1. 2 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 27 DE JULHO DE 2014
AT2
Fuga
“As pessoas po-
dem contar uma
mentira para fugir
de algo agora, mas
uma hora elas te-
rão que bater de
frente com a situa-
ção. A longo prazo
esse comporta-
mento poderá ser
um complicador.
Para a mentira se
sustentar, a pessoa precisa lembrar
dela e continuar mentindo.”
Fábio Nogueira, psicólogo e professor
COMPORTAMENTO
Temquetermuitojogodecintura
E
specialistas entrevistados
pelo AT2 defendem que as
pessoas lancem mão do fa-
moso jeitinho para lidar com o ou-
tro.
“Nem todos suportam ouvir crí-
ticas ou possíveis verdades. É pre-
ciso ter cuidado com o que se diz e
para quem se diz”, ensina a psica-
nalista Hítala Gomes.
Ela explica que se todos falas-
sem o que pensam, de qualquer
maneira, a sociedade seria um
caos. “Não sou uma defensora da
Saia-justacomamãe
FERNANDO RIBEIRO/AT
ANTÔNIO MOREIRA/AT
RODRIGO GAVINI/AT
Sinceridade exagerada
pode causar brigas,
pois nem todas as
pessoas estão
dispostas ou prontas
para ouvir a verdade
“Concordo plenamente com a tese
de que uma mentirinha de vez em
quando é necessária para a boa con-
vivência. E, é claro, que todo mundo já
contou uma para não magoar al-
guém”.Essaéaopiniãodaestudantee
modelo Thayná Monteiro Santos, 18.
Ela conta que já inventou um com-
promisso inadiável para não ir à festa
de uma colega. “Em outras situações,
já menti ao dar minha opinião sobre a
roupa ou sapato que determinada
pessoa estava usando. Mesmo não
gostando, eu digo que achei bonito.
Acho que a mentira, nesses casos, é
necessária e não faz mal a ninguém”,
diz Thayná.
Ajovemrevelaaindaterumapessoa
bem sincera ao seu lado: a própria
mãe. “Ela já me deixou em saia-justa
váriasvezesporcontadisso,falaoque
pensa.Emlojas,minhamãeécapazde
dizer na cara da vendedora que a rou-
pa é horrorosa”.
OPINIÃO
Oposição
“É costumeiro
pensarmos a men-
tira em oposição à
verdade. Mas ver-
dade e mentira an-
dam juntas. Quan-
tas coisas já cria-
mos e tivemos por
muito tempo como
uma verdade? Fre-
quentemente cria-
mos mentiras, já
que a verdade, por vezes, pode ser in-
suportável.”
Lucas Fraga, psicanalista
Ostentação
“Muita gente
usa a mentira para
encobrir algo, não
contar sobre um
vício, por exemplo,
simplesmente por
sentir vergonha,
sem intuito de mal-
dade. Por outro la-
do, vivemos em um
mundo de ostenta-
ção, onde as pes-
soas querem mostrar mais do que
realmente possuem.”
Alexandre Bez, psicólogo
A microempresária Andrea Gomes, 34,
confessa que já se viu mentindo em algu-
mas ocasiões. Em uma das vezes, mentiu
sobre ter aprovado o novo corte de cabelo
de uma amiga. “Ela mudou o visual e veio
toda animada perguntar a minha opinião.
Na verdade eu não havia gostado, mas, ao
ver a sua empolgação, tive que contar a fa-
mosa 'mentirinha' para agradá-la”.
Andrea acredita ainda que, às vezes, a
mentira é necessária. “Há pessoas que não
conseguem encarar a realidade. Aí, para
evitar inimizades, temos que contar uma
mentirinha ou outra”.
“Umamentirinhaououtra”
“
Em lojas,
minha mãe
é capaz de dizer na
cara da vendedora
que a roupa é
horrorosa
”Thayná Monteiro Santos
“
Há
pessoas
que não
conseguem
encarar a
realidade
”Andrea Gomes
mentira,masacreditoquetudoem
excesso tende a ser prejudicial. A
sinceridade exagerada pode gerar
conflitos, rompimentos e desen-
tendimentos desnecessários. En-
tão, nas situações em que o que
conta é manter uma amizade e um
relacionamento, pequenas menti-
ras são favoráveis”.
O psicólogo e professor do
Unesc Fábio Nogueira afirma que
é importante as pessoas se per-
guntarem se o que elas pensam vai
interessar ao outro. Depois disso,
não é o conteúdo e, sim, a forma
comovaiseremitidaaopinião,de-
notando empatia e compromisso
com a pessoa.
“Normalmente, utiliza-se a via
mais fácil, que é a mentira, ou por-
que a pessoa está com preguiça ou
portermedodefalaraverdade.As
pessoas não sabem como falar a
verdade da melhor maneira”.
E como trabalhar isso? Como
mudar o comportamento? O psi-
cólogo destaca que é uma questão
de se dedicar, de investir no rela-
cionamento, seja amoroso, social
ou profissional.
“As relações estão muito super-
ficiais. Com a internet, você sim-
plesmente desconecta a pessoa
quando não quer mais falar com
ela. Pessoalmente não dá para fa-
zer isso. O contato exige prestar
atenção no que o outro está falan-
do e demanda certo investimento.
A questão da empatia é importan-
te, de falar o que pensa de um jeito
que a pessoa acolha a sua posição.
independente de discordar dela”.
O psicanalista Lucas Fraga tam-
bém ressalta que o relacionamen-
to humano exige zelo. “Temos que
ter cuidado para que o nosso con-
selho não se torne uma imposição
da nossa verdade”.
Ele diz, ainda, que a mentira po-
de ser positiva quando se entende
queaoutrapartenãoestáprepara-
da para ouvir determinado acon-
tecimento. “No entanto, mentir
não vale a pena quando envolve
um benefício próprio em detri-
mento de outra pessoa”.HÍTALA Gomes diz que, dependendo da situação, mentir é necessário