1) O professor Jorge Ferreira discursou para ex-alunos da PUC sobre o Brasil e a importância do engenheiro para o desenvolvimento do país.
2) Ele explicou como a tecnologia agregada aumenta o valor de um produto, usando como exemplo a banana versus a bananada.
3) Ferreira defendeu que o Brasil precisa desenvolver sua própria tecnologia para alcançar a soberania econômica e melhor distribuir a riqueza.
2. O professor da PUC / Rio de Janeiro,
Jorge Ferreira, deu um últim aula
a a
para seus ex-alunos, em 16 de
dezem de 2008. Diante de um
bro a
platéia de formandos, acom panhados
de seus pais, o professor paraninfo da
turm discursou sobre o Brasil.
a
Leia o que disse o Prof. Jorge Ferreira.
3. “Ilus trís s imos Cole g as da Me s a, S e nhor
Pre s ide nte , me us que ridos alunos , S e nhoras e
S e nhore s .
Para mim é um priv ilé g io te r s ido e s colhido
paraninfo de s ta turma. Es ta é como s e fôra a
última aula do curs o. O último e ncontro, que já
de ixa s audade s . Um mome nto fe s tiv o, mas
també m de re fle xão.
4. S e e u fos s e e s colhido paraninfo de uma turma de
dire ito, talv e z e u falas s e a importância do
adv og ado que de fe nde a jus tiça e não ape nas o
ré u. S e e u fos s e e s colhido paraninfo de uma
turma de me dicina, talv e z e u falas s e da
importância do mé dico que coloca o amor ao
próximo acima dos s e us lucros profis s ionais . Mas ,
como s ou paraninfo de uma turma de
e ng e nhe iros , v ou falar da importância do
e ng e nhe iro para o de s e nv olv ime nto do Bras il.
5. Para come çar, v amos falar de bananas e do
doce de banana, que e u v ou chamar de
bananada e s pe cial, inv e ntada (ou proje tada)
pe la nos s a v ov oz inha lá e m cas a, de pois que
v árias re ce itas prontas não de ram ce rto.
É is s o me s mo. Para e nte nde rmos a
importância do e ng e nhe iro v amos falar
de bananas , bananadas e v ov ó.
6. A banana é um re curs o natural, que não s ofre u
ne nhuma trans formação.
A bananada é =
a banana +
outros ing re die nte s +
a e ne rg ia té rmica forne cida pe lo fog ão +
o trabalho da v ov ó...
e +
o conhe cime nto, ou te cnolog ia da v ov ó.
7. A bananada é um produto pronto, que e u
v ou chamar de rique z a.
E a v ov ó?
Be m, a v ov ó é a dona do conhe cime nto,
uma e s pé cie de e ng e nhe ira da culinária.
8. Ag ora, v amos s upor que a banana e a
bananada s e jam v e ndidas .
Um quilo de banana cus ta um re al.
Já um quilo da bananada cus ta cinco re ais .
Por que e s s a dife re nça de pre ços ?
9. Porque quando nós colhe mos um cacho de bananas
na banane ira, criamos ape nas um e mpre g o: o de
colhe dor de bananas .
Ag ora, quando a v ov ó, ou a indús tria, faz a
bananada, e la cria e mpre g os na indús tria do
açúcar, da cana-de -açúcar, do g ás de inha,
coz
na indús tria de fog õe s , de pane las , de colhe re s
e até na de e mbalag e ns , porque tudo is to é
ne ce s s ário para s e fabricar a bananada.
10. Re s umindo, 1kg de bananada é mais
caro do que 1kg de banana porque a
bananada é ig ual banana mais
te cnolog ia ag re g ada, e a s ua fabricação
criou mais e mpre g os do que
s imple s me nte colhe r o cacho de
bananas da banane ira.
11. Ag ora v amos falar de outro e xe mplo que aconte ce
no dia-a-dia no comé rcio mundial de me rcadorias .
Em mé dia: 1kg de s oja cus ta US $ 0,10 (de z
ce ntav os de dólar), 1kg de automóv e l cus ta US $
10, is to é , 100 v e z e s mais , 1kg de apare lho
e le trônico cus ta US $ 100, 1kg de av ião cus ta
US $1.000 (10mil quilos de s oja) e 1kg de
s até lite cus ta US $ 50.000.
Ve jam, quanto mais te cnolog ia ag re g ada te m um
produto, maior é o s e u pre ço, mais e mpre g os
foram g e rados na s ua fabricação.
12. Os país e s ricos s abe m dis s o muito be m. Ele s
inv e s te m na pe s quis a cie ntífica e te cnológ ica.
Por e xe mplo: e le s nos v e nde m uma placa de
computador que pe s a 100g por US $ 250.
Para pag armos e s ta plaquinha e le trônica, o Bras il
pre cis a e xportar 20 tone ladas de miné rio de fe rro.
A fabricação de placas de computador criou milhare s
de bons e mpre g os lá no e s trang e iro, e nquanto que a
e xtração do miné rio de fe rro, cria pouquís s imos e
pé s s imos e mpre g os aqui no Bras il.
13. O Japão é pobre e m re curs os naturais , mas é um país
rico.
O Bras il é rico e m e ne rg ia e re curs os naturais , mas é um
país pobre .
Os país e s ricos , s ão ricos mate rialme nte porque e le s
produz e m rique z as .
Rique z a v e m de rico. Pobre z a v e m de pobre .
País pobre é aque le que não cons e g ue produz ir rique z as
para o s e u pov o.
S e cons e g uis s e , não s e ria pobre , s e ria país rico.
14. Gos taria de de ixar be m claro trê s cois as :
1º) quando me re firo à palav ra rique z a, não e s tou me
re fe rindo a jóias ne m a s upé rfluos . Es tou me re fe rindo
àque le s be ns ne ce s s ários para que o s e r humano v iv a
com um mínimo de dig nidade e conforto;
2º) não e s tou de fe nde ndo o cons umis mo mate rialis ta
como uma forma de v ida, muito pe lo contrário;
3º) e acho abomináv e l aque le s que colocam os v alore s
das rique z as mate riais acima dos v alore s da rique z a
inte rior do s e r humano.
15. Exis te m naçõe s que s ão ricas ,
mas que ag e m de forma
e xtre mame nte pobre e de s umana
e m re lação a outros pov os .
16. Cre io que ag ora pos s o falar do ponto principal.
Para que o nos s o Bras il torne -s e um País rico, com o s e u
pov o v iv e ndo com dig nidade , te mos que produz ir mais
rique z as .
Para tal, pre cis amos de conhe cime nto, ou te cnolog ia já que
te mos abundância de re curs os naturais e e ne rg ia.
E que m de s e nv olv e te cnolog ias s ão os cie ntis tas e os
e ng e nhe iros , como e s te s jov e ns que e s tão s e formando hoje .
Infe liz me nte , o Bras il é muito de pe nde nte da te cnolog ia
e xte rna.
Quando fabricamos be ns com alta te cnolog ia, faz e mos
ape nas a parte final da produção.
17. Por e xe mplo: o Bras il produz 5 milhõe s de te le v is ore s por
ano e ne nhum bras ile iro proje ta te le v is or. O miolo da TV,
do te le fone ce lular e de todos os apare lhos e le trônicos , é
todo importado.
S omos me ros montadore s de kits e le trônicos .
Cas os s e me lhante s també m aconte ce m na indús tria
me cânica, de re mé dios e , incrív e l, até na de alime ntos .
O Bras il e ntra com a mão-de -obra barata e os re curs os
naturais . Os proje tos , a te cnolog ia, o chamado pulo do
g ato, ficam no e s trang e iro, com os v e rdade iros donos do
ne g ócio.
Re s ta ao Bras il lidar com as chamadas caixas pre tas .
18. É importante compre e nde rmos que os
donos dos proje tos te cnológ icos s ão os
donos das de cis õe s e conômicas , s ão
os donos do dinhe iro, s ão os donos
das rique z as do mundo.
19. As s im como as ág uas dos rios corre m para o mar, as rique z as
do mundo corre m e m dire ção aos país e s de te ntore s das
te cnolog ias av ançadas .
A de pe ndê ncia cie ntífica e te cnológ ica acarre tou para nós
bras ile iros a de pe ndê ncia e conômica, política e cultural.
Não pode mos admitir a continuação da s ituação e s drúxula,
onde 70% do PIB bras ile iro é controlado por não re s ide nte s .
Ning ué m pode prog re dir e ntre g ando o s e u talão de che que s e
a chav e de s ua cas a para o v iz inho faz e r o que be m e nte nde r.
20. Eu te nho a conv icção que de s e nv olv ime nto
cie ntífico e te cnológ ico aqui no Bras il
g arantirá aos bras ile iros a s obe rania das
de cis õe s e conômicas , políticas e culturais .
Garantirá trocas mais jus tas no comé rcio
e xte rior.
Garantirá a criação de mais e me lhore s
e mpre g os .
21. E, s e toda a produção de rique z as for be m
dis tribuída, te re mos a e rradicação dos
g rav e s proble mas s ociais .
O curs o de e ng e nharia da PUC, com todas
as s uas pos s ív e is de ficiê ncias , v is a a formar
e ng e nhe iros capaz e s de de s e nv olv e r
te cnolog ias .
É o chamado e ng e nhe iro de conce pção, ou
e ng e nhe iro de proje tos .
22. Infe liz me nte , o me rcado nacionaliz ado ne m
s e mpre aprov e ita todo e s te pote ncial
cie ntífico dos nos s os e ng e nhe iros .
Nós , profe s s ore s , não pode mos nos curv ar
às de formaçõe s do me rcado.
Te mos que continuar formando e ng e nhe iros
com conhe cime ntos ig uais aos me lhore s do
mundo.
23. Eu pos s o g arantir a todos os pre s e nte s ,
principalme nte aos pais , que qualque r um de s te s
formandos é tão ou mais inte lig e nte do que qualque r
e ng e nhe iro ame ricano, japonê s ou ale mão.
Os me us quas e trinta anos de mag is té rio, le cionando
de s de o antig o g inás io até a univ e rs idade , dá-me
autoridade para afirmar que o bras ile iro não é infe rior
a ning ué m, pe lo contrário, diz e m até que s omos
muito mais criativ os do que os habitante s do
chamado prime iro mundo.
24. O que me re v olta, como profe s s or
cidadão, é v e r que as de cis õe s políticas
tomadas por pe s s oas de s pre paradas ou
corruptas , s ão re s pons áv e is pe la que ima
e de s truição de inte lig ê ncias bras ile iras
que pode riam, com o conhe cime nto
apropriado, trans formar o nos s o Bras il
num país flore s ce nte , prós pe ro e
s ocialme nte jus to.
25. Acre dito que o mundo ide al s e ja aque le totalme nte
g lobaliz ado, mas uma g lobaliz ação que inclua a
de mocratiz ação das de cis õe s e a dis tribuição jus ta do
trabalho e das rique z as .
Infe liz me nte , is to ainda e s tá long e de aconte ce r, até
por limitaçõe s fís icas da própria nature z a.
As s im, que m pe ns a que a s olução para os nos s os
proble mas v irá lá de fora, e s tá muito e ng anado.
26. O dia que um pre s ide nte da Re pública,
e m v e z de ficar pas s e ando como um
dândi pe los palácios do prime iro mundo,
re s olv e r lide rar um autê ntico proje to de
de s e nv olv ime nto nacional, ce rtame nte o
Bras il v ai pre cis ar, e m todas as áre as , de
pe s s oas be m pre paradas .
27. S ó as s im s e re mos capaz e s de caminhar com
autonomia e tomar de cis õe s que be ne ficie m
v e rdade irame nte a s ocie dade bras ile ira.
S e rá a cons trução de um Bras il re alme nte
mode rno, mais jus to, ins e rido de forma
s obe rana na e conomia mundial e não como
um re le s forne ce dor de re curs os naturais e
mão-de -obra av iltada.
28. Quando is to ocorre r, e e u e s pe ro que
s e ja e m bre v e , o nos s o País pode rá
aprov e itar de forma muito mais e ficaz a
inte lig ê ncia e o pre paro inte le ctual dos
bras ile iros e , e m particular, de todos
v ocê s , me us que ridos alunos , porque
v ocê s já foram te s tados e aprov ados .
29. Finalme nte , g os taria de parabe niz ar a
todos os pais pe la contribuição pos itiv a
que de ram à nos s a s ocie dade
pos s ibilitando a formação dos s e us
filhos no curs o de e ng e nharia da PUC.
A ale g ria dos s e nhore s , també m é a
nos s a ale g ria.
Muito Obrig ado."