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Retrato da Sertã e das Gentes da Sertã nos Meses Quentes
“Éramos jovens, falávamos do âmbar ou dos veios de sol espesso onde começa o verão”.
Banhávamo-nos na água, outrora porca do sangue dos Romanos, vigiados mas protegidos
pelo castelo em cima dos montes onde fora defendida e será sempre protegida a liberdade.
Os tempos eram de abundância, nesse dia o próprio tempo era abundante. Mas nem sempre
tivemos tempo. Houve tempos em que tínhamos tudo menos tempo. Tempos em que os
soldados subiam as encostas da vila e enfrentavam os Sertaginenses. Sedentos e
implacáveis, matavam o general Sertório, marido de Celinda e ousavam desafiar a raiva de
uma mulher. Tempo. Quando era primavera e os meses aqueciam, a geada dava lugar à
verdura e as comportas encerradas impediam a água de correr pelo leito. Antes dos melros
cantarem. Antes de ser verão. Antes desta tarde de verão.
De corpo molhado. Se o vento corresse, pedíamos de volta o sol. Quando o sol se tornava
incessante desejávamos o vento e torcíamos para que não se tornasse incómodo. Quando o
desconforto do vento era interrompido pelo calor do sol, vinha com ele o silêncio. Não há
nada como ser aquecido. São raros os dias assim, em que o sol e o vento conspiram contra
as tardes de verão. As semanas correm livremente, as tardes de verão passam debaixo do
calor sem saudade do briol do inverno desalmado. Enquanto vivemos os meses frios é fácil
esquecer que o verão nunca atraiu só o calor à vila. Vindos das cidades, muitas vezes
provenientes de países alheios, vêm os visitantes. Alguns por desorientação, outros atraídos
pelos festivais tradicionais, pela música, pela nacional dois, pela aura pacata do local ou para
visitar os amigos e a família distante. Acolhemos com cordialidade mas raramente nos
inibimos de os julgar e de medir as suas intenções. Notamos os hippies e as suas tendas e
roupas tingidas, livres de responsabilidade, reservados e atenciosos. Familiarizados com a
nudez. Vêm acompanhados pela liberdade e por um cheiro característico a cannabis.
Ouvimos os motards à distância, passamos os olhos pelos turistas, reavemos amigos
imigrados. Ouvimos os ingleses de cabelo branco que dissertam numa de língua de nobres
sobre música e navios. Reparamos nalguns indivíduos que vêm para visitar familiares que
deixaram para trás há algumas gerações. Vêm com felicitações e sorrisos exagerados. As
suas visitas são curtas e calculadas e escassas. Em menos de nada estarão de volta ao seu
microcosmos, aliviados por estarem de regresso. E nós contentes por estarem de regresso.
A fauna da Sertã nos meses quentes é diversa mas, mais cedo ou mais tarde, há de se reunir
toda num único local. A ribeira da Sertã.
Para além dos achigãs e da garça ocasional, converge na ribeira a juventude. Nos montes os
velhos e aquilo que é velho, em baixo aquilo que é novo. Os estudantes e os amantes, os
que ainda sabem que não têm nada a perder, os leitores que passam o dia a olhar para papel
em vez de apreciar a natureza e sentir a água na pele. O nadador salvador ausente e o
empregado do bar ocupado. Seguindo para o centro damos com a casa de espetáculos, com
o bar da Carvalha, com a biblioteca, as lojas e os restaurantes da rua principal. Seguindo
para o topo da vila encontramos a Camara Municipal. Nos montes. Os nossos governantes,
o edifício onde governam. Corre no ar a esperança de que um dia a árvore comece a ouvir
aquilo que os passarinhos cantam. Os velhos hábitos dos velhos nunca nos levaram longe.
Escutem os jovens. A sua obstinação sempre impediu o mundo de regredir. A vila da Sertã é
uma vila de moderados. Das altas esferas, os nossos governadores, dentro das escolas, os
professores, o resto dos habitantes porque todos parecem nascer com a crença de que a
moderação é um interesse generalizado. Chegámos longe, mas só depois dos outros terem
percorrido a mesma distância.
Tu tens um pessimismo penoso e passas pressentimentos perversos aos próximos. Árvores
ardentes. Premonições do desastre. Não te gabes das tuas falhas, filha por linha travessas
do Blues. És tão apegada aos teus problemas, cantas tanto os teus defeitos que hás de te
tornar intratável por opção. Eras mais bonita quando não o fazias. Quando te sentavas nas
margens da ribeira e falavas realmente do âmbar e dos veios de sol espesso. Quando
paravas para observar as correntes e o xisto e sentir o sol. E eu sei que às vezes desejavas
ser como o xisto. Deixar de ser humana. Para o xisto laminado e polido pela água corrente
nas paredes da ribeira, todos os momentos são um momento. O mesmo momento. Para nós
o tempo é uma amálgama. Para o xisto as primeiras coisas nunca serão passadas e o futuro
será sempre contemporâneo do presente. O mesmo momento. Para ti isso deixou de fazer
sentido. Um pressentimento turvo paira sobre nós agora. Repetindo dúvidas gastas e
alimentando discretamente a convicção de que a realidade é um delírio. Mas a cogitação
acaba quando acaba a serenidade e a serenidade nunca durou muito aos indigentes.
Nunca ninguém te ensinou. Nunca ninguém te contou. Quando uma vila é erguida em volta
de uma ribeira, um homem há de construir um barco e tentar seguir o seu curso até se
transformar num rio e do rio até ao mar. Nunca ninguém te lembrou que se a raiva, a obsessão
de uma mulher e uma frigideira com óleo fervente derrotaram um exército, não há arma como
a ignorância e a loucura. Nunca ninguém te contou. Nunca ninguém te disse que onde os
prédios são baixos e onde as estrelas dormem radiantes no céu, o horizonte será o fito dos
sonhos de um homem. Que mesmo estimando as suas origens, deseja outro lugar e pertence
sempre ao lugar onde não está. Que aspira sempre à totalidade daquilo que é infinito. Porque
devaneia na ideia de ir para Dawson City com Smoke Bellew. Embarcar no Hispaniola. Deixar
para trás o leito da ribeira e encontrar-se com as suas águas do outro lado do mundo.
Coragem. Enquanto que tu tens os pés assentes no chão, eu “juro que vejo o meu reflexo
num lugar tão alto acima desta parede.” E eu tento espreitar o outro lado. É fácil sonhar. Em
sonhos e apenas em sonhos não preciso de ser melhor do que sou para ser mais do que sou.
Quando a multidão desaparece e volta a serenidade, voltam as dúvidas gastas. Nem todos
foram feitos para espreitar o outro lado do muro. Nem todos os que espreitam foram feitos
para perceber que não o conseguem atravessar. E se calhar quem vê nunca vai perceber
que aquilo que vê não é o outro lado do muro. Por agora não quero respostas. Não preciso
de respostas. Estou contigo e assim passo os meses quentes na Vila da Sertã.

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Retrato da Sertã e das gentes da Sertã nos meses quentes

  • 1. Retrato da Sertã e das Gentes da Sertã nos Meses Quentes “Éramos jovens, falávamos do âmbar ou dos veios de sol espesso onde começa o verão”. Banhávamo-nos na água, outrora porca do sangue dos Romanos, vigiados mas protegidos pelo castelo em cima dos montes onde fora defendida e será sempre protegida a liberdade. Os tempos eram de abundância, nesse dia o próprio tempo era abundante. Mas nem sempre tivemos tempo. Houve tempos em que tínhamos tudo menos tempo. Tempos em que os soldados subiam as encostas da vila e enfrentavam os Sertaginenses. Sedentos e implacáveis, matavam o general Sertório, marido de Celinda e ousavam desafiar a raiva de uma mulher. Tempo. Quando era primavera e os meses aqueciam, a geada dava lugar à verdura e as comportas encerradas impediam a água de correr pelo leito. Antes dos melros cantarem. Antes de ser verão. Antes desta tarde de verão. De corpo molhado. Se o vento corresse, pedíamos de volta o sol. Quando o sol se tornava incessante desejávamos o vento e torcíamos para que não se tornasse incómodo. Quando o desconforto do vento era interrompido pelo calor do sol, vinha com ele o silêncio. Não há nada como ser aquecido. São raros os dias assim, em que o sol e o vento conspiram contra as tardes de verão. As semanas correm livremente, as tardes de verão passam debaixo do calor sem saudade do briol do inverno desalmado. Enquanto vivemos os meses frios é fácil esquecer que o verão nunca atraiu só o calor à vila. Vindos das cidades, muitas vezes provenientes de países alheios, vêm os visitantes. Alguns por desorientação, outros atraídos pelos festivais tradicionais, pela música, pela nacional dois, pela aura pacata do local ou para visitar os amigos e a família distante. Acolhemos com cordialidade mas raramente nos inibimos de os julgar e de medir as suas intenções. Notamos os hippies e as suas tendas e roupas tingidas, livres de responsabilidade, reservados e atenciosos. Familiarizados com a nudez. Vêm acompanhados pela liberdade e por um cheiro característico a cannabis. Ouvimos os motards à distância, passamos os olhos pelos turistas, reavemos amigos imigrados. Ouvimos os ingleses de cabelo branco que dissertam numa de língua de nobres sobre música e navios. Reparamos nalguns indivíduos que vêm para visitar familiares que deixaram para trás há algumas gerações. Vêm com felicitações e sorrisos exagerados. As suas visitas são curtas e calculadas e escassas. Em menos de nada estarão de volta ao seu microcosmos, aliviados por estarem de regresso. E nós contentes por estarem de regresso. A fauna da Sertã nos meses quentes é diversa mas, mais cedo ou mais tarde, há de se reunir toda num único local. A ribeira da Sertã. Para além dos achigãs e da garça ocasional, converge na ribeira a juventude. Nos montes os velhos e aquilo que é velho, em baixo aquilo que é novo. Os estudantes e os amantes, os que ainda sabem que não têm nada a perder, os leitores que passam o dia a olhar para papel em vez de apreciar a natureza e sentir a água na pele. O nadador salvador ausente e o empregado do bar ocupado. Seguindo para o centro damos com a casa de espetáculos, com o bar da Carvalha, com a biblioteca, as lojas e os restaurantes da rua principal. Seguindo para o topo da vila encontramos a Camara Municipal. Nos montes. Os nossos governantes, o edifício onde governam. Corre no ar a esperança de que um dia a árvore comece a ouvir aquilo que os passarinhos cantam. Os velhos hábitos dos velhos nunca nos levaram longe. Escutem os jovens. A sua obstinação sempre impediu o mundo de regredir. A vila da Sertã é uma vila de moderados. Das altas esferas, os nossos governadores, dentro das escolas, os professores, o resto dos habitantes porque todos parecem nascer com a crença de que a moderação é um interesse generalizado. Chegámos longe, mas só depois dos outros terem percorrido a mesma distância. Tu tens um pessimismo penoso e passas pressentimentos perversos aos próximos. Árvores ardentes. Premonições do desastre. Não te gabes das tuas falhas, filha por linha travessas
  • 2. do Blues. És tão apegada aos teus problemas, cantas tanto os teus defeitos que hás de te tornar intratável por opção. Eras mais bonita quando não o fazias. Quando te sentavas nas margens da ribeira e falavas realmente do âmbar e dos veios de sol espesso. Quando paravas para observar as correntes e o xisto e sentir o sol. E eu sei que às vezes desejavas ser como o xisto. Deixar de ser humana. Para o xisto laminado e polido pela água corrente nas paredes da ribeira, todos os momentos são um momento. O mesmo momento. Para nós o tempo é uma amálgama. Para o xisto as primeiras coisas nunca serão passadas e o futuro será sempre contemporâneo do presente. O mesmo momento. Para ti isso deixou de fazer sentido. Um pressentimento turvo paira sobre nós agora. Repetindo dúvidas gastas e alimentando discretamente a convicção de que a realidade é um delírio. Mas a cogitação acaba quando acaba a serenidade e a serenidade nunca durou muito aos indigentes. Nunca ninguém te ensinou. Nunca ninguém te contou. Quando uma vila é erguida em volta de uma ribeira, um homem há de construir um barco e tentar seguir o seu curso até se transformar num rio e do rio até ao mar. Nunca ninguém te lembrou que se a raiva, a obsessão de uma mulher e uma frigideira com óleo fervente derrotaram um exército, não há arma como a ignorância e a loucura. Nunca ninguém te contou. Nunca ninguém te disse que onde os prédios são baixos e onde as estrelas dormem radiantes no céu, o horizonte será o fito dos sonhos de um homem. Que mesmo estimando as suas origens, deseja outro lugar e pertence sempre ao lugar onde não está. Que aspira sempre à totalidade daquilo que é infinito. Porque devaneia na ideia de ir para Dawson City com Smoke Bellew. Embarcar no Hispaniola. Deixar para trás o leito da ribeira e encontrar-se com as suas águas do outro lado do mundo. Coragem. Enquanto que tu tens os pés assentes no chão, eu “juro que vejo o meu reflexo num lugar tão alto acima desta parede.” E eu tento espreitar o outro lado. É fácil sonhar. Em sonhos e apenas em sonhos não preciso de ser melhor do que sou para ser mais do que sou. Quando a multidão desaparece e volta a serenidade, voltam as dúvidas gastas. Nem todos foram feitos para espreitar o outro lado do muro. Nem todos os que espreitam foram feitos para perceber que não o conseguem atravessar. E se calhar quem vê nunca vai perceber que aquilo que vê não é o outro lado do muro. Por agora não quero respostas. Não preciso de respostas. Estou contigo e assim passo os meses quentes na Vila da Sertã.