2. Índice
Apresentação 3
Ingrediente do crescimento 4
O mercado mundial 7
Cenários para a competitividade 14
Mercados industriais em 2030 18
3. Apresentação
Esta é a quarta de uma série de cinco Trata-se de um conjunto de dados que
publicações que analisam os horizontes abrange um universo de cem países,
da economia brasileira para as próximas analisados não apenas em seu aspecto
duas décadas, com atenção especial econômico, mas também em sua dinâmica
para os seus setores mais estratégicos, demográfica, de qualidade de vida e de
assim considerados tanto pela sua im- recursos humanos e naturais.
portância na geração da renda nacional
quanto pelas oportunidades de negócios Uma avaliação desse tipo deve obrigato-
que representam ao longo do tempo. riamente transcender os limites estreitos
Nesse contexto, a competitividade da conjuntura. Este estudo considera
industrial, tema deste relatório, ocupa tendências de longo prazo relacionadas
um posto privilegiado, seja por sua impor- ao processo de desenvolvimento tecno-
tância na geração de renda e emprego, lógico e de mercados. Nesse sentido, os
seja por seu papel condicionante na inser- efeitos de crises como a atual, desenca-
ção do País nos fluxos de comércio mun- deada no mercado imobiliário norte-ame-
dial e no equilíbrio das contas externas. ricano e que ganhou dimensões mundiais,
representam desvios passageiros, histo-
Os temas abordados nas publicações são ricamente compensados no horizonte de
os seguintes: tempo considerado nas projeções.
Potencialidades do mercado Este trabalho, um esforço conjunto da
habitacional; Ernst & Young e da Fundação Getulio
Crescimento econômico e potencial Vargas, procura também qualificar a con-
de consumo; cepção de desenvolvimento para o Brasil
Desafios do mercado de energia; nas próximas décadas. Mais importante
Horizontes da competitividade que questionar se o País crescerá muito ou
industrial; pouco, é indagar se crescerá bem, ou seja,
Perspectivas do Brasil na explorando ao máximo suas possibilidades,
agroindústria. mas de modo sustentável. Uma indústria
competitiva, com capacidade exportadora,
A abordagem leva em conta as potencia- é um elemento importante para o dinamis-
lidades do Brasil em sua interação com mo e a estabilidade da economia brasileira.
o mercado mundial, com o objetivo de Esta publicação traz elementos valiosos
delinear cenários até o ano de 2030. para traçar as perspectivas do setor para
Uma visão aprofundada do comportamen- as próximas duas décadas, a fim de orien-
to dos principais fatores determinantes do tar o planejamento das empresas e trazer
cenário global é requisito para projeções subsídios para a elaboração das políticas
válidas do crescimento brasileiro. industrial e de comércio exterior.
4. 4 BRASIL SUSTENTÁVEL HORIZONTES DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
Ingrediente do
crescimento
Diversificação balança comercial muito sensível
à volatilidade dos preços desses
necessária produtos no mercado internacional.
Uma queda abrupta na cotação
Até hoje o desenvolvimento das commodities, nesse contexto,
econômico é visto como sinônimo ao comprometer a balança
do processo de industrialização. de pagamentos, cria grandes
Isso porque, historicamente, as dificuldades na condução da política
nações consideradas desenvolvidas macroeconômica. O Brasil possui
passaram por um processo de uma base produtiva diversificada.
modificação estrutural em que a Preservá-la, assegurando condições
agricultura cede espaço para a para o crescimento dos segmentos
indústria, uma atividade econômica setoriais em que existem vantagens
moderna e de alta produtividade. comparativas, é, portanto, um
Isso ocorre com a realocação objetivo a ser perseguido pela
paulatina dos recursos de um política econômica.
setor para outro, ou seja, com a
migração da mão-de-obra do meio Competitividade
rural para o urbano, em busca de
novas oportunidades de emprego As projeções do modelo de cenários
proporcionadas pelos investimentos desenvolvido para este trabalho
em capital fixo para produção de permitem mapear os principais
bens industriais. Paralelamente mercados importadores de bens
à consolidação da indústria, o industriais no mundo. Dessa maneira,
crescimento do setor de serviços pode-se ter uma visão do potencial de
confere maior diversificação a todo exportação dos produtos brasileiros,
o setor produtivo. tanto daqueles que já apresentam
um bom desempenho quanto
Uma estrutura produtiva ampla dos que representam novas
torna a economia mais vigorosa na oportunidades de inserção nos
medida em que a geração de renda mercados internacionais.
não depende predominantemente
de um setor. O mesmo raciocínio Como foi visto na segunda
vale com relação às estratégias publicação desta série, espera-se
de comércio internacional. um crescimento do consumo
Uma economia que depende geral das famílias de 3,8% ao ano
fortemente da exportação de bens entre 2007 e 2017 no mercado
primários, por exemplo, tem sua interno, taxa que deve ceder um
5. O mercado internacional de bens industriaisA
estabelece desafios para a indústria
brasileira, defrontada constantemente com
a concorrência.
pouco entre 2017 e 2030 (3,4%). mercado mundial. Novos produtos realizada em países emergentes
Uma parte significativa desse são apresentados aos consumidores da Ásia, em razão de uma
crescimento será relacionada a bens diariamente, mudando hábitos e conjunção de mão-de-obra barata e
industriais, ou seja, há grandes criando necessidades anteriormente abundante, relativamente qualificada,
possibilidades de ampliação de não imaginadas. É o caso de e disponibilidade de energia.
negócios numa gama diversificada bens relacionados à tecnologia O mercado internacional de bens
de produtos. A oportunidade de da informação e à comunicação, industriais estabelece desafios para
atender a essa demanda interna responsáveis pela elevação dos a indústria brasileira, defrontada
com produção doméstica depende, níveis de produtividade em todos constantemente com a concorrência –
obviamente, da competitividade da os setores da economia. tanto de países industrializados e
indústria brasileira. emergentes, na produção de bens de
Os produtos inovadores, em regra, alto conteúdo tecnológico, quanto
A oferta de bens industrializados são concebidos nos países mais de países menos desenvolvidos, na
de alto conteúdo tecnológico tem ricos e industrializados, mas parte produção de bens industriais de
crescido significativamente no significativa de sua produção é menor conteúdo tecnológico.
Crescimento do mercado mundial de manufaturas, (%) ao ano, 2007 a 2030
Exportações
Crescimento Crescimento brasileiras
das importações das exportações em 2030,
Produtos mundiais brasileiras US$ bilhões*
Manufaturas 3,7% 1,8% 182,67
Aço 5,2% 1,9% 15,88
Produtos químicos 4,1% 1,4% 10,72
Equipamentos de transporte** 2,7% 1,5% 29,50
Equipamentos de escritório e telecomunicações 7,9% 2,3% 5,38
Fonte: FGV
(*) A preços de 2007.
(**) Inclui automóveis e aeronaves.
6. 6 BRASIL SUSTENTÁVEL HORIZONTES DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
Tomando como base o cenário de por exemplo, crescerá a uma é superior ao da maioria dos
referência adotado neste estudo – taxa média de 2,3% ao ano, ou países emergentes. Manter-se
que considera um crescimento 0,9 ponto percentual a mais competitivo requer investimentos
médio do PIB de 4% ao ano que a média de crescimento de porte, com o intuito de gerar
até 2030, em um contexto de dos produtos químicos (1,4%). e absorver inovações técnicas,
desenvolvimento sustentado, mas O dado crítico é que, para todos qualificar a mão-de-obra e
sem pressupor grandes mudanças os setores, as exportações reduzir ineficiências no processo
institucionais –, haverá uma brasileiras crescerão abaixo das produtivo. Adicionalmente,
diminuição da participação dos importações mundiais. Isso mostra são necessários esforços de
produtos industriais brasileiros que ainda há muito a ser feito para transformação institucional para
no mercado. Isso apesar do melhorar o desempenho do País baixar custos de produção e de
crescimento das exportações rumo a 2030. transação. Um cenário favorável
de bens manufaturados de 1,8% a um melhor desempenho das
ao ano nesse período. Mas há O ritmo de progresso tecnológico exportações industriais brasileiras,
diferenças significativas quando são da indústria brasileira não em razão de reformas estruturais
considerados setores específicos – tem sido tão grande quanto mais abrangentes e de um
o ramo de equipamentos de o observado nos países mais esforço inovador mais intenso, é
escritório e de telecomunicações, desenvolvidos, mas, ainda assim, apresentado no final deste trabalho.
Progresso tecnológico na indústria manufatureira, (%) ao ano, 1960 a 2005
2,19
2,0%
1,84
1,64
1,5%
1,35
1,27
1,21 1,21
1,14
1,05
1,0% 0,92
0,74
0,62
0,56 0,55 0,52 0,52
0,5%
0,31 0,28
0,23
0,15
0,0%
o
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Re
Co
ta
Es
Fonte: FGV
7. 7
O mercado
mundial
Ritmo acelerado Evolução das importações de manufaturas
Evolução das importações de manufaturas
A expansão do comércio internacional Mundo
de mercadorias vem se dando em (%) do PIB* Estados Unidos
18% 16%
um ritmo superior ao do crescimento
do PIB mundial – 5,3% contra 16%
3,7% ao ano entre 1990 e 2007.
Embora as importações de bens 14%
manufaturados representem em
termos globais 16% do PIB mundial,
12% 10%
essa participação é menor nas 10%
economias mais desenvolvidas,
visto que esses países, em geral, 8%
têm um alto grau de industrialização.
6%
É o caso dos Estados Unidos, cujas
importações de bens manufaturados 4%
representam 10% do PIB desde o
início desta década. 2%
0%
Entre as mercadorias transacionadas, 1990 1995 2000 2005 2007
os produtos manufaturados foram
historicamente o grupo mais
dinâmico, com maior expansão. Fonte: FGV.
Fonte: FGV
(*) A preços constantes de 2005.
Dados da Organização Mundial do (*) A preços constantes de 2005.
Comércio (OMC) mostram que a
taxa de crescimento do comércio de
manufaturados foi de 7,5% ao ano
entre 1950 e 2006, mais que o dobro
da registrada para os produtos América do Norte foram de bens trilhões em 2006, a maior parte
agrícolas (3,5%) e também quase o manufaturados. Nas demais regiões referente a máquinas e equipamentos
dobro do índice relativo às transações do globo, esse tipo de produto de transporte (52,9%). Esses itens
nos setores de combustíveis e responde por menos de um terço são distribuídos em três partes
mineração (4%). São números que do valor das exportações, que são praticamente iguais: a) equipamentos
demonstram a importância do setor compostas predominantemente por de transportes (veículos e aeronaves,
para a formulação de estratégias produtos primários. Trata-se de um principalmente); b) material de
sustentadas de crescimento econômico. padrão de especialização persistente. escritório, telecomunicações e outras
máquinas e equipamentos; c) bens
Em 2006, mais de três quartos das O volume total do comércio de bens de capital utilizados na produção de
exportações da Ásia, da Europa e da manufaturados somou US$ 8,257 mercadorias e serviços.
8. 8 BRASIL SUSTENTÁVEL HORIZONTES DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
Os sete grandes amplamente protegidas pelas
políticas industriais.
Uma parte substancial das
transações de mercadorias é
Do ponto de vista regional, a ainda hoje realizada internamente
expansão das importações de A despeito da crescente nas grandes regiões do globo.
bens manufaturados foi liderada participação dos países em Isso mostra que os acordos
pelos países da Ásia e da Oceania, desenvolvimento em geral, apenas regionais são determinantes nos
da América do Sul e do Nafta, sete economias concentram fluxos de comércio. Além disso,
sendo mais intensa nos países em mais da metade do valor das as estatísticas indicam que as
desenvolvimento dessas regiões. importações mundiais de bens distâncias continuam sendo
A Argentina, a China, a Índia e manufaturados: Estados Unidos, um importante fator limitante
o México são as economias com China, Alemanha, Grã-Bretanha, para o fluxo internacional
maiores taxas de crescimento das França, Japão e Itália. Não por de mercadorias.
importações de manufaturados, coincidência, são também as
todas com expansão anual do sete economias que lideram as Os países da União Européia
comércio superior a 10% entre exportações de manufaturas no tiveram 72% da sua produção
1990 e 2007. O Brasil apresentou mundo, representando juntas exportada para destinos dentro
crescimento de 8,7% ao ano. 58,8% do total. Verifica-se então do próprio bloco em 2006.
que grande parte da importação Situação semelhante ocorre,
No caso da América do Sul, de bens industrializados serve ainda que em menor intensidade,
a elevada taxa de crescimento, de consumo intermediário na na Ásia e na América do Norte
de 8,9% ao ano no período, produção de novos bens, que são (46% e 53%, respectivamente).
deveu-se ao processo de abertura exportados por esses sete grandes As Américas Central e do Sul
comercial vivido por todos os players do mercado internacional. também apresentam uma parcela
países da região desde o final da Nesse grupo de países, destacam- significativa (38%) de suas
década de 1980. Esse processo se a China, a Alemanha e o exportações de manufaturados
caracterizou-se pela redução das Japão, pelos expressivos saldos destinadas à própria região –
barreiras tarifárias e não-tarifárias comerciais no comércio de trata-se de uma fatia ligeiramente
ao comércio de mercadorias, manufaturas, e os Estados Unidos, maior do que aquela destinada à
sobretudo daquelas impostas pelo elevado déficit de US$ 522 América do Norte (36%).
sobre as manufaturas, até então bilhões em 2006.
É importante notar que o ritmo
de expansão das exportações
de manufaturados das Américas
Central e do Sul para a América
do Norte tem sido efetivamente
inferior ao do crescimento das
exportações para outras regiões.
Se considerada a evolução das
importações dos Estados Unidos,
em que o dinamismo da demanda
por produtos manufaturados
asiáticos é evidente, verifica-se
uma perda de competitividade
das Américas Central e do Sul
nas exportações para o mercado
norte-americano.
9. 9
Comércio mundial de bens manufaturados, 2006
Composição
Outras
Siderurgia
manufaturas
4,5% Os maiores,
11,5%
Químicos
em US$ bilhões
Vestuário (2006)
15,1%
3,8%
Têxteis
2,6% Outros Exportações
semimanu- China* 1.391,8
Total de 1º
faturados 2º Alemanha 960,0
Máquinas e
US$ 8,257 9,6% 3º Estados Unidos 828,6
equipamentos trilhões 4º Japão 586,5
5º França 391,4
52,9% 6º Itália 352,6
7º Grã-Bretanha 348,1
8º Holanda 299,0
Fonte: Organização 9º Coréia do Sul 290,1
Mundial do Comércio 10º Bélgica 288,4
11º Canadá 215,4
Cingapura 214,1
Mapa-múndi das importações, 12º
13º México 189,2
crescimento médio anual entre 1990 e 2007* 14º Espanha 155,0
15º Suíça 133,8
16º Suécia 120,6
17º Malásia 117,9
Total de Bens 18º Áustria 116,5
Região/país mercadorias Manufaturas agrícolas** 19º Tailândia 98,5
Europa 4,0% 3,7% -0,5%
20º Irlanda 92,4
Grã-Bretanha 3,5% 3,5% 0,5%
França 3,0% 3,1% 0,0%
Portugal 3,9% 3,5% 0,7%
Espanha 5,9% 6,2% 1,1%
Importações
Alemanha 3,2% 3,9% -1,6% 1º Estados Unidos 1.350,2
Rússia n.d. n.d. n.d. 2º China* 1.020,9
Nafta 6,2% 6,1% 0,6% 3º Alemanha 654,5
Estados Unidos 6,2% 5,9% 0,8% 4º Grã-Bretanha 404,4
México 9,6% 10,1% -2,4% 5º França 391,5
América Central e Caribe 6,4% 6,3% 3,2%
6º Japão 297,4
América do Sul 7,5% 8,9% 0,1%
7º Itália 282,7
Argentina 11,7% 12,6% 0,0%
8º Holanda 273,9
9º Canadá 273,4
Brasil 6,4% 8,7% -1,4% 10º Bélgica 254,1
Chile 7,9% 7,3% 5,9% 11º Espanha 220,6
Venezuela 6,1% 9,1% 0,6% 12º México 211,6
Ásia e Oceania 7,2% 7,0% -0,2% 13º Coréia do Sul 177,6
Japão 3,2% 4,7% -2,0% 14º Cingapura 174,9
China 16,1% 11,3% 4,9% 15º Rússia 132,7
Coréia do Sul 7,0% 7,3% 0,5% 16º Suíça 112,0
Índia 10,2% 11,0% 4,0% 17º Áustria 103,8
Austrália 5,4% 5,3% 1,8% 18º Austrália 101,0
África Subsaariana 4,9% 3,9% -0,8% 19º Malásia 101,0
Oriente Médio e norte da África 3,7% 4,2% 1,4% 20º Polônia 95,9
Mundo 5,3% 5,0% -0,1%
Fonte: FGV Fonte: Organização Mundial do Comércio
(*) A preços constantes de 2005. (*) Inclui os valores de Taipei e Hong Kong.
(**) Inclui pecuária e pesca.
10. 10 BRASIL SUSTENTÁVEL HORIZONTES DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
O papel do Brasil de globalização dos mercados.
O dinamismo no período mais
período pode ser atribuído à
expansão das exportações.
Desde 1980, as exportações recente – crescimento de
brasileiras vêm apresentando 16,5% ao ano entre 2000 e Os manufaturados têm sido os
um ritmo de crescimento 2007 – tem contribuído de forma bens com maior contribuição
acentuado, de 8,1% ao ano, decisiva para o desempenho para a expansão das vendas
compatível com os padrões econômico do País: 15,4% do no mercado externo — 53% do
mundiais ditados pelo processo aumento do PIB brasileiro no total entre 1980 e 2006.
Exportações brasileiras, por produto e principais parceiros, 2006 (US$ bilhões*)
União Estados Argentina China Chile Japão Mundo***
Produtos Européia Unidos
• Agrícolas 12,99 3,54 0,47 3,38 0,14 1,31 39,53
• Combustíveis e mineração 5,85 3,55 1,10 3,68 1,20 1,96 26,46
• Manufaturados 11,59 16,95 10,17 1,34 2,55 0,64 68,42
Ferro e aço 1,65 2,85 0,53 0,18 0,22 0,20 9,45
Químicos 1,73 1,98 1,69 0,23 0,43 0,23 9,28
Outros semimanufaturados 2,07 2,99 0,88 0,45 0,29 0,06 10,00
Máquinas e equipamentos de transporte 4,80 7,08 6,22 0,45 1,40 0,08 33,41
Equipamentos de escritório e telecom 0,23 0,69 1,06 0,06 0,24 0,01 3,99
Equipamentos de transporte 2,88 3,81 3,82 0,18 0,74 0,03 18,86
Veículos e peças 1,49 1,61 3,62 0,15 0,66 0,01 13,03
Outros equipamentos de transporte 1,39 2,20 0,20 0,03 0,08 0,02 5,83
Outras máquinas 1,69 2,58 1,34 0,21 0,42 0,04 10,56
Têxtil 0,12 0,36 0,40 0,01 0,05 0,03 1,36
Vestuário 0,07 0,10 0,03 0,00 0,02 0,01 0,31
Outras manufaturas 1,15 1,59 0,42 0,02 0,14 0,03 4,61
Bens pessoais e domésticos 0,86 1,18 0,20 0,00 0,08 0,01 2,95
Instrumentos científicos e de controle 0,10 0,13 0,07 0,01 0,02 0,01 0,54
Manufaturas variadas 0,19 0,28 0,15 0,01 0,04 0,01 1,12
30,52
Total de mercadorias exportadas** 24,77
137,81
11,74 3,91 3,89
8,40
Fonte: Organização Mundial do Comércio
(*) Valores FOB.
(**) Inclui produtos não especificados.
(***) Inclui destinos e origens não especificados.
11. 11
Esse bom resultado ocorreu Exportações brasileiras, por tipo de produto
mesmo com o aumento paralelo
das importações desses bens, Exportações brasileiras, por tipo de produto*
em razão do processo de
Manufaturados
abertura comercial do início dos
Agrícolas
anos 1990. Houve um reflexo Combustíveis e mineração
Participação em %
importante sobre as receitas 60
da indústria brasileira: dados 50,9
das Contas Nacionais do Instituto 50
Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) mostram que
40
a participação das exportações
nas receitas da indústria de 29,4
transformação pulou de 6,7%, 30
em 1996, para 13,1% em 2005.
20
Em 2006, as exportações de
manufaturados totalizaram 19,7
US$ 68,4 bilhões, mais da 10
metade do total de mercadorias
exportadas pelo País. Desse valor, 0
63% tiveram como destino
1980 1990 1996 2006
os Estados Unidos, a União
Européia, a Argentina, o Chile,
a China e o Japão, que são Fonte: OMC.
(*) Bens agroindustriais aparecem nesta classificação com produtos agrícolas.
também os maiores parceiros
comerciais do Brasil (60,5% Fonte: Organização Mundial do Comércio
das exportações totais). (*) Bens agroindustriais aparecem nesta classificação com produtos agrícolas.
Embora o desempenho recente das
vendas externas de manufaturados
tenha sido superior ao de períodos
anteriores, a participação brasileira
nas exportações mundiais desse
tipo de mercadoria continua muito
pequena, em torno de 0,8%,
ocupando, em 2006, a 25ª
posição entre os maiores expressão econômica no contexto melhor esse quadro de baixa
exportadores de manufaturas mundial, como a Turquia e a competitividade. Quando se
do mundo. Essa posição pode Hungria. analisa a evolução das exportações
ser considerada insatisfatória, brasileiras desse ponto de vista, há
visto que o País é a décima maior A classificação das exportações motivos para alguma preocupação,
economia do mundo e o oitavo brasileiras em produtos já que a participação relativa dos
maior mercado consumidor. básicos, semimanufaturados manufaturados no total vem caindo
No ranking de exportadores de e manufaturados, em ordem nos anos recentes, em razão do
bens manufaturados, figuram ao crescente de nível de agregação aumento da participação dos
lado do Brasil países com menor de valor, permite visualizar produtos básicos.
12. 12 BRASIL SUSTENTÁVEL HORIZONTES DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
Uma análise ainda mais apurada no caiu a participação dos bens As exportações de bens de alta
que diz respeito ao valor agregado industriais de média-baixa e tecnologia apresentaram o pior
em cada tipo de produto da pauta baixa intensidade tecnológica, desempenho – com crescimento
de exportações – feita com base a despeito do significativo de 6% ao ano, contra 15% ao
em metodologia de classificação crescimento em termos absolutos ano para os bens industriais –
adotada pela Organização para a (US$ 38,6 bilhões); e também a menor contribuição
Cooperação e Desenvolvimento para a expansão das exportações
Econômico (OCDE), que classifica mas tem havido uma tendência brasileiras, tendo sido responsáveis
os produtos conforme o seu de crescimento da participação por apenas 3,3% do aumento de
conteúdo tecnológico – mostra que: dos bens não-industriais, vendas externas. Em contrapartida,
o que revela a perda de o maior crescimento entre os
o aumento de US$ 28,9 bilhões competitividade industrial. bens industriais foi verificado
nas exportações de bens no segmento de produtos de
industriais com média-alta e alta Nota-se que esse quadro de média-baixa tecnologia, e a maior
tecnologia, entre 1996 e 2006, baixa competitividade é mais contribuição para o aumento das
elevou sua participação de 27,1% drástico na comparação entre exportações veio da indústria de
para 30,4% do volume total; os anos 2000 e 2007. baixa tecnologia.
Exportações brasileiras em diferentes classificações
1996 2006
Crescimento
US$ bilhões (%) US$ bilhões (%) (%) ao ano
Total 47,7 100,0 137,5 100,0 11,2 11,2%
Por grandes setores de atividade
Agrícolas 16,0 33,6 39,5 28,8 9,4%
Combustíveis e mineração 5,2 10,9 26,5 19,2 17,6%
Manufaturados* 25,2 52,8 68,4 49,8 10,5%
Outros 1,3 2,7 3,1 2,2 9,0%
Por tipos de produto
Básicos 11,9 24,9 40,3 29,3 13,0%
Semimanufaturados 8,6 18,0 19,6 14,2 8,5%
Manufaturados 26,4 55,3 75,0 54,6 11,0%
Operações especiais 0,8 1,8 2,6 1,9 12,1%
Por nível tecnológico
Produtos não-industriais 7,8 16,4 30,1 21,9 14,4%
Produtos industriais 39,9 83,6 107,4 78,1 10,4%
Alta tecnologia 2,0 4,3 9,4 6,8 16,5%
Média-alta tecnologia 10,9 22,8 32,4 23,6 11,5%
Média-baixa tecnologia 9,8 20,5 27,3 19,8 10,8%
Baixa tecnologia 17,2 36,0 38,3 27,9 8,3%
Fonte: Organização Mundial do Comércio e Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio
(*) Exceto combustíveis.
13. 13
Isso mostra claramente uma em detrimento de uma maior ao crescimento das exportações
tendência recente de especialização participação de produtos de maior brasileiras entre 2000 e 2007 ter
em produtos cuja produção se valor adicionado, justamente vindo do segmento de produtos
dá com base no uso intensivo de aqueles intensivos em tecnologia não-industriais, cujas vendas
trabalho e dos recursos naturais – e capital. Essa idéia é reforçada externas cresceram quase 23%
de maior abundância no País – pelo fato de a maior contribuição ao ano no período.
Exportações brasileiras por intensidade tecnológica
Exportações brasileiras por intensidade tecnológica e setores
e setores, participação e crescimento
Participação e crescimento
Participação no total
das exportações (%)
Crescimento
Setores 2000 2007 (%) ao ano
Produtos industriais (*) 83,4 75,9 15,0%
Indústria de alta e média-alta tecnologia (I+II) 35,5 29,1 13,2%
Indústria de alta tecnologia (I) 12,4 6,4 6,0%
Aeronáutica e aeroespacial 6,6 3,2 4,9%
Farmacêutica 0,7 0,7 15,8%
Material de escritório e informática 0,9 0,2 -5,8%
Equipamentos de rádio, TV e comunicação 3,5 1,8 6,2%
Instrumentos médicos de ótica e precisão 0,7 0,5 12,1%
Indústria de média-alta tecnologia (II) 23,1 22,7 16,2%
Máquinas e equipamentos elétricos 1,7 2,0 19,4%
Veículos automotores, reboques e semi-reboques 9,7 9,3 15,8%
Produtos químicos - exceto farmacêuticos 6,0 5,1 13,7%
Equipamentos para ferrovia e material de transporte 0,2 0,4 27,5%
Máquinas e equipamentos mecânicos 5,5 5,9 17,7%
Indústria de média-baixa tecnologia (III) 18,6 19,7 17,5%
Construção e reparação naval 0,0 0,5 96,7%
Borracha e produtos plásticos 1,7 1,6 15,2%
Produtos de petróleo refinado e outros combustíveis 3,1 4,4 22,4%
Outros produtos minerais não-metálicos 1,5 1,4 14,9%
Produtos metálicos 12,3 11,8 16,0%
Indústria de baixa tecnologia (IV) 29,3 27,1 15,2%
Produtos manufaturados e bens reciclados 1,6 1,0 10,4%
Madeira e seus produtos, papel e celulose 7,3 5,1 10,6%
Alimentos, bebidas e tabaco 14,0 17,2 20,1%
Têxteis, couro e calçados 6,4 3,8 8,1%
Produtos não-industriais 16,6 24,1 22,9%
Total de exportações (valor em US$ bilhões FOB) 55,09 160,65 16,5%
Fonte: Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio
* Os valores apresentados para produtos industriais referem-se à soma dos quatro segmentos de indústria em negrito: alta tecnologia (I), média-alta tecnologia
(II), média-baixa tecnologia (III) e baixa tecnologia (IV). Os números atribuídos a cada um desses quatro segmentos representam a soma dos valores referentes
aos setores imediatamente subseqüentes. Já os índices para indústria de alta e média-alta tecnologia, em itálico, representam a soma do total apresentado para
cada um desses setores.
14. 14 BRASIL SUSTENTÁVEL HORIZONTES DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
Cenários para a
competitividade
Dois lados da de determinados itens será crucial
para o desempenho das exportações
ricas em capital e detêm boa
parte das patentes resultantes do
concorrência industriais, assim como as tendências esforço prolongado de investimento
de investimento em pesquisa e em pesquisa e desenvolvimento.
As possibilidades de inserção do Brasil desenvolvimento e formação de capital Adicionalmente, a mão-de-obra do
no mercado mundial nas próximas humano dos países que disputam a Primeiro Mundo tem um nível de
décadas estão condicionadas por liderança no comércio internacional de qualificação superior ao alcançado
uma concorrência acirrada dos manufaturas. pelos países especializados na
países menos desenvolvidos no que exportação de bens primários.
diz respeito aos produtos básicos,
intensivos em trabalho e recursos
Formação de Estatísticas do World Development
naturais, e por uma competição capacidades Indicators revelam enormes
igualmente ferrenha no comércio de discrepâncias em termos de
produtos industriais mais elaborados As economias com elevadas investimentos em pesquisa e
e de alta tecnologia, vinda das participações no comércio de desenvolvimento. Em 2003, essas
economias industrializadas. manufaturas, especialmente os inversões totalizaram 2,7% do PIB
Nesse sentido, a evolução de custos produtos de alta tecnologia, são norte-americano, enquanto os da
Investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento e exportações de bens de alta
tecnologia, em 2003
10
Coréia do Sul
Holanda
8
alta tecnologia (% do PIB)
Exportações de bens de
China Finlândia
6
Alemanha
Suécia
4 Grã Bretanha
Dinamarca
França
Japão
Canadá
2 Portugal
Itália
Estados Unidos
Argentina Espanha
Venezuela Noruega
0 Chile BRASIL
1 2 3 4 5
Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (% do PIB)
Fonte: World Development Indicators
15. A
É preocupante a diferença que separa o Brasil
dos países desenvolvidos no que se refere a
investimentos em inovação.
União Européia somaram 1,8% do Mesmo considerando que parte ganhos de competitividade para as
PIB da região. A parcela do PIB importante dos investimentos em empresas nacionais. Os resultados
japonês investida no setor de P&D inovação da indústria brasileira é feita do Ipea indicam ainda que o fato de
atingiu 3,1%, a da Coréia do Sul, 2,6%, de maneira terceirizada – por meio de uma companhia ser importadora
e a da China, 1,3%. No Brasil, institutos de pesquisa, por exemplo –, aumenta significativamente também a
essa participação não chegou a 1%. o fosso que separa a realidade nacional probabilidade de que venha a exportar.
Em termos absolutos, a discrepância da verificada nos países desenvolvidos
é ainda maior: enquanto Estados é preocupante. Considerando as Não só as inovações de produto são
Unidos, União Européia e Japão despesas internas e externas, o total importantes. A introdução de novos
investiram US$ 292 bilhões, US$ de investimentos em inovação da processos de produção também
217 bilhões e US$ 133 bilhões, indústria brasileira foi de 2,8% da representa um aumento de mais de
respectivamente, os investimentos receita líquida em 2005. Nos Estados 9% na probabilidade de uma empresa
em P&D no Brasil ficaram próximos a Unidos, o percentual foi de 5,7%. exportar. Nas pesquisas do Ipea, as
US$ 5 bilhões, valor correspondente a empresas reportam que o principal
menos de um quarto do investimento Tanto a geração de inovações quanto a benefício da inovação de processos
realizado na China e menos de um incorporação de novas tecnologias em é a flexibilização da sistemática
terço do realizado na Coréia do Sul. processos internos – mesmo quando produtiva, que permite atender
elas já são conhecidas nas economias consistentemente a uma demanda
Em 2005, as indústrias norte- líderes – costumam melhorar a que pode oscilar bastante.
americanas e européias investiram, produtividade das empresas, tornando-
respectivamente, 3,6% e 5,1% do as mais aptas para a concorrência no O cenário de referência adotado
seu faturamento em pesquisa e mercado mundial. nesta publicação considera a
desenvolvimento de novos produtos manutenção dos esforços em P&D
e processos. Nesse mesmo ano, a Estudos recentes realizados pelo no Brasil em níveis próximos aos
indústria manufatureira brasileira Instituto de Pesquisa Econômica atuais. Espera-se que o investimento
despendeu apenas 0,58% de sua Aplicada (Ipea) mostram que o nível de 1,1% do PIB brasileiro em pesquisa
receita líquida. A comparação com as de eficiência, a escala de produção e desenvolvimento nas próximas duas
indústrias norte-americanas, líderes e o esforço para gerar inovações décadas favoreça positivamente o
mundiais em vários mercados, é de produtos ou de processos ritmo de aumento da produtividade,
ilustrativa. Em todas as atividades são importantes condicionantes com reflexos sobre a indústria
industriais, com exceção do de exportação. Mesmo que não manufatureira. O cenário de referência
segmento aeronáutico, as empresas represente uma inovação em âmbito também considera um avanço
americanas investem bem mais que internacional, o aprimoramento de significativo de qualificação da mão-de-
as brasileiras em termos relativos. um produto no mercado doméstico, obra, cuja escolaridade média passará
No segmento de produtos químicos, por exemplo, aumenta em 17% a de 7,8 anos de instrução formal,
os investimentos norte-americanos probabilidade de que a empresa se em 2007, para 11,3 anos em 2030.
chegam a ser, proporcionalmente às torne exportadora. Isso mostra que a Com base nessas premissas, o ritmo
respectivas receitas, 12 vezes e meia simples incorporação de tecnologia já de progresso tecnológico do País, de
o percentual brasileiro; no segmento existente em países tecnologicamente 0,9% ao ano, ficará abaixo do esperado
de informática, oito vezes. mais avançados pode gerar expressivos para as economias desenvolvidas (em
16. 16 BRASIL SUSTENTÁVEL HORIZONTES DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
torno de 1% ao ano) e para países Investimentos em P&D, (%) da receita líquida, 2005
em desenvolvimento, como a China
(1,2% ao ano). Dessa forma, o
Brasil Estados Unidos
nível tecnológico de alguns setores
continuará insuficiente para uma
inserção competitiva no mercado Atividades
mundial. Trata-se de um problema Manufaturados 0,58 3,60
que afeta primordialmente os setores Ferro e aço 0,22 0,67
de bens de alta tecnologia, como o Produtos siderúrgicos 0,22 0,50
de equipamentos para escritório e Fabricação de produtos de metal 0,21 0,80
telecomunicações (incluindo produtos Químicos 0,55 6,90
de informática, como computadores). Outros semimanufaturados 0,25 1,60
No cenário de referência, as Máquinas e equipamentos de transporte 1,25 4,54
exportações brasileiras desses itens
Equipamentos de escritório e telecom 1,18 9,67
crescerão 2,3% ao ano até 2030, mas
Equipamentos de transporte 1,55 2,97
é importante notar que as
Veículos e peças 1,25 2,50
compras mundiais desses produtos
Outros equipamentos de transporte 3,22 3,93
crescerão 7,9% ao ano no período.
Outras máquinas e equipamentos 0,78 3,78
Em resumo, o País vai a reboque do
Têxtil 0,22 1,60
crescimento mundial, sem explorar
Vestuário 0,22 n.d.
o potencial de vendas porque, entre
outros fatores críticos, não absorveu Outras manufaturas 0,98 5,16
tecnologia suficiente para adquirir
competitividade internacional. Fonte: Pintec e National Science Foundation, Estados Unidos.
Custos crescentes Projeta-se também um aumento
do preço da energia elétrica superior
forte demanda nos próximos
22 anos.
a 30%.
Ao analisar as condições de Deficiências nas condições de
produção, vários gargalos na As despesas crescentes com energia transporte, tais como a malha
infra-estrutura do País têm sido elevarão os custos de produção de rodoviária em condições precárias,
apontados como fatores que setores como: a ausência de ferrovias para
limitam em maior ou menor escala transporte de carga e as dimensões
as possibilidades de crescimento. inapropriadas da infra-estrutura de
a indústria extrativista
Isso afeta de forma mais intensa a vários portos e aeroportos, também
(extração de minerais metálicos e
indústria manufatureira. A energia encarecem o produto nacional,
não-metálicos);
ocupa papel de destaque entre reduzindo sua competitividade no
esses gargalos. exterior. Tais deficiências afetam
a indústria de transformação, de
de maneira homogênea os diversos
produtos como vidro, cimento,
Como caracterizado na terceira setores da economia, muitas vezes
cerâmicas e de metalurgia básica; e
publicação desta série, os preços minando os esforços de exportação.
da energia estimados para o futuro as atividades de reciclagem.
apresentam franca tendência de O processo de crescimento
aumento. Na trajetória até 2030, o econômico brasileiro, mais intenso
preço médio do petróleo deve ficar Vários desses setores estão ligados nos próximos 22 anos do que foi nos
em torno de US$ 60 por barril, valor à cadeia da construção civil, últimos 28, elevará o salário médio
117% superior ao preço médio dos que terá, como apresentado na dos trabalhadores em 2,5% ao ano.
últimos 17 anos. primeira publicação desta série, Esse incremento terá impacto
17. 17
Custo da energia na indústria brasileira, (%) no custo total, 2005
Siderurgia 4,7
Ferro-gusa e ferroligas 6,6
Reciclagem 6,9
Têxtil 7,0
Vidro 7,3
Indústrias extrativistas 9,0
Minerais não-metálicos 9,8
Produtos cerâmicos 11,9
Alumínio e cobre 12,6
Cimento 15,1
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0
Fonte: Pesquisa Industrial Anual, IBGE.
Evolução dos salários médios anuais até 2030, em US$* positivo no mercado consumidor
interno, porém afetará os custos de
produção - que serão maiores que o
esperado para as grandes economias
industriais do mundo -, diminuindo
País 2007 2030 Crescimento
(% ao ano)
as vantagens competitivas do País.
A China terá uma elevação do salário
China 1.294,61 5.165,91 6,2%
médio superior à do Brasil, resultado
Coréia do Sul 16.685,83 31.294,96 2,8% do crescimento econômico e do
Brasil 4.240,11 7.549,00 2,5% aumento de produtividade mais
intenso, mas ainda manterá sua
México 8.347,06 14.536,83 2,4%
grande vantagem competitiva de
Rússia 4.979,36 8.263,13 2,2% custo da mão-de-obra – em 2030, o
Estados Unidos 38.066,08 55.137,71 1,6% salário médio chinês será dois terços
Itália 36.622,40 49.453,97 1,3% da remuneração média brasileira.
Argentina 4.672,97 6.135,39 1,2%
Em resumo, o aumento dos salários
Japão 34.261,16 44.393,19 1,1% no País é um processo socialmente
Alemanha 34.298,26 43.986,36 1,1% desejável, mas que ressalta a
necessidade de diminuir os efeitos
Grã-Bretanha 35.686,50 45.496,30 1,1%
de outros fatores que oneram a
França 39.384,65 49.711,79 1,0% produção brasileira, como o alto
impacto dos encargos sociais sobre
a folha de pagamentos.
Fonte: FGV
(*) Em dólares, a preços de 2005.
18. 18 BRASIL SUSTENTÁVEL HORIZONTES DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
Mercados industriais
em 2030
Potencial da dos do que na de produtos básicos.
Enquanto a demanda de produtos
O crescimento projetado com
base no cenário de referência tam-
demanda agroindustriais deve ter um cresci- bém indica que haverá um aumento
mento, em escala mundial, de 1% da participação das economias
O crescimento da economia mun- ao ano até 2030, as importações emergentes que abastecerão o mer-
dial teve um impacto importante de manufaturados terão uma ex- cado mundial de bens industriais
no desempenho da economia pansão de 3,7% ao ano. A exemplo (casos do México, de Cingapura
brasileira nos últimos anos. do ocorrido nos últimos 50 anos, e da Coréia do Sul). São nações
No percurso até 2030, a projeção o mercado mundial de bens indus- que importam matérias-primas e
de expansão do PIB mundial man- triais será o motor do comércio de componentes para a produção de
tém as boas expectativas brasilei- mercadorias nas próximas duas mercadorias que serão exportadas,
ras. O crescimento da produção décadas. no contexto de especialização em
física mundial de mercadorias etapas produtivas implícito ao
e serviços deve ser de 3,5% ao A demanda por manufaturados processo de globalização.
ano nos próximos 22 anos, e o continuará a ser impulsionada
PIB em dólares constantes deve Os maiores importadores de ma-
principalmente pelo bloco da União
crescer à taxa de 2,7% ao ano nufaturados brasileiros em 2030
Européia, pelos Estados Unidos
no período. Vale dizer que essa serão, em ordem decrescente, os
e também pelo forte consumo
projeção considera tendências Estados Unidos (19,6%), a Argen-
chinês. O crescimento do merca-
de longo prazo dos cem países tina (19,3%), o México (6,8%), a
do na China é visto por todos os
analisados neste projeto. Portan- Venezuela (6,6%), o Chile (4,1%),
participantes do comércio mundial
to, os efeitos de crises como a a Colômbia (3,0%), o Canadá
como uma grande oportunidade de
atual, desencadeada no mercado (2,7%) e a China (2,2%). A par-
negócios. Para se ter uma idéia do
imobiliário norte-americano e ticipação da União Européia nas
que isso representa, as importa-
compras de manufaturas brasilei-
que ganhou dimensões mundiais, ções chinesas de produtos brasilei- ras cairá de 16,9%, em 2006, para
representam desvios passageiros ros manufaturados crescerão 67% 14,6% em 2030, dado o menor
que em nada afetam as projeções entre 2007 e 2030. crescimento econômico do bloco.
de longo prazo.
Assim, entre os maiores impor- A China, que será o grande deman-
Do ponto de vista do perfil da tadores mundiais de bens manu- dante de produtos industrializados
demanda internacional, os faturados em 2030 estarão as em 2030, não é hoje um grande
manufaturados apresentam economias desenvolvidas (a União comprador de manufaturas brasi-
perspectivas mais promissoras de Européia, os Estados Unidos e leiras. Com efeito, a exportação
negócios que a produção agrícola o Japão) e os países em desen- desse tipo de bem para os chineses
e extrativista — tanto por se tra- volvimento, que serão grandes é relativamente pequena se compa-
tar de produtos com maior valor consumidores (como China, Brasil rada a combustíveis e produtos de
agregado quanto pelo simples e Rússia). As importações brasilei- mineração e agrícolas. Em 2006, os
fato de que os aumentos de ren- ras de bens manufaturados devem produtos industriais representaram
da tendem a ser utilizados mais crescer 5,6% ao ano, a exemplo US$ 450 milhões em exportações,
na compra de bens industrializa- dos demais países emergentes. contra US$ 3,38 bilhões de
19. A
O setor brasileiro de máquinas e
equipamentos de transporte tem se
mostrado um dos mais importantes dentre
os exportadores de manufaturados.
produtos agrícolas e os US$ 3,68 de 2,7% (Estados Unidos), 2,8% custo da energia crescente;
bilhões de combustíveis e produ- (Argentina) e 2,1% (União Euro-
tos de mineração. péia), bem abaixo das chinesas, grandes gargalos na infra-estrutura;
mas a base inicialmente esta-
Entre os manufaturados que vêm belecida a partir da qual estrutura tributária que encarece
sendo efetivamente exportados podem crescer as exportações o preço final dos bens; e
pelo Brasil para a China, as me- brasileiras de manufaturados é
lhores possibilidades de cresci- bem maior no caso desses
investimentos insuficientes em
mento no horizonte de projeções parceiros tradicionais, ou seja,
as possibilidades de crescimento pesquisa e desenvolvimento.
deste trabalho estão no setor
de máquinas e equipamentos de em termos absolutos são gran-
transporte (que inclui veículos des, maiores que no comércio
com a China.
Reflexos na
e peças automotivas) e no setor
de produtos químicos. O ritmo de balança comercial
Embora as exportações de aço,
crescimento acelerado do PIB chi-
de máquinas e equipamentos de Dado o peso que as manufaturas
nês, de 7,9% ao ano entre 2007 e
escritório e de telecomunicações têm nas pautas de exportações e de
2017, irá estimular um aumento
tenham um peso menor na pauta importações brasileiras, os resultados
das importações dessas duas
do comércio exterior brasileiro, da balança comercial nos próximos
classes de produto, represen-
seu crescimento anual será sa-
tando uma grande oportunidade anos não serão tão brilhantes como
tisfatório, de aproximadamente
para os produtores nacionais de no passado recente, uma vez que
1,9% e 2,3%, respectivamente.
ampliação de seus negócios as exportações, de acordo com o
As exportações de produtos
com esse país. químicos crescerão menos (1,4% cenário de referência, não crescerão
ao ano) e a de outros produtos num ritmo tão forte quanto as
Nesse contexto, o setor industriais – exceto produtos importações – 2,8% ao ano contra
brasileiro de máquinas e equi- agroindustriais – devem se expan- 3,5% ao ano.
pamentos de transporte tem se dir à taxa de 0,89% ao ano.
mostrado um dos mais importan- As projeções das exportações
tes dentre os exportadores de As projeções do cenário de re- e das importações brasileiras em
manufaturados. Se as importa- ferência mostram uma perda de 2030 – US$ 306 bilhões e US$ 264
ções chinesas desses produtos participação do Brasil nas expor- bilhões, respectivamente – apontam
nacionais ainda são pequenas, tações mundiais entre 2007 e
para um saldo comercial de US$ 42
o mesmo não pode ser dito da 2030. As importações mundiais
demanda dos Estados Unidos, bilhões, valor ligeiramente superior
de manufaturas crescerão à
da Argentina e da União Euro- ao saldo comercial de 2007,
taxa de 3,7% ao ano e as expor-
péia, cujos valores importados tações brasileiras, a 1,8% ao ano. de US$ 40 bilhões. Dessa forma,
em 2006 foram respectivamente O desempenho projetado para o saldo comercial, que foi
de US$ 7,08 bilhões, US$ 6,22 o País é conseqüência do equivalente a quatro meses de
bilhões e US$ 4,80 bilhões. aumento insuficiente de competi- importações em 2007, deve
As taxas de crescimento do PIB tividade, decorrente dos seguin- representar, em 2030, menos de dois
esperadas para esses países são tes fatores: meses de importações.
20. 24 BRASIL SUSTENTÁVEL HORIZONTES DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
Mapa-múndi das
IMPORTAÇÕES DE
MANUFATURADOS
Nafta
3,3%
3,3%
Os maiores na 2,3%
importação de América
2,9%
manufaturas em 2030 3,2% Central
e Caribe
1,2%
1,0%
US$
País
0,9%
bilhões*
País 1,3%
1º China 4.339,50 1,5%
Estados Unidos 3,0% 3,0% 2,0% 2,8% 2,7%
2º Estados Unidos 2.680,37
México 6,2% 6,2% 4,9% 5,6% 6,0%
3º México 879,21
4º Cingapura 856,72
5º Coréia do Sul 825,34
6º Alemanha 660,56
7º Grã-Bretanha 482,28
8º França 425,55
9º Canadá 387,33
10º Itália 340,46 País
11º Espanha 333,46 Argentina 2,3% 2,3% 1,8% 1,9% 2,4% Brasil
Brasil 5,6% 5,6% 4,6% 5,1% 5,7%
12º
13º
Tailândia
Malásia
332,32
317,42
Chile 5,1% 5,1% 4,0% 4,1% 4,7% 5,6%
14º Turquia 305,13
Venezuela 2,9% 2,9% 2,3% 2,3% 2,8%
América 5,6%
15º Japão 301,14 do Sul 4,6%
5,1%
16º Rússia 297,84 4,0% 5,7%
17º Austrália 267,82
18º Bélgica 248,05 3,7%
19º Brasil 242,41 3,3%
20º Holanda 240,47 3,1%
4,0%
Fonte: FGV - (*) A preços de 2007.
21. A
Crescimento médio anual
entre 2007 e 2030*
Mundo
3,7% Total de manufaturados
5,2% Aço
4,1% Produtos químicos
2,7% Equipamentos de transporte**
7,9% Equipamentos de escritório e telecomunicações
Fonte: FGV - (*) A preços constantes de 2005.
(**) Inclui automóveis e aeronaves.
País
Grã-Bretanha 0,5% 0,5% -0,1% 0,7% 0,5%
França 0,1% 0,1% -0,4% 0,4% 0,2%
Portugal -0,5% -0,5% -1,0% -0,5% -0,5%
Espanha 1,5% 1,5% 0,7% 1,2% 1,2%
Europa Alemanha -0,1% -0,1% -0,8% -0,3% -0,4%
0,9% Rússia 3,2% 3,2% 2,1% 2,0% 2,7%
1,0%
0,1%
0,8%
0,7% Ásia e Oceania
7,3%
9,2%
Oriente Médio e 8,2%
norte da África 7,3%
10,7%
0,6%
0,5%
País
0,4%
Japão -0,1% -0,1% -0,8% -0,3% -0,4%
0,7% China 12,4% 12,4% 10,8% 11,1% 12,9%
0,6% Coréia do Sul 6,4% 6,4% 4,6% 4,5% 5,0%
Índia 1,8% 1,8% 2,1% 0,7% 2,5%
Austrália 4,1% 4,1% 2,8% 3,5% 3,5%
O mercado em 2030, US$ bilhões*
África Importações Exportações "Share"
Subsaariana Produtos mundiais brasileiras brasileiro
4,3% Manufaturas** 19.675,11 182,67 0,9%
Aço 1.271,77 15,88 1,2%
3,1% Produtos químicos 3.255,57 10,72 0,3%
3,3%
Equipamentos de transporte 2.793,48 29,50 1,1%
4,2%
5,1% Equipamentos de escritório e telecom 8.997,06 5,38 0,1%
Fonte: FGV - (*) A preços de 2007. (**) Inclui combustíveis.