1. O documento discute conceitos da Análise do Discurso como sujeito, forma-sujeito e posição-sujeito e sua relação com a linguagem e história.
2. Aborda também como história e historicidade se inscrevem no discurso e são compreendidas pela AD.
3. Apresenta citações que refletem sobre a produção do conhecimento e sua relação com a luta de classes.
1. Trabalho apresentado por Ewerton Rezer Gindri à
disciplina de Seminário Avançado em Análise de
Discurso, do programa de Mestrado em Linguística, da
UNEMAT, sob orientação da Profa. Dra. Olímpia Maluf
2.
3. SUJEITO
Resultado da relação com a linguagem e a história, o
sujeito do discurso não é totalmente livre, nem
totalmente determinado por mecanismos exteriores.
O sujeito é constituído a partir de relação com o
outro, nunca sendo fonte única do sentido, tampouco
elemento onde se origina o discurso. Como diz
Leandro Ferreira (2000) ele estabelece uma relação
ativa no interior de uma dada FD; assim como é
determinado ele também a afeta e determina em sua
prática discursiva. Assim, a incompletude é uma
propriedade do sujeito e a afirmação de sua
identidade resultará da constante necessidade de
completude.
4. FORMA-SUJEITO
É a forma pela qual o sujeito do discurso se
identifica com a formação discursiva que o
constitui. Esta identificação baseia-se no fato de
que os elementos do interdiscurso, ao serem
retomados pelo sujeito do discurso, acabam por
determiná-lo. Também chamado de sujeito do
saber, sujeito universal ou sujeito histórico de
uma determinada formação discursiva, a forma-
sujeito é responsável pela ilusão de unidade do
sujeito.
5. POSIÇÃO-SUJEITO
Resultado da relação que se estabelece entre o
sujeito do discurso e a forma-sujeito de uma
dada formação discursiva. Uma posição-sujeito
não é uma realidade física, mas um objeto
imaginário, representando no processo
discursivo os lugares ocupados pelos sujeitos na
estrutura de uma formação social. Deste modo,
não há um sujeito único, mas diversas posições-
sujeito, as quais estão relacionadas com
determinadas formações discursivas e
ideológicas.
6. História
Produção de sentidos que se define por sua
relação com a linguagem. A história
organiza-se a partir das relações com o
poder e está ligada não à cronologia, mas às
práticas sociais. Para a AD, todo o fato ou
acontecimento histórico significa, precisa ser
interpretado, e é pelo discurso que a história
deixa de ser apenas evolução.
7. Historicidade
Modo como a história se inscreve no
discurso, sendo a historicidade entendida
como a relação constitutiva entre linguagem
e história. Para o analista do discurso, não
interessa o rastreamento de dados históricos
em um texto, mas a compreensão de como
os sentidos são produzidos. A esse trabalho
dos sentidos no texto e à inscrição da história
na linguagem é que se dá o nome de
historicidade.
8. ―De modo que poderíamos caracterizar a AD
como a tentativa de aproximar, por meio de
procedimentos algorítmicos, alguma coisa
que faça funcionar a inteligência de um
historiador de arquivo [...] O historiador [...]
não tem contato, geralmente, com
informações puramente factuais, [...] mas sim
com enunciados no mínimo parcialmente
opacos ou ambíguos...‖
(Pêcheux & Léon)
9. ―Cada época social tem sua concepção da
vida que surge da ciência e da filosofia
dominantes em dada sociedade e que
representam os interesses e pontos de vista
das classes dominantes. Assim, a concepção
da vida na antiguidade era diferente do que
na época da escravidão; a concepção
burguesa é diversa da feudal e do mesmo
modo a concepção proletária já se distingue
radicalmente da burguesa.‖
(L. A. Tckeskiss)
10. ―À pergunta: qual é o objeto do
materialismo histórico, devemos responder
que o materialismo histórico estuda os
fenômenos sociais e a história. À segunda
pergunta: como ele as estuda, a resposta é:
do ponto de vista marxista. O materialismo,
que antes era somente uma escola filosófica,
torna-se, além disso, uma filosofia da
história.‖
(L. A. Tckeskiss)
11. ―De fato, cada fenômeno social tem de estar
ligado aos esforços que forjam a sociedade,
isto é, aos homens e os fenômenos sociais
devem, portanto ser o resultado da atividade
humana, que, como tal está relacionado com
a consciência humana. O fenômeno torna-se
então psicológico.‖
(L. A. Tckeskiss)
12.
13. ―Desde que tratamos de atos humanos, há de
haver neles sempre algum sentido social.‖
(L. A. Tckeskiss)
14. ―Mas cada fenômeno social pode ter também,
em certos casos um sentido histórico.‖
(L. A. Tckeskiss)
15.
16. ―Assim, desde que um fenômeno social
exerce grande influência sobre o
agrupamento de outros fenômenos sociais,
provoca novos fenômenos que trazem certa
modificação à vida social, e torna-se deste
modo, ao mesmo tempo, um acontecimento
histórico.‖
(L. A. Tckeskiss)
17. ―Além dos fenômenos individuais com
sentido social e histórico, existem igualmente
fenômenos sociais de caráter coletivo, que
também constituem acontecimentos
históricos.‖
(L. A. Tckeskiss)
18.
19. ―...a história, tal como era escrita antes e
ainda como está sendo escrita até agora,
pode ser objeto de investigação científica?‖
(L. A. Tckeskiss)
20. 1. História baseada em lendas e contos
populares;
2. História transformada em biografias de
grandes personalidades.
Não servem para a
ciência.
21. ―O homem supõe que a revelação de sua própria
vontade é um ato livre, que não está sujeito a lei
alguma, e isso ocasiona grande dificuldade ao
estudo científico do fenômeno.‖
―Os fenômenos sociais, conquanto
desarticulados, não deixam de ser fenômenos
complexos, ligados a muitos momentos
estranhos...‖
22. ―Digamos, para resumir, que a história, em sua
forma tradicional, se dispunha a ―memorizar‖ os
monumentos do passado, transformá-los em
documentos e fazer falarem estes rastros que,
por si mesmos, raramente são verbais, ou que
dizem em silêncio coisa diversa do que dizem;
em nossos dias, a história é o que transforma os
documentos em monumentos e que desdobra,
onde se decifravam rastros deixados pelos
homens, onde se tentava reconhecer em
profundidade o que tinham sido, uma massa de
elementos que devem ser isolados, agrupados,
tornados pertinentes, inter-relacionados,
organizados em conjuntos.‖
23. ―Havia um tempo em que a arqueologia,
como disciplina dos monumentos mudos, dos
rastros inertes, dos objetos sem contexto e
das coisas deixadas pelo passado, se voltava
para a história e só tomava sentido pelo
restabelecimento de um discurso histórico;
poderíamos dizer, jogando um pouco com as
palavras, que a história, em nossos dias, se
volta para a arqueologia – para a descrição
intrínseca do monumento.‖
(Foucault, 2009, p.8)
24. 1. A multiplicação das rupturas na história das
ideias;
2. A noção de descontinuidade toma um lugar
importante nas disciplinas históricas;
3. O tema e a possibilidade de uma história
global começam a se apagar;
4. A história nova encontra um certo número
de problemas metodológicos.
1. Constituição de um corpus coerente;
2. A definição do nível de análise e elementos;
3. Especificação de um método de análise;
4. Delimitação dos conjuntos e dos subconjuntos que
articulam o material estudado.
25. ―A atividade de cada indivíduo está sempre
ligada a de outros e a toda a sociedade. E
esta atividade é que forma a vida social.‖
(L. A. Tckeskiss)
26. Onde está a causa das mudanças e
transformações sociais?
Como se pode e se deve modificar a
sociedade?
Respostas:
1. Voltar ao estado primitivo;
2. Pela educação.
27. ―Investigando a ideia absoluta e sua
evolução, descobriu Hegel, que ao
analisarmos bem um conceito notamos que
este conceito guarda em si o princípio de sua
negação – sua contradição –, e assim esse
conceito se desenvolve passando ao seu
oposto. [...] A grande tarefa, de fazer
penetrar no materialismo, o espírito dialético
de Hegel e estendê-lo também à história da
humanidade e à vida social, somente a
puderam realizar Marx e Engels.‖
(L. A. Tckeskiss)
28. Tomando-se por base o conceito de Franklin
de que ―o homem é um ser que faz e usa
instrumentos‖, Tckeskiss afirma que:
―A totalidade dos instrumentos que o
homem cria no processo de sua adaptação à
natureza é chamada técnica. A técnica pode
também ser chamada de meio artificial. O
homem se adapta ao meio natural criando um
meio artificial. No meio artificial está
corporificada a matéria da vida social.‖
(L. A. Tckeskiss)
29. De onde surgem as novas necessidades e
qualidades, qual a causa?
―A causa, por conseguinte, só pode ser
encontrada no meio artificial, que cresce
vertiginosamente. A causa do
desenvolvimento humano, deve pois, estar na
adaptação do homem ao meio natural, na
atividade indireta do homem que é o
trabalho, na criação de instrumentos que é a
técnica, no meio artificial que cresce e se
expande sem limites.‖
(L. A. Tckeskiss)
30. ―... a técnica se desenvolve pela divisão do
trabalho e paralelamente ao desenvolvimento
da ciência. Porém, esses dois momentos,
quer a divisão do trabalho, quer a ciência,
somente podem existir e se desenvolver na
sociedade; por sua vez uma vida social sem o
desenvolvimento da técnica é impossível. [...]
Na base da técnica, nascem certas relações
de produção, que por sua vez provocam
várias, multiformes e complexas relações
sociais.‖
(L. A. Tckeskiss)
31.
32.
33. ―Eu me proponho a refletir a respeito da
forma pela qual o ―socialismo existente‖
inscreve sua relação na história do
desenvolvimento do capitalismo.‖
(Pêcheux, 2011, p.107)
34. ―Uma série de divisões nas formas político-
jurídicas [...] e nas formas ideológicas da
submissão dos indivíduos, corresponde a
essa divisão estrutural no interior da história
da FPC – entre um percurso de
desenvolvimento por meio da luta contra o
absolutismo autoritário e um percurso de um
desenvolvimento por meio da fusão com esse
absolutismo.‖
(Pêcheux, 2011, p.108)
35. ―O ―socialismo existente‖ não é independente
de um mundo simétrico do capitalismo, mas,
sim, é uma sequência de incrustações, que
surgiram uma após a outra no interior de seu
desenvolvimento geral.‖
(Pêcheux, 2011, p.111)
36. ―Pós-modernismo é o nome aplicado às mudanças
ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades
avançadas desde 1950, quando, por convenção, se
encerra o modernismo (1900-1950). Ele nasce com a
arquitetura e a computação nos anos 50. Toma corpo
com a arte Pop nos anos 60. Cresce ao entrar pela
filosofia, durante os anos 70, como crítica da cultura
ocidental. E amadurece hoje, alastrando-se na moda,
no cinema, na música e no cotidiano programado
pela tecnociência (ciência + tecnologia invadindo o
cotidiano com desde alimentos processados até
microcomputadores), sem que ninguém saiba se é
decadência ou renascimento cultural.‖
(O que é pós-moderno, Jair Ferreira dos Santos, Ed.
Brasiliense, 1987)
37.
38. ―A vida líquida e a modernidade líquida estão
intimamente ligadas.‖
―A vida líquida é uma forma de vida que
tende a ser levada adiante numa sociedade
líquido-moderna.‖
―Líquido-moderna é uma sociedade em que
as condições sob as quais agem seus
membros mudam num tempo mais curto do
que aquele necessário para a consolidação,
em hábitos e rotinas, das formas de agir.‖
―A liquidez da vida e a da sociedade se
alimentam e se revigoram mutuamente.‖
39. ―Partindo do pressuposto de que toda
prática discursiva está inscrita no complexo
contraditório-desigual-sobredeterminado
das formações discursivas que caracteriza a
instância ideológica em condições históricas
dadas (Pêcheux, 1975, p.213) [...] Pêcheux
relaciona a forma-sujeito com o sujeito do
saber de uma determinada Formação
Discursiva.‖
(Grigoletto, 2005, p.62)
40. ―A história da produção dos conhecimentos
não está acima ou separada da história da
luta de classes [...] por isso, segundo
Pêcheux, toda ruptura epistemológica exibe e
põe em discussão os efeitos da forma-
sujeito.‖
(Pêcheux, 1975, p.190)
41. Então, para Pêcheux o ―efeito de
desidentificação se realiza paradoxalmente
por um processo subjetivo de apropriação
dos conceitos científicos e de identificação
com as organizações políticas de ―tipo novo‖‖
(Pêcheux, 1975, p.217)
42. ―[...] é na forma-sujeito do discurso, na qual
coexistem, indissociavelmente, interpelação,
identificação e produção de sentido, que se
realiza o non-sens da produção do sujeito
como causa de si sob a forma da evidência
primeira, isto é, de que ―eu sou realmente
eu‖‖
(Pêcheux, 1975, p.266)
43. Segundo ele o movimento de
desidentificação ―[...] se efetua,
paradoxalmente, no sujeito, por um processo
subjetivo de apropriação dos conceitos
científicos (...) processo no qual a
interpelação ideológica continua a funcionar,
mas, por assim dizer, contra si mesma‖.
(Pêcheux, 1975, p.270)
44. ―Então, o próprio movimento de
desidentificação já supõe a determinação do
sujeito por outra FD que o domina, na qual
continuam a ressoar os saberes anteriores,
ainda que pelo viés do esquecimento, do
recalque.‖
(Grigoletto, 2005, p.65)
45. ―Se há ruptura da FD, não há também ruptura
da forma-sujeito? E ruptura significa
apagamento de determinados saberes?‖
46.
47. ―O sujeito do Iluminismo estava baseado
numa concepção da pessoa humana como
um indivíduo totalmente centrado, unificado,
dotado das capacidades da razão, de
consciência e de ação...‖
(Hall, p.10)
48. De acordo com essa visão a identidade é
formada na interação entre o eu e a
sociedade, através de pessoas que mediavam
os valores.
49. ―A identidade torna-se uma celebração
móvel: formada e transformada
continuamente em relação às formas pelas
quais somos representados e interpelados
nos sistemas culturais que nos rodeiam.‖
(Hall, p.13)
50. 1. Podemos falar de uma forma-sujeito-de-
mercado, ou seria mais adequado falarmos
de uma forma-sujeito-fluido?
2. A fluidez, ou liquidez, segundo Bauman,
origina-se no mercado ou este a herda da
sociedade?
51. BAUMAN, Zygmund. Vida líquida / Zygmund Bauman; tradução
Carlos AlbertoMedeiros. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7ª ed. RJ: Forense
Universitária, 2009.
GRIGOLETTO, Evandra. A noção de sujeito em Pêcheux: uma
reflexão acerca do movimento de desidentificação. Estudos da
Língua(gem), nº 1, junho/2005.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução
Tomás Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 6. ed. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.
O Materialismo Histórico em 14 Lições — L. A.Tckeskiss
PÊCHEUX, Michel. Análise de Discurso: Michel Pêcheux Textos
selecionados: Eni P. Orlandi – 2ª Ed. Campinas, SP: Pontes
Editores, 2011.
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. Ed. Brasiliense,
1987