O documento descreve a abordagem da "engenharia gandhiana" pregada pelo cientista indiano Raghunath Mashelkar, que promove inovações que produzam mais com menos recursos para beneficiar mais pessoas. Isso é ilustrado por exemplos como o carro Tata Nano, vacinas e cirurgias de baixo custo na Índia. A visão de Mashelkar é que a frugalidade e o foco nos necessitados podem levar a novas formas de inovação que beneficiem a todos.
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL _ Aula 5 - TICs e a Comunicação
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Inovação / Índia
Inovação com a marca de Gandhi
Indianos ensinam ao mundo como produzir mais com menos para
mais pessoas
Alexandre Teixeira
Nano, da Tata Motors: o carro mais barato do mundo
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O cientista indiano Raghunath Mashelkar, que prega a frugalidade para fazer mais com menos, para mais
pessoas
Depois do belicoso Sun Tzu e sua arte da guerra, é a vez de Gandhi ser adaptado para o mundo da gestão. O
cientista indiano Raghunath Mashelkar, um especialista em polímeros que se reinventou como guru da
administração de empresas, propõe uma abordagem diferente de Pesquisa e Desenvolvimento, inspirada pelo
ícone maior do pacifismo. Ele a batizou de engenharia gandhiana e a ancorou em realizações da indústria indiana,
como o Tata Nano, carro mais barato do mundo, uma vacina efetiva contra a hepatite B que custa um
quadragésimo das existentes no Ocidente e uma técnica de cirurgia de catarata cujo custo é um centésimo do
cobrado em outros países.
Mashelkar tem seu nome associado ao Laboratório Nacional de Química da Índia, mas hoje é presidente da
Global Research Alliance, uma rede de institutos de P&D dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. Ele cunhou
o termo engenharia gandhiana para definir inovações que permitam conseguir mais com menos para mais
pessoas. Segundo Mashelkar, a frugalidade necessária para tanto expressa um dos ensinamentos do herói da
independência indiana: “A Terra provê o suficiente para satisfazer as necessidades, não a ganância, de todos os
homens”. Trata-se, portanto, de inovação inclusiva. Produtos e serviços que melhorem a vida de todos –
inclusive, mas não somente, as dos 4 bilhões de pessoas que vivem hoje com menos de dois dólares por dia.
Isto significa, sim, custos ultrabaixos. Mas o binômio perseguido é “baixo preço, alto desempenho”. Às vezes,
com alta tecnologia.
“Um novo sistema de localização por satélite de zonas pesqueiras elevou os níveis de produtividade, e portanto
de renda, de milhões de pessoas ao longo da costa indiana que dependem da pesca para sobreviver”, disse ele
em entrevista à revista strategy + business, da consultoria Booz&Co. Cientistas medem a quantidade de clorofila
na água e a temperatura na superfície do mar para detectar a concentração de peixes em uma determinada área.
A informação é, então, transmitida para painéis eletrônicos instalados nos piers onde se concentram os
pescadores e, por mensagem de texto, para os celulares daqueles que já estão no mar. Bom negócio tanto para
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o provedor de notícias por celular (neste caso, a Bharti Airtel) como para os pescadores.
Mahatma Gandhi: inspiração para a inovação nos dias de hoje
Na definição de Mashelkar, inovação é fazer as coisas de um jeito diferente para fazer uma grande diferença.
Muito bem, a estratégia de Gandhi, que mobilizou milhões de indianos em torno da ideia de resistência pacífica e
da não violência, foi um jeito diferente de promover uma rebelião. E fez uma grande diferença, na medida em
que resultou na retirada do poderoso império britânico do subcontinente.
Décadas antes da independência, no início do século 20, Jamshedji Tata foi ridicularizado quando anunciou sua
intenção de produzir aço na Índia. Informado de seus planos, Sir Fredrick Upcott, o inglês que presidia a Indian
Railways, desdenhou do projeto e disse que comeria cada grama do metal produzido no país. Um século
depois, a Tata Steel produz aço em várias partes do mundo, a preços imbatíveis, e é dona da Corus Steel, um
antigo ícone da siderurgia britânica. De modo semelhante, ainda que muitas décadas mais tarde, houve deboche
quando Dhirubhai Ambani – fundador do Grupo Reliance, um dos três maiores conglomerados indianos – disse
que uma chamada de longa distância deveria custar o mesmo que um cartão postal. Hoje, a Índia tem as
menores tarifas para ligações telefônicas, os celulares mais baratos e a base de assinantes que mais cresce no
mundo.
A proporção que interessa a Mashelkar é: preço versus desempenho. É possível oferecer por US$ 100 um
laptop que originalmente custa US$ 2 mil, sem comprometer a performance de suas funções básicas? Nicholas
Negroponte, do MIT, fixou esse alvo já há um bom tempo e ainda não o atingiu. Vinay Deshpande, da indiana
Encore, foi quem chegou mais perto. Ele criou o Mobilis, que desde 2009 é produzido na Malásia e cujo preço
já baixou dos US$ 200.
Fazer mais com menos, para muita gente, é a verdadeira vocação do segundo país mais populoso da Terra. “O
desafio indiano é que não apenas temos de ter inovação e paixão, mas também compaixão”, disse uma vez
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Mashelkar. A beleza desse conceito é que ele não é válido apenas para a Índia. Nem só para países
emergentes. “Se você sente que a engenharia gandhiana é para os pobres do mundo, lamento. Você está
enganado”, Mashelkar costuma dizer. Fazer mais com menos, para mais gente, é um imperativo universal
quando os recursos não renováveis estão desaparecendo rapidamente.
Este químico indiano tem uma visão de futuro peculiar. Para ele, tecnologias de reciclagem e reprocessamento
irão se tornar dominantes à medida que o cenário internacional de abundância dê lugar a um de escassez. Como
dizia C.K.Prahalad, suas aspirações têm de ser sempre maiores que seus recursos. Se e quando a regra do jogo
for oferecer produtos e serviços bons e baratos para tantos consumidores quanto possível, talvez mesmo o
marketing tenha de ser redefinido, e o valor das marcas passe a ser medido de outra maneira.
Mashelkar e Prahalad, que morreu no ano passado, escreveram juntos um artigo pra a Harvard Business
Review intitulado “O Santo Graal da Inovação”. A ideia do ensaio, em resumo, é a de que preço baixo e
sustentabilidade estão substituindo preço alto e abundância como motores da inovação. Mas poucos executivos
sabem lidar com essa virada. As empresas precisam tornar seus produtos acessíveis para mais gente, vendendo-
os mais barato e produzindo-os com menos recursos. “Enquanto essa obrigação está provando ser um pesadelo
para muitas companhias ocidentais, nossa pesquisa sugere que uns poucos pioneiros em países em
desenvolvimento estão mostrando o caminho”, escreve a dupla. “Em nenhum outro lugar isso é mais evidente do
que na Índia, que não era exatamente famosa pela inovação até recentemente.”
AS CINCO REGRAS DA INOVAÇÃO GANDHIANA
1. Desenvolva um profundo compromisso de servir os que não estão servidos
2. Articule e abrace uma visão clara
3. Fixe metas muito ambiciosas para nutrir um espírito empreendedor
4. Aceite que restrições irão sempre existir e opere criativamente dentro delas
5. Fique nas pessoas, não apenas na riqueza e nos lucros do acionista
Na essência da engenharia gandhiana está a tradição ancestral do jugaad, uma versão indiana do jeitinho
brasileiro, explicada pelos pesquisadores como a habilidade de desenvolver alternativas e improvisações para
superar a falta de recursos e resolver problemas aparentemente insolúveis. Reprocessado, o jugaad deu origem,
entre outras maravilhas, a modelos de negócios disruptivos que se apropriam de tecnologias ocidentais e as
utilizam como base para inovações que resultam em barateamento além do imaginável, sem prejuízo da
qualidade. Empresas como Wipro e Infosys fazem fora de casa uma parcela expressiva do trabalho de
programação e valem-se do talento de baixo custo dos engenheiros indianos para criar software e serviços com
um custo-benefício imbatível. O que muda, no caso, é a organização do trabalho.
E o modelo brasileiro de inovação, adapta-se à engenharia gandhiana? Potencialmente, sim. Mas as iniciativas
nessa direção ainda são tímidas, para dizer o mínimo. “As empresas brasileiras”, afirmou a revista The
Economist duas semanas atrás, “estão fazendo muito menos do que suas rivais na Índia e na Indonésia para
dominar a arte de produzir bens frugais para as massas”. Não que o tema seja inédito por aqui. “Ideias sábias e
produtos direcionados aos pobres abundam no país”, diz a The Economist, citando exemplos como o mini-
freezer da Whirlpool e os pontos de atendimento flutuantes mantidos pela Nestlé e pelo Bradesco no rio
Amazonas. O grande senão é que a maioria dessas inovações são trazidas por estrangeiros. Faz falta para o país
uma versão brasileira da engenharia gandhiana.
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