[1] A economia circular visa evitar a exaustão dos recursos naturais através da reutilização e reciclagem de resíduos. [2] Ela busca fechar o ciclo de produção e consumo para que os resíduos sejam reintroduzidos como matéria-prima. [3] Sua adoção é fundamental devido à necessidade de preservar os recursos naturais e reduzir impactos ambientais.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Economia Circular evita esgotamento recursos
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A ECONOMIA CIRCULAR PARA EVITAR A EXAUSTÃO DOS RECURSOS
NATURAIS DO PLANETA TERRA
Fernando Alcoforado*
Um fato indiscutível é o de que a humanidade já consome mais recursos naturais do que
o planeta é capaz de repor. O ritmo atual de consumo é uma ameaça para a prosperidade
futura da humanidade. Nos últimos 45 anos, a demanda pelos recursos naturais do
planeta dobrou, devido à elevação do padrão de vida nos países ricos e emergentes e ao
aumento da população mundial. Hoje a humanidade utiliza 50% da água doce do
planeta. Em 40 anos utilizará 80%. Nos últimos dois séculos a extração dos recursos
minerais tornou-se mais intensa, retirando volumes cada vez maiores da natureza. A
preocupação é que a maioria desses recursos não é renovável, ou seja, não são repostos
pela natureza. Se o ritmo de extração continuar como está, a humanidade certamente
verá alguns minérios extinguir-se. Com base em reservas existentes hoje, determinados
recursos minerais já possuem uma possível data para se esgotar, dentre eles podemos
citar o ouro, o estanho, o níquel e o petróleo.
Tradicionalmente, os processos de produção se caracterizam pela utilização de recursos
naturais (matéria prima) na fabricação de produtos para o consumo humano cujos
resíduos resultantes são levados para um aterro sanitário. Esta dinâmica operacional que
pode ser denominada como Economia Linear, que está apresentada na Figura 1 abaixo,
tende a contribuir para a continuada exaustão dos recursos naturais do planeta.
Figura 1- Economia Linear
Diferentemente do modelo de Economia Linear, a Economia Circular se preocupa com
o desenvolvimento sustentável ao buscar a eficiência na fabricação de produtos e ao
reaproveitar os resíduos sólidos contribuindo, desta forma, no sentido de evitar a
exaustão dos recursos naturais do planeta. A Economia Circular tem como conceito
transformar os resíduos em insumos para a produção de novos produtos. Assim como na
natureza, na qual os restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram
adubo para as plantas fechando o ciclo, peças de eletrodomésticos usadas podem ser
reprocessadas e reintegradas à cadeia de produção.
Um dos principais conceitos da Economia Circular é o Cradle to Cradle (do Berço ao
Berço), que defende que a inovação é o caminho para transformar os resíduos de uma
cadeia produtiva em componentes e materiais para outra. Outros conceitos são
importantes para entender a Economia Circular. Um deles é o Biomimetismo, que
estuda os processos da natureza e os aplica para solucionar problemas, ou seja, trata-se
de imitar a natureza para resolver desafios humanos. Outro conceito importante é a
Ecologia Industrial, que atrelado ao Biomimetismo e ao Cradle to Cradle, visa a criação
Recursos
Naturais
(Matéria
Prima)
Fabricação
de Produtos
Consumo
Humano
Resíduos
Sólidos
Disposição
Final
(Aterro
Sanitário)
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de processos de ciclo fechado, desenhando sistemas de produção adaptados aos
ecossistemas locais.
Na Figura 2, pode-se constatar que, na Economia Circular, os recursos naturais, que são
utilizados como matérias primas primárias no processo de fabricação, se transformam
em produtos que vão para o consumo humano gerando resíduos sólidos que, após sua
transformação em matéria prima secundária, são usados na fabricação de produtos e,
assim sucessivamente.
Figura 2- Economia Circular
A Figura 3 mostra as alternativas da dinâmica do processo de Economia Circular da
Extração ao Consumo contemplando a reciclagem, remodelação, reparação e
reutilização de um resíduo até a sua disposição final.
Figura 3- Economia Circular
De acordo com a Ellen MacArtur Foundation, essa nova forma de pensar as cadeias
produtivas traz benefícios micro e macro econômicos, além de estimular a inovação. Os
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produtos e materiais passam a ser desenvolvidos para que voltem à cadeia de produção.
Com isso, a extração de matéria-prima diminui e os recursos naturais que entram no
ciclo produtivo são utilizados por mais tempo, preservando o meio ambiente. A
necessidade de reciclar e reaproveitar materiais promove o desenvolvimento de novas
relações entre as empresas, que passam a ser também fornecedoras e consumidoras de
materiais que serão reincorporados ao ciclo produtivo (Nat.Genius. Economia Circular.
Publicado no website <http://www.natgenius.com/EconomiaCircular.aspx>).
Para aprimorar e expandir a experiência de fechamento de ciclo é imprescindível que
consumidores, empresas de varejo, indústrias e governo entendam seu papel nesse
processo. Isso significa também mudar a forma de criar e de utilizar os produtos: eles
não serão mais consumidos e descartados, mas utilizados e transformados em novos
produtos. A logística reversa é uma forma de romper com a Economia Linear, onde a
matéria-prima é extraída, transformada em produtos e descartada após o uso.
A logística reversa é a área da logística que trata do retorno de produtos, embalagens ou
materiais ao seu centro produtivo, conforme está apresentada na Figura 4 abaixo A
logística reversa no processo de reciclagem faz com que os materiais retornem a
diferentes centros produtivos em forma de matéria prima. Atividades da administração
da logística reversa preveem o reaproveitamento e remoção de refugo e a administração
de devoluções. Com uma economia circular, onde tudo pode ser reaproveitado, é
possível reduzir a extração de matéria-prima e o descarte de resíduos no meio ambiente.
Figura 4- Logística reversa
Adotar os princípios de Economia Circular é fundamental devido à necessidade do ser
humano aproveitar melhor seus recursos naturais para evitar seu esgotamento futuro e
não causar tantos impactos negativos ao meio ambiente. Para atingir seus objetivos, a
Economia Circular se preocupa basicamente com os seguintes temas: 1) Concepção de
produtos utilizando materiais facilmente recicláveis e não perigosos; 2) Leis ambientais
que estimulem o setor; 3) Reintrodução dos resíduos sólidos à cadeia produtiva; e, 4)
Tratamento e reaproveitamento dos resíduos. Inúmeras universidades na Europa já
oferecem graduação em Economia Circular como é o caso da Alemanha que forma
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mestres e doutores em Economia Circular, também conhecida como Economia do Lixo
(Portal Resíduos Sólidos. Economia Circular. Publicado no website <
http://www.portalresiduossolidos.com/economia-circular/>).
O Instituto Brasileiro de Altos Estudos de Direito Público informa que, em 2012, cerca
de 62 milhões de toneladas de resíduos sólidos foram produzidos no Brasil. Segundo
dados do Ministério do Meio Ambiente, apenas 2% desse material retornam à cadeia
produtiva. Os resíduos que não são reciclados acabam em lixões (17,8%), aterros
controlados (24,2%) e aterros sanitários (58%). O não reaproveitamento dos resíduos
sólidos custa ao país R$ 8 bilhões por ano. Segundo relatório da Ellen MacArthur
Foundation – organização sem fins lucrativos que estuda e estimula a adoção da
economia circular –, 65 bilhões de toneladas de matéria-prima foram inseridas no
sistema produtivo do mundo todo em 2010. Projeções do instituto indicam que até 2020,
a quantidade subirá para 82 bilhões de toneladas por ano (Instituto Brasileiro de Altos
Estudos de Direito Público. Sustentabilidade: Resíduos sólidos: Economia Circular:
Novo negócio: Embraco. Publicado no website
<http://www.altosestudos.com.br/?p=52902>).
Nat. Genius informa que a implantação da Economia Circular não é uma tarefa que
envolve somente as empresas. É necessário que todos os envolvidos no ciclo de vida de
um produto entendam seu papel nesse novo modelo. Em um mundo onde as relações de
produção e comércio são cada vez mais globalizadas, a necessidade de disseminar o
conceito de Economia Circular se faz cada vez mais presente e em larga escala,
incluindo a população consumidora. A disseminação do conceito de Economia Circular
tem ocorrido em vários países. Entre eles, a China, onde a Economia Circular faz parte
da Lei de Promoção da Produção Limpa, promulgada em 2002. Entre as medidas de
conscientização da população estão a rotulagem ecológica de produtos, a difusão de
informações sobre questões ambientais nos veículos de comunicação e os cursos de
Produção Limpa oferecidos pelas instituições de ensino, que têm o objetivo de formar
profissionais familiarizados com a Economia Circular (Nat.Genius. Economia Circular.
Publicado no website <http://www.natgenius.com/EconomiaCircular.aspx>).
Nat. Genius informa ainda que, no Brasil, foi implantada a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, lei de 2010, que visa garantir a responsabilidade compartilhada pelo
ciclo de vida dos produtos, operação reversa e o acordo setorial. A responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos prevê que todos os agentes do ciclo
produtivo, os consumidores e os serviços públicos tenham atribuições para minimizar o
volume de resíduos sólidos e seus impactos ambientais.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
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Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).