1. criando casos
Do caos à paz:
vitória das redes sociais
Case da FSB que ajudou a reverter pânico no Rio de
Janeiro via mídias sociais foi premiado em Cannes
por Juliana Veronese
O dia nem havia raiado quando policiais militares, federais e civis, problema individual de cada rua ou bairro”, explica Risoletta Mi-
além de militares das Forças Armadas, deram os primeiros passos randa, diretora executiva de PR digital da FSB.
rumo à invasão do morro da Grota, no Complexo do Alemão, no A estratégia foi humanizar a operação, aproximando Estado e
Rio de Janeiro. Era um domingo, 28 de novembro, e a operação cidadãos conectados. Para isso, porta-vozes exclusivos deram
que poucas horas depois tomaria conta dos noticiários de todo o “rosto” à ação por meio de entrevistas via Twitcam, vídeos no
País encerrava uma semana tensa e histórica.
O projeto de pacificação dos morros, iniciado pelo governo do
Estado dois anos antes, vivia seu momento mais delicado. Com a
tomada de importantes pontos do tráfico pelas UPPs (Unidades de
Polícia Pacificadora) bandidos expulsos de seus redutos passaram
a efetuar uma série de ataques contra a polícia e a população.
Uma onda de pânico – com boa dose de boatos – se espalhou pela
capital fluminense. Nas redes sociais, grande parte dos mais de
cinco milhões de cariocas com acesso à internet reagia assustada
e criticando duramente o governo.
A reação precisava ser rápida e, para atingir o máximo possível
de pessoas, as mesmas redes que difundiam o medo viraram arma
de informação em tempo real. Um belo desafio para a FSB, agência
que há cerca de um ano e meio vinha cuidando das mídias sociais
do governo do Rio. “Acionamos as ferramentas que já tínhamos,
agora de maneira mais intensa, em busca de uma meta: mostrar
Ricardo cota, diretor de comunicação social do Rio
para o carioca que se tratava de uma causa coletiva, e não de um
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2. passo a passo, o caMInho Da IDeIa
YouTube e postagens nas redes – incluindo o Orkut, uma das mais
usadas no Brasil. “A Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Mi-
litar e todos os outros envolvidos – tanto na esfera estadual como
na federal – entenderam imediatamente a importância do traba-
lho de comunicação e se prontificaram a fazer parte dele”, afirma
Ricardo Cota, secretário de comunicação social do governo do Rio.
No ápice das ações de tomada das comunidades, a equipe di-
gital da FSB passou seis dias seguidos, praticamente “acampada”
na Secretaria de Segurança Pública, acompanhando o secretário
José Mariano Beltrame e atualizando as redes direto da fonte.
“Um dos maiores desafios estava em justamente dosar o que po-
dia ser divulgado. Ao mesmo tempo que precisávamos informar
a população, era necessário um cuidado para preservar a própria
operação”, conta Risoletta.
Mas o plano de comunicação queria mais do que noticiar com
transparência: o momento era de resgatar e fomentar o orgulho
de morar no Rio de Janeiro. Em busca de engajamento, criou-se
uma campanha espontânea com a hashtag #paznorio – que a pró-
pria população carioca havia cunhado – e se incentivou a adesão
Risoletta Miranda, diretora de pR digital da FsB
a um Twibbon oficial do @govrj. Durante quatro dias seguidos a
#paznorio se manteve nos Trending Topics, tendo sido repetida 20
milhões de vezes; nesse mesmo período, mais de seis mil pessoas foi a grande conquista do trabalho”, afirma Ricardo Cota.
aderiram ao selo Twibbon. Apresentadores, estilistas, jornalistas, O reconhecimento do público foi corroborado pelos jurados do
educadores, toda uma cidade se engajou na campanha. No YouTube, 64º Festival de Cannes, que, no dia 19 de junho, premiaram o case
o alcance chegou a 132 mil pessoas e, no Orkut, cerca de um mi- com Leão de Prata na categoria PR Lions. Para a equipe da FSB
lhão foram impactadas. (além de Risoletta atuaram no case Janine Louven, Naila Oliveira,
A utilização das Twitcams também repercutiu, atingindo mais Fábio Keydel, Priscila Simão e Daniel Pinho), a conquista inédita
de 400 mil pessoas e se transformando em notícia nos principais coroa o engajamento naquilo que a diretora executiva classifica
portais brasileiros. “Durante uma das entrevistas do secretário de como mais que um trabalho. “A sensação é de ter participado de
Segurança Pública, mais da metade das intervenções de internautas um momento histórico do País”, resume Risoletta.
não foi para fazer perguntas, mas para elogiar a atuação da polícia”, Indo um pouco além, “Paz social” – como o case ficou conhecido
orgulha-se Risoletta. O canal aberto, praticamente sem filtros, en- – traz à tona outro feito vencedor: a reversão de um cenário de
tre poder público e cidadão, de fato contribuiu enormemente para caos utilizando as mesmas ferramentas que tentaram difundi-lo.
transmitir a credibilidade que a situação pedia. “Ter conseguido re- Ou, como resume Ricardo Cota, “pudemos presenciar a vitória das
verter o clima de segurança e mobilizar a população a nosso favor redes sociais sobre o boca a boca".
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