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ELEMENTOS DE ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO
                  PRÁTICA DE CAMPO



“A ciência é mais do que um corpo de conhecimento, é um modo de pensar.
(...) O modo científico de pensar é ao mesmo tempo imaginativo e
disciplinado. Isso é fundamental para o seu sucesso. A ciência nos convida
a acolher os fatos, mesmo quando eles não se ajustam às nossas
preconcepções. Aconselha-nos a guardar hipóteses alternativas em nossas
mentes, para ver qual se adapta melhor a realidade. Impõe-nos um
equilíbrio delicado entre uma abertura sem barreiras para ideias novas, por
mais heréticas que sejam, e o exame cético mais rigoroso de tudo – das
novas ideias e do conhecimento estabelecido.”

                         Carl Sagan – O Mundo Assombrado por Demônios



INTRODUÇÃO


O que é ciência?

       Como muitas palavras comuns no dia-a-dia das pessoas, o termo
“ciência” é muito falado, porém pouco compreendido. Contudo, podemos
iniciar afirmando que ciência é a forma através da qual o homem procura
entender o mundo. Além de descrever os padrões do mundo natural e
inanimado, a ciência é responsável por testar estes padrões. Estes testes
devem ser feitos de forma repetida, por investigadores diferentes e através
de métodos distintos. Cada vez que um fato é confirmado, reforça a
probabilidade de este ser “verdadeiro”. Cada vez que um teste não é
confirmado, aumenta a probabilidade de a teoria concorrente ser
“verdadeira”. A busca pela “verdade” absoluta sobre um fato pode ser
considerada um dos principais objetivos da ciência, mas este posto
raramente é alcançado e leva muito tempo para ser atingido. Mesmo teorias
como a evolução por seleção natural de Charles Darwin e Alfred Wallace
(repetidamente confirmadas há mais de 150 anos, o que as leva atualmente
ao status de “fato” e não somente teoria) ainda estão sujeitas a ataques, o que
mostra a dificuldade de estabelecermos a “verdade” na ciência.

Qual é o objetivo da ciência?

   O filósofo da ciência Karl Popper definiu que “(...) a meta da ciência é
encontrar explicações satisfatórias de qualquer coisa que nos impressione
como necessitando de explicação”. Ele defende que a ciência busca não só
encontrar explicações de fatos ainda não explicados, mas também melhorar
o grau de satisfação das explicações. Podemos construir explicações
melhores fazendo com que a ciência constantemente se renove. Tendo essa
meta, podemos dizer que os principais objetivos da ciência são satisfazer a
curiosidade dos seres humanos e mudar o mundo em que vivemos. Ter uma
visão científica do mundo nos ajuda a compreender de forma mais clara a
natureza, o nos que leva pensar em caminhos e construir ferramentas para
nos ajudarem a melhorar nossa qualidade de vida e até a propor soluções
para problemas que encontramos.

Como podemos fazer ciência?

    As primeiras tentativas de explicar o mundo natural invocavam o
sobrenatural. Os antigos gregos deram início a uma abordagem diferente,
tentando explicar o mundo através das forças naturais. Os gregos basearam
suas explicações em principalmente observação e reflexão. O terceiro tipo de
esforço explicativo foi a ciência moderna, que é determinada pelo teste de
explicações formuladas previamente. O cientista formula explicações sobre
o que não é bem conhecido ou compreendido e tenta respondê-las. A
primeira resposta é chamada de conjectura ou hipótese (de hypos = abaixo;
thesis = proposição, ideia, ou seja, uma ideia ainda não considerada fato,
verdade), e serve como uma tentativa de explicação. Mas não basta apenas
ter uma explicação. É preciso se certificar que a resposta é verdadeira, ou
pelo menos é o mais próximo possível da verdade, tomando por base o
conhecimento disponível. Uma discussão antiga e que perdura até hoje é
sobre como essa hipótese deve ser construída e testada. Um fato que muitos
filósofos da ciência e cientistas concordam é que a ciência é um processo
que se dá em dois passos. O primeiro envolve a descoberta de novos fatos,
irregularidades, exceções ou aparentemente contradições na natureza e a
formação de hipóteses para explicá-los. O segundo diz respeito à
justificativa – os procedimentos por meio dos quais as hipóteses são testadas
e posteriormente validadas ou refutadas. Desta forma, para fazer ciência,
precisamos praticar a descoberta e a justificativa de explicações sobre a
natureza.

Onde vamos praticar ciência?

       Ao contrário do que muitas vezes imaginamos, fazer ciência nem
sempre requer laboratórios sofisticados e equipamentos caros. Muitos
estudos podem ser desenvolvidos ao ar livre e com materiais simples, os
quais podem ser inclusive confeccionados pelo próprio pesquisador. Em
países como o nosso, onde infelizmente os recursos para pesquisa já foram
bastante escassos, pesquisas em ecologia não raro são feitas em locais que
variam desde jardins urbanos a parques nacionais, com materiais como sacos
e potes plásticos, régua, lupa de mão, estacas de madeira, álcool, etiquetas,
lápis, papel e prancheta. Nem por isso estes estudos são inferiores ou
possuem menos valia em comparação àqueles realizados com mais recursos.
       Deste modo, qualquer ambiente próximo à sua residência ou ao seu
polo – seja ele alterado pelo homem ou não – é um local potencial para
realizarmos pesquisas em ecologia. Basta formularmos uma pergunta clara
para respondermos e dispormos de materiais e métodos adequados para
nortear o nosso proceder.

MÉTODO

       Depois de refletirmos sobre ciência e conhecermos nossa área de
trabalho, vamos tentar colocar em prática o “modo de pensar” científico.
Forme uma dupla ou trio (no máximo) e tente explorar o ambiente no qual
você se encontra. Siga os passos abaixo e não deixe de discutir com os
outros grupos e com o tutor sobre as suas ideias e hipóteses. A discussão
sobre qualquer padrão encontrado é válida.


Passo 1: Observação
      Utilizando conscientemente os seus sentidos, devemos caminhar pelo
ambiente observando atentamente seus elementos. É importante manter um
olhar curioso, investigativo e questionador, não apenas contemplativo. Nesta
parte da prática, procure formular tantas perguntas quanto puder, para que
possa escolher a melhor para trabalhar. Aproveite para relembrar todos os
assuntos abordados até este momento em seus estudos de Elementos de
Ecologia e Conservação e procure fazer associações com o que está
observando em campo.

Passo 2: Identificação de um padrão ou objeto de interesse
       A partir dos elementos observados e das questões formuladas,
identifique um padrão: algo que se repita de maneira regular no ambiente; ou
escolha um objeto (um tipo de pedra, de solo, de animais, de danos em
folhas, tons da vegetação, alturas das plantas, entre vários outros) ou algo
que achar particularmente intrigante. Focalize-se na sua escolha e procure
descreve-la com o máximo de atenção.

Passo 3: Pausa para discussão
      Neste momento todos os grupos e o tutor devem se reunir para discutir
os padrões levantados. Seriam os padrões encontrados passíveis de teste? Se
após a discussão o padrão não for válido e o grupo for convencido deste fato,
um novo padrão terá que ser escolhido. Após o novo padrão ser escolhido o
grupo pode seguir para o passo 4.

Passo 4: Formulação de um problema
       Nesta parte você deve se questionar acerca do padrão encontrado: Por
que ele ocorre? Onde ele ocorre? Como se desenvolve? A formulação
correta de um problema irá facilitar muito os passos seguintes.

Passo 5: Elaboração de uma hipótese
      Por definição, uma hipótese é o enunciado de uma solução
estabelecida provisoriamente para um dado problema. Ao estabelecer uma
hipótese, você estará fazendo uma previsão sobre o seu objeto de pesquisa,
que deverá ser confirmada ou refutada por meio de evidências
experimentais.
Passo 6: Proposição de um método
       Agora, seu grupo deverá debater sobre as melhores abordagens
experimentais para se testar a hipótese. Como não teremos tempo de realizar
os experimentos, você deve apenas avaliar as possibilidades. Você poderá
propor abordagens ousadas, mas tenha em mente que sua abordagem deverá
ter coerência com a ciência e utilizar mecanismos possíveis.

Passo 7: Debate e avaliação do trabalho
       Depois de formulado o seu método é hora de apresentá-lo aos seus
companheiros de trabalho. Procure ouvir atentamente e anotar as críticas e
sugestões dadas por seus colegas e pelo tutor. Muitas vezes, é neste passo
que surgem as melhores ideias. Lembre-se de que sua ideia deve ser
defendida, mas não a qualquer custo. Considerar as colocações alheias e
manter a coerência são essenciais para fazermos boa ciência.
       Após o campo, lembre que qualquer dúvida em relação ao padrão,
hipótese ou método levantado pelo grupo pode ser discutida tanto com o
tutor presencial do seu polo como com os tutores à distância.

O RELATÓRIO DE CAMPO DEVE CONTER:

- INTRODUÇÃO: deve ser elaborada a partir de uma pesquisa bibliográfica
(principalmente através de livros e artigos científicos/divulgação) efetuada
pelo grupo, dissertando brevemente sobre o contexto do ambiente e do
padrão escolhido. O grupo deve falar sobre as especificidades do ambiente
em questão e a importância do padrão escolhido, além de relatar como foi
observado e identificado este padrão;
- OBJETIVO: enumerar os pontos a serem atingidos na prática;
- HIPÓTESE: descrever a hipótese a ser testada sobre o padrão observado;
- MÉTODO: propor um método para testar a hipótese formulada;
- RESULTADOS: mencionar os resultados possíveis e / ou esperados do
teste da hipótese;
- CONCLUSÃO: tecer considerações finais sobre o ambiente observado, da
importância deste tipo de trabalho para consolidação de sua aprendizagem e
demais colocações que julgar necessárias;
- BIBLIOGRAFIA: citar as fontes em que o grupo se baseou para fazer a
pesquisa bibliográfica.
BIBLIOGRAFIA

AUTORES DIVERSOS. Nova Enciclopédia Barsa. São Paulo, Encyclopaedia Britannica
    do Brasil Publicações, 1997-2000. 18 v.
MAYR, ERNST. Isto é Biologia. São Paulo, Companhia das Letras, 2008.
MAYR, ERNST. Biologia, Ciência Única. São Paulo, Companhia das Letras, 2005.
POPPER, KARL. Conhecimento Objetivo. Itatiaia, EDUSP, 1975.
POPPER, KARL. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo, Melhoramentos, 1975.
SAGAN, CARL. O Mundo Assombrado Pelos Demônios. São Paulo, Companhia das
    Letras, 2007.
APÊNDICE 1: Formulário para preenchimento do relatório de campo
Prática de Campo: Elementos de Ecologia e Conservação
Integrantes: ________________________________________ RA: _________________
             ________________________________________ RA: _________________
             ________________________________________ RA: _________________
Pólo:__________________________ Tutor Presencial: __________________________
Localidade Visitada: ___________________________________ Data: ____/____/_____

1. Introdução:
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
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_______________________________________________________________________
_______________
2. Objetivo:
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
____
3. Hipótese:
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
____4. Método:
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

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  • 1. ELEMENTOS DE ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO PRÁTICA DE CAMPO “A ciência é mais do que um corpo de conhecimento, é um modo de pensar. (...) O modo científico de pensar é ao mesmo tempo imaginativo e disciplinado. Isso é fundamental para o seu sucesso. A ciência nos convida a acolher os fatos, mesmo quando eles não se ajustam às nossas preconcepções. Aconselha-nos a guardar hipóteses alternativas em nossas mentes, para ver qual se adapta melhor a realidade. Impõe-nos um equilíbrio delicado entre uma abertura sem barreiras para ideias novas, por mais heréticas que sejam, e o exame cético mais rigoroso de tudo – das novas ideias e do conhecimento estabelecido.” Carl Sagan – O Mundo Assombrado por Demônios INTRODUÇÃO O que é ciência? Como muitas palavras comuns no dia-a-dia das pessoas, o termo “ciência” é muito falado, porém pouco compreendido. Contudo, podemos iniciar afirmando que ciência é a forma através da qual o homem procura entender o mundo. Além de descrever os padrões do mundo natural e inanimado, a ciência é responsável por testar estes padrões. Estes testes devem ser feitos de forma repetida, por investigadores diferentes e através de métodos distintos. Cada vez que um fato é confirmado, reforça a probabilidade de este ser “verdadeiro”. Cada vez que um teste não é confirmado, aumenta a probabilidade de a teoria concorrente ser “verdadeira”. A busca pela “verdade” absoluta sobre um fato pode ser considerada um dos principais objetivos da ciência, mas este posto raramente é alcançado e leva muito tempo para ser atingido. Mesmo teorias como a evolução por seleção natural de Charles Darwin e Alfred Wallace
  • 2. (repetidamente confirmadas há mais de 150 anos, o que as leva atualmente ao status de “fato” e não somente teoria) ainda estão sujeitas a ataques, o que mostra a dificuldade de estabelecermos a “verdade” na ciência. Qual é o objetivo da ciência? O filósofo da ciência Karl Popper definiu que “(...) a meta da ciência é encontrar explicações satisfatórias de qualquer coisa que nos impressione como necessitando de explicação”. Ele defende que a ciência busca não só encontrar explicações de fatos ainda não explicados, mas também melhorar o grau de satisfação das explicações. Podemos construir explicações melhores fazendo com que a ciência constantemente se renove. Tendo essa meta, podemos dizer que os principais objetivos da ciência são satisfazer a curiosidade dos seres humanos e mudar o mundo em que vivemos. Ter uma visão científica do mundo nos ajuda a compreender de forma mais clara a natureza, o nos que leva pensar em caminhos e construir ferramentas para nos ajudarem a melhorar nossa qualidade de vida e até a propor soluções para problemas que encontramos. Como podemos fazer ciência? As primeiras tentativas de explicar o mundo natural invocavam o sobrenatural. Os antigos gregos deram início a uma abordagem diferente, tentando explicar o mundo através das forças naturais. Os gregos basearam suas explicações em principalmente observação e reflexão. O terceiro tipo de esforço explicativo foi a ciência moderna, que é determinada pelo teste de explicações formuladas previamente. O cientista formula explicações sobre o que não é bem conhecido ou compreendido e tenta respondê-las. A primeira resposta é chamada de conjectura ou hipótese (de hypos = abaixo; thesis = proposição, ideia, ou seja, uma ideia ainda não considerada fato, verdade), e serve como uma tentativa de explicação. Mas não basta apenas ter uma explicação. É preciso se certificar que a resposta é verdadeira, ou pelo menos é o mais próximo possível da verdade, tomando por base o conhecimento disponível. Uma discussão antiga e que perdura até hoje é sobre como essa hipótese deve ser construída e testada. Um fato que muitos filósofos da ciência e cientistas concordam é que a ciência é um processo que se dá em dois passos. O primeiro envolve a descoberta de novos fatos,
  • 3. irregularidades, exceções ou aparentemente contradições na natureza e a formação de hipóteses para explicá-los. O segundo diz respeito à justificativa – os procedimentos por meio dos quais as hipóteses são testadas e posteriormente validadas ou refutadas. Desta forma, para fazer ciência, precisamos praticar a descoberta e a justificativa de explicações sobre a natureza. Onde vamos praticar ciência? Ao contrário do que muitas vezes imaginamos, fazer ciência nem sempre requer laboratórios sofisticados e equipamentos caros. Muitos estudos podem ser desenvolvidos ao ar livre e com materiais simples, os quais podem ser inclusive confeccionados pelo próprio pesquisador. Em países como o nosso, onde infelizmente os recursos para pesquisa já foram bastante escassos, pesquisas em ecologia não raro são feitas em locais que variam desde jardins urbanos a parques nacionais, com materiais como sacos e potes plásticos, régua, lupa de mão, estacas de madeira, álcool, etiquetas, lápis, papel e prancheta. Nem por isso estes estudos são inferiores ou possuem menos valia em comparação àqueles realizados com mais recursos. Deste modo, qualquer ambiente próximo à sua residência ou ao seu polo – seja ele alterado pelo homem ou não – é um local potencial para realizarmos pesquisas em ecologia. Basta formularmos uma pergunta clara para respondermos e dispormos de materiais e métodos adequados para nortear o nosso proceder. MÉTODO Depois de refletirmos sobre ciência e conhecermos nossa área de trabalho, vamos tentar colocar em prática o “modo de pensar” científico. Forme uma dupla ou trio (no máximo) e tente explorar o ambiente no qual você se encontra. Siga os passos abaixo e não deixe de discutir com os outros grupos e com o tutor sobre as suas ideias e hipóteses. A discussão sobre qualquer padrão encontrado é válida. Passo 1: Observação Utilizando conscientemente os seus sentidos, devemos caminhar pelo ambiente observando atentamente seus elementos. É importante manter um
  • 4. olhar curioso, investigativo e questionador, não apenas contemplativo. Nesta parte da prática, procure formular tantas perguntas quanto puder, para que possa escolher a melhor para trabalhar. Aproveite para relembrar todos os assuntos abordados até este momento em seus estudos de Elementos de Ecologia e Conservação e procure fazer associações com o que está observando em campo. Passo 2: Identificação de um padrão ou objeto de interesse A partir dos elementos observados e das questões formuladas, identifique um padrão: algo que se repita de maneira regular no ambiente; ou escolha um objeto (um tipo de pedra, de solo, de animais, de danos em folhas, tons da vegetação, alturas das plantas, entre vários outros) ou algo que achar particularmente intrigante. Focalize-se na sua escolha e procure descreve-la com o máximo de atenção. Passo 3: Pausa para discussão Neste momento todos os grupos e o tutor devem se reunir para discutir os padrões levantados. Seriam os padrões encontrados passíveis de teste? Se após a discussão o padrão não for válido e o grupo for convencido deste fato, um novo padrão terá que ser escolhido. Após o novo padrão ser escolhido o grupo pode seguir para o passo 4. Passo 4: Formulação de um problema Nesta parte você deve se questionar acerca do padrão encontrado: Por que ele ocorre? Onde ele ocorre? Como se desenvolve? A formulação correta de um problema irá facilitar muito os passos seguintes. Passo 5: Elaboração de uma hipótese Por definição, uma hipótese é o enunciado de uma solução estabelecida provisoriamente para um dado problema. Ao estabelecer uma hipótese, você estará fazendo uma previsão sobre o seu objeto de pesquisa, que deverá ser confirmada ou refutada por meio de evidências experimentais.
  • 5. Passo 6: Proposição de um método Agora, seu grupo deverá debater sobre as melhores abordagens experimentais para se testar a hipótese. Como não teremos tempo de realizar os experimentos, você deve apenas avaliar as possibilidades. Você poderá propor abordagens ousadas, mas tenha em mente que sua abordagem deverá ter coerência com a ciência e utilizar mecanismos possíveis. Passo 7: Debate e avaliação do trabalho Depois de formulado o seu método é hora de apresentá-lo aos seus companheiros de trabalho. Procure ouvir atentamente e anotar as críticas e sugestões dadas por seus colegas e pelo tutor. Muitas vezes, é neste passo que surgem as melhores ideias. Lembre-se de que sua ideia deve ser defendida, mas não a qualquer custo. Considerar as colocações alheias e manter a coerência são essenciais para fazermos boa ciência. Após o campo, lembre que qualquer dúvida em relação ao padrão, hipótese ou método levantado pelo grupo pode ser discutida tanto com o tutor presencial do seu polo como com os tutores à distância. O RELATÓRIO DE CAMPO DEVE CONTER: - INTRODUÇÃO: deve ser elaborada a partir de uma pesquisa bibliográfica (principalmente através de livros e artigos científicos/divulgação) efetuada pelo grupo, dissertando brevemente sobre o contexto do ambiente e do padrão escolhido. O grupo deve falar sobre as especificidades do ambiente em questão e a importância do padrão escolhido, além de relatar como foi observado e identificado este padrão; - OBJETIVO: enumerar os pontos a serem atingidos na prática; - HIPÓTESE: descrever a hipótese a ser testada sobre o padrão observado; - MÉTODO: propor um método para testar a hipótese formulada; - RESULTADOS: mencionar os resultados possíveis e / ou esperados do teste da hipótese; - CONCLUSÃO: tecer considerações finais sobre o ambiente observado, da importância deste tipo de trabalho para consolidação de sua aprendizagem e demais colocações que julgar necessárias; - BIBLIOGRAFIA: citar as fontes em que o grupo se baseou para fazer a pesquisa bibliográfica.
  • 6. BIBLIOGRAFIA AUTORES DIVERSOS. Nova Enciclopédia Barsa. São Paulo, Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 1997-2000. 18 v. MAYR, ERNST. Isto é Biologia. São Paulo, Companhia das Letras, 2008. MAYR, ERNST. Biologia, Ciência Única. São Paulo, Companhia das Letras, 2005. POPPER, KARL. Conhecimento Objetivo. Itatiaia, EDUSP, 1975. POPPER, KARL. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo, Melhoramentos, 1975. SAGAN, CARL. O Mundo Assombrado Pelos Demônios. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.
  • 7. APÊNDICE 1: Formulário para preenchimento do relatório de campo Prática de Campo: Elementos de Ecologia e Conservação Integrantes: ________________________________________ RA: _________________ ________________________________________ RA: _________________ ________________________________________ RA: _________________ Pólo:__________________________ Tutor Presencial: __________________________ Localidade Visitada: ___________________________________ Data: ____/____/_____ 1. Introdução: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________ 2. Objetivo: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ ____ 3. Hipótese: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ ____4. Método: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________