O documento discute a situação política dividida e radicalizada do Brasil após as eleições presidenciais de 2014. Apoiantes do PT representam 41,59% dos eleitores, enquanto 58,41% se opõem às políticas do partido. Seja quem for eleito, enfrentará dificuldades para governar sem apoio da maioria e reunir o país em torno de um projeto comum.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Brasil dividido e radicalizado
1. BRASIL: CENÁRIOS FUTUROS DE UM PAÍS RADICALIZADO E DIVIDIDO
Fernando Alcoforado*
O Brasil é hoje um país dividido entre petismo e antipetismo que se traduziu nas últimas
eleições presidenciais. Tomando por base os resultados das eleições presidenciais em
seu primeiro turno, constata-se que os partidários do PT representam 41,59% (eleitores
de Dilma Roussef). A diferença (58,41%) representa o posicionamento de oponentes do
PT que não aceitam a política posta em prática por este partido e seus dirigentes na
condução dos destinos da nação. Esta insatisfação que se manifestou no primeiro turno
das eleições presidenciais e aconteceu também de forma radicalizada nas manifestações
de junho de 2013 em todo o País resulta da má gestão da economia pelo governo Dilma
Roussef e da corrupção sistêmica que permeia a administração pública no Brasil.
A existência de um país dividido e radicalizado que se registra no momento fará com
que se torne uma tarefa de difícil realização para Dilma Roussef governar o Brasil se
vencer as eleições. A permanência do PT no poder com a vitória de Dilma Roussef no
segundo turno das eleições pode se constituir em fator de instabilidade político
institucional porque sem o apoio da maioria da nação ela perderia a condição de
governar a nação. Dilma Roussef passaria a ser uma cópia de Nicolas Maduro na
presidência da Venezuela que enfrenta sérios problemas de governabilidade em seu país
profundamente dividido. A legitimidade de um governante só se materializa na prática
quando ele conta com o apoio efetivo da maioria da nação. Os graves problemas vividos
pela nação no momento atual estão a exigir um governante que tenha capacidade de
aglutinar a nação em torno de um projeto comum. Além de demonstrar incompetência
na gestão da economia nacional, o PT e Dilma Roussef não reúnem mais condições
políticas para aglutinar o País em torno de um projeto comum de desenvolvimento
nacional.
Aécio Neves é a alternativa antipetista para galgar o poder no segundo turno das
eleições presidenciais. Se Aécio Neves vencer as eleições presidenciais no segundo
turno e não tentar aglutinar a nação em torno de um projeto comum de desenvolvimento
nacional também fracassará porque o País continuará dividido e de difícil
governabilidade. Para Aécio Neves aglutinar a nação em torno de um projeto comum de
desenvolvimento nacional ele deveria, de início, enterrar o modelo neoliberal que vem
infelicitando a nação brasileira desde o governo Fernando Henrique Cardoso que já se
esgotou no governo Dilma Roussef e elaborar um plano estratégico de desenvolvimento
para o Brasil contando com a participação de representantes dos setores produtivos,
Estados, Municípios e da Sociedade Civil. É preciso não esquecer que Aécio Neves no
poder enfrentará a oposição raivosa do PT e seus aliados. Uma forma de neutralizar esta
oposição raivosa é se articulando com representantes dos setores produtivos, Estados,
Municípios e da Sociedade Civil.
O sucesso da aglutinação da nação em torno de um projeto comum de desenvolvimento
nacional depende também do esforço que o futuro governante faça objetivando a
descentralização administrativa do governo federal através da criação de estruturas
regionais que possibilitem a integração das ações dos governos federal, estadual e
municipal na promoção do desenvolvimento de cada região do Brasil. É preciso
considerar que a descentralização da máquina administrativa do governo é uma das
condições indispensáveis para a desconcentração econômica do Brasil. Para promover o
desenvolvimento econômico do Brasil deveria ser adotado em cada região o modelo de
desenvolvimento endógeno que enfatiza a necessidade de cada sociedade regional
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2. liderar e conduzir o seu próprio desenvolvimento regional, condicionando-o à
mobilização dos fatores produtivos disponíveis em sua área e ao seu potencial endógeno
contando com o apoio do governo federal, dos governos estaduais e municipais e com a
efetiva participação do setor privado e da Sociedade Civil organizada.
Aécio Neves fracassará como alternativa antipetista de governo se mantiver o
fracassado modelo neoliberal e não tentar aglutinar a nação em torno de um projeto
comum de desenvolvimento nacional nos termos acima propostos. Não basta derrotar
Dilma Roussef no segundo turno das eleições presidenciais. A legitimidade do governo
Aécio Neves só será alcançada se ele substituir o fracassado modelo neoliberal pelo
modelo de desenvolvimento com ênfase no mercado interno que é absolutamente
necessário porque o Brasil não pode continuar dependente das receitas de exportação,
especialmente da China que está apresentando desaceleração no seu crescimento e a
economia mundial se encontra em recessão rumo à depressão. A expansão do mercado
interno depende, entretanto, do incremento dos investimentos públicos e privados
visando a promoção do crescimento econômico.
Para aumentar os investimentos públicos, o governo precisa renegociar com seus
credores o pagamento do serviço da dívida pública interna alongando-o por um
determinado período de tempo e, de outro, fazer com que seus gastos correntes sejam
reduzidos drasticamente como, por exemplo, a redução do número de ministérios e de
cargos comissionados ocupados por partidários do atual governo, para dispor de
recursos públicos para investir, sobretudo na deficiente infraestrutura econômica
(energia, transportes e comunicações) e social (educação, saúde, habitação e
saneamento básico). Para aumentar os investimentos privados, o futuro governo precisa
adotar uma política de juros baixos e reduzir drasticamente a carga tributária.
Um governo que não se proponha a reestruturar a economia nacional nos termos acima
descritos estará fadado ao fracasso. O mesmo cenário de ingovernabilidade que haveria
com a reeleição de Dilma Roussef se reproduziria também com um governo Aécio
Neves que decida manter o “status quo” e não tome a iniciativa de se articular com
representantes dos setores produtivos, Estados, Municípios e da Sociedade Civil na
busca de solução para os problemas nacionais. A manutenção do “status quo” colocaria
o futuro governo Aécio Neves na vala comum do descrédito perante a nação.
Aécio Neves precisa entender que a nação brasileira está à espera de um governo que
seja a antítese do autoritário governo Dilma Roussef que nunca dialogou com a
sociedade visando a construção de um projeto comum de desenvolvimento nacional. A
nação está à espera de um governante que tenha a estatura de estadista como foi Getúlio
Vargas que promoveu a construção do Brasil moderno com o processo de
industrialização após a crise econômica mundial de 1929 e a Revolução de 1930. A
grave crise vivida atualmente pelo Brasil está a exigir um verdadeiro estadista no
comando da nação que reestruture a vida nacional em novas bases. A reestruturação da
vida nacional não deve se restringir apenas ao campo da economia. O avanço da
criminalidade na sociedade brasileira e da corrupção sistêmica no aparelho de Estado
está a exigir um governante que seja capaz de realizar esta tarefa com o apoio decidido
da maioria da nação.
Fernando Alcoforado, 74, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
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3. regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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