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O Canivete Su´co da Kabalah
                             ı¸
                       Carlos A. P. Campani
                      campani@ufpel.edu.br
                  http://campani.greatnow.com
                         27 de mar¸o de 2007
                                  c



Sum´rio
   a

  1. Introdu¸ao
            c˜

  2. O que ´ a Kabalah?
           e

  3. Hist´ria
         o

  4. Alfabeto hebraico

  5. Kabalah literal: Gematria; notaricon; e temura.

  6. Kabalah dogm´tica e luriˆnica
                 a           a
       ´
  7. A Arvore da Vida

  8. Os mundos da Kabalah

  9. Kabalah m´
              ıstica


Introdu¸˜o
       ca
    Devido ` sua complexidade e linguagem at´ certo ponto enigm´tica, a
           a                                 e                   a
Kabalah ´ um assunto de estudo dif´ principalmente para o iniciante. Por
         e                        ıcil,
isto, exatamente para ajudar o estudante iniciante, este texto tem como

                                     1
´
O QUE E A KABALAH?                                                                2



objetivo ser uma introdu¸ao acess´
                              c˜         ıvel, abordando os conceitos b´sicos da
                                                                          a
Kabalah que permitir˜o compreender a literatura dispon´ e ser˜o suporte
                         a                                     ıvel     a
para o estudo posterior.
     Este texto acompanha o conjunto de lˆminas (slides) intitulado “Uma
                                                  a
Introdu¸ao ` Kabalah”, e usado em palestras sobre Kabalah. Este trabalho
         c˜ a
´ a transcri¸˜o destas palestras, incluindo as explica¸oes de v´rios esquemas,
e            ca                                           c˜        a
figuras e tabelas apresentados nas lˆminas. O conjunto de lˆminas pode
                                           a                          a
ser encontrado na p´gina http://campani.greatnow.com ou diretamente
                        a
no link http://www.ufpel.edu.br/~campani/lamcabala.pdf.
     O Talmude possui uma passagem que diz “nascestes contra a tua vontade;
vives contra a tua vontade; morrer´s contra a tua vontade”. Esta passagem
                                        a
´ uma boa introdu¸˜o e uma provoca¸˜o para o nosso ponto de partida, que
e                     ca                   ca
´ a grande pergunta de nossas vidas: “Porque estamos aqui?”. Uma das
e
principais motiva¸˜es para o estudo da Kabalah ´ encontrar uma resposta
                    co                                  e
para esta quest˜o.a
     Outras poss´ ıveis motiva¸oes, principalmente para um n˜o judeu estudar
                               c˜                                 a
Kabalah, incluem conhecer as origens do cristianismo (que est˜o no juda´
                                                                    a        ısmo,
do qual a Kabalah ´ a express˜o m´
                      e           a     ıstica) e compreender as tradi¸˜es esot´ri-
                                                                       co       e
cas do ocidente, o gnosticismo, o hermetismo, e a Ma¸onaria, com as quais a
                                                           c
Kabalah tem pontos em comum. Estes pontos em comum s˜o uma das raz˜es
                                                                 a              o
porque ser˜o feitas freq¨entes compara¸oes com estas outras tradi¸oes.
            a              u                 c˜                          c˜
     Este texto n˜o pretende ser apenas teor´tico ou teos´fico, mas nele tamb´m
                  a                             e            o                    e
s˜o apresentadas pr´ticas cabal´
 a                     a            ısticas, incluindo a Kabalah meditativa e as
   a                        ˆ
pr´ticas da Kabalah do Extase do Rabino Abra˜o Abulafia.
                                                      a
     Neste texto, usaremos uma translitera¸ao do alfabeto hebraico (apresen-
                                                c˜
tada nas Tabelas 1 e 2) que privilegia representar, da forma mais fiel poss´    ıvel,
as letras que s˜o usadas nas palavras hebraicas, em detrimento da pron´ncia
                a                                                            u
da palavra em portuguˆs. As palavras ser˜o referenciadas usando-se esta
                           e                       a
translitera¸ao, com e sem vogais, eventualmente acompanhada da palavra he-
            c˜
braica original, e de uma dica de como ela deve ser pronunciada (em it´lico).
                                                                            a

O que ´ a Kabalah?
      e
    Kabalah, KBLH, dlaw, cabal´ prov´m do verbo KBL, law, cabeil que
                                   a      e
significa receber. Assim, Kabalah significa aquilo que ´ transmitido, ou seja,
                                                         e
“tradi¸ao” ou “conhecimento”.
      c˜
    A Kabalah ´ a tradi¸˜o esot´rica e m´
                e       ca       e        ıstica dos hebreus. Em todas as tra-
di¸oes religiosas sempre esteve presente o elemento m´
  c˜                                                   ıstico. O que caracteriza
´
O QUE E A KABALAH?                                                                       3



este elemento m´   ıstico ´ a busca da experiˆncia direta de Deus.
                          e                       e
    No entanto, nos textos sagrados do juda´        ısmo, este misticismo n˜o ´ perce-
                                                                               a e
bido com facilidade. Ao povo hebreu era oferecido o Velho Testamento, que
´ um c´digo jur´
e         o         ıdico e moral, e inclui recomenda¸oes de sanitarismo. E
                                                             c˜                          ´
surpreendente que uma grande religi˜o como o juda´
                                             a                   ısmo tenha escrituras
sagradas com t˜o pouco misticismo, como aparentemente ´ o caso.
                 a                                                   e
    A Kabalah, a vertente m´     ıstica do juda´  ısmo, era reservada apenas para os
sacerdotes. Este conhecimento sagrado era originalmente transmitido apenas
de forma oral, para protege-lo contra a profana¸ao, e esta ´ uma explica¸˜o
                                                        c˜            e                ca
de porque o misticismo est´ t˜o oculto nos textos do juda´
                               a a                                   ısmo.
    Os rabinos passaram a registrar de forma escrita a Kabalah apenas na era
crist˜, devido ` dispers˜o dos judeus (di´spora), que amea¸ava com a perda
      a         a          a                    a                     c
deste conhecimento.
    A Kabalah judaica, posteriormente, foi assimilada por grupos n˜o judeus,   a
permitindo o surgimento de outras vertentes, como ´ o caso da crist˜ e da
                                                               e                   a
herm´tica.
       e
    Todas as religi˜es e tradi¸˜es m´
                     o            co      ısticas possuem uma essˆncia comum. A
                                                                       e
experiˆncia m´
        e       ıstica ´ unica e n˜o verbal. Ao ser descrita verbalmente, de
                        e ´           a
forma aleg´rica, por meio do uso de s´
              o                               ımbolos, recebe “decora¸oes” que s˜o
                                                                           c˜           a
dependentes do contexto hist´rico e da personalidade do m´
                                   o                                    ıstico que a est´ a
descrevendo. Disto surgem as diferen¸as entre as religi˜es. Esta ´ uma das
                                             c                     o           e
raz˜es para fazermos compara¸oes com outras tradi¸˜es m´
    o                               c˜                       co       ısticas, mitologia,
filosofia e religi˜es, procurando extrair, deste estudo comparado, esta essˆncia
                 o                                                                   e
que ´ comum a todas elas.
      e
    Importante observar que, neste trabalho, abordaremos a Kabalah n˜o                  a
apenas na perspectiva judaica, mas tamb´m nas perspectivas herm´tica e
                                                    e                             e
crist˜. Entre estas perspectivas h´ algumas diferen¸as significativas.
      a                                 a                   c
    A Tor´ (veja Figura 1) ´ o livro mais sagrado dos judeus. A Tor´ (Pen-
            a                   e                                                a
tateuco), cuja autoria ´ atribu´ a Mois´s, ´ formada por:
                          e         ıda          e e

   1. Bereshit (Gˆnesis);
                 e
              ˆ
   2. Shemot (Exodo);

   3. Vaikr´ (Lev´
           a     ıtico);

   4. Bemidbar (N´meros);
                 u

   5. Devarim (Deuteronˆmio);
                       o
´
O QUE E A KABALAH?                                                         4




                    Figura 1: Foto de um rolo da Tor´
                                                    a



    A Tor´ tem bastante importˆncia no estudo de Kabalah, pois a Kabalah,
          a                     a
em parte, dedica-se a interpretar a Tor´, procurando nela significados ocultos
                                       a
mais profundos.
    As escrituras sagradas do juda´ısmo tem quatro sentidos. Estes modos de
interpreta¸˜o s˜o referenciados pelas quatro letras de seus nomes, formando a
          ca a
palavra PRDS, qcxt, pardeis que significa pomar ou para´ Estes sentidos
                                                            ıso.
s˜o:
 a

Pashut literal e hist´rico;
                     o

Remmez aleg´rico, introduzido por Ezra;
           o

Derush moral;

Sod m´
     ıstico.

    Eles s˜o comparados `s cascas (em n´mero de trˆs) e o cerne da noz
          a               a               u           e
(relacionado com sod, o significado mais profundo).
    Estes quatro sentidos est˜o relacionados com os fatos que s˜o narrados
                             a                                 a
no Velho Testamento. Em cada um deles estes eventos s˜o interpretados
                                                           a
de uma forma diferente, por´m n˜o exclusiva (segundo o juda´
                            e    a                           ısmo, todas as
interpreta¸˜es s˜o igualmente v´lidas).
          co    a              a
´
HISTORIA                                                                      5



    No sentido pashut entende-se o Velho Testamento como narrando fatos
hist´ricos relacionados com o povo hebreu que devem ser considerados de
    o
forma literal. Remmez considera os fatos narrados como alegorias. Derush
interpreta o Velho Testamento como um c´digo moral. Finalmente, no senti-
                                             o
do sod considera-se os fatos narrados no Velho Testamento como simb´licos,
                                                                        o
cujo objetivo ´ guardar um conhecimento sagrado. Isto significa que h´ um
               e                                                         a
significado mais profundo oculto nos textos sagrados. Este significado sod ´     e
o significado m´  ıstico, que est´ relacionado com a Kabalah.
                                a
    A Kabalah possui diversas modalidades diferentes. A Kabalah n˜o escrita
                                                                    a
´ a parte da Kabalah que permanece oral. A Kabalah pr´tica envolve a
e                                                              a
manipula¸ao de s´
          c˜        ımbolos m´gicos (talism˜s e quadrados m´gicos) e a cria¸˜o
                              a             a               a               ca
do Golem (um ser humano artificial). A Kabalah literal preocupa-se com
a interpreta¸ao da lei, buscando significados ocultos nas escrituras, fazendo
             c˜
uso de t´cnicas como gematria, notaricon e temura. A Kabalah dogm´tica
         e                                                                a
estuda a doutrina da Kabalah.
    Com rela¸ao ao Golem, ´ interessante observar que, segundo a tradi¸ao
              c˜               e                                            c˜
jud´ica, ele ´ criado usando-se as combina¸˜es e permuta¸oes das letras do
    a        e                                 co           c˜
alfabeto hebraico. Assim como Deus criou o mundo pela palavra, tamb´m       e
podemos usar as palavras de forma m´gica, para criar um Golem.
                                          a
    H´ d´vidas entre os estudiosos se esta cria¸ao ´ real, ou se ´ uma figura
      a u                                         c˜ e           e
de linguagem usada para representar os resultados de pr´ticas m´gicas e
                                                             a        a
meditativas dos cabalistas, que parecem quase reais.

Hist´ria
    o
   A tradi¸˜o religiosa dos judeus, que se considera fundada na alian¸a entre
          ca                                                         c
Deus e Abra˜o, ´ formada por trˆs tradi¸oes distintas:
            a e                  e       c˜

Tor´ (Pentateuco) Autoria atribuida a Mois´s e compilado h´ cerca de
   a                                      e               a
     3000 anos (recompilado por Ezra);

Talmude Um complexo conjunto de tratados (Mishnah e Gemarah), cons-
    tituindo-se de coment´rios ` lei;
                         a     a

Kabalah Tradi¸˜o que se desenvolveu em paralelo ` Tor´ e ao Talmude.
             ca                                 a    a

    Segundo alguns estudiosos, a Kabalah surgiu na ´poca da constru¸ao do
                                                   e               c˜
Segundo Templo, no ano de 515 a.C., embora outros estudiosos opinem que
ela ´ t˜o antiga quanto a pr´pria Tor´. A Kabalah ´ capaz de vivificar e
    e a                     o        a               e
ALFABETO HEBRAICO                                                              6



reinterpretar o Velho Testamento, dando-lhe o misticismo que est´ aparente-
                                                                a
mente ausente. Ela retira os v´us que cobrem o conhecimento sagrado das
                                e
escrituras, revelando seu significado mais profundo. Nas palavras de alguns
rabinos cabalistas, a Tor´ ´ o corpo, o Talmude, a alma, e a Kabalah, o
                           a e
esp´ırito.
    Os dois principais tratados da Kabalah s˜o:
                                            a
Sepher Ietsirah Tamb´m conhecido como “Livro da Cria¸ao”; apresenta
                       e                                   c˜
    um curioso esquema para a cria¸˜o e um paralelo entre as letras do
                                    ca
    alfabeto hebraico, o homem, os planetas e os signos do zod´ıaco; sua au-
    toria ´ atribu´ em uma lenda ao patriarca Abra˜o; cr´
          e       ıda                                 a    ıticos modernos
    opinam que foi compilado em torno de 200 d.C.;
Zohar Conhecido como “Livro do Esplendor”; um conjunto de tratados
    versando sobre a divindade, os anjos, almas e cosmogˆnese; autoria
                                                          e
    atribu´ ao Rabino Simon Ben Iochai, que viveu no in´ da era crist˜;
          ıda                                          ıcio          a
    recompilado e publicado em 1290 na Espanha pelo Rabino Moses de
    Leon.

Alfabeto hebraico
     O alfabeto hebraico (´lef-bˆt) ´ formado por vinte e duas letras, mais cinco
                           a     e e
usadas no final de palavras (letras sof´ Associa-se a cada letra do alfabeto
                                         ıt).
um valor num´rico (“toda letra ´ um n´mero e todo n´mero ´ uma letra”).
                e                  e       u               u      e
Al´m disto, originalmente as letras representavam imagens (os chamados
   e
pictogramas).
     Estes valores das letras hebraicas podem ser usados para encontrar novos
significados nos textos judaicos, atrav´s dos valores das palavras, obtidos
                                           e
pela soma dos valores das letras que formam a palavra (gematria).
     A Tabela 1 apresenta o alfabeto hebraico, com os valores e pictogramas
de cada letra. A Tabela 2 complementa estas informa¸oes apresentando as
                                                           c˜
cinco letras sof´ e seus valores (estas letras sof´ tem pron´ncia semelhante
                 ıt                               ıt          u
a das letras normais correspondentes).
     Devemos observar que as letras ´lef e ´in tem a fun¸ao de representar os
                                       a      a            c˜
dois aspectos de Deus na Kabalah (Face Pequena e Face Grande). A letra ´in    a
tem como pictograma um olho, que tamb´m ´ um s´
                                              e e      ımbolo da Face Grande,
como veremos. A letra iud ´ muitas vezes tomada como uma representa¸˜o
                               e                                              ca
da pr´pria divindade (o mais importante nome de Deus no juda´
      o                                                            ısmo, o Tetra-
grammaton, inicia com a letra iud).
ALFABETO HEBRAICO                                                         7



                        Tabela 1: Alfabeto hebraico
    Nome     Valor Translit.   Pictograma     Pron´ncia Observa¸ao
                                                    u            c˜
`     ´lef
      a        1      A             Boi          mudo   Face Pequena
a     bˆt
        e      2      B        Casa/Tenda        B, V
b   guimel     3      G           Camelo           G
c    d´let
       a       4      D            Porta           D
d     hˆi
        e      5      H          Aten¸˜o!
                                      ca       aspirado   Feminino
e     v´v
        a      6      V           Gancho           V       Liga¸˜o
                                                               ca
f    zain      7      Z           Espada           Z
g     rˆt
        e      8     Ch            Cerca        R forte
h     tˆt
        e      9      T      Serpente/Cesto        T
i     iud      10      I       Bra¸o e m˜o
                                   c     a          I    Divindade
k     k´f
        a      20    Kh       Palma da m˜oa      K, R
l   l´med
     a         30     L           Cajado           L
n    mˆme      40     M            ´
                                   Agua            M
p    nun       50     N       Semente/Peixe        N
q   sˆmer
     a         60     S          Suporte           S
r     ´in
      a        70    Hw            Olho          mudo   Face Grande
t     pˆi
        e      80     P            Boca           P, F
v   tz´dik
       a       90     Ts     Homem de lado         Tz
w    kuft     100     K      Sol no horizonte      K
x    rˆsh
       e      200     R           Cabe¸a
                                       c        R fraco
y    shin     300     Sh      Dentes/Comer S, Chiado
z     t´v
       a      400    Th         Sinal/Cruz         T



   A letra v´v tem como pictograma um gancho, que significa “liga¸˜o”.
             a                                                        ca
Finalmente, a letra hei normalmente ´ associada, na l´
                                       e                 ıngua hebraica, ao
feminino.
   Devemos observar que a escrita em hebraico ´ feita da direita para a
                                                  e
esquerda, e que as vogais n˜o s˜o grafadas (todas as letras s˜o consoantes).
                           a a                               a
As vogais podem ser representadas pelos sinais massor´ticos, que n˜o s˜o
                                                        e            a a
normalmente usados nos textos hebraicos.
KABALAH LITERAL                                                             8



                           Tabela 2:   Letras sof´
                                                 ıt
                            Nome       Valor Pron´ncia
                                                     u
                     j     k´f sofit
                            a           500         R
                     m    mˆm sofit
                            e           600         M
                     o    nun sofit      700         N
                     s     pˆi sofit
                            e           800         F
                     u   tz´dik sofit
                           a            900         Tz



Kabalah literal
    Os cabalistas descobriram significados ocultos e profundos nas letras do
alfabeto hebraico. Estes novos significados s˜o revelados por meio de um
                                              a
conjunto bem definido de opera¸oes com as letras do ´lef-bˆt. As opera¸oes
                                 c˜                   a     e            c˜
utilizadas para obter estes resultados s˜o gematria, notaricon e temura.
                                        a
    A seguir descreveremos cada uma destas t´cnicas da Kabalah literal.
                                              e

Gematria
    Gematria ´ o modo de interpreta¸˜o em que cada nome ou palavra possui
              e                     ca
um certo valor num´rico que a coloca em rela¸˜o de equivalˆncia com outra
                     e                        ca             e
palavra que tenha o mesmo valor. Por exemplo, MShICh, giyn, mashirra
que significa “Messias” vale 358 (40+300+10+8), o mesmo que IBA ShILH,
dliy `ai, abei Shiloh significando “Shiloh vir´”. A B´
                                              a       ıblia diz “O cetro n˜oa
se arredar´ de Jud´, nem o bast˜o de entre seus p´s, at´ que venha Shiloh; e
           a       a            a                 e    e
a ele obedecer˜o os povos.” (Gˆnesis 49:10). Neste caso, os judeus associam
              a                e
o nome “Shiloh” com o Messias.
    Interessante observar que a serpente ardente que Mois´s levantou no de-
                                                           e
serto, NChSh, ygp, narrash tamb´m vale 358 (50+8+300). A B´
                                  e                             ıblia descreve
este evento como “Fez Mois´s uma serpente de bronze [ygp] e a pˆs sobre
                             e                                        o
uma haste; sendo algu´m mordido por alguma serpente, se olhava para a de
                       e
bronze, sarava.” (N´meros 21:9). Isto estabelece uma rela¸ao de equivalˆncia
                     u                                    c˜             e
entre Cristo (Messias em grego) e a serpente:
                     Messias = Cristo = Serpente
   Os pr´prios evangelhos indicam esta equivalˆncia ao dizer que “E do modo
        o                                     e
por que Mois´s levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do
            e
Homem seja levantado.” (Jo˜o 3:14).
                            a
KABALAH LITERAL                                                             9




                  Figura 2: A serpente que salva e cura



   Esta ´ a serpente que salva e cura (veja Figura 2). Este s´
         e                                                          ımbolo foi
usado pelos rosacruzes e alquimistas. Foi tamb´m usado pelos antigos gregos
                                                e
para representar a medicina e a sa´de, permanecendo seu uso at´ hoje com
                                    u                              e
diversas varia¸˜es: cruz e serpente; bast˜o e serpente; ou c´lice e serpente.
              co                         a                  a
   Explica-se, por meio de gematria, o fato dos rabinos terem os n´meros
                                                                       u
26 e 8 (2+6) como sagrados, j´ que 26 ´ o valor gem´trico de IHVH, dedi
                                a         e             a
(10+5+6+5), o sagrado e impronunci´vel nome de Deus, o “Tetragramma-
                                       a
ton”.
   Devido ` proibi¸ao de ser pronunciado, e ao fato de n˜o se grafarem as
            a       c˜                                      a
vogais, com o tempo, ficou perdida a correta pron´ncia de IHVH.
                                                   u
   Sabemos que as letras do ´lef-bˆt s˜o formadas pela composi¸ao de outras.
                              a    e a                          c˜
A letra ´lef, por exemplo, ´ formada por duas letras iud, uma voltada para
        a                   e
cima, outra para baixo, com um v´v no meio conectando-as:
                                   a

                               `   = i+e+i
   Isto permite definir uma gematria das partes de ´lef, sendo seu valor
                                                    a
26 (10+6+10=26), o mesmo de IHVH. O iud superior representa o aspecto
n˜o manifestado de Deus (AHIH, did`, erriˆ – “Eu Sou”), o outro iud
 a                                          e
representa a manifesta¸ao de Deus (IHVH), e o v´v no meio representa o
                      c˜                         a
gancho que liga ambos. Estes s˜o os aspectos transcendente e imanente de
                              a
Deus (caracterizando a Kabalah como panente´ısta).
´
KABALAH DOGMATICA                                                       10



                        Tabela 3: Cifra Athbash
             A B       G D H V Z Ch T I                    Kh
             Th Sh     R K Ts P Hw S N M                   L



   As trˆs vis˜es poss´
        e     o       ıveis de Deus s˜o:
                                     a
Te´
  ısmo enfatiza o aspecto transcendente de Deus – Deus fora do mundo;
Pante´
     ısmo enfatiza o aspecto imanente de Deus – Deus dentro do mundo;
Panente´
       ısmo Deus possui dois aspectos, um transcendente, outro imanente
    ao mundo (Kabalah).


Notaricon
   Notaricon ´ uma forma de abrevia¸ao, em que uma palavra ´ formada
               e                        c˜                        e
das letras iniciais ou finais de uma ou mais palavras. Por exemplo, em
Deuteronˆmio 30:12 est´ escrito “Quem subir´ por n´s aos c´us?”, MI IOLH
         o              a                     a      o      e
LNV HShMILH, dlinyd epl dlei in, que forma a palavra MILH, dlin, mil´,    a
que significa circuncis˜o, e com as letras finais forma IHVH, dedi, o nome de
                      a
Deus. Isto sugere que a circuncis˜o ´ o caminho para alcan¸ar Deus no c´u.
                                 a e                       c            e

Temura
    Temura refere-se a um complexo sistema de cifras em que as letras do
alfabeto s˜o transpostas segundo certas regras, permitindo obter novas in-
          a
terpreta¸oes. Um exemplo de cifra ´ escrever metade do alfabeto sobre a
        c˜                          e
outra metade, trocando a letra A, a primeira, pela Th, a ultima, a segunda,
                                                         ´
B, pela pen´ltima Sh, e assim por diante. Esta cifra ´ chamada de athbash,
            u                                        e
e ´ mostrada na Tabela 3.
  e

Kabalah dogm´tica
            a
   A Kabalah dogm´tica trata da doutrina da Kabalah e foi desenvolvida
                     a
para resolver as quest˜es:
                      o
   • Natureza do Ser Supremo;
   • Cria¸˜o do mundo;
         ca
´
KABALAH DOGMATICA                                                        11




                               Ain Soph Aur

                                  Ain Soph

                                    Ain




                                          ´
            Figura 3: As Ra´ Negativas da Arvore da Vida
                           ızes



   • Cria¸˜o dos anjos e do homem;
         ca

   • Destino do mundo e dos homens;

   • Significado da Revela¸ao, a Lei Sagrada (Tor´).
                         c˜                     a

   Um dos temas centrais da Kabalah dogm´tica ´ a cria¸ao. Neste caso, as
                                          a     e     c˜
dificuldades relacionadas com este problema s˜o:
                                            a

   • Creatio ex nihilo? – a cria¸˜o foi feita do “nada”?
                                ca

   • Como a Unidade manifesta a pluralidade?

    Segundo a Kabalah, o Ser Supremo, que os cabalistas chamam de Ain
(ou Ain Soph), ´ incompreens´
                e             ıvel, oculto, N˜o Manifestado, N˜o Existˆncia.
                                             a                a        e
Na verdade, Ain Soph n˜o ´ um Ser, mas sim o criador do Ser, da existˆncia.
                        a e                                            e
Assim, chama-Lo de “Ser Supremo” ´ um abuso de linguagem devido ` im-
                                      e                                a
possibilidade de descreve-Lo de forma melhor.
    Ain Soph n˜o foi o criador do mundo material pela mesma raz˜o que o
               a                                                    a
arquiteto n˜o constr´i um edif´ com suas pr´prias m˜os.
            a        o         ıcio             o       a
    O Ser Supremo ´ Ain (Existˆncia Negativa), Ain Soph (Ilimitado) e Ain
                    e            e
Soph Aur (Luz Ilimitada). Estes s˜o os Trˆs V´us Ocultos, as Ra´ Nega-
                                    a       e e                   ızes
          ´
tivas da Arvore da Vida (veja Figura 3).
´
KABALAH DOGMATICA                                                         12



               Tabela 4: Ain, Face Grande e Face Pequena
      Tradi¸ao
            c˜         Ain          Face Grande       Face Pequena
    Juda´ ısmo e    Ain, oi`,      AHIH, did`,       IHVH, dedi, `,
      Kabalah     Lo, `l (N˜o)
                            a     Macroprosopus,     Microprosopus,
                                   Arikh Anpin,        Zauir Anpin
                                  Anci˜o dos Dias,
                                      a
                                      r (Olho)
     Islamismo      La (N˜o)
                          a            Illaha             Allah
     Hindu´ ısmo Parabrahman Brahman (neutro), Brahma (ativo),
                   (N˜o Ser)
                      a            Shiva, Lingam          Kali
    Cristianismo      Deus               Pai              Filho



   Ain Soph, por meio de seu poder, manifesta atributos que assumem duas
formas (faces, partsuf ):

   • uma face passiva, feminina, negativa;

   • uma face ativa, masculina, positiva;

    Como passivo, Deus olha para dentro de si, em dire¸ao a Ain Soph, e
                                                           c˜
diz: “Eu Sou Nada” – Deus-sem-Nome-e-Forma. Como ativo, Deus olha
para o lado oposto, em dire¸˜o ` cria¸ao, e diz: “Eu Sou Tudo” – Deus-com-
                             ca a     c˜
Nome-e-Forma. Estes dois aspectos s˜o chamados de Face Grande e Face
                                        a
Pequena, respectivamente. Eles s˜o os aspectos transcendente e imanente de
                                  a
Deus (panente´  ısmo). A Tabela 4 apresenta os conceitos de Ain, Face Grande
e Face Pequena, como representados em diversas tradi¸˜es religiosas.
                                                       co
    As atribui¸oes feitas da Face Grande e da Face Pequena, no cristianismo,
               c˜
ao Pai e ao Filho, respectivamente, ´ baseada na passagem dos evangelhos
                                      e
que diz “. . . e ningu´m conhece o Pai, sen˜o o Filho . . . ” (Mateus 11:27),
                       e                    a
j´ que a Face Grande s´ pode ser conhecida atrav´s da Face Pequena.
 a                       o                         e
    Importante observar que a unica coisa que podemos compreender de Ain
                                ´
Soph s˜o suas emana¸oes, seus atributos. Na Kabalah estas emana¸oes s˜o
        a              c˜                                            c˜    a
chamadas Sephiroth, SPIROTh, zexitq, Sefir´t. Estas Sephiroth s˜o em
                                                 o                     a
n´mero de dez (lembrando a d´cada de Pit´goras).
  u                             e           a
    A Kabalah rejeita a id´ia de uma creatio ex nihilo. A cria¸ao n˜o pode
                            e                                   c˜ a
ser feita do “nada”. Assim, a cria¸ao ´, na verdade, uma transforma¸˜o da
                                    c˜ e                              ca
Luz de Ain Soph Aur. Logo, a cria¸ao ´ “intradivina” (conceito de contra¸ao,
                                   c˜ e                                  c˜
ˆ
KABALAH LURIANICA                                                          13



tsimtsum de Isaac Luria). Isto ´ corroborado pela passagem do Novo Testa-
                                e
mento que diz “Porque Nele vivemos, e nos movemos, e existimos.” (Atos
17:28).
    O tsimtsum ´ a auto-delimita¸˜o de Deus, recolhimento em Si pr´prio,
                 e                 ca                                 o
que ´ ocasionado pela contempla¸ao Dele por Si pr´prio (veja a semelhan¸a
     e                            c˜                o                     c
com a filosofia neoplatˆnica de Plotino).
                       o
    A manifesta¸˜o divina procede da Fonte Primordial em sucessivas emana-
                ca
¸oes, cada uma mais obscura que as anteriores, por estarem progressivamente
c˜
mais afastadas da Luz de Ain Soph Aur. Os canais entre estas emana¸oes  c˜
s˜o como “fluxos de luz”. Devemos observar que express˜es como “luz” ou
 a                                                         o
“recipiente” n˜o devem ser interpretadas literalmente, pois s˜o s´
              a                                              a ımbolos ou
contrapartes f´
              ısicas de aspectos espirituais.
    Estas emana¸˜es (Sephiroth), e os canais que as conectam, formam a
                 co
 ´
Arvore da Vida, que ´ uma hierarquia que constitui a natureza divina.
                        e
Observe-se que esta id´ia de “emana¸oes” tamb´m aparece no gnosticismo,
                        e              c˜       e
na forma de aeons, seres divinos que formam o pleroma.
    Resumindo os principais conceitos da Kabalah dogm´tica:
                                                         a

Ain N˜o, Existˆncia Negativa, N˜o Ser, Raiz Desconhecida;
     a        e                a

Face Grande Aspecto passivo, negativo, oculto de Deus;

Face Pequena Aspecto ativo, positivo, manifestado de Deus;
´
Arvore da Vida Formada pelas emana¸oes de Deus, representa a natureza
                                  c˜
    divina.


Kabalah Luriˆnica
            a
    A Kabalah Luriˆnica foi fundada pelo Rabino Isaac Luria (1534–1572),
                     a
conhecido pelo acrˆnimo de ARI, que em hebraico significa “Le˜o”. Uma
                    o                                               a
de suas mais importantes contribui¸˜es foi a doutrina do “rompimento dos
                                    co
recipientes” (schevir´ ).
                      a
    Segundo esta doutrina, a natureza divina era perfeita pois estava contida
nos recipientes, mas algo saiu errado e os recipientes “quebraram”, e “cacos”
voaram para todos os lados, formando o material para as klif´t (cascas). As
                                                               o
chispas divinas espalharam-se e ficaram aprisionadas nas klif´t.
                                                              o
    Para entender esta doutrina ´ importante compreender que a Luz de Ain
                                 e
Soph Aur, que a tudo preenche, ofuscaria toda a cria¸ao poss´
                                                       c˜      ıvel. Assim, h´
                                                                             a
ˆ
KABALAH LURIANICA                                                                  14



a necessidade de um “vazio” onde a cria¸ao possa manifestar-se. Este “vazio”
                                            c˜
foi chamado por Luria de tsimtsum. O tsimtsum ´ uma restri¸˜o do poder de
                                                        e           ca
Deus. Ele ´ referenciado na passagem b´
           e                                 ıblica que diz “A terra por´m, estava
                                                                          e
sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo.” (Gˆnesis 1:2).  e
As palavras chaves para compreender esta passagem s˜o “vazia”, “trevas” e
                                                               a
“abismo”, todas referindo-se ao tsimtsum.
     Assim, o tsimtsum ´ o palco para o drama c´smico (pleroma). Nele
                              e                             o
penetra o Raio de Luz de Ain Soph Aur, que produz a manifesta¸ao. No        c˜
entanto, h´ a necessidade de restringir o poder de Deus, por isto esta Luz
           a
divina ficou contida dentro de “recipientes”.
     Mas, os recipientes n˜o resistiram ` Luz Ilimitada e se “despeda¸aram”,
                              a            a                                 c
formando o material para as klif´t.  o
     O homem ´ o reflexo da natureza divina (Adam Kadmon, o Homem Pri-
                 e
mordial). Isto est´ expresso na passagem b´
                    a                            ıblica que diz “Criou Deus, pois, o
homem ` sua imagem, ` imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”
         a                  a
(Gˆnesis 1:27). Assim, a instabilidade na natureza divina, ocasionada pelo
   e
rompimento dos recipientes, provocou o pecado e a queda do homem.
     O homem ´ reflexo da natureza divina pois h´ um preceito que diz “assim
                e                                      a
em cima como embaixo, e assim embaixo como em cima”. Isto significa que
as partes mant´m uma rela¸˜o de similaridade com o todo.
                  e             ca
     O reflexo de algo sempre ´ uma p´lida sombra do original. Logo, podemos
                                 e       a
dizer que o que est´ acima ´ semelhante ao que est´ abaixo, por´m em um
                       a         e                           a            e
estado de maior perfei¸ao, e o que est´ abaixo ´ semelhante ao que est´
                             c˜               a           e                          a
acima, por´m em um estado mais imperfeito.
            e
     No reflexo, algumas coisas s˜o similares ao original, outras s˜o invertidas.
                                   a                                   a
Um exemplo ´ o reflexo de uma pessoa no espelho, em que permanecem iguais
               e
as posi¸oes acima e abaixo, por´m s˜o invertidos os lados esquerdo e direito.
        c˜                         e     a
     Segundo Luria, esta crise na natureza divina, ocasionada pelo rompimento
dos recipientes, n˜o ´ um acidente, mas um ato de amor de Deus. Com isto
                    a e
Deus permitiu que o mal existisse (deu espa¸o para que ele se manifestasse),
                                                   c
conferindo livre-arb´   ıtrio ao homem. Caso contr´rio, se houvesse apenas o
                                                         a
bem, a vida humana seria trivial e irrelevante.
     Segundo este mito da Kabalah Luriˆnica, esta crise provocou o ex´ de
                                            a                                  ılio
Shekhinah (presen¸a divina, aspecto feminino de Deus), o que fez com que
                      c
   ´
a Arvore da Vida se tornasse “ca´     ıda”. Shekhinah passou a ocupar a posi¸˜o    ca
mais inferior na natureza divina.
     A reden¸˜o do homem constitui-se no tikun (corre¸ao), que ´ a liberta¸˜o
             ca                                               c˜       e           ca
das chispas divinas aprisionadas nas klif´t, o que est´ relacionado, segundo o
                                             o              a
´
A ARVORE DA VIDA                                                          15



juda´ısmo, com a era messiˆnica, quando o Messias vir e Shekhinah recuperar
                          a
a sua posi¸ao original na natureza divina.
           c˜
   Este mito tem paralelos claros com o mito de Sophia dos gn´sticos e com
                                                               o
o mito cosmogˆnico do manique´
                o                ısmo.
   Para o ARI, a reencarna¸˜o, tamb´m conhecida como metempsicose,
                              ca        e
chamada por Luria de zenypd leblb, gilgul ha-neshamot, ´ uma necessidade,
                                                         e
pois a reden¸˜o pode necessitar de muito tempo para ser alcan¸ada. A reen-
             ca                                               c
carna¸ao era cren¸a popular entre os judeus durante a ´poca de Luria e
      c˜           c                                       e
depois durante o Chassidismo (Baal Shem Tov, s´c. XVIII). Ela foi aceita
                                                 e
por grandes rabinos: Isaac Luria; Chaim Vital; Shem Tov; Bahia Ben Asher;
e Nachmˆnides.
         a

  ´
A Arvore da Vida
       ´
    A Arvore da Vida representa a natureza divina. Ela ´ referenciada na
                                                          e
                                                                 ´
passagem “O Senhor Deus, por isto, o lan¸ou fora do jardim do Eden, a fim
                                           c
de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins
                           ´
ao oriente do jardim do Eden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para
guardar o caminho da ´rvore da vida.” (Gˆnesis 3:23, 24).
                         a                  e
    Se um f´ ısico fosse descrever a forma¸ao do universo, certamente faria
                                          c˜
referˆncia `s particulas subatˆmicas como os elementos constitutivos deste
     e     a                    o
universo. Da mesma forma, um cabalista descreveria o mundo e a natureza
                                               ´
divina por meio dos elementos que formam a Arvore da Vida (veja a Figu-
ra 4).
       ´
    A Arvore da Vida ´ formada pelas dez Sephiroth (plural de Sephira). A
                        e
palavra “Sephira” pode ser traduzida como “emana¸˜o” ou “n´mero”.
                                                    ca         u
    Para os cabalistas as Sephiroth s˜o ao mesmo tempo a essˆncia de Deus
                                      a                       e
e o vaso que cont´m esta essˆncia:
                   e          e

essˆncia Luz de Ain Soph Aur;
   e

vaso o que cont´m a Luz (pois a manifesta¸˜o divina ´ uma restri¸ao do
               e                         ca         e           c˜
     poder de Deus).

    Devemos observar que estes “vasos” das Sephiroth s˜o bem sucedidos em
                                                       a
sua fun¸˜o, ao contr´rio dos primeiros recipientes, que, segundo a doutrina
        ca          a
do rompimento dos recipientes, se quebraram. Os cabalistas comparam isto
aos reis de Edom, que foram reis que reinaram antes que os reis de Israel
reinassem, mas que desapareceram (veja Gˆnesis 36:31). Os reis de Edom
                                            e
´
A ARVORE DA VIDA                                                          16




         Figura 4: Pintura art´                   ´
                              ıstica retratando a Arvore da Vida



s˜o associados aos vasos que se romperam, representando mundos que foram
 a
destru´ıdos pois n˜o estavam em equil´
                   a                 ıbrio. J´ por sua vez, os reis de Israel
                                             a
representam as Sephiroth, os mundos equilibrados.
       ´
    A Arvore da Vida possui equivalentes em diversas outras tradi¸oes (mi-
                                                                   c˜
tologia e religi˜o):
                a

Islamismo (Sufismo) Lataif (plural de Latifa);

Yoga e tantrismo Chakras;

Mitologia escandinava Yggdrasil;
                ´
Mitologia grega Arvore dos Pomos de Ouro;

Apocalipse de S˜o Jo˜o Igrejas, selos, anjos, trombetas, etc.
               a    a

    Voltaremos a falar sobre isto mais adiante, quando tratarmos da Kabalah
m´ıstica.
       ´
    A Arvore da Vida ´ formada pelas dez Sephiroth, que s˜o as emana¸oes
                       e                                    a            c˜
de Deus, seus atributos, e os vinte e dois canais (associados `s vinte e duas
                                                              a
´
A ARVORE DA VIDA                                                       17




                                   lKhether SS S
                                lll              SSS
                            lll                     SSS
                         lll                             S
                  Binah
                      EE YYYYYY
                                 YYYYYY
                                                        Chokmah
                                                  eeee xx
                        EE             YYYY eeee
                                           e
                          EE eeeeeeeeeee YYYYYYY xxx
                           eee
                             EE                      Yx Y
                                                     xY
                 GeburahR EEEE                     xx
                        RR                      xxx llChesed
                            RRR EE            xx lll
                                RRR EE     xx llll
                                   R      x l
                                 Thiphereth
                                          R
                                  l             RRR
                               lll                 RRR
                          l lll                       RRR
                       lll
                   Hod RRR                                Netsach
                           RRR                          kk
                              RRR                    kkk
                                  RR              kkk
                                               kkk
                                       Iesod

                               Malkhuth
                                  ´
                        Figura 5: Arvore da Vida



letras do alfabeto hebraico), que s˜o como fluxos de luz entre estas Sephi-
                                   a
roth. Estes elementos s˜o mostrados na Figura 5, juntamente com os nomes
                       a
que s˜o dados `s Sephiroth: Khether, Chokmah, Binah, Chesed, Geburah,
      a        a
Thiphereth, Netsach, Hod, Iesod e Malkhuth.
    A cria¸˜o divina ´ entendida como a emana¸ao das Sephiroth, desde a
          ca         e                         c˜
mais elevada, at´ a mais inferior. Khether, a Sephira mais elevada, est´
                 e                                                      a
imersa na Luz de Ain Soph Aur (por isto muitas vezes n˜o ´ considerado
                                                         a e
uma Sephira).
    Assim, cada Sephira recebe luz das que est˜o acima e envia luz para
                                               a
as inferiores. Uma Sephira ´ considerada masculina quando fornece luz e
                             e
feminina quando recebe, por compara¸˜o ao homem que fornece o sˆmen
                                       ca                            e
para a mulher.
    Khether, por estar imersa em Ain Soph Aur, n˜o recebe luz de nenhu-
                                                   a
ma Sephira, apenas fornece. Malkhuth ´ a Sephira mais obscura, por isto
                                         e
´ associada ao mundo material. Ela ´ associada a Shekhinah (exilada) e
e                                      e
´ considerada feminina, pois s´ recebe luz, sem fornecer a nenhuma outra
e                              o
Sephira.
´
A ARVORE DA VIDA                                                          18



     ´
   A Arvore da Vida ´ organizada em trˆs pilares ou colunas:
                    e                 e

Pilar esquerdo feminino – Justi¸a – Binah, Geburah, Hod;
                               c

Pilar central neutro – Temperan¸a – Khether, Thiphereth, Iesod, Malkhuth;
                               c

Pilar direito masculino – Miseric´rdia – Chokmah, Chesed, Netsach.
                                 o

    N˜o s´ as colunas, mas tamb´m as Sephiroth s˜o consideradas masculinas
      a o                       e                a
ou femininas. Duas Sephiroth que s˜o marcantemente associadas ao femini-
                                    a
no s˜o Binah e Malkhuth. Uma das raz˜es para que a Sephira Binah seja
     a                                   o
considerada feminina ´ que ela ´ a primeira Sephira da coluna da esquerda
                       e        e
(a Sephira mais elevada deste pilar).
                                                    ´
    Existem trˆs formas diferentes de representar a Arvore da Vida:
               e

  1. Como o corpo de um homem, como mostrado nas Figuras 6 e 7, enfa-
                                   ´
     tizando o aspecto orgˆnico da Arvore da Vida;
                          a

  2. Como uma seq¨ˆncia de emana¸˜es progressivamente mais materiais e
                    ue          co
     imperfeitas (Figura 8);

  3. Como as cascas de uma cebola, em que as Sephiroth mais no exterior
     est˜o mais pr´ximas do mundo material e da imperfei¸˜o (veja Figu-
        a         o                                     ca
     ra 9).
                                    ´
    A Figura 7 ilustra as partes da Arvore da Vida, como se fossem partes de
um corpo humano (antropomorfismo). Como j´ dissemos, entre as Sephiroth,
                                              a
duas s˜o associadas ao feminino, Binah e Malkhuth. A primeira ´ chamada
       a                                                          e
de M˜e, e a segunda ´ chamada de Noiva. Assim, naturalmente a Sephira
     a                 e
Iesod, por ser a unica que se comunica com Malkhuth, ´ associada ao org˜o
                 ´                                     e                  a
sexual masculino. Binah ´ chamada de M˜e, pois faz par com Chokmah, que
                          e               a
e                          a                     ´
´ considerado o Pai, e est´ do lado esquerdo da Arvore da Vida, lado que ´  e
considerado feminino.
    N˜o podemos deixar de enfatizar que existem apenas dez Sephiroth. No
     a
entanto, Khether possui um reflexo abaixo de Chokmah e Binah. Este reflexo
´ a Sephira Daath (Conhecimento), uma quase Sephira. Alguns cabalistas
e
consideram Daath uma Sephira e desconsideram Khether por ser muito ele-
vado (confundindo-se com o pr´prio Ain Soph). De qualquer forma, o total
                                o
de Sephiroth nunca ´ diferente de dez.
                     e
´
A ARVORE DA VIDA                                                           19


                                               '!%#$
                                                &"
                                              z DDD
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                                          zz             DD
                                      z zz                  DD
                                   zz                          D
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                                    22 QQQQQ           mm
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O Canivete Suíço da Kabalah
m
                                      mm 2
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                                     DD 22
O Canivete Suíço da Kabalah
'!%#$&"
                                        DD 2
O Canivete Suíço da Kabalah
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O Canivete Suíço da Kabalah
O Canivete Suíço da Kabalah
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                      ´
            Figura 6: Arvore da Vida na forma de um homem



     Al´m disto, algumas vezes Malkhuth (Shekhinah) ´ considerada como
        e                                                  e
Daath ca´                   ´
           ıda. Assim, na Arvore ca´  ıda, n˜o se representa Daath e se repre-
                                            a
                                              ´
senta Malkhuth (veja a Figura 10), e na Arvore da Perfei¸ao n˜o aparece
                                                              c˜ a
Malkhuth e aparece Daath (veja a Figura 11). Um dos objetivos da Kabalah
e                   ´       ıda           ´
´ transformar a Arvore ca´ em uma Arvore da Perfei¸˜o, acabando com o
                                                          ca
ex´ de Shekhinah.
   ılio
     Segundo diz o Sepher Ietsirah, “Vinte e duas letras, Ele as gravou, as
cortou, as pesou, as permutou, as combinou, e formou com elas a alma de
tudo o que foi criado e a alma de tudo o que ser´ criado no futuro.” (Sepher
                                                  a
Ietsirah, Cap´  ıtulo 2, Mishnah 2). Isto significa que a cria¸˜o ´ resultado
                                                               ca e
das combina¸oes e permuta¸˜es das letras do alfabeto hebraico. Isto est´
               c˜              co                                            a
representado no in´ do Gˆnesis quando aparece diversas vezes a express˜o
                      ıcio    e                                            a
“Deus disse”.
     Existem algumas interpreta¸oes que, assim como Deus criou por meio da
                                  c˜
palavra, podemos usar da palavra com objetivos m´gicos, por exemplo para
                                                      a
criar um Golem. Outra possibilidade ´ o uso de mantras para induzir estados
                                        e
alterados de consciˆncia (medita¸˜o).
                       e           ca
     Segue dizendo o Sepher Ietsirah, “Dez Sephiroth do nada, e vinte e duas
´
A ARVORE DA VIDA                                                                                                  20




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O Canivete Suíço da Kabalah
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O Canivete Suíço da Kabalah
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O Canivete Suíço da Kabalah
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O Canivete Suíço da Kabalah

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O Canivete Suíço da Kabalah

  • 1. O Canivete Su´co da Kabalah ı¸ Carlos A. P. Campani campani@ufpel.edu.br http://campani.greatnow.com 27 de mar¸o de 2007 c Sum´rio a 1. Introdu¸ao c˜ 2. O que ´ a Kabalah? e 3. Hist´ria o 4. Alfabeto hebraico 5. Kabalah literal: Gematria; notaricon; e temura. 6. Kabalah dogm´tica e luriˆnica a a ´ 7. A Arvore da Vida 8. Os mundos da Kabalah 9. Kabalah m´ ıstica Introdu¸˜o ca Devido ` sua complexidade e linguagem at´ certo ponto enigm´tica, a a e a Kabalah ´ um assunto de estudo dif´ principalmente para o iniciante. Por e ıcil, isto, exatamente para ajudar o estudante iniciante, este texto tem como 1
  • 2. ´ O QUE E A KABALAH? 2 objetivo ser uma introdu¸ao acess´ c˜ ıvel, abordando os conceitos b´sicos da a Kabalah que permitir˜o compreender a literatura dispon´ e ser˜o suporte a ıvel a para o estudo posterior. Este texto acompanha o conjunto de lˆminas (slides) intitulado “Uma a Introdu¸ao ` Kabalah”, e usado em palestras sobre Kabalah. Este trabalho c˜ a ´ a transcri¸˜o destas palestras, incluindo as explica¸oes de v´rios esquemas, e ca c˜ a figuras e tabelas apresentados nas lˆminas. O conjunto de lˆminas pode a a ser encontrado na p´gina http://campani.greatnow.com ou diretamente a no link http://www.ufpel.edu.br/~campani/lamcabala.pdf. O Talmude possui uma passagem que diz “nascestes contra a tua vontade; vives contra a tua vontade; morrer´s contra a tua vontade”. Esta passagem a ´ uma boa introdu¸˜o e uma provoca¸˜o para o nosso ponto de partida, que e ca ca ´ a grande pergunta de nossas vidas: “Porque estamos aqui?”. Uma das e principais motiva¸˜es para o estudo da Kabalah ´ encontrar uma resposta co e para esta quest˜o.a Outras poss´ ıveis motiva¸oes, principalmente para um n˜o judeu estudar c˜ a Kabalah, incluem conhecer as origens do cristianismo (que est˜o no juda´ a ısmo, do qual a Kabalah ´ a express˜o m´ e a ıstica) e compreender as tradi¸˜es esot´ri- co e cas do ocidente, o gnosticismo, o hermetismo, e a Ma¸onaria, com as quais a c Kabalah tem pontos em comum. Estes pontos em comum s˜o uma das raz˜es a o porque ser˜o feitas freq¨entes compara¸oes com estas outras tradi¸oes. a u c˜ c˜ Este texto n˜o pretende ser apenas teor´tico ou teos´fico, mas nele tamb´m a e o e s˜o apresentadas pr´ticas cabal´ a a ısticas, incluindo a Kabalah meditativa e as a ˆ pr´ticas da Kabalah do Extase do Rabino Abra˜o Abulafia. a Neste texto, usaremos uma translitera¸ao do alfabeto hebraico (apresen- c˜ tada nas Tabelas 1 e 2) que privilegia representar, da forma mais fiel poss´ ıvel, as letras que s˜o usadas nas palavras hebraicas, em detrimento da pron´ncia a u da palavra em portuguˆs. As palavras ser˜o referenciadas usando-se esta e a translitera¸ao, com e sem vogais, eventualmente acompanhada da palavra he- c˜ braica original, e de uma dica de como ela deve ser pronunciada (em it´lico). a O que ´ a Kabalah? e Kabalah, KBLH, dlaw, cabal´ prov´m do verbo KBL, law, cabeil que a e significa receber. Assim, Kabalah significa aquilo que ´ transmitido, ou seja, e “tradi¸ao” ou “conhecimento”. c˜ A Kabalah ´ a tradi¸˜o esot´rica e m´ e ca e ıstica dos hebreus. Em todas as tra- di¸oes religiosas sempre esteve presente o elemento m´ c˜ ıstico. O que caracteriza
  • 3. ´ O QUE E A KABALAH? 3 este elemento m´ ıstico ´ a busca da experiˆncia direta de Deus. e e No entanto, nos textos sagrados do juda´ ısmo, este misticismo n˜o ´ perce- a e bido com facilidade. Ao povo hebreu era oferecido o Velho Testamento, que ´ um c´digo jur´ e o ıdico e moral, e inclui recomenda¸oes de sanitarismo. E c˜ ´ surpreendente que uma grande religi˜o como o juda´ a ısmo tenha escrituras sagradas com t˜o pouco misticismo, como aparentemente ´ o caso. a e A Kabalah, a vertente m´ ıstica do juda´ ısmo, era reservada apenas para os sacerdotes. Este conhecimento sagrado era originalmente transmitido apenas de forma oral, para protege-lo contra a profana¸ao, e esta ´ uma explica¸˜o c˜ e ca de porque o misticismo est´ t˜o oculto nos textos do juda´ a a ısmo. Os rabinos passaram a registrar de forma escrita a Kabalah apenas na era crist˜, devido ` dispers˜o dos judeus (di´spora), que amea¸ava com a perda a a a a c deste conhecimento. A Kabalah judaica, posteriormente, foi assimilada por grupos n˜o judeus, a permitindo o surgimento de outras vertentes, como ´ o caso da crist˜ e da e a herm´tica. e Todas as religi˜es e tradi¸˜es m´ o co ısticas possuem uma essˆncia comum. A e experiˆncia m´ e ıstica ´ unica e n˜o verbal. Ao ser descrita verbalmente, de e ´ a forma aleg´rica, por meio do uso de s´ o ımbolos, recebe “decora¸oes” que s˜o c˜ a dependentes do contexto hist´rico e da personalidade do m´ o ıstico que a est´ a descrevendo. Disto surgem as diferen¸as entre as religi˜es. Esta ´ uma das c o e raz˜es para fazermos compara¸oes com outras tradi¸˜es m´ o c˜ co ısticas, mitologia, filosofia e religi˜es, procurando extrair, deste estudo comparado, esta essˆncia o e que ´ comum a todas elas. e Importante observar que, neste trabalho, abordaremos a Kabalah n˜o a apenas na perspectiva judaica, mas tamb´m nas perspectivas herm´tica e e e crist˜. Entre estas perspectivas h´ algumas diferen¸as significativas. a a c A Tor´ (veja Figura 1) ´ o livro mais sagrado dos judeus. A Tor´ (Pen- a e a tateuco), cuja autoria ´ atribu´ a Mois´s, ´ formada por: e ıda e e 1. Bereshit (Gˆnesis); e ˆ 2. Shemot (Exodo); 3. Vaikr´ (Lev´ a ıtico); 4. Bemidbar (N´meros); u 5. Devarim (Deuteronˆmio); o
  • 4. ´ O QUE E A KABALAH? 4 Figura 1: Foto de um rolo da Tor´ a A Tor´ tem bastante importˆncia no estudo de Kabalah, pois a Kabalah, a a em parte, dedica-se a interpretar a Tor´, procurando nela significados ocultos a mais profundos. As escrituras sagradas do juda´ısmo tem quatro sentidos. Estes modos de interpreta¸˜o s˜o referenciados pelas quatro letras de seus nomes, formando a ca a palavra PRDS, qcxt, pardeis que significa pomar ou para´ Estes sentidos ıso. s˜o: a Pashut literal e hist´rico; o Remmez aleg´rico, introduzido por Ezra; o Derush moral; Sod m´ ıstico. Eles s˜o comparados `s cascas (em n´mero de trˆs) e o cerne da noz a a u e (relacionado com sod, o significado mais profundo). Estes quatro sentidos est˜o relacionados com os fatos que s˜o narrados a a no Velho Testamento. Em cada um deles estes eventos s˜o interpretados a de uma forma diferente, por´m n˜o exclusiva (segundo o juda´ e a ısmo, todas as interpreta¸˜es s˜o igualmente v´lidas). co a a
  • 5. ´ HISTORIA 5 No sentido pashut entende-se o Velho Testamento como narrando fatos hist´ricos relacionados com o povo hebreu que devem ser considerados de o forma literal. Remmez considera os fatos narrados como alegorias. Derush interpreta o Velho Testamento como um c´digo moral. Finalmente, no senti- o do sod considera-se os fatos narrados no Velho Testamento como simb´licos, o cujo objetivo ´ guardar um conhecimento sagrado. Isto significa que h´ um e a significado mais profundo oculto nos textos sagrados. Este significado sod ´ e o significado m´ ıstico, que est´ relacionado com a Kabalah. a A Kabalah possui diversas modalidades diferentes. A Kabalah n˜o escrita a ´ a parte da Kabalah que permanece oral. A Kabalah pr´tica envolve a e a manipula¸ao de s´ c˜ ımbolos m´gicos (talism˜s e quadrados m´gicos) e a cria¸˜o a a a ca do Golem (um ser humano artificial). A Kabalah literal preocupa-se com a interpreta¸ao da lei, buscando significados ocultos nas escrituras, fazendo c˜ uso de t´cnicas como gematria, notaricon e temura. A Kabalah dogm´tica e a estuda a doutrina da Kabalah. Com rela¸ao ao Golem, ´ interessante observar que, segundo a tradi¸ao c˜ e c˜ jud´ica, ele ´ criado usando-se as combina¸˜es e permuta¸oes das letras do a e co c˜ alfabeto hebraico. Assim como Deus criou o mundo pela palavra, tamb´m e podemos usar as palavras de forma m´gica, para criar um Golem. a H´ d´vidas entre os estudiosos se esta cria¸ao ´ real, ou se ´ uma figura a u c˜ e e de linguagem usada para representar os resultados de pr´ticas m´gicas e a a meditativas dos cabalistas, que parecem quase reais. Hist´ria o A tradi¸˜o religiosa dos judeus, que se considera fundada na alian¸a entre ca c Deus e Abra˜o, ´ formada por trˆs tradi¸oes distintas: a e e c˜ Tor´ (Pentateuco) Autoria atribuida a Mois´s e compilado h´ cerca de a e a 3000 anos (recompilado por Ezra); Talmude Um complexo conjunto de tratados (Mishnah e Gemarah), cons- tituindo-se de coment´rios ` lei; a a Kabalah Tradi¸˜o que se desenvolveu em paralelo ` Tor´ e ao Talmude. ca a a Segundo alguns estudiosos, a Kabalah surgiu na ´poca da constru¸ao do e c˜ Segundo Templo, no ano de 515 a.C., embora outros estudiosos opinem que ela ´ t˜o antiga quanto a pr´pria Tor´. A Kabalah ´ capaz de vivificar e e a o a e
  • 6. ALFABETO HEBRAICO 6 reinterpretar o Velho Testamento, dando-lhe o misticismo que est´ aparente- a mente ausente. Ela retira os v´us que cobrem o conhecimento sagrado das e escrituras, revelando seu significado mais profundo. Nas palavras de alguns rabinos cabalistas, a Tor´ ´ o corpo, o Talmude, a alma, e a Kabalah, o a e esp´ırito. Os dois principais tratados da Kabalah s˜o: a Sepher Ietsirah Tamb´m conhecido como “Livro da Cria¸ao”; apresenta e c˜ um curioso esquema para a cria¸˜o e um paralelo entre as letras do ca alfabeto hebraico, o homem, os planetas e os signos do zod´ıaco; sua au- toria ´ atribu´ em uma lenda ao patriarca Abra˜o; cr´ e ıda a ıticos modernos opinam que foi compilado em torno de 200 d.C.; Zohar Conhecido como “Livro do Esplendor”; um conjunto de tratados versando sobre a divindade, os anjos, almas e cosmogˆnese; autoria e atribu´ ao Rabino Simon Ben Iochai, que viveu no in´ da era crist˜; ıda ıcio a recompilado e publicado em 1290 na Espanha pelo Rabino Moses de Leon. Alfabeto hebraico O alfabeto hebraico (´lef-bˆt) ´ formado por vinte e duas letras, mais cinco a e e usadas no final de palavras (letras sof´ Associa-se a cada letra do alfabeto ıt). um valor num´rico (“toda letra ´ um n´mero e todo n´mero ´ uma letra”). e e u u e Al´m disto, originalmente as letras representavam imagens (os chamados e pictogramas). Estes valores das letras hebraicas podem ser usados para encontrar novos significados nos textos judaicos, atrav´s dos valores das palavras, obtidos e pela soma dos valores das letras que formam a palavra (gematria). A Tabela 1 apresenta o alfabeto hebraico, com os valores e pictogramas de cada letra. A Tabela 2 complementa estas informa¸oes apresentando as c˜ cinco letras sof´ e seus valores (estas letras sof´ tem pron´ncia semelhante ıt ıt u a das letras normais correspondentes). Devemos observar que as letras ´lef e ´in tem a fun¸ao de representar os a a c˜ dois aspectos de Deus na Kabalah (Face Pequena e Face Grande). A letra ´in a tem como pictograma um olho, que tamb´m ´ um s´ e e ımbolo da Face Grande, como veremos. A letra iud ´ muitas vezes tomada como uma representa¸˜o e ca da pr´pria divindade (o mais importante nome de Deus no juda´ o ısmo, o Tetra- grammaton, inicia com a letra iud).
  • 7. ALFABETO HEBRAICO 7 Tabela 1: Alfabeto hebraico Nome Valor Translit. Pictograma Pron´ncia Observa¸ao u c˜ ` ´lef a 1 A Boi mudo Face Pequena a bˆt e 2 B Casa/Tenda B, V b guimel 3 G Camelo G c d´let a 4 D Porta D d hˆi e 5 H Aten¸˜o! ca aspirado Feminino e v´v a 6 V Gancho V Liga¸˜o ca f zain 7 Z Espada Z g rˆt e 8 Ch Cerca R forte h tˆt e 9 T Serpente/Cesto T i iud 10 I Bra¸o e m˜o c a I Divindade k k´f a 20 Kh Palma da m˜oa K, R l l´med a 30 L Cajado L n mˆme 40 M ´ Agua M p nun 50 N Semente/Peixe N q sˆmer a 60 S Suporte S r ´in a 70 Hw Olho mudo Face Grande t pˆi e 80 P Boca P, F v tz´dik a 90 Ts Homem de lado Tz w kuft 100 K Sol no horizonte K x rˆsh e 200 R Cabe¸a c R fraco y shin 300 Sh Dentes/Comer S, Chiado z t´v a 400 Th Sinal/Cruz T A letra v´v tem como pictograma um gancho, que significa “liga¸˜o”. a ca Finalmente, a letra hei normalmente ´ associada, na l´ e ıngua hebraica, ao feminino. Devemos observar que a escrita em hebraico ´ feita da direita para a e esquerda, e que as vogais n˜o s˜o grafadas (todas as letras s˜o consoantes). a a a As vogais podem ser representadas pelos sinais massor´ticos, que n˜o s˜o e a a normalmente usados nos textos hebraicos.
  • 8. KABALAH LITERAL 8 Tabela 2: Letras sof´ ıt Nome Valor Pron´ncia u j k´f sofit a 500 R m mˆm sofit e 600 M o nun sofit 700 N s pˆi sofit e 800 F u tz´dik sofit a 900 Tz Kabalah literal Os cabalistas descobriram significados ocultos e profundos nas letras do alfabeto hebraico. Estes novos significados s˜o revelados por meio de um a conjunto bem definido de opera¸oes com as letras do ´lef-bˆt. As opera¸oes c˜ a e c˜ utilizadas para obter estes resultados s˜o gematria, notaricon e temura. a A seguir descreveremos cada uma destas t´cnicas da Kabalah literal. e Gematria Gematria ´ o modo de interpreta¸˜o em que cada nome ou palavra possui e ca um certo valor num´rico que a coloca em rela¸˜o de equivalˆncia com outra e ca e palavra que tenha o mesmo valor. Por exemplo, MShICh, giyn, mashirra que significa “Messias” vale 358 (40+300+10+8), o mesmo que IBA ShILH, dliy `ai, abei Shiloh significando “Shiloh vir´”. A B´ a ıblia diz “O cetro n˜oa se arredar´ de Jud´, nem o bast˜o de entre seus p´s, at´ que venha Shiloh; e a a a e e a ele obedecer˜o os povos.” (Gˆnesis 49:10). Neste caso, os judeus associam a e o nome “Shiloh” com o Messias. Interessante observar que a serpente ardente que Mois´s levantou no de- e serto, NChSh, ygp, narrash tamb´m vale 358 (50+8+300). A B´ e ıblia descreve este evento como “Fez Mois´s uma serpente de bronze [ygp] e a pˆs sobre e o uma haste; sendo algu´m mordido por alguma serpente, se olhava para a de e bronze, sarava.” (N´meros 21:9). Isto estabelece uma rela¸ao de equivalˆncia u c˜ e entre Cristo (Messias em grego) e a serpente: Messias = Cristo = Serpente Os pr´prios evangelhos indicam esta equivalˆncia ao dizer que “E do modo o e por que Mois´s levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do e Homem seja levantado.” (Jo˜o 3:14). a
  • 9. KABALAH LITERAL 9 Figura 2: A serpente que salva e cura Esta ´ a serpente que salva e cura (veja Figura 2). Este s´ e ımbolo foi usado pelos rosacruzes e alquimistas. Foi tamb´m usado pelos antigos gregos e para representar a medicina e a sa´de, permanecendo seu uso at´ hoje com u e diversas varia¸˜es: cruz e serpente; bast˜o e serpente; ou c´lice e serpente. co a a Explica-se, por meio de gematria, o fato dos rabinos terem os n´meros u 26 e 8 (2+6) como sagrados, j´ que 26 ´ o valor gem´trico de IHVH, dedi a e a (10+5+6+5), o sagrado e impronunci´vel nome de Deus, o “Tetragramma- a ton”. Devido ` proibi¸ao de ser pronunciado, e ao fato de n˜o se grafarem as a c˜ a vogais, com o tempo, ficou perdida a correta pron´ncia de IHVH. u Sabemos que as letras do ´lef-bˆt s˜o formadas pela composi¸ao de outras. a e a c˜ A letra ´lef, por exemplo, ´ formada por duas letras iud, uma voltada para a e cima, outra para baixo, com um v´v no meio conectando-as: a ` = i+e+i Isto permite definir uma gematria das partes de ´lef, sendo seu valor a 26 (10+6+10=26), o mesmo de IHVH. O iud superior representa o aspecto n˜o manifestado de Deus (AHIH, did`, erriˆ – “Eu Sou”), o outro iud a e representa a manifesta¸ao de Deus (IHVH), e o v´v no meio representa o c˜ a gancho que liga ambos. Estes s˜o os aspectos transcendente e imanente de a Deus (caracterizando a Kabalah como panente´ısta).
  • 10. ´ KABALAH DOGMATICA 10 Tabela 3: Cifra Athbash A B G D H V Z Ch T I Kh Th Sh R K Ts P Hw S N M L As trˆs vis˜es poss´ e o ıveis de Deus s˜o: a Te´ ısmo enfatiza o aspecto transcendente de Deus – Deus fora do mundo; Pante´ ısmo enfatiza o aspecto imanente de Deus – Deus dentro do mundo; Panente´ ısmo Deus possui dois aspectos, um transcendente, outro imanente ao mundo (Kabalah). Notaricon Notaricon ´ uma forma de abrevia¸ao, em que uma palavra ´ formada e c˜ e das letras iniciais ou finais de uma ou mais palavras. Por exemplo, em Deuteronˆmio 30:12 est´ escrito “Quem subir´ por n´s aos c´us?”, MI IOLH o a a o e LNV HShMILH, dlinyd epl dlei in, que forma a palavra MILH, dlin, mil´, a que significa circuncis˜o, e com as letras finais forma IHVH, dedi, o nome de a Deus. Isto sugere que a circuncis˜o ´ o caminho para alcan¸ar Deus no c´u. a e c e Temura Temura refere-se a um complexo sistema de cifras em que as letras do alfabeto s˜o transpostas segundo certas regras, permitindo obter novas in- a terpreta¸oes. Um exemplo de cifra ´ escrever metade do alfabeto sobre a c˜ e outra metade, trocando a letra A, a primeira, pela Th, a ultima, a segunda, ´ B, pela pen´ltima Sh, e assim por diante. Esta cifra ´ chamada de athbash, u e e ´ mostrada na Tabela 3. e Kabalah dogm´tica a A Kabalah dogm´tica trata da doutrina da Kabalah e foi desenvolvida a para resolver as quest˜es: o • Natureza do Ser Supremo; • Cria¸˜o do mundo; ca
  • 11. ´ KABALAH DOGMATICA 11 Ain Soph Aur Ain Soph Ain ´ Figura 3: As Ra´ Negativas da Arvore da Vida ızes • Cria¸˜o dos anjos e do homem; ca • Destino do mundo e dos homens; • Significado da Revela¸ao, a Lei Sagrada (Tor´). c˜ a Um dos temas centrais da Kabalah dogm´tica ´ a cria¸ao. Neste caso, as a e c˜ dificuldades relacionadas com este problema s˜o: a • Creatio ex nihilo? – a cria¸˜o foi feita do “nada”? ca • Como a Unidade manifesta a pluralidade? Segundo a Kabalah, o Ser Supremo, que os cabalistas chamam de Ain (ou Ain Soph), ´ incompreens´ e ıvel, oculto, N˜o Manifestado, N˜o Existˆncia. a a e Na verdade, Ain Soph n˜o ´ um Ser, mas sim o criador do Ser, da existˆncia. a e e Assim, chama-Lo de “Ser Supremo” ´ um abuso de linguagem devido ` im- e a possibilidade de descreve-Lo de forma melhor. Ain Soph n˜o foi o criador do mundo material pela mesma raz˜o que o a a arquiteto n˜o constr´i um edif´ com suas pr´prias m˜os. a o ıcio o a O Ser Supremo ´ Ain (Existˆncia Negativa), Ain Soph (Ilimitado) e Ain e e Soph Aur (Luz Ilimitada). Estes s˜o os Trˆs V´us Ocultos, as Ra´ Nega- a e e ızes ´ tivas da Arvore da Vida (veja Figura 3).
  • 12. ´ KABALAH DOGMATICA 12 Tabela 4: Ain, Face Grande e Face Pequena Tradi¸ao c˜ Ain Face Grande Face Pequena Juda´ ısmo e Ain, oi`, AHIH, did`, IHVH, dedi, `, Kabalah Lo, `l (N˜o) a Macroprosopus, Microprosopus, Arikh Anpin, Zauir Anpin Anci˜o dos Dias, a r (Olho) Islamismo La (N˜o) a Illaha Allah Hindu´ ısmo Parabrahman Brahman (neutro), Brahma (ativo), (N˜o Ser) a Shiva, Lingam Kali Cristianismo Deus Pai Filho Ain Soph, por meio de seu poder, manifesta atributos que assumem duas formas (faces, partsuf ): • uma face passiva, feminina, negativa; • uma face ativa, masculina, positiva; Como passivo, Deus olha para dentro de si, em dire¸ao a Ain Soph, e c˜ diz: “Eu Sou Nada” – Deus-sem-Nome-e-Forma. Como ativo, Deus olha para o lado oposto, em dire¸˜o ` cria¸ao, e diz: “Eu Sou Tudo” – Deus-com- ca a c˜ Nome-e-Forma. Estes dois aspectos s˜o chamados de Face Grande e Face a Pequena, respectivamente. Eles s˜o os aspectos transcendente e imanente de a Deus (panente´ ısmo). A Tabela 4 apresenta os conceitos de Ain, Face Grande e Face Pequena, como representados em diversas tradi¸˜es religiosas. co As atribui¸oes feitas da Face Grande e da Face Pequena, no cristianismo, c˜ ao Pai e ao Filho, respectivamente, ´ baseada na passagem dos evangelhos e que diz “. . . e ningu´m conhece o Pai, sen˜o o Filho . . . ” (Mateus 11:27), e a j´ que a Face Grande s´ pode ser conhecida atrav´s da Face Pequena. a o e Importante observar que a unica coisa que podemos compreender de Ain ´ Soph s˜o suas emana¸oes, seus atributos. Na Kabalah estas emana¸oes s˜o a c˜ c˜ a chamadas Sephiroth, SPIROTh, zexitq, Sefir´t. Estas Sephiroth s˜o em o a n´mero de dez (lembrando a d´cada de Pit´goras). u e a A Kabalah rejeita a id´ia de uma creatio ex nihilo. A cria¸ao n˜o pode e c˜ a ser feita do “nada”. Assim, a cria¸ao ´, na verdade, uma transforma¸˜o da c˜ e ca Luz de Ain Soph Aur. Logo, a cria¸ao ´ “intradivina” (conceito de contra¸ao, c˜ e c˜
  • 13. ˆ KABALAH LURIANICA 13 tsimtsum de Isaac Luria). Isto ´ corroborado pela passagem do Novo Testa- e mento que diz “Porque Nele vivemos, e nos movemos, e existimos.” (Atos 17:28). O tsimtsum ´ a auto-delimita¸˜o de Deus, recolhimento em Si pr´prio, e ca o que ´ ocasionado pela contempla¸ao Dele por Si pr´prio (veja a semelhan¸a e c˜ o c com a filosofia neoplatˆnica de Plotino). o A manifesta¸˜o divina procede da Fonte Primordial em sucessivas emana- ca ¸oes, cada uma mais obscura que as anteriores, por estarem progressivamente c˜ mais afastadas da Luz de Ain Soph Aur. Os canais entre estas emana¸oes c˜ s˜o como “fluxos de luz”. Devemos observar que express˜es como “luz” ou a o “recipiente” n˜o devem ser interpretadas literalmente, pois s˜o s´ a a ımbolos ou contrapartes f´ ısicas de aspectos espirituais. Estas emana¸˜es (Sephiroth), e os canais que as conectam, formam a co ´ Arvore da Vida, que ´ uma hierarquia que constitui a natureza divina. e Observe-se que esta id´ia de “emana¸oes” tamb´m aparece no gnosticismo, e c˜ e na forma de aeons, seres divinos que formam o pleroma. Resumindo os principais conceitos da Kabalah dogm´tica: a Ain N˜o, Existˆncia Negativa, N˜o Ser, Raiz Desconhecida; a e a Face Grande Aspecto passivo, negativo, oculto de Deus; Face Pequena Aspecto ativo, positivo, manifestado de Deus; ´ Arvore da Vida Formada pelas emana¸oes de Deus, representa a natureza c˜ divina. Kabalah Luriˆnica a A Kabalah Luriˆnica foi fundada pelo Rabino Isaac Luria (1534–1572), a conhecido pelo acrˆnimo de ARI, que em hebraico significa “Le˜o”. Uma o a de suas mais importantes contribui¸˜es foi a doutrina do “rompimento dos co recipientes” (schevir´ ). a Segundo esta doutrina, a natureza divina era perfeita pois estava contida nos recipientes, mas algo saiu errado e os recipientes “quebraram”, e “cacos” voaram para todos os lados, formando o material para as klif´t (cascas). As o chispas divinas espalharam-se e ficaram aprisionadas nas klif´t. o Para entender esta doutrina ´ importante compreender que a Luz de Ain e Soph Aur, que a tudo preenche, ofuscaria toda a cria¸ao poss´ c˜ ıvel. Assim, h´ a
  • 14. ˆ KABALAH LURIANICA 14 a necessidade de um “vazio” onde a cria¸ao possa manifestar-se. Este “vazio” c˜ foi chamado por Luria de tsimtsum. O tsimtsum ´ uma restri¸˜o do poder de e ca Deus. Ele ´ referenciado na passagem b´ e ıblica que diz “A terra por´m, estava e sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo.” (Gˆnesis 1:2). e As palavras chaves para compreender esta passagem s˜o “vazia”, “trevas” e a “abismo”, todas referindo-se ao tsimtsum. Assim, o tsimtsum ´ o palco para o drama c´smico (pleroma). Nele e o penetra o Raio de Luz de Ain Soph Aur, que produz a manifesta¸ao. No c˜ entanto, h´ a necessidade de restringir o poder de Deus, por isto esta Luz a divina ficou contida dentro de “recipientes”. Mas, os recipientes n˜o resistiram ` Luz Ilimitada e se “despeda¸aram”, a a c formando o material para as klif´t. o O homem ´ o reflexo da natureza divina (Adam Kadmon, o Homem Pri- e mordial). Isto est´ expresso na passagem b´ a ıblica que diz “Criou Deus, pois, o homem ` sua imagem, ` imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” a a (Gˆnesis 1:27). Assim, a instabilidade na natureza divina, ocasionada pelo e rompimento dos recipientes, provocou o pecado e a queda do homem. O homem ´ reflexo da natureza divina pois h´ um preceito que diz “assim e a em cima como embaixo, e assim embaixo como em cima”. Isto significa que as partes mant´m uma rela¸˜o de similaridade com o todo. e ca O reflexo de algo sempre ´ uma p´lida sombra do original. Logo, podemos e a dizer que o que est´ acima ´ semelhante ao que est´ abaixo, por´m em um a e a e estado de maior perfei¸ao, e o que est´ abaixo ´ semelhante ao que est´ c˜ a e a acima, por´m em um estado mais imperfeito. e No reflexo, algumas coisas s˜o similares ao original, outras s˜o invertidas. a a Um exemplo ´ o reflexo de uma pessoa no espelho, em que permanecem iguais e as posi¸oes acima e abaixo, por´m s˜o invertidos os lados esquerdo e direito. c˜ e a Segundo Luria, esta crise na natureza divina, ocasionada pelo rompimento dos recipientes, n˜o ´ um acidente, mas um ato de amor de Deus. Com isto a e Deus permitiu que o mal existisse (deu espa¸o para que ele se manifestasse), c conferindo livre-arb´ ıtrio ao homem. Caso contr´rio, se houvesse apenas o a bem, a vida humana seria trivial e irrelevante. Segundo este mito da Kabalah Luriˆnica, esta crise provocou o ex´ de a ılio Shekhinah (presen¸a divina, aspecto feminino de Deus), o que fez com que c ´ a Arvore da Vida se tornasse “ca´ ıda”. Shekhinah passou a ocupar a posi¸˜o ca mais inferior na natureza divina. A reden¸˜o do homem constitui-se no tikun (corre¸ao), que ´ a liberta¸˜o ca c˜ e ca das chispas divinas aprisionadas nas klif´t, o que est´ relacionado, segundo o o a
  • 15. ´ A ARVORE DA VIDA 15 juda´ısmo, com a era messiˆnica, quando o Messias vir e Shekhinah recuperar a a sua posi¸ao original na natureza divina. c˜ Este mito tem paralelos claros com o mito de Sophia dos gn´sticos e com o o mito cosmogˆnico do manique´ o ısmo. Para o ARI, a reencarna¸˜o, tamb´m conhecida como metempsicose, ca e chamada por Luria de zenypd leblb, gilgul ha-neshamot, ´ uma necessidade, e pois a reden¸˜o pode necessitar de muito tempo para ser alcan¸ada. A reen- ca c carna¸ao era cren¸a popular entre os judeus durante a ´poca de Luria e c˜ c e depois durante o Chassidismo (Baal Shem Tov, s´c. XVIII). Ela foi aceita e por grandes rabinos: Isaac Luria; Chaim Vital; Shem Tov; Bahia Ben Asher; e Nachmˆnides. a ´ A Arvore da Vida ´ A Arvore da Vida representa a natureza divina. Ela ´ referenciada na e ´ passagem “O Senhor Deus, por isto, o lan¸ou fora do jardim do Eden, a fim c de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins ´ ao oriente do jardim do Eden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da ´rvore da vida.” (Gˆnesis 3:23, 24). a e Se um f´ ısico fosse descrever a forma¸ao do universo, certamente faria c˜ referˆncia `s particulas subatˆmicas como os elementos constitutivos deste e a o universo. Da mesma forma, um cabalista descreveria o mundo e a natureza ´ divina por meio dos elementos que formam a Arvore da Vida (veja a Figu- ra 4). ´ A Arvore da Vida ´ formada pelas dez Sephiroth (plural de Sephira). A e palavra “Sephira” pode ser traduzida como “emana¸˜o” ou “n´mero”. ca u Para os cabalistas as Sephiroth s˜o ao mesmo tempo a essˆncia de Deus a e e o vaso que cont´m esta essˆncia: e e essˆncia Luz de Ain Soph Aur; e vaso o que cont´m a Luz (pois a manifesta¸˜o divina ´ uma restri¸ao do e ca e c˜ poder de Deus). Devemos observar que estes “vasos” das Sephiroth s˜o bem sucedidos em a sua fun¸˜o, ao contr´rio dos primeiros recipientes, que, segundo a doutrina ca a do rompimento dos recipientes, se quebraram. Os cabalistas comparam isto aos reis de Edom, que foram reis que reinaram antes que os reis de Israel reinassem, mas que desapareceram (veja Gˆnesis 36:31). Os reis de Edom e
  • 16. ´ A ARVORE DA VIDA 16 Figura 4: Pintura art´ ´ ıstica retratando a Arvore da Vida s˜o associados aos vasos que se romperam, representando mundos que foram a destru´ıdos pois n˜o estavam em equil´ a ıbrio. J´ por sua vez, os reis de Israel a representam as Sephiroth, os mundos equilibrados. ´ A Arvore da Vida possui equivalentes em diversas outras tradi¸oes (mi- c˜ tologia e religi˜o): a Islamismo (Sufismo) Lataif (plural de Latifa); Yoga e tantrismo Chakras; Mitologia escandinava Yggdrasil; ´ Mitologia grega Arvore dos Pomos de Ouro; Apocalipse de S˜o Jo˜o Igrejas, selos, anjos, trombetas, etc. a a Voltaremos a falar sobre isto mais adiante, quando tratarmos da Kabalah m´ıstica. ´ A Arvore da Vida ´ formada pelas dez Sephiroth, que s˜o as emana¸oes e a c˜ de Deus, seus atributos, e os vinte e dois canais (associados `s vinte e duas a
  • 17. ´ A ARVORE DA VIDA 17 lKhether SS S lll SSS lll SSS lll S Binah EE YYYYYY YYYYYY Chokmah eeee xx EE YYYY eeee e EE eeeeeeeeeee YYYYYYY xxx eee EE Yx Y xY GeburahR EEEE xx RR xxx llChesed RRR EE xx lll RRR EE xx llll R x l Thiphereth R l RRR lll RRR l lll RRR lll Hod RRR Netsach RRR kk RRR kkk RR kkk kkk Iesod Malkhuth ´ Figura 5: Arvore da Vida letras do alfabeto hebraico), que s˜o como fluxos de luz entre estas Sephi- a roth. Estes elementos s˜o mostrados na Figura 5, juntamente com os nomes a que s˜o dados `s Sephiroth: Khether, Chokmah, Binah, Chesed, Geburah, a a Thiphereth, Netsach, Hod, Iesod e Malkhuth. A cria¸˜o divina ´ entendida como a emana¸ao das Sephiroth, desde a ca e c˜ mais elevada, at´ a mais inferior. Khether, a Sephira mais elevada, est´ e a imersa na Luz de Ain Soph Aur (por isto muitas vezes n˜o ´ considerado a e uma Sephira). Assim, cada Sephira recebe luz das que est˜o acima e envia luz para a as inferiores. Uma Sephira ´ considerada masculina quando fornece luz e e feminina quando recebe, por compara¸˜o ao homem que fornece o sˆmen ca e para a mulher. Khether, por estar imersa em Ain Soph Aur, n˜o recebe luz de nenhu- a ma Sephira, apenas fornece. Malkhuth ´ a Sephira mais obscura, por isto e ´ associada ao mundo material. Ela ´ associada a Shekhinah (exilada) e e e ´ considerada feminina, pois s´ recebe luz, sem fornecer a nenhuma outra e o Sephira.
  • 18. ´ A ARVORE DA VIDA 18 ´ A Arvore da Vida ´ organizada em trˆs pilares ou colunas: e e Pilar esquerdo feminino – Justi¸a – Binah, Geburah, Hod; c Pilar central neutro – Temperan¸a – Khether, Thiphereth, Iesod, Malkhuth; c Pilar direito masculino – Miseric´rdia – Chokmah, Chesed, Netsach. o N˜o s´ as colunas, mas tamb´m as Sephiroth s˜o consideradas masculinas a o e a ou femininas. Duas Sephiroth que s˜o marcantemente associadas ao femini- a no s˜o Binah e Malkhuth. Uma das raz˜es para que a Sephira Binah seja a o considerada feminina ´ que ela ´ a primeira Sephira da coluna da esquerda e e (a Sephira mais elevada deste pilar). ´ Existem trˆs formas diferentes de representar a Arvore da Vida: e 1. Como o corpo de um homem, como mostrado nas Figuras 6 e 7, enfa- ´ tizando o aspecto orgˆnico da Arvore da Vida; a 2. Como uma seq¨ˆncia de emana¸˜es progressivamente mais materiais e ue co imperfeitas (Figura 8); 3. Como as cascas de uma cebola, em que as Sephiroth mais no exterior est˜o mais pr´ximas do mundo material e da imperfei¸˜o (veja Figu- a o ca ra 9). ´ A Figura 7 ilustra as partes da Arvore da Vida, como se fossem partes de um corpo humano (antropomorfismo). Como j´ dissemos, entre as Sephiroth, a duas s˜o associadas ao feminino, Binah e Malkhuth. A primeira ´ chamada a e de M˜e, e a segunda ´ chamada de Noiva. Assim, naturalmente a Sephira a e Iesod, por ser a unica que se comunica com Malkhuth, ´ associada ao org˜o ´ e a sexual masculino. Binah ´ chamada de M˜e, pois faz par com Chokmah, que e a e a ´ ´ considerado o Pai, e est´ do lado esquerdo da Arvore da Vida, lado que ´ e considerado feminino. N˜o podemos deixar de enfatizar que existem apenas dez Sephiroth. No a entanto, Khether possui um reflexo abaixo de Chokmah e Binah. Este reflexo ´ a Sephira Daath (Conhecimento), uma quase Sephira. Alguns cabalistas e consideram Daath uma Sephira e desconsideram Khether por ser muito ele- vado (confundindo-se com o pr´prio Ain Soph). De qualquer forma, o total o de Sephiroth nunca ´ diferente de dez. e
  • 19. ´ A ARVORE DA VIDA 19 '!%#$ &" z DDD zz DD zz DD z zz DD zz D '!%2#$QQ &" '!%#$ &" 22 QQQQQ mm
  • 20. mmm
  • 21. 22 QQmmm mQ 22 mmmm QQQQQ
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  • 34. zz '!%#$ &" z DDD zz DD zz DD zz DD zz D '!%#$z &"D '!%#$ &" DD zz DD zz DD zz DD zz D zz '!%#$ &" '!%#$ &" ´ Figura 6: Arvore da Vida na forma de um homem Al´m disto, algumas vezes Malkhuth (Shekhinah) ´ considerada como e e Daath ca´ ´ ıda. Assim, na Arvore ca´ ıda, n˜o se representa Daath e se repre- a ´ senta Malkhuth (veja a Figura 10), e na Arvore da Perfei¸ao n˜o aparece c˜ a Malkhuth e aparece Daath (veja a Figura 11). Um dos objetivos da Kabalah e ´ ıda ´ ´ transformar a Arvore ca´ em uma Arvore da Perfei¸˜o, acabando com o ca ex´ de Shekhinah. ılio Segundo diz o Sepher Ietsirah, “Vinte e duas letras, Ele as gravou, as cortou, as pesou, as permutou, as combinou, e formou com elas a alma de tudo o que foi criado e a alma de tudo o que ser´ criado no futuro.” (Sepher a Ietsirah, Cap´ ıtulo 2, Mishnah 2). Isto significa que a cria¸˜o ´ resultado ca e das combina¸oes e permuta¸˜es das letras do alfabeto hebraico. Isto est´ c˜ co a representado no in´ do Gˆnesis quando aparece diversas vezes a express˜o ıcio e a “Deus disse”. Existem algumas interpreta¸oes que, assim como Deus criou por meio da c˜ palavra, podemos usar da palavra com objetivos m´gicos, por exemplo para a criar um Golem. Outra possibilidade ´ o uso de mantras para induzir estados e alterados de consciˆncia (medita¸˜o). e ca Segue dizendo o Sepher Ietsirah, “Dez Sephiroth do nada, e vinte e duas
  • 35. ´ A ARVORE DA VIDA 20 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ '!%#$ z DDD zz DD zz DD Cabe¸a c / zz DD '!%#$zzz 2QQ D '!%#$ 22 QQQ Q_ Q_ mmmm _
  • 37. _ _ 2 _ Q Qm_ _
  • 38. _ 22 mmmmQQQQ
  • 40. m2 m m QQQ
  • 41. Q Bra¸o esquerdo c '!%#$Dm 22 / m
  • 43. z%o#$ '! Bra¸o direito c DD 22
  • 44. z DD 2 DD 2
  • 46. zzz DD22
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  • 49. _ _ _ _ _D_
  • 50. zzz _ _ _ _ '!%#$D zz DDD / zz DD Ventre zz DD zz DD '!%#$D zz '!%#$ _ _ DDD _ _ _ _ _ _zz _ _ z _ DD z DD zz DD zzz ´ a Org˜o sexual /'!%#$z '!o%#$ Mulher ´ Figura 7: Partes da Arvore da Vida Khether(1) V VVVV VVV* Binah(3) oZZZZZZZZ Chokmah(2) ZZZZZZZZ ZZZZZZZZ ZZZZZ- o Geburah(5) V Chesed(4) VVVVV VV* Thiphereth(6) VVVV VVVV * Hod(8) oVVV Netsach(7) VVVV VVVV * Iesod(9) Malkhuth(10) Figura 8: Seq¨ˆncia de emana¸˜es das Sephiroth ue co
  • 51. ´ A ARVORE DA VIDA 21 M alkhuth Khether Figura 9: Cascas de cebola Khether UUU iiii UUUU iii iiii UUU BinahK K ZZZZZZZ ZZZZZZZ ddddd Chokmah KK ZZZZ ddddd d KK ddddddddddddd ZZZZZZZZZssss ss dd dK K ZZZ GeburahUU KKKK sss UUUU KK sss iiii Chesed ss ii UUU KK sssiiii ThipherethU iii UUUU iiii UUUU iiii U Hod UUUUU i Netsach UUUU iiii UUUU iiiiiii Iesod Malkhuth(Shekhinah) ´ Figura 10: Arvore ca´ ıda
  • 52. ´ A ARVORE DA VIDA 22 i Khether VVVVVV iiii VV iiii Binah UUUU hChokmah UUUU hhhh UU hhhh i Daath VVVVV iiii VVVV iiii Geburah UUU Chesed UUUU iiii iiii ThipherethU i UUUU iiii UU iiii Hod UUUUU Netsach UUUU hhh UU hhhhhhh Iesod ´ Figura 11: Arvore da Perfei¸ao c˜ letras de funda¸˜o, trˆs s˜o m˜es, sete s˜o duplas e doze s˜o simples.” ca e a a a a (Sepher Ietsirah, Cap´ıtulo 1, Mishnah 2). Aqui s˜o feitas associa¸˜es com a co as trˆs letras m˜es, com as sete letras duplas (aquelas que permitem, no e a hebraico, duas pron´ncias, uma fraca e uma forte), e com as doze letras u simples: • As trˆs letras m˜es s˜o: e a a `, a ´lef (ar); n, mˆm (´gua); e e a y, shin (fogo); • 7 ´ associado aos sete planetas sagrados e `s sete dire¸˜es do espa¸o; e a co c • 12 ´ associado aos doze meses do ano, aos doze signos do zod´ e ıaco e `s a doze arestas do cubo do espa¸o. c As sete dire¸oes do espa¸o s˜o: acima, abaixo, norte, sul, leste, oeste e c˜ c a centro. O centro ´ o ponto onde as outras seis dire¸oes se encontram, tamb´m e c˜ e chamado de Lugar Sagrado. O Lugar Sagrado ´ o lugar de Deus, pois Deus e n˜o mora no espa¸o, e sim o espa¸o mora em Deus. Por isto as outras dire¸oes a c c c˜ se encontram no centro. Cabe ainda salientar que um cubo possui doze arestas, associadas `s doze a letras simples e aos signos do zod´ıaco.
  • 53. ´ A ARVORE DA VIDA 23 ca a ´ Com rela¸˜o ` Arvore da Vida e `s trˆs letras m˜es, podemos estabelecer a e a as seguintes associa¸˜es: co e a o ´ • n ´ associado ` coluna da direita – Miseric´rdia – Bem ou Agua do Bem; • y´ associado ` coluna da esquerda – Justi¸a e Rigor – Mal ou Fogo do e a c Mal; • ` ´ associado ` coluna central – Temperan¸a – Ar. e a c Devemos observar que a letra `, a coluna central, e o elemento Ar fazem a concilia¸ao (ou media¸ao) entre as outras colunas e os outros elementos, c˜ c˜ que s˜o opostos (direita, esquerda, bem, mal, ´gua, fogo). Isto estabelece a a um sistema de tese, ant´ ıtese e s´ ıntese, semelhante ` filosofia de Hegel. a Assim, o Sepher Ietsirah estabelece um continuum com cinco dimens˜es. o As trˆs letras m˜es representam a dimens˜o moral (alma). As sete dire¸oes e a a c˜ do espa¸o representam a dimens˜o espacial (mundo). Os doze meses do ano c a representam a dimens˜o temporal (ano). As cinco dimens˜es do continu- a o um s˜o formadas pelas trˆs dimens˜es espaciais (o espa¸o tridimensional), a a e o c dimens˜o temporal (passado e futuro) e a moral (bem e mal). a ´ Associamos o lado esquerdo da Arvore da Vida ao norte, e consequente- mente ao mal pois est´ escrito que “o mal vem do norte” (veja Jeremias a 1:14). Isto n˜o significa que alguma Sephira seja m´, mas que, o lado es- a a querdo sendo associado ` Justi¸a e ao castigo, fornece espa¸o para que o mal a c c se manifeste. Para a Kabalah, Deus tamb´m ´ o criador do mal. Como j´ e e a dissemos, ele o faz para que a vida humana n˜o seja trivializada, para que o a homem tenha livre-arb´ ıtrio. ´ A Arvore da Vida ´ formada por trˆs triˆngulos ou tr´ e e a ıades (veja Figu- ra 12). Cada tr´ıade ´ formada por duas Sephiroth que representam princ´ e ıpios opostos (masculino e feminino) e uma terceira Sephira que faz a concilia¸ao c˜ de ambas (filosofia de Hegel). As duas tr´ıades inferiores (apontando para baixo) s˜o o reflexo da tr´ a ıade superior (apontando para cima). A combina¸ao de um triˆngulo apontando c˜ a para cima e um para baixo forma um conhecido s´ ımbolo, o duplo triˆngulo a de Salom˜o ou estrela de Davi. Na Figura 13 podemos ver este s´ a ımbolo em uma ilustra¸ao de Eliphas Levi (famoso cabalista e ocultista de meados do c˜ s´culo XIX). Observemos na figura que o anci˜o de baixo ´ o reflexo invertido e a e do anci˜o acima. Isto lembra o que falamos sobre o preceito “assim em cima a como embaixo”.
  • 54. ´ A ARVORE DA VIDA 24 Khether(=) ll RRRR lll RRRR lll R Binah(−) Chokmah(+) Geburah(−) R Chesed(+) RRR l RRR llll R llll Thiphereth(=) Hod(−) Netsach(+) RRR l RRR llll RR llll Iesod(=) Malkhuth Figura 12: Tr´ ´ ıades na Arvore da Vida Este mesmo s´ ımbolo aparece, de forma sutil e dissimulada, em um dos mais importantes e representativos emblemas da Ma¸onaria, formando-se da c jun¸ao do esquadro e o compasso (veja Figura 14). c˜ O significado de cada uma das Sephiroth ´ apresentado na Tabela 5. e Tamb´m na mesma tabela s˜o apresentadas as associa¸oes das Sephiroth e a c˜ com personagens b´ ıblicos. Com rela¸˜o ainda a esta tabela devemos observar que Khether ´ asso- ca e ciado ` Vontade de Deus e que, segundo a Kabalah, no princ´ a ıpio, antes da cria¸ao, s´ existia Deus e a Sua Vontade (Ain Soph e Khether). c˜ o Lembremos que Binah e Malkhuth s˜o Sephiroth femininas (chamadas a de M˜e superior e M˜e inferior). Na tabela podemos perceber que o unico a a ´ personagem feminino ´ Lea, que ´ associada ` Binah. Lea ´ um personagem e e a e b´ıblico que teve sete filhos, seis homens (as seis Sephiroth seguintes) e uma mulher (a Sephira restante, Malkhuth). Consistente com estas atribui¸˜es, Malkhuth ´ associada ` Lua, que ´ co e a e feminina, e Thiphereth ao Sol, masculino. A Lua ´ feminina pois recebe e toda a sua luz do Sol, assim como a mulher recebe o sˆmen do homem. e A Tabela 6 apresenta a associa¸ao entre os nomes das Sephiroth no Zohar c˜ e no Sepher Ietsirah. Observemos que no Sepher Ietsirah n˜o h´ a Sephira a a
  • 55. ´ A ARVORE DA VIDA 25 Figura 13: Duplo triˆngulo de Salom˜o a a Figura 14: S´ ımbolo ma¸onico cˆ
  • 56. ´ A ARVORE DA VIDA 26 Tabela 5: Significado das Sephiroth e associa¸oes com personagens b´ c˜ ıblicos Sephira Significado Personagem b´ ıblico Observa¸ao c˜ Khether, xzk Coroa Vontade de Deus Chokmah, dnkg Sabedoria Binah, dpia Compreens˜oa Lea Chesed, cqg Bondade Abra˜o a Geburah, dgeab Coragem Isaac Thiphereth, z`xtz Beleza Jac´ o Sol Netsach, gvp Eternidade Mois´se Hod, ced Gl´ria o Ar˜o a Iesod, ceqi Funda¸˜o ca Sustenta¸ao c˜ Malkhuth, zekln Reino Lua Malkhuth. Al´m disto, segundo o Sepher Ietsirah, as Sephiroth emanaram e ´ aos pares: Acima e Abaixo; Leste e Oeste; Norte e Sul; Primeiro e Ultimo; e ´ Agua e Fogo. Considerando a cria¸˜o do mundo, as trˆs primeiras Sephiroth s˜o associ- ca e a adas ao criador, enquanto que as sete Sephiroth inferiores s˜o associadas aos a sete dias da cria¸ao. Isto significa que a cria¸ao inicia pela Vontade de Deus c˜ c˜ (Khether), torna-se a¸˜o criadora em Chokmah e Binah e realiza-se nas sete ca Sephiroth inferiores. Malkhuth ´ associada ao Shabath (o dia do descanso do Senhor), pois e representa a consuma¸˜o da Vontade de Deus, o t´rmino da cria¸˜o. Final- ca e ca mente, Iesod ´ considerado o pilar que sustenta o mundo (Funda¸ao), pois ´ a e c˜ e unica Sephira que se comunica com Malkhuth, que, por sua vez, ´ associada ´ e ao mundo material por ser a mais pr´xima deste. o ´ Os nomes das Sephiroth no Sepher Ietsirah sugerem uma Arvore da Vida tridimensional, como a mostrada na Figura 15. a e e ´ Assim como nas letras do ´lef-bˆt, tamb´m na Arvore da Vida podemos identificar as trˆs dimens˜es espacial, moral e temporal: e o Dimens˜o espacial Sephiroth direcionais; a ´ Dimens˜o moral Agua do Bem e Fogo do Mal; a a ´ Dimens˜o temporal Primeiro e Ultimo (ou Come¸o e Fim). c
  • 57. ´ A ARVORE DA VIDA 27 Tabela 6: Nomes das Sephiroth no Zohar e Sepher Ietsirah Sephiroth (Nomes e Associa¸oes) c˜ Zohar Sepher Ietsirah Associa¸oes c˜ Khether Acima Chokmah Leste Criador Binah Norte Daath Primeiro Chesed ´ Agua 1o dia Geburah Fogo 2o Thiphereth ´ Ultimo 3o Netsach Sul 4o Dias da cria¸˜o ca o Hod Oeste 5 Iesod Abaixo 6o Pilar de sustenta¸ao c˜ o Malkhuth 7 (Shabath) Mundo material Descanso de Deus Acima Sephiroth direcionais W P´tio interno a WWWW+ x xx xx xx Oeste Primeiro xxx Norte xx ´ Agua {xx Fogo Sul ´ Ultimo Leste Abaixo ´ Figura 15: Arvore da Vida 3D (Sepher Ietsirah)
  • 58. ´ A ARVORE DA VIDA 28 qccccccc Face Grande ii'!%#$UUUUUU iiii UUUU iiii UUU '!$#Kii ZZZ % iZZ ZK '!$# % K ZZZZZZZ dddddddddddd ss _ _ _ KKd_ d_ d_d_d_dZZZZZZZZsss_ _ _ Z _ KK d d d dZ_ _ _ _sZ _ % dddd dK '!$#UUUUUU KKKK ss ZZZ'!$# % ss iiiiii UUUU KK UUU sss ii ss ii K iii '!%#$ iiii UUUUUUU ii iiii UUUU '!$#iii % UUU UU'!$# i % UUUU ii UUUU iiii UU'!%#$iiiiii _ _ _ _ :_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ u uuu '!%#$ Face Pequena Figura 16: Face Grande e Face Pequena ´ Na Arvore da Vida, Khether representa a Face Grande, enquanto que as seis Sephiroth em torno de Thiphereth formam a Face Pequena (veja e ´ Figura 16). Al´m disto, a Arvore da Vida ´ considerada o “corpo” de Adam e Kadmon, o Ser Absoluto Manifestado ou Homem Primordial (veja Figura 17), que na filosofia da ´ India, a vedanta, ´ chamado de Purusha. Dele se diz que e tem a Coroa (Khether) sobre a sua cabe¸a e o Reino (Malkhuth) aos seus c p´s. e ´ Resumindo os diversos partsufim (faces) na Arvore da Vida: Face Grande ou Macroprosopus Khether Pai de Microprosopus ou Aba Chokmah M˜e de Microprosopus ou Ima Binah a Face Pequena ou Microprosopus Chesed, Geburah, Thiphereth, Netsach, Hod, Iesod Noiva de Microprosopus Malkhuth ou Shekhinah O Microprosopus (Face Pequena) possui dois lados, masculino e feminino, sendo assim andr´gino. J´ por sua vez o Macroprosopus (Face Grande) possui o a apenas um lado, apenas a face e o olho direito est˜o vis´ a ıveis, pois o lado esquerdo est´ oculto em Ain Soph. Assim, o Macroprosopus est´ entre Ain a a Soph e a manifesta¸ao. Sobre isto se diz que “Esta ´ a tradi¸˜o: Se o Olho c˜ e ca
  • 59. ´ A ARVORE DA VIDA 29 '!%#$ z DDD zz DD zz DD z zz DD zz D '!%2#$QQ '!%#$ 22 QQQQQ mm
  • 60. mmm
  • 61. 22 QQmmm mQ 22 mmmm QQQQQ
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  • 65. Q m '!%#$D 2 DD 22
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  • 70. z DD 2 DD22
  • 73. zz z D
  • 74. zz '!%#$ z DDD zz DD zz DD zz DD zz D '!%#$z D '!%#$ DD zz DD zz DD zz DD zz D zz '!%#$ '!%#$ Figura 17: Adam Kadmon se fechasse ao menos por um momento, nada poderia subsistir. Portanto, Ele ´ chamado Olho Aberto, Olho Sagrado, Olho Excelente, Olho do Destino, e o Olho que n˜o dorme nem cochila, o Olho que ´ o Guardi˜o de todas as a e a coisas, o Olho que ´ a substˆncia de todas as coisas.” (Zohar, Idra Rabba e a Kadisha 136 e 137) Este olho, cuja representa¸˜o no ´lef-bˆt ´ a letra ´in (cujo pictograma ´ ca a e e a e um olho – consulte tamb´m a Tabela 4), aparece como um dos mais impor- e tantes s´ımbolos ma¸onicos, o Olho que tudo vˆ, mostrado na Figura 18. c e Na Tabela 7 apresentamos a associa¸ao entre as Sephiroth e as letras c˜ do Tetragrammaton. Observe-se que as duas letras hei (d) de IHVH s˜o a associadas `s duas Sephiroth consideradas femininas. Lembremos que a letra a hei ´ uma letra relacionada com o feminino, como ´ indicado na coluna de e e observa¸˜es da Tabela 1. V´v (e), cujo valor gem´trico ´ 6, ´ associada `s co a a e e a seis Sephiroth da Face Pequena. A Sephira Khether n˜o ´ associada a nenhuma letra em particular pois, a e sendo a Face Grande, cont´m ela todo o Tetragrammaton. A associa¸ao e c˜ feita ´ com o ponto superior da letra iud (i) – a letra iud ´ parecida com uma e e v´ırgula, come¸ando em cima com um ponto. Este ´ o ponto primordial, de c e
  • 75. ´ A ARVORE DA VIDA 30 Figura 18: Olho que tudo vˆ e onde tudo emana. Podemos apresentar uma vers˜o antropomorfizada do Tetragrammaton. a Isto ´ chamado de Iosher (veja a Tabela 8). Neste caso, a letra iud ´ associada e e ` cabe¸a, o primeiro hei aos bra¸os, o v´v ao tronco e o segundo hei `s pernas a c c a a do Iosher. Uma imagem bastante inspiradora ´ o Iosher dentro do Leviat˜, mostrada e a na Figura 19. Nesta figura, o antropomorfismo do Iosher ´ mais exagerado. e A serpente mordendo o pr´prio rabo, circundando o Iosher, ´ chamada de o e Ouroboros na alquimia e Leviat˜ no juda´ a ısmo. A interpreta¸˜o que se atribui ` esta imagem ´ que o Leviat˜ ´ o limite ca a e ae entre o N˜o Manifestado (Ain Soph) e o manifestado. Assim, toda a ´rea a a externa ao Leviat˜ ´ Ain Soph, e a ´rea escura, onde se encontra o Iosher, ´ ae a e o tsimtsum (pleroma). Observe que o Iosher ´ formado pelas gotas de veneno que escorrem das e mand´ ıbulas do Leviat˜ – o Raio de Luz, vindo da Luz Ilimitada (Ain Soph a Aur), atrav´s do centro que ´ Khether. e e Isto tem semelhan¸a com a hist´ria b´ c o ıblica de Jonas (Ionah, dpei) dentro do grande peixe. Interessante observar que o nome dpei ´ uma permuta¸ao e c˜ de IHVH (dedi), com a troca de apenas uma letra. Gostariamos de apresentar uma pequena par´bola. Esta par´bola ´ ilustra- a a e
  • 76. ´ A ARVORE DA VIDA 31 Tabela 7: Associa¸˜o das Sephiroth com as letras do Tetragrammaton ca Sephiroth Letra Khether o ponto superior de i Chokmah i Binah d Chesed, Geburah, Thiphereth, Netsach, Hod, Iesod e Malkhuth d Tabela 8: Iosher formado com as letras de IHVH Iosher Cabe¸a i c Bra¸os d c Tronco e Pernas d Figura 19: Iosher circundado pelo Leviat˜ a
  • 77. ´ A ARVORE DA VIDA 32 Figura 20: Entrada do cinema da nas Figuras 20 e 21. Imagine o p´blico em frente a um cinema, comprando u os ingressos para um grande e esperado lan¸amento (Figura 20). Ent˜o, o c a p´blico entra na sala de cinema, aguardando o t˜o esperado filme (Figu- u a ra 21). Dentro em pouco, a audiˆncia estar´ envolvida pela ilus˜o criada e a a pelo filme. Alguns chorar˜o em cenas tristes, outros vibrar˜o com o mocinho a a e a mocinha, como se tudo isto fosse real. Todos estar˜o fascinados pela a ilus˜o do filme. a Os elementos que formam esta par´bola s˜o interpretados da seguinte a a forma: Tudo fora do cinema Ain (ou Ain Soph); O interior do cinema Tsimtsum; Paredes do cinema Leviat˜; a Projecionista Face Grande; Projetor Face Pequena; Filme e pessoas assistindo Ilus˜o (no budismo: maya). a
  • 78. OS MUNDOS DA KABALAH 33 Figura 21: P´blico aguardando o filme u Isto significa que somos uma ilus˜o na mente da Face Grande! Nossas a vidas e n´s pr´prios (a nossa individualidade) s˜o simples ilus˜o (no budismo, o o a a a express˜o usada para isto ´ maya). A reden¸˜o ´ o despertar desta ilus˜o, a e ca e a saindo pela porta que leva para fora do cinema. Interessante notar que esta par´bola apresenta os mesmos contornos do a mito da caverna de Plat˜o. Neste mito, as pessoas est˜o dentro de uma a a caverna e acreditam que as sombras projetadas no fundo da caverna s˜o a a realidade, n˜o percebendo que existe um mundo fora da caverna. a Os mundos da Kabalah A Kabalah divide a manifesta¸˜o divina em quatro mundos: Atziluth ca (emana¸ao), Briah (cria¸ao), Ietsirah (forma¸ao) e Assiah (a¸ao). Os caba- c˜ c˜ c˜ c˜ listas afirmam que a passagem b´ ıblica que diz “a todos os que s˜o chamados a pelo meu nome, e os que, para minha gl´ria [Atziluth], criei [Briah], e que o formei [Ietsirah] e fiz [Assiah].” (Isa´ 43:7) ´ uma referˆncia a estes quatro ıas e e mundos. Cada mundo ´ progressivamente mais material e imperfeito que o anterior, e em uma escala decrescente. Estes mundos s˜o como planos que se sobrep˜em. a o O mundo de Assiah ´ o mundo fenomenol´gico, o mundo da a¸ao, sendo e o c˜ aquele correspondente ao que percebemos com os nossos sentidos f´ ısicos. Os outros trˆs mundos s˜o mundos mais sutis e espirituais que n˜o podem ser e a a percebidos com os sentidos f´ısicos. O mundo de Atziluth ´ o mais elevado de e