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Jorge Barbosa
FILOSOFIA
Curso de Artes Visuais
Fevereiro, 2013




C O N T R I B U TO D E D E S C A R T E S PA R A A F I LO S O F I A
                           MODERNA




    Descartes, logo no início do Discurso do Método, manifesta o seu desencanto por não encontrar
um conhecimento certo em filosofia. Tudo o que estudou lhe parece sem fundamento.

    A história da filosofia mostra uma sucessão inacabada de opiniões, que depois são refutadas
numa sucessão contínua. Por isso, quer empreender, com firmeza e com segurança, a construção de
uma filosofia certa e duradoura. Com esse objetivo, propõe-se eliminar previamente todas as fontes
possíveis de erro e de incerteza. Embora seja sua intenção criticar a filosofia aristotélica, que dominava
na sua época, a verdade é que mantém a divisão de Aristóteles das faculdades da alma: sentidos
exteriores, sentido comum, memória, imaginação e entendimento. Todas essas faculdades, à exceção
do entendimento, funcionam graças à união do corpo com a alma. Os sentidos dependem da ação
dos objetos exteriores, que imprimem neles imagens à maneira de um carimbo em cera. Segundo
Descartes, possuímos uma dupla memória, sensitiva e intelectual. A primeira depende da imaginação,
que está ligada a imagens com origem no corpo, a segunda depende do entendimento. Só o
entendimento é espiritual e pode funcionar separadamente do corpo. Por isso, é a única faculdade
capaz de intuir clara e distintamente as ideias ou as “naturezas simples”1, prescindindo das
imagens e das impressões, e a única a ser capaz de alcançar a verdade. Os sentidos e a imaginação
podem ajudar-nos, mas também podem criar-nos dificuldades.

     A causa principal dos nossos erros provém dos sentidos e da imaginação. Desde a infância, em
que vivemos sob o domínio dos sentidos, adquirimos muitos preconceitos, e é necessário eliminá-los
previamente se quisermos chegar à verdade e à certeza. Daqui resulta a insistência com que
Descartes tenta desligar-se dos sentidos e da imaginação, excluindo da sua investigação todos os
elementos procedentes da experiência sensível, recorrendo só a elementos procedentes da sua
interioridade intelectual. Para proceder com garantia de alcançar a verdade é indispensável um
trabalho prévio de depuração e de libertação dos sentidos.


1 “Naturezas simples” é um termo que se refere aos últimos elementos, a que se acede através da análise, e que são
conhecidos por via das ideias claras e distintas, através da intuição. Há três tipos de naturezas simples: 1) materiais, que
estão só nos corpos (movimento, extensão…); 2) espirituais, que estão só na mente (pensar, duvidar, amar…); 3)
comuns a ambas (a existência, o tempo…)
Descartes prescinde da experiência sensível como ponto de partida. Para se preservar do erro e
alcançar a verdade, só confia no uso puro da sua razão recolhida dentro de si mesma, funcionando de
portas fechadas, desligada de qualquer tipo de contacto com o mundo da experiência sensível, tendo
em vista fazer as suas deduções rigorosamente a partir de ideias claras e distintas. Não parte da
realidade das coisas para chegar à ideia, mas da ideia para chegar à realidade. A sua investigação, tal
como a de Kant (que veremos mais tarde), será puramente interna, tal como a percebe a razão

Os Motivos para Duvidar

    Trata-se de colocar em dúvida os conhecimentos até então tidos como certos, até que não reste
qualquer motivo para duvidar, mesmo que essa dúvida nos pareça exagerada ou até ridícula. Não será
necessário recusar, uma a uma, todas a nossas ideias isoladamente - trabalho impensável -, bastará
contestar a origem de onde elas provêm. Essa dúvida situa-se, então, em três níveis concretos:

Os Sentidos podem enganar-nos

    É certamente difícil admitir que os sentidos nos enganem sempre, mas, ainda que remota, existe a
possibilidade de isso acontecer, isto é, não podemos ter a certeza absoluta de que não nos enganem,
porque é possível que algumas vezes o façam. Portanto, devemos considerar provisoriamente falsos
todos os dados que tenham origem nos sentidos, até porque quando somos enganados por eles não
temos consciência do erro em que estamos a incorrer.

A Confusão entre a vigília e o sono

     Duvidar dos dados com origem nos sentidos permite-nos pôr em dúvida que os objetos
percepcionados sejam tal como os percepcionamos, mas não nos permite duvidar da sua existência.
No entanto, quem não sonhou alguma vez e não se representou em sonhos as mesmas coisas que
vivenciou em estado de vigília e até com maior intensidade, sendo enganado, enquanto dormia, por
essas ilusões? Parece fácil saber quando estou acordado ou a dormir, e, assim, evitar o erro. “Mas se
pensar nisso com atenção, lembro-me de que muitas vezes ilusões desta natureza me enganaram
enquanto dormia; e ao acordar com esse pensamento, vejo muito claramente que não há indícios certos
para distinguir o sono da vigília, a tal ponto que fico baralhado e é tão grande a confusão que quase me
convenço de que ainda continuo a dormir.”2 Desta dificuldade, que consiste em distinguir com toda a
evidência a vigília do sono, resulta o imperativo de duvidar da existência de um mundo exterior ao
meu pensamento. Assim, de novo provisoriamente, Descartes considera falsa a existência desse
mundo exterior ao pensamento.

A Hipótese do génio maligno

     É possível, diz Descartes, duvidar de todas as percepções dos sentidos, porque, às vezes, nos
enganam, e, para além disso, acontece que, em certas ocasiões, não conseguimos distinguir se o que
se está a passar é um sonho ou uma realidade. Deste modo, a dúvida não abrange somente uma


2   in Meditações Metafísicas, primeira meditação, Descartes
determinada sensação, mas toda a realidade exterior ao pensamento: pode acontecer que tudo não
passe de um sonho. Apesar desta enorme dúvida, há algo que pode parecer uma certeza, pelo
menos, temporária: nem em sonhos é possível duvidar das verdades matemáticas, segundo as quais
2+2=4, e um quadrado não pode ter mais de quatro lados. Por outras palavras, é possível duvidar de
tudo o que se conhece a posteriori, mas não parece possível duvidar do que conhecemos a priori.
Mesmo assim, Descartes ainda encontra razões para prosseguir na sua dúvida metódica: inventa a
hipótese de um génio maligno, de um diabrete que andasse por aí a brincar connosco, fazendo-nos
ter por certo o conhecimento a priori.

     Ninguém nos garante que não estejamos sob o domínio de um deus maligno, “astucioso,
enganador e poderoso” que nos esteja a confundir no que diz respeito às noções matemáticas.
“Assim, suporei que há, não um verdadeiro Deus - que é a fonte suprema de verdade -, mas um génio
maligno, tão astucioso e enganador quanto poderoso, o qual recorre a todo o seu engenho para me
enganar.” 3 A hipótese do génio maligno é uma metáfora que faz com que a dúvida incida também
sobre a própria razão. Por outras palavras, quem é que me garante que, quando somo 2+2 ou faço
operações semelhantes, cuja conclusão se manifesta evidente, eu estou na verdade? Teremos de
considerar também provisoriamente falsas - ou, pelo menos, duvidosas - as matemáticas.



Em Busca da Certeza
     Em resumo, a nossa natureza humana pode ser de tal forma que nos engane quando acreditamos
saber que algo é verdadeiro ou falso. Também é possível, então, duvidar das certezas das matemáticas.
No entanto, há algo que escapa ao poder do génio maligno e à própria possibilidade de a natureza
humana funcionar mal: se o deus maligno me engana, então existo; se me engano a mim mesmo,
também existo, pelo que, desta forma, Descartes vai superar a dúvida hiperbólica, esta dúvida que põe
em causa, não só a toda a existência exterior ao nosso pensamento, mas a própria razão matemática.
Isto é, a dúvida conduz à consciência de duvidar e, por conseguinte, de pensar, e
assim vai assumir que “penso, então existo”.

     O núcleo central da filosofia cartesiana é o estudo do fundamento em que se baseia o
conhecimento humano. Com Descartes, podemos dizer que surge a epistemologia, ou teoria do
conhecimento, como tema central da filosofia moderna. Quais são as verdades que podemos
conhecer com certeza? Esta é a questão central do Discurso do Método, e, sobretudo, da primeira das
suas Meditações. Para ele, a dúvida, tal como a consciência da ignorância para Sócrates e Platão, é o
primeiro passo para todas as certezas.

    Abandonando a filosofia escolástica medieval e aristotélica, por as considerar incapazes de dar
resposta às exigências científicas da sua época, Descartes vai inspirar-se nas matemáticas para
desenvolver um método que traga a certeza ao espírito humano em todas as questões. Considerará


3   in Meditações Metafísicas, primeira meditação, Descartes
certas só aquelas ideias que se apresentem na nossa mente com clareza (sem dúvidas para a
consciência) e com distinção (passadas pelo crivo da análise).

    Descartes pretendia fundar o edifício da filosofia em alicerces inamovíveis, com tanta solidez que
conseguisse resistir à dúvida mais radical dos cépticos, e achava que alcançaria esta sua pretensão
seguindo um método estritamente racional e dedutivo, semelhante ao que ele próprio
usava na matemática (sobretudo, geometria) com tão bons resultados. Para isso, precisava de um
ponto de partida incontroverso, um princípio indiscutível, certo, seguro: uma primeira verdade
que ninguém pudesse pôr em causa.

    Essa primeira verdade reúne as seguintes condições:

    1.    É clara: corresponde à presença e manifestação de uma ideia na inteligência que a intui
      de modo inequívoco e manifesto.

    2. É distinta: uma representação mental não deve conter nada que pertença a outras.
     Distinta é uma ideia, quando as suas partes ou componentes são diferentes umas das outras e
     conhecidas com clareza pela consciência.

    3. É evidente: os primeiros princípios na ordem das razões devem ser conhecidos por si
     mesmos e exigem um perfeita inteligibilidade. As ideias simples (claras e distintas) são inteligíveis
     por si mesmas; as ideias compostas têm de ser decompostas nos seus elementos para se
     tornarem inteligíveis (análise).



Proposta de Interpretação
     O “Penso, logo existo” (“cogito”) não é um enunciado, ou uma proposição lógica. Para isso, seria
indispensável que a primeira verdade de Descartes fosse “tudo o que pensa existe” e que “penso”
fosse a segunda; a partir destas duas verdades, retiraria a conclusão “existo”. Discutir a sua primeira
verdade (“Penso, logo existo”) estritamente do ponto de vista lógico ou analítico pode ser ocioso, ou
é mesmo uma pura perda de tempo.

    Na verdade, a filosofia de Descartes teve uma influência poderosa, para o bem e para o mal, em
toda a filosofia e ciência modernas. Como é que isso foi possível, se Descartes foi um bom geómetra,
mas não tão genial que a história da geometria fosse marcada por ele, foi um fraco teólogo (a sua
teoria a respeito de Deus é realmente muito pobre), a sua ontologia (filosofia do ser) é medíocre…
como é que foi, então, possível que Descartes tenha desempenhado um papel tão relevante na
filosofia e ciência modernas?

    Permitam-me que recorra a uma metáfora de Deleuze que compara os filósofos aos pássaros (e
também aos peixes). Os pássaros lançam gritos e entoam cantos. Um grito de amor de um pássaro
não é o mesmo que um canto nupcial. Um pássaro pode lançar um grito de aviso de perigo: isso não
é um canto. Mas é uma mensagem. É uma imagem do seu pensamento, a respeito da realidade. Não é
o pensamento, é a imagem dele.

     Há, como nos pássaros, gritos filosóficos da razão, e gritos filosóficos da desrazão (se me é
permitido dizer assim). O “penso, logo existo” é um grito da razão, não é um canto, um discurso
filosófico. Por exemplo, um outro filósofo, Leibniz, lançou um grito da razão: “tudo tem uma razão”.
Isto é um grito. Deste grito resultou um longo discurso, um canto harmonioso e até, por vezes muito
belo do filósofo, o seu discurso. Este grito “tudo tem uma razão” ecoou por muito tempo, e outros
filósofos, como Hegel, fizeram dele um canto ainda mais belo e talvez mais confuso, mais “tipo” jazz.
Dostoiewski, um escritor russo, lançou um grito da desrazão que me impressionou (há muitos, muitos
anos): “Não ficarei tranquilo, nem vos deixarei tranquilos, enquanto não me forem prestadas contas
de todas as vítimas da História.” (mais ou menos isto) O que é que os distingue?

    •        Nos gritos da razão, a frase começa por “ninguém pode negar”. Ninguém pode negar que
        se penso, então existo. Esta coisa não suporta uma análise lógica, mas quem é que pode negar, a
        não ser por uma questão puramente formal, que se “penso, então existo”? Ora digam lá. “tu
        pensas, mas não existes”. O “penso, logo existo” pode ser uma asneira, mas olhe que a sua de
        admitir que penso, mas não existo não lhe fica nada atrás. Isto é um grito da razão. O canto, o
        discurso filosófico vem depois.

    •       Nos gritos da desrazão, a frase começa por “eu posso negar”, posso negar que 2+2=4.
        Posso negar que seja impossível prestar contas por todas as vítimas da História. Posso, porque
        quero. Os gritos da desrazão também podem dar, e dão, origem a belos cantos.



     Então, o que pretende Descartes com o seu grito? Muito simplesmente, propor uma viragem
fundamental na filosofia do seu tempo. O homem era “um anima racional”, ideia esta que vinha desde
Aristóteles (discípulo de Platão). O que determinava o homem era a sua racionalidade, e, em nome
dela, a filosofia afastava-se da ciência emergente no século XVI e XVII (Copérnico, Galileu…). Para
Descartes, o homem continua racional, mas a sua racionalidade tem de ser a da matemática. O que é
complicado ou complexo, tem de ser simplificado. Só assim se conseguem resolver as grandes
equações. E, se simplificarmos todas as grandes equações do universo e da vida, aquilo que
resolveremos, em cada passo, será muito fácil e de evidência garantida.

     O seu grito, de Descartes, foi ouvido porque era o que interessava ser ouvido naquele tempo. A
ciência moderna haveria de se desenvolver até pontos difíceis de imaginar por Descartes, com base
no seu grito e com algum desprezo pelo seu canto. O Homem vai ser capaz, através de
procedimentos de simplificação dos problemas, de resolver todos os que se lhe apresentem. Era esta
a crença de Descartes, foi esta a crença dos modernos.
Só que não é bem assim, e agora Descartes parece muito distante e desatualizado. E está de
facto, sobretudo, desatualizado. Mas o seu grito ainda ecoa, e ecoa de forma estridente naqueles que,
por razões estritamente analíticas, o criticam ou desprezam.



    (continua: 2. As Regras do Método, 3. As Provas da Existência de Deus)

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Descartes - Contributo para a Modernidade

  • 1. Jorge Barbosa FILOSOFIA Curso de Artes Visuais Fevereiro, 2013 C O N T R I B U TO D E D E S C A R T E S PA R A A F I LO S O F I A MODERNA Descartes, logo no início do Discurso do Método, manifesta o seu desencanto por não encontrar um conhecimento certo em filosofia. Tudo o que estudou lhe parece sem fundamento. A história da filosofia mostra uma sucessão inacabada de opiniões, que depois são refutadas numa sucessão contínua. Por isso, quer empreender, com firmeza e com segurança, a construção de uma filosofia certa e duradoura. Com esse objetivo, propõe-se eliminar previamente todas as fontes possíveis de erro e de incerteza. Embora seja sua intenção criticar a filosofia aristotélica, que dominava na sua época, a verdade é que mantém a divisão de Aristóteles das faculdades da alma: sentidos exteriores, sentido comum, memória, imaginação e entendimento. Todas essas faculdades, à exceção do entendimento, funcionam graças à união do corpo com a alma. Os sentidos dependem da ação dos objetos exteriores, que imprimem neles imagens à maneira de um carimbo em cera. Segundo Descartes, possuímos uma dupla memória, sensitiva e intelectual. A primeira depende da imaginação, que está ligada a imagens com origem no corpo, a segunda depende do entendimento. Só o entendimento é espiritual e pode funcionar separadamente do corpo. Por isso, é a única faculdade capaz de intuir clara e distintamente as ideias ou as “naturezas simples”1, prescindindo das imagens e das impressões, e a única a ser capaz de alcançar a verdade. Os sentidos e a imaginação podem ajudar-nos, mas também podem criar-nos dificuldades. A causa principal dos nossos erros provém dos sentidos e da imaginação. Desde a infância, em que vivemos sob o domínio dos sentidos, adquirimos muitos preconceitos, e é necessário eliminá-los previamente se quisermos chegar à verdade e à certeza. Daqui resulta a insistência com que Descartes tenta desligar-se dos sentidos e da imaginação, excluindo da sua investigação todos os elementos procedentes da experiência sensível, recorrendo só a elementos procedentes da sua interioridade intelectual. Para proceder com garantia de alcançar a verdade é indispensável um trabalho prévio de depuração e de libertação dos sentidos. 1 “Naturezas simples” é um termo que se refere aos últimos elementos, a que se acede através da análise, e que são conhecidos por via das ideias claras e distintas, através da intuição. Há três tipos de naturezas simples: 1) materiais, que estão só nos corpos (movimento, extensão…); 2) espirituais, que estão só na mente (pensar, duvidar, amar…); 3) comuns a ambas (a existência, o tempo…)
  • 2. Descartes prescinde da experiência sensível como ponto de partida. Para se preservar do erro e alcançar a verdade, só confia no uso puro da sua razão recolhida dentro de si mesma, funcionando de portas fechadas, desligada de qualquer tipo de contacto com o mundo da experiência sensível, tendo em vista fazer as suas deduções rigorosamente a partir de ideias claras e distintas. Não parte da realidade das coisas para chegar à ideia, mas da ideia para chegar à realidade. A sua investigação, tal como a de Kant (que veremos mais tarde), será puramente interna, tal como a percebe a razão Os Motivos para Duvidar Trata-se de colocar em dúvida os conhecimentos até então tidos como certos, até que não reste qualquer motivo para duvidar, mesmo que essa dúvida nos pareça exagerada ou até ridícula. Não será necessário recusar, uma a uma, todas a nossas ideias isoladamente - trabalho impensável -, bastará contestar a origem de onde elas provêm. Essa dúvida situa-se, então, em três níveis concretos: Os Sentidos podem enganar-nos É certamente difícil admitir que os sentidos nos enganem sempre, mas, ainda que remota, existe a possibilidade de isso acontecer, isto é, não podemos ter a certeza absoluta de que não nos enganem, porque é possível que algumas vezes o façam. Portanto, devemos considerar provisoriamente falsos todos os dados que tenham origem nos sentidos, até porque quando somos enganados por eles não temos consciência do erro em que estamos a incorrer. A Confusão entre a vigília e o sono Duvidar dos dados com origem nos sentidos permite-nos pôr em dúvida que os objetos percepcionados sejam tal como os percepcionamos, mas não nos permite duvidar da sua existência. No entanto, quem não sonhou alguma vez e não se representou em sonhos as mesmas coisas que vivenciou em estado de vigília e até com maior intensidade, sendo enganado, enquanto dormia, por essas ilusões? Parece fácil saber quando estou acordado ou a dormir, e, assim, evitar o erro. “Mas se pensar nisso com atenção, lembro-me de que muitas vezes ilusões desta natureza me enganaram enquanto dormia; e ao acordar com esse pensamento, vejo muito claramente que não há indícios certos para distinguir o sono da vigília, a tal ponto que fico baralhado e é tão grande a confusão que quase me convenço de que ainda continuo a dormir.”2 Desta dificuldade, que consiste em distinguir com toda a evidência a vigília do sono, resulta o imperativo de duvidar da existência de um mundo exterior ao meu pensamento. Assim, de novo provisoriamente, Descartes considera falsa a existência desse mundo exterior ao pensamento. A Hipótese do génio maligno É possível, diz Descartes, duvidar de todas as percepções dos sentidos, porque, às vezes, nos enganam, e, para além disso, acontece que, em certas ocasiões, não conseguimos distinguir se o que se está a passar é um sonho ou uma realidade. Deste modo, a dúvida não abrange somente uma 2 in Meditações Metafísicas, primeira meditação, Descartes
  • 3. determinada sensação, mas toda a realidade exterior ao pensamento: pode acontecer que tudo não passe de um sonho. Apesar desta enorme dúvida, há algo que pode parecer uma certeza, pelo menos, temporária: nem em sonhos é possível duvidar das verdades matemáticas, segundo as quais 2+2=4, e um quadrado não pode ter mais de quatro lados. Por outras palavras, é possível duvidar de tudo o que se conhece a posteriori, mas não parece possível duvidar do que conhecemos a priori. Mesmo assim, Descartes ainda encontra razões para prosseguir na sua dúvida metódica: inventa a hipótese de um génio maligno, de um diabrete que andasse por aí a brincar connosco, fazendo-nos ter por certo o conhecimento a priori. Ninguém nos garante que não estejamos sob o domínio de um deus maligno, “astucioso, enganador e poderoso” que nos esteja a confundir no que diz respeito às noções matemáticas. “Assim, suporei que há, não um verdadeiro Deus - que é a fonte suprema de verdade -, mas um génio maligno, tão astucioso e enganador quanto poderoso, o qual recorre a todo o seu engenho para me enganar.” 3 A hipótese do génio maligno é uma metáfora que faz com que a dúvida incida também sobre a própria razão. Por outras palavras, quem é que me garante que, quando somo 2+2 ou faço operações semelhantes, cuja conclusão se manifesta evidente, eu estou na verdade? Teremos de considerar também provisoriamente falsas - ou, pelo menos, duvidosas - as matemáticas. Em Busca da Certeza Em resumo, a nossa natureza humana pode ser de tal forma que nos engane quando acreditamos saber que algo é verdadeiro ou falso. Também é possível, então, duvidar das certezas das matemáticas. No entanto, há algo que escapa ao poder do génio maligno e à própria possibilidade de a natureza humana funcionar mal: se o deus maligno me engana, então existo; se me engano a mim mesmo, também existo, pelo que, desta forma, Descartes vai superar a dúvida hiperbólica, esta dúvida que põe em causa, não só a toda a existência exterior ao nosso pensamento, mas a própria razão matemática. Isto é, a dúvida conduz à consciência de duvidar e, por conseguinte, de pensar, e assim vai assumir que “penso, então existo”. O núcleo central da filosofia cartesiana é o estudo do fundamento em que se baseia o conhecimento humano. Com Descartes, podemos dizer que surge a epistemologia, ou teoria do conhecimento, como tema central da filosofia moderna. Quais são as verdades que podemos conhecer com certeza? Esta é a questão central do Discurso do Método, e, sobretudo, da primeira das suas Meditações. Para ele, a dúvida, tal como a consciência da ignorância para Sócrates e Platão, é o primeiro passo para todas as certezas. Abandonando a filosofia escolástica medieval e aristotélica, por as considerar incapazes de dar resposta às exigências científicas da sua época, Descartes vai inspirar-se nas matemáticas para desenvolver um método que traga a certeza ao espírito humano em todas as questões. Considerará 3 in Meditações Metafísicas, primeira meditação, Descartes
  • 4. certas só aquelas ideias que se apresentem na nossa mente com clareza (sem dúvidas para a consciência) e com distinção (passadas pelo crivo da análise). Descartes pretendia fundar o edifício da filosofia em alicerces inamovíveis, com tanta solidez que conseguisse resistir à dúvida mais radical dos cépticos, e achava que alcançaria esta sua pretensão seguindo um método estritamente racional e dedutivo, semelhante ao que ele próprio usava na matemática (sobretudo, geometria) com tão bons resultados. Para isso, precisava de um ponto de partida incontroverso, um princípio indiscutível, certo, seguro: uma primeira verdade que ninguém pudesse pôr em causa. Essa primeira verdade reúne as seguintes condições: 1. É clara: corresponde à presença e manifestação de uma ideia na inteligência que a intui de modo inequívoco e manifesto. 2. É distinta: uma representação mental não deve conter nada que pertença a outras. Distinta é uma ideia, quando as suas partes ou componentes são diferentes umas das outras e conhecidas com clareza pela consciência. 3. É evidente: os primeiros princípios na ordem das razões devem ser conhecidos por si mesmos e exigem um perfeita inteligibilidade. As ideias simples (claras e distintas) são inteligíveis por si mesmas; as ideias compostas têm de ser decompostas nos seus elementos para se tornarem inteligíveis (análise). Proposta de Interpretação O “Penso, logo existo” (“cogito”) não é um enunciado, ou uma proposição lógica. Para isso, seria indispensável que a primeira verdade de Descartes fosse “tudo o que pensa existe” e que “penso” fosse a segunda; a partir destas duas verdades, retiraria a conclusão “existo”. Discutir a sua primeira verdade (“Penso, logo existo”) estritamente do ponto de vista lógico ou analítico pode ser ocioso, ou é mesmo uma pura perda de tempo. Na verdade, a filosofia de Descartes teve uma influência poderosa, para o bem e para o mal, em toda a filosofia e ciência modernas. Como é que isso foi possível, se Descartes foi um bom geómetra, mas não tão genial que a história da geometria fosse marcada por ele, foi um fraco teólogo (a sua teoria a respeito de Deus é realmente muito pobre), a sua ontologia (filosofia do ser) é medíocre… como é que foi, então, possível que Descartes tenha desempenhado um papel tão relevante na filosofia e ciência modernas? Permitam-me que recorra a uma metáfora de Deleuze que compara os filósofos aos pássaros (e também aos peixes). Os pássaros lançam gritos e entoam cantos. Um grito de amor de um pássaro não é o mesmo que um canto nupcial. Um pássaro pode lançar um grito de aviso de perigo: isso não
  • 5. é um canto. Mas é uma mensagem. É uma imagem do seu pensamento, a respeito da realidade. Não é o pensamento, é a imagem dele. Há, como nos pássaros, gritos filosóficos da razão, e gritos filosóficos da desrazão (se me é permitido dizer assim). O “penso, logo existo” é um grito da razão, não é um canto, um discurso filosófico. Por exemplo, um outro filósofo, Leibniz, lançou um grito da razão: “tudo tem uma razão”. Isto é um grito. Deste grito resultou um longo discurso, um canto harmonioso e até, por vezes muito belo do filósofo, o seu discurso. Este grito “tudo tem uma razão” ecoou por muito tempo, e outros filósofos, como Hegel, fizeram dele um canto ainda mais belo e talvez mais confuso, mais “tipo” jazz. Dostoiewski, um escritor russo, lançou um grito da desrazão que me impressionou (há muitos, muitos anos): “Não ficarei tranquilo, nem vos deixarei tranquilos, enquanto não me forem prestadas contas de todas as vítimas da História.” (mais ou menos isto) O que é que os distingue? • Nos gritos da razão, a frase começa por “ninguém pode negar”. Ninguém pode negar que se penso, então existo. Esta coisa não suporta uma análise lógica, mas quem é que pode negar, a não ser por uma questão puramente formal, que se “penso, então existo”? Ora digam lá. “tu pensas, mas não existes”. O “penso, logo existo” pode ser uma asneira, mas olhe que a sua de admitir que penso, mas não existo não lhe fica nada atrás. Isto é um grito da razão. O canto, o discurso filosófico vem depois. • Nos gritos da desrazão, a frase começa por “eu posso negar”, posso negar que 2+2=4. Posso negar que seja impossível prestar contas por todas as vítimas da História. Posso, porque quero. Os gritos da desrazão também podem dar, e dão, origem a belos cantos. Então, o que pretende Descartes com o seu grito? Muito simplesmente, propor uma viragem fundamental na filosofia do seu tempo. O homem era “um anima racional”, ideia esta que vinha desde Aristóteles (discípulo de Platão). O que determinava o homem era a sua racionalidade, e, em nome dela, a filosofia afastava-se da ciência emergente no século XVI e XVII (Copérnico, Galileu…). Para Descartes, o homem continua racional, mas a sua racionalidade tem de ser a da matemática. O que é complicado ou complexo, tem de ser simplificado. Só assim se conseguem resolver as grandes equações. E, se simplificarmos todas as grandes equações do universo e da vida, aquilo que resolveremos, em cada passo, será muito fácil e de evidência garantida. O seu grito, de Descartes, foi ouvido porque era o que interessava ser ouvido naquele tempo. A ciência moderna haveria de se desenvolver até pontos difíceis de imaginar por Descartes, com base no seu grito e com algum desprezo pelo seu canto. O Homem vai ser capaz, através de procedimentos de simplificação dos problemas, de resolver todos os que se lhe apresentem. Era esta a crença de Descartes, foi esta a crença dos modernos.
  • 6. Só que não é bem assim, e agora Descartes parece muito distante e desatualizado. E está de facto, sobretudo, desatualizado. Mas o seu grito ainda ecoa, e ecoa de forma estridente naqueles que, por razões estritamente analíticas, o criticam ou desprezam. (continua: 2. As Regras do Método, 3. As Provas da Existência de Deus)