interagir entre procedimentos com os matemáticos alunos Se entendem que existem Bom relacionamento e conexões, os alunos desenvolvem expectativas positivas em relação habilidades importantes a todos são pontos-chave O professor Roberto Martins Mendes, que leciona no Ensino Médio da EE Pedro Raphael da Rocha, em Santa Gertrudes, a 167 quilômetros de São Paulo, sabe U m quebra-gelo é o que Ricardo Pessoa dos Santos, professor do Ensino Fundamental e do Médio na EE Carolina Lopes de Almeida e na EE Professora Sueli Apa- “Tem de banir da classe essa que é fundamental os estudantes utilizarem o que já sa- recida Sé Rosa, em Bauru, a 326 quilômetros de São Pau- história de ‘não sei’ bem para construir um novo conhecimento. “Não enten- lo, utiliza no início das aulas. Pode ser o futebol, uma no- e despertar em do como um assunto pode ser visto de uma maneira des- tícia ou algo ocorrido na escola. Conversar com os alunos todos a vontade continuada. Procuro estabelecer relações com os conteú- e estabelecer um pacto com eles contribui para a aprendi- e o prazer de dos matemáticos já trabalhados e, principalmente, abordar zagem”, enfatiza. Sua prática insere os conceitos na reali- ver um problema as aplicações deles”, diz. dade, o que ajuda a driblar sentimentos de prevenção con- Em suas aulas, nenhum conteúdo é ensinado isolada- tra a disciplina e de incapacidade para aprendê-la. resolvido” mente. Dessa maneira, a fórmula de Bháskara para equa- “Tem de banir da classe essa história de ‘não sei’ e RICARDO PESSOA DOS SANTOS ções do segundo grau não surge do nada. Ele usa a imagem despertar em todos a vontade e o prazer de ver um pro- de uma caixa caindo de um avião para discutir conceitos e blema resolvido.” No dia a dia, o professor diz cultivar a mostrar que não existe “mágica” na descoberta. “A fórmu- proximidade com todos. Quando dá atividades individu- “Procuro estabelecer la aparece como uma solução para um problema real.” ais ou em grupo, por exemplo, circula na sala, conversan- Outras tantas relações podem ser exploradas. Assim relações com do sobre os diferentes modos de pensar. Se necessário, como a álgebra é uma facilitadora para a resolução dos os conteúdos até se senta para “pensar junto”. problemas geométricos, é possível fazer uma interpreta- matemáticos já Santos sabe que não adianta ficar só ele falando em FOTO ANTONIO TRIVELIN. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL ção geométrica dos resultados de cálculos algébricos. Até trabalhados aula e sempre estimula o debate, mesmo que no começo uma abordagem crítica da calculadora entra no pacote. e, principalmente, apenas alguns tomem a iniciativa de intervir. “Tenho co- “É importante o aluno aprender a olhar para o número mo papel fazer todos participarem.” Comunicar seu pen- obtido com a calculadora e pensar se ele é correto.” Tudo abordar as samento é algo que os alunos precisam aprender e ele contribui para desenvolver as capacidades de abstração, aplicações deles” alerta que é preciso conhecer bem o perfil de cada um de enxergar mais de um caminho para o mesmo problema ROBERTO MARTINS MENDES para essa dinâmica funcionar. “Tem de identificar os que e de escolher o melhor. Fazem parte do processo as co- são mais retraídos e evitar com eles situações de exposi- nexões e as generalizações equivocadas. “Errar não é ção pública”, pondera. Com esses, ele conta que procura ruim. Ruim é não tentar.” A matemática é dinâmica e o fazer “uma abordagem individual e mais discreta”, até docente precisa de bom repertório. que eles se sintam encorajados a colaborar nas aulas. CALIL NETO
  • 9. PRÁTICAS Promover Propor e A lição de casa desempenha um papel fundamental na aprendizagem. É o momento de o aluno estudar a interação corrigir a sozinho. Ao pensar em estratégias e decidir a mais válida sem o apoio do professor e dos colegas, pode verificar se tem dúvidas. Eliane Alves do Vale Oliveira, docente da EE entre os alunos lição de casa Pio X, em São José do Rio Preto, a 443 de São Paulo, não encerra suas aulas sem propor tarefa. “Acho importante criar o hábito de abrir o caderno de Matemática todo dia.” As atividades se articulam com os conteúdos que estão sendo trabalhados, mas não se limitam a repetir o que foi feito em classe. Eliane cria desafios que ampliam a visão dos estudantes em relação aos conceitos ensinados. Uma A troca traz novos pontos de vista Ensinar a estudar torna de suas grandes preocupações é a quantidade. Para não gerar sobrecarga, ela se mantém atenta ao volume de tare- e dá parâmetros para cada um o aluno mais autônomo fas pedidas pelos professores de outras disciplinas. Se for avaliar as próprias estratégias e ajuda o professor a avaliar o caso, passa poucas atividades, mas não abre mão da cons- tância. A professora considera essa ferramenta de grande utilidade para toda a turma e também para ela, já que fun- ciona como um diagnóstico da aprendizagem. “Se muitos estudantes não resolvem o problema ou erram é sinal de que algum conceito precisa ser retomado”, avalia. A professora Inês Regina Silva, que leciona para o Ensino Fundamental na EE Hely Lopes Meirelles, em Ribeirão Preto, a 313 quilômetros de São Paulo, tem Eliane trata da tarefa passada logo no início da aula seguinte. Depois de conferir os cadernos, faz a correção coletivamente, escolhendo alguns para contar suas estra- consciência de que tão essencial quanto a interação entre tégias. “Na correção coletiva, o aluno pode visualizar ela e a classe é a troca de ideias entre os alunos. “Esse “Quando constrói vários caminhos percorridos para resolver um desafio e intercâmbio é rico para a aprendizagem.” De fato, a prá- uma argumentação comparar com o seu.” Assim, ele terá cada vez mais re- tica pode ampliar a compreensão do enunciado de um e defende seu pertório para estudar sozinho. problema ou fornecer parâmetros para o estudante con- raciocínio em uma frontar as respostas que encontrou. Ao entrar no processo atividade perante do outro, consegue se questionar e reelaborar seu pensa- mento. Sem falar que a capacidade de fudamentação é um colega ou trabalhada. “Quando constrói uma argumentação e defen- a classe, o aluno de seu raciocínio em uma atividade perante um colega ou aprende muito” a classe, o aluno aprende muito.” INÊS REGINA SILVA Inês promove essa interação tanto com discussões en- volvendo a turma inteira quanto com atividades em gru- po. Aí, prefere trabalhar com duplas, juntando alunos com conhecimentos diferentes. Quando faz o planejamento, “Se muitos dosa os debates, os trabalhos coletivos e os individuais, estudantes considerando o perfil das turmas. “Mas é durante a aula não resolvem que a gente vê a eficiência da estratégia”, diz. Ela cita o problema uma vez em que programou uma tarefa com transforma- FOTO JOYCE CURY. ILUSTRAÇÕES CLAUDIO GIL ou erram é sinal ção de frações em números decimais para os alunos rea- lizarem sozinhos. “Envolvia divisões com vírgulas e vi de que algum que muitos não se lembravam como fazia.” A decisão de conceito precisa emergência foi formar duplas, pois cada um poderia dis- ser retomado” cutir as dúvidas com um colega. “Não teria rendido tanto ELIANE ALVES DO VALE OLIVEIRA se eu insistisse no trabalho individual.” HERICK MEM
  • 10. ENTREVISTA CARLOS EDUARDO MATHIAS “ D á para relacionar Matemática com História, Geografia, cinema, música, games e tudo o que está no dia a dia das em que situações usar essa operação. Se vo- cê pergunta quanto é 15 dividido por 3, ela acerta. Mas, se apresenta na prova um pro- pessoas. Afinal, ela é um meio de se conec- tar à vida criado pelo homem, como define blema que pode ser resolvido com a mesma conta ela não consegue solucionar, justamen- O bom professor é aquele que é tão apaixonado pela Matemática ” Carlos Eduardo Mathias, do Departamento te porque não entende o enunciado. de Matemática Aplicada e do Laboratório de Novas Tecnologias de Ensino (Lante) da Qual a melhor forma de introduzir um que faz tudo para os outros Universidade Federal Fluminense (UFF). conteúdo em sala? se apaixonarem também No entanto, o senso comum encara a disci- MATHIAS Uma boa prática é se basear em plina como um amontoado de técnicas para contextos do cotidiano. Mas de quem? Do fazer cálculos sem ligação com a realidade. carteiro, do cientista, do bancário, do moto- O professor deve ter uma visão mais ampla rista? Muitos dirão: o do aluno que aquele tos momentos, haver um ambiente horizontal rismático, pode aprender a envolver da disciplina e divulgá-la entre os alunos professor tem. E quem é ele? São vários, na para que a aprendizagem ocorra. Outro pon- os estudantes no processo? para favorecer a aprendizagem. A seguir, verdade. Por isso digo que o melhor contexto to importante é buscar um equilíbrio entre MATHIAS Alguns docentes têm, naturalmen- Mathias defende essa e outras medidas para é a vida. Às vezes, usa-se a Matemática infor- diferentes propostas. Assim como ele não te, simpatia e carisma. Mas há os que são sé- FOTO FERNANDO FRAZÃO. ILUSTRAÇÃO CLÁUDIO GIL melhorar a qualidade do trabalho em sala. mal do pedreiro, que calcula o material neces- deve se limitar a aulas expositivas sobre con- rios e tímidos, falam baixo e tudo. Sim, eles sário a uma obra por estimativa, com base na ceitos matemáticos, também não pode ensinar podem aprender outras formas de incentivar Quais os maiores equívocos no ensi- experiência. Em outras, pode-se falar de game, exclusivamente resolvendo problemas que a classe a participar que não dependam tanto no da Matemática? arte, História, cinema, de muita coisa, pois não têm a ver com o cotidiano ou trabalhando de sua personalidade. O bom professor é aque- CARLOS EDUARDO MATHIAS O prin- é o cotidiano específico de ninguém. com jogos e softwares. Há momentos em que le que é tão apaixonado pela Matemática que cipal é a visão do que ela é. Muitos profes- é necessário tratar da Matemática pura, de faz tudo para os outros se apaixonarem tam- sores acreditam que a disciplina se resume a E as muito usadas questões relacio- processos técnicos bem específicos e aparen- bém. Se buscar estratégias dinâmicas, envol- procedimentos técnicos e a ensinam de ma- nadas ao consumo funcionam? temente menos atraentes. verá a turma e despertará sua curiosidade. neira desconectada dos saberes dos alunos, MATHIAS Os problemas que citam que fu- sem mostrar que ela é uma criação humana lano foi à feira, ao mercado, ao banco não Em que as novas tecnologias contri- Esse dinamismo evita aulas maçan- para resolver problemas reais. servem para tudo. Nenhuma situação desse buem para o ensino da disciplina? tes quando se aborda Matemática Contra o isolamento Isso reforça a rejeição à disciplina? MATHIAS Sim. Crianças e jovens entendem tipo dará conta de contextualizar as equações de segundo grau, por exemplo. MATHIAS Quando usadas para que a classe teste possibilidades e faça conjecturas, elas podem contribuir para a construção de uma pura? MATHIAS Se o professor tem de falar da parte teórica, deve fazer isso sem culpa. É da disciplina que aquilo não tem nada a ver com eles e nunca vai ter. A disciplina carrega o estigma de ser difícil até fora da escola, entre os pais, Além de uma visão ampla da discipli- na, que fatores contribuem para a qua- lidade do ensino da Matemática? visão mais clara e ampla do conteúdo. Por si só, um software de geometria – algo que tem sido muito comentado hoje – não melhora a possível envolver a sala também nessas ho- ras. Voltando ao exemplo das equações de segundo grau, dá para introduzir o conteúdo por exemplo. Tanto que muitas pessoas MATHIAS É necessário dar voz a crianças aula em nada. O que conta é o bom docente, com um problema ou um recurso tecnológi- Docente da Universidade Federal Fluminense acham que uma criança só é muito inteligen- e jovens, porque o aprendizado é um proces- que sabe explorá-lo em vez de utilizá-lo para co que incentive todos a fazer e discutir con- defende um ensino com base no estabelecimento te quando é boa em Matemática. Talvez ela so de construção colaborativo. O professor algo similar ao que faria no quadro-negro. jecturas. Assim, irá ampliar a visão da turma consiga multiplicar, mas não saiba o que é não está lá apenas para comunicar o que sabe, e preparar o terreno para os conceitos mais de relações com o que o aluno conhece multiplicação de um modo mais amplo ou em uma via de mão única. É preciso, em cer- Qualquer professor, até o menos ca- abstratos.