LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIA
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Período: 3º 2011.1
Docente: Antônio Carlos
Discentes:Alleanderson Brito, Diêgo Sales, Faustino dos Santos, Janael Vieira, Jayro
Ramon, José Edilson Maurício, Juscelino da Silva.
Seminário sobre THEODOR W. ADORNO
1BREVE BIOGRAFIA
Nasceu em 1903 em Frankfurt, filho de Alexandre Wiesengrund (negociante de vinho
- protestante) e Maria Bárbara Adorno (cantora lírica – católica), estudou filosofia,
musicologia, psicologia, sociologia na universidade de Frankfurt. Na graduação conhece já
dois de seus principais parceiros Max Horkheimer e Walter Benjamin que também
influenciará no seu pensamento filosófico.
Entre 1921 e 1923 publicou cerca de cem artigos críticos e estético-musicais. Foi a
Viena aos 22 anos estudar Arte da composição com Alban Berg, um dos maiores expoentes
da revolução musical do sec. XX.
Com a tomada do poder pelos nazista, Adorno foi obrigado a refugiar-se na Inglaterra
por ser de origem judaica, lecionou nesse período em Oxford, e aí permaneceu até 1938.
Sua filosofia é considera uma das mais complexas do séc. XX, fundamentada na
perspectiva dialética. Uma das suas mais importantes obras é a Dialética do esclarecimento
escrita colaboração de Max Horkheimer durante a guerra. Essa obra é uma crítica fundada
em uma interpretação negativa do iluminismo, de uma civilização técnica e da lógica cultural
do sistema capitalista, chamada de INDÚSTRIA CULTURAL.
Seus textos têm poder de esclarecimento, de tornar compreensível a realidade e
permanecem a temporais. Adorno alcançou em seus escritos a rara qualidade de conceder
à razão uma força crítica, procurando mostrar diferentes aspectos do real para conduzir o
leitor a um novo patamar de análise e, portanto, de consciência.
Faleceu no dia 06 de agosto de 1969 por problemas cardíacos;
2ESCOLA DE FRANKFURT, TEORIA CRÍTICA E SEUS REPRESENTANTES.
A Teoria Critica da Escola de Frankfurt se constituiu numa referência importante para
o pensamento sociológico e filosófico contemporâneos, ou seja, ela foi um movimento
intelectual que aglutinou autores de origens teóricas e influências intelectuais distintas, como
Walter Benjamin, Max Horkheimer, Theodor W. Adorno dentre outros. Esses intelectuais por
sua vez, a partir da criação do Instituto de Pesquisa Social, empreenderam uma “crítica
radical ao tempo presente”, dentre seus expoentes, os que ganharam maior destaque foram
Horkheimer e Adorno.
Aqui será privilegiado o pensamento de Adorno como expressão da segunda teoria
critica da Escola de Frankfurt. O objetivo é retratar suas contribuições para a
problematização dos fundamentos das teorias pedagógicas modernas e para vislumbrar, a
partir delas, uma alternativa teórica às formas contemporâneas da reflexão pedagógica da
filosofia da Educação.
3ATUALIDADE DA FILOSOFIA, CRÍTICA AO ILUMINISMO E A CULTURA.
Adorno em uma de suas obras (PARA QUE AINDA FILOSOFIA?) considera
apologética a pretensão de totalidade e a tese que todo real é racional presente no
pensamento de Hegel, diz que a oposição ao absoluto e a recusa em compreender o todo
como racional são locais de prosperidade da filosofia, de onde ele pode ser determinada
como negativa e ser levada a sério: “a filosofia hoje é a tentativa de dizer coisas de um
modo que quem nos escuta fique convencido de que nós não temos razão”, nisso só
restaria como diz Kant: “só a via crítica estaria ainda aberta”. Isso é conhecido como
“segunda teoria crítica”, desenvolvida na sua obra Dialética Negativa.
Na sua obra Dialética do Esclarecimento busca descrever a genealogia dos
conceitos ILUMINISMO e CULTURA e o lado sombrio que acompanha o desenvolvimento
desses conceitos. Diz Adorno com Horkheimer que esses termos perderam seu significado
e seu uso ideológico: eles estão vazios, encobrem a heteronomia e a deterioração da cultura
pela subordinação à logica do sistema, ou seja, do mercado.
Para esses críticos o iluminismo tinha a pretensão de “livrar os homens do medo e
investi-los na posição de senhores”, nesse processo SABER e PODER se aliaram desde o
início a fim de conhecer a natureza e se utilizar desse saber pela técnica (método) para
dominá-la. Com isso ele acabou com o resto de consciência que lhe faltava e faz com que o
pensamento cometa violência sobre ele mesmo, tornando-se duro para acabar com os
mitos. Há, portanto, um movimento de troca de valorização do animismo que gerava prazer
em busca da verdade por um desencantamento do mundo.
O fim que leva isso é a transformação do pensamento em cálculo (que coincide com
a ciência moderna – logica formal, e o positivismo), todas as coisas passariam a ser
medidas e matematizadas e o que não se enquadrasse nesse registro seria condenado, ou
seja, o mito estaria sendo excluído. É essa a base da filosofia moderna: teoria onde o sujeito
é capaz de produzir por meio do pensamento conceitos que juntos formam um sistema
filosófico que seja considerado idêntico a realidade ou a natureza.
Graças a Lógica formal o sujeito desenvolve um sistema de calculabilidade do
mundo tonando a razão como instrumento e o pensamento como identificador, esses
pensamento identificante e razão instrumental são os mesmos que dominam a sociedade
burguesa regida pelo calculo de troca equivalente e por uma lógica de mercado, além disso
essa relação faz com que as pessoas fiquem tranquilas achando que houve uma
desmitização do mundo, e portanto estaria livres das coisas que não conseguiam dominar.
Porém a força da natureza mostra que na relação com o saber o sujeito não lhe confere
somente o sentido racional, dá também abertura para a irracionalidade, mostrando sua
vontade de poder que objetiva dominar primeiro o outro que a si mesmo.
A força que a razão depositou no iluminismo só aumentou sua infelicidade, pois
ocultou a relação de poder que tem na produção do saber. A relação do iluminismo com o
apaziguamento pretendido é o mesmo que o obscurecimento da consciência e glorificação
do conformismo que se tornara presentes na modernidade.
Essa deformação se deu na passagem da cultura que era responsável pela formação
espiritual para um ramo da produção industrial. Os bens culturais passaram a ser veiculados
nos meios de comunicação e se apresentavam aos destinatários como meio de consumo; a
cultura perdeu sua autonomia em relação a existência material e ao se tornar acessível as
massas contribui para deformar ainda mais a formação do espírito humano, obscurecer a
consciência e desumanizar o próprio homem, é a INDÚSTRIA CULTURAL.
Essa cultura é marcada pelos estereótipos, os modelos estabelecidos e devem ser
seguidos. As pessoas se sentem na obrigação de viver tal e qual os filmes, novelas,
músicas, mandam. É onde a consciência do sujeito encontra-se determinada por relações
que tratam os outros e a si mesmo como coisas, se não segue os padrões sente-se fora do
estabelecimento do vínculo social.
A indústria cultural segundo Adorno e Horkheimer não sublima, ela reprime, exige do
indivíduo uma repressão imediata dos instintos para o cultivo dos bens culturais ou a sua
situação de não liberdade.
Não é que Adorno e Horkheimer larguem o iluminismo e a cultura, “eles retomam as
promessas do Iluminismo e o ideal cultural para cobrar sua não-realização, denunciando seu
atual fracasso e a perda do siginificado desses conceitos e as atrocidades cometidas em
nome deles”.
4DA CRÍTICA A PEDAGOGIA AOS DESAFIOS POLÍTICOS DA EDUCAÇÃO NO
PRESENTE
Diferentemente da pedagogia de Nietzsche que se contrapõe a cultura de forma
hegemônica para elaborar uma pedagogia que resgate aquilo que o homem tem de original
e que prepare a emergência do gênio, os Frankfurtianos, sobretudo Adorno, pensam uma
pedagogia capaz de levar os educadores e educandos a uma justa inflexão sobre o sujeito,
sobre si mesmo e sobre o resto de contemporaneidade. Com isso, tem como meta que o
sujeito reconheça seus limites, e suas tendências autoritárias, observado em si mesmo, que
indicam o recuo da atual politica pedagógica.
Como, então, promover esse tipo de educação, se todos se encontram emergidos
numa formação inacabável, com uma politica pedagógica subjacente favorável ao
tradicionalismo pragmático?
Para os críticos de Frankfurt nas Instituições de ensino o ideal de formação cultural
(Bildung) pautada pela pedagogia é reduzida à semiformação. De certa forma tais
instituições seguem um parâmetro criado por indústrias culturais. Entende-se por “indústrias
culturais” a corrupção de cultura por meios de pedagogias impostas e meios de
comunicações em massa voltada a uma persuasão censurada, egoísta e obrigatória. Dessa
maneira a instituição falseia a ampla dimensão de cultura em favor de uma pedagogia e a
escassez desta para a vida natural. Adorno se contrapõe assim ao entendimento de
pedagogia como teorização que tem como objeto a crise da formação cultural procurando
corrigi-la por meio de reforma ao sistema de ensino como sinônimo de didática.
Embora também impregnados pelo domínio politico educacional subjacente os
professores deveriam pensar uma educação referente à pesquisa sobre a educação e o
ensino, pensar numa condição social e politica que vá contra o autoritarismo da violência e
da selvageria social. O objetivo desta reflexão era justamente evitar a repetição de
Auschwitz e a reiteração da barbárie na contemporaneidade. Esta seria para ele a principal
tarefa ética e politica para a educação no presente.
Embora não deixando pistas aos educadores, Adorno pensa trazera tona reflexões
sobre o passado para mostrar o que de fato estava acontecendo na atualidade, na forma de
vida democrática que estava em vigor. Com uma contra posição de destruição da memoria
histórica, e a destruição do horror representado pelo passado vivido no presente em virtude
de uma transformação da consciência.
Para fortalecer esse pensamento seria possível implantar nas universidades uma
sociologia vinculada à pesquisa histórica, bem como a importância de se promover uma
apropriação da psicanálise que possibilitasse tornar natural uma atitude de exteriorização da
violência, mas uma reflexão de si mesmo e sobre o destinatário desta violência.
Para Adorno uma educação politica só seria possível nestes termos, na
compreensão do apelo ao sensível e ao inconsciente no intuito da não repetição errônea de
um passado na historicidade vigente.
5EXPERIÊNCIA EDUCATIVA, ARTE DE EDUCAR E COMUNICAÇÃO DO
DIFERENCIADO.
Adorno procura unir por meio de uma argumentação negativa a experiência e o
pensamento filosófico em busca de um lugar para a arte e para a filosofia no processo de
produção e transmissão dos saberes acadêmicos na universidade e em outras instituições
de pesquisa e de ensino, das quais um dia já fizeram parte, mas foram destituídos.
Nessa linha de pensamento, Adorno compreende que, para a filosofia caberia o
papel de promover a conceitualização necessária para elevar a experiência sensível ao
pensamento, deixando à vista o que o conceito não esgotaria como o medo, o terror, os
sentimentos de beleza, prazer e as emoções sublimes (extraordinárias) provocadas pela
relação do indivíduo com o mundo. São justamente esses sentimentos que a linguagem não
consegue captar e que a arte provoca, tanto no processo de produção quanto no de
recepção, propiciando um lugar-tempo para a ocorrência dessa experiência. Então, a
articulação entre filosofia e arte se daria, respectivamente, pelo reconhecimento dos limites
do pensamento diante dessa experiência típica e exclusivamente humana e pela
possibilidade de através da arte experimentá-las mostrando aquilo que é diferente do
pensamento, mas move o homem a recomeçar, a buscar e desejar entender a existência e
os mistérios que a circunda como a vida, a morte...
6INDICAÇÕES PARA UMA EDUCAÇÃO APÓS AUSCHIWITZ.
“Quando falo de educação após Auschwitz refiro-me a
duas questões: primeiro, à educação infantil, sobretudo
na primeira infância; e, além disto, ao esclarecimento
geral, que produz um clima intelectual, cultural e social
que não permite tal repetição; portanto, um clima em que
os motivos que conduziram ao horror tornem-se de algum
modo conscientes”. (ADORNO, 2003, p. 123).
A exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação, dizia
Adorno em seu conhecido texto Educação após Auschwitz, pouca consciência do seu
significado social e histórico, enquanto barbárie, e da própria necessidade de que este
acontecimento não se repita, mostra o quanto ainda hoje Auschwitz é possível.
Auschwitz como regressão, situa-se não somente como genocídio de uma raça, mas
também como o exemplo da perda da experiência formativa, da racionalidade
instrumentalizada que cria homens “não sujeitos”, “não pessoas”. O homem sendo
coisificado torna-se incapaz de desenvolver um sentido autônomo para sua vida.
A ocorrência de Auschwitz pode ser entendida como uma tendência social
relacionada a um estado de consciência que banaliza o mal, que apreende fatos, como este,
como naturais e inevitáveis. Daí a possibilidade de repetição. Ontem foram os judeus,
amanhã serão outros.
Adorno discutiu os caminhos da educação, na necessidade de educar contra a
barbárie. “... o centro de toda educação política deveria ser que Auschwitz não se repita”
(ADORNO, 2003, p.137). O sentido ético posto à discussão educacional de Adorno parece
estar mais relacionado às reflexões sobre as condições sociais e psicológicas que geram a
barbárie e ao papel que a educação, enquanto processo de formação, pode desempenhar.
Auschwitz é o símbolo do travamento da experiência formativa autêntica, tornando uma
formação prejudicada e danificada.
“... Mencionei o conceito de consciência coisificada. Esta
é, sobretudo, uma consciência que se defende em
relação a qualquer vir-a-ser, frente a qualquer apreensão
do próprio condicionamento, impondo como sendo
absoluto o que existe de um determinado modo”.
(ADORNO, 2003, p. 132).
Neste trecho Adorno nos mostra a necessidade de atentar para a conversão de uma
relação humana em “coisa”: pessoas que se tornam coisas deixam de ser seres
autodeterminados, conseguem tornar os outros iguais a coisas. Explica-se então o estado
da consciência no qual ela se torna indiferente à dor do outro.
“... O elogiado objetivo de “ser duro” de uma tal educação
significa indiferença contra a dor em geral. No que,
inclusive, nem se diferencia tanto a dor do outro e a dor
de si próprio. Quem é severo consigo mesmo adquire o
direito de ser severo também com os outros, vingando-se
da dor cujas manifestações precisou ocultar e reprimir.
Tanto é necessário tornar consciente esse mecanismo
quanto se impõe a promoção de uma educação que não
premia a dor e a capacidade de suportá-la, como
acontecia antigamente”. (ADORNO, 2003, p. 128-129)
Como bem descreve Adorno, este estado de consciência resulta de uma formação,
de um modo determinado de formação, não de uma natureza inata, pois o homem é social e
historicamente determinado. Assim, fica claro o papel que educação pode cumprir enquanto
forma de combater a semiformação (o travamento da experiência formativa autêntica),
resgatando a cultura em seu aspecto de resistência. É aqui que está à necessidade de se
pensar uma “Educação após Auschwitz” na luta contra a semiformação e uma conquista na
produção de uma consciência verdadeira.