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Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1

SADDHARMA-PUNDARIKA
OU

O Lótus Branco da Verdadeira Lei
Homenagem a Todos os Budas e Bodhisatvas
TRADUÇÃO: MARCOS BELTRÃO
www.marcosbeltrao.net
CAPÍTULO 1

INTRODUTÓRIO

ssim ouvi dizer. Uma vez quedava-se o Senhor em Ragagriha, na montanha de Gridhrakuta(1) ,
com uma numerosa assembléia de monges, mil e duzentos monges. Todos eles Arhats, sem
defeitos, livres de mundanidade, dotados de autodomínio, completamente emancipados em
pensamento e conhecimento, de casta nobre, parecidos a grandes elefantes, tendo completado o
que vieram fazer, cumprido com seu dever, completado suas tarefas, atingido seus objetivos; em
quem os elos que os ligavam à existência haviam se rompido por completo, cujas mentes se
encontravam perfeitamente emancipadas pelo conhecimento, que possuíam total perfeição no domínio
de seus pensamentos; que tinham as faculdades transcendentes; grandes discípulos, tais como o
venerável Agnata-Kaundinya, o venerável Asvagit, o venerável Vashpa, o venerável Mahanamam, o
venerável Bhadrika(2), o venerável Mahakasyapa, o venerável Kasyapa de Urunvilva, o venerável
Kasyapa de Nadi, o venerável Kayapa de Gaya (3), o venerável Sariputra, o venerável MahaMaudgalyayana(4), o venerável Maha-Katyayana (5), o venerável Aniruddha (6), o venerável Revata, o
venerável Kapphina, o venerável Gavampati, o venerável Pilindavatsa, o venerável Vakula, o venerável
Bharadvaga, o venerável Maha-Kaushthila, o venerável Nanda (aliás Mahananda), o venerável
Upananda, o venerável Sundara-Nanda, o venerável Purna Maitrayanitputra, o venerável Subhuti, o
venerável Rahula; com eles ainda outros grandes discípulos, como o venerável Ananda, ainda em
treinamento e dois mil outros monges, alguns deles ainda em treinamento, e outros mestres; com suas
mil monjas, tendo à frente Mahapragapati (6) e a monja Yasodhara, a mãe de Rahula, junto com seu
séquito; (além disto) com oitenta mil Bodhisatvas, todos incapazes de retrogradar em seu treinamento,
dotados das maravilhas da iluminação suprema e perfeita, estabelecidos na sabedoria; que movem
adiante a roda da lei que nunca se desvia; que haviam feito doações a milhares de Budas; que com
muitas centenas de milhares de Budas haviam plantado as raízes da bondade, tendo sido íntimos com
muitas centenas de milhares de Budas, e estando completamente penetrados em corpo e mente do
sentimento da compaixão; capazes de transmitir a sabedoria dos Tathagatas; muito sábios, tendo
alcançado a perfeição da sabedoria; famosos em muitas centenas de milhares de mundos; tendo salvo
muitas centenas de milhares de kotis de seres; tais como o bodhisatva Mahasatva Manjusri, como
príncipe real; os Bodhisatvas Mahastavas Avalokitesvara, Mahasthamaprapta, Sarvarthanaman,
Nityodyukta, Anikshiptadhura, Ratnapani, Baishagyaraga, Pradanasura, Ratnakandra, Ratnaprabha,
Purnakandra,
Mahavikramin,
Trailokavikramin,
Anantavikramin,
Mahapratibhana,
Satatasamitabhiyukta, Dharanidara, Akshayamati, Padmasri, Nakshatraraga, o Bodisatva Mahasatva
Maitreya, o Bodisatva Mahasatva Simha.

A

1
Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1

Com eles se encontravam igualmente os dezesseis homens virtuosos, a começar com
Bhadrapala, ou seja, Bhadrapala, Ratnakara, Susarthavaha, Naradatta, Guhagupta, Varunadatta,
Indradatta,
Uttaramati,
Viseshamati,
Vardharmanamati,
Amoghadarsin,
Susamsthita,
Suvikrantavikramin, Anupamamati, Sutyagarbha e Dharanidhara; além de oitenta mil Bodhisatvas,
dentre os quais os acima citados sendo os líderes; além destes, Sakra, o regente dos seres celestes, com
vinte mil deuses, seus seguidores, como o Deus Kandra (a Lua), o Deus Surya (o Sol), o Deus
Samantagandha (o Vento), o Deus Ratnaprabha, o Deus Avabhasaprabha, e outros; além destes, os
quatro grandes regentes dos pontos cardeais com outros trinta mil deuses em seus séquitos, a saber, o
grande regente Virudhaka, o grande regente Virupaksha, o grande regente Dhritarashtra, e o grande
regente Vaisravana; o Deus Isvara e o Deus Mahesvara, cada qual seguido de trinta mil deuses; além
disto Brahma Sahampati e seus doze mil discípulos, os deuses Brahmakayika, entre eles Brahma Sikhin
e Brahma Gyotishprabha, com os outros doze mil deuses Brahamakayika; junto com os oito reis Naga
e muitas centenas de milhares de kotis de Nagas em seus séquitos, a saber, o rei Naga Nanda, o rei
Naga Upananda, Sagara, Vasuki, Takshaka, Manasvin, Anavatapta, e Utpalaka; além destes, estavam
também os quatro reis Kinnara com muitas centenas de milhares de kotis de discípulos, a saber, o rei
Kinnara Druma, o rei Kinnara Mahadharma, o rei Kinnara Sudharma, e o rei Kinnara Dharmadhara.;
além disto os quatro seres divinos (conhecidos como) Gandharvakayikas com muitas centenas de
milhares de Ganhdarvas em seus séquitos, a saber o Gandharva Manogna, o Gandharva
Manognasvara, o Gandharva Madhura, e o Gandharva Madhurasvara; além disto, os quatro chefes dos
demônios seguidos de muitas centenas de milhares de kotis de demônios, a saber, o chefe dos
demônios Bali, Kharaskandha, Vemakitri e Rahu; junto com os quatro chefes Garuda seguidos de
muitas centenas de milhares de miríades de kotis de Garudas, a saber os chefes Garudas Mahategas,
Mahakaya, Mahapurna, e Maharddhiprapta, e com Agatasatru, rei de Magadha e filho de Vaidehi.
Naquele tempo o Senhor foi cercado, assistido, honrado, reverenciado, venerado, louvado pelos
quatro tipos de ouvintes, depois de expor o Dharmaparyaya chamado ‘a Grande Exposição,’ um texto
muito importante, servindo para instruir os Bodhisatvas e dirigido a todos os Budas, e, tendo sentado
de pernas cruzadas no assento da lei, entrou na meditação denominada ‘a estação da exposição do
Infinito’; seu corpo ficou imóvel e sua mente havia alcançado a perfeita tranqüilidade. Tão logo o
Senhor deu entrada em sua meditação, uma grande chuva de flores divinas foi vertida, Mandaravas e
grandes Mandaravas, Mangushakas e grandes Mangushakas, cobrindo o Senhor e as quatro classes de
ouvintes, enquanto que todo o campo de Buda tremia de seis maneiras: movendo-se, remexendo-se,
tremendo, tremendo de um fim a outro, sacudindo-se e sacudindo junto.
Então aqueles que estavam reunidos e sentados naquela congregação, monges, monjas, leigos
devotos, homens e mulheres, deuses, Nagas, duendes, Gandharvas, demônios, Garudas, Kinnaras,
grandes serpentes, homens e seres não humanos, assim como governadores de uma região, líderes de
exércitos e regentes dos quatro continentes, todos eles com seus séquitos, fitaram o Senhor com
assombro, com admiração, em êxtase.
E naquele momento projetou-se um raio de dentro do círculo de cabelo entre as sobrancelhas
do Senhor. Estendeu-se por dezoito centenas de milhares de campos-de-Buda na região do leste, de
forma que todos aqueles campos de Buda apareceram totalmente iluminados por sua radiância, até o
grande inferno de Aviki e até os limites da existência. E os seres em quaisquer dos seis estados de
existência tornaram-se visíveis, todos sem exceção. De forma idêntica os Senhores Budas quedando-se,
vivendo e existindo naqueles campos de Buda tornaram-se todos visíveis e a lei pregada por eles foi
capaz de ser ouvida completamente por todos os seres. E os monges, monjas, devotos leigos, homens
e mulheres, Yogins e alunos de Yoga, aqueles que haviam obtido a fruição (dos Caminhos de
Santidade) e aqueles que ainda não o haviam feito, eles, também tornaram-se visíveis. E os
Bodhisatvas, Mahasatvas naqueles campos de Buda que trilhavam o curso do Bodhisatva com
habilidade, devido às suas sinceras crenças em numerosas e variadas lições e nas idéias fundamentais,
eles também, tornaram-se todos visíveis. E as Stupas, feitas de jóias e contendo as relíquias dos Budas
extintos tornaram-se todas visíveis naqueles campos de Buda. Então surgiu na mente do Bodhisatva
Mahasatva Maitreya este pensamento: Ó, que grande maravilha nos mostra o Tathagata! Qual poderia
ser a causa disto, qual a razão para que o Senhor produza uma tão grande maravilha com essa? E tais
milagres surpreendentes, prodigiosos, inconcebíveis, poderosos agora aparecem, apesar do Senhor
estar absorvido em meditação! Por que, deixai-me inquirir mais sobre esse assunto; quem aqui poderia
2
Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1

me explicar isto? Ele então pensou: Aqui está Manjusri, o príncipe real, que exerceu seu ofício sob
Ginas anteriores e plantou as raízes da bondade, enquanto reverenciava muitos Budas. Manjusri, o
príncipe real, deve ter testemunhado antes tais sinais de Tathagatas anteriores, aqueles Arhats, aqueles
Budas perfeitamente iluminados; desde então deve ele ter desfrutado dos grandes diálogos sobre a lei.
Heis pois que eu lhe perguntarei sobre isto, a Manjusri, o príncipe real.
E as quatro classes de audiência, monges, monjas, leigos devotos homens e mulheres, deuses
numerosos, Nagas, duendes, Gandharvas, demônios, Garudas, Kinnaras, grandes serpentes, homens, e
seres não humanos, ao constatarem a magnificência deste grande milagre do Senhor, foram tomados
de assombro, surpresa e curiosidade, e pensaram: Inquiramos porque este milagre magnífico foi
produzido pelo grande poder do Senhor.
Ao mesmo tempo, naquele mesmo instante, o Bodhisatva Mahasatva Maitreya soube o que eles
pensavam, os pensamentos que surgiram nas mentes dos quatro tipos de ouvintes e ele disse a
Manjusri, o príncipe real: Qual, Ó Manjusri, é a causa, qual a razão deste maravilhoso, prodigioso,
miraculoso brilho que foi produzido pelo Senhor? Vede, como estes dezoito mil campos de Buda
aparecem variegados, extremamente bonitos, dirigidos por Tathagatas e controlados por Tathagatas.
Então Maitreya, o Bodhisatva Mahasatva, dirigiu-se a Manjusri, o príncipe real, nas seguintes
estrofes:
1. Por que, Manjusri, brilha este facho dirigido pelo que guia os homens, dentre suas
sobrancelhas? Este raio único partindo do círculo de cabelo? E por que esta chuva abundante de
Mandaravas?
2. Os deuses, exultantes, verteram Mangushakas e pó de sândalo, divinos, fragrantes e
deliciosos.
3. Esta terra está, em todos os lados, repleta de esplendor e todas as quatro classes da
assembléia estão cheias de deleite, enquanto que o campo inteiro treme em seis diferentes direções,
ameaçadoramente.
4. E aquele facho na região leste ilumina todos os dezoito mil campos de Buda,
simultaneamente, de tal forma que aqueles campos aparecem como tingidos de ouro.
5. (O universo) tão longínquo quanto (o inferno) de Aviki (e) o extremo limite da existência,
com todos os seres naqueles campos vivendo em quaisquer dos seis estados de existência, aqueles que
estão deixando um estado para nascerem em outro.
6. As suas variadas e diferentes ações naqueles estados tornaram-se todas visíveis; quer
estejam eles em uma posição feliz, infeliz, baixa, eminente ou intermediária, tudo isto eu posso ver
deste lugar.
7. Vejo também os Budas, aqueles leões de reis, revelando e mostrando a essência da lei,
confortando a muitos kotis de criaturas e emitindo doces vozes.
8. Eles emitem, cada qual em seu próprio campo, uma voz profunda, sublime, maravilhosa,
enquanto que proclamam as leis de Buda por intermédio de miríades de kotis de ilustrações e provas.
9. E às criaturas ignorantes que estão oprimidas com trabalhos e aflitas em mente pelo
nascimento e velhice, eles anunciam a fruição do Descanso, dizendo: Este é o fim das dificuldades, Ó
monges.
10. E àqueles que estão em suas forças e plenitudes e que adquiriram mérito em virtude da
crença sincera nos Budas, eles mostram o veículo dos Pratyekabudas, observando esta regra da lei.
11. E os outros filhos do Sugata, que, procurando o conhecimento superior, constantemente
realizando suas várias tarefas, a eles também os incita à iluminação.
12. Deste lugar, Ó Mangughosha, eu vejo e ouço tais coisas e milhares de kotis de outros
particulares além disto; eu apenas descreverei alguns deles.
13. Eu vejo em muitos campos Bodlhisatvas por muitos milhares de kotis, como as areias do
Ganges, que estão produzindo a iluminação de acordo com os diferentes graus de seu poderes.
14. Há alguns que caridosamente dão riquezas, ouro, prata, dinheiro em ouro, pérolas, jóias,
conchas de moluscos, pedras, coral, escravos homens e mulheres, cavalos e ovelhas;
15. Assim como liteiras adornadas de jóias. Eles estão dando oferendas de coração alegre,
desenvolvendo-se para a iluminação superior, na esperança de obterem o veículo.

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Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1

16. (Assim pensam eles): ‘O melhor e mais excelente veículo em todo mundo tríplice é o
veículo de Buda elogiado pelos Sugatas. Possa eu, com efeito, obtê-lo logo depois de ter dado tais
oferendas.”
17. Alguns dão carruagens puxadas por quatro cavalos e equipadas com assentos, flores,
bandeirolas, e bandeiras; outros dão objetos feitos de substâncias preciosas.
18. Outros, ainda, dão suas crianças e mulheres; outros suas próprias carnes; (ou) oferecem,
quando pedidos, suas mãos e pés, almejando atingir a iluminação suprema.
19. Alguns dão suas cabeças, outros suas vistas, outros seus próprios corpos queridos, e
depois de oferecerem alegremente os seus presentes eles aspiram ao conhecimento dos Tathagatas.
20. Aqui e ali, Ó Manjusri, eu percebo seres que abandonaram seus reinos florescentes,
haréns e continentes, deixaram todos os seus conselheiros e parentes,
21. E dirigindo-se aos guias do mundo para perguntar sobre a lei muito excelente, para o
deleite, envergam mantos amarelos-alaranjados e raspam suas cabeças e barbas.
22. Eu vejo também muitos Bodhisatvas como os monges, vivendo na floresta, e outros
habitando os desertos vazios, aplicando-se a recitar e a ler.
23. E alguns Bodhisatvas eu vejo que, cheios de sabedoria (ou constância), dirigem-se às
cavernas nas montanhas, onde pelo cultivo e meditação no conhecimento-de-Buda, chegam à sua
percepção.
24. Outros que renunciaram a todos os desejos sensuais, purificando-se, limparam a sua
esfera e obtiveram as cinco faculdades transcendentes, vivendo no deserto, como (verdadeiros) filhos
do Sugata.
25. Alguns quedam-se firmes, os pés juntos e as mãos reunidas como mostra de respeito aos
líderes, e estão alegremente a louvar o rei dos maiores Ginas em milhares de estrofes.
26. Alguns pensativos, humildes, e tranqüilos, que dominaram as sutilezas do caminho do
dever, perguntam ao mais elevado dos homens pela lei, e retêm em sua memória o que aprenderam.
27. E eu vejo aqui e ali alguns filhos do Gina principal que, depois de se desenvolverem,
pregam a lei a muitos kotis de seres vivos com muitas miríades de ilustrações e razões.
28. Alegremente proclamam a lei, despertando muitos Bodhisatvas; depois de conquistarem
ao Maligno com seus séquitos e veículos, eles ressoam o tambor da lei.
29. Eu vejo alguns filhos do Sugata, humildes, calmos e quietos em conduta, vivendo sob o
comando dos Sugatas e honrados por homens, deuses, duendes e Titãs.
30. Outros novamente, que se retiraram às florestas espessas, estão a salvar as criaturas nos
infernos emitindo uma radiância de seus corpos, e os despertando para a iluminação.
31. Há alguns filhos do Gina que moram na floresta, vigorosos, renunciando completamente
ao desleixe, e ativamente engajados em caminhar; é pela energia que eles lutam pela iluminação
suprema.
32. Outros completam o seu curso mantendo uma constante pureza e uma moralidade não
quebrada como pedras preciosas e jóias; pela moralidade lutam estes pela iluminação suprema.
33. Alguns filhos do Gina, cuja força consiste na abstenção, pacientemente agüentam o
abuso, a censura, e as ameaças de monges orgulhosos. Eles tentam atingir a iluminação por virtude da
abstenção.
34. Além disto, eu vejo Bodhisatvas, que abdicaram a todos os prazeres casuais, evitam
companhias não-sábias e deleitam-se em ter intercurso com homens gentis (aryas);
35. Que, evitando quaisquer distrações de pensamentos, e com uma mente atenta, durante
milhares de kotis de anos meditaram em cavernas do deserto; estes lutam pela iluminação por força da
meditação.
36. Alguns, por outro lado, oferecem na presença dos Ginas e na assembléia de discípulos
presentes (consistindo) de comida dura e macia, carne e bebida, medicamentos para os doentes, em
quantidade e abundância.
37. Outros oferecem na presença dos Ginas e na assembléia dos discípulos centenas de kotis
de roupas, valendo milhares de kotis, e roupas de valor incalculável.
38. Eles ofertam em presença dos Sugatas centenas de kotis de mosteiros que fizeram
construir de substâncias preciosas e madeira de sândalo, e que estão equipados com numerosos
alojamentos (ou camas).
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Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1

39. Alguns presenteiam os líderes dos homens e seus discípulos com jardins bem tratados e
belos, cheios de árvores frutíferas e flores lindas, para servir como lugares de recreação diária.
40. Quando fizeram, com sentimentos alegres, tais donativos vários e esplêndidos,
despertaram sua energia para alcançar a iluminação; estes são aqueles que lutam por alcançar a suprema
iluminação por intermédio da ação altruísta.
41. Outros sustentam a lei da quietude, por muitas miríades de ilustrações e provas; eles a
pregam a milhares de kotis de seres vivos; esses tendem à iluminação suprema pela ciência.
42. (Existem) filhos do Sugata que tentam alcançar a iluminação pela sabedoria; eles
compreendem a lei da equanimidade e evitam agir pela antinomia (das coisas), desapegados como
pássaros no céu.
43. Além disso, eu vejo, Ó Mangughosha, muitos Bodhisatvas que demonstraram firmeza
sob o comando de Sugatas que já se foram e agora estão venerando as relíquias dos Ginas.
44. Eu vejo milhares de kotis de Stupas, numerosas como as areias do Ganges, que foram
erigidas por esses filhos do Gina e agora adornam a kotis de terrenos.
45. Aquelas magníficas Stupas, feitas das sete substâncias preciosas, com seus milhares de
kotis de pára-sóis, e bandeirolas, medem em altura não menos que 5000 yoganas e 2000 yoganas de
circunferência.
46. Elas estão sempre decoradas com bandeiras; uma multidão de sinos é constantemente
ouvida a badalar; homens, deuses, duendes e Titãs prestam sua veneração com flores, perfumes e
música.
47. Tal honra prestam os filhos do Sugata às relíquias dos Ginas, de forma que todas direções
do espaço estão refulgindo como se fossem árvores de coral celeste em plena floração.
48. Desta localização eu vejo tudo isso; aqueles numerosos kotis de criaturas; tanto esse
mundo como o céu cobertos de flores, devido a um só raio de luz partindo do Gina.
49. Ó quão poderoso é o Líder dos homens! Com é extenso e brilhante o seu conhecimento!
Que um só raio emitido por ele pelo mundo afora, torne visível tantos milhares de campos!
50. Estamos atônitos de constatar esse sinal e essa maravilha tão grande, tão
incompreensível. Explicai-me essa questão, Ó Mangusvara! Os filhos do Buda estão ansiosos para disto
se inteirar.
51. As quatro classes da congregação com alegre expectativa vos fitam, Ó heróis, e a mim;
alegrai (os seus corações); removei as suas dúvidas; concedei uma revelação, Ó filho do Sugata!
52. Por que o Sugata emitiu agora uma tal luz? Ó, quão grande é o poder do líder dos
homens! Ó quão extenso e sagrado é o seu conhecimento!
53. Aquele raio estendendo-se a partir dele por todo o mundo torna visível muitos milhares
de campos. Deve ser por algum motivo que esse grande raio foi emitido.
54. Será revelado pelo Senhor dos homens as leis primordiais que ele, o mais Elevado dos
homens, descobriu no terreno da iluminação? Ou profetizará ele aos Bodhisatvas os seus destinos
futuros?
55. Deve haver uma sólida razão porque foram feitos visíveis tantos milhares de campos,
variegados, esplêndidos, e brilhando com jóias, enquanto Budas de visão infinita estão aparecendo.
56. Maitreya pergunta ao filho do Gina; homens, deuses, duendes, e Titãs, as quatro classes da
congregação ansiosamente aguardam que resposta Mangusvara dará explicando isto.
Com isso, Manjusri, o príncipe real, se dirigiu a Maitreya, o Bodhisatva Mahasatva, e a toda a
assembléia dos Bodhisatvas (nestas palavras): é a intenção do Tathagata, moços de boa família,
começar um grande discurso para o ensinamento da lei, fazer ressoar o grande tambor da lei, levantar a
grande bandeira da lei, acender a grande tocha da lei, soprar a grande trombeta em concha da lei, e
bater o grande címbalo da lei. Novamente, é a intenção do Tathagata, moços de boa família, fazer uma
grande exposição da lei neste mesmo dia. Assim me parece, moços de boa família, como já
testemunhei um sinal parecido dos Tathagatas passados, os Arhats, os perfeitamente iluminados.
Aqueles Tathagatas passados, etc., eles também emitiram um raio brilhante e eu estou convencido que
o Tathagata está por pregar um grande discurso para o ensinamento da lei e tornar o seu grande
discurso da lei por toda parte conhecido, tendo mostrado um tal sinal prévio. E porque o Tathagata,
etc., deseja que este Dharmaparyaya, que encontra oposição por todo mundo seja ouvido por todos,
5
Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1

por isso ele mostra um tão grande milagre, e este sinal prévio, esse lustro ocasionado pela emissão de
um raio.
Eu me recordo, moços de boa família, que nos dias de antanho, muitos Aeons imensuráveis,
inconcebíveis, imensos, infinitos, incontáveis, mais do que incontáveis Aeons atrás, não, muito, mas
muito antes no tempo, nasceu um Tathagata chamado Kandrasuryapradipa, um Arhat, etc. agraciado
com a ciência e a conduta, um Sugata, conhecedor do mundo, um incomparável instrutor de homens,
um mestre (e regente) de deuses e homens, um Buda e Senhor. Ele demonstrou a lei; ele revelou o
curso devido que é sagrado no começo, que é sagrado no meio e que é sagrado no fim, bom na
substância e na forma, completo e perfeito, correto e puro. Isso eqüivale a dizer, aos discípulos ele
pregou a lei contendo as quatro Nobres Verdades, e começando da corrente de causas e efeitos,
tendendo a ir além do nascimento, decrepitude, doença, morte, tristeza, lamentação, dor, pesar,
desânimo, e finalmente conduzindo ao Nirvana; e aos Bodhisatvas ele pregou a lei relacionada com as
seis Perfeições, e terminando com o conhecimento do Onisciente, depois de alcançar a iluminação
suprema e perfeita.
(Agora, moços de boa família, longo tempo antes do Tathagata Kandrasuryapradipa, o Arhat,
etc., apareceu um Tathagata, etc., de forma idêntica chamado Kandrasyryapradipa, depois do qual, Ó
Agita, houveram vinte mil Tathagatas, etc., todos eles tendo o nome de Kandrasuryapradipa, da mesma
linhagem e nome de família, isto é, de Bharadvaga. Todos aqueles vinte mil Tathagatas, Ó Agita, do
primeiro ao último, revelaram a lei, mostraram o caminho que é sagrado no começo, sagrado no meio
e sagrado no fim, etc. etc.)
O acima mencionado Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagta, etc., quando um jovem príncipe
e não ainda tendo deixado a sua casa (para entrar na vida ascética), teve oito filhos, a saber, os jovens
príncipes Sumati, Anantamati, Ratnamati, Viseshamati, Vimatisamudghatin, Goshamati, e Dharmamati.
Esses oito jovens príncipes, Agita, filhos do Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagata, tinham uma
imensa fortuna. Cada qual deles estava em possessão de quatro grandes continentes onde exerciam a
prerrogativa real. Quando viram que o Senhor havia deixado a sua casa para se tornar um asceta, e
ouviram que ele havia alcançado a iluminação suprema e perfeita, eles abandonaram, todos eles, os
prazeres da realeza e seguiram o exemplo do senhor renunciando ao mundo; todos eles lutaram por
alcançar a iluminação superior e se tornar pregadores da lei. Enquanto que constantemente levando
uma vida sagrada, aqueles jovens príncipes plantaram as raízes da bondade sob muitos milhares de
Budas.
Foi naquele tempo, Agita, que o Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagata, etc., depois de expor
o Dharmaparyaya chamado ‘a Grande Exposição,’ um texto de grande extensão, servindo para instruir
os Bodhisatvas e apropriado a todos os Budas, no mesmo momento e instante, no mesmo
agrupamento de classes de ouvintes, sentou-se de pernas cruzadas no mesmo assento da lei, e entrou
na meditação chamada ‘A Estação da exposição do Infinito’; seu corpo estava imóvel e sua mente
havia alcançado a tranqüilidade perfeita. Tão logo o Senhor entrou em meditação, foi vertida uma
grande chuva de flores divinas, Mandaravas e grandes Mandaravas, Mangushakas e grandes
Mangushakas, cobrindo o Senhor e as quatro classes de ouvintes, enquanto todo o campo de Buda
tremeu de seis maneiras; moveu-se, remexeu-se, tremeu, tremeu de uma extremidade à outra, sacudiu e
sacudiu de frente.
Então fitaram, aqueles que estavam reunidos e sentados juntos na congregação, monges, monjas,
leigos devotos homens e mulheres, deuses, Nagas, duendes, Gandharvas, demônios, Garudas,
Kinnaras, grandes serpentes, homens e seres não humanos, assim como governadores de uma região,
líderes de exércitos e regentes dos quatro continentes, todos eles com seus séquitos, ao Senhor com
assombro, com espanto, em êxtase.
E naquele momento emitiu-se um facho dentre o círculo de cabelo entre as sobrancelhas do
Senhor. Estendeu-se por dezoito centenas de milhares de campos de Buda na região leste, de forma
que todos aqueles campos de Buda apareceram totalmente iluminados pela sua radiação, assim como o
fazem os campos de Buda agora, Ó Agita.
(Naquela conjuntura, Agita, havia vinte kotis de Bodhisatvas seguindo o Senhor. Todos os
ouvintes da lei naquela assembléia, vendo como o mundo estava iluminado pelo lustro daquele raio,
sentiu assombro, espanto, êxtase, e curiosidade.)
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Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1

Agora aconteceu, Agita, que sob o reino do Senhor acima mencionado, havia um Bodhisatva
chamado Varaprabha, que tinha oitocentos discípulos. Foi a esse Bodhisatva Varaparabha que o
Senhor, levantando-se de sua meditação, revelou o Dharmaparyaya chamado ‘O Lótus Branco da
Verdadeira Lei’. Ele falou plenamente durante sessenta kalpas intermediários, sempre sentando-se no
mesmo assento, com o corpo imóvel e mente serena. E toda a assembléia continuou a sentar nos
mesmo assentos, ouvindo a pregação do Senhor durante sessenta kalpas intermediários, não havendo
uma só criatura naquela assembléia que tenha sentido fadiga de corpo ou mente.
Assim como anunciava o Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagata, etc., durante sessenta kalpas
intermediários, o Dharmaparyaya chamado ‘o Lótus da Verdadeira Lei,’ um texto de grande amplidão,
servindo para instruir aos Bodhisatvas e adequado a todos os Budas, ele instantaneamente anunciou o
seu Nirvana completo ao mundo, inclusive aos deuses, Maras e Brahmas, a todas as criaturas, inclusive
ascetas, Brahmans, deuses, homens, e demônios, dizendo: Hoje, Ó monges, nesta mesma noite, na
vigília do meio, irá o Tathagata, entrando no elemento do Nirvana absoluto, tornar-se completamente
extinto.
Nisso, Agita, o Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagata, etc., predestinou o Bodhisatva
chamado Srigarbha à iluminação suprema e perfeita e então falou assim à toda assembléia: Ó monges,
este Bodhisatva Srigarbha aqui presente alcançará, imediatamente depois de mim, a iluminação
suprema e perfeita, e se tornará Vimalanetra, o Tathagata, etc.
Daí para frente, Agita, naquela mesma noite, naquela mesma vigília, o Senhor
Kandrasuryapradipa, o Tathagata, etc. extinguiu-se pela entrada no elemento do Nirvana absoluto. E o
Dharmaparyaya acima mencionado, chamado ‘o Lótus da Verdadeira Lei,’ foi guardado de memória
pelo Bodhisatva Mahasatva Varaprabha; durante oitenta kalpas intermediários manteve e revelou o
comando do Senhor que havia entrado no Nirvana. Agora, aconteceu, Agita, que os oito filhos do
Senhor Kandrasuryapradipa, Mati e o resto, eram discípulos daquele mesmo Bodhisatva Varaprabha.
Eles foram por ele amadurecidos para a iluminação suprema e perfeita, e em tempos posteriores eles
viram e reverenciaram a muitas centenas de milhares de kotis de Budas, todos os quais haviam atingido
a iluminação suprema e perfeita, o último deles sendo Dipankara, o Tathagata, etc.
Dentre aqueles oito discípulos havia um Bodhisatva que dava muito valor ao ganho mundano, a
honrarias e a ser bem considerado, e gostava da glória, mas todas as palavras e letras que se lhes
ensinavam, desapareciam (de sua memória), não aderindo. Então ele foi apelidado de Yasaskama. Ele
havia propiciado a muitas centenas de milhares de miríades de kotis de Budas por aquela raiz de
bondade, e mais tarde os estimado, honrado, respeitado, reverenciado, venerado, e adorado. Talvez,
Agita, sintas alguma dúvida, perplexidade ou arrependimento que naqueles dias, naquele momento,
havia um outro Bodhisatva Mahasatva Varaprabha, que pregava a lei. Mas não penses assim. Por que?
Porque sou eu mesmo que naqueles dias, naquele tempo, era o Bodhisatva Mahasatva Varaprabha, que
pregava a lei; e aquele Bodhisatva chamado Yasaskama, o preguiçoso, eras tu mesmo, Agita, que
naqueles dias, naquele tempo, eras o Bodhisatva chamado Yasaskama, o preguiçoso.
E assim, Agita, tendo uma vez visto um aviso prévio semelhante do Senhor, eu deduzo de um
faixo parecido sendo emitido justo agora, que o Senhor está por expor o Dharmaparyaya chamado ‘O
Lótus Branco da Verdadeira Lei.’
E naquela ocasião, para tratar do assunto mais copiosamente, Manjusri, o príncipe real,
pronunciou as seguintes estrofes:
57. Eu me lembro de um período passado, a inconcebíveis, ilimitados kalpas atrás, quando o
mais elevado dos seres, o Gina de nome Kandrasuryapradipa, existia.
58. Ele pregava a verdadeira lei, ele, o líder das criaturas; ele educava um número infinito de
kotis de seres, e despertava inconcebivelmente numerosos Bodhisatvas para adquirir o supremo
conhecimento de Buda.
59. E os oito filhos nascidos dele, o líder, quando era príncipe real, tão logo viram que o
grande sábio havia abraçado a vida ascética, renunciaram aos prazeres mundanos e se tornaram
monges.
60. E o Senhor do mundo proclamou a lei, e revelou a milhares de kotis de seres vivos o
Sutra, o desenvolvimento, que por isso é conhecido como ‘a Excelente Exposição do Infinito.’

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Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1

61. Imediatamente após pronunciar o seu discurso, o líder cruzou suas pernas e entrou na
meditação chamada de ‘a Excelente Exposição do Infinito.’ Lá no seu assento da lei o vidente
continuou absorvido na meditação.
62. E tombou uma chuva celeste de Mandaravas, enquanto que os tambores (celestes)
ressoaram sem serem tocados; os deuses e serafins no céu prestaram homenagem ao mais elevado dos
homens.
63. E simultaneamente todos os campos (de Buda) começaram a tremer. Uma maravilha foi,
um grande prodígio. Então o chefe emitiu, dentre as suas sobrancelhas um raio extremamente bonito.
64. Que, movendo-se desde a região leste brilhou, iluminando o mundo todo pela extensão
de dezoito mil campos. Manifestou o aparecer e o fenecer dos seres.
65. Alguns dos campos então se pareciam a jóias, outros mostravam a tonalidade de lapislazúli, todos esplêndidos, extremamente bonitos, devido à radiância do raio do líder.
66. Deuses e homens, bem como Nagas, duendes, Gandharvas, ninfas, Kinnaras, e aqueles
ocupados em servir ao Sugata tornaram-se visíveis nas esferas e prestaram as suas devoções.
67. Os Budas também, aqueles seres auto-gerados, apareceram por suas próprias vontades,
parecendo-se a colunas de ouro; como um disco dourado (dentro do lápis-lazúli), eles revelaram a lei
no meio da assembléia.
68. Os discípulos, verdadeiramente, não podiam ser contados: os discípulos do Sugata são
sem número. E contudo o lustro do raio os torna a todos visíveis em todo o campo.
69. Enérgicos, sem quebra ou falha em seus cursos, parecidos com gemas e jóias, os filhos
dos líderes dos homens são visíveis nas cavernas das montanhas onde estão morando.
70. Numerosos Bodhisatvas, como as areias do Ganges, que estão gastando toda a sua
riqueza fazendo doações, que têm a força da paciência, são dedicados à contemplação e sábios,
tornam-se todos visíveis com aquele raio.
71. Imóveis, inabaláveis, firmes na paciência, dedicados à contemplação e absortos em
meditação são vistos os verdadeiros filhos dos Sugatas enquanto estão lutando pela iluminação
suprema por força da meditação.
72. Eles expõe a lei em muitas esferas, e indicam o estado verdadeiro, quieto, sem máculas,
que conhecem. Tal é o efeito produzido pelo poder do Sugata.
73. E todas as quatro classes de ouvintes vendo a força do poderoso Kandrarkadipa
encheram-se de alegria e perguntaram-se uns aos outros: Como é que isso acontece?
74. E logo mais tarde, quando o líder do mundo, venerado por homens, deuses e duendes,
levantou-se de seu assento de meditação, se dirigiu a seu filho Varaprabha, o sábio Bodhisatva, e
expositor da lei:
75. “Sois sábio, o olho e o refúgio do mundo; sois o fiel guardião de minha lei, e podes dar
testemunho ao tesouro de leis que eu exporei para alívio de todos os seres vivos.”
76. Então depois de despertar, estimular, elogiar e louvar a muitos Bodhisatvas, proclamou o
Gina as leis supremas durante sessenta kalpas intermediários.
77. E qualquer lei suprema excelente que tenha sido exposta pelo Senhor do mundo
enquanto se quedava continuamente no mesmíssimo assento, foi memorizada por Varaprabha, o filho
do Gina, o expositor da Lei.
78. E depois que o Gina e Líder havia manifestado a Lei suprema e estimulado à multidão
variegada, ele falou, naquele dia, para a multidão, incluindo-se os deuses (como se segue):
79. “Eu manifestei a regra da Lei; eu mostrei a natureza da Lei; agora, Ó monges, é o tempo
do meu Nirvana; nesta noite mesma, na vigília do meio.
80. “Sede zelosos e fortes em persuasão; aplicai-vos às minhas lições; pois os Ginas, os
grandes videntes, são apenas raramente encontrados no lapso de miríades de kotis de Aeons.”
81. Os muitos filhos do Buda foram tomados de pesar e se encheram de tristeza extrema
quando ouviram a voz do mais elevado dos homens anunciar que o seu Nirvana estava próximo.
82. Para consolar a tantos inconcebivelmente numerosos kotis de seres vivos, o rei dos reis
disse: “Não temei, Ó monges; depois de meu Nirvana haverá um outro Buda.
83. “O sábio Bodhisatva Srigarbha, depois de terminar o seu curso em conhecimento
impecável, alcançará a mais elevada iluminação suprema e se tornará um Gina sob o nome de
Vimalagranetra.”
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Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1

84. Naquele mesma noite, na vigília do meio, ele teve a sua completa extinção, como uma
lâmpada quando a causa (do seu queimar) se acaba. Suas relíquias foram distribuídas, e de suas Stupas
havia um número infinito de miríades de kotis.
85. Os monges e monjas naquele momento, que buscavam a iluminação suprema mais
elevada, sendo numerosos como as areias do Ganges, se aplicaram ao comando do Sugata.
86. E monge que então era o expositor e guardião da Lei, Varaprabha, expôs as leis mais
elevadas durante oitenta kalpas intermediários plenamente, de acordo com o comando do Sugata.
87. Ele tinha oitocentos discípulos, que por ele foram trazidos ao desenvolvimento pleno.
Eles viram muitos kotis de Budas, grandes sábios, a quem reverenciaram.
88. Seguindo o percurso normal, eles se tornaram Budas em várias esferas, e como se
seguiram um ao outro em sucessão imediata, se predisseram sucessivamente o futuro destino de Buda
de cada um que se seguia.
89. O último desses Budas que se sucederam foi Dipankara. Ele, o supremo deus dos deuses,
honrado por multidões de sábios, educou milhares de kotis de seres vivos.
90. Dentre os alunos de Varaprabha, o filho do Gina, no tempo de sua pregação da Lei,
estava um preguiçoso, ambicioso, desejoso de ganhos e status mundano, e espertezas.
91. Ele era também excessivamente desejoso de glórias, mas muito caprichoso, de tal forma
que as lições que se lhes dava, desapareciam rápido de sua memória, logo depois de terem sido ali
inculcadas.
92. Seu nome era Yasaskama, pelo qual era conhecido por toda parte. Pelo mérito acumulado
daquela boa ação, manchada como estava.
93. Ele propiciou a muitos milhares de kotis de Budas, a quem prestou muitas honrarias. Ele
transitou pelo curso comum de deveres e conheceu o presente Buda Sakyasimha.
94. Ele deverá ser o último a alcançar a iluminação suprema e tornar-se um Senhor
conhecido pelo nome de família de Maitreya, que deverá educar a milhares de kotis de criaturas.
95. Aquele que pois, sob o reino do Sugata extinto, era tão preguiçoso, eras tu mesmo, e era
eu que então expunha a lei.
96. Como vendo um aviso prévio desse tipo eu reconheço um sinal tal como o que vi
manifesto antes, portanto, devido a isso, eu sei.
97. Que decididamente o chefe dos Ginas, o rei supremo dos Sakyas, o que tudo vê, que
conhece a verdade mais elevada, está por pronunciar o sutra excelente que eu antes ouvi.
98. Esse mesmo sinal mostrado presentemente é uma prova da habilidade dos líderes; o Leão
dos Sakyas está por fazer uma exortação, por declarar a natureza fixa da lei.
99. Permanecei bem preparados e bem atentos; ajuntai vossas mãos: aquele que é afetivo
para com o mundo e compassivo vai falar, vai derramar a chuva sem fim da lei e refrescar aqueles que
estão esperando pela iluminação.
100. E se alguns sentirem dúvidas, incertezas, ou arrependimentos por quaisquer motivos,
então o Sábio os removerá para suas crianças, os Bodhisatvas aqui lutando pela iluminação.

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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

CAPÍTULO 2

MEIOS HABILIDOSOS

O

Senhor então levantou-se consciente e concentrado de sua meditação e, imediatamente, dirigiuse ao venerável Sariputra; O conhecimento do Buda, Sariputra, é profundo, difícil de
compreender, difícil de perceber. É muito difícil para os discípulos e para os Pratyekabudas
sondar o conhecimento ao qual chegaram os Tathagatas etc., e isto, Sariputra, porque os Tathagatas
veneraram muitas centenas de milhares de miríades de kotis de Budas; porque eles realizaram seus
cursos para a iluminação suprema e completa, durante muitas centenas de milhares de miríades de kotis
de Aeons; porque eles viajaram longe, mostrando energia e possuídos de propriedades maravilhosas e
especiais; possuídos de propriedades difíceis de compreender; porque eles descobriram coisas que são
difíceis de compreender.
O mistério dos Tathagatas etc. é difícil de ser compreendido, Sariputra, porque quando eles
explicam as leis (ou os fenômenos, as coisas) que têm causa em si mesmas, eles o fazem por
intermédio de meios habilidosos, mostrando o conhecimento, com argumentos, razões, idéias
fundamentais, interpretações e sugestões. Com uma variedade de meios habilidosos são capazes de
libertar os seres que ficam apegados a um ponto de vista ou outro. Os Tathagatas etc., Sariputra, todos
adquiriram a mais alta perfeição da habilidade e a mostra do conhecimento; eles estão agraciados com
propriedades maravilhosas, tais como a mostra do conhecimento livre e desimpedido; os poderes; a
ausência da hesitação; as condições independentes; a força dos órgãos; os princípios de Bodhi; as
contemplações; emancipações; meditações; graus de concentração mental. Os Tathagatas etc.,
Sariputra, são capazes de expor coisas variadas e têm algo de maravilhoso e especial. Basta, Sariputra,
que seja suficiente dizer que os Tathagatas etc., têm algo de extremamente maravilhoso, Sariputra.
Ninguém senão um Tathagata, Sariputra, pode transmitir a um Tathagata aquelas leis que o Tathagata
conhece. Todas as leis, Sariputra, são ensinadas pelo Tathagata, e somente por ele; ninguém senão ele
conhece todas as leis, o que são, como são, como o que são, quais são suas características e de que
natureza são.
E naquela ocasião, para apresentar estas coisas mais amplamente, o Senhor pronunciou as
seguintes estrofes:
1. Inumeráveis são os grandes heróis no mundo que abarca deuses e homens; a totalidade das
criaturas é incapaz de conhecer completamente os líderes.
2. Ninguém pode conhecer seus poderes e estados de emancipação, suas ausências de
hesitação e suas propriedades de Buda, tais como são.
3. Desde muito tempo eu segui, na presença de kotis de Budas, o bom caminho, que é
profundo, sutil, difícil de compreensão, e mais ainda de ser encontrado.
4. Depois de seguir esta carreira durante um número inconcebível de kotis de Aeons, eu
descobri no terreno da iluminação o fruto disto.
5. E com isto eu reconheço, como os demais chefes do mundo, como é, com o que se
parecem e quais são suas características.
6. É impossível explicar isto; é inefável; nem existe qualquer ser neste mundo
7. A quem esta lei pudesse ser explicada ou que pudesse compreender ao ser explicada, com a
exceção dos Bodhisatvas, aqueles que estão firmemente estabelecidos em resolução.
8. Quanto aos discípulos do Conhecedor do mundo, aqueles que fizeram seus deveres e
receberam elogio dos Sugatas, que estão livres de erros e que chegaram ao último estágio da existência
terrena, o conhecimento do Gina fica além de suas esferas.
9. Se toda esta esfera estivesse cheia de seres como Sarisuta, e se eles investigassem com seus
esforços combinados, eles seriam incapazes de compreender o conhecimento do Sugata.
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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

10. Mesmo que os dez pontos do espaço estivessem cheios de sábios com você, sim, se
estivessem cheios de tais como o restante de meus discípulos,
11. E se todos estes seres combinados fossem investigar o conhecimento do Sugata, todos eles
juntos, não seriam capazes de compreender o conhecimento do Buda em toda sua imensidão.
12. Se os dez pontos do espaço estivessem cheios de Pratyekabudas, livres de erros,
abençoados com inteligência arguta, e se quedando em seus últimos estágios de existência, tão
numerosos como bambus ou caniços na floresta;
13. E se juntos durante um infindável número de miríades de kotis de Aeons, eles fossem
investigar uma parte de minhas leis superiores, eles nunca descobririam seu significado verdadeiro.
14. Se os dez pontos do espaço estivessem cheios de Bodhisatvas que depois de terem
completado seus deveres sob muitos kotis de Budas, investigado todas as coisas e pregado muitos
sermões, depois de terem entrado num novo veículo;
15. Se o mundo todo estivesse cheio deles, como um bosque espesso de caniços ou de bambus,
sem espaço entre eles, e se todos juntos fossem investigar a lei que o Sugata realizou;
16. Se a investigassem durante muitos kotis de Aeons, tão incalculáveis quanto as areias do
Ganges, com atenção indivisa e intenções sutis, até mesmo então aquele (conhecimento) estaria além
de suas compreensões.
17. Se tais Bodhisatvas incapazes de deslizar para trás, numerosos como as areias do Ganges, a
investigassem com atenção indivisa, estaria além de suas capacidades.
18. Profundas são as leis dos Budas, e sutis; todas inescrutáveis e sem erro. Eu as conheço, bem
como fazem os Ginas nas dez direções do mundo.
19. Você, Sariputra, esteja cheio de confiança naquilo que o Sugata declara. O Gina nada diz de
falso, o grande Vidente que por tão longo tempo pregou a verdade mais elevada.
20. Eu me dirijo a todos os discípulos aqui, aqueles que buscam a iluminação de um
Pratyekabuda, aqueles que são despertos para a atividade pelo meu Nirvana, e aqueles que foram
libertos da série de males.
21. É por minha habilidade superior que eu explico a lei extensivamente para o mundo em
geral. Eu liberto todos aqueles que ficam apegados a um ponto ou outro, e mostro os três veículos.
Os eminentes discípulos na assembléia encabeçada por Agnata-Kaundinya, os mil e duzentos
Arhats sem erros e com autocontrole, os outros monges, monjas, leigos devotos homens e mulheres
usando o veículo dos discípulos, e todos aqueles que entraram no veículo dos Pratyekabudas, todos
eles fizeram esta reflexão: Qual será a razão, porque o Senhor está elogiando tanto a habilidade dos
Tathagatas? Porque a elogia dizendo, ‘Profunda é a lei por mim descoberta;’ elogiando-a dizendo, ‘É
difícil para todos os discípulos e Pratyekabudas de compreendê-la.’ Mas o Senhor ainda não declarou
mais que um tipo de emancipação, e portanto nós também deveríamos adquirir as leis de Buda ao
chegarmos ao Nirvana. Não compreendemos o significado disto que o Senhor disse.
E o Venerável Sariputra, que apreendeu a dúvida e a incerteza das quatro classes da audiência e
adivinhou seus pensamentos daquilo que se passava em sua própria mente, ele mesmo estando em
dúvida sobre a lei, disse então ao Senhor: Qual é, Ó Senhor, a causa, qual razão que o Senhor tão
repetidamente e continuamente elogia a habilidade, conhecimento e pregação do Tathagata? Por que
ele, repetidamente, a elogia dizendo, ‘Profunda é a lei por mim descoberta; é difícil de compreender o
mistério dos Tathagatas.’’ Nunca dantes eu ouvi do Senhor um tal discurso da lei. Estas quatro classes
de audiência, Ó Senhor , estão cheias de dúvida e perplexidade. Portanto possa o Senhor, por favor,
explicar a que está o Tathagata aludindo, ao repetidamente elogiar a profunda lei dos Tathagatas.
Naquela ocasião o venerável Sariputra pronunciou as seguintes estrofes:
22. Pela primeira vez agora o Sol dos homens pronuncia um tal discurso: ‘Eu adquiri os
poderes, emancipações e meditações sem conta.’
23. E mencionastes o terreno da iluminação sem que ninguém te perguntasse; mencionastes o
mistério, apesar de ninguém ter te perguntado.
24. Falastes sem ser perguntado e elogiastes teu próprio caminho; mencionastes ter obtido o
conhecimento e pronunciastes palavras profundas.
25. Hoje surge uma pergunta em minha mente e naquela daqueles seres autocontrolados, sem
erros, que buscam o Nirvana: Por que fala o Gina desta forma?
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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

26. Aqueles que aspiram a iluminação dos Pratyekabudas, as monjas e monges, deuses, Nagas,
duendes, Gandharvas, e grandes serpentes, estão todos conversando juntos, enquanto que observam o
mais elevado dos homens,
27.E imaginam em perplexidade. Dê uma elucidação, grande Sábio, a todos os discípulos do
Sugata que estão aqui reunidos.
28. Eu mesmo atingi a perfeição (da virtude), e fui ensinado pelo Sábio supremo; mesmo assim,
Ó mais elevado dos homens! Mesmo em minha posição, eu tenho dúvidas se o curso (do dever) que
me é mostrado, receberá sua aprovação final pelo Nirvana.
29. Que tua voz seja ouvida, Ó vós cuja voz ressoa como um tambor eminente! Proclame sua
lei tal que é. Os filhos legítimos do Gina aqui de pé e fitando o Gina, de mãos postas;
30. Bem como os deuses, Nagas, duendes, Titãs, em número de milhares de kotis, como as
areias do Ganges; e aqueles que aspiram à iluminação suprema, que estão aqui, em número de oitenta
mil;
31. Além disto, os reis, regentes de províncias, monarcas proeminentes, que para aqui se
dirigiram desde milhares de kotis de países, que agora se quedam com mãos postas, e respeitosos,
pensando: Como podemos preencher o curso do dever?
O venerável Sariputra tendo falado, o Senhor lhe disse: Basta, Sariputra; de nada adiantaria
explicar esta questão. Por que? Porque, Sariptura, o mundo, inclusive os deuses, ficariam assustados se
esta questão fosse exposta.
Mas o venerável Sariputra pediu ao Senhor uma segunda vez, dizendo: Que o Senhor exponha,
que o Sugata exponha esta questão, pois que nesta assembléia, Ó Senhor, existem muitas centenas,
muitos milhares, muitas centenas de milhares, muitas centenas de milhares de miríades de kotis de
seres vivos que já viram Budas anteriores, que são inteligentes, e que acreditarão, darão valor, e
aceitarão as palavras do Senhor.
O venerável Sariputra se dirigiu ao Senhor com esta estrofe:
32. Fale claramente, Ó mais eminente dos Ginas! Nesta assembléia estão milhares de seres
vivos que são cheios de confiança, afetivos, e respeitosos para com o Sugata; eles compreenderão a lei
por vós exposta.
E o Senhor disse uma segunda vez ao venerável Sariputra: Basta, Sariputra; não adianta explicar
esta questão, pois que o mundo, inclusive aquele dos deuses, ficaria assustado, Sariputra, se esta questão
fosse exposta, e alguns monges poderiam ficar orgulhosos e virem a ter uma queda súbita.
E naquela ocasião o Senhor pronunciou a seguinte estrofe:
33. Não digas mais que eu devo declarar esta lei! Este conhecimento é por demais sutil,
inescrutável, e existem tantos homens não sábios, que em seus orgulho e tolice zombariam em relação
à lei assim revelada.
Uma terceira vez o venerável Sariputra pediu ao Senhor, dizendo: Que o Senhor exponha, que
o Sugata exponha esta questão. Nesta assembléia, Ó Senhor, existem muitas centenas de seres vivos
que são meus iguais, e muitas centenas, muitos milhares, muitas centenas de milhares, muitas centenas
de milhares de miríades de kotis de outros seres vivos a mais, que em nascimentos prévios foram
trazidos pelo Senhor ao amadurecimento pleno. Eles crerão, darão valor, aceitarão aquilo que o Senhor
declara, que reverterá para seus benefícios, bem e felicidade no decorrer do tempo.
Naquela ocasião o venerável Sariputra pronunciou as seguintes estrofes:
34. Explique a lei, Ó Vós, o mais elevado dos homens! Eu, vosso filho mais velho, te peço.
Aqui estão milhares de kotis de seres que crerão na lei por vós revelada.
35. E aqueles seres que, em nascimentos prévios, por tão longo tempo e constantemente foram
por vós trazidos à maturidade plena e estão agora se quedando aqui de mãos postas, eles também,
crerão nesta lei.
36. Que o Sugata, observando os mil e duzentos, meus iguais, e aqueles que estão lutando pela
iluminação superior, fale a eles e produza neles uma alegria extrema.
Quando o Senhor pela terceira vez ouviu o pedido do venerável Sariputra, ele lhe falou assim:
Agora que você pediu ao Tathagata pela terceira vez, Sariputra, eu te responderei. Ouça então,
Sariputra, ouça bem e aprenda ou que agora vou dizer; pois eu vou falar.
Aconteceu então que cinco mil monges orgulhosos, monjas, e devotos leigos de ambos os
sexos, na congregação se levantaram de seus assentos e, depois de saudarem com suas cabeças os pés
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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

do Senhor, se retiraram da assembléia. Devido ao princípio do bem que reside no orgulho, eles
imaginaram terem atingido o que não haviam, e terem compreendido o que não haviam. Portanto,
sentindo-se diminuídos, eles se retiraram da assembléia, ao que o Senhor concordou com seu silêncio.
Naquele momento o Senhor se dirigiu ao venerável Sariputra: Minha congregação, Sariputra,
foi livrada do excesso, do lixo; está firmemente estabelecida na força da fé. É uma coisa muito boa,
Sariputra, que aqueles orgulhosos tenham ido embora. Agora eu vou expor a questão, Sariputra. ‘Muito
bem, Senhor,’ replicou o venerável Sariptura. O Senhor então começou e disse:
É somente de vez em quando, Sariputra, que o Tathagata prega um tal discurso sobre a lei
como este. Da mesma forma que é raramente que vemos a flor da figueira desabrochar, Sariputra, da
mesma forma o Tathagata, apenas raramente, prega um tal discurso sobre a lei. Creia-me, Sariputra; Eu
falo o que é verdadeiro, o que é real, eu digo o que é certo. É difícil compreender a exposição do
mistério do Tathagata, Sariputra; pois que, elucidando a lei, Sariputra, eu uso centenas de milhares de
vários meios habilidosos, tais como diferentes interpretações, indicações, explicações, ilustrações. Não
é pelo raciocínio, Sariputra, que a lei seria encontrada: isto está além do campo do raciocínio e deve ser
aprendida do Tathagata. Pois, Sariputra, é por um só objetivo, um só propósito, na verdade um
objetivo elevado, um propósito elevado que o Buda, o Tathagata etc., aparece no mundo. E qual é este
objetivo único, este propósito único, este elevado objetivo, este elevado propósito que o Buda, o
Tathagata etc., aparece no mundo? Para mostrar a todos os seres a visão do conhecimento do
Tathagata é que o Buda, o Tathagata etc., aparece no mundo; para abrir os olhos dos seres para a visão
do conhecimento do Tathagata é que o Buda, o Tathagata etc., aparece no mundo. Este, Ó Sariputra, é
o objetivo único, o propósito único de sua aparição no mundo. Tal é, então, Sariputra, o objetivo
único, o propósito único, o elevado objetivo, o elevado propósito do Tathagata. E é atingido pelo
Tathagata. Pois, Sariputra, eu mostro a todos os seres a visão do conhecimento do Tathagata; eu abro
os olhos de todos os seres para a visão do conhecimento do Tathagata, Sariputra; eu estabeleço
firmemente o ensinamento do conhecimento do Tathagata, Sariputra; eu conduzo o ensinamento do
conhecimento do Tathagata no caminho correto, Sariputra. Por intermédio do veículo único, a saber,
o veículo do Buda, Sariputra, eu ensino a todos os seres a lei; não existe um segundo veículo, nem um
terceiro. Esta é a natureza da lei, Sariputra, universalmente no mundo, em todas as direções. Pois,
Sariputra, todos os Tathagatas etc., que em tempos passados existiram em esferas incontáveis,
inumeráveis, em todas as direções, para o bem de muitos, a felicidade de muitos, por piedade do
mundo, para o benefício, bem e felicidade do grande corpo de seres, e que pregavam a lei a deuses e
homens com meios capazes, tais como variadas direções e indicações, variados argumentos, razões,
ilustrações, idéias fundamentais, interpretações, prestando atenção à disposição dos seres cujas
inclinações e temperamentos são tão diversos, todos aqueles Budas e Senhores, Sariputra, que
pregaram a lei aos seres por intermédio de apenas um veículo, o veículo do Buda que, finalmente,
conduz à onisciência; é idêntico a mostrar a todos os seres a visão do conhecimento do Tathagata;
com abrir os olhos dos seres para a visão do conhecimento do Tathagata; com despertar (ou avisar)
pela mostra do conhecimento do Tathagata; com conduzir o ensinamento do conhecimento do
Tathagata pelo caminho correto. Tal é a lei que eles pregaram aos seres. E aqueles seres, Sariputra, que
ouviram a lei de Tathagatas passados etc., todos eles alcançaram a iluminação suprema e perfeita.
E os Tathagatas etc., que existirão no futuro, Sariputra, nas esferas incontáveis, inumeráveis em
todas as direções, para o bem de muitos, a felicidade de muitos, por piedade do mundo, para o
benefício, bem, e felicidade do grande corpo de seres, e que devem pregar a lei a deuses e homens
(etc., como acima até) o caminho correto. Tal é a lei que eles devem pregar às criaturas. E aquelas
criaturas, Sariputra, que ouvirem a lei dos Tathagatas futuros etc., todas elas deverão alcançar a
iluminação suprema e perfeita.
E os Tathagatas etc., que agora no presente estão vivendo, se quedando existindo, Sariputra,
em incontáveis, inumeráveis esferas, em todas as direções etc., e que estão pregando a lei aos deuses
homens (etc., como acima até) o caminho correto. Tal é a lei que eles estão pregando às criaturas. E
aquelas criaturas, Sariputra, que estão ouvindo a lei dos Tathagatas presentes etc., todas elas deverão
atingir a iluminação suprema e perfeita.
Eu também, Sariputra, sou no período presente um Tathagata etc., para o bem de muitos (etc.,
até) muitos; Eu também, Sariputra, estou pregando a lei às criaturas (etc., até) o caminho correto. Tal é
a lei que eu prego aos seres. E aqueles seres, Sariputra, que ora estão ouvindo a lei de mim, todos eles
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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

atingirão iluminação suprema e perfeita. Neste sentido, Sariputra, é que deve ser compreendido que,
em parte alguma do mundo, um segundo veículo seja ensinado, muito menos ainda um terceiro.
E contudo, Sariputra, quando os Tathagatas etc., aparecem no fim da época, na decadência das
criaturas, na decadência de pecados aflitivos, a decadência dos pontos de vista, ou a decadência de uma
vida; quando eles aparecem entre tais sinais de decadência, na perturbação da época; quando os seres
estão muito sujos, cheios de cobiça e fracos em raízes de bondade; então, Sariputra, os Tathagatas etc.,
costumam, habilmente, designar aquele único veículo do Buda pelo nome de veículo tríplice. Agora,
Sariputra, tais discípulos, Arhats, ou Pratyekabudas, que não ouvem a sua chamada para o veículo do
Buda pelo Tathagata, que não percebem, nem prestam atenção a isto, aqueles, Sariputra, não devem ser
reconhecidos como discípulos dos Tathagatas, nem como Arhats, nem como Pratyekabudas.
Novamente, Sariputra, se houver algum monge ou monja que pretenda atingir o Arhatado sem
uma promessa sincera de atingir a iluminação suprema e perfeita, e que diga, ‘Eu agora me quedo
elevado demais para o veículo do Buda, eu estou em minha última aparição no corpo antes do Nirvana
completo,’ então, Sariptura, considere esta pessoa como sendo convencida. Pois, Sariputra, não é
adequado, é feio que, um monge, um Arhat, sem erros, não deva crer na lei que ele ouve do Tathagata
em sua presença. Eu deixo fora de questão quando o Tathagata tenha atingido o Nirvana completo;
pois naquele período, naquele momento, Sariputra, quando o Tathagata deva estar completamente
extinto, não haverá ninguém que saiba de cor, ou pregue tais Sutras como este. Será sob outros
Tathagatas etc., que eles serão libertados de dúvidas. Quanto a isto creia em minhas palavras, Sariputra,
dê valor a elas, tome-as ao coração; pois que não existe falsidade nos Tathagatas, Sariputra. Existe
somente um veículo, Sariputra, e este é o veículo do Buda.
E naquela ocasião, para explicar mais extensamente esta questão, o Senhor pronunciou as
seguintes estrofes:
37. Não menos que cinco mil monges, monjas e leigos de ambos os sexos, cheios de descrença
e orgulho,
38. Achando que isto era pouco, foram, ainda defeituosos no treinamento e tolos como eram,
embora para tornarem-se cientes do dano.
39. O Senhor, que os sabia serem os piores da congregação, exclamou: Eles não possuem
méritos suficientes para ouvirem esta lei.
40. Minha congregação está agora pura, liberta do lixo; o excesso foi removido e sobra apenas
o âmago.
41. Ouça de mim, Sariputra, como esta lei foi descoberta pelo mais elevado dos homens, e
como os poderosos Budas estão ainda pregando-a com muitas centenas de provas de habilidade.
42. Eu conheço as disposições e condutas, as variadas inclinações de seres vivos neste mundo;
eu conheço suas variadas ações e o bem que eles fizeram antes.
43. Aqueles seres vivos eu inicio nesta (lei) com a ajuda de muitas interpretações e razões; e
com centenas de argumentos e ilustrações, eu, de uma forma ou de outra, alegrei a todos os seres.
44. E pronuncio tanto Sutras quanto estrofes; lendas, Gatakas, e prodígios, além de centenas de
introduções e parábolas curiosas.
45. Eu mostro o Nirvana para o ignorante com disposições baixas, que nunca seguiu nenhum
caminho sob muitos kotis de Budas, que estão ligados à existência contínua e miseráveis.
46. O auto-nascido usa tais meios para manifestar o conhecimento do Buda, mas ele nunca lhes
dirá, vocês todos vão se tornar Budas.
47. Por que não deveria aquele que é poderoso, depois de esperar pelo momento oportuno,
falar, agora que ele percebeu que o momento oportuno chegou? Esta é a oportunidade adequada,
chegada, de começar a exposição do que realmente é.
48. Agora, a palavra do meu mandamento, como contido nas nove divisões, foi publicada de
acordo com os variados graus de força das criaturas. Tal é o meio que mostrei para apresentar (os
seres) ao conhecimento do doador de dons.
49. E àqueles no mundo, que sempre foram puros, sábios, de boa mentalidade, filhos
compassivos do Buda e que fizeram seus deveres sob muitos kotis de Budas, eu tornarei conhecidos
Sutras mais amplos.

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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

50. Pois que eles estão agraciados com tais bênçãos de disposição mental, e tais vantagens de
forma externa sem mácula, que eu posso anunciar para estes: no futuro vocês todos se tornarão Budas
benevolentes e compassivos.
51. Ouvindo isto, todos eles serão penetrados de deleite (no pensamento): Tornaremos-nos
Budas proeminentes no mundo. E eu, percebendo suas condutas, novamente revelarei Sutras mais
amplos.
52. E aqueles são discípulos do Líder, que ouviram minha palavra de comando. Uma só estrofe
aprendida ou mantida na memória basta, sem dúvida, para conduzir todos eles à iluminação.
53. Não existe, verdadeiramente, senão um veículo; não existe um segundo, nem terceiro em
qualquer parte do mundo, exceto no caso dos Purushottamas usando um expediente para mostrar que
existe uma diversidade de veículos.
54. O Chefe do mundo aparece no mundo para revelar o conhecimento do Buda. Ele não tem
senão um objetivo, de fato, não um segundo; os Budas não fazem os seres atravessarem através de um
veículo inferior.
55. Ali onde o auto-nascido se estabeleceu, e onde está o objeto do conhecimento, não importa
de que forma ou tipo; (onde) os poderes, os estágios de meditação, as emancipações, as faculdades
aperfeiçoadas (estão); ali todos os seres se estabelecerão.
56. Eu seria culpado de inveja, se eu, depois de atingir o eminente e puro estado de iluminação,
estabelecesse quem quer que fosse no veículo inferior. Isto não seria típico de mim.
57. Em mim não existe inveja qualquer; nem ciúme, nem desejo, nem paixão. Por isto eu sou o
Buda, porque o mundo segue meu ensinamento.
58. Quando, esplendidamente distinguido com (as trinta e duas) marcas características, eu estou
iluminando todo este mundo, e venerado por muitas centenas de seres, eu mostro o selo
(inconfundível) da natureza da lei;
59. Quando Sariputra, eu penso assim: Como irão todos os seres, pelas trinta e duas
características perceberem o Vidente auto-nascido que, de sua própria vontade, verte sua luz por todo
o mundo?
60. E enquanto eu estou pensando e considerando, quando meu desejo se realizou e minha
promessa se realizou, eu não mais revelo conhecimento do Buda.
61. Se, Ó filho de Sari, eu falasse às criaturas, ‘Vivifiquem em suas mentes o desejo pela
iluminação,’ eles em suas ignorâncias, todos se perderiam e nunca perceberiam o significado de minhas
boas palavras.
62. E considerando-os desta forma, e que eles não realizaram seus cursos do dever em
existências prévias, (eu vejo como) eles estão apegados e dedicados a prazeres sensuais, enfatuados pelo
desejo e cegos com a ilusão.
63. Do desejo eles incorrem em desgraça; eles estão atormentados nos seis estados de
existência e povoam o cemitério repetidamente; eles estão angustiados com o infortúnio, e têm pouca
virtude.
64. Ficam constantemente emaranhados nas moitas de teorias (sectárias), tais como , ‘É ou não
é; é assim e não é assim.’ Tentando obter uma opinião decidida no que é encontrado nas sessenta e
duas teorias (heréticas) eles abraçam a falsidade e prosseguem em seus erros.
65. São difíceis de corrigir, orgulhosos, hipócritas, desviados, malignos, ignorantes, chatos; por
isto eles não ouvem ao bom chamado do Buda, nem uma só vez em kotis de nascimentos.
66. A estes, filho de Sari, eu mostro um meio habilidoso e digo: Ponham fim às suas
dificuldades. Quando percebo criaturas sofrendo com males, eu as faço ver o Nirvana.
67. E assim eu revelo todas aquelas leis que são para sempre sagradas e corretas desde o
começo. E o filho do Buda, que completou seu curso uma vez, será um Gina.
68. É só um meio habilidoso que me faz manifestar três veículos; pois que existe um só veículo
e um caminho; existe também uma só instrução pelos líderes.
69. Remova toda dúvida e incerteza; e caso existam aqueles que sintam dúvidas, ( que eles
saibam que ) os Senhores do mundo falam a verdade; este é o veículo único, não existe um segundo.
70. Os Tathagatas também, vivendo no passado durante Aeons inumeráveis, os muitos
milhares de Budas que estão no descanso final, cujo número não pode jamais ser contado,
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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

71. Aqueles mais elevados dos homens, todos eles revelaram as mais sagradas das leis por
intermédio de ilustrações, razões, e argumentos, com muitas centenas de provas de habilidade.
72. E todos eles manifestaram apenas um veículo e apenas apresentaram um na terra; através
deste veículo, eles conduziram à maturidade total uma quantidade inconcebível de milhares de kotis de
seres.
73. E contudo, os Ginas possuem vários e múltiplos meios através dos quais o Tathagata revela
ao mundo inclusive aos deuses, a iluminação superior, levando em conta as tendências e disposições
(dos diferentes seres).
74. E todos aqueles no mundo que estão ouvindo, ou que ouviram a lei da boca dos Tathagatas,
feito doações, seguido preceitos morais, e, pacientemente, realizaram seus deveres religiosos;
75. Que se quitaram quanto ao zelo e meditação, com sabedoria refletiram sobre aquelas leis, e
fizeram várias ações meritórias, todos eles atingiram a iluminação.
76. E tais seres que vivem pacientes, controlados, e disciplinados, sob o reino dos Ginas
daqueles tempos, todos eles atingiram a iluminação.
77. Outros também, que prestaram veneração às relíquias dos Ginas que se foram, erigiram
muitos milhares de Stupas feitas de jóias, ouro prata ou cristal,
78. Ou que construíram Stupas de esmeralda, pérolas, lápis-lazúli, ou safira; todos eles atingiram
a iluminação.
79. E aqueles que erigiram Stupas feitas de mármore, sândalo ou jacarandá; construíram Stupas
de madeiras de lei ou de uma combinação de diferentes tipos de madeira;
80. E que, em felicidade de coração, construíram para os Ginas Stupas de tijolos ou de cimento;
ou que fizeram com que se levantassem montes na terra, em florestas ou em lugares silvestres
dedicadas aos Ginas;
81. Os garotinhos, que mesmo brincando, erigiram aqui e ali montes de areia com a intenção de
as dedicar como Stupas para os Ginas, todos eles ganharam a iluminação.
82. De forma semelhante, todos aqueles que fizeram com que imagens feitas de jóias fossem
feitas e dedicadas, adornadas com os trinta e dois sinais característicos, atingiram a iluminação.
83. Outros, que fizeram imagens dos Sugatas feitas das sete substâncias preciosas, de cobre ou
de zinco, todos eles ganharam a iluminação.
84. Aqueles que fizeram com que se construísse belas estátuas dos Sugatas de chumbo, ferro,
barro, ou gesso, todos eles ganharam a iluminação.
85. Aqueles que fizeram imagens (dos Sugatas) em paredes pintadas, com membros completos
e os cem sinais sagrados, quer tenham desenhado eles mesmos , ou que tenham feito outros
desenharem, todos eles atingiram a iluminação.
86. Mesmo aqueles, quer sejam homens ou crianças, que durante suas aulas, ou por brincadeira,
para se divertirem, desenharam nas paredes (tais) imagens com a unha ou com um pedaço de madeira,
87. Todos eles ganharam a iluminação; tornaram-se compassivos, e despertando muitos
Bodhisatvas, salvaram kotis de seres.
88. Aqueles que ofereceram flores e perfumes às relíquias dos Tathagatas, para Stupas, um
morrinho na terra, imagens de gesso ou desenharam em uma parede;
89. Que fizeram com que instrumentos musicais, tambores, trombetas e grandes tambores
barulhentos fossem tocados, e levantaram o ruído do címbalo em tais lugares para celebrarem a
iluminação mais elevada;
90. Que fizeram com que doces alaúdes, címbalos, tambores, pequenos tambores, flautas de
bambu, flautas de metal, fossem construídos, todos eles atingiram a iluminação.
91. Aqueles que para celebrarem o Sugatas, fizeram com que címbalos de ferro soassem, ou
pequenos tambores; que cantaram uma canção doce e encantadora;
92. Todos eles atingiram a iluminação. Prestando vários tipos de reverência às relíquias dos
Sugatas, fazendo somente um pouco por estas relíquias, fazendo com que nem que seja um só
instrumento musical fosse soado;
93. Ou que venerasse nem que fosse com uma só flor, desenhando em uma parede as imagens
dos Sugatas, prestando reverência, nem que fosse com pensamentos distraídos, no decurso do tempo
esta pessoa se encontrará com kotis de Budas.
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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

94. Aqueles que, quando em presença de uma Stupa, ofereceram suas saudações reverentes, seja
de uma forma completa ou meramente juntando as mãos; que, seja por um só momento, inclinaram
suas cabeças ou corpos;
95. E que nas Stupas contendo relíquias, disseram nem que fosse uma só vez: Homenagem ao
Buda! Mesmo que o tenham feito com pensamentos distraídos, todos ganharam a iluminação superior.
96. Aqueles seres que nos dias daqueles Sugatas, quer estejam extintos ou ainda em existência,
ouviram nem que seja apenas o nome da lei, todos eles ganharam a iluminação.
97. Muitos kotis de Budas futuros, além da imaginação e medida, de forma semelhante
revelarão este meio habilidoso como Ginas e Senhores supremos.
98. Sem fim será a habilidade daqueles líderes do mundo, através das quais eles educarão kotis
de seres para aquele conhecimento do Buda, que está livre de toda a imperfeição.
99. Nunca houve um tal ser que, depois de ouvir a lei daqueles líderes, não tenha se tornado
Buda; pois que esta é a promessa fixa dos Tathagatas: Que eu, realizando meu curso do dever, possa
conduzir os demais à iluminação.
100. Eles exporão, em dias futuros, muitos milhares de kotis de cabeças da lei; em suas
condições de Tathagata eles ensinarão a lei, mostrando este veículo único mencionado acima.
101. A linha da lei forma uma continuidade inquebrantável e a natureza de suas propriedades se
manifesta sempre. Sabendo isso, os Budas, os mais elevados dos homens, revelarão este único veículo.
102. Eles revelarão a estabilidade da lei, como ela é sujeita a regras fixas, a sua perpetuidade
inamovível no mundo, o despertar dos Budas no elevado terraço da terra, suas habilidades.
103. Em todas as direções do espaço quedam-se Budas, como areias do Ganges, honrados por
deuses e homens; estes também, para o bem de todos os seres no mundo, expõem a iluminação
superior.
104. Estes Budas, enquanto manifestam suas habilidades, mostram variados veículos, apesar de,
ao mesmo tempo, indicarem somente o veículo único: o lugar supremo do descanso sagrado.
105. Familiarizados como estão com a conduta de todos os mortais, com suas disposições
peculiares e ações prévias; observando seus esforços e vigores, bem como suas disposições, os Budas
conferem sua luz a eles.
106. Com o conhecimento, os líderes produzem muitas ilustrações, argumentos e razões; e
considerando como os seres têm tendências várias, eles indicam direções várias.
107. E eu também, o líder dos principais Ginas, estou agora manifestando, para o bem dos
seres ora vivos, esta iluminação do Buda por milhares de kotis de direções várias.
108. Eu revelo a lei em sua multiplicidade observando as tendências e disposições dos seres. Eu
uso diferentes métodos para despertá-los, de acordo com seus caracteres. Tal é o poder do meu
conhecimento.
109. De forma semelhante eu vejo os pobre coitados, deficientes em sabedoria e conduta, que
caíram no torvelinho mundano, retidos em lugares horríveis, mergulhados em aflições incessantemente
renovadas.
110. Atados como estão pelo desejo como o boi por sua corda, continuamente cegos pelo
prazer sensual, eles não buscam o Buda, o poderoso; eles não buscam a lei que conduz ao fim da dor.
111. Se quedam nos seis estados da existência, eles ficam amortecidos por seus sentidos, se
apegam imóveis a seus baixos pontos de vista, e sofrem dor depois de dor. Por estes eu sinto uma
grande compaixão.
112. No terraço da iluminação eu permaneci três semanas ao todo, procurando e considerando
esta questão, observando as árvores que ali estavam.
113. Observando aquele rei de todas as árvores com uma fitada firme, eu andei ao seu pé
(pensando): Esta lei é maravilhosa e elevada, enquanto que os seres estão cegos com chatice e
ignorância.
114. Foi então que Brahma me pediu, bem como Indra, e os quatro regentes dos pontos
cardeais, Mahesvara, Isvara e as hordas de Maruts em centenas de kotis.
115. Todos se quedaram com mãos postas e respeitosos, enquanto que eu mesmo revolvia esta
questão em minha mente (e pensei): O que deverei fazer? Naquele instante mesmo em que eu estava
dizendo isto, os seres estavam sendo oprimidos pelos males.
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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

116. Em sua ignorância eles não prestarão atenção à lei que eu anuncio, em conseqüência do
que eles incorrerão em alguma falta. O melhor seria que eu nunca falasse. Que minha extinção calma
pudesse tomar lugar hoje mesmo!
117. Mas ao me lembrar de Budas prévios e de suas habilidades, (eu pensei): Não, eu também
manifestarei esta iluminação tripartite do Buda .
118. Enquanto eu meditava assim sobre a lei, os outros Budas, em todas as direções do espaço,
apareceram ante a mim em seus próprios corpos e levantaram suas vozes, dizendo ‘Amem.
119. ‘Amem, Solitário, primeiro Líder do mundo! Agora que você chegou a este conhecimento
insuperável, e estás meditando sobre a habilidade dos líderes do mundo, você repete seus
ensinamentos.
120. ‘Nós também, sendo Budas, esclareceremos a palavra mais elevada, dividida em três partes;
pois os homens (ocasionalmente) têm tendências baixas, e por ignorância talvez não nos creiam,
(quando dizemos), vocês se tornarão Budas.
121. ‘Por isto nós despertaremos muitos Bodhisatvas pela mostra de habilidade e encorajando
o desejo de obter frutos.’
122. E eu fiquei encantado de ouvir as doces vozes dos líderes dos homens; na felicidade do
meu coração eu disse aos abençoados santos, ‘As palavras dos sábios eminentes não foram ditas em
vão.
123. ‘Eu, também, agirei de acordo com a indicação dos sábios líderes do mundo; tendo eu
mesmo nascido em meio à degradação das criaturas, eu conheci a agitação neste mundo terrível.’
124. Quando cheguei a esta convicção, Ó filho de Sari, imediatamente fui a Benares, onde
habilmente preguei a lei aos cinco solitários, aquela lei que é a base da beatitude final.
125. Desde este momento a roda de minha lei tem se movido, e o nome do Nirvana fez a sua
aparição no mundo, bem como o nome de Arhat, Dharma e Sangha.
126. Durante muitos anos eu preguei e indiquei o estágio do Nirvana, o fim da miséria e da
existência mundana. Assim falava eu sempre.
127. E quando vi, Sariputra, os filhos do mais elevado dos homens em muitos milhares de
kotis, sem fim, lutando pela a iluminação suprema e mais elevada;
128. E quando aqueles que ouviram a lei dos Ginas, devido às suas habilidades multifacetadas,
se aproximaram de mim e diante de mim se quedaram, todos eles com mãos postas, e respeitosos;
129. Então eu concebi a idéia de que o momento havia chegado para que eu anunciasse a lei
excelente e para revelar a iluminação suprema, para este trabalho tendo eu nascido no mundo.
130. Este (evento) hoje será de difícil compreensão para os ignorantes que imaginam ver aqui
um sinal, porque são orgulhosos e chatos. Mas os Bodhisatvas, estes me ouvirão.
131. E eu me senti livre de hesitação e muito animado; deixando de lado toda a timidez, eu
comecei a falar na assembléia dos filhos do Sugata e os despertei para a iluminação.
132. Ao perceber tais valorosos filhos do Buda (eu disse): Suas dúvidas também serão tiradas, e
estes mil e duzentos (discípulos) meus, livres de imperfeições, todos eles se tornarão Budas.
133. Assim mesmo como a natureza da lei dos antigos poderosos santos e Ginas futuros é,
assim também é minha lei livre de qualquer dúvida, tal como hoje eu a conto a vocês.
134. Em certos lugares, em certos momentos, de alguma forma os líderes aparecem no mundo,
e depois de suas aparições eles, cuja visão é sem limites, em algum tempo ou outro pregam uma lei
semelhante.
135. É muito difícil de se encontrar com esta lei superior, mesmo que seja em miríades de kotis
de Aeons; muito raros são os seres que se juntarão à lei superior que acabaram de ouvir de mim.
136. Assim como a flor da figueira é rara, apesar de, em alguns lugares e, de alguma forma,
possa ser encontrada, como algo agradável de se ver para todos que a vêem, como uma maravilha para
o mundo inclusive para os deuses;
137. (Tão maravilhosa) e muito mais ainda é a lei que eu proclamo. Qualquer um que, ao ouvir
a boa exposição dela, aceitá-la alegremente e recitar nem que seja uma só palavra dela, terá honrado a
todos os Budas.
138. Desista de toda dúvida e incerteza quanto a isto; Eu digo que sou o rei da lei
(Dharmaraga); e eu estou encorajando outros para a iluminação, mas eu estou aqui sem qualquer
discípulo que seja.
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Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2

139. Que este mistério seja pra você, Sariputra, para todos os meus discípulos, e para os
eminentes Bodhisatvas, que manterão este mistério.
140. Pois os seres, no período das cinco depravações, são vis e maus; são cegos pelos desejos
sensuais, os tolos, e nunca se viram suas mentes para a iluminação.
141. (Alguns) seres, tendo ouvido este uno é único veículo manifestado pelo Gina, irá em dias
vindouros se desviar dele, rejeitar o Sutra, e descer aos infernos.
142. Mas aqueles seres que são modestos e puros, lutando pela iluminação suprema e mais
elevada, a estes eu, sem hesitar, mostro as formas sem fim deste veículo uno e único.
143. Tal é o domínio dos líderes; tal suas habilidades. Eles falaram em muitos mistérios; por
isto é difícil de os compreender.
145. Portanto tente compreender o mistério dos Budas, os santos mestres do mundo;
abandone toda a dúvida e incerteza: todos vocês se tornarão Budas; alegrem-se!

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Saddharma-Pundarika / Uma Parábola / Capítulo 3

CAPÍTULO 3

UMA PARÁBOLA

ntão o venerável Sariputra, alegre, agradecido, jubiloso, encantado, vibrando de felicidade e
alegria, alçou suas mãos postas em direção ao Senhor, e fitando o Senhor com um olhar firme,
dirigiu-se-lhe desta maneira: eu estou espantado, atônito, Ó Senhor! Eu estou em êxtase por ouvir
um tal chamado do Senhor. Pois (quando) antes de ter ouvido essa lei do Senhor, eu vi outros
Bodhisatvas, e ouvi dizer que os Bodhisatvas do futuro teriam o nome de Budas, eu me senti
então muito triste, extremamente vexado de ser privado de uma tão grande visão como o
conhecimento do Tathagata. E sempre que, Ó Senhor, para minha recreação diária eu visitava as
cavernas de pedra nas montanhas, bosques, belos jardins, rios e raízes de árvores, eu sempre me
ocupava com o mesmo pensamento a que sempre recorria: ‘Enquanto a entrada nos pontos fixos da
lei é nominalmente igual, fomos dispensados pelo Senhor com o veículo inferior.’ Instantaneamente
senti, contudo, Ó Senhor, que era nosso próprio engano, não do Senhor. Pois que se tivéssemos
prestado atenção ao Senhor quando Ele deu a insuperável demonstração da lei, isto é, a exposição da
iluminação suprema e perfeita, então, Ó Senhor, deveríamos ter-nos tornado adeptos daquelas leis.
Mas porque, sem compreender o mistério do Senhor, nós, no momento em que os Bodhisatvas não
estavam reunidos, ouvimos apenas às pressas, pregamos, meditamos, pensamos e digerimos as
primeiras lições pronunciadas sobre a lei, portanto, Ó Senhor, eu acabava por passar noite e dia em
auto-censura. Mas hoje, Ó Senhor, eu alcancei a extinção completa; hoje, Ó Senhor, eu me tornei
calmo; hoje, Ó Senhor, eu cheguei plenamente ao descanso; hoje, Ó Senhor, eu alcancei o Arhatado;
hoje, Ó Senhor, eu sou o filho mais velho do Senhor, nascido de sua lei, concebido pela lei, feito pela
lei, herdando da lei, realizado pela lei. Meu queimar me deixou, Ó Senhor agora que ouvi essa lei
maravilhosa, que não havia aprendido, anunciada pela voz procedente da boca do Senhor.
E naquela ocasião o venerável Sariputra dirigiu-se ao Senhor nas seguintes estrofes:
1. Estou espantado, grande líder, estou encantado em ouvir essa voz; eu não mais sinto
dúvidas; agora estou plenamente amadurecido para o veículo superior.
2. Maravilhosa é a voz dos Sugatas; elimina a dúvida e a dor dos seres vivos; minha dor
também se foi toda agora que, livre de imperfeições, ouvi aquela voz ou chamado.
3. Quando estava em minha recreação diária ou andando pelos bosques, quando indo às
raízes das árvores ou às cavernas nas montanhas, eu não incorri em outro pensamento além desse:
4. ‘Ó como sou levado por pensamentos vãos; enquanto que as leis sem erros são
nominalmente iguais, deverei eu no futuro não pregar a lei superior ao mundo?
5. ‘As trinta e duas marcas características me escaparam, e a cor dourada da pele desapareceu;
todos os dez poderes e emancipações de forma semelhante perdidos. ‘O como me perdi nas leis iguais!
6. ‘As marcas secundárias também dos grandes Videntes, os oitenta excelentes sinais
específicos, e as dezoito propriedades incomuns me faltaram. Ó como sou iludido!’
7. E quando eu percebi a vós, tão benigno e compassivo com o mundo, e estava solitário
andando na minha recreação diária, eu pensei: ‘Estou excluído do conhecimento inconcebível,
ilimitado!’
8. Dias e noites, Ó Senhor, eu passei pensando sempre no mesmo assunto; eu perguntaria ao
Senhor se havia perdido a minha hierarquia ou não.
9. Em tais reflexões, Ó Chefe dos Ginas, eu, constantemente, passava meus dias e minhas
noites; e vendo muitos outros Bodhisatvas louvados pelo líder do mundo.
10 . E ouvindo esta lei de Buda, eu considerava: ‘Por certo, isto é exposto misteriosamente; é
uma ciência inescrutável, sutil e sem erros, que é anunciada pelos Ginas no terreno da iluminação.’

E

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Saddharma-Pundarika / Uma Parábola / Capítulo 3

11. Antigamente eu estava apegado a teorias (heréticas), sendo um monge peregrino e em
altas honrarias (ou, da mesma opinião) que os heréticos; mais tarde o Senhor, observando a minha
disposição, mostrou-me o Nirvana para livrar-me de pontos de vista invertidos.
12. Depois de ter me libertado completamente de todos os pontos de vista (heréticos) e
atingido as leis do vazio, (eu concebo) que me tornei extinto; contudo isso não é considerado como
sendo extinção.
13. Mas quando a pessoa se torna Buda, um ser superior, honrado por homens, deuses,
duendes, Titãs, e agraciado com as trinta e duas marcas características, então torna-se completamente
extinto.
14. Todos esses cuidados (antigos) foram agora dispersos, agora que ouvi a voz. Agora estou
eu extinto, assim como anunciais o meu destino (de Nirvana) ante o mundo, inclusive dos deuses.
15. Quando primeiro ouvi a voz do Senhor, eu tive um grande terror, a menos que fosse
Mara, o maligno, que nessa ocasião tivesse adotado o disfarce de Buda.
16. Mas quando a insuperável sabedoria de Buda foi apresentada e estabelecida com
argumentos, razões e ilustrações, por miríades de kotis, então eu perdi toda a dúvida sobre a lei que
ouvi.
17. E quando me mencionaste os milhares de kotis de Budas, os Ginas do passado que
chegaram ao descanso final, e como pregaram essa lei, estabelecendo-a firmemente através de meios
habilidosos;
18. Como os muitos Budas do futuro e aqueles que ora existem, como conhecedores da
verdade real, exporão ou estão expondo essa lei com centenas de meios habilidosos;
19. E quando mencioneis vosso próprio curso após deixar o lar, como a idéia da roda da lei
se vos apresentou e como decidistes por pregar a lei.
20. Então eu me convenci: Este não se trata de Mara; é o Senhor do mundo, que mostrou o
verdadeiro caminho; nenhum Mara poderia permanecer aqui. Então minha mente (por um momento)
Ó ficou cheia de perplexidade;
21. Mas quando a doce, profunda e maviosa voz do Buda me alegrou, todas as dúvidas foram
dissipadas, minha perplexidade desapareceu, e eu me quedei firme no conhecimento.
22. Eu devo me tornar um Tathagata, sem dúvidas, venerado no mundo inclusive pelos
deuses; eu manifestarei a sabedoria de Buda, misteriosamente despertando a muitos Bodhisatvas.
Depois desse discurso do venerável Sariputra, o Senhor lhe disse: Eu te declaro, Sariputra, eu te
anuncio, em presença deste mundo inclusive dos deuses, Maras e Brahmas, em presença deste povo,
incluindo ascetas e Brâmanes, que tu, Sariputra, foste amadurecido por mim para a iluminação suprema
perfeita, em presença de vinte centenas de milhares de kotis de Buda, e que tu, Sariputra, seguiste há
muito tempo a minha vontade. Tu, Sariputra, és, pelo conselho do Bodhisatva, pelo decreto do
Bodhisatva, aqui renascido sob meu reinado. Devido à poderosa vontade do Bodhisatva tu, Sariputra,
não tens lembrança de tua promessa passada de observar o curso (religioso); do conselho do
Bodhisatva, do decreto do Bodhisatva. Pensas que alcançaste o descanso final. Eu, querendo reviver e
renovar em ti o conhecimento de tua promessa passada para observar o curso (religioso), revelarei aos
discípulos o Dharmaparyaya chamado ‘o Lótus Branco da Verdadeira Lei’, este Sutranta etc.
Novamente, Sariputra, em um período futuro, depois de Aeons inumeráveis, inconcebíveis,
imensuráveis, quando tiveres aprendido a verdadeira lei de centenas de milhares de kotis de Tathagatas,
demonstrado a devoção de várias formas, e alcançado o presente curso do Bodhisatva, tornar-vos-ei
no mundo um Tathagata etc. chamado Padmaprabha, agraciado com ciência e conduta, um Sugata, um
conhecedor do mundo, um insuperável orientador de homens, um mestre de deuses e homens, um
Senhor Buda.
Naquele tempo então, Sariputra, o campo de Buda daquele Senhor, o Tathagata Padmaprabha, a
ser chamado Viraga, será plano, agradável, deleitoso, extremamente bonito de se ver, puro próspero,
rico, quieto, abundante em comida, repleto de muitas raças de homens; consistirá de lápis-lazuli e
conterá um tabuleiro enxadrezado com oito compartimentos distinguidos por fios de ouro, cada
compartimento tendo a sua árvore de jóia sempre e perpetuamente cheia de flores e frutos das sete
substâncias preciosas.
21
Saddharma-Pundarika / Uma Parábola / Capítulo 3

Agora, aquele Tathagata Padmaprabha etc., Sariputra, pregará a lei por intermédio dos três
veículos. Alem disso, Sariputra, aquele Tathagata não aparecerá na decadência do Aeon, mas pregará a
lei por virtude de uma promessa.
Aquele Aeon, Sariputra, será chamado Maharatnapratimandita (i.e. ornamentado de magníficas
jóias). Sabes tu, Sariputra, por que aquele Aeon será chamado Maharatnapratimandita? Os Bodhisatvas
de um campo de Buda, Sariputra, são chamados ratnas (jóias), e naquele tempo haverão muitos
Bodhisatvas naquela esfera (chamada) Viraga, inúmeros, incalculáveis, além do cômputo, abstração
feita deles por serem computados pelos Tathagatas. Por isso é aquele Aeon chamado
Maharatnapratimandita.
Agora, para prosseguir, Sariputra, naquele período os Bodhisatvas daquele campo irão ao andar,
pisar os lótus de jóia. E aqueles Bodhisatvas não estarão executando seus trabalhos pela primeira vez,
tendo eles acumulado raízes de bondade e observado o curso do dever sob muitas centenas de
milhares de Budas; eles são louvados pelos Tathagatas por suas zelosas aplicações do conhecimento de
Buda; são aperfeiçoados nos ritos preparatórios ao conhecimento transcendental; peritos na direção de
todas as leis verdadeiras; gentis, considerados. Geralmente, Sariputra, aquela região de Buda estará
pululando de tais Bodhisatvas.
Quando à duração devida, Sariputra, daquele Tathagata Padmaprabha, esse durará doze kalpas
intermediários, se deixarmos fora de questão o tempo seu de ter sido um jovem príncipe. E a duração
de vida das criaturas então viventes medirá oito kalpas intermediários. Ao fim de doze kalpas
intermediários, Sariputra, o Tathagata Padmaprabha, após anunciar o destino futuro do Bodhisatva
chamado Dhritiparipurna à iluminação perfeita superior, entrará no Nirvana completo. ‘Esse
Bodhisatva Mahasatva Dhritiparipurna, Ó monges, deverá imediatamente, seguindo-se a mim, alcançar
a iluminação suprema e perfeita. Ele se tornará no mundo um Tathagata chamado
Padmavrishabhavikramin, um Arhat etc., agraciado com ciência e conduta etc. etc.’
Agora o Tathagata Padmavrishabhavikramin, Sariputra, terá um corpo de Buda exatamente da
mesma descrição. A verdadeira lei, Sariputra, daquele Tathagata Padmavrishabhavikramin durará, após
sua extinção, trinta e dois kalpas intermediários, e a imitação de sua verdadeira lei durará iguais kalpas
intermediários.
E naquela ocasião o Senhor pronunciou as seguintes estrofes:
23. Tu também, filho de Sari, deverás no futuro te tornar um Gina, um Tathagata chamado
Padmaprabha, de visão ilimitada; deverás educar milhares de kotis de seres vivos.
24. Depois de honrar muitos kotis de Budas, fazendo um esforço extremo no curso do
dever, e depois de teres produzido em ti os dez poderes, alcançarás a iluminação suprema perfeita.
25. Dentro de um período inconcebível e imenso haverá um Aeon rico em jóias (ou o Aeon
rico-jóia), e uma esfera chamada Viraga, o campo puro dos homens mais elevados;
26. E o seu chão consistirá de lápis-lazuli, e será arrematado por fios de ouro; terá centenas
de árvores de jóias, muito bonitas, e cobertas de flores e frutos.
27. Bodhisatvas com boa memória, capazes de mostrar o curso do dever que foram
ensinados sob centenas de Budas, nascerão naquele campo.
28. E o Gina acima mencionado, então em sua última existência corpórea, deverá, após
passar o estado de príncipe real, renunciar aos prazeres sensuais, deixar a casa (para tornar-se um asceta
peregrino), e mais tarde alcançar a mais elevada e suprema iluminação.
29. A duração de vida daquele Gina será precisamente de doze kalpas intermediários, e a vida
dos homens durará então oito kalpas intermediários.
30. Depois da extinção do Tathagata a verdadeira lei continuará por trinta e dois Aeons ao
todo, para o beneficio do mundo, inclusive dos deuses.
31. Quando a verdadeira lei terminar, a sua imitação durará trinta e dois kalpas
intermediários. As relíquias dispersas do sagrado serão sempre honradas por homens e deuses.
32. Tal será o destino daquele Senhor. Alegra-te, Ó filho de Sari, pois és tu quem será então
aquele mais excelente dos homens, assim insuperável
As quatro classes de audiência, monges, monjas, devotos leigos, homens e mulheres deuses,
Nagas, duendes, Gandharvas, demônios, Garudas, Kinnaras, grandes serpentes, homens e seres não
humanos, ouvindo o destino do venerável Sariputra para a iluminação suprema e perfeita, ficaram tão
contentes, alegres, encantados, vibrando de alegria e deleite, que cobriram o Senhor separadamente
22
Saddharma-Pundarika / Uma Parábola / Capítulo 3

com seus próprios mantos, enquanto que Indra, o rei dos Deuses, Brahma Sahampati além de centenas
de milhares de kotis de outros seres divinos, cobriam-no com vestimentas celestes e o envolveram de
flores do céu, Mandaravas e grandes Mandaravas. Giraram alto roupas celestes, e tocaram centenas de
milhares de címbalos e instrumentos musicais celestes, alto nos céus; e depois de verterem uma grande
chuva de flores pronunciaram essas palavras: A roda da lei foi posta em movimento pelo Senhor, a
primeira vez em Benares, em Rishipatana, no parque dos Veados; hoje novamente o Senhor colocou
em movimento a suprema roda da lei.
E naquela ocasião aqueles seres divinos pronunciaram as seguintes estrofes:
33. A roda da lei foi colocada em movimento por vós, Ó vós que sois sem rival no mundo,
em Benares, Ó grande herói! (aquela roda que é a rotação do ) surgimento e decadência de todos os
agregados.
34. Lá foi colocada em movimento pela primeira vez; agora, uma segunda vez, é girada aqui,
Ó Senhor. Hoje, Ó Mestre, pregaste esta lei, que é difícil de se receber com fé.
35. Muitas leis ouvimos nós perto ao Senhor do mundo, mas nunca antes ouvimos uma lei
como essa.
36. Recebemos com gratidão, Ó Grande herói, o discurso misterioso dos grandes Sábios, tal
com esta predição que diz respeito ao auto-controlado Arya Sariputra.
37. Possamos nós também nos tornar tais Budas incomparáveis no mundo, que pelo
discurso misterioso anunciemos a suprema iluminação de Buda.
38. Possamos nós também, pelo bem que fizemos nesse mundo e no próximo, e por termos
propiciado ao Buda, sermos permitidos a fazer a promessa pelo Budado.
Então, o venerável Sariputra falou assim ao Senhor: Minha dúvida de esvaiu, Ó Senhor, minha
incerteza chegou a um fim, ouvindo da boca do Senhor meu destino para a iluminação suprema. Mas
estes mil e duzentos (discípulos) autocontrolados, Ó Senhor, que foram por vós colocados no estágio
de Saikshas, foram assim advertidos e instruídos: ‘Minha pregação da lei, Ó monges, refere-se a isso,
que a libertação do nascimento, envelhecimento, doença, e morte está inseparavelmente conectada
com o Nirvana; e esses dois mil monges, Ó Senhor, vossos discípulos, tanto aqueles que ora estão sob
treinamento e adeptos, todos eles estando livres de pontos de vista falsos sobre a alma, pontos de vista
falsos sobre a existência, pontos de vista falsos sobre a cessação da existência, livres, em resumo, de
todos os pontos de vista falsos, que se imaginam ter alcançado o estágio do Nirvana, esses cairiam na
incerteza ao ouvirem da boca do Senhor essa lei que não haviam ouvido antes. Portanto Senhor, por
favor fale a esses monges, para dispersar as suas intranqüilidades, para que as quatro classes de
audiência, Ó Senhor, possam ficar livres de suas dúvidas e perplexidades.
Com esse discurso do venerável Sariputra o Senhor lhe disse o seguinte: Não vos disse eu antes,
Sariputra, que o Tathagata etc., prega a lei com meios habilidosos, direções várias e indicações, idéias
fundamentais, interpretações adequadas, com a devida consideração às diferentes disposições e
inclinações das criaturas cujos temperamentos são tão diversos? Todas as suas pregações da lei não têm
outro fim senão a iluminação suprema e perfeita, para a qual ele está despertando os seres ao rumo do
Bodhisatva. mas Sariputra, para esclarecer essa questão em mais detalhes, eu te contarei uma parábola,
pois homens de boa compreensão, geralmente perceberão mais rápido e profundamente o significado
do que é transmitido sob a forma de uma parábola.
Suponhamos o seguinte caso, Sariputra. Em uma certa aldeia, cidade, província, prefeitura, reino
ou capital, existe um certo senhor, velho, idoso, decrépito, muito avançado em anos, rico , influente,
opulento; ele tinha uma grande casa, alta, espaçosa, construída há muito tempo atrás e já antiga,
habitada por uns duzentos, trezentos, quatrocentos ou quinhentos seres vivos. A casa tinha apenas
uma porta, e um telhado; os seus terraços estavam bambos, as bases de seus pilares podres, as
coberturas e revestimentos das paredes soltas. De repente a casa inteira foi de todos os lados
incendiada por um grande fogaréu. Suponhamos que o homem tivesse filhos pequenos, digamos cinco,
ou dez, ou mesmo vinte, e que ele mesmo havia saído da casa.
Agora, Sariputra, aquele homem, vendo que a casa de todos os lados encontra-se em chamas por
um grande fogaréu, ficou temeroso, aflito, apavorado, e fez a seguinte reflexão: eu mesmo sou capaz
de sair da casa em chamas pela porta, rápido e desembaraçadamente, sem ser atingido ou queimado
por aquele fogaréu; mas meus filhos, aquelas pequenas crianças, ficaram na casa incendiada, brincando,
se divertindo, e se distraindo com todo tipo de jogos. Eles não percebem nem sabem, nem
23
Sutra do lotus
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  • 1. Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1 SADDHARMA-PUNDARIKA OU O Lótus Branco da Verdadeira Lei Homenagem a Todos os Budas e Bodhisatvas TRADUÇÃO: MARCOS BELTRÃO www.marcosbeltrao.net CAPÍTULO 1 INTRODUTÓRIO ssim ouvi dizer. Uma vez quedava-se o Senhor em Ragagriha, na montanha de Gridhrakuta(1) , com uma numerosa assembléia de monges, mil e duzentos monges. Todos eles Arhats, sem defeitos, livres de mundanidade, dotados de autodomínio, completamente emancipados em pensamento e conhecimento, de casta nobre, parecidos a grandes elefantes, tendo completado o que vieram fazer, cumprido com seu dever, completado suas tarefas, atingido seus objetivos; em quem os elos que os ligavam à existência haviam se rompido por completo, cujas mentes se encontravam perfeitamente emancipadas pelo conhecimento, que possuíam total perfeição no domínio de seus pensamentos; que tinham as faculdades transcendentes; grandes discípulos, tais como o venerável Agnata-Kaundinya, o venerável Asvagit, o venerável Vashpa, o venerável Mahanamam, o venerável Bhadrika(2), o venerável Mahakasyapa, o venerável Kasyapa de Urunvilva, o venerável Kasyapa de Nadi, o venerável Kayapa de Gaya (3), o venerável Sariputra, o venerável MahaMaudgalyayana(4), o venerável Maha-Katyayana (5), o venerável Aniruddha (6), o venerável Revata, o venerável Kapphina, o venerável Gavampati, o venerável Pilindavatsa, o venerável Vakula, o venerável Bharadvaga, o venerável Maha-Kaushthila, o venerável Nanda (aliás Mahananda), o venerável Upananda, o venerável Sundara-Nanda, o venerável Purna Maitrayanitputra, o venerável Subhuti, o venerável Rahula; com eles ainda outros grandes discípulos, como o venerável Ananda, ainda em treinamento e dois mil outros monges, alguns deles ainda em treinamento, e outros mestres; com suas mil monjas, tendo à frente Mahapragapati (6) e a monja Yasodhara, a mãe de Rahula, junto com seu séquito; (além disto) com oitenta mil Bodhisatvas, todos incapazes de retrogradar em seu treinamento, dotados das maravilhas da iluminação suprema e perfeita, estabelecidos na sabedoria; que movem adiante a roda da lei que nunca se desvia; que haviam feito doações a milhares de Budas; que com muitas centenas de milhares de Budas haviam plantado as raízes da bondade, tendo sido íntimos com muitas centenas de milhares de Budas, e estando completamente penetrados em corpo e mente do sentimento da compaixão; capazes de transmitir a sabedoria dos Tathagatas; muito sábios, tendo alcançado a perfeição da sabedoria; famosos em muitas centenas de milhares de mundos; tendo salvo muitas centenas de milhares de kotis de seres; tais como o bodhisatva Mahasatva Manjusri, como príncipe real; os Bodhisatvas Mahastavas Avalokitesvara, Mahasthamaprapta, Sarvarthanaman, Nityodyukta, Anikshiptadhura, Ratnapani, Baishagyaraga, Pradanasura, Ratnakandra, Ratnaprabha, Purnakandra, Mahavikramin, Trailokavikramin, Anantavikramin, Mahapratibhana, Satatasamitabhiyukta, Dharanidara, Akshayamati, Padmasri, Nakshatraraga, o Bodisatva Mahasatva Maitreya, o Bodisatva Mahasatva Simha. A 1
  • 2. Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1 Com eles se encontravam igualmente os dezesseis homens virtuosos, a começar com Bhadrapala, ou seja, Bhadrapala, Ratnakara, Susarthavaha, Naradatta, Guhagupta, Varunadatta, Indradatta, Uttaramati, Viseshamati, Vardharmanamati, Amoghadarsin, Susamsthita, Suvikrantavikramin, Anupamamati, Sutyagarbha e Dharanidhara; além de oitenta mil Bodhisatvas, dentre os quais os acima citados sendo os líderes; além destes, Sakra, o regente dos seres celestes, com vinte mil deuses, seus seguidores, como o Deus Kandra (a Lua), o Deus Surya (o Sol), o Deus Samantagandha (o Vento), o Deus Ratnaprabha, o Deus Avabhasaprabha, e outros; além destes, os quatro grandes regentes dos pontos cardeais com outros trinta mil deuses em seus séquitos, a saber, o grande regente Virudhaka, o grande regente Virupaksha, o grande regente Dhritarashtra, e o grande regente Vaisravana; o Deus Isvara e o Deus Mahesvara, cada qual seguido de trinta mil deuses; além disto Brahma Sahampati e seus doze mil discípulos, os deuses Brahmakayika, entre eles Brahma Sikhin e Brahma Gyotishprabha, com os outros doze mil deuses Brahamakayika; junto com os oito reis Naga e muitas centenas de milhares de kotis de Nagas em seus séquitos, a saber, o rei Naga Nanda, o rei Naga Upananda, Sagara, Vasuki, Takshaka, Manasvin, Anavatapta, e Utpalaka; além destes, estavam também os quatro reis Kinnara com muitas centenas de milhares de kotis de discípulos, a saber, o rei Kinnara Druma, o rei Kinnara Mahadharma, o rei Kinnara Sudharma, e o rei Kinnara Dharmadhara.; além disto os quatro seres divinos (conhecidos como) Gandharvakayikas com muitas centenas de milhares de Ganhdarvas em seus séquitos, a saber o Gandharva Manogna, o Gandharva Manognasvara, o Gandharva Madhura, e o Gandharva Madhurasvara; além disto, os quatro chefes dos demônios seguidos de muitas centenas de milhares de kotis de demônios, a saber, o chefe dos demônios Bali, Kharaskandha, Vemakitri e Rahu; junto com os quatro chefes Garuda seguidos de muitas centenas de milhares de miríades de kotis de Garudas, a saber os chefes Garudas Mahategas, Mahakaya, Mahapurna, e Maharddhiprapta, e com Agatasatru, rei de Magadha e filho de Vaidehi. Naquele tempo o Senhor foi cercado, assistido, honrado, reverenciado, venerado, louvado pelos quatro tipos de ouvintes, depois de expor o Dharmaparyaya chamado ‘a Grande Exposição,’ um texto muito importante, servindo para instruir os Bodhisatvas e dirigido a todos os Budas, e, tendo sentado de pernas cruzadas no assento da lei, entrou na meditação denominada ‘a estação da exposição do Infinito’; seu corpo ficou imóvel e sua mente havia alcançado a perfeita tranqüilidade. Tão logo o Senhor deu entrada em sua meditação, uma grande chuva de flores divinas foi vertida, Mandaravas e grandes Mandaravas, Mangushakas e grandes Mangushakas, cobrindo o Senhor e as quatro classes de ouvintes, enquanto que todo o campo de Buda tremia de seis maneiras: movendo-se, remexendo-se, tremendo, tremendo de um fim a outro, sacudindo-se e sacudindo junto. Então aqueles que estavam reunidos e sentados naquela congregação, monges, monjas, leigos devotos, homens e mulheres, deuses, Nagas, duendes, Gandharvas, demônios, Garudas, Kinnaras, grandes serpentes, homens e seres não humanos, assim como governadores de uma região, líderes de exércitos e regentes dos quatro continentes, todos eles com seus séquitos, fitaram o Senhor com assombro, com admiração, em êxtase. E naquele momento projetou-se um raio de dentro do círculo de cabelo entre as sobrancelhas do Senhor. Estendeu-se por dezoito centenas de milhares de campos-de-Buda na região do leste, de forma que todos aqueles campos de Buda apareceram totalmente iluminados por sua radiância, até o grande inferno de Aviki e até os limites da existência. E os seres em quaisquer dos seis estados de existência tornaram-se visíveis, todos sem exceção. De forma idêntica os Senhores Budas quedando-se, vivendo e existindo naqueles campos de Buda tornaram-se todos visíveis e a lei pregada por eles foi capaz de ser ouvida completamente por todos os seres. E os monges, monjas, devotos leigos, homens e mulheres, Yogins e alunos de Yoga, aqueles que haviam obtido a fruição (dos Caminhos de Santidade) e aqueles que ainda não o haviam feito, eles, também tornaram-se visíveis. E os Bodhisatvas, Mahasatvas naqueles campos de Buda que trilhavam o curso do Bodhisatva com habilidade, devido às suas sinceras crenças em numerosas e variadas lições e nas idéias fundamentais, eles também, tornaram-se todos visíveis. E as Stupas, feitas de jóias e contendo as relíquias dos Budas extintos tornaram-se todas visíveis naqueles campos de Buda. Então surgiu na mente do Bodhisatva Mahasatva Maitreya este pensamento: Ó, que grande maravilha nos mostra o Tathagata! Qual poderia ser a causa disto, qual a razão para que o Senhor produza uma tão grande maravilha com essa? E tais milagres surpreendentes, prodigiosos, inconcebíveis, poderosos agora aparecem, apesar do Senhor estar absorvido em meditação! Por que, deixai-me inquirir mais sobre esse assunto; quem aqui poderia 2
  • 3. Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1 me explicar isto? Ele então pensou: Aqui está Manjusri, o príncipe real, que exerceu seu ofício sob Ginas anteriores e plantou as raízes da bondade, enquanto reverenciava muitos Budas. Manjusri, o príncipe real, deve ter testemunhado antes tais sinais de Tathagatas anteriores, aqueles Arhats, aqueles Budas perfeitamente iluminados; desde então deve ele ter desfrutado dos grandes diálogos sobre a lei. Heis pois que eu lhe perguntarei sobre isto, a Manjusri, o príncipe real. E as quatro classes de audiência, monges, monjas, leigos devotos homens e mulheres, deuses numerosos, Nagas, duendes, Gandharvas, demônios, Garudas, Kinnaras, grandes serpentes, homens, e seres não humanos, ao constatarem a magnificência deste grande milagre do Senhor, foram tomados de assombro, surpresa e curiosidade, e pensaram: Inquiramos porque este milagre magnífico foi produzido pelo grande poder do Senhor. Ao mesmo tempo, naquele mesmo instante, o Bodhisatva Mahasatva Maitreya soube o que eles pensavam, os pensamentos que surgiram nas mentes dos quatro tipos de ouvintes e ele disse a Manjusri, o príncipe real: Qual, Ó Manjusri, é a causa, qual a razão deste maravilhoso, prodigioso, miraculoso brilho que foi produzido pelo Senhor? Vede, como estes dezoito mil campos de Buda aparecem variegados, extremamente bonitos, dirigidos por Tathagatas e controlados por Tathagatas. Então Maitreya, o Bodhisatva Mahasatva, dirigiu-se a Manjusri, o príncipe real, nas seguintes estrofes: 1. Por que, Manjusri, brilha este facho dirigido pelo que guia os homens, dentre suas sobrancelhas? Este raio único partindo do círculo de cabelo? E por que esta chuva abundante de Mandaravas? 2. Os deuses, exultantes, verteram Mangushakas e pó de sândalo, divinos, fragrantes e deliciosos. 3. Esta terra está, em todos os lados, repleta de esplendor e todas as quatro classes da assembléia estão cheias de deleite, enquanto que o campo inteiro treme em seis diferentes direções, ameaçadoramente. 4. E aquele facho na região leste ilumina todos os dezoito mil campos de Buda, simultaneamente, de tal forma que aqueles campos aparecem como tingidos de ouro. 5. (O universo) tão longínquo quanto (o inferno) de Aviki (e) o extremo limite da existência, com todos os seres naqueles campos vivendo em quaisquer dos seis estados de existência, aqueles que estão deixando um estado para nascerem em outro. 6. As suas variadas e diferentes ações naqueles estados tornaram-se todas visíveis; quer estejam eles em uma posição feliz, infeliz, baixa, eminente ou intermediária, tudo isto eu posso ver deste lugar. 7. Vejo também os Budas, aqueles leões de reis, revelando e mostrando a essência da lei, confortando a muitos kotis de criaturas e emitindo doces vozes. 8. Eles emitem, cada qual em seu próprio campo, uma voz profunda, sublime, maravilhosa, enquanto que proclamam as leis de Buda por intermédio de miríades de kotis de ilustrações e provas. 9. E às criaturas ignorantes que estão oprimidas com trabalhos e aflitas em mente pelo nascimento e velhice, eles anunciam a fruição do Descanso, dizendo: Este é o fim das dificuldades, Ó monges. 10. E àqueles que estão em suas forças e plenitudes e que adquiriram mérito em virtude da crença sincera nos Budas, eles mostram o veículo dos Pratyekabudas, observando esta regra da lei. 11. E os outros filhos do Sugata, que, procurando o conhecimento superior, constantemente realizando suas várias tarefas, a eles também os incita à iluminação. 12. Deste lugar, Ó Mangughosha, eu vejo e ouço tais coisas e milhares de kotis de outros particulares além disto; eu apenas descreverei alguns deles. 13. Eu vejo em muitos campos Bodlhisatvas por muitos milhares de kotis, como as areias do Ganges, que estão produzindo a iluminação de acordo com os diferentes graus de seu poderes. 14. Há alguns que caridosamente dão riquezas, ouro, prata, dinheiro em ouro, pérolas, jóias, conchas de moluscos, pedras, coral, escravos homens e mulheres, cavalos e ovelhas; 15. Assim como liteiras adornadas de jóias. Eles estão dando oferendas de coração alegre, desenvolvendo-se para a iluminação superior, na esperança de obterem o veículo. 3
  • 4. Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1 16. (Assim pensam eles): ‘O melhor e mais excelente veículo em todo mundo tríplice é o veículo de Buda elogiado pelos Sugatas. Possa eu, com efeito, obtê-lo logo depois de ter dado tais oferendas.” 17. Alguns dão carruagens puxadas por quatro cavalos e equipadas com assentos, flores, bandeirolas, e bandeiras; outros dão objetos feitos de substâncias preciosas. 18. Outros, ainda, dão suas crianças e mulheres; outros suas próprias carnes; (ou) oferecem, quando pedidos, suas mãos e pés, almejando atingir a iluminação suprema. 19. Alguns dão suas cabeças, outros suas vistas, outros seus próprios corpos queridos, e depois de oferecerem alegremente os seus presentes eles aspiram ao conhecimento dos Tathagatas. 20. Aqui e ali, Ó Manjusri, eu percebo seres que abandonaram seus reinos florescentes, haréns e continentes, deixaram todos os seus conselheiros e parentes, 21. E dirigindo-se aos guias do mundo para perguntar sobre a lei muito excelente, para o deleite, envergam mantos amarelos-alaranjados e raspam suas cabeças e barbas. 22. Eu vejo também muitos Bodhisatvas como os monges, vivendo na floresta, e outros habitando os desertos vazios, aplicando-se a recitar e a ler. 23. E alguns Bodhisatvas eu vejo que, cheios de sabedoria (ou constância), dirigem-se às cavernas nas montanhas, onde pelo cultivo e meditação no conhecimento-de-Buda, chegam à sua percepção. 24. Outros que renunciaram a todos os desejos sensuais, purificando-se, limparam a sua esfera e obtiveram as cinco faculdades transcendentes, vivendo no deserto, como (verdadeiros) filhos do Sugata. 25. Alguns quedam-se firmes, os pés juntos e as mãos reunidas como mostra de respeito aos líderes, e estão alegremente a louvar o rei dos maiores Ginas em milhares de estrofes. 26. Alguns pensativos, humildes, e tranqüilos, que dominaram as sutilezas do caminho do dever, perguntam ao mais elevado dos homens pela lei, e retêm em sua memória o que aprenderam. 27. E eu vejo aqui e ali alguns filhos do Gina principal que, depois de se desenvolverem, pregam a lei a muitos kotis de seres vivos com muitas miríades de ilustrações e razões. 28. Alegremente proclamam a lei, despertando muitos Bodhisatvas; depois de conquistarem ao Maligno com seus séquitos e veículos, eles ressoam o tambor da lei. 29. Eu vejo alguns filhos do Sugata, humildes, calmos e quietos em conduta, vivendo sob o comando dos Sugatas e honrados por homens, deuses, duendes e Titãs. 30. Outros novamente, que se retiraram às florestas espessas, estão a salvar as criaturas nos infernos emitindo uma radiância de seus corpos, e os despertando para a iluminação. 31. Há alguns filhos do Gina que moram na floresta, vigorosos, renunciando completamente ao desleixe, e ativamente engajados em caminhar; é pela energia que eles lutam pela iluminação suprema. 32. Outros completam o seu curso mantendo uma constante pureza e uma moralidade não quebrada como pedras preciosas e jóias; pela moralidade lutam estes pela iluminação suprema. 33. Alguns filhos do Gina, cuja força consiste na abstenção, pacientemente agüentam o abuso, a censura, e as ameaças de monges orgulhosos. Eles tentam atingir a iluminação por virtude da abstenção. 34. Além disto, eu vejo Bodhisatvas, que abdicaram a todos os prazeres casuais, evitam companhias não-sábias e deleitam-se em ter intercurso com homens gentis (aryas); 35. Que, evitando quaisquer distrações de pensamentos, e com uma mente atenta, durante milhares de kotis de anos meditaram em cavernas do deserto; estes lutam pela iluminação por força da meditação. 36. Alguns, por outro lado, oferecem na presença dos Ginas e na assembléia de discípulos presentes (consistindo) de comida dura e macia, carne e bebida, medicamentos para os doentes, em quantidade e abundância. 37. Outros oferecem na presença dos Ginas e na assembléia dos discípulos centenas de kotis de roupas, valendo milhares de kotis, e roupas de valor incalculável. 38. Eles ofertam em presença dos Sugatas centenas de kotis de mosteiros que fizeram construir de substâncias preciosas e madeira de sândalo, e que estão equipados com numerosos alojamentos (ou camas). 4
  • 5. Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1 39. Alguns presenteiam os líderes dos homens e seus discípulos com jardins bem tratados e belos, cheios de árvores frutíferas e flores lindas, para servir como lugares de recreação diária. 40. Quando fizeram, com sentimentos alegres, tais donativos vários e esplêndidos, despertaram sua energia para alcançar a iluminação; estes são aqueles que lutam por alcançar a suprema iluminação por intermédio da ação altruísta. 41. Outros sustentam a lei da quietude, por muitas miríades de ilustrações e provas; eles a pregam a milhares de kotis de seres vivos; esses tendem à iluminação suprema pela ciência. 42. (Existem) filhos do Sugata que tentam alcançar a iluminação pela sabedoria; eles compreendem a lei da equanimidade e evitam agir pela antinomia (das coisas), desapegados como pássaros no céu. 43. Além disso, eu vejo, Ó Mangughosha, muitos Bodhisatvas que demonstraram firmeza sob o comando de Sugatas que já se foram e agora estão venerando as relíquias dos Ginas. 44. Eu vejo milhares de kotis de Stupas, numerosas como as areias do Ganges, que foram erigidas por esses filhos do Gina e agora adornam a kotis de terrenos. 45. Aquelas magníficas Stupas, feitas das sete substâncias preciosas, com seus milhares de kotis de pára-sóis, e bandeirolas, medem em altura não menos que 5000 yoganas e 2000 yoganas de circunferência. 46. Elas estão sempre decoradas com bandeiras; uma multidão de sinos é constantemente ouvida a badalar; homens, deuses, duendes e Titãs prestam sua veneração com flores, perfumes e música. 47. Tal honra prestam os filhos do Sugata às relíquias dos Ginas, de forma que todas direções do espaço estão refulgindo como se fossem árvores de coral celeste em plena floração. 48. Desta localização eu vejo tudo isso; aqueles numerosos kotis de criaturas; tanto esse mundo como o céu cobertos de flores, devido a um só raio de luz partindo do Gina. 49. Ó quão poderoso é o Líder dos homens! Com é extenso e brilhante o seu conhecimento! Que um só raio emitido por ele pelo mundo afora, torne visível tantos milhares de campos! 50. Estamos atônitos de constatar esse sinal e essa maravilha tão grande, tão incompreensível. Explicai-me essa questão, Ó Mangusvara! Os filhos do Buda estão ansiosos para disto se inteirar. 51. As quatro classes da congregação com alegre expectativa vos fitam, Ó heróis, e a mim; alegrai (os seus corações); removei as suas dúvidas; concedei uma revelação, Ó filho do Sugata! 52. Por que o Sugata emitiu agora uma tal luz? Ó, quão grande é o poder do líder dos homens! Ó quão extenso e sagrado é o seu conhecimento! 53. Aquele raio estendendo-se a partir dele por todo o mundo torna visível muitos milhares de campos. Deve ser por algum motivo que esse grande raio foi emitido. 54. Será revelado pelo Senhor dos homens as leis primordiais que ele, o mais Elevado dos homens, descobriu no terreno da iluminação? Ou profetizará ele aos Bodhisatvas os seus destinos futuros? 55. Deve haver uma sólida razão porque foram feitos visíveis tantos milhares de campos, variegados, esplêndidos, e brilhando com jóias, enquanto Budas de visão infinita estão aparecendo. 56. Maitreya pergunta ao filho do Gina; homens, deuses, duendes, e Titãs, as quatro classes da congregação ansiosamente aguardam que resposta Mangusvara dará explicando isto. Com isso, Manjusri, o príncipe real, se dirigiu a Maitreya, o Bodhisatva Mahasatva, e a toda a assembléia dos Bodhisatvas (nestas palavras): é a intenção do Tathagata, moços de boa família, começar um grande discurso para o ensinamento da lei, fazer ressoar o grande tambor da lei, levantar a grande bandeira da lei, acender a grande tocha da lei, soprar a grande trombeta em concha da lei, e bater o grande címbalo da lei. Novamente, é a intenção do Tathagata, moços de boa família, fazer uma grande exposição da lei neste mesmo dia. Assim me parece, moços de boa família, como já testemunhei um sinal parecido dos Tathagatas passados, os Arhats, os perfeitamente iluminados. Aqueles Tathagatas passados, etc., eles também emitiram um raio brilhante e eu estou convencido que o Tathagata está por pregar um grande discurso para o ensinamento da lei e tornar o seu grande discurso da lei por toda parte conhecido, tendo mostrado um tal sinal prévio. E porque o Tathagata, etc., deseja que este Dharmaparyaya, que encontra oposição por todo mundo seja ouvido por todos, 5
  • 6. Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1 por isso ele mostra um tão grande milagre, e este sinal prévio, esse lustro ocasionado pela emissão de um raio. Eu me recordo, moços de boa família, que nos dias de antanho, muitos Aeons imensuráveis, inconcebíveis, imensos, infinitos, incontáveis, mais do que incontáveis Aeons atrás, não, muito, mas muito antes no tempo, nasceu um Tathagata chamado Kandrasuryapradipa, um Arhat, etc. agraciado com a ciência e a conduta, um Sugata, conhecedor do mundo, um incomparável instrutor de homens, um mestre (e regente) de deuses e homens, um Buda e Senhor. Ele demonstrou a lei; ele revelou o curso devido que é sagrado no começo, que é sagrado no meio e que é sagrado no fim, bom na substância e na forma, completo e perfeito, correto e puro. Isso eqüivale a dizer, aos discípulos ele pregou a lei contendo as quatro Nobres Verdades, e começando da corrente de causas e efeitos, tendendo a ir além do nascimento, decrepitude, doença, morte, tristeza, lamentação, dor, pesar, desânimo, e finalmente conduzindo ao Nirvana; e aos Bodhisatvas ele pregou a lei relacionada com as seis Perfeições, e terminando com o conhecimento do Onisciente, depois de alcançar a iluminação suprema e perfeita. (Agora, moços de boa família, longo tempo antes do Tathagata Kandrasuryapradipa, o Arhat, etc., apareceu um Tathagata, etc., de forma idêntica chamado Kandrasyryapradipa, depois do qual, Ó Agita, houveram vinte mil Tathagatas, etc., todos eles tendo o nome de Kandrasuryapradipa, da mesma linhagem e nome de família, isto é, de Bharadvaga. Todos aqueles vinte mil Tathagatas, Ó Agita, do primeiro ao último, revelaram a lei, mostraram o caminho que é sagrado no começo, sagrado no meio e sagrado no fim, etc. etc.) O acima mencionado Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagta, etc., quando um jovem príncipe e não ainda tendo deixado a sua casa (para entrar na vida ascética), teve oito filhos, a saber, os jovens príncipes Sumati, Anantamati, Ratnamati, Viseshamati, Vimatisamudghatin, Goshamati, e Dharmamati. Esses oito jovens príncipes, Agita, filhos do Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagata, tinham uma imensa fortuna. Cada qual deles estava em possessão de quatro grandes continentes onde exerciam a prerrogativa real. Quando viram que o Senhor havia deixado a sua casa para se tornar um asceta, e ouviram que ele havia alcançado a iluminação suprema e perfeita, eles abandonaram, todos eles, os prazeres da realeza e seguiram o exemplo do senhor renunciando ao mundo; todos eles lutaram por alcançar a iluminação superior e se tornar pregadores da lei. Enquanto que constantemente levando uma vida sagrada, aqueles jovens príncipes plantaram as raízes da bondade sob muitos milhares de Budas. Foi naquele tempo, Agita, que o Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagata, etc., depois de expor o Dharmaparyaya chamado ‘a Grande Exposição,’ um texto de grande extensão, servindo para instruir os Bodhisatvas e apropriado a todos os Budas, no mesmo momento e instante, no mesmo agrupamento de classes de ouvintes, sentou-se de pernas cruzadas no mesmo assento da lei, e entrou na meditação chamada ‘A Estação da exposição do Infinito’; seu corpo estava imóvel e sua mente havia alcançado a tranqüilidade perfeita. Tão logo o Senhor entrou em meditação, foi vertida uma grande chuva de flores divinas, Mandaravas e grandes Mandaravas, Mangushakas e grandes Mangushakas, cobrindo o Senhor e as quatro classes de ouvintes, enquanto todo o campo de Buda tremeu de seis maneiras; moveu-se, remexeu-se, tremeu, tremeu de uma extremidade à outra, sacudiu e sacudiu de frente. Então fitaram, aqueles que estavam reunidos e sentados juntos na congregação, monges, monjas, leigos devotos homens e mulheres, deuses, Nagas, duendes, Gandharvas, demônios, Garudas, Kinnaras, grandes serpentes, homens e seres não humanos, assim como governadores de uma região, líderes de exércitos e regentes dos quatro continentes, todos eles com seus séquitos, ao Senhor com assombro, com espanto, em êxtase. E naquele momento emitiu-se um facho dentre o círculo de cabelo entre as sobrancelhas do Senhor. Estendeu-se por dezoito centenas de milhares de campos de Buda na região leste, de forma que todos aqueles campos de Buda apareceram totalmente iluminados pela sua radiação, assim como o fazem os campos de Buda agora, Ó Agita. (Naquela conjuntura, Agita, havia vinte kotis de Bodhisatvas seguindo o Senhor. Todos os ouvintes da lei naquela assembléia, vendo como o mundo estava iluminado pelo lustro daquele raio, sentiu assombro, espanto, êxtase, e curiosidade.) 6
  • 7. Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1 Agora aconteceu, Agita, que sob o reino do Senhor acima mencionado, havia um Bodhisatva chamado Varaprabha, que tinha oitocentos discípulos. Foi a esse Bodhisatva Varaparabha que o Senhor, levantando-se de sua meditação, revelou o Dharmaparyaya chamado ‘O Lótus Branco da Verdadeira Lei’. Ele falou plenamente durante sessenta kalpas intermediários, sempre sentando-se no mesmo assento, com o corpo imóvel e mente serena. E toda a assembléia continuou a sentar nos mesmo assentos, ouvindo a pregação do Senhor durante sessenta kalpas intermediários, não havendo uma só criatura naquela assembléia que tenha sentido fadiga de corpo ou mente. Assim como anunciava o Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagata, etc., durante sessenta kalpas intermediários, o Dharmaparyaya chamado ‘o Lótus da Verdadeira Lei,’ um texto de grande amplidão, servindo para instruir aos Bodhisatvas e adequado a todos os Budas, ele instantaneamente anunciou o seu Nirvana completo ao mundo, inclusive aos deuses, Maras e Brahmas, a todas as criaturas, inclusive ascetas, Brahmans, deuses, homens, e demônios, dizendo: Hoje, Ó monges, nesta mesma noite, na vigília do meio, irá o Tathagata, entrando no elemento do Nirvana absoluto, tornar-se completamente extinto. Nisso, Agita, o Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagata, etc., predestinou o Bodhisatva chamado Srigarbha à iluminação suprema e perfeita e então falou assim à toda assembléia: Ó monges, este Bodhisatva Srigarbha aqui presente alcançará, imediatamente depois de mim, a iluminação suprema e perfeita, e se tornará Vimalanetra, o Tathagata, etc. Daí para frente, Agita, naquela mesma noite, naquela mesma vigília, o Senhor Kandrasuryapradipa, o Tathagata, etc. extinguiu-se pela entrada no elemento do Nirvana absoluto. E o Dharmaparyaya acima mencionado, chamado ‘o Lótus da Verdadeira Lei,’ foi guardado de memória pelo Bodhisatva Mahasatva Varaprabha; durante oitenta kalpas intermediários manteve e revelou o comando do Senhor que havia entrado no Nirvana. Agora, aconteceu, Agita, que os oito filhos do Senhor Kandrasuryapradipa, Mati e o resto, eram discípulos daquele mesmo Bodhisatva Varaprabha. Eles foram por ele amadurecidos para a iluminação suprema e perfeita, e em tempos posteriores eles viram e reverenciaram a muitas centenas de milhares de kotis de Budas, todos os quais haviam atingido a iluminação suprema e perfeita, o último deles sendo Dipankara, o Tathagata, etc. Dentre aqueles oito discípulos havia um Bodhisatva que dava muito valor ao ganho mundano, a honrarias e a ser bem considerado, e gostava da glória, mas todas as palavras e letras que se lhes ensinavam, desapareciam (de sua memória), não aderindo. Então ele foi apelidado de Yasaskama. Ele havia propiciado a muitas centenas de milhares de miríades de kotis de Budas por aquela raiz de bondade, e mais tarde os estimado, honrado, respeitado, reverenciado, venerado, e adorado. Talvez, Agita, sintas alguma dúvida, perplexidade ou arrependimento que naqueles dias, naquele momento, havia um outro Bodhisatva Mahasatva Varaprabha, que pregava a lei. Mas não penses assim. Por que? Porque sou eu mesmo que naqueles dias, naquele tempo, era o Bodhisatva Mahasatva Varaprabha, que pregava a lei; e aquele Bodhisatva chamado Yasaskama, o preguiçoso, eras tu mesmo, Agita, que naqueles dias, naquele tempo, eras o Bodhisatva chamado Yasaskama, o preguiçoso. E assim, Agita, tendo uma vez visto um aviso prévio semelhante do Senhor, eu deduzo de um faixo parecido sendo emitido justo agora, que o Senhor está por expor o Dharmaparyaya chamado ‘O Lótus Branco da Verdadeira Lei.’ E naquela ocasião, para tratar do assunto mais copiosamente, Manjusri, o príncipe real, pronunciou as seguintes estrofes: 57. Eu me lembro de um período passado, a inconcebíveis, ilimitados kalpas atrás, quando o mais elevado dos seres, o Gina de nome Kandrasuryapradipa, existia. 58. Ele pregava a verdadeira lei, ele, o líder das criaturas; ele educava um número infinito de kotis de seres, e despertava inconcebivelmente numerosos Bodhisatvas para adquirir o supremo conhecimento de Buda. 59. E os oito filhos nascidos dele, o líder, quando era príncipe real, tão logo viram que o grande sábio havia abraçado a vida ascética, renunciaram aos prazeres mundanos e se tornaram monges. 60. E o Senhor do mundo proclamou a lei, e revelou a milhares de kotis de seres vivos o Sutra, o desenvolvimento, que por isso é conhecido como ‘a Excelente Exposição do Infinito.’ 7
  • 8. Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1 61. Imediatamente após pronunciar o seu discurso, o líder cruzou suas pernas e entrou na meditação chamada de ‘a Excelente Exposição do Infinito.’ Lá no seu assento da lei o vidente continuou absorvido na meditação. 62. E tombou uma chuva celeste de Mandaravas, enquanto que os tambores (celestes) ressoaram sem serem tocados; os deuses e serafins no céu prestaram homenagem ao mais elevado dos homens. 63. E simultaneamente todos os campos (de Buda) começaram a tremer. Uma maravilha foi, um grande prodígio. Então o chefe emitiu, dentre as suas sobrancelhas um raio extremamente bonito. 64. Que, movendo-se desde a região leste brilhou, iluminando o mundo todo pela extensão de dezoito mil campos. Manifestou o aparecer e o fenecer dos seres. 65. Alguns dos campos então se pareciam a jóias, outros mostravam a tonalidade de lapislazúli, todos esplêndidos, extremamente bonitos, devido à radiância do raio do líder. 66. Deuses e homens, bem como Nagas, duendes, Gandharvas, ninfas, Kinnaras, e aqueles ocupados em servir ao Sugata tornaram-se visíveis nas esferas e prestaram as suas devoções. 67. Os Budas também, aqueles seres auto-gerados, apareceram por suas próprias vontades, parecendo-se a colunas de ouro; como um disco dourado (dentro do lápis-lazúli), eles revelaram a lei no meio da assembléia. 68. Os discípulos, verdadeiramente, não podiam ser contados: os discípulos do Sugata são sem número. E contudo o lustro do raio os torna a todos visíveis em todo o campo. 69. Enérgicos, sem quebra ou falha em seus cursos, parecidos com gemas e jóias, os filhos dos líderes dos homens são visíveis nas cavernas das montanhas onde estão morando. 70. Numerosos Bodhisatvas, como as areias do Ganges, que estão gastando toda a sua riqueza fazendo doações, que têm a força da paciência, são dedicados à contemplação e sábios, tornam-se todos visíveis com aquele raio. 71. Imóveis, inabaláveis, firmes na paciência, dedicados à contemplação e absortos em meditação são vistos os verdadeiros filhos dos Sugatas enquanto estão lutando pela iluminação suprema por força da meditação. 72. Eles expõe a lei em muitas esferas, e indicam o estado verdadeiro, quieto, sem máculas, que conhecem. Tal é o efeito produzido pelo poder do Sugata. 73. E todas as quatro classes de ouvintes vendo a força do poderoso Kandrarkadipa encheram-se de alegria e perguntaram-se uns aos outros: Como é que isso acontece? 74. E logo mais tarde, quando o líder do mundo, venerado por homens, deuses e duendes, levantou-se de seu assento de meditação, se dirigiu a seu filho Varaprabha, o sábio Bodhisatva, e expositor da lei: 75. “Sois sábio, o olho e o refúgio do mundo; sois o fiel guardião de minha lei, e podes dar testemunho ao tesouro de leis que eu exporei para alívio de todos os seres vivos.” 76. Então depois de despertar, estimular, elogiar e louvar a muitos Bodhisatvas, proclamou o Gina as leis supremas durante sessenta kalpas intermediários. 77. E qualquer lei suprema excelente que tenha sido exposta pelo Senhor do mundo enquanto se quedava continuamente no mesmíssimo assento, foi memorizada por Varaprabha, o filho do Gina, o expositor da Lei. 78. E depois que o Gina e Líder havia manifestado a Lei suprema e estimulado à multidão variegada, ele falou, naquele dia, para a multidão, incluindo-se os deuses (como se segue): 79. “Eu manifestei a regra da Lei; eu mostrei a natureza da Lei; agora, Ó monges, é o tempo do meu Nirvana; nesta noite mesma, na vigília do meio. 80. “Sede zelosos e fortes em persuasão; aplicai-vos às minhas lições; pois os Ginas, os grandes videntes, são apenas raramente encontrados no lapso de miríades de kotis de Aeons.” 81. Os muitos filhos do Buda foram tomados de pesar e se encheram de tristeza extrema quando ouviram a voz do mais elevado dos homens anunciar que o seu Nirvana estava próximo. 82. Para consolar a tantos inconcebivelmente numerosos kotis de seres vivos, o rei dos reis disse: “Não temei, Ó monges; depois de meu Nirvana haverá um outro Buda. 83. “O sábio Bodhisatva Srigarbha, depois de terminar o seu curso em conhecimento impecável, alcançará a mais elevada iluminação suprema e se tornará um Gina sob o nome de Vimalagranetra.” 8
  • 9. Saddharma-Pundarika / Introdutório / Capítulo 1 84. Naquele mesma noite, na vigília do meio, ele teve a sua completa extinção, como uma lâmpada quando a causa (do seu queimar) se acaba. Suas relíquias foram distribuídas, e de suas Stupas havia um número infinito de miríades de kotis. 85. Os monges e monjas naquele momento, que buscavam a iluminação suprema mais elevada, sendo numerosos como as areias do Ganges, se aplicaram ao comando do Sugata. 86. E monge que então era o expositor e guardião da Lei, Varaprabha, expôs as leis mais elevadas durante oitenta kalpas intermediários plenamente, de acordo com o comando do Sugata. 87. Ele tinha oitocentos discípulos, que por ele foram trazidos ao desenvolvimento pleno. Eles viram muitos kotis de Budas, grandes sábios, a quem reverenciaram. 88. Seguindo o percurso normal, eles se tornaram Budas em várias esferas, e como se seguiram um ao outro em sucessão imediata, se predisseram sucessivamente o futuro destino de Buda de cada um que se seguia. 89. O último desses Budas que se sucederam foi Dipankara. Ele, o supremo deus dos deuses, honrado por multidões de sábios, educou milhares de kotis de seres vivos. 90. Dentre os alunos de Varaprabha, o filho do Gina, no tempo de sua pregação da Lei, estava um preguiçoso, ambicioso, desejoso de ganhos e status mundano, e espertezas. 91. Ele era também excessivamente desejoso de glórias, mas muito caprichoso, de tal forma que as lições que se lhes dava, desapareciam rápido de sua memória, logo depois de terem sido ali inculcadas. 92. Seu nome era Yasaskama, pelo qual era conhecido por toda parte. Pelo mérito acumulado daquela boa ação, manchada como estava. 93. Ele propiciou a muitos milhares de kotis de Budas, a quem prestou muitas honrarias. Ele transitou pelo curso comum de deveres e conheceu o presente Buda Sakyasimha. 94. Ele deverá ser o último a alcançar a iluminação suprema e tornar-se um Senhor conhecido pelo nome de família de Maitreya, que deverá educar a milhares de kotis de criaturas. 95. Aquele que pois, sob o reino do Sugata extinto, era tão preguiçoso, eras tu mesmo, e era eu que então expunha a lei. 96. Como vendo um aviso prévio desse tipo eu reconheço um sinal tal como o que vi manifesto antes, portanto, devido a isso, eu sei. 97. Que decididamente o chefe dos Ginas, o rei supremo dos Sakyas, o que tudo vê, que conhece a verdade mais elevada, está por pronunciar o sutra excelente que eu antes ouvi. 98. Esse mesmo sinal mostrado presentemente é uma prova da habilidade dos líderes; o Leão dos Sakyas está por fazer uma exortação, por declarar a natureza fixa da lei. 99. Permanecei bem preparados e bem atentos; ajuntai vossas mãos: aquele que é afetivo para com o mundo e compassivo vai falar, vai derramar a chuva sem fim da lei e refrescar aqueles que estão esperando pela iluminação. 100. E se alguns sentirem dúvidas, incertezas, ou arrependimentos por quaisquer motivos, então o Sábio os removerá para suas crianças, os Bodhisatvas aqui lutando pela iluminação. 9
  • 10. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 CAPÍTULO 2 MEIOS HABILIDOSOS O Senhor então levantou-se consciente e concentrado de sua meditação e, imediatamente, dirigiuse ao venerável Sariputra; O conhecimento do Buda, Sariputra, é profundo, difícil de compreender, difícil de perceber. É muito difícil para os discípulos e para os Pratyekabudas sondar o conhecimento ao qual chegaram os Tathagatas etc., e isto, Sariputra, porque os Tathagatas veneraram muitas centenas de milhares de miríades de kotis de Budas; porque eles realizaram seus cursos para a iluminação suprema e completa, durante muitas centenas de milhares de miríades de kotis de Aeons; porque eles viajaram longe, mostrando energia e possuídos de propriedades maravilhosas e especiais; possuídos de propriedades difíceis de compreender; porque eles descobriram coisas que são difíceis de compreender. O mistério dos Tathagatas etc. é difícil de ser compreendido, Sariputra, porque quando eles explicam as leis (ou os fenômenos, as coisas) que têm causa em si mesmas, eles o fazem por intermédio de meios habilidosos, mostrando o conhecimento, com argumentos, razões, idéias fundamentais, interpretações e sugestões. Com uma variedade de meios habilidosos são capazes de libertar os seres que ficam apegados a um ponto de vista ou outro. Os Tathagatas etc., Sariputra, todos adquiriram a mais alta perfeição da habilidade e a mostra do conhecimento; eles estão agraciados com propriedades maravilhosas, tais como a mostra do conhecimento livre e desimpedido; os poderes; a ausência da hesitação; as condições independentes; a força dos órgãos; os princípios de Bodhi; as contemplações; emancipações; meditações; graus de concentração mental. Os Tathagatas etc., Sariputra, são capazes de expor coisas variadas e têm algo de maravilhoso e especial. Basta, Sariputra, que seja suficiente dizer que os Tathagatas etc., têm algo de extremamente maravilhoso, Sariputra. Ninguém senão um Tathagata, Sariputra, pode transmitir a um Tathagata aquelas leis que o Tathagata conhece. Todas as leis, Sariputra, são ensinadas pelo Tathagata, e somente por ele; ninguém senão ele conhece todas as leis, o que são, como são, como o que são, quais são suas características e de que natureza são. E naquela ocasião, para apresentar estas coisas mais amplamente, o Senhor pronunciou as seguintes estrofes: 1. Inumeráveis são os grandes heróis no mundo que abarca deuses e homens; a totalidade das criaturas é incapaz de conhecer completamente os líderes. 2. Ninguém pode conhecer seus poderes e estados de emancipação, suas ausências de hesitação e suas propriedades de Buda, tais como são. 3. Desde muito tempo eu segui, na presença de kotis de Budas, o bom caminho, que é profundo, sutil, difícil de compreensão, e mais ainda de ser encontrado. 4. Depois de seguir esta carreira durante um número inconcebível de kotis de Aeons, eu descobri no terreno da iluminação o fruto disto. 5. E com isto eu reconheço, como os demais chefes do mundo, como é, com o que se parecem e quais são suas características. 6. É impossível explicar isto; é inefável; nem existe qualquer ser neste mundo 7. A quem esta lei pudesse ser explicada ou que pudesse compreender ao ser explicada, com a exceção dos Bodhisatvas, aqueles que estão firmemente estabelecidos em resolução. 8. Quanto aos discípulos do Conhecedor do mundo, aqueles que fizeram seus deveres e receberam elogio dos Sugatas, que estão livres de erros e que chegaram ao último estágio da existência terrena, o conhecimento do Gina fica além de suas esferas. 9. Se toda esta esfera estivesse cheia de seres como Sarisuta, e se eles investigassem com seus esforços combinados, eles seriam incapazes de compreender o conhecimento do Sugata. 10
  • 11. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 10. Mesmo que os dez pontos do espaço estivessem cheios de sábios com você, sim, se estivessem cheios de tais como o restante de meus discípulos, 11. E se todos estes seres combinados fossem investigar o conhecimento do Sugata, todos eles juntos, não seriam capazes de compreender o conhecimento do Buda em toda sua imensidão. 12. Se os dez pontos do espaço estivessem cheios de Pratyekabudas, livres de erros, abençoados com inteligência arguta, e se quedando em seus últimos estágios de existência, tão numerosos como bambus ou caniços na floresta; 13. E se juntos durante um infindável número de miríades de kotis de Aeons, eles fossem investigar uma parte de minhas leis superiores, eles nunca descobririam seu significado verdadeiro. 14. Se os dez pontos do espaço estivessem cheios de Bodhisatvas que depois de terem completado seus deveres sob muitos kotis de Budas, investigado todas as coisas e pregado muitos sermões, depois de terem entrado num novo veículo; 15. Se o mundo todo estivesse cheio deles, como um bosque espesso de caniços ou de bambus, sem espaço entre eles, e se todos juntos fossem investigar a lei que o Sugata realizou; 16. Se a investigassem durante muitos kotis de Aeons, tão incalculáveis quanto as areias do Ganges, com atenção indivisa e intenções sutis, até mesmo então aquele (conhecimento) estaria além de suas compreensões. 17. Se tais Bodhisatvas incapazes de deslizar para trás, numerosos como as areias do Ganges, a investigassem com atenção indivisa, estaria além de suas capacidades. 18. Profundas são as leis dos Budas, e sutis; todas inescrutáveis e sem erro. Eu as conheço, bem como fazem os Ginas nas dez direções do mundo. 19. Você, Sariputra, esteja cheio de confiança naquilo que o Sugata declara. O Gina nada diz de falso, o grande Vidente que por tão longo tempo pregou a verdade mais elevada. 20. Eu me dirijo a todos os discípulos aqui, aqueles que buscam a iluminação de um Pratyekabuda, aqueles que são despertos para a atividade pelo meu Nirvana, e aqueles que foram libertos da série de males. 21. É por minha habilidade superior que eu explico a lei extensivamente para o mundo em geral. Eu liberto todos aqueles que ficam apegados a um ponto ou outro, e mostro os três veículos. Os eminentes discípulos na assembléia encabeçada por Agnata-Kaundinya, os mil e duzentos Arhats sem erros e com autocontrole, os outros monges, monjas, leigos devotos homens e mulheres usando o veículo dos discípulos, e todos aqueles que entraram no veículo dos Pratyekabudas, todos eles fizeram esta reflexão: Qual será a razão, porque o Senhor está elogiando tanto a habilidade dos Tathagatas? Porque a elogia dizendo, ‘Profunda é a lei por mim descoberta;’ elogiando-a dizendo, ‘É difícil para todos os discípulos e Pratyekabudas de compreendê-la.’ Mas o Senhor ainda não declarou mais que um tipo de emancipação, e portanto nós também deveríamos adquirir as leis de Buda ao chegarmos ao Nirvana. Não compreendemos o significado disto que o Senhor disse. E o Venerável Sariputra, que apreendeu a dúvida e a incerteza das quatro classes da audiência e adivinhou seus pensamentos daquilo que se passava em sua própria mente, ele mesmo estando em dúvida sobre a lei, disse então ao Senhor: Qual é, Ó Senhor, a causa, qual razão que o Senhor tão repetidamente e continuamente elogia a habilidade, conhecimento e pregação do Tathagata? Por que ele, repetidamente, a elogia dizendo, ‘Profunda é a lei por mim descoberta; é difícil de compreender o mistério dos Tathagatas.’’ Nunca dantes eu ouvi do Senhor um tal discurso da lei. Estas quatro classes de audiência, Ó Senhor , estão cheias de dúvida e perplexidade. Portanto possa o Senhor, por favor, explicar a que está o Tathagata aludindo, ao repetidamente elogiar a profunda lei dos Tathagatas. Naquela ocasião o venerável Sariputra pronunciou as seguintes estrofes: 22. Pela primeira vez agora o Sol dos homens pronuncia um tal discurso: ‘Eu adquiri os poderes, emancipações e meditações sem conta.’ 23. E mencionastes o terreno da iluminação sem que ninguém te perguntasse; mencionastes o mistério, apesar de ninguém ter te perguntado. 24. Falastes sem ser perguntado e elogiastes teu próprio caminho; mencionastes ter obtido o conhecimento e pronunciastes palavras profundas. 25. Hoje surge uma pergunta em minha mente e naquela daqueles seres autocontrolados, sem erros, que buscam o Nirvana: Por que fala o Gina desta forma? 11
  • 12. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 26. Aqueles que aspiram a iluminação dos Pratyekabudas, as monjas e monges, deuses, Nagas, duendes, Gandharvas, e grandes serpentes, estão todos conversando juntos, enquanto que observam o mais elevado dos homens, 27.E imaginam em perplexidade. Dê uma elucidação, grande Sábio, a todos os discípulos do Sugata que estão aqui reunidos. 28. Eu mesmo atingi a perfeição (da virtude), e fui ensinado pelo Sábio supremo; mesmo assim, Ó mais elevado dos homens! Mesmo em minha posição, eu tenho dúvidas se o curso (do dever) que me é mostrado, receberá sua aprovação final pelo Nirvana. 29. Que tua voz seja ouvida, Ó vós cuja voz ressoa como um tambor eminente! Proclame sua lei tal que é. Os filhos legítimos do Gina aqui de pé e fitando o Gina, de mãos postas; 30. Bem como os deuses, Nagas, duendes, Titãs, em número de milhares de kotis, como as areias do Ganges; e aqueles que aspiram à iluminação suprema, que estão aqui, em número de oitenta mil; 31. Além disto, os reis, regentes de províncias, monarcas proeminentes, que para aqui se dirigiram desde milhares de kotis de países, que agora se quedam com mãos postas, e respeitosos, pensando: Como podemos preencher o curso do dever? O venerável Sariputra tendo falado, o Senhor lhe disse: Basta, Sariputra; de nada adiantaria explicar esta questão. Por que? Porque, Sariptura, o mundo, inclusive os deuses, ficariam assustados se esta questão fosse exposta. Mas o venerável Sariputra pediu ao Senhor uma segunda vez, dizendo: Que o Senhor exponha, que o Sugata exponha esta questão, pois que nesta assembléia, Ó Senhor, existem muitas centenas, muitos milhares, muitas centenas de milhares, muitas centenas de milhares de miríades de kotis de seres vivos que já viram Budas anteriores, que são inteligentes, e que acreditarão, darão valor, e aceitarão as palavras do Senhor. O venerável Sariputra se dirigiu ao Senhor com esta estrofe: 32. Fale claramente, Ó mais eminente dos Ginas! Nesta assembléia estão milhares de seres vivos que são cheios de confiança, afetivos, e respeitosos para com o Sugata; eles compreenderão a lei por vós exposta. E o Senhor disse uma segunda vez ao venerável Sariputra: Basta, Sariputra; não adianta explicar esta questão, pois que o mundo, inclusive aquele dos deuses, ficaria assustado, Sariputra, se esta questão fosse exposta, e alguns monges poderiam ficar orgulhosos e virem a ter uma queda súbita. E naquela ocasião o Senhor pronunciou a seguinte estrofe: 33. Não digas mais que eu devo declarar esta lei! Este conhecimento é por demais sutil, inescrutável, e existem tantos homens não sábios, que em seus orgulho e tolice zombariam em relação à lei assim revelada. Uma terceira vez o venerável Sariputra pediu ao Senhor, dizendo: Que o Senhor exponha, que o Sugata exponha esta questão. Nesta assembléia, Ó Senhor, existem muitas centenas de seres vivos que são meus iguais, e muitas centenas, muitos milhares, muitas centenas de milhares, muitas centenas de milhares de miríades de kotis de outros seres vivos a mais, que em nascimentos prévios foram trazidos pelo Senhor ao amadurecimento pleno. Eles crerão, darão valor, aceitarão aquilo que o Senhor declara, que reverterá para seus benefícios, bem e felicidade no decorrer do tempo. Naquela ocasião o venerável Sariputra pronunciou as seguintes estrofes: 34. Explique a lei, Ó Vós, o mais elevado dos homens! Eu, vosso filho mais velho, te peço. Aqui estão milhares de kotis de seres que crerão na lei por vós revelada. 35. E aqueles seres que, em nascimentos prévios, por tão longo tempo e constantemente foram por vós trazidos à maturidade plena e estão agora se quedando aqui de mãos postas, eles também, crerão nesta lei. 36. Que o Sugata, observando os mil e duzentos, meus iguais, e aqueles que estão lutando pela iluminação superior, fale a eles e produza neles uma alegria extrema. Quando o Senhor pela terceira vez ouviu o pedido do venerável Sariputra, ele lhe falou assim: Agora que você pediu ao Tathagata pela terceira vez, Sariputra, eu te responderei. Ouça então, Sariputra, ouça bem e aprenda ou que agora vou dizer; pois eu vou falar. Aconteceu então que cinco mil monges orgulhosos, monjas, e devotos leigos de ambos os sexos, na congregação se levantaram de seus assentos e, depois de saudarem com suas cabeças os pés 12
  • 13. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 do Senhor, se retiraram da assembléia. Devido ao princípio do bem que reside no orgulho, eles imaginaram terem atingido o que não haviam, e terem compreendido o que não haviam. Portanto, sentindo-se diminuídos, eles se retiraram da assembléia, ao que o Senhor concordou com seu silêncio. Naquele momento o Senhor se dirigiu ao venerável Sariputra: Minha congregação, Sariputra, foi livrada do excesso, do lixo; está firmemente estabelecida na força da fé. É uma coisa muito boa, Sariputra, que aqueles orgulhosos tenham ido embora. Agora eu vou expor a questão, Sariputra. ‘Muito bem, Senhor,’ replicou o venerável Sariptura. O Senhor então começou e disse: É somente de vez em quando, Sariputra, que o Tathagata prega um tal discurso sobre a lei como este. Da mesma forma que é raramente que vemos a flor da figueira desabrochar, Sariputra, da mesma forma o Tathagata, apenas raramente, prega um tal discurso sobre a lei. Creia-me, Sariputra; Eu falo o que é verdadeiro, o que é real, eu digo o que é certo. É difícil compreender a exposição do mistério do Tathagata, Sariputra; pois que, elucidando a lei, Sariputra, eu uso centenas de milhares de vários meios habilidosos, tais como diferentes interpretações, indicações, explicações, ilustrações. Não é pelo raciocínio, Sariputra, que a lei seria encontrada: isto está além do campo do raciocínio e deve ser aprendida do Tathagata. Pois, Sariputra, é por um só objetivo, um só propósito, na verdade um objetivo elevado, um propósito elevado que o Buda, o Tathagata etc., aparece no mundo. E qual é este objetivo único, este propósito único, este elevado objetivo, este elevado propósito que o Buda, o Tathagata etc., aparece no mundo? Para mostrar a todos os seres a visão do conhecimento do Tathagata é que o Buda, o Tathagata etc., aparece no mundo; para abrir os olhos dos seres para a visão do conhecimento do Tathagata é que o Buda, o Tathagata etc., aparece no mundo. Este, Ó Sariputra, é o objetivo único, o propósito único de sua aparição no mundo. Tal é, então, Sariputra, o objetivo único, o propósito único, o elevado objetivo, o elevado propósito do Tathagata. E é atingido pelo Tathagata. Pois, Sariputra, eu mostro a todos os seres a visão do conhecimento do Tathagata; eu abro os olhos de todos os seres para a visão do conhecimento do Tathagata, Sariputra; eu estabeleço firmemente o ensinamento do conhecimento do Tathagata, Sariputra; eu conduzo o ensinamento do conhecimento do Tathagata no caminho correto, Sariputra. Por intermédio do veículo único, a saber, o veículo do Buda, Sariputra, eu ensino a todos os seres a lei; não existe um segundo veículo, nem um terceiro. Esta é a natureza da lei, Sariputra, universalmente no mundo, em todas as direções. Pois, Sariputra, todos os Tathagatas etc., que em tempos passados existiram em esferas incontáveis, inumeráveis, em todas as direções, para o bem de muitos, a felicidade de muitos, por piedade do mundo, para o benefício, bem e felicidade do grande corpo de seres, e que pregavam a lei a deuses e homens com meios capazes, tais como variadas direções e indicações, variados argumentos, razões, ilustrações, idéias fundamentais, interpretações, prestando atenção à disposição dos seres cujas inclinações e temperamentos são tão diversos, todos aqueles Budas e Senhores, Sariputra, que pregaram a lei aos seres por intermédio de apenas um veículo, o veículo do Buda que, finalmente, conduz à onisciência; é idêntico a mostrar a todos os seres a visão do conhecimento do Tathagata; com abrir os olhos dos seres para a visão do conhecimento do Tathagata; com despertar (ou avisar) pela mostra do conhecimento do Tathagata; com conduzir o ensinamento do conhecimento do Tathagata pelo caminho correto. Tal é a lei que eles pregaram aos seres. E aqueles seres, Sariputra, que ouviram a lei de Tathagatas passados etc., todos eles alcançaram a iluminação suprema e perfeita. E os Tathagatas etc., que existirão no futuro, Sariputra, nas esferas incontáveis, inumeráveis em todas as direções, para o bem de muitos, a felicidade de muitos, por piedade do mundo, para o benefício, bem, e felicidade do grande corpo de seres, e que devem pregar a lei a deuses e homens (etc., como acima até) o caminho correto. Tal é a lei que eles devem pregar às criaturas. E aquelas criaturas, Sariputra, que ouvirem a lei dos Tathagatas futuros etc., todas elas deverão alcançar a iluminação suprema e perfeita. E os Tathagatas etc., que agora no presente estão vivendo, se quedando existindo, Sariputra, em incontáveis, inumeráveis esferas, em todas as direções etc., e que estão pregando a lei aos deuses homens (etc., como acima até) o caminho correto. Tal é a lei que eles estão pregando às criaturas. E aquelas criaturas, Sariputra, que estão ouvindo a lei dos Tathagatas presentes etc., todas elas deverão atingir a iluminação suprema e perfeita. Eu também, Sariputra, sou no período presente um Tathagata etc., para o bem de muitos (etc., até) muitos; Eu também, Sariputra, estou pregando a lei às criaturas (etc., até) o caminho correto. Tal é a lei que eu prego aos seres. E aqueles seres, Sariputra, que ora estão ouvindo a lei de mim, todos eles 13
  • 14. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 atingirão iluminação suprema e perfeita. Neste sentido, Sariputra, é que deve ser compreendido que, em parte alguma do mundo, um segundo veículo seja ensinado, muito menos ainda um terceiro. E contudo, Sariputra, quando os Tathagatas etc., aparecem no fim da época, na decadência das criaturas, na decadência de pecados aflitivos, a decadência dos pontos de vista, ou a decadência de uma vida; quando eles aparecem entre tais sinais de decadência, na perturbação da época; quando os seres estão muito sujos, cheios de cobiça e fracos em raízes de bondade; então, Sariputra, os Tathagatas etc., costumam, habilmente, designar aquele único veículo do Buda pelo nome de veículo tríplice. Agora, Sariputra, tais discípulos, Arhats, ou Pratyekabudas, que não ouvem a sua chamada para o veículo do Buda pelo Tathagata, que não percebem, nem prestam atenção a isto, aqueles, Sariputra, não devem ser reconhecidos como discípulos dos Tathagatas, nem como Arhats, nem como Pratyekabudas. Novamente, Sariputra, se houver algum monge ou monja que pretenda atingir o Arhatado sem uma promessa sincera de atingir a iluminação suprema e perfeita, e que diga, ‘Eu agora me quedo elevado demais para o veículo do Buda, eu estou em minha última aparição no corpo antes do Nirvana completo,’ então, Sariptura, considere esta pessoa como sendo convencida. Pois, Sariputra, não é adequado, é feio que, um monge, um Arhat, sem erros, não deva crer na lei que ele ouve do Tathagata em sua presença. Eu deixo fora de questão quando o Tathagata tenha atingido o Nirvana completo; pois naquele período, naquele momento, Sariputra, quando o Tathagata deva estar completamente extinto, não haverá ninguém que saiba de cor, ou pregue tais Sutras como este. Será sob outros Tathagatas etc., que eles serão libertados de dúvidas. Quanto a isto creia em minhas palavras, Sariputra, dê valor a elas, tome-as ao coração; pois que não existe falsidade nos Tathagatas, Sariputra. Existe somente um veículo, Sariputra, e este é o veículo do Buda. E naquela ocasião, para explicar mais extensamente esta questão, o Senhor pronunciou as seguintes estrofes: 37. Não menos que cinco mil monges, monjas e leigos de ambos os sexos, cheios de descrença e orgulho, 38. Achando que isto era pouco, foram, ainda defeituosos no treinamento e tolos como eram, embora para tornarem-se cientes do dano. 39. O Senhor, que os sabia serem os piores da congregação, exclamou: Eles não possuem méritos suficientes para ouvirem esta lei. 40. Minha congregação está agora pura, liberta do lixo; o excesso foi removido e sobra apenas o âmago. 41. Ouça de mim, Sariputra, como esta lei foi descoberta pelo mais elevado dos homens, e como os poderosos Budas estão ainda pregando-a com muitas centenas de provas de habilidade. 42. Eu conheço as disposições e condutas, as variadas inclinações de seres vivos neste mundo; eu conheço suas variadas ações e o bem que eles fizeram antes. 43. Aqueles seres vivos eu inicio nesta (lei) com a ajuda de muitas interpretações e razões; e com centenas de argumentos e ilustrações, eu, de uma forma ou de outra, alegrei a todos os seres. 44. E pronuncio tanto Sutras quanto estrofes; lendas, Gatakas, e prodígios, além de centenas de introduções e parábolas curiosas. 45. Eu mostro o Nirvana para o ignorante com disposições baixas, que nunca seguiu nenhum caminho sob muitos kotis de Budas, que estão ligados à existência contínua e miseráveis. 46. O auto-nascido usa tais meios para manifestar o conhecimento do Buda, mas ele nunca lhes dirá, vocês todos vão se tornar Budas. 47. Por que não deveria aquele que é poderoso, depois de esperar pelo momento oportuno, falar, agora que ele percebeu que o momento oportuno chegou? Esta é a oportunidade adequada, chegada, de começar a exposição do que realmente é. 48. Agora, a palavra do meu mandamento, como contido nas nove divisões, foi publicada de acordo com os variados graus de força das criaturas. Tal é o meio que mostrei para apresentar (os seres) ao conhecimento do doador de dons. 49. E àqueles no mundo, que sempre foram puros, sábios, de boa mentalidade, filhos compassivos do Buda e que fizeram seus deveres sob muitos kotis de Budas, eu tornarei conhecidos Sutras mais amplos. 14
  • 15. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 50. Pois que eles estão agraciados com tais bênçãos de disposição mental, e tais vantagens de forma externa sem mácula, que eu posso anunciar para estes: no futuro vocês todos se tornarão Budas benevolentes e compassivos. 51. Ouvindo isto, todos eles serão penetrados de deleite (no pensamento): Tornaremos-nos Budas proeminentes no mundo. E eu, percebendo suas condutas, novamente revelarei Sutras mais amplos. 52. E aqueles são discípulos do Líder, que ouviram minha palavra de comando. Uma só estrofe aprendida ou mantida na memória basta, sem dúvida, para conduzir todos eles à iluminação. 53. Não existe, verdadeiramente, senão um veículo; não existe um segundo, nem terceiro em qualquer parte do mundo, exceto no caso dos Purushottamas usando um expediente para mostrar que existe uma diversidade de veículos. 54. O Chefe do mundo aparece no mundo para revelar o conhecimento do Buda. Ele não tem senão um objetivo, de fato, não um segundo; os Budas não fazem os seres atravessarem através de um veículo inferior. 55. Ali onde o auto-nascido se estabeleceu, e onde está o objeto do conhecimento, não importa de que forma ou tipo; (onde) os poderes, os estágios de meditação, as emancipações, as faculdades aperfeiçoadas (estão); ali todos os seres se estabelecerão. 56. Eu seria culpado de inveja, se eu, depois de atingir o eminente e puro estado de iluminação, estabelecesse quem quer que fosse no veículo inferior. Isto não seria típico de mim. 57. Em mim não existe inveja qualquer; nem ciúme, nem desejo, nem paixão. Por isto eu sou o Buda, porque o mundo segue meu ensinamento. 58. Quando, esplendidamente distinguido com (as trinta e duas) marcas características, eu estou iluminando todo este mundo, e venerado por muitas centenas de seres, eu mostro o selo (inconfundível) da natureza da lei; 59. Quando Sariputra, eu penso assim: Como irão todos os seres, pelas trinta e duas características perceberem o Vidente auto-nascido que, de sua própria vontade, verte sua luz por todo o mundo? 60. E enquanto eu estou pensando e considerando, quando meu desejo se realizou e minha promessa se realizou, eu não mais revelo conhecimento do Buda. 61. Se, Ó filho de Sari, eu falasse às criaturas, ‘Vivifiquem em suas mentes o desejo pela iluminação,’ eles em suas ignorâncias, todos se perderiam e nunca perceberiam o significado de minhas boas palavras. 62. E considerando-os desta forma, e que eles não realizaram seus cursos do dever em existências prévias, (eu vejo como) eles estão apegados e dedicados a prazeres sensuais, enfatuados pelo desejo e cegos com a ilusão. 63. Do desejo eles incorrem em desgraça; eles estão atormentados nos seis estados de existência e povoam o cemitério repetidamente; eles estão angustiados com o infortúnio, e têm pouca virtude. 64. Ficam constantemente emaranhados nas moitas de teorias (sectárias), tais como , ‘É ou não é; é assim e não é assim.’ Tentando obter uma opinião decidida no que é encontrado nas sessenta e duas teorias (heréticas) eles abraçam a falsidade e prosseguem em seus erros. 65. São difíceis de corrigir, orgulhosos, hipócritas, desviados, malignos, ignorantes, chatos; por isto eles não ouvem ao bom chamado do Buda, nem uma só vez em kotis de nascimentos. 66. A estes, filho de Sari, eu mostro um meio habilidoso e digo: Ponham fim às suas dificuldades. Quando percebo criaturas sofrendo com males, eu as faço ver o Nirvana. 67. E assim eu revelo todas aquelas leis que são para sempre sagradas e corretas desde o começo. E o filho do Buda, que completou seu curso uma vez, será um Gina. 68. É só um meio habilidoso que me faz manifestar três veículos; pois que existe um só veículo e um caminho; existe também uma só instrução pelos líderes. 69. Remova toda dúvida e incerteza; e caso existam aqueles que sintam dúvidas, ( que eles saibam que ) os Senhores do mundo falam a verdade; este é o veículo único, não existe um segundo. 70. Os Tathagatas também, vivendo no passado durante Aeons inumeráveis, os muitos milhares de Budas que estão no descanso final, cujo número não pode jamais ser contado, 15
  • 16. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 71. Aqueles mais elevados dos homens, todos eles revelaram as mais sagradas das leis por intermédio de ilustrações, razões, e argumentos, com muitas centenas de provas de habilidade. 72. E todos eles manifestaram apenas um veículo e apenas apresentaram um na terra; através deste veículo, eles conduziram à maturidade total uma quantidade inconcebível de milhares de kotis de seres. 73. E contudo, os Ginas possuem vários e múltiplos meios através dos quais o Tathagata revela ao mundo inclusive aos deuses, a iluminação superior, levando em conta as tendências e disposições (dos diferentes seres). 74. E todos aqueles no mundo que estão ouvindo, ou que ouviram a lei da boca dos Tathagatas, feito doações, seguido preceitos morais, e, pacientemente, realizaram seus deveres religiosos; 75. Que se quitaram quanto ao zelo e meditação, com sabedoria refletiram sobre aquelas leis, e fizeram várias ações meritórias, todos eles atingiram a iluminação. 76. E tais seres que vivem pacientes, controlados, e disciplinados, sob o reino dos Ginas daqueles tempos, todos eles atingiram a iluminação. 77. Outros também, que prestaram veneração às relíquias dos Ginas que se foram, erigiram muitos milhares de Stupas feitas de jóias, ouro prata ou cristal, 78. Ou que construíram Stupas de esmeralda, pérolas, lápis-lazúli, ou safira; todos eles atingiram a iluminação. 79. E aqueles que erigiram Stupas feitas de mármore, sândalo ou jacarandá; construíram Stupas de madeiras de lei ou de uma combinação de diferentes tipos de madeira; 80. E que, em felicidade de coração, construíram para os Ginas Stupas de tijolos ou de cimento; ou que fizeram com que se levantassem montes na terra, em florestas ou em lugares silvestres dedicadas aos Ginas; 81. Os garotinhos, que mesmo brincando, erigiram aqui e ali montes de areia com a intenção de as dedicar como Stupas para os Ginas, todos eles ganharam a iluminação. 82. De forma semelhante, todos aqueles que fizeram com que imagens feitas de jóias fossem feitas e dedicadas, adornadas com os trinta e dois sinais característicos, atingiram a iluminação. 83. Outros, que fizeram imagens dos Sugatas feitas das sete substâncias preciosas, de cobre ou de zinco, todos eles ganharam a iluminação. 84. Aqueles que fizeram com que se construísse belas estátuas dos Sugatas de chumbo, ferro, barro, ou gesso, todos eles ganharam a iluminação. 85. Aqueles que fizeram imagens (dos Sugatas) em paredes pintadas, com membros completos e os cem sinais sagrados, quer tenham desenhado eles mesmos , ou que tenham feito outros desenharem, todos eles atingiram a iluminação. 86. Mesmo aqueles, quer sejam homens ou crianças, que durante suas aulas, ou por brincadeira, para se divertirem, desenharam nas paredes (tais) imagens com a unha ou com um pedaço de madeira, 87. Todos eles ganharam a iluminação; tornaram-se compassivos, e despertando muitos Bodhisatvas, salvaram kotis de seres. 88. Aqueles que ofereceram flores e perfumes às relíquias dos Tathagatas, para Stupas, um morrinho na terra, imagens de gesso ou desenharam em uma parede; 89. Que fizeram com que instrumentos musicais, tambores, trombetas e grandes tambores barulhentos fossem tocados, e levantaram o ruído do címbalo em tais lugares para celebrarem a iluminação mais elevada; 90. Que fizeram com que doces alaúdes, címbalos, tambores, pequenos tambores, flautas de bambu, flautas de metal, fossem construídos, todos eles atingiram a iluminação. 91. Aqueles que para celebrarem o Sugatas, fizeram com que címbalos de ferro soassem, ou pequenos tambores; que cantaram uma canção doce e encantadora; 92. Todos eles atingiram a iluminação. Prestando vários tipos de reverência às relíquias dos Sugatas, fazendo somente um pouco por estas relíquias, fazendo com que nem que seja um só instrumento musical fosse soado; 93. Ou que venerasse nem que fosse com uma só flor, desenhando em uma parede as imagens dos Sugatas, prestando reverência, nem que fosse com pensamentos distraídos, no decurso do tempo esta pessoa se encontrará com kotis de Budas. 16
  • 17. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 94. Aqueles que, quando em presença de uma Stupa, ofereceram suas saudações reverentes, seja de uma forma completa ou meramente juntando as mãos; que, seja por um só momento, inclinaram suas cabeças ou corpos; 95. E que nas Stupas contendo relíquias, disseram nem que fosse uma só vez: Homenagem ao Buda! Mesmo que o tenham feito com pensamentos distraídos, todos ganharam a iluminação superior. 96. Aqueles seres que nos dias daqueles Sugatas, quer estejam extintos ou ainda em existência, ouviram nem que seja apenas o nome da lei, todos eles ganharam a iluminação. 97. Muitos kotis de Budas futuros, além da imaginação e medida, de forma semelhante revelarão este meio habilidoso como Ginas e Senhores supremos. 98. Sem fim será a habilidade daqueles líderes do mundo, através das quais eles educarão kotis de seres para aquele conhecimento do Buda, que está livre de toda a imperfeição. 99. Nunca houve um tal ser que, depois de ouvir a lei daqueles líderes, não tenha se tornado Buda; pois que esta é a promessa fixa dos Tathagatas: Que eu, realizando meu curso do dever, possa conduzir os demais à iluminação. 100. Eles exporão, em dias futuros, muitos milhares de kotis de cabeças da lei; em suas condições de Tathagata eles ensinarão a lei, mostrando este veículo único mencionado acima. 101. A linha da lei forma uma continuidade inquebrantável e a natureza de suas propriedades se manifesta sempre. Sabendo isso, os Budas, os mais elevados dos homens, revelarão este único veículo. 102. Eles revelarão a estabilidade da lei, como ela é sujeita a regras fixas, a sua perpetuidade inamovível no mundo, o despertar dos Budas no elevado terraço da terra, suas habilidades. 103. Em todas as direções do espaço quedam-se Budas, como areias do Ganges, honrados por deuses e homens; estes também, para o bem de todos os seres no mundo, expõem a iluminação superior. 104. Estes Budas, enquanto manifestam suas habilidades, mostram variados veículos, apesar de, ao mesmo tempo, indicarem somente o veículo único: o lugar supremo do descanso sagrado. 105. Familiarizados como estão com a conduta de todos os mortais, com suas disposições peculiares e ações prévias; observando seus esforços e vigores, bem como suas disposições, os Budas conferem sua luz a eles. 106. Com o conhecimento, os líderes produzem muitas ilustrações, argumentos e razões; e considerando como os seres têm tendências várias, eles indicam direções várias. 107. E eu também, o líder dos principais Ginas, estou agora manifestando, para o bem dos seres ora vivos, esta iluminação do Buda por milhares de kotis de direções várias. 108. Eu revelo a lei em sua multiplicidade observando as tendências e disposições dos seres. Eu uso diferentes métodos para despertá-los, de acordo com seus caracteres. Tal é o poder do meu conhecimento. 109. De forma semelhante eu vejo os pobre coitados, deficientes em sabedoria e conduta, que caíram no torvelinho mundano, retidos em lugares horríveis, mergulhados em aflições incessantemente renovadas. 110. Atados como estão pelo desejo como o boi por sua corda, continuamente cegos pelo prazer sensual, eles não buscam o Buda, o poderoso; eles não buscam a lei que conduz ao fim da dor. 111. Se quedam nos seis estados da existência, eles ficam amortecidos por seus sentidos, se apegam imóveis a seus baixos pontos de vista, e sofrem dor depois de dor. Por estes eu sinto uma grande compaixão. 112. No terraço da iluminação eu permaneci três semanas ao todo, procurando e considerando esta questão, observando as árvores que ali estavam. 113. Observando aquele rei de todas as árvores com uma fitada firme, eu andei ao seu pé (pensando): Esta lei é maravilhosa e elevada, enquanto que os seres estão cegos com chatice e ignorância. 114. Foi então que Brahma me pediu, bem como Indra, e os quatro regentes dos pontos cardeais, Mahesvara, Isvara e as hordas de Maruts em centenas de kotis. 115. Todos se quedaram com mãos postas e respeitosos, enquanto que eu mesmo revolvia esta questão em minha mente (e pensei): O que deverei fazer? Naquele instante mesmo em que eu estava dizendo isto, os seres estavam sendo oprimidos pelos males. 17
  • 18. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 116. Em sua ignorância eles não prestarão atenção à lei que eu anuncio, em conseqüência do que eles incorrerão em alguma falta. O melhor seria que eu nunca falasse. Que minha extinção calma pudesse tomar lugar hoje mesmo! 117. Mas ao me lembrar de Budas prévios e de suas habilidades, (eu pensei): Não, eu também manifestarei esta iluminação tripartite do Buda . 118. Enquanto eu meditava assim sobre a lei, os outros Budas, em todas as direções do espaço, apareceram ante a mim em seus próprios corpos e levantaram suas vozes, dizendo ‘Amem. 119. ‘Amem, Solitário, primeiro Líder do mundo! Agora que você chegou a este conhecimento insuperável, e estás meditando sobre a habilidade dos líderes do mundo, você repete seus ensinamentos. 120. ‘Nós também, sendo Budas, esclareceremos a palavra mais elevada, dividida em três partes; pois os homens (ocasionalmente) têm tendências baixas, e por ignorância talvez não nos creiam, (quando dizemos), vocês se tornarão Budas. 121. ‘Por isto nós despertaremos muitos Bodhisatvas pela mostra de habilidade e encorajando o desejo de obter frutos.’ 122. E eu fiquei encantado de ouvir as doces vozes dos líderes dos homens; na felicidade do meu coração eu disse aos abençoados santos, ‘As palavras dos sábios eminentes não foram ditas em vão. 123. ‘Eu, também, agirei de acordo com a indicação dos sábios líderes do mundo; tendo eu mesmo nascido em meio à degradação das criaturas, eu conheci a agitação neste mundo terrível.’ 124. Quando cheguei a esta convicção, Ó filho de Sari, imediatamente fui a Benares, onde habilmente preguei a lei aos cinco solitários, aquela lei que é a base da beatitude final. 125. Desde este momento a roda de minha lei tem se movido, e o nome do Nirvana fez a sua aparição no mundo, bem como o nome de Arhat, Dharma e Sangha. 126. Durante muitos anos eu preguei e indiquei o estágio do Nirvana, o fim da miséria e da existência mundana. Assim falava eu sempre. 127. E quando vi, Sariputra, os filhos do mais elevado dos homens em muitos milhares de kotis, sem fim, lutando pela a iluminação suprema e mais elevada; 128. E quando aqueles que ouviram a lei dos Ginas, devido às suas habilidades multifacetadas, se aproximaram de mim e diante de mim se quedaram, todos eles com mãos postas, e respeitosos; 129. Então eu concebi a idéia de que o momento havia chegado para que eu anunciasse a lei excelente e para revelar a iluminação suprema, para este trabalho tendo eu nascido no mundo. 130. Este (evento) hoje será de difícil compreensão para os ignorantes que imaginam ver aqui um sinal, porque são orgulhosos e chatos. Mas os Bodhisatvas, estes me ouvirão. 131. E eu me senti livre de hesitação e muito animado; deixando de lado toda a timidez, eu comecei a falar na assembléia dos filhos do Sugata e os despertei para a iluminação. 132. Ao perceber tais valorosos filhos do Buda (eu disse): Suas dúvidas também serão tiradas, e estes mil e duzentos (discípulos) meus, livres de imperfeições, todos eles se tornarão Budas. 133. Assim mesmo como a natureza da lei dos antigos poderosos santos e Ginas futuros é, assim também é minha lei livre de qualquer dúvida, tal como hoje eu a conto a vocês. 134. Em certos lugares, em certos momentos, de alguma forma os líderes aparecem no mundo, e depois de suas aparições eles, cuja visão é sem limites, em algum tempo ou outro pregam uma lei semelhante. 135. É muito difícil de se encontrar com esta lei superior, mesmo que seja em miríades de kotis de Aeons; muito raros são os seres que se juntarão à lei superior que acabaram de ouvir de mim. 136. Assim como a flor da figueira é rara, apesar de, em alguns lugares e, de alguma forma, possa ser encontrada, como algo agradável de se ver para todos que a vêem, como uma maravilha para o mundo inclusive para os deuses; 137. (Tão maravilhosa) e muito mais ainda é a lei que eu proclamo. Qualquer um que, ao ouvir a boa exposição dela, aceitá-la alegremente e recitar nem que seja uma só palavra dela, terá honrado a todos os Budas. 138. Desista de toda dúvida e incerteza quanto a isto; Eu digo que sou o rei da lei (Dharmaraga); e eu estou encorajando outros para a iluminação, mas eu estou aqui sem qualquer discípulo que seja. 18
  • 19. Saddharma-Pundarika / Meios Habilidosos / Capítulo 2 139. Que este mistério seja pra você, Sariputra, para todos os meus discípulos, e para os eminentes Bodhisatvas, que manterão este mistério. 140. Pois os seres, no período das cinco depravações, são vis e maus; são cegos pelos desejos sensuais, os tolos, e nunca se viram suas mentes para a iluminação. 141. (Alguns) seres, tendo ouvido este uno é único veículo manifestado pelo Gina, irá em dias vindouros se desviar dele, rejeitar o Sutra, e descer aos infernos. 142. Mas aqueles seres que são modestos e puros, lutando pela iluminação suprema e mais elevada, a estes eu, sem hesitar, mostro as formas sem fim deste veículo uno e único. 143. Tal é o domínio dos líderes; tal suas habilidades. Eles falaram em muitos mistérios; por isto é difícil de os compreender. 145. Portanto tente compreender o mistério dos Budas, os santos mestres do mundo; abandone toda a dúvida e incerteza: todos vocês se tornarão Budas; alegrem-se! 19
  • 20. Saddharma-Pundarika / Uma Parábola / Capítulo 3 CAPÍTULO 3 UMA PARÁBOLA ntão o venerável Sariputra, alegre, agradecido, jubiloso, encantado, vibrando de felicidade e alegria, alçou suas mãos postas em direção ao Senhor, e fitando o Senhor com um olhar firme, dirigiu-se-lhe desta maneira: eu estou espantado, atônito, Ó Senhor! Eu estou em êxtase por ouvir um tal chamado do Senhor. Pois (quando) antes de ter ouvido essa lei do Senhor, eu vi outros Bodhisatvas, e ouvi dizer que os Bodhisatvas do futuro teriam o nome de Budas, eu me senti então muito triste, extremamente vexado de ser privado de uma tão grande visão como o conhecimento do Tathagata. E sempre que, Ó Senhor, para minha recreação diária eu visitava as cavernas de pedra nas montanhas, bosques, belos jardins, rios e raízes de árvores, eu sempre me ocupava com o mesmo pensamento a que sempre recorria: ‘Enquanto a entrada nos pontos fixos da lei é nominalmente igual, fomos dispensados pelo Senhor com o veículo inferior.’ Instantaneamente senti, contudo, Ó Senhor, que era nosso próprio engano, não do Senhor. Pois que se tivéssemos prestado atenção ao Senhor quando Ele deu a insuperável demonstração da lei, isto é, a exposição da iluminação suprema e perfeita, então, Ó Senhor, deveríamos ter-nos tornado adeptos daquelas leis. Mas porque, sem compreender o mistério do Senhor, nós, no momento em que os Bodhisatvas não estavam reunidos, ouvimos apenas às pressas, pregamos, meditamos, pensamos e digerimos as primeiras lições pronunciadas sobre a lei, portanto, Ó Senhor, eu acabava por passar noite e dia em auto-censura. Mas hoje, Ó Senhor, eu alcancei a extinção completa; hoje, Ó Senhor, eu me tornei calmo; hoje, Ó Senhor, eu cheguei plenamente ao descanso; hoje, Ó Senhor, eu alcancei o Arhatado; hoje, Ó Senhor, eu sou o filho mais velho do Senhor, nascido de sua lei, concebido pela lei, feito pela lei, herdando da lei, realizado pela lei. Meu queimar me deixou, Ó Senhor agora que ouvi essa lei maravilhosa, que não havia aprendido, anunciada pela voz procedente da boca do Senhor. E naquela ocasião o venerável Sariputra dirigiu-se ao Senhor nas seguintes estrofes: 1. Estou espantado, grande líder, estou encantado em ouvir essa voz; eu não mais sinto dúvidas; agora estou plenamente amadurecido para o veículo superior. 2. Maravilhosa é a voz dos Sugatas; elimina a dúvida e a dor dos seres vivos; minha dor também se foi toda agora que, livre de imperfeições, ouvi aquela voz ou chamado. 3. Quando estava em minha recreação diária ou andando pelos bosques, quando indo às raízes das árvores ou às cavernas nas montanhas, eu não incorri em outro pensamento além desse: 4. ‘Ó como sou levado por pensamentos vãos; enquanto que as leis sem erros são nominalmente iguais, deverei eu no futuro não pregar a lei superior ao mundo? 5. ‘As trinta e duas marcas características me escaparam, e a cor dourada da pele desapareceu; todos os dez poderes e emancipações de forma semelhante perdidos. ‘O como me perdi nas leis iguais! 6. ‘As marcas secundárias também dos grandes Videntes, os oitenta excelentes sinais específicos, e as dezoito propriedades incomuns me faltaram. Ó como sou iludido!’ 7. E quando eu percebi a vós, tão benigno e compassivo com o mundo, e estava solitário andando na minha recreação diária, eu pensei: ‘Estou excluído do conhecimento inconcebível, ilimitado!’ 8. Dias e noites, Ó Senhor, eu passei pensando sempre no mesmo assunto; eu perguntaria ao Senhor se havia perdido a minha hierarquia ou não. 9. Em tais reflexões, Ó Chefe dos Ginas, eu, constantemente, passava meus dias e minhas noites; e vendo muitos outros Bodhisatvas louvados pelo líder do mundo. 10 . E ouvindo esta lei de Buda, eu considerava: ‘Por certo, isto é exposto misteriosamente; é uma ciência inescrutável, sutil e sem erros, que é anunciada pelos Ginas no terreno da iluminação.’ E 20
  • 21. Saddharma-Pundarika / Uma Parábola / Capítulo 3 11. Antigamente eu estava apegado a teorias (heréticas), sendo um monge peregrino e em altas honrarias (ou, da mesma opinião) que os heréticos; mais tarde o Senhor, observando a minha disposição, mostrou-me o Nirvana para livrar-me de pontos de vista invertidos. 12. Depois de ter me libertado completamente de todos os pontos de vista (heréticos) e atingido as leis do vazio, (eu concebo) que me tornei extinto; contudo isso não é considerado como sendo extinção. 13. Mas quando a pessoa se torna Buda, um ser superior, honrado por homens, deuses, duendes, Titãs, e agraciado com as trinta e duas marcas características, então torna-se completamente extinto. 14. Todos esses cuidados (antigos) foram agora dispersos, agora que ouvi a voz. Agora estou eu extinto, assim como anunciais o meu destino (de Nirvana) ante o mundo, inclusive dos deuses. 15. Quando primeiro ouvi a voz do Senhor, eu tive um grande terror, a menos que fosse Mara, o maligno, que nessa ocasião tivesse adotado o disfarce de Buda. 16. Mas quando a insuperável sabedoria de Buda foi apresentada e estabelecida com argumentos, razões e ilustrações, por miríades de kotis, então eu perdi toda a dúvida sobre a lei que ouvi. 17. E quando me mencionaste os milhares de kotis de Budas, os Ginas do passado que chegaram ao descanso final, e como pregaram essa lei, estabelecendo-a firmemente através de meios habilidosos; 18. Como os muitos Budas do futuro e aqueles que ora existem, como conhecedores da verdade real, exporão ou estão expondo essa lei com centenas de meios habilidosos; 19. E quando mencioneis vosso próprio curso após deixar o lar, como a idéia da roda da lei se vos apresentou e como decidistes por pregar a lei. 20. Então eu me convenci: Este não se trata de Mara; é o Senhor do mundo, que mostrou o verdadeiro caminho; nenhum Mara poderia permanecer aqui. Então minha mente (por um momento) Ó ficou cheia de perplexidade; 21. Mas quando a doce, profunda e maviosa voz do Buda me alegrou, todas as dúvidas foram dissipadas, minha perplexidade desapareceu, e eu me quedei firme no conhecimento. 22. Eu devo me tornar um Tathagata, sem dúvidas, venerado no mundo inclusive pelos deuses; eu manifestarei a sabedoria de Buda, misteriosamente despertando a muitos Bodhisatvas. Depois desse discurso do venerável Sariputra, o Senhor lhe disse: Eu te declaro, Sariputra, eu te anuncio, em presença deste mundo inclusive dos deuses, Maras e Brahmas, em presença deste povo, incluindo ascetas e Brâmanes, que tu, Sariputra, foste amadurecido por mim para a iluminação suprema perfeita, em presença de vinte centenas de milhares de kotis de Buda, e que tu, Sariputra, seguiste há muito tempo a minha vontade. Tu, Sariputra, és, pelo conselho do Bodhisatva, pelo decreto do Bodhisatva, aqui renascido sob meu reinado. Devido à poderosa vontade do Bodhisatva tu, Sariputra, não tens lembrança de tua promessa passada de observar o curso (religioso); do conselho do Bodhisatva, do decreto do Bodhisatva. Pensas que alcançaste o descanso final. Eu, querendo reviver e renovar em ti o conhecimento de tua promessa passada para observar o curso (religioso), revelarei aos discípulos o Dharmaparyaya chamado ‘o Lótus Branco da Verdadeira Lei’, este Sutranta etc. Novamente, Sariputra, em um período futuro, depois de Aeons inumeráveis, inconcebíveis, imensuráveis, quando tiveres aprendido a verdadeira lei de centenas de milhares de kotis de Tathagatas, demonstrado a devoção de várias formas, e alcançado o presente curso do Bodhisatva, tornar-vos-ei no mundo um Tathagata etc. chamado Padmaprabha, agraciado com ciência e conduta, um Sugata, um conhecedor do mundo, um insuperável orientador de homens, um mestre de deuses e homens, um Senhor Buda. Naquele tempo então, Sariputra, o campo de Buda daquele Senhor, o Tathagata Padmaprabha, a ser chamado Viraga, será plano, agradável, deleitoso, extremamente bonito de se ver, puro próspero, rico, quieto, abundante em comida, repleto de muitas raças de homens; consistirá de lápis-lazuli e conterá um tabuleiro enxadrezado com oito compartimentos distinguidos por fios de ouro, cada compartimento tendo a sua árvore de jóia sempre e perpetuamente cheia de flores e frutos das sete substâncias preciosas. 21
  • 22. Saddharma-Pundarika / Uma Parábola / Capítulo 3 Agora, aquele Tathagata Padmaprabha etc., Sariputra, pregará a lei por intermédio dos três veículos. Alem disso, Sariputra, aquele Tathagata não aparecerá na decadência do Aeon, mas pregará a lei por virtude de uma promessa. Aquele Aeon, Sariputra, será chamado Maharatnapratimandita (i.e. ornamentado de magníficas jóias). Sabes tu, Sariputra, por que aquele Aeon será chamado Maharatnapratimandita? Os Bodhisatvas de um campo de Buda, Sariputra, são chamados ratnas (jóias), e naquele tempo haverão muitos Bodhisatvas naquela esfera (chamada) Viraga, inúmeros, incalculáveis, além do cômputo, abstração feita deles por serem computados pelos Tathagatas. Por isso é aquele Aeon chamado Maharatnapratimandita. Agora, para prosseguir, Sariputra, naquele período os Bodhisatvas daquele campo irão ao andar, pisar os lótus de jóia. E aqueles Bodhisatvas não estarão executando seus trabalhos pela primeira vez, tendo eles acumulado raízes de bondade e observado o curso do dever sob muitas centenas de milhares de Budas; eles são louvados pelos Tathagatas por suas zelosas aplicações do conhecimento de Buda; são aperfeiçoados nos ritos preparatórios ao conhecimento transcendental; peritos na direção de todas as leis verdadeiras; gentis, considerados. Geralmente, Sariputra, aquela região de Buda estará pululando de tais Bodhisatvas. Quando à duração devida, Sariputra, daquele Tathagata Padmaprabha, esse durará doze kalpas intermediários, se deixarmos fora de questão o tempo seu de ter sido um jovem príncipe. E a duração de vida das criaturas então viventes medirá oito kalpas intermediários. Ao fim de doze kalpas intermediários, Sariputra, o Tathagata Padmaprabha, após anunciar o destino futuro do Bodhisatva chamado Dhritiparipurna à iluminação perfeita superior, entrará no Nirvana completo. ‘Esse Bodhisatva Mahasatva Dhritiparipurna, Ó monges, deverá imediatamente, seguindo-se a mim, alcançar a iluminação suprema e perfeita. Ele se tornará no mundo um Tathagata chamado Padmavrishabhavikramin, um Arhat etc., agraciado com ciência e conduta etc. etc.’ Agora o Tathagata Padmavrishabhavikramin, Sariputra, terá um corpo de Buda exatamente da mesma descrição. A verdadeira lei, Sariputra, daquele Tathagata Padmavrishabhavikramin durará, após sua extinção, trinta e dois kalpas intermediários, e a imitação de sua verdadeira lei durará iguais kalpas intermediários. E naquela ocasião o Senhor pronunciou as seguintes estrofes: 23. Tu também, filho de Sari, deverás no futuro te tornar um Gina, um Tathagata chamado Padmaprabha, de visão ilimitada; deverás educar milhares de kotis de seres vivos. 24. Depois de honrar muitos kotis de Budas, fazendo um esforço extremo no curso do dever, e depois de teres produzido em ti os dez poderes, alcançarás a iluminação suprema perfeita. 25. Dentro de um período inconcebível e imenso haverá um Aeon rico em jóias (ou o Aeon rico-jóia), e uma esfera chamada Viraga, o campo puro dos homens mais elevados; 26. E o seu chão consistirá de lápis-lazuli, e será arrematado por fios de ouro; terá centenas de árvores de jóias, muito bonitas, e cobertas de flores e frutos. 27. Bodhisatvas com boa memória, capazes de mostrar o curso do dever que foram ensinados sob centenas de Budas, nascerão naquele campo. 28. E o Gina acima mencionado, então em sua última existência corpórea, deverá, após passar o estado de príncipe real, renunciar aos prazeres sensuais, deixar a casa (para tornar-se um asceta peregrino), e mais tarde alcançar a mais elevada e suprema iluminação. 29. A duração de vida daquele Gina será precisamente de doze kalpas intermediários, e a vida dos homens durará então oito kalpas intermediários. 30. Depois da extinção do Tathagata a verdadeira lei continuará por trinta e dois Aeons ao todo, para o beneficio do mundo, inclusive dos deuses. 31. Quando a verdadeira lei terminar, a sua imitação durará trinta e dois kalpas intermediários. As relíquias dispersas do sagrado serão sempre honradas por homens e deuses. 32. Tal será o destino daquele Senhor. Alegra-te, Ó filho de Sari, pois és tu quem será então aquele mais excelente dos homens, assim insuperável As quatro classes de audiência, monges, monjas, devotos leigos, homens e mulheres deuses, Nagas, duendes, Gandharvas, demônios, Garudas, Kinnaras, grandes serpentes, homens e seres não humanos, ouvindo o destino do venerável Sariputra para a iluminação suprema e perfeita, ficaram tão contentes, alegres, encantados, vibrando de alegria e deleite, que cobriram o Senhor separadamente 22
  • 23. Saddharma-Pundarika / Uma Parábola / Capítulo 3 com seus próprios mantos, enquanto que Indra, o rei dos Deuses, Brahma Sahampati além de centenas de milhares de kotis de outros seres divinos, cobriam-no com vestimentas celestes e o envolveram de flores do céu, Mandaravas e grandes Mandaravas. Giraram alto roupas celestes, e tocaram centenas de milhares de címbalos e instrumentos musicais celestes, alto nos céus; e depois de verterem uma grande chuva de flores pronunciaram essas palavras: A roda da lei foi posta em movimento pelo Senhor, a primeira vez em Benares, em Rishipatana, no parque dos Veados; hoje novamente o Senhor colocou em movimento a suprema roda da lei. E naquela ocasião aqueles seres divinos pronunciaram as seguintes estrofes: 33. A roda da lei foi colocada em movimento por vós, Ó vós que sois sem rival no mundo, em Benares, Ó grande herói! (aquela roda que é a rotação do ) surgimento e decadência de todos os agregados. 34. Lá foi colocada em movimento pela primeira vez; agora, uma segunda vez, é girada aqui, Ó Senhor. Hoje, Ó Mestre, pregaste esta lei, que é difícil de se receber com fé. 35. Muitas leis ouvimos nós perto ao Senhor do mundo, mas nunca antes ouvimos uma lei como essa. 36. Recebemos com gratidão, Ó Grande herói, o discurso misterioso dos grandes Sábios, tal com esta predição que diz respeito ao auto-controlado Arya Sariputra. 37. Possamos nós também nos tornar tais Budas incomparáveis no mundo, que pelo discurso misterioso anunciemos a suprema iluminação de Buda. 38. Possamos nós também, pelo bem que fizemos nesse mundo e no próximo, e por termos propiciado ao Buda, sermos permitidos a fazer a promessa pelo Budado. Então, o venerável Sariputra falou assim ao Senhor: Minha dúvida de esvaiu, Ó Senhor, minha incerteza chegou a um fim, ouvindo da boca do Senhor meu destino para a iluminação suprema. Mas estes mil e duzentos (discípulos) autocontrolados, Ó Senhor, que foram por vós colocados no estágio de Saikshas, foram assim advertidos e instruídos: ‘Minha pregação da lei, Ó monges, refere-se a isso, que a libertação do nascimento, envelhecimento, doença, e morte está inseparavelmente conectada com o Nirvana; e esses dois mil monges, Ó Senhor, vossos discípulos, tanto aqueles que ora estão sob treinamento e adeptos, todos eles estando livres de pontos de vista falsos sobre a alma, pontos de vista falsos sobre a existência, pontos de vista falsos sobre a cessação da existência, livres, em resumo, de todos os pontos de vista falsos, que se imaginam ter alcançado o estágio do Nirvana, esses cairiam na incerteza ao ouvirem da boca do Senhor essa lei que não haviam ouvido antes. Portanto Senhor, por favor fale a esses monges, para dispersar as suas intranqüilidades, para que as quatro classes de audiência, Ó Senhor, possam ficar livres de suas dúvidas e perplexidades. Com esse discurso do venerável Sariputra o Senhor lhe disse o seguinte: Não vos disse eu antes, Sariputra, que o Tathagata etc., prega a lei com meios habilidosos, direções várias e indicações, idéias fundamentais, interpretações adequadas, com a devida consideração às diferentes disposições e inclinações das criaturas cujos temperamentos são tão diversos? Todas as suas pregações da lei não têm outro fim senão a iluminação suprema e perfeita, para a qual ele está despertando os seres ao rumo do Bodhisatva. mas Sariputra, para esclarecer essa questão em mais detalhes, eu te contarei uma parábola, pois homens de boa compreensão, geralmente perceberão mais rápido e profundamente o significado do que é transmitido sob a forma de uma parábola. Suponhamos o seguinte caso, Sariputra. Em uma certa aldeia, cidade, província, prefeitura, reino ou capital, existe um certo senhor, velho, idoso, decrépito, muito avançado em anos, rico , influente, opulento; ele tinha uma grande casa, alta, espaçosa, construída há muito tempo atrás e já antiga, habitada por uns duzentos, trezentos, quatrocentos ou quinhentos seres vivos. A casa tinha apenas uma porta, e um telhado; os seus terraços estavam bambos, as bases de seus pilares podres, as coberturas e revestimentos das paredes soltas. De repente a casa inteira foi de todos os lados incendiada por um grande fogaréu. Suponhamos que o homem tivesse filhos pequenos, digamos cinco, ou dez, ou mesmo vinte, e que ele mesmo havia saído da casa. Agora, Sariputra, aquele homem, vendo que a casa de todos os lados encontra-se em chamas por um grande fogaréu, ficou temeroso, aflito, apavorado, e fez a seguinte reflexão: eu mesmo sou capaz de sair da casa em chamas pela porta, rápido e desembaraçadamente, sem ser atingido ou queimado por aquele fogaréu; mas meus filhos, aquelas pequenas crianças, ficaram na casa incendiada, brincando, se divertindo, e se distraindo com todo tipo de jogos. Eles não percebem nem sabem, nem 23